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A Etnopsiquiatria de Georges Devereux-

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Maria Esmeralda Mineu Zamlutti
Texto 08
A ETNOPSIQUIATRIA
Ciência criada por Georges Devereux na década de 1970, a Etnopsiquiatria é uma disciplina multidisciplinar que pretende estudar os processos psicopatológicos relacionando-os à complementaridade entre indivíduo/sociedade e cultura. Procura relacionar os distúrbios mentais individuais e coletivos com o meio cultural onde eles se manifestam. Como ramo da Antropologia, é uma prática que considera que a cultura do indivíduo faz parte do seu “ser-no-mundo” tanto quanto sua biologia e sua história pessoal.
	Para a Etnopsiquiatria, a doença e os processos de cura são construções sociais, por isso não podem ser estudados separadamente da cultura, isto é, não se pode compreender as doenças, bem como as reações à elas e os processos de cura, sem considerar a cultura na qual se manifestam. 
	
GEORGES DEVEREUX (1908-1965)- etnólogo e psicanalista de origem húngara que 
 quis por à serviço da Antropologia Cultural a teoria e a prática
 ensinadas por Freud, contribuindo para um novo olhar sobre a
 compreensão da doença mental.
De acordo com o relativismo cultural, numa sociedade dita normal aqueles que se conformam (adaptam-se) às suas normas são considerados normais e aqueles que se rebelam (não se adaptam) contra suas normas são considerados doentes... isto significa que os padrões de normalidade e anormalidade são relativos às normas da sociedade... 
Nesta perspectiva, a Etnopsiquiatria propõe que
 
“... toda coletividade cria seus modelos próprios de loucura e em relação a determinada sociedade somos sempre loucos. Toda sociedade prescreve o que é normal e o que é anormal --- toda sociedade coloca à disposição de seus membros mecanismos para amortização do real --- toda sociedade prescreve a forma de expressão da loucura.”
Devereux dá como exemplo do postulado acima o papel do Xamã (feiticeiro da tribo), que vê o grupo delegar-lhe a função de cura e apresenta um comportamento compatível com o que o grupo espera dele: contorções corporais, gestos faciais (caretas), fala desconexa, transe... Ele age exatamente como “sabe” que o grupo espera que ele aja..... desempenhando seu papel de Xamã, feiticeiro, curandeiro. Enquanto para sua sociedade ele é uma pessoa totalmente “normal” , em nossa sociedade seu comportamento seria interpretado como “anormal”, “doente”, “louco”, o comportamento que já dá sinais de alguma psicopatologia, de algum distúrbio mental. 
Com isso Devereux quer mostrar que a doença mental ou loucura, está sempre em relação á sociedade, à cultura. Daí que a compreensão da doença mental tem que levar em conta as pré-determinações culturais, os valores, as crenças de um povo. 
A Etnopsiquiatria proposta por Devereux postula, ainda, que por detrás da variedade das culturas encontram-se o homem, a sociedade e os critérios de normalidade válidos e absolutos em conformidade com a cultura de cada sociedade. 
A Etnopsiquiatria baseada no relativismo cultural vem propor que cada sociedade possui suas doenças étnicas: doenças que, variando de sociedade para sociedade e de época para época, afetam igualmente a maioria dos seus membros “normais”, e cujos sintomas não são inventados por eles mas lhes propiciados pela própria cultura. Pode-se aqui citar como exemplo a histeria (ligada à repressão sexual), que em fins do século XIX (no mundo Ocidental) era “a maneira conveniente de ser “anormal”. 
Devemos, então, entender que a Etnopsiquiatria propõe o estudo das relações entre as condutas psicopatológicas e as cultura nas quais elas ocorrem, buscando compreender a dimensão cultural das perturbações mentais. 
Segundo Devereux:
	... Existem perturbações mentais que seriam características de certas sociedades e que não seriam encontradas em outras, como o 
Amok (na Malásia), o Koro (no Sudeste da Ásia) 
 e o Tarantismo (não Sul da Itália). 
Principais obras de Devereux:
Ensaios de Etnopsiquiatria Geral (1970); Etnopsicanálise Complementar (1972); Mulher e Mito (1982).
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Prof. Maria Esmeralda Mineu Zamlutti.

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