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1 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S 2 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S 3 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Gildenor Silva Fonseca PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua- ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S 6 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professora: Sabrina Pires Maciel 7 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Esta unidade consiste em uma visão geral e específica da área de análises clínicas. O tópico "exames laboratoriais" será abordado com enfoque específico nas áreas de bioquímica, endocrinologia, mi- crobiologia, parasitologia, uroanálise, imunologia, micologia e hemato- logia, cada qual relacionada aos principais conceitos, processamento de amostras, patologias associadas e fatores que interferem nos resul- tados, uma vez que o laboratório é um ambiente completamente hostil, necessitando de pleno conhecimento de suas atividades. A abordagem justifica-se pela necessidade dos exames laboratoriais para prevenção, diagnóstico, tratamento e acompanhamento de doenças, os quais au- xiliam o médico no prosseguimento da situação em que o paciente se encontra. Portanto, é de extrema importância o conhecimento teórico e prático para a formação do profissional. Análises clínicas; Exames laboratoriais; Diagnóstico. 9 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 BIOQUÍMICA CLÍNICA E ENDOCRINOLOGIA LABORATORIAL Apresentação do Módulo ______________________________________ 11 12 24 Introdução à Bioquímica Clínica ________________________________ Fatores Interferentes nos Resultados ____________________________ CAPÍTULO 02 CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE E EXAMES LABORATORIAIS: UMA VISÃO DA IMUNOLOGIA E HEMATOLOGIA CLÍNICA Imunologia ____________________________________________________ Hematologia __________________________________________________ Grupo Sanguíneo e Fator Rh ___________________________________ O Sistema de Coagulação ______________________________________ Recapitulando _________________________________________________ Principais Exames Bioquímicos e Diagnósticos _________________ Recapitulando _________________________________________________ Coleta e Processamento de Amostras ___________________________ 33 40 44 46 50 16 28 13 CAPÍTULO 03 MICRORGANISMOS E DOENÇAS ASSOCIADAS Interação Patógeno – Hospedeiro _______________________________ Microbiologia __________________________________________________ 55 56 10 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Micologia ______________________________________________________ Uroanálise _____________________________________________________ Parasitologia __________________________________________________ Recapitulando _________________________________________________ Fechando a Unidade ___________________________________________ Referências ____________________________________________________ 70 65 73 76 81 84 11 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Os exames laboratoriais são uma parte complementar, porém, fundamental para o diagnóstico de uma patologia. Pesquisas indicam que, no Brasil, os custos anuais com assistência à saúde representam cerca de 2,3%. Ainda assim, são importantes na tomada de decisão dos médicos, devido à variedade de informações que um exame pode oferecer. Os exames laboratoriais têm como função diagnosticar, tratar, monitorar e, muitas vezes, prevenir doenças graves, bem como auxiliar na coleta e registro de dados epidemiológicos. Grande parte das deci- sões médicas se baseia em resultados laboratoriais, os quais exigem técnicas minimamente invasivas e rápidas, capazes de rastrear diferen- tes sistemas. Com o passar dos anos, a sociedade busca opções preventivas para manter uma melhor qualidade de vida. Diante disso, a ciência e a tecnologia vêm desenvolvendo novos exames laboratoriais, cada vez mais específicos e de alta confiabilidade, no intuito de prevenir doenças crônicas e, em alguns casos, diagnosticá-lasprecocemente, aumentan- do as chances de cura e tratamentos especializados. O corpo de funcionários de um laboratório engloba biomédi- cos, farmacêuticos bioquímicos e técnicos, habilitados e capacitados com conhecimento suficiente para exercer tal função. Uma vez que o sistema de saúde depende de resultados confiáveis, torna-se de grande responsabilidade os cuidados desses profissionais, desde a recepção até a liberação do laudo. Contudo, é importante destacar que as análises estão sujeitas a erros. O aparecimento de fatores interferentes acontece com frequên- cia e acaba comprometendo a interpretação apropriada do resultado. Diante disso, é importante conhecer também os fatores capazes de afe- tar os resultados e como proceder para evitá-los. Uma vez que resultados fidedignos são essenciais ao diagnós- tico, os profissionais de laboratório são tão importantes quanto os pró- prios médicos. Sendo assim, todo profissional de saúde deve conhecer os sistemas que compõem o corpo humano, quais os exames necessá- rios para cada situação, patologias associadas, montando-se, assim, o conjunto final que contribui para o diagnóstico e a prevenção de doen- ças, buscando oferecer a qualidade de vida que a sociedade busca. 12 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S INTRODUÇÃO À BIOQUÍMICA CLÍNICA Também conhecida como química clínica e química patológica, a bioquímica clínica é o maior setor dentro de um laboratório e engloba a análise dos componentes químicos, fornecendo informações impor- tantes sobre os diferentes sistemas e auxiliando no diagnóstico, prog- nóstico, tratamento e monitoramento de doenças. Inicialmente, é importante o conhecimento do fluxo de trabalho em um laboratório de análises clínicas, que é dividido nas seguintes fases: a) pré-analítica, b) analítica e c) pós-analítica (MENDES & SU- MITA, 2010). Estas fases englobam desde a recepção até a liberação do resultado. A recepção se inicia na fase pré-analítica. Nessa fase, o pacien- te recebe as instruções para o exame, como tempo de jejum, tubo e vo- BIOQUÍMICA CLÍNICA & ENDOCRINOLOGIA LABORATORIAL A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S 13 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S lume de urina e fezes a ser(em) coletado(s). O profissional é responsável pela identificação e coleta da amostra, respeitando as normas de pro- cessamento, transporte e armazenamento, garantindo mínimas chances de erros, tópico que será discutido adiante, ainda neste capítulo. A fase analítica consiste no procedimento dos testes, onde a amostra é processada e inserida no equipamento, utilizando os reagen- tes e as metodologias adequados. A determinação do analito se baseia na reação do mesmo com um ou mais reagentes, visando à formação de um produto final, medido por colorimetria; ou seja, o equipamento emite a coloração, que é lida através de comprimento de onda. Para que os resultados sejam confiáveis, é importante que os controles de qualidade interno e externo estejam em dia, garantindo confiabilidade e a acreditação do laboratório. Segundo o International Vocabulary of Basic and General Terms in Metrology: O conjunto de procedimentos de trabalho, equipamentos, reagentes ou su- primentos necessários para a realização do exame laboratorial e a geração do seu resultado designam o sistema analítico de um laboratório (MENDES & SUMITA, 2010, p.15). Os procedimentos realizados nas fases pré-analítica e analíti- ca requerem uma revisão final, que inclui a conferência dos resultados e assinatura do laudo, caracterizando a fase pós-analítica. A fase pós-a- nalítica consiste nos cálculos baseados nas metodologias empregadas em cada exame, conferência dos resultados e valores de referência, liberação dos laudos, armazenamento da amostra para possíveis rea- nálises, arquivamento dos resultados em um bom sistema computacio- nal, e em alguns casos, liberação de resultados on-line. O laudo final é composto pelos dados do paciente e do médico, além dos exames solicitados, tipo de amostra, analito, valores de referência, método em- pregado, resultado de cada dosagem, data da liberação e assinatura do profissional devidamente registrado em seu conselho. COLETA E PROCESSAMENTO DE AMOSTRAS As principais amostras analisadas são o sangue (plasma ou soro), urina, fezes e, em alguns casos específicos, líquor, aspirados e secreções. Diferentes dosagens exigem procedimentos específicos. A figura 1 ilustra os anticoagulantes utilizados e as dosagens frequente- mente realizadas no soro e plasma. Portanto, a coleta deve ser realiza- da de forma correta, respeitando o tempo de torniquete, ordem dos tu- bos, anticoagulantes, armazenamento e transporte (GAW et al., 2015). 14 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Após a passagem pela recepção, o paciente segue para a sala de coleta. No presente capítulo, iremos abordar dosagens bioquímicas e hormonais no soro. Amostras de urina e demais amostras serão dis- cutidas nos respectivos capítulos. Em relação à coleta de sangue, o acesso mais comum é o venoso e em casos solicitados pelo médico, a coleta arterial deve ser realizada, normalmente através da artéria radial ou braquial para análise dos gases sanguíneos. Para realizar a coleta arterial, deve-se utilizar uma seringa com heparina, conforme ilustrado na figura 1, para evitar coágulos capazes de alterar o resultado. Figura 1 - Frascos para amostras de sangue para exames bioquímicos específicos Fonte: Autora, 2021 Na prática laboratorial O flebotomista é o profissional responsável pela coleta das amostras. É importante que este profissional seja capacitado para tal procedimento, uma vez que é fundamental para a obtenção da amos- tra adequada. Na prática laboratorial, deve-se selecionar uma veia de maior calibre e evitar áreas expostas a terapias intravenosas, hemato- mas, enxertos e o lado da região onde aconteceu uma mastectomia. Deve-se, ainda, realizar a assepsia do local antes de puncionar a veia ou artéria utilizando álcool 70% para evitar possíveis infecções por mi- crorganismos presentes na pele. Observar a sequência dos tubos, o volume de sangue e ho- mogeneizar corretamente as amostras são procedimentos essenciais para iniciar a fase analítica adequadamente, quando as amostras são 15 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S centrifugadas para a separação do plasma ou soro. Em se tratando da fase analítica, os equipamentos mais utiliza- dos no setor de bioquímica são: a) Banho-maria: equipamento de aquecimento lento e unifor- me, que atinge temperatura adequada para manter as amostras está- veis (RIBEIRO, 2013); b) Centrífuga: equipamento essencial para o laboratório, por sua importância na separação do plasma ou soro a ser utilizado. O tem- po e a rotação devem seguir o padrão, o que varia de acordo com o fornecedor; c) Espectrofotômetro: laboratórios de médio e grande porte uti- lizam equipamentos automatizados, que realizam as leituras das amos- tras, de acordo com as programações computacionais, e armazenam os dados de cada amostra, facilitando a interpretação e a rotina do res- ponsável técnico. A figura 2 resume o procedimento laboratorial abordando as três fases. Figura 2 - Procedimento laboratorial Fonte: Autora, 2021. 16 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S PRINCIPAIS EXAMES BIOQUÍMICOS E DIAGNÓSTICOS O perfil bioquímico se baseia no conjunto de ensaios capa- zes de avaliar as funções dos sistemas que compõem o organismo. Diferentes dosagens são usadas para avaliar o perfil bioquímico, dentre eles, lipídeos,eletrólitos, proteínas, enzimas, ferro, além dos diferentes marcadores capazes de rastrear o sistema hepático, renal e cardíaco. Os exames de sangue podem se classificar em básicos, es- pecializados ou emergenciais. Os básicos são realizados como rotina e solicitados com maior frequência para monitorar doenças crônicas, como diabetes. Os testes emergenciais, normalmente realizados em la- boratórios de hospitais, devidamente equipados para tal, são coletados e realizados rapidamente, como a gasometria, geralmente associados a quadros graves. Por outro lado, os exames especializados não são rea- lizados em todos os laboratórios e compõem-se de parcerias com gran- des laboratórios de referência como, por exemplo, hormônios (TSH, T4, T3), análise de DNA, vitaminas e drogas. Como já mencionado, os exames laboratoriais fornecem in- formações valiosas a respeito dos sistemas e auxiliam no diagnóstico e monitoramento de doenças. No presente capítulo, iremos tratar dos principais biomarcadores renais, hepáticos, cardíacos e metabólicos, bem como das dosagens hormonais mais comuns e diagnósticos de doenças associadas. Marcadores renais Os rins possuem importante capacidade de filtração glomeru- lar, secreção e reabsorção de substâncias, e também agem na regula- ção da concentração de eletrólitos e manutenção de compostos extra- celulares, o que torna importante o monitoramento de suas funções. A avaliação da função renal é um dos testes mais antigos re- lacionados à área laboratorial (ANDRIOLO, 2010). Para avaliar a fun- ção renal são realizados exames de sangue e urina, que também serão abordados adiante, no tópico “Uroanálise”. Contudo, dosagens no soro auxiliam no diagnóstico de disfunções renais. A disfunção renal está associada à perda da capacidade dos rins, comprometendo a filtração de resíduos, sais e líquidos. Os exames laboratoriais solicitados para a avaliação da função renal estão descritos no quadro 1, acompanhados de seus valores de referência e patologias associadas. 17 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S O equilíbrio químico do corpo se deve, em grande parte, ao trabalho dos rins que, quando comprometidos, podem causar graves prejuízos, em alguns casos, necessitando de hemodiálise. Para com- preender melhor a importância dos rins e as doenças mais comuns, acesso do site, conforme descrito abaixo: Título: Entenda a Nefrologia Data da Publicação: 01 de dezembro de 2020 Fonte: <https://www.sbn.org.br>. Quadro 1 - Avaliação da função renal AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL VALORES DE REFERÊNCIA DIAGNÓSTICOS Ureia Creatinina 16-40 mg/dL 0,6-1,2 mg/dL Doença renal crônica; dano tubular ou lesão muscular; insuficiência renal; infecção urinária. Fonte: Autora, 2021. Marcadores hepáticos O fígado é o maior órgão do corpo humano e exerce importante função metabólica, além de sintetizar sais biliares, carboidratos, proteí- nas (p. ex.: albumina) e lipídio, armazenar glicogênio e distribuir glicose para células, proporcionando energia para os tecidos. O fígado também exerce funções digestivas, destacando-se a secreção da bile. A bile é secretada em decorrência da conversão da bilirrubina indireta em bilirrubina conjugada, posteriormente armazena- da na vesícula biliar, onde atua na digestão de gorduras e captação de nutrientes. No entanto, patologias associadas à inflamação ou lesão no fígado ocasionam perda dessas funções. Essas patologias podem ser diagnosticadas pela dosagem de transaminase glutâmico oxalacética (TGO), transaminase glutâmica pirúvica (TGP), bilirrubinas (Bb), fosfa- tase alcalina (FAL), conforme mostra o quadro 2. 18 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Quadro 2 - Avaliação da função hepática AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO HEPÁTICA VALORES DE REFERÊNCIA DIAGNÓSTICOS TGO TGP GGT FAL Bb 5-50 U/L 7-56 U/L H:10-50 U/L; M:7-32 U/L Até 250 U/L Direta 0,3 mg/dL; indireta 0,2-0,8 mg/dL; recém-nascidos até 6 mg/dL Doença hepatocelular Hepatites virais agudas Obstrução biliar; hepatocarcinoma; hepatite induzida por medicamentos Icterícia; cirrose; carcinomas Doença hepática crônica. Fonte: Autora, 2021. Marcadores cardíacos Doenças cardiovasculares são a causa mais frequente da pro- cura de médicos na atualidade. Os exames laboratoriais complementam exames específicos, como eletrocardiograma, e auxiliam no diagnóstico de doenças coronarianas. Entre os biomarcadores estão as enzimas e proteínas, que aparecem no soro após a lesão. A lesão muscular car- díaca induz necrose e maior atividade de enzimas como CPK e CKMB nos períodos iniciais de dor. As enzimas TGO e LDH também aumentam nas primeiras 48 horas, retornando aos níveis normais entre quatro e sete dias após a dor, portanto, fique atento ao vivenciar esse tipo de situação. Além das enzimas, a troponina, uma proteína importante no processo de contração muscular, é frequentemente solicitada. Trata-se de um marcador altamente específico para o coração, que permanece elevado por mais tempo em comparação aos demais biomarcadores (Ver "troponina: estrutura, fisiopatologia e importância clínica para além 19 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S da Isquemia miocárdica", no item 1.5). O quadro a seguir destaca os principais marcadores bioquímicos e as possíveis patologias associadas. Quadro 3 - Avaliação da função cardíaca AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA VALORES DE REFERÊNCIA DIAGNÓSTICOS CPK CKMB Troponina LDH TGO 33-211 U/L Até 5 ng/dL Até 0,1 ng/dL 120-246 UI/L 5-50 U/L Miopatias Síndrome coronariana aguda; necrose miocárdica Infarto agudo do miocárdio Insuficiência cardíaca. Fonte: Autora, 2021 Marcadores metabólicos De acordo com a literatura, o metabolismo designa o conjunto de reações bioquímicas que ocorre no interior das células e está re- lacionado a diversos compostos, como lipídeos, glicose, carboidratos, entre outros, com o objetivo final de obtenção de energia e nutrientes. O metabolismo é mediado por enzimas e caracterizado por duas vias metabólicas, catabolismo e anabolismo, as quais não serão abordadas neste módulo. Aqui iremos abordar os principais biomarcadores meta- bólicos utilizados na clínica laboratorial, que auxiliam no diagnóstico de doenças e/ou síndromes metabólicas. Perfil lipídico Os lipídeos são fontes de energia essenciais para manutenção dos processos metabólicos sob forma de ácido graxo e colesterol. O colesterol é o lipídeo biologicamente mais relevante e participa não so- mente da composição das membranas celulares, como da produção de hormônios e ácidos biliares. É dividido em frações lipoprotéicas (HDL, LDL e VLDL): a) A fração HDL (alta densidade) remove o colesterol do plasma e tecidos extra-hepáticos e os transportam para o fígado, con- vertido em sais biliares e excretados na vesícula; b) A LDL (fração de baixa densidade), conhecida como “colesterol ruim” por ser a molécula mais aterogênica do sangue, está intimamente associada com o desen- volvimento de dislipidemias e doenças arteriais coronarianas e, diante disso, são fundamentais no diagnóstico dessas doenças; e c) A VLDL 20 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S ou fração de muito baixa densidade medeia a precursão do LDL sendo responsável pelo transporte de triagliceróis e colesterol para os tecidos extra-hepáticos, uma vez sintetizadas no fígado (FALUDI et al., 2017). Ainda existem os triglicérides, que são ácidos graxos sinteti- zados no fígado e no intestino, cuja função é armazenar e transpor- tar substâncias. Sabe-se que os triglicérides circulantes representam a maior quantidade de gordura do organismo humano e que alterações no perfil lipídico associadas aos triglicérides caracterizam doençascomo hipoparatireoidismo, síndrome nefrótica e diabetes mellitus e, por isso, são tão essenciais no diagnóstico. Conforme mostra o quadro 4, o perfil lipídico é o conjunto de exames que determina a análise do colesterol total e suas frações, fre- quentemente solicitados para monitoramento e diagnóstico de doenças metabólicas. Diversos estudos mostram que as dislipidemias estão en- tre os principais fatores de risco para doenças crônicas, e complemen- tados por pesquisas epidemiológicas que destacam o aumento da taxa de mortalidade por aterosclerose e doenças relacionadas, devido à má qualidade de alimentação da população. Quadro 4 - Avaliação do perfil lipídico AVALIAÇÃO DO PERFIL LIPÍDICO VALORES DE REFERÊNCIA DIAGNÓSTICOS Colesterol total LDL HDL Triglicérides < 170 mg/dL < 110 mg/dL > 45 mg/dL Até 150 mg/dL Síndrome metabólica, aterosclerose Insuficiência renal Doenças pulmonares. Fonte: Autora, 2021. Metabolismo ósseo Os ossos são metabolicamente ativos e sofrem processo de renovação constantemente. Sabe-se que grande parte do cálcio está presente nos ossos e é importante na manutenção de movimentos de contração e relaxamento muscular, na coagulação sanguínea e trans- missão de impulsos nervosos (VIEIRA, 1999). No entanto, a falha do metabolismo ósseo é característica de doenças que levam à osteopenia, como aparece durante a osteoporose. Doenças ósseas alteram o perfil bioquímico, especialmente de cálcio, fósforo, vitamina D e fosfatase alcalina. A análise desses parâmetros caracteriza os biomarcadores de metabolismo ósseo, destacados no quadro a seguir. Existem ainda outros marcadores específicos, como 21 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S colágeno e hidroxiprolina. Quadro 5 - Avaliação do metabolismo ósseo AVALIAÇÃO DO METABOLISMO ÓSSEO VALORES DE REFERÊNCIA DIAGNÓSTICOS Cálcio Fósforo Vitamina D Fosfatase óssea 8,5 mg/dL 2,5-4,5 mg/dL > 30 ng/dL 85-235 mg/dL Osteoporose Neoplasia óssea, mama, próstata, mieloma múltiplo Intoxicação por vitamina D Fonte: Autora, 2021 Marcadores de equilíbrio eletrolítico A água é o componente mais abundante no organismo, no qual estão diluídas inúmeras substâncias, entre elas, os eletrólitos. Os eletrólitos mais frequentemente analisados no laboratório de análises clínicas são o sódio, potássio, cloretos e, em alguns casos, os bicarbo- natos. Trata-se de exames básicos de rotina, devido à alteração em di- ferentes processos patológicos e, diante disso, deve-se correlacionar a avaliação desses eletrólitos com sintomas e suspeitas levantados pelo médico. Sódio, potássio, água e cloretos são ingeridos no organismo através da alimentação, secretados pelos rins e excretados pelo suor e fezes; e estão relacionados desde a desidratação até a insuficiência renal (Quadro 6). Quadro 6 - Avaliação do equilíbrio eletrolítico AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO ELETROLÍTICO VALORES DE REFERÊNCIA DIAGNÓSTICOS Sódio Potássio Cloreto 135-145 mmol/L 3,5-5,5 mmol/L 98-107 mmol/L Desidratação; desnutrição; síndrome da má absorção; diarreia Insuficiência cardíaca; insuficiência renal aguda e crônica Fonte: Autora, 2021. 22 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Glicose A glicose é uma importante fonte de energia celular, mantida em concentrações adequadas através de mecanismos regulatórios me- diados pela insulina e pelo glucagon (MOTTA, 2003). Em se tratando de alterações na glicose, a principal suspeita é diabetes. Após um diagnóstico de diabetes mellitus, deve-se reali- zar frequentemente o acompanhamento da concentração de glicose no sangue, que se dá através da glicemia em jejum e pós-prandial, acompanhado da hemoglobina glicada (descrita no quadro 7) que é um exame especializado realizado nos laboratórios de referência, os quais também são dosados na urina. Existem, ainda, os exames TOTG ou teste oral de tolerância à glicose, que também são avaliados em gestan- tes. Nesses casos, o paciente ingere uma quantidade de glicose diluída em água e a capacidade metabólica deste paciente é avaliada. Quadro 7 - Avaliação das concentrações de glicose no sangue ACOMPANHAMENTO DAS CONCENTRAÇÕES DE GLICOSE VALORES DE REFERÊNCIA DIAGNÓSTICOS Glicose Glicemia após estímulo Hemoglobina glicada Insulina Até 99 mg/dL < 140 mg/dL 4-5,6% < 140 mg/dL Diabetes Desnutrição Esteatose hepática Hiperglicemia/hipoglicemia Cirrose hepática Fonte: Autora, 2021. Marcadores hormonais Os hormônios são substâncias químicas importantes na regu- lação das células, após sua liberação mediada pelas glândulas endócri- nas. Diferentes glândulas secretam diferentes hormônios, dentre elas, destacam-se a hipófise, a tireoide, a paratireoide, a suprarrenal, o ová- rio e o testículo. Além disso, é importante destacar que as ações dos hormônios são específicas, inibindo ou ativando a atividade das células, após o reconhecimento com os receptores hormonais presentes em sua superfície. O quadro 8 descreve os principais hormônios e as doenças associadas. 23 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Os exames laboratoriais complementam o diagnóstico de dis- funções, diante da sintomatologia inespecífica de determinados pacien- tes. Portanto, é importante o acompanhamento com um médico que solicite dosagens hormonais de rotina. Quadro 8 - Principais hormônios e glândulas relacionadas GLÂNDULA HORMÔNIOS DIAGNÓSTICOS HIPÓFISE SUPERIOR Ocitocina Síndrome de Williams HIPÓFISE ANTERIOR Hormônio do crescimento (GH); Hormônio tireoestimulante (TSH); Hormônio lutelizante (LH); Prolactina gigantismo ou acromegalia; hipertireoidismo, Tireoidite de Hashimoto, Doença de Graves; produção de leite pelas mamas, perda da libido, irregularidades menstruais, infertilidade e alterações ósseas CÓRTEX SUPRARRENAL Cortisol; aldosterona Hipertireoidismo; depressão; tumores; Síndrome de Cushing TIREÓIDE Tiroxina (T4); Triiodotironina (T3); calcitonina Hipertireoidismo ILHOTAS DE LANGERHANS (PÂNCREAS) Insulina; glucagon Diabetes; Síndrome metabólica; Insulinoma OVÁRIOS Estrogênio; progesterona Câncer endometrial 24 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S TESTÍCULO Testosterona Andropausa; deficiência de testosterona; Diabetes Mellitus; depressão PARATIREÓIDE Paratormônio Hipoparatireoidismo PLACENTA Hormônio Gonadotrofina coriônica (HCG) Neoplasia trofoblástica gestacional Fonte: Autora, 2021. FATORES INTERFERENTES NOS RESULTADOS No passado, os exames laboratoriais eram realizados de for- ma manual, o que de fato colaborava com o grande número de erros na fase analítica. Com o avanço da automatização de equipamentos, os laboratórios estão abandonando metodologias manuais. Além disso, programas de controle de qualidade (PGQ) vêm sendo adotados pelos laboratórios no intuito de reduzir erros e aumentar a confiabilidade. No entanto, grande parte dos laboratórios ainda vivencia situações de er- ros, incluindo erros pré e pós-analíticos. É importante destacar que a origem dos erros laboratoriais, bem como de erros médicos e outros, é multifatorial e, no caso das aná- lises clínicas, pode acontecer em qualquer fase do processo laborato- rial. Portanto, reconhecer os erros e estabelecer formas de reduzi-los é importante na gestão, e mais importante ainda é conhecer os principais fatores capazes de interferir no resultado. De acordo com a literatura, grande parte dos erros (70%) ocor- re durante a fase pré-analítica (LIPPI et al., 2013), o que sugere que, diante da grande preocupação com a fase analítica, aspectos iniciais importantes nas análises clínicas sejam deixados de lado. A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica recomenda regis- trar o horário da coleta,destacando o uso de medicamentos e outras observações importantes para a fase analítica e pós-analítica. Reco- menda-se também respeitar a ordem dos tubos, uso ou não de anticoa- gulantes e/ou conservantes específicos. A fase pré-analítica é importante de forma geral e requer aten- ção e capacitação. Além dos fatores mediados pelo profissional, fatores fisiológicos também podem alterar os resultados, tais como idade, sexo, 25 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S ciclo menstrual e gestação e, por isso, o contato com o paciente é es- sencial. Narayanan e Guder (2001) discutem em seu trabalho a impor- tância da fase pré-analítica e ressaltam que somente na última década essa fase recebeu a devida atenção, o que gerou o desenvolvimento de recomendações específicas padronizadas; e Costa e Moreli (2012) discutem os principais erros ocorridos nessa fase. A coleta adequada também garante a minimização de erros (conforme ilustrado na figura 2 deste capítulo). Assim, é importante se- guir os tubos e a ordem correta, como já foi descrito na figura 2. Ainda dentro do setor de coleta, o uso inadequado do garrote ou a demora no procedimento induz à hemólise, um fator capaz de interferir em diversas análises, como troponina, bilirrubina, LDH, TGO, TGP e outros. O local da punção também é importante e requer conhecimento de um profis- sional. Veias de difícil acesso tendem a resultar em amostras hemolisa- das, além do desconforto para o paciente. Embora não aconteça com grande frequência, os erros que ocorrem na fase analítica, muitas vezes, geram processos judiciais e preocupam os gestores de laboratório. No Brasil, desde a criação do Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ), dificilmente um erro de análise passa despercebido. A fase analítica se inicia com o preparo da amostra após a coleta. O não processamento ou o armazenamento incorreto é capaz de interferir no desempenho dos ensaios. Além disso, a amostra deve ser adequada, ou seja, uma amostra com coágulo ou hemólise pode prejudicar as análises ou até mesmo causar entupimento de agulhas, em casos de coágulos maiores. Como já mencionado, os controles de qualidade devem estar em dia, para garantir calibração e bom uso dos equipamentos. Muitos resultados falso-positivos ou negativos decorrem da falta de calibração e podem direcionar para um diagnóstico incorreto ou solicitação de exames desnecessários. A fase pós-analítica é a fase final do processo laboratorial. Er- ros pós-analíticos estão relacionados ao resultado final e entrega do laudo. Com o desenvolvimento de sistemas de interfaces, que utiliza a transferência de dados e descrições de valores de referência auto- máticos contribuiu para a redução de erros pós-analíticos. No entanto, a interpretação adequada do resultado é essencial para o diagnóstico e envolve tanto o responsável técnico do laboratório quanto o próprio médico, sugerindo que, em alguns casos, o médico pode ser contatado se necessário. Além disso, novas técnicas vêm sendo aplicadas e sugeridas aos laboratórios com o objetivo de minimizar erros nos três processos 26 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S laboratoriais, como descrito no livro "Gestão hospitalar" escrito por Moura e Viriato (2008). Diversos trabalhos são publicados anualmente com descrição de alternativas para minimizar tais erros. Plebani e Piva publicaram um artigo em 2010 discutindo os esforços que objetivam melhorar a confiabilidade dos resultados clínicos e a segurança do pa- ciente. Os autores também abordam uma ferramenta automatizada que vem sendo empregada para melhorar a comunicação e evitar erros. O quadro a seguir mostra as principais causas de erros em cada fase, baseado em diferentes artigos. Quadro 9 - Principais fatores que interferem na fase pré-analítica FASE PRÉ-ANALÍTICA FASE ANALÍTICA FASE PÓS- ANALÍTICA Fatores biológicos Fatores mediados pelo profissional Fatores mediados pelo profissional Fatores mediados pelo profissional Idade Coleta inadequada, uso prolongado do garrote, sequência inapropriada dos tubos, uso incorreto dos anticoagulantes, local da punção inadequado Armazenamento incorreto (temperatura ou tubos inadequados), transporte para outro laboratório em frascos incorretos Erros de digitação e interface Sexo Amostra coagulada ou hemolisada Equipamentos descalibrados ou Reagentes vencidos Interpretação e verificação inadequada do resultado final 27 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Raça Erros na identificação da amostra Biossegurança, tubos quebrados, falta de balanceamento na centrífuga Valores de referência incorretos Ciclo menstrual Amostra insuficiente ou incorreta Amostra inadequada ou insuficiente Atraso na entrega do laudo final Gestação Transporte (ou envio) em tubos ou frascos inadequados para laboratórios de referência Amostra coagulada ou hemolisada Dieta, medicamentos, Jejum, e atividades físicas Profissionais não capacitados ou distraídos Fonte: Autora, 2021. Os exames laboratoriais estão entre os principais recursos de apoio designados a diagnósticos de doenças. O presente capítulo abor- dou aspectos laboratoriais desde a fase pré-analítica até a fase pós-a- nalítica, destacando o setor de bioquímica, que é o maior setor dentro de um laboratório. A bioquímica também está relacionada com o avanço tecnológico devido à evolução constante da tecnologia de equipamen- tos laboratoriais, garantindo cada vez mais a confiabilidade dos exa- mes, além da instalação de programas de controle de qualidade cada vez mais eficientes. Conhecer e entender cada setor é essencial para a organização do laboratório, garantindo um bom ambiente de trabalho e obtenção de bons resultados. 28 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2017 Banca: IBFC Órgão: HUGG-UNIRIO/EBSERH Prova: IBFC Nível: Superior. Assinale a alternativa correta sobre as enzimas comumente avalia- das em laboratórios clínicos. a) A elevação da fosfatase alcalina está sempre associada com dano hepático. b) A aspartato aminotransferase é também conhecida como TGP (tran- saminase glutâmica oxalacética) e sua elevação indica infarto agudo do miocárdio. c) A gamaglutamil transferase (Gama GT) está elevada em indivíduos que ingerem grandes quantidades de álcool. d) A desidrogenase lática (DHL) é uma enzima utilizada, exclusivamen- te, para avaliação de hemólises. e) A creatinofosfoquinase (CPK) é um excelente marcador de dano he- patocelular. QUESTÃO 2 Ano: 2017 Banca: IBFC Órgão: HUGG-UNIRIO/ EBSERH Prova: IBFC Nível: Superior. No processo de coleta de sangue para investigação laboratorial pode ocorrer hemólise com consequente liberação de constituin- tes intracelulares. A ocorrência de hemólise acentuada resulta na elevação da concentração de alguns elementos, especialmente aqueles que apresentam maior concentração intracelular do que no plasma. Dentre os eletrólitos citados abaixo, assinale a alternativa cujo parâmetro não sofre interferência significativa da hemólise: a) Potássio b) Sódio c) Magnésio d) Fósforo e) Cálcio QUESTÃO 3 Ano: 2017 Banca: IBFC Órgão: HUGG-UNIRIO/ EBSERH Prova: IBFC Nível: Superior. A lipase é uma enzima altamente específica que catalisa a hidrólise dos ésteres de glicerol de ácidos graxos de cadeia longa (triglicerí- deos) em presença de sais biliares e um cofator chamado colipase. A medida da atividade da lipase no soro, plasma, líquido ascítico e 29 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S pleural, é usada, exclusivamente, para o diagnósticolaboratorial. Assinale a alternativa correta que indica a patologia diagnosticada pela análise da medida da lipase: a) Patologias hepáticas b) Patologias reais c) Patologias cardíacas d) Patologias ósseas e) Patologias pancreáticas QUESTÃO 4 Ano: 2017 Banca: PUC-PR Órgão: Prefeitura de São José dos Pi- nhais Prova: Farmacêutico bioquímico Nível: Superior. Doenças agudas ou crônicas que afetam a função hepática podem afetar o metabolismo hepático de alguns fármacos. Essas condi- ções incluem hepatite alcoólica, cirrose, hepatite crônica ativa, cir- rose biliar e hepatite viral aguda ou induzida por fármacos. Por exemplo, as meias-vidas (t1/2) do clordiazepóxido e do diazepam em pacientes com cirrose ou hepatite viral aguda são muito ele- vadas, com correspondente aumento de seus efeitos. Em con- sequência, estes efeitos podem causar coma em pacientes com doença hepática, mesmo quando administradas doses ordinárias desses fármacos. De posse dessas informações, o diagnóstico dessas doenças é importante antes do início da terapia com esses fármacos. Em caso positivo, a posologia deve ser alterada, se não for possível usar outros fármacos que não tenham a farmacociné- tica afetada pela doença hepática. Assinale a alternativa que traga somente os exames bioquímicos que podem ser usados para o diagnóstico de danos hepatocelulares. a) Atividade das enzimas Aspartato Aminotransferase (AST), Alanina Aminotransferase (ALT), Fosfatase. Alcalina (ALP) e Gama-Glutamil- transferase (γ-GT). b) Bilirrubinas, Creatinina Sérica e Glicemia de Jejum. c) Atividade da Butirilcolinesterase, Bilirrubinas e Glicemia de Jejum. d) Atividade das Enzimas Fosfatase Alcalina (ALP), Gama-glutamil- transferase (γ-GT) e Glicemia de Jejum. e) Creatinina Sérica, Ureia Urinária e Glicemia de Jejum. QUESTÃO 5 Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: Prefeitura de Cerquinho SP Pro- va: Biomédico Nível: Superior. A doença de Graves e tireoidite de Hashimoto são doenças au- toimunes que atingem a tireoide. Laboratorialmente, essas duas 30 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S doenças caracterizam-se, respectivamente, pela alteração nos se- guintes exames laboratoriais: a) níveis elevados de TSH e positivo para anticorpos contra o receptor de TSH. b) positivo para anticorpos antitireoglobulina e positivo para anticorpos antirreceptor de TSH. c) níveis baixos de TSH e positivo para anticorpos antirreceptor de TSH. d) positivo para anticorpos antirreceptor de TSH e positivo para anticor- pos antitireoperoxidase (microssomal). e) positivo para anticorpos antitireoglobulina e níveis baixos de TSH. QUESTÃO DISSERTATIVA Paciente A.E.J, 32 anos, chega na emergência do consultório médico se queixando de fraqueza, fadiga, náusea e vômito recorrente e relata constante vontade de urinar, boca seca e sede. A.E.J realizou um exa- me de urina EAS e não foi detectada infecção. O médico, então, solicita alguns exames de sangue: glicose, ureia, creatinina, sódio, potássio e nova amostra para EAS. Qual a provável doença? Os parâmetros solicitados pelo médico foram adequados e su- ficientes? Se não, quais seriam os exames complementares necessá- rios para fechar um diagnóstico? TREINO INÉDITO A.K, técnica flebotomista que relatou ter experiência em coleta de san- gue, se depara com um paciente obeso, negro, cujo motivo da procura ao médico foi monitoramento de doença hepática crônica. A coleta foi um pouco demorada, uma vez que o paciente tinha veias difíceis, mas a amostra foi suficiente. Ao centrifugar e separar o soro, a bioquímica repara que a amostra está hemolisada. Quais parâmetros podem ter a análise prejudicada? Qual a possível causa da hemólise? a) Todas as dosagens solicitadas serão prejudicadas, uma vez que a hemólise interfere em todas as análises bioquímicas. A causa da hemó- lise foi a quantidade de exames solicitados pelo médico. b) Diante do monitoramento de doença hepática, possivelmente o médi- co solicitou as dosagens de bilirrubina, TGO e TGP, cuja análise sofrerá interferência e prejudicará o resultado. A possível causa da hemólise foi o difícil acesso e demora na coleta. c) Para diagnóstico ou monitoramento de qualquer doença hepática são solicitados os exames Glicose e Gama GT, no entanto, esses parâme- tros não são afetados pela hemólise, que possivelmente foi causada pela doença hepática do paciente. 31 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S d) A causa da hemólise foi a coleta demorada. e) As dosagens bioquímicas que podem ser afetadas pela hemólise são somente da bilirrubina, sendo assim, o paciente não precisa repetir a coleta. NA MÍDIA A IMPORTÂNCIA DA FASE PRÉ-ANALÍTICA O noticiário escolhido para a primeira discussão foi: A importância da fase pré-analítica no diagnóstico clínico, publicado em junho de 2019. Uma vez que já se sabe da alta incidência de erros laboratoriais na fase pré-analítica, ou seja, fase que antecede a realização dos exames. Torna-se importante ressaltar esse aspecto, além do que foi visto du- rante esta unidade, pelo fato de que muitos laboratórios ainda passam por esse tipo de situação. A fase pré-analítica envolve todos os fato- res necessários para a realização do exame durante a fase analítica. Erros ocorrem desde a coleta, identificação da amostra e triagem até o preparo do material. A notícia publicada aborda que "nem sempre é possível identificar todos os problemas. Contudo, existe uma ferramen- ta que permite minimizá-los: o sistema de qualidade." Este fato remete à criação dos programas de controle de qualidade, como o PNCQ, que auxiliam, de certa forma, no treinamento e na capacitação do profissio- nal, que muitas vezes pode estar pecando na fase pré-analítica. Como visto anteriormente, diversos são os fatores interferentes nas fa- ses laboratoriais, que vão desde a coleta à falta de interface para ar- mazenar os dados. Justifica-se a importância da fase pré-analítica para minimizar os erros precoces das análises clínicas, visando não somente focar na realização do exame propriamente dito, uma vez que os ana- litos são ferramentas importantes e que muitas famílias podem estar preocupadas com o resultado final. Título: A importância da fase pré-analítica Data de Publicação: 07/06/2019 Fonte: https://diagno.ind.br/a-importancia-da-fase-pre-analitica-no-diag nostico-clinico/ NA PRÁTICA A vivência laboratorial é uma fase importante para o profissional habi- litado em análises clínicas. Para obter um bom conhecimento inicial, mesmo sem vivência na prática, é necessário conhecer as técnicas, desde a coleta e recepção até a liberação do laudo. O contato com o paciente é essencial para a fase pós-analítica, tema abordado neste capítulo, e inclui entender o motivo que levou este pa- ciente a procurar o médico, quais as suspeitas e possíveis fatores que 32 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S podem influenciar no resultado. Por exemplo, se o profissional atende um paciente diabético ou imunocomprometido, analisa seu material e detecta alterações em diferentes dosagens, já está preparado para libe- rar o resultado. Da mesma forma, é interessante comparar resultados anteriores, dialogar com o médico, para garantir segurança no trabalho. Excesso de informação é importante para um profissional de análises clínicas. Fonte: A autora. PARA SABER MAIS Sugestão de leitura: Técnicas para coleta de sangue Publicação: 2001 Link: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0108tecnicas_sangue.pdf Sugestão de leitura: Guia prático para coleta de sangue Link: https://lidoc.ccb.ufsc.br/files/2013/10/Guia_de_Coleta_de_Sangue.pdf Sugestão de leitura: SITE CONTROLAB para entender sobre controle de qualidade Link: https://controllab.com/ Sugestão de leitura: Recomendações da sociedade brasileira de pato- logia clínica/medicinalaboratorial (SBPC/ML): Fatores pré-analíticos e interferentes em ensaios laboratoriais Publicação: 2018 Link: https://controllab.com/pdf/livro_sbpc_interferentes_2018.pdf Sugestão de leitura: Soro versus plasma Link: https://www.youtube.com/watch?v=RaLcMOh--XY Sugestão de leitura: Guia definitivo para prevenção de hemólise Link: https://gisleinesousa.kpages.online/ebook Sugestão de vídeo: Tubos para coleta de sangue Publicação: 3 de outubro de 2018 Link: https://www.youtube.com/watch?v=dsEMUhWgN3I 33 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S IMUNOLOGIA O termo imunidade deriva da palavra immunitas, referente à proteção. Portanto, a imunologia se trata do estudo da defesa do orga- nismo contra o não próprio, seja ele infeccioso ou não. De acordo com a literatura, o sistema imune consiste na reação contra componentes de microrganismos ou macromoléculas, proteínas e polissacarídeos, inde- pendente das consequências fisiológicas ou patológicas dessa reação (ABBAS, 2015). Com base nesse conceito, a imunologia tem a função de pre- venir e/ou resolver infecções através de respostas programadas, que também podem reagir contra o próprio corpo, como ocorre nas doenças CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE & EXAMES LABORATORIAIS: UMA VISÃO DA IMUNOLOGIA E HEMATOLOGIA CLÍNICA A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S 34 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S autoimunes. As respostas são divididas em duas grandes partes: inata e adaptativa. Enquanto a imunidade inata é filogeneticamente mais antiga e fornece mecanismos suficientes para proteção imediata; a adaptati- va evoluiu para fornecer um repertório de reconhecimento específico de antígenos (substância estranha que induz a ativação das células da imunidade inata e adaptativa, desencadeando resposta). O quadro 10 destaca os principais componentes da imunidade inata e da adaptativa. Quadro 10 - principais componentes da imunidade inata e da adaptativa IMUNIDADE INATA IMUNIDADE ADAPTATIVA Receptores de reconhecimento padrão (PRR) que reconhecem PAMPS (Padrão de Moléculas Associadas à Patógenos) ou DAMPS (associados ao dano) Linfócitos T e B; células NK, células dendríticas APC Barreiras físicas: pele, muco, pelo, lágrimas Resposta humoral: anticorpos ou imunoglobulinas, mediada por linfócitos B diferenciados em plasmócitos Células: células dendríticas, macrófagos, neutrófilos e monócitos, células natural killer, mastócitos, eosinófilos e basófilos Moléculas solúveis: Sistema Complemento, proteínas de fase aguda, citocinas e quimiocinas Resposta citotóxica: perforinas e granzimas produzidas pelas células T CD8, citocinas e quimiocinas produzidas pelas células CD4 Inflamação e defesa antiviral Memória mediada pelas células B Fonte: Autora, 2021. Contudo, essas reações ocorrem rapidamente e estão inter- ligadas entre si. Como mostra a figura 3, a resposta imune inata é a primeira linha de defesa e se inicia nas primeiras horas após o contato com o antígeno (representado como "microrganismo"). As células da imunidade inata medeiam a ativação da imu- nidade adaptativa através da apresentação de antígenos. A resposta adaptativa se desenvolve tardiamente e se mantém, desenvolvendo a memória imunológica. 35 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Figura 3 - O Sistema imune inato e adaptativo e seus respectivos componentes celulares Fonte: ABBAS, LICHTMAN & PILLAI, 2011. A resposta imune é fundamental para a manutenção do orga- nismo. Como visto no Quadro 10, diversos são os componentes envol- vidos em ambas as respostas. Conhecer cada um é fundamental para a interpretação de exames laboratoriais. Desenvolvimento celular Sabe-se que o organismo é composto por diferentes células, cada qual com sua função e afinidade para órgãos e tecidos específi- cos. O processo de formação, desenvolvimento e maturação dos ele- mentos sanguíneos, que engloba eritrócitos, plaquetas e leucócitos, é chamado de hematopoiese. A hematopoiese se inicia a partir de um precursor celular úni- co, a célula hematopoiética pluripotente, também chamada de célula- -tronco. As células-tronco são células menos diferenciadas e, por isso, possuem capacidade de se diferenciar em qualquer tipo celular. Duran- te o desenvolvimento embrionário, as células se desenvolvem no saco vitelino, sendo este um órgão hematopoiético transitório. Nas primeiras semanas após o nascimento, a hematopoiese se dá no timo, fígado, baço e linfonodo, e na vida adulta, na medula óssea, único órgão hema- 36 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S topoiético na fase adulta (HOFFBRAND & MOSS, 2017). A figura 4 (onde BFU: unidade formadora de basófilo; CFU: unidade formadora de colônia; e: eritróide; Eo: eosinófila; GEMM: gra- nulocítica, eritróide, monocítica e megacariocítica; GM: granulócito, monócito; Meg: megacariócito) mostra a divisão de uma célula-tronco pluripotente nos progenitores mielóide e linfóide e suas respectivas li- nhagens, que dão seguimento às demais linhagens. Figura 4 - Descrição da hematopoiese em humanos Fonte: HOFFBRAND & MOSS, 2017. A hematopoiese é regulada epigeneticamente por fatores que induzem a transcrição específica para cada linhagem celular, suprimin- do a expressão de um fator inespecífico. A regulação da hematopoiese garante o desenvolvimento celular adequado, no entanto, a falha em algum dos processos resulta na alteração da produção das células e pode ocasionar doenças hematológicas graves. O presente capítulo irá abordar os principais testes imunoló- gicos e hematológicos realizados na clínica, bem como as patologias associadas. 37 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Testes imunológicos e reações cruzadas As técnicas para a detecção de anticorpos e antígenos são utilizadas como marcadores de doenças infecciosas (HIV, hepatites, dengue, coronavírus) e autoimunes, reações de hipersensibilidades, e também auxiliam na seleção imuno-hematológica (doação de sangue). Essas técnicas empregam a mesma metodologia, variando somente o tipo de antígeno e anticorpo utilizado, fornecidos através de kits comer- ciais que contêm os reagentes necessários. Existe uma gama de testes que vêm se tornando mais específicos com o avanço da biologia mole- cular. Os testes sorológicos são os mais utilizados e foram desenvol- vidos a partir de reações entre um antígeno e um anticorpo. As carac- terísticas e limitações desses testes, em geral, são determinadas pela sensibilidade e especificidade, diante da capacidade de determinar um teste verdadeiramente positivo e negativo, respectivamente. Um exem- plo é o controle de qualidade dos kits comerciais, cujo teste ideal seria aquele que apresentasse 100% de sensibilidade e especificidade, ga- rantindo, desta forma, total confiabilidade. No entanto, isso não aconte- ce na prática laboratorial e, por isso, existem constantes resultados fal- so-positivos ou falso-negativos, tornando fundamental o conhecimento dos parâmetros sorológicos. Grande parte das dosagens imunológicas é realizada no soro e algumas no sangue total ou plasma (amostra coletada com EDTA), sendo a sorologia a mais frequente. As técnicas mais utilizadas para realização de testes imunológicos são: a) ELISA (do inglês Enzyme Linked ImmunoSorbent As- say): baseada na detecção de anticorpos e antígenos através de rea- ção enzimática. Existem diferentes tipos de ensaios, conforme ilustrado na figura 5. O método direto envolve um antígeno previamente sensi- bilizado em uma microplaca e um anticorpo primário conjugado com uma enzima emissorade cor é adicionado. O método indireto também se baseia na sensibilização prévia do antígeno na microplaca, onde um anticorpo secundário juntamente com a enzima emissora de cor é adi- cionado. O método sanduíche (mais utilizado) envolve um anticorpo de captura (que é um anticorpo de detecção) e um anticorpo secundário, junto com a enzima. A técnica ELISA por competição utiliza um antí- geno ou anticorpo, os quais competem com o anticorpo (ou antígeno) da amostra. Todas as técnicas utilizam um substrato e uma solução de parada e a leitura é realizada por colorimetria. 38 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Figura 5 - Diferentes técnicas do ensaio ELISA Fonte: Traduzido de Aryal, 2019. b) Reação de imunofluorescência (IF): baseada na mar- cação de antígenos em tecidos ou suspensões celulares, utilizando anticorpos fluorescentes que emitem luz em um determinado compri- mento de onda e são visíveis por microscopia de fluorescência. A IF direta detecta antígenos e a indireta anticorpos (mediado por antíge- nos sensibilizados em uma microplaca ou lâmina), cujos marcadores utilizados são corantes excitados que absorvem radiação ultraviole- ta, emitindo luz visível (OAKY et al., 2010). Essa técnica é utilizada com frequência no diagnóstico de infecções e doenças autoimunes. c) Látex ou aglutinação: a aglutinação é uma técnica que uti- liza reagentes não marcados, ou seja, não necessita de marcadores fluorescentes. A aglutinação direta requer a utilização de partículas an- tigênicas insolúveis, como hemácias (teste de tipagem sanguínea) e também auxilia alguns diagnósticos. Na reação indireta, as hemácias ou partículas inertes como látex, podem ser sensibilizadas por adsorção passiva para que ocorra a reação antígeno – anticorpo. O quadro 11 destaca as principais características e diagnósticos relacionados a essa técnica. 39 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Quadro 11 - Aglutinação direta e indireta DIRETA INDIRETA Teste qualitativo (aglutina ou não) Teste quantitativo (é importante realizar a titulação através da diluição seriada para determinar a concentração. Antígeno presente naturalmente na membrana das células. Ex.: tipagem sanguínea Partícula aglutinada não possui o antígeno natural Teste de Coombs (requer kit específico) Reação antígeno – anticorpo realizada em superfícies que não interferem na interação (látex) Diagnóstico Salmonelose, Brucelose ou infecção por Proteus spp (requer ki específico contendo suspensões com a bactéria específica, que reage com o anticorpo (amostra) ASO - Antiestreptolisina O (febre reumática); PCR - Proteína C Reativa; FR - Fator Reumatóide; VDRL - anticorpos contra Treponema pallidum, diagnóstico sífilis Fonte: Autora, 2021. Como visto no capítulo anterior, as técnicas de coleta devem ser empregadas para todos os setores laboratoriais, garantindo a mini- mização dos erros da fase analítica. No entanto, existem reações cru- zadas capazes de interferir no resultado. Os antígenos possuem estru- turas químicas que favorecem a ligação com o anticorpo (ligações não covalentes não serão abordadas neste capítulo). Contudo, são reversí- veis e possuem afinidades diferentes com determinadas substâncias, sendo possível a ligação de um anticorpo com antígenos semelhantes através de ligações mais fracas e não idênticas. A reatividade cruzada se refere à probabilidade de um sítio de combinação de anticorpo reagir com mais de um determinante antigê- nico, ou com um determinante similar. Um exemplo que assusta os pro- fissionais são as reações transfusionais, que podem aparecer de forma leve ou grave após a transfusão. São situações que ocorrem randomi- camente na vivência laboratorial e, por isso, o profissional deve estar sempre atento aos resultados finais. É importante que o profissional responsável seja capacitado e esteja sempre atento ao realizar os imunoensaios. Para isso, vamos abordar alguns conceitos, tais como: a) afinidade – força de ligação entre um anticorpo e um único epítopo do antígeno. Quanto maior a afinidade do anticorpo pelo antígeno, mais estável será a interação; b) 40 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S avidez – força de ligação após a formação do complexo antígeno – anti- corpo. Quanto maior a avidez, melhor o reconhecimento e efeito biológi- co; c) especificidade antígeno – anticorpo: habilidade de distinção entre antígenos (conceito “chave – fechadura”). São fatores capazes de induzir a reação cruzada: concentra- ção desequilibrada de anticorpos, pH do meio de reação, temperatura e tempo. Portanto, a validação do imunoensaio é fundamental para evitar reatividades cruzadas. Avaliar a sensibilidade e especificidade da técni- ca, bem como a exatidão e comparação com metodologias de referên- cia são exemplos de minimização de erros. Uma estratégia bastante utilizada é a validação prévia do teste, utilizando uma quantidade fixa de analito e realizar reações em série, aumentando gradativamente a quantidade de substância. Essa técnica pode ser utilizada como controle interno. HEMATOLOGIA A hematologia é a área laboratorial que estuda os elementos do sangue, tais como leucócitos, eritrócitos e plaquetas, e auxilia no diagnóstico de doenças hematológicas e infecciosas. Principais doenças hematológicas O sangue é formado por células e plasma. O plasma sanguí- neo contém proteínas que atuam na defesa do organismo e controlam hemorragias, mediada pelas plaquetas; as hemácias transportam oxi- gênio para todo o organismo e os leucócitos combatem infecções, como visto no início deste capítulo. Além de estudar os elementos do sangue e os órgãos hematopoiéticos, a hematologia é essencial para o diagnós- tico de anomalias sanguíneas e infecções. Existem diversas doenças hematológicas, divididas em grupos. O quadro 12 mostra as principais, e no final deste capítulo há algumas sugestões de leitura para melhor conhecimento. 41 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Quadro 12 - Principais doenças hematológicas ANEMIAS DOENÇAS PROLIFERATIVAS E INFILTRATIVAS HEMOLÍTICA: caracterizada pela hemólise precoce (antes de 120 dias, período em que normalmente se rompem). LEUCEMIAS (AGUDAS E CRÔNICAS): Decorrente da disfunção da medula óssea, comprometendo a hematopoiese. Caracterizadas pela presença de células imaturas na corrente sanguínea, podendo se transformar em uma célula cancerígena APLÁSTICA: consequente de danos na hematopoiese, pode ser congênita ou desenvolvida após exposição à radio ou quimioterapia. MIELOMA: tumor maligno que atinge os plasmócitos, responsáveis pela produção de anticorpos. Dessa forma o sistema imune fica comprometido e acarreta transtornos em outros órgãos como rim e ossos. MEGALOBLÁSTICA: causadas por alterações genéticas as quais comprometem a maturação celular. Pode ocorrer pela falta de vitamina B12 e ácido fólico. LINFOMA: condição maligna que afeta o sistema linfático. Existem diversos tipos de linfoma. Os principais tipos de linfoma são linfoma de Hodgkin e linfoma não Hodgkin. FALCIFORME: distúrbio congênito caracterizado pela escassez de glóbulos vermelhos funcionais, uma vez que grande parte adquiri formato de foice e perdem a funcionalidade SÍNDROME MIELOPROLIFERATIVA: Anomalia decorrente da proliferação desordenada da medula óssea, subdividida em policitemia vera, mielofibrose, trombocitemia essencial e leucemia mielóide crônica. FERROPRIVA: Caracterizada pela deficiência de ferro, comprometendo o transporte de oxigênio para os tecidos. Tipo de anemia mais comum e adquirida pela falta de suplementos. Fonte: Autora, 2021. Hemograma: conceito, finalidade,execução e interpretação O hemograma é um exame capaz de fornecer informações sobre os componentes sanguíneos, com o auxílio de um equipamento automatizado e da confecção de uma lâmina utilizando colorações es- pecíficas. Diferentes corantes são utilizados com a mesma finalidade de visualizar os glóbulos vermelhos e brancos microscopicamente. 42 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Título: Corantes usados no esfregaço hematológico Data da publicação: janeiro/2013 Fonte: <https://www.biomedicinapadrao.com.br/2013/10/co- rantes-usados-no-esfregaco.html> A coleta é realizada com o anticoagulante EDTA, conforme ilus- trado no capítulo anterior e, após homogeneizado adequadamente, o tubo é inserido no equipamento automatizado, que determina as séries branca e vermelha. Rosenfeld (2012) discute em seu artigo as diretrizes da auto- mação na hematologia e destaca que "a análise automatizada permite a detecção de células anormais por meio de alertas para presença de neutrófilos jovens do desvio à esquerda1, linfócitos atípicos reacionais, eritroblastos circulantes e blastos" e auxilia na determinação da confec- ção das lâminas. Para tal, uma gota de sangue é colocada na lâmina previamente limpa e corretamente identificada e, com o auxílio de dis- tensor, realiza-se o movimento. Para que a leitura da lâmina seja simples e prática para o pro- fissional, é importante que este ou mesmo o técnico, prepare o esfrega- ço de maneira correta, evitando erros, diante da dificuldade de leitura. Portanto, é essencial conhecer o procedimento correto para a confec- ção do esfregaço ideal. Para a correta interpretação do resultado, é importante conhe- cer os elementos descritos no laudo, bem como seus respectivos valores de referência (descritos no quadro 13). São elementos do hemograma: a) Eritrograma: composto pela análise dos eritrócitos ou he- mácias, indica o hematócrito (HCT, percentual sanguíneo ocupado pelas hemácias), hemoglobina, VGM (volume globular médio ou tamanho das hemácias), HGM (hemoglobina globular média ou peso da hemoglobi- na dentro da hemácia), CHGM (concentração de hemoglobina globular média) e RDW (índice de avaliação do tamanho entre as hemácias). Essa parte pode diagnosticar uma anemia ou outra anomalia na série vermelha; b) Leucograma (WBC): avalia a série branca, envolvendo as células presentes no sangue (monócitos, eosinófilos, neutrófilos seg- mentados ou bastões, basófilos, linfócitos) e auxilia no diagnóstico de 1 Aumento considerável de bastonetes por campo 43 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S linfomas, infecções virais, bacterianas, parasitológicas ou alergias; c) Plaquetograma: avalia o número de plaquetas e auxilia no diagnóstico de coagulopatias, doenças infecciosas como dengue, he- morragias em geral e no monitoramento de tratamentos pela utilização de anticoagulantes ou quimioterápicos. Quadro 13: Valores de referência do hemograma em adultos Parâmetro Homens Mulheres RBC 4,5-5,9 4,0-5,2 HBG 13,0-17,5 12,0-16,0 HCT 41,0-53,0 35,0-46,0 VCM 80,0-100,0 80,0-100,0 HCM 26,0-34,0 26,0-34,0 CHCM 31,0-36,0 31,0-36,0 WBC (x103/mm3) 3,5-10 3,5-10 Neutrófilos segmentados (x103/ mm3) 1,7-8 1,7-8 Neutrófilos bastonetes (x103/mm3) Até 0,84 Até 0,84 Eosinófilos (mm3) 50-500 50-500 Basófilos (mm3) Até 100 Até 100 Linfócitos (x103/mm3) 0,9-29 0,9-29 Monócitos (mm3) 50-1100 50-1100 Plaquetas 150-450.000 150-450.000 RDW (%) 11,5-15 11,5-15 Fonte: Autora, 2021 Os atuais valores de referência foram estabelecidos na década de 1960 após a observação de vários indivíduos saudáveis (YANTOR- NO & RATTO, 1964). Esses valores são contabilizados nos equipamen- tos automatizados, no entanto, devem ser confirmados pela leitura da lâmina. Portanto, ao analisar o esfregaço, deve-se atentar às partes espessas, média e fina que o compõem, utilizando a parte mais fina para a análise. É importante observar o tamanho, a forma, a coloração celular e possíveis inclusões nas células, hemácias e plaquetas, confor- me mostra a figura 6. 44 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Figura 6 - Resumo das principais características de uma lâmina hematológica Fonte: Naoum & Naoum, 2019. O diagnóstico das patologias hematológicas depende de exa- mes que avaliam os glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas. O hemo- grama é importante e quase sempre decisivo e, por isso, o conhecimen- to e a interpretação adequada são pré-requisitos fundamentais para a área de hematologia. GRUPO SANGUÍNEO E FATOR RH O sistema ABO é o mais importante grupo sanguíneo que en- volve a medicina transfusional. Descoberto em 1900 por Karl Landes- teiner, seguido da descoberta do fator Rh em 1937 por Wiener e Lands- teiner, é um importante fato para elucidar a causa da doença hemolítica perinatal (BATISTETI et al., 2007). Os antígenos do sistema ABO não são restritos à membrana eritrocitária, como também estão presentes em diversos líquidos bioló- gicos, embora na prática laboratorial seja frequente a análise direta do sangue, analisando os antígenos eritrocitários. A tipagem sanguínea é um teste frequentemente realizado em laboratórios clínicos e deve ser executada através de duas técnicas: direta e reversa, como prova de conceito, garantindo maior confiabilida- de. Aqui iremos abordar o teste de tipagem sanguínea e os fatores que interferem no resultado. Provas laboratoriais para identificação do grupo sanguíneo A prova direta consiste no contato do soro-teste conhecido, seja ele anti-A e/ou B, com os glóbulos vermelhos do paciente. A reação se baseia em aglutinação direta, como descrito no item 2.1.2. A prova reversa consiste no contato do soro do paciente com os reagentes an- 45 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S tigênicos Anti A e/ou B, o que permite visualizar a presença ou não dos anticorpos contra esses antígenos. A técnica consiste na aplicação de uma gota de cada antígeno com uma gota do sangue total (ou soro) do paciente, homogeneizar, centrifugar e realizar a leitura, se possível com o auxílio de uma luz, garantindo melhor visibilidade. A figura 7 mostra resumidamente a interpretação dos resultados. Figura 7 - Interpretação dos resultados de hemaglutinação Fonte: Daniels, 2008. O fator Rh auxilia na detecção de incompatibilidade entre mãe e filho, como ocorre na eritroblastose fetal. Mães portadoras de Rh ne- gativo podem sofrer imunização contra antígenos do sistema Rh, re- sultando na entrada de anticorpos anti-Rh no sangue do feto, em uma segunda gravidez. Título: Doença hemolítica do feto e recém-nascido Data da publicação: 20 de abril de 2015 Fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/vox.12265 Existem casos em que os antígenos A ou B são fracos. Isso pode dificultar a visualização nas provas. Técnicas alternativas são uti- lizadas nesses casos, como pesquisa de substância ABH na saliva e, embora não sejam situações comuns, é importante que o profissional tenha conhecimento e, em caso de dúvidas, repita o teste. Os erros em exames de tipagem sanguínea constituem-se como um fator de risco para a segurança do paciente, especialmente em casos em que o mesmo se encontra em situação grave e necessita de transfusão. Para que esse teste cumpra seu papel no diagnóstico e tratamento, o processo analítico deve ser livre de vícios que possam 46 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S comprometer seu resultado. Uma alternativa para evitar erros é sempre realizar a prova reversa em tubo e, em caso de dúvidas, repetir o teste. O exame de tipagem sanguínea é importante e frequentemen- te solicitado na clínica, uma vez que é usado em uma variedadede situações, desde o estudo de paternidade até a prevenção de reações hemolíticas transfusionais. O SISTEMA DE COAGULAÇÃO A coagulação sanguínea é um sistema complexo de reações mediadas por proteases plasmáticas e cofatores que culminam na gê- nese da enzima trombina, que, por sua vez, converte o fibrinogênio solú- vel em fibrina insolúvel (proteólise). A formação do coágulo de fibrina no sítio de lesão endotelial representa processo crítico para a manutenção da integridade vascular, que deve ser regulada para se evitar a forma- ção de trombos intravasculares decorrentes de formação excessiva de fibrina. Para que ocorra a coagulação, é necessário um estímulo (tecido lesado), que ativa a cascata, mediada pela tromboplastina, protrombina convertida em trombina, que age sobre o fibrinogênio e forma a fibrina, representada por uma rede que impede a saída de sangue, designando a coagulação. Alterações no coagulograma podem auxiliar no diagnóstico de doenças hematológicas caracterizadas por anomalias em um ou mais componentes do sangue. Coagulograma e o diagnóstico de coagulopatias As coagulopatias ou distúrbios hemorrágicos afetam a forma- ção dos coágulos sanguíneos, caracterizando hemorragias e sangra- mentos constantes. Podem ser congênitas, como acontece na doença de Von Willebrand e na hemofilia; ou adquiridas pela deficiência nas plaquetas e/ou algum fator de coagulação, ou ainda derivar do uso de anticoagulantes (utilizados como profilaxia e tratamento de trombose). O quadro 14 destaca as principais coagulopatias. 47 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Quadro 14 - Principais coagulopatias e características COAGULOPATIAS Púrpura Trombocitopênica Imunológica (PTI) Doença autoimune hemorrágica caracterizada por níveis baixos de plaquetas. O paciente tem sangramentos constantes Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT) e Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) Doença rara caracterizada pela formação de pequenos trombos ou coágulos por todo o corpo, capazes de bloquear o fluxo sanguíneo cardíaco ou pulmonar, ocasionando embolia e parada respiratória ou cardíaca Hemofilia Causada pela deficiência congênita de um fator da cascata de coagulação e, com isso, o paciente tem sangramentos constantes e hematomas espalhados pelo corpo Trombofilia Caracterizada pela formação de trombos, ou coágulos de sangue, tendendo a obstruir o fluxo sanguíneo, como ocorre na PTT e CIVD. Síndrome de Von Willebrand Distúrbio genético causado pela deficiência de um fator de coagulação, que consiste em hemorragias e sangramentos nasais frequentes Fonte: Autora, 2021. O diagnóstico dessas doenças, muitas vezes, é estabelecido ou mediado por exames específicos, realizados em grandes laborató- rios de referência. Contudo, existem testes na prática laboratorial capa- zes de indicar ou auxiliar em diagnósticos de coagulopatias. É o caso do coagulograma, realizado com frequência para monitoramento da coa- gulação e muito solicitado como pré-operatório. O coagulograma é um conjunto de provas que testam a coa- gulação. É composto pelo teste de protombina (TP), tempo de sangra- mento (TS), tempo de coagulação (TC), Tromboplastina Parcial Ativado (TTPA) e contagem de plaquetas, após a coleta utilizando o anticoagu- lante citrato (tampa azul, conforme ilustrado no capítulo 1) e jejum de 4 horas. Os testes devem ser realizados o mais rápido possível para garantir confiabilidade, com exceção do tempo de sangramento, que é realizado na hora. A figura 8 esquematiza a técnica do coagulograma, partindo da coleta. 48 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S Figura 8 - Coagulograma Fonte: Autora, 2021. Após a realização do coagulograma, é necessário que o res- ponsável confira os resultados e, em caso de alterações, repita o teste ou consulte o prontuário. Lembre-se que a fase pré-analítica mediada pelo contato com o paciente é importante para a interpretação dos re- sultados, embora nem sempre esse contato seja possível. Fatores que interferem nos resultados Na rotina laboratorial, os exames de coagulação são frequen- temente solicitados na prática para avaliação da hemostasia e inves- tigação de doenças hemorrágicas e trombóticas. Para a avaliação da coagulação sanguínea de rotina, de uso para diagnóstico e triagem clí- nica, é necessária a realização do coagulograma completo (PIMENTA & JÚNIOR, 2016). O coagulograma é um teste delicado e qualquer inter- ferente é capaz de prejudicar o seu resultado. A literatura relata que grande parte dos erros laboratoriais ocorre na fase pré-analítica, conforme abordado no capítulo anterior. No caso do coagulograma, a coleta é o procedimento fundamental, e a demora no processo, tempo prolongado de torniquete e coleta ina- dequada podem alterar o resultado devido à hemólise. O volume da amostra também é importante no caso do coagulograma e, em casos do volume inadequado, sugere-se nova coleta para conferência do resulta- do. Grande parte dos erros envolvidos nesse teste se referem à falta de entendimento e prática laboratorial. Para evitar erros e garantir a confiabilidade dos resultados, é importante que o profissional tenha conhecimento e prática no teste, no procedimento de coleta, e mantenha atenção no trabalho, uma vez 49 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S que os erros no teste de coagulograma decorrem, em grande parte, da falta de habilidade. A fase pré-analítica requer a implantação de técni- cas rigorosas na detecção, classificação e resolução de erros. Por fim, o coagulograma é composto por diversos testes que utilizam diferentes técnicas que devem ser realizadas de forma rápida e correta. Portanto, a capacitação profissional é um tópico importante a ser abordado pelos gerentes laboratoriais. Finalizamos este capítulo ressaltando a impor- tância do profissional que deve garantir que os resultados reflitam de maneira fidedigna a qualidade do laboratório. 50 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO R IA IS - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2019 Banca: IFTO Órgão: UFTO Prova: Professor biologia IFTO Nível: Superior. A hematopoiese ou hemopoiese é a produção dos elementos ce- lulares e figurados do tecido sanguíneo, a partir de uma entidade celular denominada célula-tronco hematopoiética. A diferenciação celular através da hematopoiese embrionária, fetal, e perinatal e pós-natal é, respectivamente: a) Saco vitelínico, fígado e medula óssea. b) Fígado, baço e amígdalas. c) Timo, gônadas e vesícula. d) Saco vitelínico, baço e amígdalas. e) Medula óssea, pâncreas e timo. QUESTÃO 2 Ano: 2015 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: EBSERH Prova: Técni- co de análises clínicas UFT Nível: Médio. Considerando um hemograma, analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas. I. A contagem diferencial de leucócitos, realizada em um hemogra- ma de rotina, pode ser realizada no microscópio por profissional capacitado. II. Um hemograma de rotina não apresenta valores de plaquetas. Este teste é realizado somente se houver solicitação do médico. III. O hemograma é realizado com a amostra de sangue coletada em tubo contendo EDTA. IV. Somente com um hemograma não é possível detectar a presen- ça de anemias. a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas I e III. d) Apenas II e IV. e) Apenas III e IV. QUESTÃO 3 Ano: 2015 Banca: INTITUTO PRÓ-MUNICÍPIO Órgão: ISGH Prova: Técnico de laboratório HRN Nível: Médio Um dos exames mais frequentes em laboratórios clínicos é o he- mograma e, indubitavelmente, é também um dos mais relevantes. Para sua realização, amostras inadequadas devem ser rejeitadas. 51 A N Á LI SE S C LÍ N IC A S: E XA M E S LA B O R A TO
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