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Indaial – 2020 PsicoPedagogia: jogos, brinquedos e brincadeiras Prof.a Cristiane Theiss Lopes Prof.a Nislândia Santos Evangelista 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.a Cristiane Theiss Lopes Prof.a Nislândia Santos Evangelista Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: L864p Lopes, Cristiane Theiss Psicopedagogia: jogos, brinquedos e brincadeiras. / Cristia- ne Theiss Lopes; Nislândia Santos Evangelista. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 187 p.; il. ISBN 978-65-5663-221-6 ISBN Digital 978-65-5663-222-3 1. Desenvolvimento infantil. - Brasil. I. Evangelista, Nislândia San- tos. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 155.4 aPresentação Acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Pscicopedagogia: jogos, brin- quedos e brincadeiras. Na Unidade 1, dividida em três tópicos, abordaremos com maior ênfase o brincar e o desenvolvimento infantil. Iniciaremos discutin- do os primórdios dos jogos e brincadeiras, trazendo suas origens desde a Gré- cia Antiga, perpassando pelo período medieval até o momento, denominado Modernidade. Entenderemos como a brincadeira é um componente cultural, socialmente construída, assim como a infância. No segundo tópico, delineare- mos alguns conceitos, entenderemos as diferenças de jogos e brincadeiras, as- sim como seus diversos tipos. Finalizaremos entendendo as diversas etapas do desenvolvimento infantil e qual a importância da brincadeira nesta fase da vida. Na Unidade 2, continuaremos a discutir sobre as brincadeiras, po- rém com um foco sociológico e antropológico, apresentando, assim, alguns elos entre o teor dos jogos, o valor dos brinquedos e as características das brincadeiras e a reprodução social incutidos nesses fenômenos. Ademais, nesta unidade, falaremos sobre as culturas infantis como algo próprio das crianças, especialmente em ambientes em que elas passam tempos juntas com maior frequência, como é o caso das escolas e das creches. Por último, destacaremos a importância destas perspectivas para o ensino-aprendizado e como isso pode ser útil para o campo da psicopedagogia, afinal, compreen- der aspectos sociais tanto das brincadeiras como da aprendizagem permitem maior riqueza na atuação do profissional psicopedagogo. Por fim, na Unidade 3, a última deste livro, abordaremos com mais ênfase sobre a importância de uma aprendizagem lúdica como uma ferra- menta na prática psicopedagógica. Nesta unidade, também discutiremos sobre a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) no que diz respeito à Educação Infantil, as competências e os campos de experiência que devem ser explorados para esta faixa etária. Com isso, também serão apresentados alguns exemplos de práticas lúdicas aplicadas voltadas para determindas habilidades. Por fim, nesta unidade, abordaremos sobre o uso das mídias digitais no processo de ensino aprendizagem. Esperamos que esses conteúdos sejam gratificantes para você! Prof.a Cristiane Theiss Lopes Prof.a Nislândia Santos Evangelista Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos mate- riais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que pos- suem o código QR Code, que é um código que per- mite que você acesse um conteúdo interativo relacio- nado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS ...................................................... 1 TÓPICO 1 — JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO ................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 ORIGEM DO JOGO ............................................................................................................................ 3 3 ORIGEM DOS BRINQUEDOS E SUA ASSOCIAÇÃO COM A CULTURA .......................... 7 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 11 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 12 TÓPICO 2 — O QUE SÃO JOGOS E BRINCADEIRAS? DELINEANDO CONCEITOS ..... 15 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 15 2 JOGO .................................................................................................................................................... 15 3 BRINQUEDO ...................................................................................................................................... 20 4 BRINCADEIRA .................................................................................................................................. 22 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 25 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 26 TÓPICO 3 — JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: AS FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL, A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR, DO FAZ DE CONTA E DA BRINCADEIRA LIVRE ................ 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 29 2 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO .........................................................................................29 3 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO PARA JEAN PIAGET ................................................. 31 3.1 FASE SENSÓRIO MOTORA: 0 A 2 ANOS ................................................................................ 32 3.2 FASE PRÉ-OPERACIONAL: 2 A 7 ANOS ................................................................................ 33 3.3 ESTÁGIO OPERACIONAL CONCRETO: 7 A 11 ANOS ....................................................... 34 3.4 ESTÁGIO OPERACIONAL FORMAL: 11 ANOS OU MAIS ................................................. 35 4 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO PARA HENRI WALLON ......................................... 37 4.1 ESTÁGIO IMPULSIVO-EMOCIONAL ..................................................................................... 38 4.2 ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR E PROJETIVO ........................................................................ 39 4.3 ESTÁGIO DO PERSONALISMO................................................................................................ 40 4.4 ESTÁGIO CATEGORIAL ............................................................................................................ 41 4.5 ESTÁGIO DA ADOLESCÊNCIA ............................................................................................... 41 5 JOGOS E BRINCADEIRAS NO DESENVOLVIMENTO ......................................................... 42 6 O FAZ DE CONTA: BRINCADEIRAS LIVRES OU ESPONTÂNEAS ................................... 45 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 49 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 61 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 62 UNIDADE 2 — AS BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS COMO PRODUÇÕES DE CULTURAS ............................................................................. 65 TÓPICO 1 — JOGOS E BRINCADEIRAS: SENTIDOS, SIGNIFICADOS E CULTURA .................................................................................. 67 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 67 2 AS INFÂNCIAS E O BRINCAR ...................................................................................................... 68 3 INFÂNCIA BRINCANTE NOS DIVERSOS SIGNIFICADOS CULTURAIS ....................... 74 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 77 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 78 TÓPICO 2 — REPRODUÇÃO SOCIAL E CRIATIVIDADE CULTURAL A PARTIR DAS BRINCADEIRAS ........................................................................... 79 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 79 2 REPRODUÇÃO INTERPRETATIVA ............................................................................................. 79 3 ROTINAS CULTURAIS E LINGUAGENS .................................................................................. 80 4 INFLUÊNCIA DA MÍDIA ................................................................................................................ 83 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 86 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 87 TÓPICO 3 — CULTURAS PRODUZIDAS PELAS CRIANÇAS E A PSICOPEDAGOGIA ............................................................................................ 89 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 89 2 CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS DAS CULTURAS INFANTIS..................................... 89 3 CARACTERÍSTICAS DAS CULTURAS INFANTIS ................................................................. 93 4 O BRINCAR E A PSICOPEDAGOGIA ......................................................................................... 97 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 113 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 114 UNIDADE 3 —JOGOS E BRINCADEIRAS NA PRÁTICA DA PSICOPEDAGOGIA ........ 115 TÓPICO 1 — BRINCADEIRAS E JOGOS PARA UMA APRENDIZAGEM LÚDICA ....... 117 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 117 2 JOGOS E BRINCADEIRAS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM: O QUE DIZ A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR ................................................. 117 2.1 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES ..................................................................................... 119 2.2 PRÁTICAS LÚDICAS: VIVÊNCIAS POSSÍVEIS NOS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS... 123 3 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO COMO INSTRUMENTO PISCOPEDAGÓGICO ...... 129 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 133 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 134 TÓPICO 2 — O JOGO COMO FERRAMENTA PSICOPEDAGÓGICA ................................. 137 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 137 2 A PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA ........................................................................................... 137 3 O JOGO NO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS ...... 142 3.1 ALGUNS EXEMPLOS DE JOGOS E BRINCADEIRAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SÓCIOEMOCIONAIS ............................................................................. 146 3.1.1 Memória .................................................................................................................................... 148 3.1.2 Dobradura ................................................................................................................................. 149 3.1.3 Caça-palavras ........................................................................................................................... 151 3.1.4 Tabuleiro ................................................................................................................................... 152 3.1.5 O rabo da serpente ................................................................................................................... 153 3.1.6 Desenho ..................................................................................................................................... 154 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 156 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 157 TÓPICO 3 —USO DE MÍDIAS NA PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA .................................. 159 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 159 2 METODOLOGIAS ATIVAS .......................................................................................................... 159 3 JOGOS DIGITAIS ........................................................................................................................... 163 RESUMODO TÓPICO 3................................................................................................................... 168 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 169 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 171 1 UNIDADE 1 — JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer o desenvolvimento histórico dos jogos e brincadeiras; • compreender os conceitos de jogos, brinquedos e brincadeiras; • refletir acerca da utilização dos jogos, brinquedos e das brincadeiras na atuação do psicopedagogo; • compreender a importância do dos jogos e brincadeiras no desenvolvimento; • identificar a importância do faz de conta e do brincar espontâneo. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO TÓPICO 2 – O QUE SÃO JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS? DELINEANDO CONCEITOS TÓPICO 3 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: AS FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL, A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR, DO FAZ DE CONTA E DA BRINCADEIRA LIVRE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorve- rá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO 1 INTRODUÇÃO A leitura desta unidade lhe trará maiores subsídios para entender a im- portância dos jogos, dos brinquedos e das brincadeiras na atuação do psicopeda- gogo. Assim, começaremos entendendo como surgiram os jogos e as brincadeiras na história. O contexto histórico, desde a Grécia antiga até os dias atuais, nos permitirá aprofundarmos, posteriormente, os conceitos enunciados. Evidencia-se, assim, que as civilizações, desde muito cedo, brincam e utili- zam brinquedos para isso. O jogo faz parte da sociedade atual e, a psicopedagogia, pode e deve apropriar-se deste artefato cultural para desenvolver suas práticas co- tidianas. Você se lembra de brincadeiras de sua infância? Pois então, muitas dessas brincadeiras que vieram a sua mente já eram brincadas por crianças na Idade Média. Aprendemos a brincar e a jogar desde muito cedo. Quando ainda bebês, estamos inseridos dentro de um determinado contexto social e cultural que, cer- tamente, influenciará em nosso modo de brincar posteriormente. Isso aconteceu também na história da humanidade e nem sempre brincar foi visto como algo normal. Ficou curioso para saber por quê? Então vamos começar! Afinal, como surgiram os “jogos e as brincadeiras”? Sempre se utilizou de brinquedos para brincar? Chegou o momento de pensarmos este contexto histórico! 2 ORIGEM DO JOGO Iniciamos nossa unidade, que visa conhecer a história e a evolução do jogo e da brincadeira desde épocas primitivas até os dias atuais. As pesquisas recentes afirmam que os primeiros jogos surgiram na Grécia antiga e tinham o propósito de ajudar no ensino das letras. Posteriormente, os jogos foram tornando-se competitivos e o país foi palco do primeiro “Jogos Olím- picos”. Deles, inicialmente, só poderiam participar homens gregos, falantes da língua grega, com os deveres de cidadãos sendo exercidos plenamente. Para Huizinga (1991), o jogo é mais antigo que a própria cultura. O ato de jogar é tão antigo quanto a própria existência humana. UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS 4 Segundo Falkenbach (1997, p. 16), “a cultura surge sob forma de jogo, sen- do que a tendência lúdica do ser humano está na base de muitas realizações na esfera da filosofia, da ciência, da arte, no campo militar e político e mesmo na área judicial”. Como elemento de cultura nos jogos e brinquedos está ligado a outros aspectos, como religião, trabalho, mitos e ritos (ALVES, 1995). Com relação a isso, não tem como falar de lúdico, de lazer e de jogo sem antes saber a origem da própria história humana, onde tudo começou: no ho- mem. Foi a evolução da espécie humana que possibilitou a evolução também das linguagens, do lúdico e também do jogo. O homem primitivo recebeu diversas denominações de acordo com sua evolução, exemplificadas no quadro a seguir. QUADRO 1 – DENOMINAÇÕES DO HOMEM PRIMITIVO FONTE: A autora Homo Sapiens Sobrevivia por meio da caça e da pesca, defendendo-se de animais ferozes. Esse homem ocupava grande parte do seu tempo tentando se proteger e pensando em uma ma- neira eficaz de adquirir seu alimento. Homo Faber Homem que começa a se comunicar e a produzir objetos e utensílios para utilização no dia a dia. Inicia-se a utilização da criatividade para produzir vasos, pinturas e flechas. Homo Ludens O homem o qual podemos denominar de atual. Dedica-se a atividades lúdicas e aos jogos, necessitando criar o brin- quedo para que a brincadeira se torne mais interessante. Sabe-se que o homem joga desde os primórdios de sua existência. No iní- cio, este “jogo” era totalmente diferente do que entendemos hoje por jogar. Por isso, é na fase do Homo Ludens que o jogo começa a tornar-se um ele- mento cultural. O Homo Ludens é o homem que começa a utilizar da criatividade para produzir, também, jogos e brincadeiras. Esse homem começou a utilizar da imaginação para procurar ocupar o tempo em que não estava fazendo suas tare- fas diárias. Começou, então, a surgir a recreação. O jogo, atividade lúdica infantil desde a antiguidade, possui momentos importantes na história social da humanidade, principalmente durante o percur- so do desenvolvimento humano, como veremos a seguir. Grande parte dos jogos e brincadeiras datados atualmente surgiram na Grécia Antiga e no Antigo Impé- rio Romano. Isso acontece, possivelmente, por essas duas civilizações terem um grande material histórico conhecido atualmente. TÓPICO 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO 5 Para expandir seu conhecimento sobre a temática Homo Ludens e sua re- lação com o jogo cultural, recomendamos a leitura do livro Homo Ludens de autoria de Johan Huizinga (1991). Boa leitura! FIGURA – CAPA DO LIVRO HOMO LUDENS FONTE: <https://bit.ly/3ggbPhy>. Acesso em: 17 jun. 2020. DICAS Quando pensamos nos jogos, nas brincadeiras e nos brinquedos, são diver- sas as fontes bibliográficas que retratam como as crianças brincavam na antiguida- de. Para Áries (1981), os jogos e as brincadeiras eram comuns aos adultos e às crian- ças na antiguidade, ou seja, não havia distinção de brincadeiras por conta da idade. Na Grécia antiga, a tradição tratava o jogo como uma possibilidade, ou seja, qualquer atividade que fosse cultural ou esportiva era vista como jogo. Nas tradi- ções Romanas, o jogo aparecia mais como uma forma de recreação, relacionado a diversão e passatempo. Na Idade Média, o jogo foi considerado uma manifestação “não séria”, ou seja, de certo modo desprezível, por estar associado a muitos jogos de azar. O Cristianismo na época medieval proibiu todas as formas de jogos e recreações. “A recreação deve ser proibida em todas as formas. As crianças deverão aprender que a recreação afastará de Deus o eterno bem, seu coração e mente e fará se não mal a sua vida espiritual” (MIRANDA, 1992, p. 28). UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS 6 Nessa concepção, Áries (1981) apresentou dois aspectos que se tornaram contraditórios aos jogos nesta época. Os jogos foram admitidos e pela maioria e, ao mesmo tempo, condenados devido a sua imoralidade, por uma elite poderosa. Diante disso, os jogos foram classificados por dois elementos: maus e bons. Segundo Miranda (1992), no século IV consolidou-se a Constituição de Santo Agostinho na sociedade. Santo Agostinho viveu o conflito de conciliaro cristianismo e o espírito da época. Santo Agostinho, na época, retratou sua paixão pelos brinque- dos e a repudição de sofreu dos adultos quando criança. Os jogos mais citados na obra de Santo Agostinho são o jogo de bola e o jogo de nozes (adivinhações). Foi um dos marcos históricos que entendeu o brinquedo e o brincar como algo bom. Senhor, não era a memória ou a inteligência que me faltava, pois me dotastes como suficiente para aquela idade. Mas gostaria de jogar, e aqueles que me castigavam prosseguiram de modo idêntico. [...] um juiz reto aprovaria os castigos que me dava, por eu, em pequeno, jogar a bola e o jogo ser um obstáculo ao meu aproveitamento nos estudos, com os quais eu havia de jogar menos inocentemente quando chegasse a homem? (SANTO AGOSTINHO, 2013, p. 158) As mudanças advindas do início do Renascimento foram de suma impor- tância para as condutas do jogo até os dias de hoje, pois a brincadeira passa a ser vista como de conduta livre, que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo. No renascimento, o jogo torna-se um meio para atingir as neces- sidades infantis e uma forma para a aprendizagem de conteúdos escolares. No Romantismo surge como uma nova concepção da infância e, conse- quentemente, uma nova concepção sobre o jogo e o brincar. Isso porque, na épo- ca, já havia a ideia de que brincar “era coisa de criança”. A criança é vista como um ser positivo, de uma natureza boa, que se expressa espontaneamente por meio do jogo. Dentro do Romantismo é que o jogo aparece como conduta típica e espontânea da criança e considera o jogar como forma de expressão. TÓPICO 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO 7 Para compreender melhor as diferentes épocas e os jogos retratados em cada uma, recomendamos a leitura do livro Jogos e Brincadeiras: tempos, espaços e diversi- dades de organização de Tizuko Morchida Kishimoto e Maria Walburga dos Santos. Nele, você encontrará uma junção de diversos trabalhos históricos sobre o tema. O livro está disponível gratuitamente na internet! Boa leitura! FIGURA – CAPA DO LIVRO JOGOS E BRINCADEIRAS: TEMPOS, ESPAÇOS E DIVERSIDADES. FONTE: <https://bit.ly/2D3XGWm>. Acesso em: 17 jun. 2020. DICAS 3 ORIGEM DOS BRINQUEDOS E SUA ASSOCIAÇÃO COM A CULTURA Os brinquedos, como vimos anteriormente, começam a surgir junto ao “Homo Ludens”, pois o homem viu nascer a necessidade de aperfeiçoar suas brin- cadeiras. Na antiguidade, crianças egípcias já utilizavam brinquedos tais quais encontramos hoje, como, por exemplo, animais de madeira, bonecas e soldadi- nhos. Acredita-se que no Egito surgiram as primeiras bonecas parecidas com as da atualidade. UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS 8 Sabe-se, também, que na Grécia antiga, as crianças brincavam com bolas que eram feitas de bexigas de porcos infladas, revestidas com couro. Além disso, também existiam cavalos de madeira e balanços. Já as crianças romanas brincavam com bonecas e arcos de madeira. Os meninos, especificamente, brincavam com soldados feitas com argila. Mais tarde, em Roma, surgiram os primeiros jogos de tabuleiro. A boneca em Atenas era utilizada como nos dias de hoje, um brinquedo, exceto pelo simbolismo que a boneca exercia durante o casamento, em que as mulheres atenienses consagravam suas bonecas à deusa Afrodite, que represen- tava o amor e a beleza, pois esperavam ter sorte no amor. Este legado ateniense permaneceu forte na cultura do brincar. Na Grécia e em Roma, as bonecas eram chamadas de outros nomes: nym- pha e puma, que significava moça pequena. Na Idade Média, os estilistas usavam as bonecas com seus modelos para as vestir com suas criações onde as pessoas de posse (rainhas e damas) escolhiam seus vestidos. Na Babilônia surgiram os primeiros piões, feitos com argila e com as bor- das decoradas com formas de animais e humanos e em relevo. Hoje, geralmente, são feitos de madeira, é um objeto cônico e, em sua extremidade, apresenta uma ponta de metal. Quando torcido, com um fio, faz o movimento de giro. Para Brougère (1995), muitos pesquisadores dos brinquedos ainda não os associam com a cultura. O brinquedo tem uma função social, dotado de sig- nificados que permitem compreender certa sociedade e cultura. “O brinquedo é um objeto distinto e específico, com a imagem projetada em três dimensões, cuja função parece vaga. Com certeza podemos dizer que a função do brinquedo é a brincadeira” (BROUGÈRE, 1995, p. 13). Para o autor, ainda, o brinquedo abre possibilidades de representação, ampliando e estimulando a brincadeira. A modernidade gerou mudanças no brincar e nos brinquedos, ou seja, as crianças que perpassam pela infância moderna brincam de outras formas e com outros brinquedos. Pensemos aqui, acadêmico de psicopedagogia, quando você era pequeno existia a quantidade de brinquedos que existe hoje nas lojas? Isto se dá, também, pela influência da sociedade no brincar das crianças. Os adultos modernos pensam que precisam ofertar uma grande quantidade de brinquedos para o desenvolvimento infantil, quando, na verdade, estão tirando-lhes a chance de criar e imaginar. Se a criança recebe um brinquedo pronto e com mil funções, a criança não precisa utilizar da imaginação. TÓPICO 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO 9 Fica aqui a sugestão para a leitura do artigo A modernidade da infância e a infância da modernidade em Walter Benjamin de autoria de Eduardo Oliveira Sanches e Divino José da Silva (2018), para aprofundar o entendimento da criança na modernidade! Boa Leitura! Link do artigo: https://bit.ly/316hMqL. Outra sugestão de leitura deste tópico é o livro A História do Brinquedo, ela- borado por Cristina Von. No livro, além de trazer a história de variados brinquedos, a autora conta o percurso histórico que fizeram 12 fábricas brasileiras de brinquedos, que hoje são consolidadas no mercado nacional. Boa leitura! FIGURA – CAPA DO LIVRO “A HISTÓRIA DO BRINQUEDO” FONTE: <https://bit.ly/2EuA4KM>. Acesso em: 17 jun. 2020. DICAS DICAS Até o final desta unidade retomaremos os brinquedos para pensarmos na uti- lização destes para os psicopedagogos. Aguarde! ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS 10 Fica a sugestão da leitura de uma matéria publicada no NCultura, apresentan- do os brinquedos mais conhecidos na atualidade (bonecas, bolas, carrinhos etc.) e seu país de origem, assim como algumas curiosidades! Link para acesso: https://ncultura.pt/a-ori- gem-e-curiosidades-dos-nossos-brinquedos-de-infancia/. DICAS 11 Neste tópico, você aprendeu que: • Jogo faz parte da sociedade atual e, a psicopedagogia, pode e deve apropriar-se deste artefato cultural para desenvolver suas práticas cotidianas. • Homo Ludens é o homem que começa a utilizar da criatividade para produzir, também, jogos e brincadeiras. Esse homem começou a utilizar da imaginação para procurar ocupar o tempo em que não estava fazendo suas tarefas diárias. Começou, então, a surgir a recreação. • As pesquisas recentes afirmam que os primeiros jogos surgiram na Grécia an- tiga e tinham o propósito de ajudar no ensino das letras. Posteriormente, os jogos foram tornando-se competitivos e o país foi palco do primeiro “Jogos Olímpicos”. Deles, inicialmente, só poderiam participar homens gregos, falan- tes da língua grega, com os deveres de cidadãos sendo exercidos plenamente. • Segundo Miranda (1992), no século IV consolidou-se a Constituição de Santo Agostinho na sociedade. • O Cristianismo na época medieval proibiu todas as formas de jogos e recreações. • As mudanças advindas do início do Renascimento foram de suma importân- cia para as condutas do jogo até os dias de hoje, pois a brincadeira passa a ser vista como de conduta livre, que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo. No renascimento, o jogo torna-se um meio para atingir as ne- cessidades infantis e uma forma para a aprendizagem de conteúdosescolares. • Na antiguidade, crianças egípcias já utilizavam brinquedos tais quais encontra- mos hoje, como, por exemplo, animais de madeira, bonecas e soldadinhos. • O jogo faz parte da sociedade atual e, a psicopedagogia, pode e deve apropriar- -se deste artefato cultural para desenvolver suas práticas cotidianas. RESUMO DO TÓPICO 1 12 1 Não podemos falar do lúdico e do jogo sem antes entendermos, primeira- mente, como o homem se desenvolveu no decorrer da história, pois a partir da evolução da espécie humana evoluíram também as linguagens, o lúdico e também o jogo. O homem primitivo recebeu diversas denominações, mas estudamos neste tópico três denominações. Relacione as colunas a seguir com a descrição CORRETA de cada “homo”: (1) HOMO LUDENS ( ) Sobrevivia por meio da caça e da pesca, defendendo-se de animais ferozes. Este homem ocupava grande parte do seu tempo tentando se proteger e pensando em uma maneira eficaz de adquirir seu alimento. (2) HOMO SAPIENS ( ) Sobrevivia por meio da caça e da pesca, defendendo-se de animais ferozes. Este homem ocupava grande parte do seu tempo tentando se proteger e pensando em uma maneira eficaz de adquirir seu alimento. (3) HOMO FABER ( ) Homem que começa a se comunicar e a produzir ob- jetos e utensílios para utilização no dia a dia. Inicia-se a utilização da criatividade para produzir vasos, pinturas e flechas. 2 Sobre os aspectos históricos do jogo, assinale V para verdadeiro e F para falso. ( ) No romantismo, a brincadeira passa a ser condenada como uma ação que não favorecia o ensino e a aprendizagem. ( ) A Constituição de Santo Agostinho consolidou os jogos e as brincadeiras como atitudes boas para o seu humano. ( ) É na fase do Homo Ludens que o jogo torna-se um elemento cultural, ou seja, parte da cultura. ( ) Jogar é tão antigo quanto a própria existência humana. ( ) Pesquisas apontam que os primeiros jogos surgiram na China e posterior- mente na Grécia. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) F – V – V – V – V. b) ( ) F – F – V – V – V. c) ( ) V – V – V – F – F. d) ( ) F – V –V – V – F. e) ( ) V – F – F – V –V. AUTOATIVIDADE 13 3 Assinale a alternativa em que contém uma sentença CORRETA sobre o his- tórico dos brinquedos. a) ( ) A boneca em Atenas era utilizada como nos dias de hoje, um brinque- do, exceto pelo simbolismo que a boneca exercia durante o aniversário, em que as mulheres atenienses consagravam suas bonecas à deusa Ísis. b) ( ) Na Turquia, surgiram os primeiros piões, feitos com argila e com as bordas decoradas com formas de animais e humanos e em relevo. c) ( ) A modernidade gerou mudanças no brincar e nos brinquedos, ou seja, as crianças que perpassam pela infância moderna brincam de outras for- mas e com outros brinquedos. d) ( ) As crianças americanas brincavam com bonecas e arcos de madeira. Os meninos, especificamente, brincavam com soldados feitos com argila. Mais tarde, nos EUA, surgiram os primeiros jogos de tabuleiro. e) ( ) Acredita-se que no Brasil surgiram as primeiras bonecas parecidas com as que existem hoje na atualidade. 14 15 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 O QUE SÃO JOGOS E BRINCADEIRAS? DELINEANDO CONCEITOS 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, nos concentraremos nos termos jogos, brinquedos e brin- cadeiras. Delimitaremos os conceitos, para entendermos o contexto de cada um. Trataremos cada uma das definições, trazendo características e objetivos para melhor entendimento. Afinal, jogar e brincar são palavras que têm um mesmo significado? Quando a criança brinca, ela também está jogando? Ou, quando o adulto joga, ele está também brincando? Por que o brinquedo tem uma função tão importante na brincadeira? Talvez nunca paramos para pensar nessas questões, porém, para você, futuro psicopedagogo, é de extrema importância ter a clareza sobre cada termo e a resposta para as perguntas colocadas acima. Porém, atenção! Neste tópico, de- correremos nos atentando às definições dos conceitos. No tópico seguinte desta unidade, trataremos exclusivamente dos jogos e brincadeiras para a atuação do psicopedagogo na prática! O tópico está dividido em apenas três subtópicos, como não poderia ser diferente: Jogo; Brinquedo e Brincadeira. Ao final, pretendemos deixar claro o conceito de cada para que você possa ter uma prática futura consistente. Está curioso para saber mais sobre estes conceitos? Vamos lá! 2 JOGO O jogo é uma das formas de expressão do ser humano. A criança utiliza do jogo, para estabelecer relações com a cultura adulta e com a realidade social no qual ela está inserida. O jogo vem do latim jocu, que significa gracejo, zombaria. O ato de jogar é tão antigo quanto a própria história do homem. É uma atividade fundamental- mente lúdica, contendo regras que podem ser competitivas ou não e que possui uma característica principal, a espontaneidade, e possibilita a expressão de vivên- cias cultural de forma intensa e total (HUIZINGA, 1991). Negrine (2001, p. 42) define o termo jogo como “tudo aquilo que diverte, sem causar estresse, constitui-se em atividade lúdica. Entretanto, umas têm melhor quali- dade que outras, quando vistas a partir do nível de envolvimento nas relações”. 16 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS Ferreira (1999, p. 23) conceitua que o jogo “é também conhecido como uma atividade física ou mental, organizada por sistemas de regras que definem a perda ou ganho”. Para o filósofo Huizinga (1991), toda a ação humana dentro da sociedade é um jogo. No Brasil, o lúdico, o jogo, o brinquedo e a brincadeira possuem significa- dos de certa forma indistintos. De acordo com Freire (1997, p. 116), “existe muita confusão a respeito dos termos brinquedo, brincadeira, jogo e lúdico. As defini- ções dessas palavras em nossa língua pouco se diferenciam. Brincadeira, brin- quedo e jogo significam a mesma coisa”. Essa “confusão” feita no Brasil recebeu algumas críticas no âmbito internacional. Ainda não há consenso na academia so- bre estas diferenciações na língua portuguesa. Por isso, caro leitor, utilizaremos, neste livro, as definições mais aceitas hoje para conceituar cada termo. Buscare- mos deixar claro o significado de cada um, para que você possa entender e criar sua própria visão sobre cada um. Para entender melhorar estas diferenciações e aproximações na língua portu- guesa, sugerimos a leitura do livro Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação, de organi- zação de Tizuko Morchida Kishimoto. FIGURA – CAPA DO LIVRO JOGO, BRINQUEDO, BRINCADEIRA E A EDUCAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3hWJVrn>. Acesso em: 17 jun. 2020. DICAS TÓPICO 2 – O QUE SÃO JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS? DELINEANDO CONCEITOS 17 Tentar definir jogo não é tarefa fácil. Quando se pronuncia a palavra jogo, cada um pode entendê-la de modo diferente, assim, o jogo é um campo rico para integrar as diferentes áreas de desenvolvimento infantil dentro de um processo vivencial. Mello (2003) caracteriza o jogo como sendo uma atividade intrínseca na vida do ser humano. O jogo possui uma grande carga afetiva, e é marcado por questões identitárias e culturais. Em resumo, o jogo é uma assimilação funcional, em um exercício de ações que são individuais e aprendidas. São gerados senti- mentos e o lúdico determina o grau de aceitação do jogo. Os jogos possuem tem- po, regras e espaços definidos. A classificação dos jogos é feita de diferentes formas, por diferentes au- tores na literatura especializada. Trabalharemos aqui com alguns destes autores. Piaget considera três tipos de jogos: os jogos práticos, os jogos simbólicos e os jogos de regras (MEDEIROS, 2013). Os jogos práticos podem ser caracterizados como continuidade do pro- cesso de imitação e conduzem ao aprimoramento motor (exemplos: arremessar pedras, pular corda, empilhar blocos). Estes evoluem para jogos simbólicos, o faz - de - conta infantil, que implica na representa- ção, imaginação e expressão criativa da criança. Estes desaparecem gra- dualmente à medidaque a criança se acomoda ao mundo ao seu redor, dando lugar aos jogos dotados de regras (MEDEIROS, 2013, p. 23859). A seguir, apresentamos uma leitura, recorte de uma dissertação de mes- trado de autoria de Antônia Pereira da Silva (2007), em que a autora estudou a importância dos jogos e brincadeiras para as crianças. No recorte, adiante, temos algumas divisões dos jogos para alguns estudiosos da área. Sugerimos a leitura da dissertação a qual trouxemos, intitulada A importância dos jogos/brincadeiras para a aprendizagem dos esportes nas aulas de Educação Física. O link para encontrar a dissertação inteira é: https://bit.ly/3jPRWjs. DICAS 18 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS/BRINCADEIRAS PARA A APRENDI- ZAGEM DOS ESPORTES NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA Os jogos podem ser classificados em diferentes formas. No entanto, para o presente estudo, adotaremos somente as que entendemos se coadu- narem com os objetivos do mesmo. Teixeira (1997, p. 34) classifica os jogos em três formas, de acordo com suas finalidades e maneiras de jogar: • Sensoriais – são aquelas que ajudam a desenvolver os sentidos. Ex.: cabra-cego, pois neste jogo o sentido da audição é essencial. • Raciocínio – desenvolve o raciocínio. Ex.: xadrez, palavras cruzadas entre ou- tros. • Motoras – é aquelas que exigem a participação de todo o corpo, mais depen- dem principalmente dos músculos. Ex.: pega-pega. Para Machado (1986, p. 85), classificam-se das seguintes formas: • Grande jogo ou desporto – realizado com as equipes e com regras interna- cionais e longa duração. • Pequeno jogo de curta duração e de poucas regras – as regras dos jogos variam de um lugar para outro, segundo os costumes do local. São jogos motores ativos que convém a todas as crianças menores. • Jogos dirigidos – apresentam características educativas e são orientados pelo professor. São submetidos a regras e cumprimentos, havendo mais respeito aos direitos do companheiro, obedecendo a uma seqüência nor- mal do seu processo do desenvolvimento e crescimento. • Jogo livre – são jogos escolhidos livremente pelo interesse do grupo. • Jogos individuais – os jogadores agem sem companheiros. Esta forma de jogo é própria das crianças pequenas entre dois a seis anos de idade. • Jogos coletivos – são aqueles em que a presença do companheiro é de fun- damental importância. Claparede e Groas (apud RIZZI; HAYDT, 1986, p. 10) adotam como critério classificatório a função, e dividem os jogos em duas grandes catego- rias, que comportam várias subdivisões: 1. Jogos de experimentação ou jogos de funções gerais: Jogos sensoriais (assobio, gritos etc.). Jogos motores (bolas, corridas, outros). Jogos afetivos (amor e sexo). Jogos intelectuais (imaginação e curiosidade). Exercício de vontade (sustentar uma posição difícil o máximo de tempo possível). 2. Jogos de funções especiais: Jogos de luta, perseguição, cortesia, imitação, jogos sociais e familiares; TÓPICO 2 – O QUE SÃO JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS? DELINEANDO CONCEITOS 19 Jean Piaget (apud RIZZI; HAYDAT, 1986, p. 11), também se dedicou à elaboração de uma classificação de jogos, tendo utilizado anteriormente, os seguintes procedimentos: • Observação e registro dos jogos praticados pelas crianças em casa, na es- cola e na rua, tentado relacionar o maior número dos jogos infantis. • A análise das classificações já existentes e aplicações dessas classificações conhecidas à relação de jogos coletados. Tendo adotado como critério classificatório o grau de complexida- de mental, Piaget verificou que existem basicamente três tipos de estruturas que caracterizam os jogos: o exercício, simbólico e de regras. A partir dessas premissas, ele distribuiu os jogos em três grandes categorias, cada uma delas correspondendo a um tipo estrutura mental. 1- Jogo de exercício sensório motor. 2- Jogos simbólicos (de ficção ou imaginação e de imitação). 3- Jogos de regras. As três classes de jogos (exercício, simbólico e regras) correspondem às três fases do desenvolvimento mental ou cognitivo. Chateau (1987), afir- ma que há uma ordem de aparecimento dos jogos, como fez Piaget. Esses estágios incluem: jogos funcionais da primeira infância; jogos simbólicos que aparecem pouco antes dos três anos; jogo de proezas que cobrem principal- mente os primeiros anos da escola primária; jogos sociais que se organizam mais no fim da infância. FONTE: <https://bit.ly/3jPRWjs>. Acesso em: 17 jun. 2020. Como podemos observar acadêmico, os jogos possuem diversas classi- ficações de variados autores. Porém, com a leitura atenta de cada um, podemos também perceber que os autores têm grandes aproximações em suas classifica- ções e um, em alguns aspectos, complementa sempre o outro. 20 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS Para um aprofundamento do tema até aqui estudado, como os jogos e as diferentes classificações, indicamos o livro Jogos, Brinquedos e Brincadeiras de autoria de Roselene Crepaldi. FIGURA – CAPA DO LIVRO “JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS” FONTE: <https://bit.ly/2BITavG>. Acesso em: 17 jun. 2020. DICAS 3 BRINQUEDO Já vimos, anteriormente, que o brinquedo se desenvolveu com o passar dos anos, tendo sido criado na antiguidade e chegando aos dias atuais. Agora, nos atentaremos para o conceito do brinquedo. O brinquedo, nada mais é do que um objeto com o qual se brinca. Objeto que é sempre suporte de brincadeira, é o material com o qual se tem a intenção de se fazer fluir o imaginário infantil, e tem como função a própria brincadeira. De acordo com Brougère (1995), o brinquedo é um objeto cujo seu valor é simbólico atrelado sempre a uma função. Sem função o objeto perde seu valor e seu sentido, deixando de ser um brinquedo. Um brinquedo só é um brinquedo TÓPICO 2 – O QUE SÃO JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS? DELINEANDO CONCEITOS 21 se lhe for dado um significado para tal. Às vezes, a boneca comprada que tem vá- rias funções como comer, fazer xixi e piscar, não é tão interessante para a criança quanto uma panela velha e um garfo. Para o autor, o brinquedo é: Um objeto que a criança manipula livremente, sem estar condicionado às regras ou a princípios de utilização de outra natureza. Podemos, igualmente, destacar uma outra diferença entre o jogo e o brinquedo. O brinquedo é um objeto infantil e falar em brinquedo para um adul- to torna-se, sempre, um motivo de zombaria, de ligação com a infân- cia. O jogo, ao contrário, pode ser destinado tanto à criança quanto ao adulto: ele não é restrito a um faixa etária (BROUGÈRE, 1995, p. 13) Os brinquedos podem ser definidos seja com sua em relação à brinca- deira, seja em relação a uma representação social. Representa-se uma realidade, colocando a criança na presença de reproduções de tudo que existe no cotidiano. Para Brougère (1995), o brinquedo é um produto da sociedade que tem características específicas, com traços culturais específicos. Com essa afirmação podemos entender por que as crianças de diferentes culturas possuem diferentes brinquedos. Alguns em comum, com certeza, mas peguemos o Brasil como exem- plo. Podemos visualizar em diferentes regiões crianças brincando com brinque- dos específicos daquela região, não sendo comum em outras regiões do país. Isso acontece porque “o brinquedo é dotado de um forte valor cultural, se definirmos cultura como um conjunto de significações produzidas pelo homem. Percebemos que ele é rico em significados que permitem compreender determinada socieda- de e cultura” (BROUGÈRE, 1995, p. 8). Pode-se dizer que um dos objetivos dos brinquedos é dar à criança um substituto dos objetos reais para que possa manipulá-los. Por intermédio do brin- quedo, a criança irá explorar, experimentar e apreender o mundo dos adultos, bem como o meio onde vive a cultura e os valores aí vinculados. De acordo com Vygotsky (1994, p. 71), “a criança desenvolve-se, essencialmente, através da ativi- dade de brinquedo”. Assim, podemos compreenderque o brinquedo é essencial para o desenvolvimento da criança, pois com ele as crianças se relacionam com o meio social no qual está inserida. O brinquedo não só possibilita o desenvolvimento de processos psíqui- cos, por parte da criança, como também serve como um instrumento para conhecer o mundo físico e seus usos sociais, e finalmente entender os dife- rentes modos de comportamento humano, os papéis que desempenham como se relacionam e os hábitos culturais (SANTOS, 1999, p. 52). Para Kishimoto (1997), o brinquedo também é educativo, pois ele desen- volve e ensina, de certa forma, prazerosa para a criança. O brinquedo permite que a criança brinque, se divirta de forma lúdica e da mesma forma obtenha diversos conhecimentos. Para os psicopedagogos, nessa perspectiva, os jogos que mais se destacam são os quebra-cabeças, os jogos de tabuleiros, brinquedos de encaixe etc. 22 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS O educador, pode, portanto, construir um ambiente que estimule a brin- cadeira em função dos resultados desejados. Não se tem certeza de que a criança vá agir, com esse material, como desejaríamos, mas aumentamos, assim, as chances de que ela o faça; num universo sem certeza, só pode- mos trabalhar com probabilidades. Portanto, é importante analisar seus objetivos e tentar, por isso, propor materiais que otimizem as chances de de preencher tais objetivos (BROUGÈRE, 1995, p. 105). Para um maior aprofundamento no tema, recomendamos a leitura do livro clássico citado no decorrer deste tópico: Brinquedo e Cultura” de Gilles Brougère. FIGURA – CAPA DO LIVRO BRINQUEDO E CULTURA FONTE: <https://images-americanas.b2w.io/produtos/01/00/item/7322/1/7322159_1GG. jpg>. Acesso em: 17 jun. 2020. DICAS 4 BRINCADEIRA A brincadeira é uma das características infantis mais estudadas por diver- sos teóricos. O ato de brincar, individualmente ou com outros indivíduos, permite se compreender o mundo e as ações humanas, assim como socializar com os de- mais participantes da brincadeira. O brincar é de extrema importância para que a criança tenha como interagir com o mundo e vivenciar suas diversas linguagens, seja a corporal, a escolar, a fala ou a brincante, pois estão características no processo que constrói a brincadeira. “Reconhecer o papel do brincar na vida da criança é uma tarefa que requer um conhecimento sobre os teóricos que estudam o brincar e seus elementos bem como as fases anteriores pelas quais a criança passou, verificando a sua evolução” (BAR- BOSA, 2011, p. 18). TÓPICO 2 – O QUE SÃO JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS? DELINEANDO CONCEITOS 23 Por meio da brincadeira é que a criança desenvolve o imaginário, a confian- ça, amadurece, supera limites, testa e desenvolve habilidades motoras e cognitivas e imita o mundo social no qual está inserida. Estas são algumas características que nos permitem entender o quão importante é o brincar na vida das crianças. O brincar é social, a criança não brinca sozinha, ela tem um brinque- do, um ambiente, uma história, um colega, um professor que media essa relação e que faz do brincar algo criativo e estimulante, ou seja, a forma como o brincar é mediado pelo contexto da escola é importan- te para que seja de qualidade e realmente ofereça a oportunidade de diferentes aprendizagens para a criança (NAVARRO, 2009, p. 2125). Toda a brincadeira também possui regras, mas essas regras necessitam ser criadas ou acordadas entre os que brincam. Como vimos anteriormente, jogos e brin- cadeiras são difíceis de serem conceituados na língua portuguesa por serem tratados como sinônimos. Mas, devemos atentar que a brincadeira é muito mais espontânea que os jogos se compararmos, por exemplo, com os jogos esportivos. A brincadeira tem início e fim nela mesma. Diferente do exemplo anterior, ela não tem um tempo pré-determinado para acabar e não tem a finalidade de se vencer o outro. As brincadeiras infantis possuem duas características básicas definidas por Vygotsky (1994): a regra e a imaginação. Ou seja, podemos definir que a brin- cadeira então, necessita destas duas características para ser entendida como tal. Quando as crianças mais novas brincam, elas utilizam muito a situ- ação imaginária, a imaginação está presente com força, enquanto as regras ficam mais ocultas, mas não deixam de existir. A brincadeira de casinha é um exemplo do brincar das crianças pequenas, em que o imaginário reina, mas certas regras de comportamento devem ser seguidas. Com o passar do tempo, as regras vão tomando mais espaço e a situação imaginária vai diminuindo, como num jogo de queimada em que as regras são primordiais, mas a situação imaginária de dois lados opostos em “guerra” e de comportamentos diferentes daqueles da vida real não deixam de existir (NAVARRO, 2009, p. 2126). Devemos frisar aqui, que diferente do que se pensa, a brincadeira não é algo natural na vida da criança. Este pensamento foi naturalizado com o passar do tempo, mas a criança aprende a brincar. Para Brougère (1995, p. 97), necessi- tamos “romper com o mito da brincadeira natural. A criança está inserida, desde seu nascimento, num contexto social e seus comportamentos estão impregnados por essa imersão inevitável”. A brincadeira pressupõe uma aprendizagem social. Aprende-se a brincar. A brincadeira não é inata, pelo menos nas formas que ela ad- quire junto ao homem. A criança pequena é iniciada na brincadeira por pessoas que cuidam dela, particularmente sua mãe. Não tem sen- tido afirmar que a criança de poucos dias, ou poucas semanas, brin- ca por iniciativa própria [...]. É certo que os adultos brincam com a criança. A criança entra progressivamente na brincadeira do adulto (BROUGÈRE, 1995, p. 98). 24 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS A brincadeira é assim um processo de relações e, por isso, também de cultura. A imprescindibilidade de brincar da criança não é um fator que pode- mos dizer biológico, mas sim, de uma ordem “social, à necessidade que ela sente desde muito cedo de se comunicar com os adultos, necessidade que se converte em tendência para levar uma vida comum com eles” (ELKONIN, 1998, p. 397). A criança de um ano não procura o objeto somente para vê-lo, mas também para prosseguir sua relação com o adulto. O adulto pergunta: “Onde está tal coisa?” e a criança procura e responde, com toda sua atitude: “Aqui está.”. O contato emocional com o adulto e o fato de compreender o que esse diz costumam ser motivo de grande alegria para a criança (MUKHINA, 1995, p. 87). Por conta desta aprendizagem social é possível entendermos alguns as- pectos das brincadeiras infantis. Podemos afirmar que algumas brincadeiras da criança são próprias dela mesma, mas atentemos para o fato de vermos crianças hoje, brincando com brincadeiras que nós ou nossos pais brincaram na infância. Pega-Pega, esconde-esconde, pular-corda, amarelinha, batata-quente e elefante colorido são alguns dos exemplos que podemos ver com grande intensidade ain- da nos dias atuais. Indicamos a leitura do livro O brincar e suas teorias organizado por Tizuko Morchida Kishimoto, para um aprofundamento das teorias que hoje fundamentam o brin- car, principalmente na escola. FIGURA – CAPA DO LIVRO O BRINCAR E SUAS TEORIAS FONTE: <https://bit.ly/3i1kNjg>. Acesso em: 17 jun. 2020. DICAS 25 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O jogo e a brincadeira possuem significados e definições diferentes. • Os jogos podem ser classificados como: jogos de experimentação ou jogos de funções gerais, como jogos de funções especiais e como jogos de regras. • O jogo, o brinquedo e a brincadeira são elencados constitutivos da cultura e da história humana. 26 1 Analise as sentenças a seguir e classifique V para as VERDADEIRAS e F para as FALSAS: ( ) No Brasil, os termos “jogo, brinquedo e brincadeira” possuem significa- dos distintos e perfeitamente delineados. ( ) O jogo é uma das formas de expressão do ser humano. ( ) O jogonão possui carga afetiva e não é marcado por questões identitárias e culturais. ( ) Os brinquedos podem ser definidos seja com sua em relação à brincadei- ra, seja em relação a uma representação social. ( ) A brincadeira é uma das características infantis menos estudadas por di- versos teóricos. ( ) A brincadeira é muito mais espontânea que os jogos se comparada com os jogos esportivos. ( ) A brincadeira tem início e fim nela mesma. ( ) O brinquedo é um objeto que é suporte de uma brincadeira. É o material com o qual se tem a intenção de se fazer fluir o imaginário infantil, e tem como função a própria brincadeira. Agora, assinale a alternativa correta: a) ( ) F – V – F – V – F – V – V – V. b) ( ) V – V – V – V – V – V – V – V. c) ( ) F – F – F – F – F – F – F – F. d) ( ) F – V – F – V – F – V – F – V. e) ( ) V – F – F – F – F – V – V – V. 2 Classifique, pelo menos, cinco tipos de jogos de acordo com o texto comple- mentar disponibilizado neste tópico. R.: 3 Assinale a alternativa INCORRETA sobre os jogos, os brinquedos e as brin- cadeiras: a) ( ) O jogo vem do latim jocu, que significa gracejo, zombaria. b) ( ) Piaget considera três tipos de jogos: os jogos teóricos, os jogos espontâ- neos e os jogos de invasão. c) ( ) O brinquedo é um produto da sociedade que tem características es- pecíficas, com traços culturais específicos. Com essa afirmação, podemos entender por que as crianças de diferentes culturas possuem diferentes brinquedos. AUTOATIVIDADE 27 d) ( ) Por meio da brincadeira que a criança desenvolve o imaginário, a con- fiança, amadurece, supera limites, testa e desenvolve habilidades motoras e cognitivas e imita o mundo social no qual está inserida. Essas são algumas características que nos permitem entender o quão importante é o brincar na vida das crianças. e) ( ) O jogo é também conhecido como uma atividade física ou mental orga- nizada por sistemas de regras que definem a perda ou ganho. 28 29 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: AS FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL, A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR, DO FAZ DE CONTA E DA BRINCADEIRA LIVRE 1 INTRODUÇÃO As áreas de atuação dos psicopedagogos não se restringem apenas aos ambientes escolares e clínicas/consultórios para o atendimento de crianças e jo- vens. Os psicopedagogos, hoje, também atuam em ambientes empresariais, hos- pitalares, organizacionais, entre outros. Por isso, trabalharemos neste tópico com as fases de desenvolvimento hu- mano e a contribuição dos jogos e das brincadeiras em cada fase. Entender como as fases do desenvolvimento humano acontecem é de extrema importância para que você possa pensar e planejar a sua prática como psicopedagogo. Sabemos que nem todas as pessoas se desenvolvem iguais por diversos fatores, como sociais e ambientais, mas buscamos, neste tópico, mostrar as fases do desenvolvimento para alguns teóricos da área como Piaget e Wallon. Estudamos também até aqui a história e os conceitos dos termos jogo, brinquedo e brincadeira. Todavia, futuro psicopedagogo, neste nosso último tó- pico entenderemos a importância do faz de conta e da brincadeira não dirigida no desenvolvimento das crianças. Sabemos que brincar é sim importante, mas qual o papel do lúdico neste processo? Ou ainda, por que a brincadeira não dirigida? Brincando a criança aprende, fato que já estudamos, mas será que é so- mente no brincar pedagógico? Veremos, neste tópico, que as crianças estão apren- dendo a todo tempo e, principalmente, naquelas brincadeiras que não partem e nem são interferidas pelos adultos. Ficou curioso para saber como? Vamos lá! 2 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO Todos os seres humanos se desenvolvem desde o nascimento, terminando apenas com a morte. Algumas dessas fases do desenvolvimento humano ficam mais explícitas e percebidas como é o caso do desenvolvimento infantil. O desen- volvimento infantil é marcado pela evolução motora, cognitiva, social e psíquica, ou seja, nesta fase destaca-se a aquisição de habilidades específicas. Esse desen- 30 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS volvimento, antes de mais nada, deve ser entendido como um processo. Paula- tinamente, as crianças irão adquirir essas habilidades quando bem estimuladas. Ouvir a primeira palavra do bebê, ver os primeiros passos da criança e presenciar a criança conseguir escrever o seu nome. Estes são alguns exemplos que podemos pensar para como se dá o desenvolvimento infantil. Nenhuma criança nasce sabendo andar, falar, ler ou escrever. São apren- dizados que se dão quando acumulados de vários e pequenos aprendizados no dia a dia. Pensando nesses aprendizados precisamos entender que o desenvolvi- mento motor, social, afetivo e cognitivo são esferas as quais não se desenvolvem uma de cada vez. É na integração de todas que as crianças que ocorre o desenvol- vimento simultâneo de cada uma. Nos itens a seguir, definiremos cada um para uma melhor visualização de cada, mais uma vez lembrando que todos acontecem simultaneamente no desen- volvimento infantil. • Desenvolvimento Motor: refere-se à aquisição de habilidades físicas como engatinhar, andar, correr, saltar, e também habilidades consideradas motoras finas, como é o caso da escrita e da manipulação de uma tesoura. • Desenvolvimento Social: refere-se ao início da troca de experiências com os outros, inserção no meio cultural e tem início com mais intensidade após a aquisição da linguagem. • Desenvolvimento Afetivo: refere-se às emoções. Este desenvolvimento inicia imediatamente após o nascimento, quando a criança já começa a perceber as emoções no riso, no choro e compreende quando lhe é dado carinho, atenção e amor. O primeiro desenvolvimento afetivo inicia com os pais, sendo estendido conforme a crianças convive com outras pessoas. • Desenvolvimento Cognitivo: refere-se ao desenvolvimento dos processos ce- rebrais, ou seja, o desenvolvimento dos pensamentos, da memória, do raciocí- nio e da própria linguagem. Peguemos como exemplo a seguinte situação: você se lembra do dia do seu aniversário de dois anos? É bem provável que você responda que não. Isso acontece porque o cérebro nesta idade ainda não está desenvolvido o suficiente para armazenar memórias da forma que os adultos armazenam, é necessário tempo para que este desenvolvimento aconteça. TÓPICO 3 – JOGOS, BRINQ. E BRINC.: AS FASES DO DESENV. INFANTIL, A IMPORT. DO BRINCAR, DO FAZ DE CONTA E DA BRINC. LIVRE 31 Para um maior aprofundamento no desenvolvimento infantil, recomendamos a leitura do livro Desenvolvimento da Criança de organização de Sandra Josefina Ferraz Ellero Grisi e Ana Maria de Ulhôa Escobar. O livro abrange um grande referencial científico e tem uma abordagem multidisciplinar. Vale a pena conferir! FIGURA – CAPA DO LIVRO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA FONTE: <https://bit.ly/39T4rGp>. Acesso em: 17 jun. 2020. DICAS A partir de agora, estudaremos dois teóricos e as fases que cada um esta- beleceu para o desenvolvimento, principalmente, infantil. 3 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO PARA JEAN PIAGET Jean Piaget foi um psicólogo suíço que estudou as crianças e buscou per- ceber em quais estágio as crianças tinham condições de aprender determinadas habilidades e interagir/reagir a determinados estímulos. Piaget acreditava que as crianças precisam participar do processo de construção do conhecimento, ou seja, elas precisam experimentar e vivenciar para aprender. Conforme as crianças vão 32 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS se desenvolvendo elas acumulam conhecimentos, baseando-se no que já conhecem para adicionar novos conhecimentos ao seu mundo. O autor definiu assim, quatro estágios de desenvolvimento, que iniciam ao nascer e perpassam por toda a vida do ser humano. Detalharemos esses quatro estágios nos subtópicos a seguir. 3.1 FASE SENSÓRIO MOTORA: 0 A 2 ANOS Neste primeiro estágio, definido por Piaget (1999), destaca-se o que as crianças aprendem por meio dos sentidos. Com a manipulaçãodos objetos, as crianças criam as primeiras noções de tempo e espaço e começam o perceber o mundo a sua volta com a manipulação das coisas. Para Piaget, nessa fase, a criança inicia com comportamentos básicos de- senvolvendo até os mais complexos. Os bebês passam a não agir somente por reflexos e, sim, a controlar, mesmo que de forma inicial, seus movimentos, apren- dendo a coordenar suas atividades em relação ao seu ambiente, na dialética sen- sação e percepção. Por isso, podemos afirmar que o mundo que envolve a criança é conquistado a partir da percepção e dos movimentos (como a sucção, o movi- mento dos olhos, por exemplo). A brincadeira de “se esconder” do bebê atrás de uma toalha ou cobertor é tão interessante nesta fase, pois a criança nos primeiros meses acha sensacional o adulto aparecer e desaparecer tão rápido. Mais adiante no desenvolvimento, a criança começa a perceber que não é o adulto que desaparece. Ele permanece no mesmo local, apenas escondido atrás de algo, aparecendo ou não a criança. Nesta fase, então, a criança aprende um conceito importante: a permanência do objeto. Ela passa a entender que o objeto permanece no mesmo local, mesmo ela não po- dendo vê-lo. Almeja-se que, no final desta fase, a criança aperfeiçoe movimentos, reflexos e habilidades. FIGURA 1 – CRIANÇA NA FASE SENSÓRIO-MOTORA FONTE: <https://bit.ly/2ENFFMv>. Acesso em: 17 jun. 2020. TÓPICO 3 – JOGOS, BRINQ. E BRINC.: AS FASES DO DESENV. INFANTIL, A IMPORT. DO BRINCAR, DO FAZ DE CONTA E DA BRINC. LIVRE 33 3.2 FASE PRÉ-OPERACIONAL: 2 A 7 ANOS Nesta segunda fase, as crianças desenvolvem principalmente a memória e a imaginação. Para Piaget, a transição da fase sensório-motora para a fase pré- -operacional é marcada pela aquisição da linguagem pela criança, ou seja, a fun- ção simbólica começa a evidenciar-se. Na concepção de Piaget (1999), a linguagem é necessária, pois é consi- derada pelo teórico necessária para o desenvolvimento da inteligência. Nesse sentido, podemos entender por que popularmente é conhecida como a fase dos “porquês”. A criança necessita da explicação do adulto para desenvolver o pen- samento/raciocínio e tão logo, a inteligência. Com a aquisição da linguagem, também acontecem significativas mudan- ças na vida da criança. Ela passa a ter contatos interindividuais fortalecidos, de- senvolvendo aspectos afetivos e sociais. Porém, nesta fase, o egocentrismo ainda é bem visível e necessita ser trabalhado. A criança tem dificuldade de dividir, por exemplo, brinquedos. Isso acontece porque a criança não tem uma realidade da qual não faça parte, devido à ausência de esquemas conceituais e da lógica. Por vezes, vemos a criança como “má” por não dividir o brinquedo, quando, na verdade, ela ainda não possui esse desenvolvimento cognitivo. FIGURA 2 – CRIANÇAS PINTANDO, DENTRO DO ESTÁGIO PRÉ-OPERACIONAL FONTE: <https://bit.ly/3hYPVzC>. Acesso em: 17 jun. 2020. 34 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS 3.3 ESTÁGIO OPERACIONAL CONCRETO: 7 A 11 ANOS Neste terceiro estágio, as crianças já têm consciência de sentimentos e do mundo a sua volta. O egocentrismo da fase anterior vai desaparecendo, dando lugar à capacidade da criança estabelecer relações e entender pontos de vista di- ferentes do seu. Para Piaget (1999), esse estágio é quando acontece a reviravol- ta no desenvolvimento infantil. A criança inicia nesta fase o pensamento lógico (operacional). Esse estágio deve coincidir com a entrada da criança na escolariza- ção formal, no conhecido “Ensino Fundamental”. A criança nesta fase consegue interiorizar ações, assim, o que nos estágios anteriores era fortemente marcado pelo aspecto motor, neste a criança consegue realizar mentalmente. Contudo, embora a criança consiga raciocinar de forma coerente, tanto os esquemas conceituais como as ações executadas mentalmente se referem, nesta fase, a objetos ou situações passíveis de serem manipuladas ou imaginadas de forma concreta. Isso quer dizer que a capacidade de reflexão se aperfeiçoa, mas sempre baseada em situações concretas e lógicas: para ocorrer a compreensão, são necessárias comparações do que é aprendido com o que já é conhecido ou está sendo fisicamente visualizado. Além disso, no período pré-operatório, a criança ainda não adquiriu a capa- cidade de reversibilidade, a capacidade de pensar simultaneamente o estado inicial e o estado final de alguma transformação efetuada sobre os objetos (por exemplo, a ausência de conservação da quantidade de líquido quando se transvaza o conteúdo de um copo A para outro B, de diâmetro menor), tal reversibilidade será construída ao longo dos estágios operatório concreto e formal. Em outras palavras, o sujeito só consegue pensar corretamente em materiais que pode visualizar e experimentar, pois ainda não consegue pensar abstratamente (PEDROZO, 2014). Ainda nesta fase, vale destacar, que aumenta a autonomia da criança em relação aos adultos. Com a aquisição de diversas habilidades até esta fase da vida é possível que as crianças tenham um certo grau de autonomia em diversas ativi- dades do dia a dia e, também escolares. TÓPICO 3 – JOGOS, BRINQ. E BRINC.: AS FASES DO DESENV. INFANTIL, A IMPORT. DO BRINCAR, DO FAZ DE CONTA E DA BRINC. LIVRE 35 FIGURA 3 – CRIANÇAS OPERACIONAL CONCRETO COM A PROFESSORA FONTE: <https://bit.ly/2XqHg1b>. Acesso em: 17 jun. 2020. 3.4 ESTÁGIO OPERACIONAL FORMAL: 11 ANOS OU MAIS O último estágio do desenvolvimento de Piaget (1999) começa aos 11 anos e perdura durante toda a vida. Nessa fase, o pensamento lógico é completado de certa forma, pois continua sendo aprimorado ao longo da vida. Pré-adolescentes já são capazes de lidar com questões abstratas e lógicas, que tiveram início na fase anterior. Observa-se, nessa fase, a formulação de hipóteses, resoluções de proble- mas e construção de “teorias” (PIAGET, 1999). De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o indivíduo adquire a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta. Isso não quer dizer que ocorra uma estag- nação das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na adolescência, como enfatiza Rappaport (op.cit.:63), “esta será a forma predominante de raciocínio uti- lizada pelo adulto. Seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos tanto em extensão como em profundidade, mas não na aquisição de novos modos de funcionamento mental” (TERRA, 2020). Para Bock, Furtado e Teixeira (1993), nessa fase o adolescente já tem a opor- tunidade e disposição intelectual para elaborar conceitos relacionados a ética, li- berdade e justiça, por exemplo. “O adolescente domina, progressivamente, a capa- cidade de abstrair e generalizar, cria teorias sobre o mundo, principalmente sobre aspectos que gostaria de reformular” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1993, p. 89). Assim, nessa fase, constituem-se aquilo que será levado para toda a vida adulta. Piaget (1999) também enfatiza que acontece neste estágio o equilíbrio, que é quando o há reflexão para interpretar uma experiência, passando assim, pelo conhecimento concreto. 36 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FIGURA 4 – ADOLESCENTES LENDO: NA FASE OPERACIONAL FORMAL FONTE: <https://bit.ly/3fpMbWn>. Acesso em: 17 jun. 2020. Para complementar seus estudos sobre as fases do desenvolvimento de Jean Piaget, indicamos a leitura do livro escrito pelo autor, intitulado Seis estudos de psicologia. Boa leitura e estudo! FIGURA – CAPA DO LIVRO SEIS ESTUDOS DA PSICOLOGIA FONTE: <https://bit.ly/2PrJVDf>. Acesso em: 17 jun. 2020. DICAS TÓPICO 3 – JOGOS, BRINQ. E BRINC.: AS FASES DO DESENV. INFANTIL, A IMPORT. DO BRINCAR, DO FAZ DE CONTA E DA BRINC. LIVRE 37 4 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO PARA HENRI WALLON Henri Paul Hyacinthe Wallon foi psicólogo, médico, filósofo e político francês. Diferente de Piaget, Wallon não especificou idades para cada estágio de sua teoria. Wallon acreditavano desenvolvimento dialético e interativo. A cada fase do desenvolvimento, para o autor, ocorrem saltos qualitativos no desenvol- vimento, resultando em evoluções mentais e de comportamentos. Cada fase corresponderá a um tipo de comportamento assumido pela criança e será uma preparação para o estágio seguinte, sendo também interligado ao estágio anterior. Tal postura justifica-se, por exemplo, no fato de que os estágios e idades correspondentes a cada fase foram identicados por Wallon, considerando crianças de seu tempo e de sua cultura (PEREIRA, 2016, p. 147-148). O autor elaborou uma teoria do desenvolvimento humano e deixou claro sua preocupação com a educação. Wallon escreveu sobre algumas ideias pedagó- gicas que hoje estão mais presentes na pedagogia que no âmbito escolar. A teoria de Wallon considera o desenvolvimento da pessoa completa in- tegrada ao meio em que está imersa, com os seus aspectos afetivo, cogniti- vo e motor também integrados. Assim, a ênfase é para a integração – entre organismo e meio e entre as dimensões: cognitiva, afetiva, e motora na constituição da pessoa. A pessoa é vista como o conjunto funcional resul- tante da integração de suas dimensões, cujo desenvolvimento se dá na integração de seu aparato orgânico com o meio, predominantemente o social (DOURADO; PRANDINI, 2012, p. 23). Inicialmente, seus estudos foram com crianças portadoras de necessida- des especiais. Mais tarde, Wallon definiu o desenvolvimento em cinco estágios, os quais veremos nos subitens seguintes. Wallon não definiu idades para fases de sua teoria, mas de acordo com a literatura podemos pensar os estágios a partir de idades aproximadas para cada estágio, conforme a figura a seguir. 38 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FIGURA 5 – ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO NA VISÃO DE WALLON FONTE: <https://player.slideplayer.com.br/71/12163604/slides/slide_14.jpg>. Acesso em: 17 jun. 2020. 4.1 ESTÁGIO IMPULSIVO-EMOCIONAL O desenvolvimento, para Wallon, tem início logo após ao nascimento. Nesse período, percebe-se os movimentos que são chamados de descargas motoras, que são os movimentos e reflexos impulsivos do bebê. “Nesta fase distingue-se apenas esta- dos de bem-estar ou desconforto. São as reações do ambiente humano, representado pela mãe, motivados pela interpretação da mímica do bebê que permitem distinguir as emoções básicas” (DOURADO; PRANDINI, 2012, p. 24). Wallon atenta para o de- senvolvimento motor esta fase. A dimensão motora que o bebê utiliza nesta mímica é de suma importância para o desenvolvimento social e afetivo, ou seja, a condição motora é quem dá suporte inicial para as relações afetivas. DICAS Vale lembrarmos do início deste tópico. Comentamos que as quatro esferas do desenvolvimento ocorrem sempre juntas durante o desenvolvimento das crianças. Este é um fator lembrado por Wallon que não pode ser esquecido. Lembre de anotar! TÓPICO 3 – JOGOS, BRINQ. E BRINC.: AS FASES DO DESENV. INFANTIL, A IMPORT. DO BRINCAR, DO FAZ DE CONTA E DA BRINC. LIVRE 39 Neste estágio, podemos perceber que Wallon destaca dois termos: impul- sivo e emocional. Para o autor, este estágio tem a predominância afetiva, pois a criança está imersa em um mundo da qual ela não se distingue. É pela emoção que a criança interage com o meio na qual está. Isso leva a criança a ter suas primeiras reações com as pessoas, que, por sua vez, intermediam a relação da criança com o mundo. FIGURA 6 – UM ADULTO E UM BEBÊ BRINCANDO, ESTABELECENDO RELAÇÕES COM O MUNDO FONTE: <https://bit.ly/31B3OOa>. Acesso em: 17 jun. 2020. 4.2 ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR E PROJETIVO No segundo estágio definido por Wallon, predomina o desenvolvimento motor e sensorial da criança. A criança tem curiosidade por explorar o mundo físico, começa a caminhar e a manipular os objetos de forma mais firme. O fator que marca esse estágio é a aquisição da linguagem. Nessa fase, diferente da ante- rior, as relações cognitivas passam a se dar com o meio diretamente. No estágio projetivo, o movimento deixa de estar relacionado especifica- mente à manipulação de objetos pela criança, passando a estar presente também na imitação e na apropriação da própria linguagem. Nessa fase, os pensamentos da criança, para Wallon, refletem em ações motoras. A criança aprende a conhecer os outros como pessoas em oposição à sua própria existência. É o tempo dos jogos espontâneos de alternân- cia, do interesse por atos que unem duas pessoas ou, principalmente, papéis diferentes, como por exemplo, o jogo de dar e receber tapinhas, de esconder e ser escondido pela almofada etc. Esses jogos alargam o horizonte e a vivência da criança, pois fazem com que ela conceba rela- ções mais ricas. Nesse período, a criança ainda está estreitamente de- pendente do outro, pois seu processo de individuação está apenas se iniciando. Ela ainda vive sua relação com o outro de maneira bastante sincrética, sem se diferenciar claramente dele (DOURADO; PRANDI- NI, 2012, p. 27). 40 UNIDADE 1 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FIGURA 7 – CRIANÇAS BRINCANDO NA FASE PROJETIVA FONTE: <https://portaleducacao.vteximg.com.br/arquivos/ids/158082-1000-1000/curso-online- -brincadeiras-e-jogos-infantis.jpg>. Acesso em: 17 jun. 2020. 4.3 ESTÁGIO DO PERSONALISMO No estágio do personalismo de Wallon, destaca-se a formação de pontos próprios da criança. Exemplificado pelo próprio título do estágio, destaca-se a formação da personalidade. A construção da consciência de si por meio do âm- bito social, faz com que a criança retome com grande intensidade as relações afe- tivas com os outros. Nessa fase, de acordo com Dourado e Prandini (2012, p. 27): que a criança realmente se diferencia do outro, que toma consciência de sua autonomia em relação aos demais. Ela percebe as relações e os papéis diferentes dentro do universo familiar, ao mesmo tempo que se percebe como um elemento fixo, como ser o filho mais velho ou o mais novo, ser filho e irmão, assim por diante. O personalismo é dividido em três subfases: 1. Crise de Oposição: nesta fase há a predominância do egocentrismo, no caso do “eu” para a formação individual. A criança busca se afirmar como indivíduo no mundo, tomando consciência de si e utilizando termos como eu e meu. 2. Idade da Graça: a criança busca satisfação pessoal e aceitação pelo outro. Ela agrada a si, quando agrada aos outros. 3. Imitação: fase onde a criança busca imitar o outro. Entendido como o período da representação, pois a partir do pensamento da criança ela expressa simboli- camente os objetos interiorizados. TÓPICO 3 – JOGOS, BRINQ. E BRINC.: AS FASES DO DESENV. INFANTIL, A IMPORT. DO BRINCAR, DO FAZ DE CONTA E DA BRINC. LIVRE 41 FIGURA 8 – CRIANÇA IMITANDO O ADULTO, CARACTERÍSTICA DO ESTÁGIO DO PERSONALISMO FONTE: <https://bit.ly/2PIJBjC>. Acesso em: 17 jun. 2020. 4.4 ESTÁGIO CATEGORIAL Nesta fase, em decorrência da função simbólica e da personalidade forma- das nos estágios anteriores, aperfeiçoa-se a inteligência. 0 O desenvolvimento cognitivo da criança está aguçado e a sua sociabi- lidade ampliada. A criança se vê capaz de participar de vários grupos com graus e classificações diferentes segundo as atividades de que par- ticipa. Esta etapa é importante para o desenvolvimento das aptidões intelectuais e sociais da criança. Vivenciar a necessidade de se perceber como indivíduo, e, ao mesmo tempo, de medir sua força em relação ao grupo social a que pertence, faz desta fase um período crítico do proces- so de socialização (DOURADO; PRANDINI, 2012, p. 27-28). Os avanços intelectuais que acontecem nesta fase permitem a criança a compreensão e aquisição do mundo exterior. A criança se reconhece como indiví- duo capaz de estabelecer relações com objetos e situações diversas, aumentando a concentração em atividades, permitindo, assim, que as atividades se tornem cada vez mais intencionadas. A inteligência e as emoções são os termos que podemos destacar nesta fase. De acordo com Wallon,
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