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Hurian Machado – Odontologia UNIG 1 PERIODONTIA II Aula 1 INSTRUMENTAIS EM PERIODONTIA Os instrumentos periodontais são desenhados para propósitos específicos, como remoção de cálculo, alisamento das superfícies radiculares, curetagem da gengiva e remoção do tecido doente. OBJETIVO - Diagnóstico da doença periodontal; - Remoção do biofilme e cálculo dental; - Alisamento da superfície radicular. FINALIDADE - Exame clínico; - Raspagem; - Cirurgia periodontal. TIPOS DE INSTRUMENTAIS a) Instrumentais manuais - Garantem boa sensação tátil; - Procedimento mais demorado; - Requer correta e frequente afiação; - Supra e sub gengival; - Alisamento radicular. • Características: - Delicado; - Leve; - Resistente; - Rígido; - Facilidade de afiação. • Partes constituintes: 1.Cabo: liso ou estriado; empunhadura; identificação; 2. Lâmina: em contato com o dente; simples ou dupla; 3.Haste: liga o cabo a extremidade ativa; angulada; mais fina. • SONDAS PERIODONTAIS São usadas para localizar, mensurar e indicar bolsas, assim como determinar seus cursos em superfícies dentárias individuais. É um instrumental indispensável para o exame periodontal e diagnóstico. • Características: - Extremidade ativa calibrada em mm; - Ponta arredondada; - Pressão controlada. ➳ Sonda UNC – Carolina do Norte 1 a 15mm Hurian Machado – Odontologia UNIG 2 ➳ Sonda de Williams – 1,2,3, 5,7,8,9,10mm • Indicações: - Presença ou ausência de bolsas periodontais; - Perda de inserção conjuntiva; - Presença de cálculos subgengvais. • Erros de sondagem: - Calibre da sonda: sondas mais calibrosas dificultam a penetração na bolsa periodontal; - Força de sondagem: 0,25N; - Grau de inflamação: tecidos edemaciados apresentam uma profundidade de sondagem maior (pseudobolsas). ➳ Sonda de Nabers - Extremidade ativa curta; - Ponta arredondada; - Maior calibre que sonda exploradora; - Indicada para dentes com bi ou trifurcação. • CURETAS São instrumentos delicados utilizados para raspagem supra e subgengival, alisamento radicular e remoção do revestimento de tecido mole da bolsa. a) Universais - Indicadas para qualquer superfície dentária; - Possui ambos bordos cortantes. - Ex: MacCall Dentes anteriores: 13-14 Dentes posteriores: 17-18 b) Específicas - Características especiais que permitem acesso máximo a uma área em particular; - Possui somente um ângulo de corte; - Ex: Gracey. ➳ Gracey nº 1-2/3-4: dentes anteriores; ➳ Gracey nº 5-6: todas as faces de dentes anteriores (pré a pré); ➳ Gracey nº 7-8/9-10: faces livres de posteriores; ➳ Gracey nº 11-12: mesial de posteriores; ➳ Gracey nº 13-14: distal de posteriores. Furca de grau I Furca de grau II Furca de grau III Hurian Machado – Odontologia UNIG 3 • FOICES 0-00/0-01 São instrumentos brutos que têm a função de remover cálculo supragengival. Características: - Ângulo de corte reto (90º); - Corte transversal triangular; - Ponta ativa pontiaguda; - Movimento de tração. - Indicada para interproximais de anteriores e supragengival. • LIMAS PERIODONTAIS São usadas para remover cálculo subgengival retentivo e o cemento alterado, alisamento radicular e são indicadas para locais de difícil acesso para curetas. Utilizadas também para remoção de grandes massas de cálculo subgengival. Características: - Faces livre e proximais; - Dentes anteriores e Posteriores; - Possui uma série de lâminas sobre uma base; - Penetram até o fundo da bolsa. ➳ Dunlop: - Dentes anteriores: 4-5/1-2: V e L; 3-7: M e D; - Dentes posteriores: 3-7: V e L; 1-2: M e D. ➳ Hirschefeld: - Dentes anteriores: 9-10/5-11: V e L; 3-7: M e D; - Dentes posteriores: 3-7: V e L; 5-11: M e D. b) Instrumentais ultrassônicos - Convergem corrente elétrica em energia mecânica na forma de vibrações; - Remove biofilme e cálculo por meio da ação mecânica. • Vantagens - Movimentos rápidos - Menor fadiga para o profissional; - Extremidade ativa longa. • Desvantagens - Não fornece sensibilidade tátil ao profissional; - Complemento manual após o uso. • Contraindicação - Pacientes portadores de marca-passo; - Pacientes com doenças infectocontagiosas. EMPUNHADURA - Caneta modificada; - Polegar e indicador seguram o cabo; - Anelar apoiado na haste. ERGONOMIA - Sentar-se com as coxas paralelas ao chão; - Costas apoiadas no mocho; - Pés apoiados no chão; - Cadeira na altura do cotovelo dobrado, cotovelo apoiado ao corpo; - Altura do mocho: formando um ângulo de 95º nos joelhos; - A cabeça do manequim/paciente se AFIAÇÃO - Restaurar o bordo cortante sem alterar a sua forma original; - Melhora sensibilidade tátil; - Maior precisão e eficiência. Hurian Machado – Odontologia UNIG 4 movimenta, portanto faça a adaptação para melhor desempenho do seu trabalho. • Arcada superior - Cadeira totalmente deitada, em 180º; - Cabeçote para baixo e refletor para frente. • Arcada inferior - Cadeira inclinada em 120º (o paciente levemente sentado); - Cabeçote para cima e refletor em cima da boca do paciente (distante). Aula 2 EXAME CLÍNICO E RADIOGRÁFICO NA PERIODONTIA OBJETIVO PRINCIPAL Colher informações e dados de forma organizada e sequenciada, estabelecendo um diagnóstico preciso da patologia ou lesão, objeto de nossa investigação. - Anamnese; - Exame clínico (extra e intra-oral); - Exame radiográfico; - Interpretação de exames complementares. AVALIAÇÃO DA SAÚDE GERAL Para identificar paciente que estão tomando drogas ou medicamentos, que poderiam interagir de maneira adversa com outras drogas a serem prescritas, complicando o tratamento dentário, ou que poderiam servir como indício para doenças subjacentes que o paciente não mencionou. ANAMNESE • Perguntas básicas: - No que eu poderia ajuda-lo? - Faz uso rotineiro de algum tipo de medicamento? - Quais os medicamentos utilizados? - Tem o hábito de submeter-se a exames médicos periódicos? - É alérgico a algum tipo de medicamento ou substância? - É fumante? - Já realizou algum tipo de tratamento periodontal especializado? Há quanto tempo? Hurian Machado – Odontologia UNIG 5 EXAME CLÍNICO EXTRA-ORAL ➳ Deve-se observar: - Periferia de lábio e bochecha; - Espessura de lábio; - Tipo de sorriso. EXAME CLÍNICO INTRA-ORAL ➳ Deve-se observar: - Estado geral das mucosas; - Língua; - Condição gengival; - Condição periodontal; - Condição dental. • Condições gengivais - Cor; - Forma; - Volume; - Aspecto superficial; - Presença de exsudatos; - Tipo de sangramento; - Inserção de freios e bridas. • Condição periodontal - Sondagem (verificação da profundidade do sulco); - Mensuração do nível de inserção; - Avaliação da mobilidade; - Verificar integridade da região de furca (lesões de furca). • Sondagem Meio de investigação clínica cujo objetivo principal é verificar a profundidade do sulco gengival, determinando se sua medida está dentro de padrões normais ou patológicos. Utilizamos a sonda periodontal, levando em consideração a distância existente entre a margem gengival e o fundo do sulco. São utilizados seis pontos de mensuração. São eles: - Vestibular, mesio-vestibular e disto vestibular; - Palatino/lingual, mesio-palatino/lingual e disto-palatino/lingual. Bolsa periodontal: pode ser definida como migração da margem gengival no sentido apical sobre a superfície radicular, posicionando-se além da junção amelo-cementária. • Verificação da mobilidade A perda de estrutura de suporte, decorrenteda evolução da doença periodontal, pode gerar um aumento da mobilidade dental, que, se estiver presente, deverá ser verificada e classificada clinicamente. Verificamos a mobilidade da seguinte maneira: pressionamos os dentes, de vestibular para lingual, com o cabo de dois instrumentos colocados sobre a superfície vestibular e lingual. a) Grau I: movimento que mal se percebe. b) Grau II: movimento de até um milímetro horizontalmente (V-L); c) Grau III: movimento de mais de um milímetro horizontalmente (V-L) e intrusivo. Hurian Machado – Odontologia UNIG 6 • Lesão de furca Para detecção clínica iremos utilizar a sonda de Nabers, introduzida de vestibular para lingual (molares inferiores) e mesial/distal, distal/mesial e vestibular/palatina em molares superiores. As lesões podem ser classificadas quanto ao: a) Componente Horizontal de Perda Óssea - Classe I: perda horizontal de suporte periodontal não excedendo um terço da largura do dente (menos de 3mm). - Classe II: perda horizontal de suporte periodontal excedendo um terço de largura do dente (3mm ou mais), mas não atingindo a largura total da área de furca. - Classe III: destruição total de tecido periodontal na área de furca com a sonda passando de lado a lado. b) Componente Vertical de Perda Óssea - Subclasse A; - Subclasse B; - Subclasse C. CONDIÇÃO DENTAL Durante o exame clínico devemos observar algumas condições relativas a dentes, como: - Dentes ausentes; - Dentes com indicação para exodontia; - Presença de cárie ou restaurações mal adaptadas; - Facetas de desgaste; - Migração dental. EXAME RADIOGRÁFICO A importância do exame radiográfico em periodontia é indiscutível. Sua condição de exame auxiliar, entretanto, torna imperativa a correlação da imagem radiográfica com o exame clínico. Fornece informação da altura e da configuração do osso alveolar interproximal. • Limitações do exame radiográfico - Não distingue especificamente caso não tratado daquele com sucesso; - Não mostra bolsa periodontal; - Não revela a morfologia da destruição óssea; - Não mostra as estruturas que se localizam a vestibular e lingual. • Exames solicitados - Radiodôntica (14 periapicais e 4 bitewings); - Panorâmicas; - Tomografias computadorizadas. Furca de grau I Furca de grau II Furca de grau III Hurian Machado – Odontologia UNIG 7 Aula 3 Terapia Mucogengival – Cirurgia Plástica Periodontal São procedimentos cirúrgicos realizados para prevenir ou corrigir defeitos de gengiva, mucosa alveolar ou osso causados por fatores anatômicos, de desenvolvimento, traumáticos ou induzidos por doença. Procedimentos incluídos • Recobrimento radicular; • Aumento de rebordo edêntulo; • Remoção de freio proeminente; • Aumento gengival; • Aumento de coroa clínica; • Correção de defeitos da mucosa nos implantes. Retração gengival É o deslocamento da margem gengival apical para junção cemento-esmalte, com exposição da superfície radicular. Obs: O canino está mais susceptível a retração pois sua tábua óssea vestibular é menor. Tipos de retração da margem gengival a) ASSOCIADOS À FATORES MECÂNICOS Trauma produzido pela escovação ou trauma produzido por contato prematuro. b) ASSOCIADOS A LESÕES INFLAMATÓRIAS INDUZIDAS POR PLACA Podem ser encontradas onde o osso alveolar é fino ou ausente. c) ASSOCIADAS A DOENÇAS PERIODONTAIS DESTRUTIVAS Associados com formas generalizadas de doença periodontal destrutiva. • Fatores predisponentes: - Mal posicionamento dentário; - Freio labial; - Cálculo. Obs: A direção de erupção está diretamente relacionada à quantidade de gengiva ao redor do dente – linha mucogengival. • Consequências: - Sensibilidade; - Irritação dos tecidos marginais (inabilidade no controle de placa); - Prejuízo à estética; - Predisposição à cárie. • Fatores que propiciam o bom resultado do tratamento: - Idade; - História da retração tecidual marginal; - Estado inflamatório local; - Terapêutica dentária associada. • Objetivos do tratamento: - Estabilização da margem gengival; - Prevenir futuras retrações; - Correção de posição inadequada de freios; - Ganho de gengiva inserida para prótese; - Finalidade estética (pônticos). • Critérios de sucesso na cobertura das retrações: - Profundidade do sulco; - Sem sangramento à sondagem; - Sem sensibilidade; - Coloração dos tecidos aceitável. Hurian Machado – Odontologia UNIG 8 Classificação de Miller (1985) A classificação de Miller Leva em consideração o recobrimento radicular possível de se obter (previsibilidade). • Classe I - Não atinge a JMG; - Não haverá perda óssea, e nem de tecido mole interdental; - Espera-se 100% de recobrimento. • Classe II - Atinge a JMG; - Não há perda óssea, e nem de tecido mole interdental; - Espera-se 100% de recobrimento. • Classe III - Atinge a JMG; - A perda óssea ou de tecido interdentais é discreta (apical em relação à JCE, porém coronária à extensão da retração); - Espera-se cobertura parcial. • Classe IV - Atinge a JMG; - Há perda inter-dental severa (estende-se apicalmente em relação à retração); - Baixa previsibilidade. Nova Classificação das recessões gengivais (2018) • Recessão Tipo 1 (RT1) Sem perda de inserção interproximal. Junção cemento-esmalte (JCE) interproximal não detectável clinicamente na mesial ou na distal. • Recessão Tipo 2 (RT2) Perda de inserção interproximal, com distância da JCE ao fundo de sulco/bolsa menor ou igual à perda de inserção vestibular (medida da JCE ao fundo de sulco/bolsa na face vestibular). • Recessão Tipo 3 (RT3) Perda de inserção interproximal, com distância da JCE ao fundo de sulco/bolsa maior que a perda de inserção vestibular (medida da JCE ao fundo de sulco/bolsa na face vestibular). Posição dentária - A posição na qual o dente irá erupcionar na arcada dentária está diretamente relacionada à quantidade de gengiva em torno do dente. - Trajeto próximo ao LMG haverá pouca ou nenhuma gengiva queratinizada, favorecendo a retração. Hurian Machado – Odontologia UNIG 9 Figura 1. Pontos indicando a localização do zênite gengival em cada elemento dentário. Figura 2. Osteotomia. Gengivoplastia/Gengivectomia É a parte essencial da transformação de impacto do sorriso. • Indicações mais comuns - Pequenas correções de forma; - Nivelamento gengival; - Alinhamento das gengivas com lábios; - Correção do sorriso gengival; - Eliminação de gengivas hiperplásicas. • Roteiro clínico da gengivoplastia 1. Profilaxia e tratamento gengival; 2. Exames radiográficos e clínicos, levantamento fotográfico e moldagens para simulações e planejamento; 3. Aprovação do planejamento; 4. Cirurgia para gengivoplastia; 5. Remoção da sutura. Obs: deve-se fazer uma sondagem para marcar os “pontos sangrentos”, e dessa forma, remover os excessos de gengiva. É onde será feita a incisão. Obs: zênite é o ponto mais alto da gengiva, e deve ser respeitado para que haja harmonia no sorriso. - Nos incisivos centrais: distalizados; - Nos incisivos laterais: centralizado (1mm abaixo dos incisivos centrais e caninos); - Caninos: distalizados. • Osteotomia - Da JCE até a crista óssea deve haver 3mm; - Se tiver menos que 3mm, pode levar ao insucesso e recidiva da gengiva; - Se tiver mais que 3mm, pode levar a retração gengival, pois no momento da osteotomia tirará mais osso do que deveria, e a gengiva depende do osso. Cunha distal Em muitos casos, o tratamento de bolsas periodontais presentes na face distal dos molares é dificultado pela presença de tecido hiperplásico sobre atuberosidade ou por um espaço retromolar proeminente. São realizadas incisões pela face vestibular e lingual na região retromolar e/ou de tuberosidade, formando um triângulo atrás do molar. As paredes vestibular e lingual do retalho são rebatidas, dissecadas e separadas do osso. As pontas soltas do tecido mole são removidas, e as superfícies radiculares são raspadas e alisadas. Hurian Machado – Odontologia UNIG 10 Os retalhos vestibular e lingual são reduzidos em espessura por meio de incisões (linhas pontilhadas) para evitar a sobreposição das margens da ferida. - Os retalhos encurtados no passo anterior são suturados. Área doadora de tecido conjuntivo: - Distal do canino ou mesial do 1ºPMS até a distal do 2º MS ou mesial do 3º MS. Aula 4 Cirurgia Periodontal: Acesso Clínico (Retalhos) - Tem como objetivo obter acesso as superfícies periodontais acometidas pela doença; - Surgiram as cirurgias gengivais no século XIX; - Se baseava em cortar e remover a gengiva inflamada. A cicatrização não ocorria de forma correta, o que levava ao agravamento do quadro. Objetivos - Obter acesso cirúrgico a bolsas periodontais profundas; - Facilitar a remoção dos depósitos subgengivais de placa; - Facilitar controle de placa; - Preparo para restauração/prótese; - Terapia regenerativa. Obs: a terapia cirúrgica só é realizada após a resposta satisfatória da terapia relacionada à causa. Indicações - Dificuldade de acesso para raspagem; - Dificuldade de acesso para higiene; - Correção de hiperplasia; - Facilitar a terapia restauradora; - Alterar margem gengival em relação a restaurações. Vantagens - Reduz infiltrado inflamatório na gengiva; - Permite acesso ao osso; - Preserva tecido mole; - Permite manipulação tecidual; - Melhora condição para avaliar prognóstico; - Melhor pós-operatório. Hurian Machado – Odontologia UNIG 11 Tipos de retalho a) RETALHO DE ESPESSURA TOTAL OU MUCOPERIOSTEAL - Deslocamento de todo tecido mole incluindo o periósteo; - Expõe osso. • Indicações - Todo procedimento que exigir acesso tanto a superfície radicular quanto a tecido ósseo; - Técnicas de eliminação; - Aumento de coroa clínica (ACC); - Terapias regenerativas. b) RETALHO DE ESPESSURA PARCIAL OU DIVIDIDO - Deslocamento do epitélio e uma camada de tecido conjuntivo; - O osso fica coberto de periósteo; - Parte do tecido é deslocado. • Indicações - Cirurgias plásticas; - Mucogengivais; - Pacientes com tábua óssea fina. Retalho periodontal quanto à localização a) RETALHOS REPOSICIONADOS (NÃO- DESLOCADOS) - Reposicionado na sua posição original. b) RETALHOS DESLOCADOS • Apicalmente (ex: aumento de coroa clínica); • Coronariamente (ex: recobrimento de retração); • Lateralmente (ex: defeito ósseo, retração). Hurian Machado – Odontologia UNIG 12 Tipos de incisões Os diversos tipos de incisões se diferem em relação ao posicionamento e a angulação da lâmina de bisturi. a) BISEL INTERNO - Remove tecido/colarinho gengival; - Incisão à uma distância da margem até a crista óssea; - Lâmina de bisturi à superfície dental a 45º graus; - Sentido coronário para apical. Figura 3. Remoção de colarinho gengival. • Indicações - Áreas com boa quantidade de gengiva inserida. - Remoção de colarinho gengival. • Contra-indicações - Gengivas de fenótipo fino com pouca quantidade de gengiva inserida; - Áreas com tecido inflamado. b) INTRASULCULAR - Lâminas posicionadas dentro do sulco gengival; - Lâmina paralela à face do dente; - Preserva mucosa queratinizada. • Indicações - Área com comprometimento estético; - Áreas com pouca gengiva inserida. • Contra-indicações - Tecido hiperplasiado; - Tecido inflamado. c) VERTICAIS OU RELAXANTES - Facilita acesso a áreas de interesse; - Viabiliza deslocamento mais amplo; - Deve ser feita respeitando um ângulo de 30 a 45º para evitar cicatrizes; - Deve ser feita perpendicular à margem gengival; - Evita dilaceração do retalho; - Não é feita na região lingual/palatina. Figura 4. Deslocamento apical do retalho. • Contra-indicações Hurian Machado – Odontologia UNIG 13 - Lingual – risco de tracionamento. -Não é uma incisão indicada para dentes anteriores. Obs: - As incisões devem se estender até a linha mucogengival. - Não devem ser efetuados no centro da papila interdental ou sobre a superfície radicular de um dente; - As incisões devem ser evitadas em retalhos curtos, pois diminui o suprimento sanguíneo. Retalho original de Widman (1918) - Visa eliminar a bolsa periodontal; - Acesso a superfície radicular; - Remover epitélio da bolsa e tecido conjuntivo inflamado; - Facilitar higienização das superfícies radiculares; - Eliminar defeitos ósseos. • Contra-indicações Áreas onde exposição radicular apresentaria uma aparência desagradável. • Técnica 1. Inicialmente se faz incisões relaxantes verticais; 2. Com uma incisão intrasulcular unir as relaxantes; 3. Rebatimento do retalho, remover com curetas o tecido gengival inflamado; 4. Contorno do osso alveolar; 5. Suturas interdentais. • Vantagens - Cicatrização em primeira intenção; - Restabelecimento do contorno do osso alveolar; Retalho de Neumann (1920) - Retalho para acesso radicular; • Técnica 1. Incisão intrasulcular; 2. Incisões relaxantes; 3. Curetar para remover epitélio da bolsa e tecido de granulação; 4. Contorno ósseo; 5. Reposicionar o retalho à nível da crista óssea; 6. Sutura. A técnica de Widmann é diferente na técnica de Neumann pois na primeira (Widmann) deve-se começar pela incisão relaxante, e na segunda (Neumann) pela intrasulcular. Hurian Machado – Odontologia UNIG 14 Retalho de Kirkland (1931) • Técnica 1. Incisões intrasulculares até o fundo da bolsa; 2. Afastamento gengival (V e L); 3. Debridamento e curetagem; 4. Posicionamento do retalho na posição original; 5. Sutura simples. • Vantagens - Menor sacrifício em áreas inflamadas; - Sem deslocamento apical – estética; - Não há perda de tecido saudável; - Maior potencial de regeneração. Retalho reposicionado apicalmente (1964) • Técnica 1. Incisão relaxante, em bisel interno; 2. Incisão sulcular; 3. Incisão relaxante; 4. Rebatimento de retalho; 5. Remover com curetas o colarinho gengival; 6. Raspagem. das raízes expostas; 7. Recontorno das cristas ósseas; 8. Reposicionamento do retalho à altura da crista óssea. 9. Sutura. Obs: Importância da preservação da faixa de gengiva inserida. • Indicações - Aumento da coroa clínica; - Aumento gengival; - Exposição cirúrgica de dentes retidos; - Cirurgia plástica perimplantar. Retalho reposicionado apicalmente modificado (retalho em bisel) São realizadas incisões relaxantes e intrasulculares na mesial e distal das bolsas. • Técnica 1. Incisão em bisel interno; 2. Descolamento e afastamento do retalho; 3. Raspagem radicular e contorno ósseo; 4. Reposicionamento do retalho; 5. Sutura interproximal. 6. É diferente das duas técnicas anteriores devido a ausência de incisão relaxante. Hurian Machado – Odontologia UNIG 15 Retalho de Widman modificado (1974) • Técnica 1. Incisão inicial: bisel interno 1mm da margem gengival, paralela ao longo eixo do dente; 2. Afastamento do retalho; 3. Segunda incisão: intrasulcular até a crista óssea; 4. Separar o colarinho tecidual com uma terceira incisão perpendicular a raiz; 5. Debridamentoradicular; 6. Ajustar os retalhos ao osso alveolar; 7. Sutura interproximal. Conclusão - Esses procedimentos tem como finalidade o acesso a superfície radicular e/ou tecido ósseo; - A diferença básica entre os tipos de retalho são: tipo de incisão, deslocamento e posicionamento. Aula 5 Importância da preservação e restabelecimento do espaço biológico com finalidade restauradora O aumento de coroa clínica vai além para com a estética. Possui grande importância para a recuperação das distâncias biológicas (espaço biológico) com finalidade restauradora. Quando ocorre a invasão do espaço biológico, o organismo promove a reabsorção do tecido ósseo de sustentação para compensar o espaço perdido. Com isso, para que se obtenha êxito no tratamento restaurador, sem que ocorram prejuízos ao tecido de sustentação, a cirurgia para o aumento de coroa é indicada. Comumente são encontradas margens cavitárias subgengivais invadindo o espaço biológico, sendo necessária a intervenção cirúrgica para devolvermos as condições de normalidade aos tecidos de sustentação. Procedimentos de aumento de coroa clínica são executados a fim de permitir um preparo adequado, seja para o dente receber um tratamento restaurador direto, seja para a moldagem e restauração de forma indireta. Também são indicados para ajustar margens gengivais em casos de necessidade de melhoria estética. Para que um tratamento restaurador não cause danos aos tecidos periodontais, o término do preparo deve estar localizado entre 3 a 4 mm da crista óssea alveolar, preservando, dessa forma, a integridade do epitélio juncional e inserção conjuntiva. O que é espaço biológico? Diferentes autores classificam o espaço biológico de diferentes maneiras. O espaço biológico é constituído pelo epitélio do sulco, epitélio juncional e inserção conjuntiva, e compreende a dimensão entre a crista óssea Hurian Machado – Odontologia UNIG 16 Figura 5. Diferentes representações do espaço biológico. Figura 6. Possíveis causas de invasão do espaço biológico. alveolar e a margem gengival livre. O espaço biológico tem por função proteger os tecidos de sustentação do elemento dentário da agressão bacteriana e suas toxinas, pois existe uma luta do organismo em manter sua integridade física. Por isso, quando ocorre a invasão do espaço biológico, ocorre uma migração e reorganização mais apical dessas estruturas. A invasão do espaço biológico pode resultar em inflamação crônica conduzindo à periodontite, podendo consequentemente evoluir para a perda do elemento dental. Dessa forma, ocorre reabsorção do tecido ósseo alveolar como tentativa em restabelecer o espaço correspondente à inserção conjuntiva. Como restabelecer o espaço biológico aumentando a coroa clínica? É necessário verificar se houve invasão do espaço biológico, através de: • Interpretação radiográfica: consegue-se medir e observar o término do dente e a crista óssea; • Sondagem: insere-se a sonda milimetrada e apoia-se na crista óssea para verificar onde está o término; • Técnica visual: realizada a partir do exame visual. Se há invasão desse espaço, pode ocorrer danos aos tecidos de sustentação. As causas para ocorrer a invasão do espaço biológico podem ser diversas, e a importância é sempre preservar as estruturas periodontais. Se tratando de preparos protéticos, vale lembrar os tipos de término: • Término em chanfrado - É indicado para coroas metalocerâmicas; - Possui boa adaptação marginal, tendo menor concentração de estresse nessa região; - Proporciona melhor escoamento do cimento; - É feito de um segmento de círculo (¼ de círculo), e utiliza-se ponta diamantada cilíndrica com diâmetro de 1,2mm para sua confecção. • Término em chanferete - É indicado para coroas totais metálicas; - Possui boa adaptação marginal, tendo menor concentração de estresse nessa região; - Proporciona melhor escoamento do cimento; - Deve ser utilizado somente em coroas metálicas; - É um segmento de círculo menor que o chanfrado, e utiliza-se ponta diamantada cilíndrica com diâmetro de 1,2mm para sua confecção. • Término em ombro arrendondado ou biselado - É indicado para coroas cerâmicas; - Permite espessura adequada da cerâmica na região cervical, garantindo resistência contra forças oclusais; Hurian Machado – Odontologia UNIG 17 Figura 9. Foto inicial. - Apresenta maior discrepância marginal em relação aos demais términos; - Pode apresentar maior dificuldade no escoamento do cimento; - Necessita de maior quantidade de desgastes nas faces axiais, incisal e oclusal; - É um ângulo interno arredondado entre a parede axial e gengival; - Utiliza-se ponta diamantada cilíndrica com diâmetro de 1mm com extremidade reta e ângulo arredondado. • Término em ombro ou degrau - É indicado para coroas metal free com 1,0 a 1,2mm de espessura; - A parede axial do preparo forma um ângulo de aproximadamente 90° com a parede cervical. Durante os procedimentos restauradores, pode-se optar por 3 tipos de términos para não promover alterações nos tecidos. Eles são classificados de acordo com o posicionamento do término do preparo em relação a margem gengival: • Supra-sulcular ou supra-gengival O limite cervical da restauração está localizado coronariamente ao nível gengival. • Gengival O limite cervical estará localizado ao nível da margem gengival. • Intrasulcular O limite cervical localizado dentro das dimensões do sulco histológico, sem invadir o espaço biológico, no máximo 0,5mm. Recuperação do espaço biológico Pode acontecer através de dois métodos: • Recuperação cirúrgica Os procedimentos cirúrgicos para aumento de coroa clínica compreendem a excisão de tecidos moles através de gengivectomias e gengivoplastias ou necessitando de remoção de tecido ósseo através de osteotomias e osteoplastias. Cada procedimento deve ser avaliado quanto à sua viabilidade e observando-se os princípios biológicos, realizando exames periodontais detalhados bem como avaliação dos fatores etiológicos e higiene bucal, presença de alterações mucogengivais, avaliação oclusal, além de um detalhado exame radiográfico, a fim de estabelecer um correto diagnóstico e indicação da necessidade da realização do procedimento. Aumento de coroa clínica com osteotomia Figura 7. Término supra-gengival. Figura 8. Término a nível gengival. Figura 9. Término intra-sulcular. Figura 10. Radiografia interproximal e periapical. Figura 11. Demarcação dos limites da incisão pela face vestibular. Figura 12. Demarcação dos limites da incisão pela face palatina. Hurian Machado – Odontologia UNIG 18 • Tracionamento ortodôntico: - É melhor em dentes anteriores; - A extrusão por meio de tracionamento ortodôntico se apresenta como uma opção de tratamento minimamente invasivo para restabelecimento do espaço biológico; - Essa mobilidade de intervenção não afeta a estética, nem interfere na cor ou ao apoio periodontal dos dentes vizinhos; - Se a violação for na face interproximal ou através da superfície vestibular, é indicado a extrusão ortodôntica; - Extrusão rápida: é tracionada toda estrutura que está ao redor; - Extrusão lenta: é tracionado apenas o dente com incisão. Conclusão Independente do tipo de restauração que será realizada para reabilitação, deve-se considerar que o espaço biológico precisa se manter íntegro ou restabelecido para garantir a longevidade das restaurações e saúde dos tecidos periodontais. Aula 6 Fatores modificadores da doença periodontal (diabetes e tabagismo) A doença periodontal pode ser modificada através de fatores ambientais, como fatores de higiene ou também através desuscetibilidade. Existem fatores externos que podem alterar o curso da doença periodontal. As doenças periodontais podem ser induzidas pelo biofilme, porém cada indivíduo responde de uma maneira diferente. A natureza da inflamação é mediada pela resposta imune, que é feita através de uma rede de citocinas e de mediadores inflamatórios, como as células beta, prostaglandinas, interleucinas, TFN (fator de necrose tumoral) e os RANK L. Isso faz com que os pacientes susceptíveis tenham uma progressão mais rápida da doença periodontal. Quando citocinas e mediadores começam a se manifestar como a 1ª linha de defesa do organismo, ocorre uma maior destruição de tecido conjuntivo e uma reabsorção óssea mais rápida. Como o tecido conjuntivo tem em sua maior parte o colágeno, quando há destruição de tecido conjuntivo, consequentemente há a diminuição da produção de colágeno. Isso faz com que o dente perca sua inserção no osso e torna-se um dente com um grau de mobilidade que demonstra uma doença periodontal agressiva, de rápido desenvolvimento. Os fatores modificadores são aqueles que alteram o curso da lesão inflamatória, podendo ter: • Efeitos sobre o hospedeiro, podendo haver: - Diferenciação na resposta fisiológica; - Diferenciação no sistema vascular; - Alteração da resposta inflamatória; - Alteração na reposta imune; - Diferenciação no reparo tecidual. Figura 13. Incisão intrasulcular. Figura 14. Remoção da gengiva pós incisão. Figura 15. Curetagem. Figura 16. Osteotomia. Figura 17. A crista óssea deve estar, no mínimo, a 3mm do término da cavidade. Figura 18. Sutura e restauração com cimento de ionômero de vidro. Hurian Machado – Odontologia UNIG 19 • Modificações na: - Suscetibilidade da doença; - Microbiota da placa; - Apresentação clínica da doença periodontal; - Progressão da doença; - Resposta ao tratamento. Os fatores modificadores são fatores sistêmicos, e não são a causa da doença periodontal, mas influenciam na sua progressão. Ex: Diabetes Mellitus e tabagismo. Diabetes Mellitus É uma doença metabólica caracterizada pela hiperglicemia (um aumento da glicose no sangue). • Dados - 1 a cada 2 adultos não possui o diagnóstico de diabetes; - No Brasil, 8,1% da população possui diagnóstico de diabetes e 6% das causas de morte são pela diabetes mellitus; - Há uma estimativa que em 2030, seja a 7ª causa de morte no mundo; - Loe H. em 1993 descreveu a doença periodontal como a 6ª complicação da diabetes mellitus. • Classificação da Diabetes Mellitus • Sintomas clínicos - Retinopatia; - Nefropatia; - Doença vascular; - Cicatrização deficiente; - Perda de peso; - Sintomas orais: disfunção salivar, disfagia e candidíase. Evidências consistentes de que a Diabetes Mellitus atua como fator modificador da doença periodontal é que indivíduos com Diabetes Mellitus desenvolvem uma resposta inflamatória maior e mais precoce. Por que um paciente diabético possui uma alteração no curso da doença periodontal? O paciente diabético possui uma hiperglicemia crônica, e essa hiperglicemia faz com que haja a produção de AGEs (produtos finais da glicação avançada). A produção de AGEs fica aumentada, afetando células endoteliais, fibroblastos e macrófagos. Os macrófagos ligam as células AGE-RAGE que estão nos receptores, se transformando em células hiperativas que irão alterar a produção do TNF e das interleucinas 1-beta que podem destruir o tecido conjuntivo, diminuindo o colágeno e a inserção. As células endoteliais irão aumentar a permeabilidade das moléculas de adesão fazendo com que o paciente esteja mais suscetível a uma inflamação e infecção. Quando os AGEs agem nos fibroblastos, há uma diminuição da produção de colágeno, tornando Hurian Machado – Odontologia UNIG 20 o paciente mais suscetível à infecção e diminuição da capacidade de cicatrização, deixando o portador de Diabetes Mellitus mais vulnerável de desenvolver periodontites. Os AGEs podem produzir respostas inflamatórias exacerbadas, devido à produção exagerada de citocinas, podendo causar: - Alterações vasculares; - Cicatrização alterada; - Maior predisposição à infecção. A ativação dos RAGE contribui para a patogênese da periodontite em pacientes diabéticos e uma diminuição da sua função. • Estudos e Revisões Revisão de Literatura – Avaliação da extensão e severidade da doença periodontal entre paciente portadores de Diabetes Mellitus (DM) e não-portadores da Diabates Mellitus (NDM). Consiste na avaliação da higiene oral do paciente, condição gengival e periodontal. Foram avaliados 18 estudos transversais e 3 estudos de coorte. 1. Higiene Oral - Avaliação do índice de placa em DM e NDM. 2. Condição gengival - Sangramento à sondagem em DM e NDM. 3. Condição periodontal - Profundidade de bolsa e perda de inserção clínica em DM e NDM. ➳ Índice de placa - A grande maioria teve maior acúmulo de placa em DM do que em NDM. ➳ Bolsa periodontal - Na grande maioria, a presença de bolsa foi encontrada. Todos do lado direito apresentaram profundidade de bolsa. A profundidade de sondagem foi significantemente maior em DM. ➳ Perda de inserção clínica A perda de inserção clínica foi significantemente maior nos pacientes DM. Conclui-se que os pacientes DM possuem pior condição de higiene oral devido ao maior acúmulo de placa, possui doença periodontal muito mais grave e a destruição do tecido é muito mais acelerada, pois a hiperglicemia causa diminuição do colágeno. Estudo – Avaliação dos efeitos do tratamento periodontal na glicemia do paciente. Será que o tratamento da doença periodontal em pacientes diabéticos diminui a hemoglobina glicada? Foi avaliado nesse estudo a terapia periodontal básica associada à antibióticos. Em primeira mão, todos apresentaram melhor índice glicêmico enquanto tratados periodontalmente. A associação do antibiótico na maioria dos grupos não foi tão importante Figura 10. Gráfico evidenciando a presença de bolsas em paciente DM e NDM. Hurian Machado – Odontologia UNIG 21 quanto a terapia periodontal básica (mecânica). Conclui-se que: - O tratamento periodontal reduz significantemente os níveis de HbA1c (hemoglobina glicada) em pacientes com diabetes; - Apenas um estudo dessa revisão relatou um efeito positivo do uso de antimicrobianos associados; - A terapia periodontal básica é fundamental em paciente com DM (Diabetes Mellitus), pois leva uma melhora do controle glicêmico. • Conclusão Conclui-se que a Diabetes Mellitus é um fator modificador da doença periodontal. O paciente diabético possui um aumento na prevalência, incidência e severidade da doença periodontal, assim como possui uma doença muito mais destrutiva e rápida. A taxa de progressão da periodontite aumenta em quase 3 vezes mais em pacientes não-controlados. O tratamento periodontal não- cirúrgico, melhora o controle glicêmico do paciente diabético, comprovando uma relação bidirecional entre a doença periodontal e a diabetes mellitus. Tabagismo No tabagismo, os sinais clínicos da doença periodontal são mascarados, ao contrário da diabetes que exacerba esses sinais. O tabagismo é considerado o maior fator modificador da doença periodontal. • Dados - O cigarro é responsável por 30% das mortes por câncer; - O tabaco mata até metade de seus usuários; - Existem 1,1 bilhão de fumantes no mundo. • O cigarro como fator modificador - Está associado ao aumento da incidência da doença periodontal e a fraca resposta ao tratamento; - Fumantes apresentam pior quadro periodontal; - Devido aos efeitos imunossupressores da nicotina, a doença periodontal é mascarada pela falta dos sinais clássicos da inflamação; - O tratamento periodontalem pacientes fumantes é considerado um desafio à periodontia. • Efeitos do cigarro no tecido periodontal Os fumantes são mais suscetíveis às doenças periodontais do que os não-fumantes, pois possuem uma menor resposta inflamatória e menos sangramento à sondagem. As recessões gengivais também são mais comuns nos pacientes tabagistas. Os tecidos periodontais são muito vascularizados, e isso facilita o diagnóstico da doença periodontal. Nos pacientes fumantes, há uma vasoconstrição induzida pela nicotina, ou seja, diminuição de vasos sanguíneos e menos sangramento, o que dificulta o diagnóstico, pois um dos principais parâmetros para verificar se há doença periodontal é o sangramento à sondagem. O próprio paciente pode ter dificuldade em perceber se há algo errado na cavidade oral. • Estudos e Revisões Um estudo avaliou 20 pessoas da mesma faixa etária (10 fumantes e 10 não-fumantes), que permaneceram 4 semanas sem realizar higiene oral. Levando em consideração a quantidade de placa, sangramento gengival e vermelhidão, obtiveram os resultados: Hurian Machado – Odontologia UNIG 22 ➳ Quantidade de placa - Não houve diferença significativa. ➳ Sangramento gengival - Um aumento gradual do número de sítios de sangramento foi observado em não-fumantes. ➳ Vermelhidão - Os sítios com vermelhidão foram menores em paciente não-fumantes. Conclui-se que a formação de placa foi semelhante nos dois grupos, os fumantes apresentaram menor reação inflamatória gengival. A reposta inflamatória pode ser suprimida sob a influência do tabagismo. Uma revisão sistêmica avaliou o efeito do cigarro no TPNC (tratamento periodontal não- cirúrgico), onde obteve os seguintes resultados: - Fumantes experimentam menor redução na profundidade de sondagem; - Há evidência de diferença no ganho de inserção clínica entre fumantes e não- fumantes, mesmo que pequena. • Potencial de cicatrização A nicotina e outros componentes do tabaco, influenciam a função dos fibroblastos gengivais in vitro, incluindo uma diminuição na produção de colágeno. A fixação de fibroblastos do ligamento periodontal é reduzida nas superfícies radiculares em fumantes. As células epiteliais atuam como barreira mecânica, podendo reduzir, mas não eliminar o efeito da nicotina nos fibroblastos gengivais. • Cessação do fumo - Diminui o risco de desenvolver periodontite; - Pode atrasar ou impedir a destruição periodontal; - Há menos casos de periodontites em ex- fumantes; - A perda óssea e profundidade de sondagem é menor em indivíduos que pararam de fumar; - A cessação do fumo pode resultar em melhorias na saúde bucal e nos parâmetros periodontais. Aula 7 Tomografia computadorizada em periodontia A doença periodontal é uma infecção bacteriana causada por micro-organismos gram negativos anaeróbicos, presentes no biofilme aderido aos dentes. A doença periodontal, de forma lenta, destrói progressivamente o osso alveolar e é em grande parte, irreversível. A periodontite é uma doença infecciosa causada pelo biofilme bacteriano na superfície do dente, e caracteriza-se pela inflamação gengival, formação de bolsa periodontal, perda de inserção e reabsorção óssea alveolar. A correta avaliação da condição óssea é fundamental para o diagnóstico, planejamento do tratamento e prognóstico da periodontite. As radiografias mais comumente utilizadas para o diagnóstico periodontal são as radiografias periapicais, interproximais e panorâmicas. No entanto, as radiografias apresentam limitações inerentes à bidimensionalidade destes exames, o que torna o seu uso limitado. Recentemente, a tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) é utilizada quando o exame radiográfico não fornece as informações necessárias para o tratamento periodontal. As técnicas radiográficas intra-orais (especialmente a técnica interproximal), permitem a observação da relação entre a altura (aproximada) da crista óssea alveolar com a junção amelo-cementária, Hurian Machado – Odontologia UNIG 23 uma das razões pelas quais os exames radiográficos são importantes ferramentas auxiliares no diagnóstico de periodontopatias. Figura 21. Radiografia panorâmica. A radiologia vem evoluindo continuamente desde a descoberta do raio-x, em 1895. No entanto, com a revolução tecnológica das últimas décadas, ela conquistou avanços até então inimagináveis. A tomografia Cone Beam é um exemplo disso, pois possibilitou a captura de imagens em 3D para especialidades que não podiam usufruir dessa tecnologia. Tomografia Cone Beam Também chamada de tomografia computadorizada de feixe cônico ou volumétrica, a tomografia Cone Beam é um método de captura radiográfica de imagem em três dimensões (3D). Para conseguir as imagens, o aparelho conta com um feixe de radiação e um receptor, que giram em 360° uma única vez na região de interesse. Durante o giro, inúmeros registros, com informações necessárias para a criação da imagem em 3D, são enviados ao computador. Lá, a imagem será formada por meio de software. A partir daí, o paciente já esta liberado. Os cortes axiais, coronais e sagitais podem ser tranquilamente feitos por meio da montagem criada virtualmente. A Cone Beam é uma tecnologia ainda recente na odontologia. Seus primeiros relatos na literatura apareceram apenas na década de 1990, quando pesquisadores italianos apresentaram os resultados preliminares de um novo aparelho de tomografia computadorizada volumétrica para imagens odontológicas. Ela foi uma solução para as especialidades que precisavam de uma tomografia computadorizada, mas a tecnologia da época (Feixe Fan Beam) não trazia especificidade para a odontologia. A Cone Beam surge em 1998 como fruto de pesquisas simultâneas no Japão e na Itália. O primeiro tomógrafo computadorizado para a técnica foi o Newton 9000. • Características do Tomógrafo Cone Beam Por ser voltado exclusivamente à arcada dentária e contar com uma tecnologia mais avançada, o tomógrafo de Cone Beam gera imagens muito mais detalhadas, incluindo: - Lâmina dura (osso compacto adjacente ao ligamento periodontal); - Cortical óssea compacta e medular; - Tecidos dentários; - Câmara pulpar; - Periodonto. Apesar das técnicas radiográficas orais mostrarem com riqueza de detalhes informações importantes ao clínico, deve-se lembrar que as radiografias periapicais e interproximais, por exemplo, fornecem a projeção de uma imagem bidimensional (altura e largura) de um corpo tridimensional, que Figura 19. Radiografia periapical. Figura 11. Radiografia interproximal. Figura 12. Diferença entre tomografia Fan Beam e Cone Beam. Hurian Machado – Odontologia UNIG 24 possui altura, largura e profundidade. Em outras palavras, as radiografias periapicais e interproximais permitem apenas a observação no sentido mesio-distal das estruturas dentais. As tábuas ósseas vestibular e lingual/palatina, não podem ser observadas por meio desse tipo de técnica. A tomografia computadorizada de Cone Beam permite a observação tridimensional de todas as estruturas que compõem o órgão dental e seu respectivo alvéolo, ou seja, as superfícies perirradicular e o tecido ósseo adjacente, e a junção amelo-cementária e sua relação com as corticais/tábuas ósseas vestibular e lingual/palatina em tamanho real. A tomografia computadorizada Cone Beam também pode ser útil para o estudo de regiões peri-implantares. Referências bibliográficas: • Material de apoio cedido pelos professores da disciplina. • Newman, Michael G. Carranza periodontia clínica. Elsevier Brasil, 2012. • LINDHE, J. A. N.; KARRING, Thorkild; LANG, Niklaus. Tratado de periodontia clínica e implantodologia oral, 1999. • BAUMERT AH, Michele K., et al. The effectof smoking on the response to periodontal therapy. Journal of clinical periodontology, 1994, 21.2: 91-97. • RISSATO, Marcos; TRENTIN, Micheline Sandini. Aumento de coroa clínica para restabelecimento das distâncias biológicas com finalidade restauradora–revisão da literatura. Revista da Faculdade de Odontologia-UPF, 2012, 17.2. • LALLA, Evanthia, et al. Hyperglycemia, glycoxidation and receptor for advanced glycation endproducts: Potential mechanisms underlying diabetic complications, including diabetes- associated periodontitis. Periodontology 2000, 2000, 23.1: 50-62. • KHADER, Yousef S., et al. Periodontal status of diabetics compared with nondiabetics: a meta-analysis. Journal of diabetes and its complications, 2006, 20.1: 59-68. • GROSSI, Sara G.; GENCO, Robert J. Periodontal disease and diabetes mellitus: a two-way relationship. Annals of periodontology, 1998, 3.1: 51-61. Recado para você que adquiriu essa apostila: Caso tenha alguma dúvida, entre em contato comigo ou tire essa dúvida com algum professor. Talvez possa ter coisas diferentes da forma que você aprendeu, mas isso não quer dizer necessariamente que eu ou você estejamos errados. Professores e autores têm diferentes pontos de vista as vezes. Essa apostila não pode ser vendida por terceiros e nem plagiada. Plágio é crime de violação aos Figura 13. Tomografia de Cone Beam. Hurian Machado – Odontologia UNIG 25 direitos autorais no Art. 184. Obrigado e bons estudos! "#$% E-mail p/ contato: hurianmachado@hotmail.com Ah, se por acaso você postar algum story no Instagram estudando por essa apostila, me marca para que eu reposte :) Instagram: @DOUTOR_SORRISO
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