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W BA 09 81 _V 1. 0 A PROFISSÃO DE PERITO CONTÁBIL 2 Nelson Bueno de Oliveira São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 A PROFISSÃO DE PERITO CONTÁBIL 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Elvis Araujo Albertin Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Oliveira, Nelson Bueno de O48p A profissão de perito contábil / Nelson Bueno de Oliveira, São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 41 p. ISBN 978-65-89881-64-3 1. Perícia contábil. 2. Arbitragem. 3. Mediação. I. Título. CDD 657 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 8 SP-010289/O © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO O Perito Contábil e a natureza de seu trabalho ______________ 05 Ética, Responsabilidade e Qualificação _______________________ 19 Zelo, Plano de Trabalho, Honorários, Processo Civil __________ 33 Teoria e Prática do trabalho do Perito Contábil ______________ 48 A PROFISSÃO DE PERITO CONTÁBIL 5 O Perito Contábil e a natureza de seu trabalho Autoria: Nelson Bueno de Oliveira Leitura crítica: Elvis Araujo Albertin Objetivos • Estudar a atuação do Perito Contábil como auxiliar da Justiça, assistente técnico das partes, perito em processos de Arbitragem e perito em processos de Mediação. • Conhecer a legislação e a regulação da atividade de Perícia e, em particular, da Perícia Contábil. • Verificar como a atuação do Perito Contábil contribui para a gestão de conflitos na sociedade. • Conhecer os conceitos e fundamentos da atividade de Perícia Contábil. 6 1. Perícia Contábil e prova pericial O Perito Contábil é o profissional que trabalha e faz a Perícia Contábil, que é uma das áreas de especialização da Contabilidade. Sá (2019) explica que ela é a verificação de fatos ligados ao patrimônio de uma entidade ou de uma pessoa; assim, o Perito Contábil deve emitir um parecer, com esse objeto, a respeito de uma questão específica. Para emitir esse parecer, ele se utiliza da tecnologia das Ciências Contábeis e realiza procedimentos adequados para formar a sua convicção sobre os fatos. A perícia, em sentido geral, segundo Moura (2020), é um meio de prova, por meio da qual os fatos controversos, que são debatidos no âmbito judicial ou extrajudicial, são verificados, examinados e esclarecidos. Já no âmbito da lei de processo civil, é o instituto, conforme Moura (2020, p. 5), que vem “mostrar o fato, quando não haja meio de prova documental para o revelar, ou quando se quer esclarecer circunstâncias a respeito dele que não se achem perfeitamente definidos.” Assim, a prova pericial destina-se a evidenciar a verdade de algum fato, a demonstrar e constatar a verdade, a fim de elucidar circunstâncias e consequências em um conflito entre partes na sociedade. O Novo Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002), preceitua, em seu artigo 212, que o fato jurídico pode ser provado mediante perícia, além de confissão, documento, testemunha e presunção. Não existe prevalência, segundo Moura (2020), de um meio de prova sobre outro, porém, para a elucidação de fatos que exijam conhecimento específico, técnico e científico, a prova pericial é adequada e relevante. Assim, a perícia é a prova especializada. Assim sendo, Sá (2019) explica que há esta classificação para perícias: (a) Perícias no âmbito da Justiça; (b) Perícias no âmbito administrativo; (c) Perícias no âmbito da Arbitragem ou Justiça Privada; e (d) Perícias 7 especiais. Por exemplo, uma perícia no âmbito administrativo seria contratada por uma empresa para averiguar uma suspeita de desvios em determinado setor. Em perícias especiais, pode-se citar os procedimentos de due diligence (exame contábil profundo das contas de uma entidade) utilizados em processos de fusões e aquisições de empresas. Nesse contexto, o que se diz a respeito da Arbitragem aplica- se também à Mediação. Quanto à Perícia Contábil, em particular, é atribuição privativa de contador com registro regular no Conselho Regional de Contabilidade de seu Estado. O Perito Contábil, assim qualificado, pode atuar em Juízo, quando nomeado pelo juiz, exercendo a função de auxiliar da Justiça. Se indicado pelas partes, no processo judicial, chama-se assistente técnico. A Perícia Contábil também pode ocorrer semelhantemente no âmbito extrajudicial, em Arbitragem e em Mediação. Segundo Crepaldi (2019), esses agentes são os demandantes do trabalho pericial em geral. No Poder Judiciário, é o juiz, que requer informações técnicas de uma área do conhecimento para auxiliá-lo em sua decisão. No âmbito extrajudicial, na Arbitragem, o árbitro tem uma atuação semelhante à do juiz nos tribunais. No caso do mediador ou do conciliador, estes não têm poder decisório sobre as questões em controvérsia, e, se se utilizarem de trabalho pericial, será para ajudar no processo de autocomposição das partes em conflito. Ainda, segundo Crepaldi (2019), no âmbito judicial ou extrajudicial (Arbitragem e Mediação), temos os advogados das partes, que se utilizam dos laudos periciais para defender os interesses e a posição de seus clientes. No âmbito judicial e extrajudicial, temos as partes litigantes, que veem na perícia a possibilidade de constituir prova que valide suas argumentações. Em complemento, no seio da sociedade, em geral, qualquer agente, pessoa física ou jurídica, pode contratar um perito para ajudar na solução de uma controvérsia particular, sem recorrer ao Poder Judiciário ou à Arbitragem e à Mediação. 8 2. Legislação e regulação para a profissão de Perito Contábil O Novo Código de Processo Civil, Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015, contém em seus artigos 149 e 156, respectivamente: Artigo 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias. (grifo nosso) Artigo 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. § 1º Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. (BRASIL, 2015) As normas profissionais que regem a profissão de Perito Contábil são: I. NBC PP 01 (R1), de 19 de março de 2020. “Esta norma tem como objetivo estabelecer procedimentos relativos à atuação do contador na condição de perito contábil.” (CFC, 2020a) II. NBC PP 02, de 21 de outubro de 2016. “O Examede Qualificação Técnica (EQT) para perito contábil tem por objetivo aferir o nível de conhecimento e a competência técnico-profissional necessários ao contador que pretende atuar na atividade de perícia contábil.” (CFC, 2016a) III. Resolução CFC n. 1.502/16, de 19 de fevereiro de 2016. “Dispõe sobre o Cadastro Nacional de Peritos Contábeis CNPC do Conselho Federal de Contabilidade CFC.” (CFC, 2016b) A NBC PP 01 (R1) preceitua o seguinte em seu item 2: 9 Perito é o contador detentor de conhecimento técnico e científico, regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade e no Cadastro Nacional dos Peritos Contábeis, que exerce a atividade pericial de forma pessoal ou por meio de órgão técnico ou científico, com as seguintes denominações: (a) perito do juízo é o contador nomeado pelo poder judiciário para exercício da perícia contábil; (b) perito arbitral é o contador nomeado em arbitragem para exercício da perícia contábil; (c) perito oficial é o contador investido na função por lei e pertencente a órgão especial do Estado; (d) assistente técnico é o contador ou órgão técnico ou científico indicado e contratado pela parte em perícias contábeis. (grifo nosso) (CFC, 2020a) Salienta-se que o Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, em sua 5ª edição, de 2010, define que Direito Civil é o “conjunto de normas reguladoras dos direitos e obrigações de ordem privada atinente às pessoas, aos bens e às suas relações.” (FERREIRA, 2010) Esclarece-se que pessoas aqui, no Código Civil (BRASIL, 2002), são tanto as naturais (seres humanos) quanto as jurídicas. Também, destaca-se a diferença entre o Código de Processo Civil e o Código Civil (BRASIL, 2002). O Código de Processo Civil trata de todo o andamento que um processo judicial pode apresentar, desde a petição inicial até o trânsito em julgado da ação. Ele regulamenta todos os procedimentos válidos que os atores (juiz, partes, serventes dos tribunais, auxiliares da Justiça, instâncias superiores etc.) de um processo judicial devem seguir. Assim, pode-se perceber que o contador, com registro regular no Conselho Regional de Contabilidade (CRC), pode atuar como Perito Contábil tanto na esfera judicial, jurisdicional, quanto na esfera extrajudicial, em processos de Arbitragem e de Mediação, mais comuns. Ademais, pode atuar como auxiliar do juiz ou do árbitro, conforme o caso, ou assessorando as partes, como assistente técnico. O Perito Contábil, então, quando acionado, trabalha com o uso de procedimentos e técnicas adequados, com o objetivo de que seu laudo 10 pericial seja constituído como prova de fatos ou de circunstâncias de um ponto controverso, discutido por partes, para a solução de conflitos. Os casos mais comuns de acionamento desse profissional são para examinar fatos que envolvam questões econômicas, financeiras, contratuais e de cálculos, mas quais o conhecimento técnico de Contabilidade é totalmente útil. É imprescindível também que o Perito Contábil conheça Matemática Financeira, e, para isso, o livro de Hazzan e Pompeo (2014) é uma sugestão de obra de consulta e referência. Ele deve entender, entre outros temas, sobre aplicabilidade de regimes de capitalização – juros simples e compostos –; taxas equivalentes proporcionais e efetivas; sistemas de amortização de empréstimos; e uso de calculadora financeira, como a HP 12C, e de planilha, como Microsoft Excel. 3. Perito Contábil e a gestão e solução de conflitos Na esfera judicial, o Perito Contábil, conforme Crepaldi (2019), é nomeado por um juiz de primeira instância. Nas demais instâncias superiores da Justiça, não existe propriamente uma prova pericial, pois os ministros e desembargadores (juízes das instâncias superiores) fazem as análises dos laudos periciais contábeis já existentes no processo e manifestam suas decisões em grau de recurso. Mecanismo semelhante ocorre na esfera extrajudicial da Arbitragem e da Mediação. Assim, a Perícia Contábil existe para suprir a insuficiência de conhecimentos técnicos específicos dos julgadores (juiz ou árbitro) sobre os fatos controversos debatidos no processo judicial ou arbitral. Sabe-se que conflitos ocorrem cotidianamente no seio social; fazem parte da vida. E, para resolvê-los, as partes conversam, discutem e fazem acordos no âmbito amistoso e negocial e as coisas se aplacam. Ocorre 11 que, em alguns casos, a negociação no âmbito amistoso não é frutífera e as pessoas e as entidades buscam a Justiça ou a Arbitragem ou a Mediação para a solução do conflito. Sobre os conflitos na sociedade, Tartuce (2018) explica que conflito é um embate, uma pendência, um pleito, uma oposição entre partes. É o entrechoque de ideias tendo em vista controvérsias sobre fatos, coisas ou pessoas. Outras expressões para o termo são disputa, lide e litígio. Há muitas dificuldades e obstáculos na gestão de conflitos, uma vez que aspectos subjetivos das pessoas fazem com que o processo de comunicação seja prejudicado, ou mesmo rompido, e não haja um tratamento eficaz para o que se discute. O tratamento adequado das disputas é essencial, e Tartuce (2018) diz que a proliferação de conflitos é uma realidade inexorável em função do crescimento da interação e da interdependência entre as pessoas e as organizações. 3.1 Conciliação e Mediação O Novo Código de Processo Civil e a Lei de Mediação, Lei n. 13.140, de 26 de junho de 2015 (BRASIL, 2015b), trazem aprimoramentos no marco legal para meios consensuais de gestão de conflitos, instituindo a audiência de conciliação ou mediação como etapa do processo judicial. A Lei de Mediação, em seu art. 1º, preceitua: (...) a mediação como meio de solução de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. E se considera como mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial, sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia. (BRASIL, 2015b) A Conciliação e a Mediação são institutos do Novo Código de Processo Civil, que, em seu artigo 165, assim estabelece: 12 Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. § 1º A composição e a organização dos centros serão definidas pelo respectivo tribunal, observadas as normas do Conselho Nacional de Justiça. § 2º O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. (grifo nosso) § 3º O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos. (grifo nosso) Tartuce (2018) ainda define que Conciliação é uma técnica de autocomposição entre as partes, promovida por um profissional, o conciliador, que intervém de maneira imparcial para, ouvindo e discutindo pontos de vista, auxiliar os contendores, as partes, para celebrar um acordo. Ele pode emitir opiniões sobre vantagens e desvantagens das posições manifestadas pelas partes e propor soluções alternativas para a controvérsia, sem, no entanto, deter poder decisório sobre elas. A Conciliação, declara Tartuce (2018), pode ocorrer em uma demanda judicial, perante os tribunais, bem como no âmbito de instituições privadas de solução de conflitos, como a Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem da FIESP/CIESP1 de São Paulo. Nesses âmbitos privados, nota-se, na prática, que a Mediação englobatambém a Conciliação. 1 Disponível no seguinte link: http://www.camaradearbitragemsp.com.br/pt/index.html. Acesso em: 2 jun. 2021. http://www.camaradearbitragemsp.com.br/pt/index.html 13 Observa-se que, na Conciliação, as partes normalmente não se conhecem antes do surgimento do conflito. Por exemplo, um consumidor que adquire um bem pela internet e, na entrega, há discrepâncias em relação ao pedido, surgindo um conflito na devolução ou troca do produto; ou um conflito que surge para resolver um acidente de trânsito. Sobre a Mediação, como reforço: Mediação é o meio consensual de abordagem de controvérsias em que uma pessoa isenta, o mediador, e devidamente capacitada atua tecnicamente para facilitar a comunicação entre as pessoas e propiciar que elas possam, a partir da restauração do diálogo, encontrar formas proveitosas de lidar com as disputas. (TARTUCE, 2018, p. 53) Já na Mediação, as partes normalmente tinham um relacionamento anterior que ficou deteriorado pelo conflito. Ao atuar, o mediador, também imparcial, pode conseguir reatar o diálogo e construir em conjunto uma solução para o conflito existente, mas não propriamente propondo soluções. O mediador, da mesma forma que o conciliador, não tem poder decisório sobre as partes. Por exemplo, duas empresas que possuíam um bom relacionamento comercial e agora apresentam um conflito. Assim, para evitar o total rompimento, com perdas recíprocas, custos e demora com um processo judicial, decidem recorrer a um meio consensual, como a Mediação, para o equacionamento da pendência. Ressalta-se novamente que no âmbito extrajudicial, privado, a mediação engloba a conciliação. Isso pode ser notado na atuação da Câmara da FIESP/CIESP já citada. No âmbito judicial (do Novo Código de Processo Civil), a diferença entre essas atividades é mais nítida. “O foco na Mediação é o conflito e não a solução. Na Conciliação é o contrário, o foco é a solução e não o conflito” (CAHALI, 2018, p. 50). 14 3.2 Arbitragem Cahali (2018) diz que, em épocas remotas, os conflitos eram solucionados com a imposição da vontade da parte mais forte. Porém, com o passar do tempo, atendendo aos anseios da sociedade, o Estado idealizou o monopólio da jurisdição, ou seja, o Estado passou a mediar e dizer o direito das partes litigantes, mediante processo judicial válido. Além disso, o mesmo autor explica que há formas autocompositivas de solução de litígios, sendo elas a negociação, a conciliação e a mediação. Nestas, embora um terceiro participe, o conciliador (com propostas de solução) ou o mediador (sem propostas de solução), o resultado depende da vontade das partes, não havendo poder decisório nem no conciliador nem no mediador. Já o instituto da Arbitragem é um método heterocompositivo de solução de conflitos. Cahali (2018) define que isso se denomina solução adjudicada, ou seja, as partes se submetem à decisão proferida por um terceiro, mesmo que contrária a seus interesses. Esse decisor é o juiz, o magistrado, na esfera da Justiça; ou o árbitro, na esfera extrajudicial, privada, da Arbitragem. A Arbitragem, ao lado da jurisdição estatal (Poder Judiciário), representa uma forma heterocompositiva de solução de conflitos. As partes capazes, de comum acordo, diante de um litígio, ou por meio de uma convenção, estabelecem que um terceiro, ou colegiado, terá poderes para solucionar a controvérsia, sem a intervenção estatal, sendo que a decisão terá a mesma eficácia que uma sentença judicial. (CAHALI, 2018, p. 125) A Arbitragem é um instituto privado de solução de conflitos ou método extrajudicial, e a decisão dada pelo árbitro, preceitua Cahali (2018), é imposta às partes, e, por essa razão, diz-se que a solução é adjudicada, e não consensual, como ocorre no âmbito da Conciliação e Mediação. 15 Figura 1 – A Arbitragem e a Jurisdição Estatal são métodos heterocompositivos de solução de conflitos Fonte: ISerg/iStock.com. A Arbitragem é prevista na Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996. No artigo 31, consta o seguinte: “A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.” (BRASIL, 1996). Já no artigo 515, inciso VII, do Novo Código de Processo Civil (BRASIL, 2015a), está previsto que a sentença arbitral é título executivo judicial. Entre os benefícios de se recorrer à Arbitragem, discorre Cahali (2018), está a rapidez do processo ao se comparar ao tempo médio de um processo judicial até se chegar ao trânsito em julgado (final definitivo de uma ação judicial). Nesse ponto, é necessário destacar o congestionamento que existe na esfera jurisdicional, em função de diversas razões. A Lei de Arbitragem (BRASIL, 1996) prediz que o processo arbitral deve se cumprir em um prazo de seis meses. Nota-se na prática que principalmente as empresas de maior porte já incluem em seus contratos comerciais, em particular com os seus fornecedores, cláusulas que elegem uma Câmara de Arbitragem 16 para solucionar controvérsia ou conflito que surja em decorrência do contrato. Isso é benéfico às partes, porque a solução eficaz de conflitos preserva o relacionamento comercial entre elas, além de ser um procedimento mais célere do que a esfera jurisdicional. 3.3 Títulos Executivos Judiciais e Extrajudiciais Após prolatada uma sentença judicial, cabe o seu cumprimento no sentido de a parte vencida pagar à parte vencedora um determinado valor, que é o conceito de título executivo judicial. No âmbito do Novo Código de Processo Civil, em seu artigo 515 (BRASIL, 2015a), consta que as decisões homologatórias (decisões que contêm confirmação de algo feita pelo juiz), de um procedimento de autocomposição judicial, geram um título executivo judicial. Se a autocomposição for extrajudicial e homologada pelo juiz, o título executivo extrajudicial transforma-se em título executivo judicial. O artigo 784 (BRASIL, 2015a) do mesmo instituto também versa sobre a matéria. Entende-se aqui a autocomposição como o resultado dos procedimentos de Conciliação e Mediação, que podem transitar tanto na esfera judicial quanto na extrajudicial. Na Mediação, regulado no artigo 20 da Lei n. 13.140, o procedimento de Mediação será encerrado, concluído desta forma: (...) com a lavratura do seu termo final, quando for celebrado acordo ou quando não se justificarem novos esforços para a obtenção de consenso, seja por declaração do mediador nesse sentido ou por manifestação de qualquer das partes. O termo final de mediação, na hipótese de celebração de acordo, constitui título executivo extrajudicial e, quando homologado judicialmente, título executivo judicial. (grifo nosso) (BRASIL, 2015b) 17 4. Conclusão O contador pode atuar em diversas modalidades profissionais. Por exemplo, pode ser um empreendedor ao abrir um escritório de Contabilidade, ou pode atuar como auditor, consultor financeiro ou consultor tributário. No ambiente corporativo, pode desempenhar funções como a de tesoureiro e de controller na área financeira, entre outras atividades. Uma das modalidades profissionais para o contador é o de Perito Contábil, que, ao fazer Perícia Contábil, pode desempenhar esse papel como auxiliar da Justiça, assistente técnico das partes, perito em processos de Arbitragem e perito em processos de Mediação. Há uma legislação e uma regulação específicas para a atividade pericial, sendo importante lembrar aqui que a perícia tem força de prova em um processo judicial ou arbitral. Assim, há uma relevância para a sociedade no trabalho do Perito Contábil, uma vez que é um ator necessário para a gestão e a solução de conflitos. Referências BRASIL. Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Brasília: Presidência da República, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9307.htm. Acesso em: 20 abr. 2021. BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeirode 2002. Institui o Código Civil. Brasília: Presidência da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 20 abr. 2021. BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília: Presidência da República, 2015a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 7 maio 2021. BRASIL. Lei n. 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias [...]. Brasília: Presidência da República, 2015b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm. 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São Paulo: Senac, 2016. MOURA, Ril. Perícia Contábil: Judicial e Extrajudicial. 6. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2020. SÁ, Antônio Lopes de. Perícia contábil. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2019. TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2018. https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2020/NBCPP01(R1)&arquivo=NBCPP01(R1).doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2020/NBCPP01(R1)&arquivo=NBCPP01(R1).doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/NBCPP02&arquivo=NBCPP02.doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/NBCPP02&arquivo=NBCPP02.doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2020/NBCTP01(R1)&arquivo=NBCTP01(R1).doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2020/NBCTP01(R1)&arquivo=NBCTP01(R1).doc https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:oCwYX71pIikJ:https://cfc.org.br/wp-content/upl https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:oCwYX71pIikJ:https://cfc.org.br/wp-content/upl https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:oCwYX71pIikJ:https://cfc.org.br/wp-content/upl 19 Ética, Responsabilidade e Qualificação Autoria: Nelson Bueno de Oliveira Leitura crítica: Elvis Araujo Albertin Objetivos • Estudar e examinar o Código de Ética Profissional do Contador, conforme a NBC PG 01, de 2019. • Estudar a NBC PP 01 (R1), de 2020, com as normas sobre a atuação do Contador como Perito Contábil. • Conhecer os requisitos da profissão de Perito Contábil, a habilitação e as responsabilidades civil e penal. • Verificar a NBC PP 02, de 2016, sobre normas do Exame de Qualificação Técnica para Perito Contábil, bem como a Resolução CFC n. 1.502, de 2016, sobre o Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC). • Reconhecer a educação profissional continuada EPC, recomendada para o Perito Contábil pela NBC PG 12 (R3), de 2017. 20 1. Ética profissional do Perito Contábil A palavra ética, segundo o Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, em sua 5ª edição, de 2010 (FERREIRA, 2010), refere-se, em filosofia, aos estudos dos juízos de apreciação relativos à conduta humana, suscetíveis de qualificação em termos de bem e mal, em um contexto de sociedade ou mesmo em termos absolutos do indivíduo. Assim, nota-se que a ética busca balizar com um conteúdo moral o comportamento, a conduta, do ser humano na sociedade. Um código de ética profissional, por sua vez, é algo no mesmo sentido da ética, porém focado na atuação da pessoa em sua atividade profissional. O Código de Ética Profissional do Contador está consubstanciado na NBC PG 01, de 7 de fevereiro de 2019. Nesse documento, consta um padrão de conduta destinado ao profissional que exerce a profissão contábil. A NBC PG 01 preceitua o seguinte quanto aos deveres do Contador: • Exercer a profissão com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, observando as Normas Brasileiras de Contabilidade e a legislação vigente, resguardando o interesse público, os interesses de seus clientes ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais; • recusar sua indicação em trabalho quando reconheça não se achar capacitado para a especialização requerida; • guardar sigilo sobre o que souber em razão do exercício profissional, inclusive no âmbito do serviço público, ressalvados os casos previstos em lei ou quando solicitado por autoridades competentes, entre estas os Conselhos Federal e Regionais de Contabilidade; (...) 21 • aplicar as salvaguardas previstas pela profissão, pela legislação, por regulamento ou por organização empregadora toda vez que identificar ou for alertado da existência de ameaças mencionadas nas normas de exercício da profissão contábil, observando o seguinte:(i) tomar medidas razoáveis para evitar ou minimizar conflito de interesses; e (ii) quando não puder eliminar ou minimizar a nível aceitável o conflito de interesses, adotar medidas de modo a não perder a independência profissional; • abster-se de expressar argumentos ou dar conhecimento de sua convicção pessoal sobre os direitos de quaisquer das partes interessadas, ou da Justiça da causa em que estiver servindo, mantendo seu trabalho no âmbito técnico e limitando-se ao seu alcance; • abster-se de interpretações tendenciosas sobre a matéria que constitui objeto do trabalho, mantendo a independência profissional; (...) • despender os esforços necessários e se munir de documentos e informações para inteirar-se de todas as circunstâncias, antes de emitir opinião sobre qualquer caso; (...) • manifestar, imediatamente, em qualquer tempo, a existência de impedimento para o exercício da profissão; (...) • cumprir os Programas de Educação Profissional Continuada de acordo com o estabelecido pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC); • informar o número de registro, o nome e a categoria profissional após a assinatura em trabalho de contabilidade, propostas comerciais, contratos de prestação de serviços e em todo e qualquer anúncio, placas, cartões comerciais e outros. (CFC, 2019) 22 Todo esse conteúdo aplica-se ao profissional da Contabilidade em sentido amplo. Entretanto, dada a natureza de seu trabalho, ou seja, a produção de prova pericial, que será utilizada nas cortes jurisdicional e arbitral,no caso do Perito Contábil ainda mais, deve o Contador, atuando em perícia, executar seu ofício com total compromisso com os princípios e procedimentos éticos. Comentam-se a seguir aspectos sobre os deveres do Contador, constantes do Código de Ética Profissional, em particular tendo em mente a perspectiva do Perito Contábil, o qual, integrante do Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC), pode a qualquer momento ser nomeado por um juiz de Direito que precise de seu trabalho para elucidar pontos controversos em determinado processo judicial. Assim, se ele reconhece que não está devidamente inteirado naquela área de conhecimento contábil específico requerido e demandado pelo processo judicial, não deve aceitar o processo, fazendo uma petição nos autos deste. O site do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), por exemplo, possui um sistema digital de peticionamento eletrônico que permite bastante praticidade nesse sentido. Para isso, o Perito Contábil deve possuir a sua certificação digital para poder apor sua assinatura eletrônica nos documentos oficiais. Registra-se também que, quando qualificado para integrar o CNPC, o Perito Contábil indica, entre seus dados, as áreas de concentração em que pretende atuar. No entanto, podem ocorrer nomeações desafiadoras, como as que envolvam Recuperação Judicial ou ações indenizatórias provenientes de sofisticadas relações comerciais conflituosas. Assim, nada obsta que o profissional de Contabilidade, ao ser nomeado para um processo específico, possa tomar isso como desafio e consultar literatura fidedigna, bem como outras fontes de conhecimento confiáveis. O que importa é que a qualidade técnica do laudo pericial a ser produzido esteja assegurada. 23 Sobre o conflito de interesses, o artigo 3º, I, da Lei n. 12.813 define que Conflito de Interesse é “a situação gerada pelo confronto entre interesses públicos e privados, que possa comprometer o interesse coletivo ou influenciar, de maneira imprópria, o desempenho da função pública.” (BRASIL, 2013). Isso se aplica mais ao servidor público, porém o conceito vale perfeitamente também para a vida privada. Mais adiante, estudaremos as situações de suspeição e impedimento que envolvem a atividade de Perito Contábil. 2. Atividade de Perito Contábil: Especificação Isso que se diz sobre um processo judicial aplica-se perfeitamente na esfera extrajudicial como a Arbitragem. Sobre essa questão, pode-se dizer que tudo o que se aplica à atividade do Perito Contábil no âmbito da Justiça, ou no âmbito jurisdicional, também vale para a Arbitragem em uma Câmara Arbitral. Na Mediação, na forma da legislação específica, esta se reveste de um grau de informalidade maior, embora não prescinda do rigor técnico, se um profissional de Contabilidade for requisitado para contribuir com o processo. Assim, pode-se admitir que o que se diz sobre o Perito Contábil se aplica mais objetivamente às esferas jurisdicional e arbitral, ponderada a produção da prova pericial. No entanto, há autores que admitem conceituar a função desse profissional em outras esferas extrajudiciais e negociais. Nesse ponto, Sá (2019) admite estas funções para a classificação das perícias: (a) perícias no âmbito da justiça; (b) perícias no âmbito administrativo (ex.: para apurar fraudes em uma empresa com a qual o contador contratado não possua vínculo empregatício anterior); (c) perícias no âmbito da arbitragem ou justiça privada; e (d) perícias especiais (ex.: due diligence em fusões e aquisições de empresas). 24 No entanto, nesse aspecto específico, há uma definição mais restritiva da atividade de perícia, conforme a NBC PP 01 (R1), que preceitua o seguinte: Perito é o contador detentor de conhecimento técnico e científico, regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade e no Cadastro Nacional dos Peritos Contábeis, que exerce a atividade pericial de forma pessoal ou por meio de órgão técnico ou científico, com as seguintes denominações: (a) perito do juízo é o contador nomeado pelo poder judiciário para exercício da perícia contábil; (b) perito arbitral é o contador nomeado em arbitragem para exercício da perícia contábil; (c) perito oficial é o contador investido na função por lei e pertencente a órgão especial do Estado; (d) assistente técnico é o contador ou órgão técnico ou científico indicado e contratado pela parte em perícias contábeis. (grifo nosso). (CFC, 2020a) Em síntese, assim define a NBC TP 01, de 19 de março de 2020, a atividade de Perícia Contábil, de forma mais abrangente, admitindo chamar de Perícia Contábil aquela exercida no âmbito negocial, voluntário, espontâneo: A perícia contábil, tanto a judicial como a extrajudicial, é de competência exclusiva de contador registrado em Conselho Regional de Contabilidade. Entende-se como perícia judicial aquela exercida sob a tutela da justiça. A perícia extrajudicial é aquela exercida no âmbito arbitral, estatal ou voluntária. A perícia arbitral é aquela exercida sob o controle da Lei da arbitragem. Perícia estatal é executada sob o controle de órgão do Estado, tais como perícia administrativa das Comissões Parlamentares de Inquérito, de perícia criminal e do Ministério Público. Perícia voluntária é aquela contratada espontaneamente pelo interessado ou de comum acordo entre as partes. (grifo nosso). (CFC, 2020b) 3. Impedimento e Suspeição Em sua atuação, em particular na esfera jurisdicional e arbitral, o Perito Contábil deve ter especial cuidado com eventuais conflitos de interesse, 25 inclusive conforme preceitua o Código de Ética Profissional do Contador. Sá (2019) explica que as razões da suspeição e de impedimento são as mesmas atribuídas um juiz de Direito. Figura 1 – As situações previstas para o juiz de Direito, que indiquem seu impedimento e sua suspeição, são aplicáveis ao Perito Contábil Fonte: simpson33/iStock.com. A NBC PP 01 (R1) declara que “impedimentos profissionais são situações fáticas ou circunstanciais que impossibilitam o perito de exercer, regularmente, suas funções ou realizar atividade pericial em processo judicial ou extrajudicial, inclusive arbitral” (CFC, 2020a). Caso o Perito Contábil perceba em determinado caso que não pode exercer suas atividades com isenção ou imparcialidade, é necessário que se declare impedido ou suspeito, após nomeado ou indicado, tanto na esfera jurisdicional quanto na arbitral. Na esfera jurisdicional, deve fazer petição nos autos do processo justificando a sua escusa e o motivo do impedimento ou da suspeição e recusar, fundamentando sua posição, o processo. Caso o conflito de interesses se configure, por exemplo, na esfera negocial, voluntária, em que seja contratado para atuar por 26 pessoas ou entidades, deve declarar-se, por razões de ordem ética, impedido ou suspeito conforme o caso. O impedimento e a suspeição do juiz de Direito, aplicáveis ao Perito Contábil, dizem respeito à imparcialidade do juiz no exercício de sua função. Reforça-se que o que se diz do Perito Contábil na esfera jurisdicional aplica-se à sua atuação na esfera arbitral, mesmo que atue como assistente técnico da parte (ex.: uma parte, sem o saber, contrata o contador que tem ou teve vínculos coincidentemente com a outra parte litigante). É dever do juiz declarar-se impedido ou suspeito, podendo alegar motivos de foro íntimo. O impedimento tem caráter objetivo, enquanto a suspeição tem relação com o subjetivismo do juiz. A imparcialidade do juiz é um dos pressupostos processuais subjetivos do processo. No impedimento há presunção absoluta de parcialidade do juiz em determinado processo por ele analisado, enquanto na suspeição há apenas presunção relativa. (JUSBRASIL, 2009). O Novo Código de Processo Civil, Lei n.13.105, de 16 de março de 2015, no artigo 144, estabelece o seguinte sobre o impedimento do juiz de Direito, que se aplica ao Perito Contábil: impedimento significa ser vedado atuar em processo em que pelo menos umadestas característica se configure: Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I. em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; II. de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; III. quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; 27 IV. quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; V. quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; VI. quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes; VII. em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; VIII. em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; IX. quando promover ação contra a parte ou seu advogado. (BRASIL, 2015) Já em seu artigo 145, estabelece o seguinte sobre a suspeição do juiz de Direito, que se aplica ao Perito Contábil: suspeição significa uma questão de fórum íntimo do juiz e ele pode ou não atuar no processo, dependendo de se sentir seguro quanto à sua imparcialidade e se isso não der margem a questionamentos das partes quanto à sua isenção. Art. 145. Há suspeição do juiz: I. amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; II. que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio; III. quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; IV. interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes. § 1º Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões (...). (BRASIL, 2015) 28 4. Habilitação profissional A NBC PP 01 (CFC, 2020a) assevera que o Perito Contábil deve comprovar sua habilitação para o exercício da função com a Certidão de Regularidade Profissional emitida pelos Conselhos Regionais de Contabilidade (CRC) e com o pertencimento ao Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Pontua-se melhor sobre o CNPC na sequência deste estudo. Caso o Contador seja indicado ou contratado para atuar como assistente técnico da parte, na esfera judicial, extrajudicial ou negocial/voluntária, deve também apresentar ao contratante as qualificações que o habilitem para o serviço de perícia. Assim, ele “só deve aceitar o encargo se reconhecer estar capacitado com conhecimento, discernimento e independência para a realização do trabalho” (CFC, 2020a). 5. Responsabilidade Civil e Criminal A NBC PP 01 preceitua que a legislação civil determina responsabilidades e penalidades para o profissional que exerce a função de perito, as quais consistem em multa, indenização e inabilitação. Já a legislação penal estabelece penas de multa e reclusão para os profissionais que exercem a atividade pericial de maneira contrária à lei. O Escritório de Advocacia Lopes e Nono explica que Responsabilidade Civil é: o dever de reparar dano causado a outrem, por ações ou omissões do sujeito ou de terceiros de sua responsabilidade. A Responsabilidade Civil tem diversas classificações, podendo ser esta contratual ou extracontratual, direta ou indireta, subjetiva ou objetiva, dentre outras classificações cabíveis dentro do Direito Civil. (LOPES E NONO ADVOGADOS, [s.d.]) 29 Acrescenta ainda sobre esse tema que: responsabilidade extracontratual é aquela que decorre diretamente da lei, é geralmente ligada à culpa. Pois, independentemente de dolo, intenção, aquele que causar prejuízo a outrem, deve ressarcir, reparar a perda provocada, conforme dispõe o artigo 927 do Código Civil Brasileiro. (LOPES E NONO ADVOGADOS, [s.d.]) 6. Qualificação técnica, CNPC e educação continuada A NBC PP 02, de 21 de outubro de 2016, versa sobre normas do Exame de Qualificação Técnica (EQT) para o Perito Contábil, que “tem por objetivo aferir o nível de conhecimento e a competência técnico- profissional necessários ao contador que pretende atuar na atividade de Perícia Contábil” (CFC, 2016b). É uma avaliação escrita, cuja aprovação assegura ao Contador o registro no CNPC do CFC. O conteúdo programático do EQT abrange: Legislação Profissional; Ética Profissional; Normas Brasileiras de Contabilidade, Técnicas e Profissionais inerentes à perícia; Legislação Processual Civil aplicada à perícia; Língua Portuguesa e Redação; e Direito Constitucional, Civil e Processual Civil afetos à perícia. A Resolução CFC 1.502, de 19 de fevereiro de 2016 (CFC, 2016a), regulamenta o CNPC, o qual é integrado digitalmente aos sistemas do Poder Judiciário, permitindo ao juiz de Direito identificar um Contador devidamente habilitado para a atividade de Perícia Contábil. Dessa forma, para integrar o CNPC, o Contador, devidamente habilitado, deve ser aprovado no EQT. Já sua permanência no Cadastro está condicionada à obrigatoriedade do cumprimento do Programa de Educação Profissional Continuada (EPC), contemplado pela NBC PG 12 (R3), de 7 de dezembro de 2017, que é assim definida: 30 atividade que visa manter, atualizar e expandir os conhecimentos e competências técnicas e profissionais, as habilidades multidisciplinares e a elevação do comportamento social, moral e ético dos profissionais da Contabilidade, como características indispensáveis à qualidade dos serviços prestados e ao pleno atendimento das normas que regem o exercício da Profissão Contábil. (CFC, 2017) Os Contadores que pertencem ao CNPC devem cumprir, no mínimo, 40 pontos de EPC por ano-calendário. Esses pontos são referentes a atividades de aquisição de conhecimento, como cursos, palestras, workshops e seminários em que os temas técnicos da Contabilidade sejam abordados, com enfoque científico. O CRC normalmente promove e divulga atividades e entidades de ensino que possuem certificações para a ministração dessas atividades educacionais. A atividade acadêmica específica do Contador também pontua na EPC. 7. Conclusão Existe algo de nobre na atividade do Perito Contábil. Quando estiver atuando como perito do juiz ou como perito do árbitro, ele busca com sua técnica contábil encontrar a verdade dos fatos e das circunstâncias e produzir a prova pericial. E, mesmo que atue como assistente técnico da parte, na esfera jurisdicional ou arbitral, ele diz a verdade dos fatos sob a perspectiva de quem o contrata, estando os limites de seu trabalho nesse caso estabelecidos pelo procedimento regido pela ética profissional. Isso também se aplica em casos de Mediação e na área negocial/voluntária em que atue. Para ser Perito Contábil, é necessário estar habilitado no CRC que o jurisdiciona, bem como pertencer ao CNPC. Além disso deve cumprir a pontuação exigida pela EPC do CFC. 31 Referências BRASIL. Lei n. 12.813, de 16 de maio de 2013. Dispõe sobre o conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego do Poder Executivo federal [...]. Brasília: Presidência da República, 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12813.htm. Acesso em: 7 junho 2021. BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília: Presidência da República, 2015a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 7 junho 2021. CFC. Conselho Federal de Contabilidade. NBC PG 01, de 7 de fevereiro de 2019. Aprova a NBC PG 01-Código de Ética Profissional do Contador. 2019. Disponível em: https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2019/ NBCPG01&arquivo=NBCPG01.doc. Acesso em: 22 abr. 2021. CFC. Conselho Federal de Contabilidade. NBC PG 12 (R3), de 7 de dezembro de 2017. Altera a NBC PG 12 (R2) que dispõe sobre educação profissional continuada. 2017. Disponível em: https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre. aspx?Codigo=2017/NBCPG12(R3)&arquivo=NBCPG12(R3).doc. Acesso em: 22 abr. 2021. CFC. Conselho Federal de Contabilidade. NBC PP 01 (R1), de 19 de março de 2020. Dá nova redação à NBC PP 01, que dispõe sobre perito contábil. 2020a. Disponível em: https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2020/ NBCPP01(R1)&arquivo=NBCPP01(R1).doc. Acesso em: 15 abr. 2021. CFC. Conselho Federal de Contabilidade. NBC TP 01 (R1), de 19 de março de 2020. Dá nova redação à NBC TP 01, que dispõe sobre perícia contábil. 2020b. Disponível em: https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2020/ NBCTP01(R1)&arquivo=NBCTP01(R1).doc. Acesso em: 15 abr. 2021. CFC. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução CFC 1.502, de 19 de fevereiro de 2016. Dispõe sobre o Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) [...]. 2016a. Disponível em: https://www2. cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/001502&arquivo=Res_1502. doc. Acesso em: 22 abr. 2021. CFC. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução NBC PP 02, de 21 de outubro de 2016. Aprova a NBC PP 02 que dispõe sobre o exame de qualificação técnica para perito contábil. 2016b. Disponível em: https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/ detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/NBCPP02&arquivo=NBCPP02.doc. Acesso em: 22 abr. 2021. CREPALDI, Silvio Aparecido. Manual de Perícia Contábil. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12813.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12813.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2019/NBCPG01&arquivo=NBCPG01.doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2019/NBCPG01&arquivo=NBCPG01.doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2017/NBCPG12(R3)&arquivo=NBCPG12(R3).doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2017/NBCPG12(R3)&arquivo=NBCPG12(R3).doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2020/NBCPP01(R1)&arquivo=NBCPP01(R1).doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2020/NBCPP01(R1)&arquivo=NBCPP01(R1).doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2020/NBCTP01(R1)&arquivo=NBCTP01(R1).doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2020/NBCTP01(R1)&arquivo=NBCTP01(R1).doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/001502&arquivo=Res_1502.doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/001502&arquivo=Res_1502.doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/001502&arquivo=Res_1502.doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/NBCPP02&arquivo=NBCPP02.doc https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/NBCPP02&arquivo=NBCPP02.doc 32 JUSBRASIL. Entenda as diferenças entre impedimento e suspeição. 2009. Disponível em: https://stf.jusbrasil.com.br/noticias/801942/entenda-as-diferencas- entre-impedimento-e-suspeicao. Acesso em: 7 junho 2021. LOPES E NONO ADVOGADOS. O que é Responsabilidade Civil? [s.d.]. Disponível em: https://lopesenonoadv.com.br/o-que-e-responsabilidade-civil/. Acesso em: 7 junho 2021. MELLO, Paulo Cordeiro de. Perícia Contábil. 2. ed. São Paulo: Senac, 2016. MOURA, Ril. Perícia Contábil: Judicial e Extrajudicial. 6. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2020. SÁ, Antônio Lopes de. Perícia contábil. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2019. https://stf.jusbrasil.com.br/noticias/801942/entenda-as-diferencas-entre-impedimento-e-suspeicao https://stf.jusbrasil.com.br/noticias/801942/entenda-as-diferencas-entre-impedimento-e-suspeicao https://lopesenonoadv.com.br/o-que-e-responsabilidade-civil/ 33 Zelo, Plano de Trabalho, Honorários, Processo Civil Autoria: Nelson Bueno de Oliveira Leitura crítica: Elvis Araujo Albertin Objetivos • Compreender o zelo profissional como norteador da conduta de trabalho do Perito Contábil, conforme a NBC PP 01 (R1), de 2020. • Estudar o plano de trabalho e a respectiva proposta de honorários periciais. • Conhecer as atividades do Perito Contábil sob a ótica do Novo Código de Processo Civil, Lei n. 13.105/2015. 34 1. Zelo profissional O vocábulo zelo, segundo o Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, em sua 5ª edição, de 2010 (FERREIRA, 2010), refere-se à dedicação, ao desvelo, ao cuidado por alguém ou por algo. É a diligência de alguém na execução de um trabalho e serviço; é administrar algo com diligência. 1.1 Essência do zelo profissional A NBC PP 01, de 19 de março de 2020, diz que: O termo “zelo”, para o perito, refere-se ao cuidado que ele deve dispensar na execução de suas tarefas, em relação à sua conduta, documentos, prazos, tratamento dispensado às autoridades, aos integrantes da lide e aos demais profissionais, de forma que sua pessoa seja respeitada, seu trabalho levado a bom termo e, consequentemente, o Laudo Pericial Contábil e o Parecer Pericial-Contábil sejam dignos de fé pública. (CFC, 2020a) O Laudo Pericial Contábil é o relatório final produzido pelo perito do juízo, enquanto o Parecer Pericial Contábil é o relatório final produzido pelo assistente técnico da parte. A NBC TP 01 (R1) (CFC, 2020b) preceitua que “concluídos os trabalhos periciais, o perito nomeado deve apresentar Laudo Pericial Contábil, e o assistente técnico pode oferecer seu Parecer Pericial Contábil, obedecendo aos respectivos prazos legais e/ou contratuais”. No âmbito arbitral, tais denominações também são aplicáveis. Ainda segundo a NBC TP 01 (R1): O Laudo Pericial Contábil e o Parecer Pericial Contábil devem ser elaborados somente por contador ou pessoa jurídica, se a lei assim permitir, que estejam devidamente registrados e habilitados. A habilitação é comprovada por intermédio da Certidão de Regularidade Profissional 35 emitida por Conselho Regional de Contabilidade ou do Cadastro Nacional de Peritos Contábeis do Conselho Federal de Contabilidade. O Laudo Pericial Contábil e o Parecer Pericial Contábil são documentos escritos, que devem registrar, de forma abrangente, o conteúdo da perícia e particularizar os aspectos e as minudências que envolvam o seu objeto e as buscas de elementos de prova necessários para a conclusão do seu trabalho. Os peritos devem consignar, no final do Laudo Pericial Contábil ou do Parecer Pericial Contábil, de forma clara e precisa, as suas conclusões. (CFC, 2020b) Em complemento a tudo o que preceitua o Código de Ética Profissional do Contador, na realização dos trabalhos periciais, o zelo profissional do Perito Contábil, segundo a NBC PP 01, abrange o seguinte: (a) cumprir os prazos fixados pelo juiz em perícia judicial e nos termos contratados em perícia extrajudicial, inclusive arbitral; (b) comunicar ao juízo, antes do início da perícia, caso o prazo estipulado no despacho judicial para entrega do laudo pericial seja incompatível com a extensão do trabalho, sugerindo o prazo que entenda adequado; (c) assumir a responsabilidade pessoal por todas as informações prestadas em matéria objeto da perícia, os quesitos respondidos, os procedimentos adotados, as diligências realizadas, os valores apurados e as conclusõesapresentadas no laudo pericial contábil e no parecer pericial contábil; (d) prestar os esclarecimentos determinados pela autoridade competente, respeitados os prazos legais ou contratuais; (e) propugnar pela celeridade processual, valendo-se dos meios que garantam eficiência, segurança, publicidade dos atos periciais, economicidade, o contraditório e a ampla defesa; (f) ser prudente, no limite dos aspectos técnico-científicos, e atento às consequências advindas dos seus atos; (g) ser receptivo aos argumentos e críticas, podendo ratificar ou retificar o posicionamento anterior. (CFC, 2020a) 36 Sobre isso, trazemos aqui algumas explicações. Na alínea “b” anterior, o comunicado do perito contábil ao juiz de Direito é manejado por uma petição que se faz no contexto do processo judicial. O juiz tem a autoridade para deferir ou não a petição do perito, quando este requer um prazo maior para cumprimento de seu trabalho. Com relação ao que se diz na alínea “e”, a Constituição Federal do Brasil, de 1988, estabelece, em seu artigo 5º, que: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LX–a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem [...]. (grifo nosso). (BRASIL, 1988) A publicidade dos atos processuais, portanto, é um instrumento de transparência do Poder Judiciário dado à população, sendo os autos do processo (documentos constituintes do processo judicial) disponibilizados a qualquer cidadão, mesmo que não seja parte do assunto. Assim, a publicidade dos atos periciais deve ser entendida como as petições que o perito faz nos autos do processo, comunicando o início dos trabalhos periciais, entre outros procedimentos. Isso é importante porque leva as partes litigantes a apresentarem ao perito contábil todas as informações e documentos que possam ser úteis e relevantes para a constituição das provas periciais, tanto da parte que acusa (parte autora) quanto da parte que se defende (parte ré). Dessa forma, todos têm acesso ao mesmo tempo aos procedimentos praticados pelo perito contábil, o que viabiliza o tratamento isonômico a todos os envolvidos. No âmbito arbitral, os procedimentos são adaptados. Ainda na alínea “e”, o contraditório e a ampla defesa referem-se ao fato de o perito contábil dar às partes oportunidades igualitárias, isonômicas, para se manifestarem e defenderem seus pontos de vista e interesses no processo judicial. 37 Agora, na alínea “g”, quando se diz que o perito contábil deve ser aberto, receptivo a críticas e argumentos, quer dizer que, se houver um ponto, um fato ou um documento trazido pelas partes que altere o que o Perito Contábil admitia sobre algo, ele pode perfeitamente modificar ou retificar seu posicionamento, sendo algo natural de acontecer. No contexto do zelo profissional, o Perito Contábil deve esmerar-se em cálculos, estudos, exames de documentos e investigações para evitar erros que possam – ainda que somente na aparência – indicar falta de diligência na elaboração dos trabalhos periciais. 1.2 Detalhes do zelo profissional Diz a Bíblia Sagrada, no livro de Eclesiastes, capítulo 10, versículo 1, que “qual a mosca morta faz o unguento do perfumador exalar mau cheiro, assim é para a sabedoria e a honra um pouco de estultícia” (BÍBLIA, [s.d.]). Com sua vivência, o autor bíblico, provavelmente o Rei Salomão, argumenta que, se alguém sábio e honrado tiver por um momento de lapso um comportamento estúpido ou desarrazoado, toda a sua sabedoria e sua honradez serão esquecidas por todos, prevalecendo a sua estupidez. Outrossim, por sua vez, há um ditado popular que diz “o diabo mora nos detalhes”, o que pode ser considerado correto, uma vez que grandes empreendimentos, projetos ou trabalhos podem apresentar falhas incontornáveis em seus detalhes. Por exemplo, uma tropa de um exército bem armado e treinado pode ficar inoperante se o alimento ou a água dos soldados estiver contaminado. Por outro lado, esse ditado indica que a atenção e o zelo para pequenas coisas trazem resultados compensadores. Dessa forma, o perito contábil deve sim esmerar-se por um trabalho de natureza técnica e científica. Porém, nos passos e nas etapas de seu trabalho pericial, ao lidar com partes estressadas pelo conflito existente e pelas perdas suportadas, bem como com magistrados, advogados, outros contadores, serventuários da justiça ou das câmaras arbitrais, não pode se descuidar ou não ter zelo com os detalhes do que faz. 38 Assim, a NBC PP 01 (CFC, 2020a) coloca que a “transparência e o respeito recíprocos entre o perito nomeado e os assistentes técnicos pressupõem tratamento impessoal, restringindo os trabalhos, exclusivamente, ao conteúdo técnico-científico”. Caso o perito contábil contrate outras pessoas para o ajudar no desenvolvimento do trabalho pericial, deve ter em mente que permanece responsável pelo trabalho de sua equipe técnica. Tendo sempre todo o zelo com o cumprimento de prazos, quando não for possível concluir o Laudo Pericial Contábil no prazo fixado pela autoridade competente, segundo a NBC PP 01 (CFC, 2020a), “deve o perito nomeado requerer a sua dilação antes de vencido aquele, apresentando os motivos que ensejaram a solicitação”. Reforça-se que isso é uma petição que se faz ao juiz de Direito, que pode ou não deferir o que se pede. O que aqui se diz no âmbito jurisdicional aplica-se com adaptações à esfera arbitral. Na perícia extrajudicial, em particular na Arbitragem, o perito deve estipular os prazos necessários para a execução dos trabalhos e a descrição dos serviços a executar na proposta de trabalho e os honorários, e posteriormente no contrato de prestação de serviços firmado com o contratante. No trabalho pericial, segundo a NBC TP 01 (R1), uma diligência são todos os: [...] atos adotados pelo perito, inclusive, comunicações às partes e seus assistentes, na busca de documentos, coisas, dados e informações e outros elementos de prova necessários à elaboração do trabalho pericial; e, ainda, o trabalho de campo na busca de elementos necessários que não estejam juntados aos autos. (CFC, 2020b) Assim, “a realização de diligências, para a busca de elementos de provas, quando necessária, deve ser comunicada aos assistentes técnicos com antecedência legal” (CFC, 2020b). Dessa forma, recomenda-se que o Perito Contábil, quando fizer diligências, comunique-se formalmente com o agente, que é detentor da informação e do documento, bem como faça, paralelamente, a inserção de sua diligência também nos 39 autos do processo judicial para a publicidade dos atos periciais. É importante reforçar que tudo o que se diz sobre um processo judicial aplica-se na esfera extrajudicial, como a Arbitragem, mas com adaptações. 2. Plano de trabalho e honorários periciais Conforme descreve Sá (2019), o “plano de trabalho em perícia contábil é a previsão, (...) para a execução das tarefas, no sentido de garantir a qualidade dos serviços, pela redução dos riscos sobre a opinião ou resposta.” Além disso, pontua que este deve ter a seguinte estrutura em termos de fases ou etapas: 1. Pleno conhecimento da questão (se for judicial, pleno conhecimento do processo). 2. Pleno conhecimento de todos os fatos que motivam a tarefa. 3. Levantamento prévio dos recursos disponíveis para exame. 4. Prazo ou tempo para a execução das tarefas e entrega do laudo ou parecer. 5. Acessibilidade aos dados (se depende de muitos locais, com deslocamentos, burocracias etc.). 6. Pleno conhecimento dos sistemas contábeis adotados e confiabilidade de documentação. 7. Natureza de apoios, biblioteca, computadores e outros, se necessários. (SÁ, 2019, p. 28) A sugestão de Sá (2019) para a elaboração do plano de trabalho pericialé oportuna. Com base nisso, o Perito Contábil pode estimar as horas de trabalho que desenvolverá e o consumo de estrutura logística. Por exemplo, em termos hipotéticos, para pedido dos honorários, ele pode fazer em seu plano de trabalho uma planilha com as seguintes características: 40 Quadro 1 – Exemplo de planilha com o critério e o raciocínio para o pedido de honorários periciais – Dados hipotéticos Quanto ao orçamento de elaboração do Laudo Pericial Contábil Atividades a serem efetuadas para a confecção do Laudo Pericial Contábil (LPC) Horas de trabalho do perito Valor da hora de trabalho = R$ 731,69, (referência de 2021, SESCON RS), com rebate de 35% (R$ 731,69 x 0,65 = R$ 476,00) 1 Leitura e análise detalhadas das razões técnicas das partes, constantes, entre outros, da inicial, das contestações, dos laudos, dos pareceres, das certidões, das decisões dos tribunais, dos cálculos apresentados etc. Exame dos documentos constantes dos autos. 12 5.712,00 2 Realização de cálculos, simulações e análise de resultados. 6 2.856,00 3 Realização de pesquisas bibliográficas e de outras pesquisas que contribuam para a elucidação dos pontos controversos do processo judicial. 2 952,00 4 Elaboração de termos de diligência. Análise das respostas e dos documentos apresentados em função dos termos de diligência. 2 952,00 5 Reunião ou comunicação com assistentes técnicos das partes. 1 476,00 6 Elaboração do LPC com conclusões e respostas aos quesitos dos assistentes técnicos das partes. 8 3.808,00 7 Edição, montagem e revisão final do LPC. 2 952,00 8 Resposta aos pedidos w esclarecimentos e às contestações apresentadas pelas partes. 2 952,00 Total 1 – Trabalho da perícia – (A): 35 16.660,00 Quanto aos trabalhos de logística necessários para o exercício da perícia Deslocamentos etc. Quant. Quilometragem (em km) Valor quilometro rodado (em R$) Total (em R$) 1 De Jundiaí a São Paulo: 130 km, 1h30 de percurso (um sentido), incluindo pedágios e estacionamento, ida e volta. 3 130 0,85 331,50 SUBTOTAL LOGÍSTICA 331,50 1 Aluguel de sala de reunião para encontro com assistentes técnicos. 1 - 450,00 450,00 Total 2 – Logística – (B) 781,50 Total (A + B) (honorários projetados) 17.441,50 Honorários solicitados 17.400,00 Obs.: quadro não oficial, apenas uma referência. Fonte: adaptado de SESCON RS (2021). 41 É importante ressaltar que a referência não oficial de valor da hora de trabalho do Perito Contábil é um quadro produzido pelo SESCON RS (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis do Rio Grande do Sul), uma vez que o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) opta por não produzir quadros dessa natureza sob o risco de isso caracterizar- se como regulamento de preços em um mercado livre de serviços contábeis. Porém, é oportuno se ter essa referência informal. Conforme Quadro 1, a sugestão é pedir honorários no valor de 65% da referência do SESCON RS, com seu critério próprio, ponderando o mercado de serviços contábeis, a economia e o seu potencial de trabalho. Cada perito contábil tem total liberdade e autonomia para propor os honorários que serão suportados pelas partes em um processo judicial, mediante homologação do juiz de Direito. Na esfera arbitral, adaptem-se os procedimentos. Sá (2019) propõe esta orientação para um plano de trabalho do perito contábil: Os planos periciais possuem conteúdo suficiente para que a opinião seja transmitida pelo perito, assim como possa satisfazer os que requereram a verificação e opinião. Não há como padronizar, pois muitos são os casos que ocorrem [...]. O importante é que os planos sigam os itens que compõem o objeto de indagação. Assim, por exemplo, em uma perícia administrativa em que se examina a atuação de um chefe de almoxarifado, o objetivo é saber se ele desviou materiais do estoque, visto que há uma acusação de que ele tem vendido materiais a atravessadores, tirando proveito próprio, e de que o último inventário feito não conseguiu apurar diferenças. Percebe-se, no caso, que a possibilidade é a da manipulação nos registros de movimentação. Podem ocorrer duas hipóteses básicas: compras registradas com entradas “a menor” ou saídas “a maior”. O plano deve girar em torno de tais verificações. O conteúdo seria verificar as “entradas” contra as notas de compras e as “saídas” contra as requisições, e estas contra as ordens de produção. Isso porque, partindo-se das notas fiscais 42 de compras, se o registro de entrada foi “a menor”, logo isso será acusado; partilhando-se das ordens de fabricação contra as notas de requisições de estoques, deve-se, também, se houver, detectar a diferença. Isso porque os “saldos” de cada item do estoque conferem com os “levantamentos físicos” que foram realizados. (grifo nosso). (SÁ, 2019, p. 34) Assim, percebe-se que o plano de trabalho do Perito Contábil é flexível e adaptável a cada caso. Além das razões naturais de um planejamento, é fundamental que ele seja feito, pois o pedido de honorários é feito em função dele. 3. Atividades do Perito Contábil sob a ótica do Novo Código de Processo Civil Sá (2019) diz que o Novo Código de Processo Civil (NCPC), Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015, obviamente no âmbito jurisdicional, trata da aplicação das normas processuais fundamentais. Na esfera da Arbitragem, com grau maior de liberdade, deve-se adaptar os procedimentos. Assim, o NCPC preceitua o seguinte quanto ao Perito Contábil. Artigo 95. Cada parte adiantará a remuneração do assistente técnico que houver indicado, sendo a do perito adiantada pela parte que houver requerido a perícia ou rateada quando a perícia for determinada de ofício ou requerida por ambas as partes. § 1º O juiz poderá determinar que a parte responsável pelo pagamento dos honorários do perito deposite em juízo o valor correspondente. § 2º A quantia recolhida em depósito bancário à ordem do juízo será corrigida monetariamente e paga de acordo [...]. § 3º Quando o pagamento da perícia for de responsabilidade de beneficiário de gratuidade da justiça, ela poderá ser: I–custeada com 43 recursos alocados no orçamento do ente público e realizada por servidor do Poder Judiciário ou por órgão público conveniado; II–paga com recursos alocados no orçamento da União, do Estado ou do Distrito Federal, no caso de ser realizada por particular, hipótese em que o valor será fixado conforme tabela do tribunal respectivo ou, em caso de sua omissão, do Conselho Nacional de Justiça. (BRASIL, 2015) Ainda sobre a atividade do Perito Contábil, preceitua o NCPC: Artigo 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. § 1º Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado [...] § 5º Na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado pelo tribunal, a nomeação do perito é de livre escolha pelo juiz e deverá recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do conhecimento necessário à realização da perícia. Artigo 157. O perito tem o dever de cumprir o ofício no prazo que lhe designar o juiz, empregando toda sua diligência, podendo escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. § 1º A escusa será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação, da suspeição ou do impedimento supervenientes, sob pena de renúncia ao direito a alegá-la [...]. Artigo 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis. (BRASIL, 2015) Também estabelece estes procedimentos paraa Perícia Contábil: 44 Artigo 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. § 1º Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito: I–arguir o impedimento ou a suspeição do perito, se for o caso; II–indicar assistente técnico; III– apresentar quesitos. § 2º Ciente da nomeação, o perito apresentará em 5 (cinco) dias: I– proposta de honorários; II–currículo, com comprovação de especialização; III–contatos profissionais, em especial o endereço eletrônico, para onde serão dirigidas as intimações pessoais. § 3º As partes serão intimadas da proposta de honorários para, querendo, manifestar-se no prazo comum de 5 (cinco) dias, após o que o juiz arbitrará o valor, intimando-se [...]. § 4º O juiz poderá autorizar o pagamento de até cinquenta por cento dos honorários arbitrados a favor do perito no início dos trabalhos, devendo o remanescente ser pago apenas ao final, depois de entregue o laudo e prestados todos os esclarecimentos necessários. § 5º Quando a perícia for inconclusiva ou deficiente, o juiz poderá reduzir a remuneração inicialmente arbitrada para o trabalho [...]. (BRASIL, 2015) Em complemento, sobre as atividades do Perito Contábil, segundo o NCPC: Artigo 473. O laudo pericial deverá conter: I–a exposição do objeto da perícia; II–a análise técnica ou científica realizada pelo perito; III–a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou; IV–resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público. § 1º No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões. 45 § 2º É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem como emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico do objeto da perícia. § 3º Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia. Artigo 474. As partes terão ciência da data e do local designados pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção da prova. (grifo nosso). (BRASIL, 2015) Sobre os grifos anteriores, esclarece-se o seguinte: a. A indicação da metodologia utilizada pelo perito contábil para a produção da prova pericial é fundamental, pois é a metodologia adequada que robustece a conclusão do trabalho pericial. Nesse ponto, é como se fosse, em um trabalho científico, desenvolver uma pesquisa com correta metodologia, aceita na comunidade acadêmica. b. Os quesitos apresentados pelas partes, pelo juiz de Direito ou pelo Ministério Público devem ser convenientemente respondidos e esclarecidos pelo Perito Contábil. Lembre-se de que quesitos são perguntas apresentadas no bojo do processo judicial antes da perícia, ou seja, pontos que as partes, o juiz ou o Ministério Público entendem que precisam ser esclarecidos para a solução da controvérsia e do conflito. c. Caso o perito contábil perceba que alguns quesitos lançados pelas partes são eminentemente procrastinatórios ou alheios ao objeto da perícia, deve registrar em sua resposta, com habilidade, diplomacia e rigor técnico. d. Apesar de o laudo pericial ser um documento técnico, ele vai ser utilizado por magistrados e outros agentes que não são 46 especializados em Ciências Contábeis; em função disso, o linguajar do laudo pericial tem que ser acessível e compreensível pelas pessoas em geral. e. O Perito Contábil deve ter total zelo em não emitir opiniões pessoais sobre algo, já que isso não é cabível. O que ele afirmar deve ter lastro no trabalho pericial realizado, segundo metodologia científica apropriada. f. O perito contábil deve fazer uma petição formal e inseri-la nos autos do processo judicial, a fim de contribuir para a publicidade de seus atos periciais e vincular as partes ao assunto, bem como propiciar tratamento igualitário e isonômico às partes. 4. Conclusão Não há como exagerar a importância do zelo profissional para o Perito Contábil. É claro que todo profissional deveria ser zeloso com o que faz, mas para o Perito Contábil isso é ainda mais relevante. Com seu trabalho na produção do laudo pericial, ele indica o que é verdadeiro, e um magistrado na esfera jurisdicional ou no âmbito arbitral utiliza essa verdade evidenciada, com metodologia científica, para decidir a solução do conflito. Assim, o Perito Contábil deve desenvolver seu trabalho com toda a atenção e zelo. Ele deve dar atenção para as grandes coisas e, sem preciosismo improdutivo, para as coisas pequenas também, verificando os detalhes que podem esconder perigos processuais. Referências BÍBLIA [on-line]. Eclesiastes 10:1. [s.d.]. Disponível em: https://www.bible.com/pt/ bible/1608/ECC.10.1.ARA. Acesso em: 7 jun. 2021. https://www.bible.com/pt/bible/1608/ECC.10.1.ARA https://www.bible.com/pt/bible/1608/ECC.10.1.ARA 47 BRASIL. 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