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Sensopercepção e suasSensopercepção e suas alteraçõesalterações Referências: DALGALARRONDO. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. CAP 16 A sensação é considerada, portanto, um fenômeno passivo; estímulos físicos (luz, som, pressão) ou químicos atuam sobre sistemas de recepção do organismo. Já a percepção seria fenômeno ativo. Todas as informações do ambiente, necessárias à sobrevivência do indivíduo, chegam até o organismo por meio das sensações. Os diferentes estímulos físicos (luz, som, calor, pressão, etc.) ou químicos (substâncias com sabor ou odor, estímulos sobre as mucosas e a pele) agem sobre os órgãos dos sentidos, estimulando os diversos receptores e, assim, produzindo as sensações. Define-se a sensação como o fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados, originados fora ou dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os. Os estímulos sensoriais fornecem a alimentação sensorial aos sistemas de informação do organismo. Por percepção, entende-se a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estímulo sensorial. Arbitrariamente, então, se atribui à sensação a dimensão neuronal, ainda não plenamente consciente, no processo de sensopercepção. Já a percepção diz respeito à dimensão propriamente neuropsicológica e psicológica do processo, à transformação de estímulos puramente sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes. Alterações Quantitativas Denomina-se hiperpatia, no sentido neurológico, quando uma sensação desagradável (geralmente de queimação dolorosa) é produzida por um leve estímulo da pele. Já a hipoestesia, é observada em alguns pacientes com depressão grave, nos quais o mundo circundante é percebido como mais escuro; as cores tornam-se mais pálidas e sem brilho; os alimentos não têm mais sabor; e os odores perdem sua intensidade. As hipoestesias táteis, com sentido neurológico, são alterações localizadas em territórios cutâneos de inervação anatomicamente determinada, compondo as chamadas síndromes sensitivas, de interesse à neurologia clínica. A hiperestesia, no sentido psicopatológico, é a condição na qual as percepções encontram-se anormalmente aumentadas em sua intensidade ou duração. Os sons são ouvidos de forma muito amplificada; Nas alterações quantitativas, as imagens perceptivas têm intensidade anormal, para mais ou para menos, configurando hiperestesias, hiperpatias, hipoestesias, anestesias e analgesias. Alterações Qualitativas As alterações qualitativas da sensopercepção são as mais importantes em psicopatologia. Compreendem as ilusões, as alucinações, a alucinose e a pseudoalucinação. O fenômeno descrito como ilusão se caracteriza pela percepção deformada, alterada, de um objeto real e presente. Na ilusão, há sempre um objeto externo real, gerador do processo de sensopercepção, mas tal percepção é deformada por fatores patológicos diversos. As ilusões são encontradas, com maior frequência, nos quadros de delirium, em que há rebaixamento do nível de consciência e consequente distorção do processo perceptivo. As ilusões mais comuns são as ilusões visuais, nas quais o paciente geralmente vê pessoas, monstros, animais, entre outras coisas, a partir de estímulos visuais como móveis, roupas, objetos. Também não são raras as ilusões auditivas, nas quais, a partir de estímulos sonoros inespecíficos, o paciente ouve seu nome, palavras significativas ou chamamentos. Define-se alucinação, desde a primeira metade do século XIX, a época de Esquirol, como a percepção de um objeto, sem que este esteja presente, sem o estímulo sensorial respectivo. Portanto, alucinação é a percepção clara e definida de um objeto (voz, ruído, imagem) sem a presença de objeto estimulante real. As alucinações auditivas são o tipo de alucinação mais frequente nos transtornos mentais. Elas podem ser divididas em simples e complexas. Alucinações auditivas simples são aquelas nas quais se ouvem apenas ruídos primários. A forma de alucinação auditiva complexa mais frequente e significativa em psicopatologia é a alucinação áudio verbal, na qual o paciente escuta vozes sem qualquer estímulo real. São vozes que geralmente o ameaçam ou insultam. Muito frequentemente, a alucinação áudio verbal é de conteúdo depreciativo e/ou de perseguição. Deve-se chamar atenção para o fato de que, sobretudo na esquizofrenia, as alucinações áudio verbais com frequência impõem determinada convicção nos pacientes, deixando-os intrigados e assustados. As chamadas alucinações schneiderianas são alucinações audioverbais em que as vozes comandam a ação ou comentam a ação e as atividades corriqueiras do paciente – por exemplo, “olha, agora o João está indo beber água, agora ele vai lavar a mão...”. Vozes que comandam são aquelas que mandam o indivíduo fazer coisas, como, por exemplo: “Ponha fogo em suas roupas!”. Como pode ser observado, as alucinações audioverbais ocorrem com maior frequência nos transtornos do espectro da esquizofrenia, com o paciente tendo convicção marcante da realidade das vozes que ouve. As alucinações audioverbais também ocorrem nos transtornos do humor: no episódio de mania, são ouvidas, mais comumente, vozes com conteúdo de grandeza ou místico-religioso, e, na depressão grave, podem-se ouvir vozes com conteúdo negativo, de ruína ou culpa. As alucinações visuais são visões, muitas vezes nítidas, que o paciente experimenta, sem a presença de estímulos visuais. Podem ser simples ou complexas. As alucinações visuais simples também são denominadas fotopsias. Nelas, o indivíduo vê cores, bolas e pontos brilhantes. As alucinações visuais simples ocorrem com mais frequência em pacientes com doenças oculares, com déficit ou privação visual, mas podem se manifestar também em acidentes vasculares que comprometem as vias visuais, na esquizofrenia, no uso de álcool, na enxaqueca e na epilepsia. As alucinações olfativas, ou fantosmias, assim como as gustativas (ou fantageusias), são relativamente pouco comuns. As alucinações olfativas costumam ter impacto pessoal especial, podendo estar relacionadas a interpretações delirantes (“sinto o cheiro de veneno de rato na comida, pois estão tentando me envenenar”) Nas alucinações gustativas (fantageusias), os pacientes sentem, na boca, o sabor de ácido, de sangue, de urina, etc., sem qualquer estímulo gustativo presente.
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