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Livro I - HPE

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Autores: Profa. Ivy Judensnaider 
 Prof. Maurício Felippe Manzalli
 Profa. Viviane Paes Macedo-Yanikian
História do Pensamento 
Econômico
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Professores conteudistas: Ivy Judensnaider / Maurício Felippe Manzalli / 
Viviane Paes Macedo-Yanikian
Ivy Judensnaider 
Economista pela Fundação Armando Álvares Penteado e mestre em História da Ciência e da Tecnologia pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professora da Universidade Paulista – UNIP, onde coordena 
o curso de Ciências Econômicas no campus Marquês (SP). Também atua no setor de publicações e é autora de inúmeros 
textos de divulgação científica publicados na web. Nos últimos dez anos, tem trabalhado na elaboração de textos e de 
livros para uso em ensino a distância.
Maurício Felippe Manzalli 
Economista pela Universidade Paulista – UNIP e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo. Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração e 
coordenador do curso de Ciências Econômicas, tanto na modalidade presencial quanto na modalidade a distância. 
Tem experiência em administração e finanças, notadamente em áreas ligadas ao setor de transporte de passageiros. 
Atua há 29 anos no ramo. 
Viviane Paes Macedo-Yanikian
Mestre em Economia pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia pela Política da Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo. Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Católica de Brasília. 
Atualmente é professora da Universidade Paulista – UNIP.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
J92h Judensnaider, Yvy.
História do pensamento econômico. / Ivy Judensnaider; 
Maurício Fellippe Manzalli; Viviane Paes Macedo Yanikian. – São 
Paulo: Universidade Paulista - UNIP, 2019. 
148 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-188/19, ISSN 1517-9230.
1. História do pensamento econômico. 2. Escola clássica. 3. 
Mercantilismo I. Judensnaider, Yvy. II. Manzalli, Maurício Fellippe. III. 
Macedo, Viviane Paes. IV. Título.
CDU 330.8(091)
U502.15 – 19
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Carla Moro
 Juliana Maria Mendes
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Sumário
História do Pensamento Econômico
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 OS PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS .................................................................................................... 11
1.1 O período pré-capitalista .................................................................................................................. 14
1.2 A moeda, o câmbio e a riqueza a partir dos pressupostos mercantilistas .................... 23
2 O MERCANTILISMO: AUTORES, OBRAS E IDEIAS ................................................................................ 25
2.1 O Despotismo Esclarecido e o Século das Luzes ...................................................................... 30
3 A ESCOLA CLÁSSICA ....................................................................................................................................... 39
3.1 O contexto científico do período, a Revolução Industrial e 
o pensamento liberal clássico ................................................................................................................. 39
3.2 Adam Smith ............................................................................................................................................ 43
3.2.1 A Riqueza das Nações ........................................................................................................................... 45
3.2.2 A divisão do trabalho ............................................................................................................................ 46
3.2.3 Teoria do Valor e da Troca ................................................................................................................... 49
3.2.4 Lucro e renda da terra ......................................................................................................................... 51
3.3 Thomas Malthus ................................................................................................................................... 52
3.3.1 O Progresso da população e da riqueza ........................................................................................ 56
3.4 David Ricardo ......................................................................................................................................... 58
3.4.1 Valor de troca ........................................................................................................................................... 60
3.4.2 Salários, lucros e renda da terra ....................................................................................................... 62
3.4.3 Comércio internacional e mecanismos comparativos ............................................................. 63
4 BENTHAM, SAY, SENIOR E STUART MILL ................................................................................................ 64
4.1 Jeremy Bentham ................................................................................................................................... 66
4.2 Jean-Baptiste Say ................................................................................................................................. 67
4.3 Nassau William Senior ....................................................................................................................... 68
4.4 John Stuart Mill .................................................................................................................................... 70
4.5 Positivismo e a busca do estatuto de Ciência Positiva para a Economia ...................... 72
4.6 Leis de funcionamento da produção e distribuição de riqueza ........................................ 73
Unidade II
5 AS REVOLUÇÕES DO FINAL DO SÉCULO XIX: DE MARX AO MARGINALISMO ........................ 79
5.1 O pensamento de Karl Marx acerca do capitalismo............................................................... 79
5.2 O utilitarismo: Jevons, Menger e Walras .................................................................................... 87
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6 DAS TEORIAS NEOCLÁSSICASAO IMPERIALISMO ............................................................................. 92
6.1 Alfred Marshall: equilíbrio de curto prazo e defesa ideológica do capitalismo ......... 92
6.2 Böhm-Bawerk e a medida do capital ........................................................................................... 95
6.3 Sraffa: produção de mercadorias por meio de mercadorias .............................................. 96
6.4 Os imperialistas: Hobson, Luxemburgo, Lênin e Sweezy ..................................................... 98
6.4.1 John A. Hobson e o estudo do imperialismo ............................................................................... 98
6.4.2 Rosa Luxemburgo e a acumulação de capital ............................................................................ 99
6.4.3 Lênin e o comunismo ..........................................................................................................................102
6.4.4 Paul Marlor Sweezy e as ideias marxistas...................................................................................104
6.5 Pareto e a economia neoclássica do bem-estar ....................................................................105
Unidade III
7 OS CONFLITOS TEÓRICOS DO SÉCULO XX ...........................................................................................112
7.1 A crise de 1929 e a teoria de Keynes .........................................................................................114
7.2 A Escola de Chicago: o monetarismo de Milton Friedman ...............................................121
7.3 A inflação, o desemprego e a Curva de Phillips .....................................................................124
8 A ESCOLA AUSTRÍACA: SCHUMPETER, VON MISES E HAYEK ......................................................126
8.1 Schumpeter e as contradições do capitalismo ......................................................................127
8.2 Mises e Hayek ......................................................................................................................................130
8.2.1 Mises e sua praxeologia .................................................................................................................... 130
8.2.2 Hayek e o neoliberalismo econômico .......................................................................................... 132
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APRESENTAÇÃO
Esta disciplina tem como objetivo primordial oferecer uma visão panorâmica dos desenvolvimentos 
teóricos das Ciências Econômicas, desde o pré-capitalismo industrial até os dias de hoje. Nosso objetivo 
principal é o aprofundamento das circunstâncias factuais e culturais do surgimento, do desenvolvimento 
e da consolidação de algumas das principais teorias econômicas surgidas ao longo do período que 
corresponde ao intervalo entre os séculos XVI e XX.
Dessa forma, apresentaremos um quadro cronológico das principais construções teóricas explicativas 
do funcionamento da sociedade capitalista e, assim, procederemos à revisão da estrutura teórico-analítica 
dessas construções teóricas. Também demonstraremos a relação entre o contexto histórico-cultural de 
diferentes etapas da evolução do capitalismo e o surgimento dessas interpretações/teorias a respeito de 
seu funcionamento. Como resultado dessa abordagem, pretendemos contrastar, apontando semelhanças 
e diferenças, os fundamentos valorativos, metodológicos e conceituais das principais teorias abordadas 
no curso, bem como as implicações socioeconômicas de sua aplicação.
Acreditamos que esse esforço auxiliará no desenvolvimento da capacidade de o aluno perceber, a 
partir de seu próprio referencial valorativo-ideológico, a pertinência ou impertinência de concepções/
teorizações formuladas no passado. Compreender o presente requer, de forma inconteste, a compreensão 
do passado no qual ele se apoia e a partir do qual se desenvolve.
Trataremos dos pressupostos metodológicos da nossa concepção historiográfica e analisaremos o 
período pré-capitalista do pensamento econômico, quando ainda não havia economia de mercado e não 
fazia o menor sentido realizar estudos essencialmente econômicos. Contudo, em função do acirramento 
das atividades comerciais, do aumento das trocas de moedas e da degradação do próprio sistema 
feudal, alguns políticos e pensadores resolveram dedicar-se à elaboração de recomendações políticas 
e estratégicas a respeito da gestão de negócios. Assim, podemos identificar nesse período algumas 
tentativas de escrever e refletir sobre a atividade econômica – realizada a partir dos pressupostos 
do mercantilismo – sem que se possa afirmar, entretanto, que essas tentativas emanavam de uma 
escola específica do pensamento econômico. Trataremos também das influências do Iluminismo e do 
surgimento de um modelo específico de análise, então necessário para a compreensão de um mundo em 
que as trocas comerciais haviam se intensificado e no qual a industrialização transformava a paisagem 
dos principais centros europeus.
Discutiremos a estrutura do pensamento clássico, bem como os autores tidos como fundadores 
das formulações teóricas do liberalismo. A partir da retomada das principais ideias mercantilistas e 
fisiocratas, trataremos do contexto científico do período em que o pensamento econômico clássico 
estabelece seus primeiros passos. Poderemos identificar a importância de Adam Smith como pai da 
economia moderna. Apresentaremos Thomas Malthus e sua teoria do progresso populacional. Também 
trataremos das ideias do principal expoente da escola clássica, David Ricardo, com destaque para seu 
conceito de valor de troca, salários, lucros e renda da terra e seus axiomas a respeito da teoria de 
comércio internacional. Não podemos nos esquecer de Jeremy Bentham, Jean Baptiste Say, Nassau 
William Senior e John Stuart Mill, que adicionaram importantes contribuições ao pensamento clássico 
por meio de ideias do utilitarismo.
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Debateremos as ideias e teorias marxistas e as de inspiração neoclássica. Partiremos das revoluções 
do final do século XIX e das contribuições de Marx para o debate. Seguiremos com o utilitarismo de 
Jevons, de Menger e de Walras até chegarmos à discussão das teorias neoclássicas com Marshall, 
Böhm-Bawerk e Sraffa. Os imperialistas também estão presentes representados por Veblen, Hobson, 
Luxemburg, Lenin, além de Sweezy, com os quais teremos contato introdutório, como efetuado em 
Marx. Apresentaremos a economia neoclássica do bem-estar com a noção de Pareto.
Finalizando o livro-texto, apontaremos os conflitos teóricos do século XX e que permanecem até a 
atualidade. Para tanto, não se deve deixar de considerar a crise de 1929 e a teoria de Keynes, bem como 
a cisão entre os neoclássicos liberais e os conservadores. Abordaremos a contribuição da escola austríaca 
representada por Von Mises, Hayek e Schumpeter. Terminaremos com o debate proposto pela escola de 
Chicago, em que o foco está em Milton Friedman e seu monetarismo.
Esperamos verdadeiramente que você, aluno, aproveite e leitura e desejamos um bom estudo!
INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje, economistas adotam com frequência o conceito de trade-off, ou custo de 
oportunidade. O trade-off nada mais é do que uma escolha que implica perda e ganho de algo. Em 
outras palavras, considera-se que para todo ganho há uma perda correspondente que deve ser avaliada 
no momento da tomada de decisão. Vamos imaginar que você receba um valor financeiro inesperado. 
Há muito o que se fazer com ele: gastá-lo em viagens, cursos, roupas ou móveis; tudo dependerá de 
uma decisão em que serão considerados os ganhos e as perdas de cada alternativa.
O uso de um manual de História do Pensamento Econômico envolve um trade-off. Há vantagens 
e ganhos na sua utilização, mas há também perdas e desvantagens que podem – e devem – ser 
administradase compensadas.
Comecemos pelas vantagens e pelos ganhos: em um único volume, temos a oportunidade de 
conhecer várias épocas e inúmeros autores e teóricos, o que nos permite uma visão panorâmica dos 
desenvolvimentos teóricos econômicos. Assim, de uma só tacada, podemos investigar a gênese da teoria 
econômica com Adam Smith, em plena Escócia do século XVIII, e a derrocada final da ideia de equilíbrio 
natural do mercado com John Maynard Keynes, no século XX.
Quais as desvantagens e as perdas? Por incrível que pareça, as consequências dos mesmos atributos 
que representam os ganhos: por ser panorâmico, o manual simplifica a História; por compor uma 
coletânea de ideias e de autores, o aprofundamento não é priorizado.
Há ainda outra característica que, embora não possa ser entendida como desvantajosa, deve 
necessariamente ser incorporada e percebida pelo leitor desse nosso manual: contar uma história significa 
que uma voz do presente está contando o passado e, portanto, agregando ao passado o seu próprio presente.
Vejamos como isso funciona: Adam Smith, como já dissemos, desenvolveu suas concepções a 
respeito da riqueza das nações na Escócia do século XVIII. Assim, ele (pensador) analisou a realidade 
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daquele momento (a economia europeia do século XVIII) e, refletindo sobre esse contexto apreendido, 
escreveu sobre o trabalho e sua divisão, sobre preços e sobre o egoísmo gerando o equilíbrio natural do 
mercado (veremos isso mais adiante com mais detalhes). Ao escrever sobre Adam Smith, sabemos o que 
aconteceu. Conhecemos o passado e as consequências dele. Sabemos, inclusive, quem concordou com 
as ideias de Smith e quem as refutou; sabemos quais as circunstâncias da realidade que trataram de 
corroborar ou desmentir os postulados de Smith. Quem conta a História o faz a partir do ponto de vista 
do presente, e não há como eliminar esse viés.
Dessa forma, sabemos que os historiadores adotam – e geralmente de forma não explicitada – um 
modelo historiográfico à luz do qual o objeto de estudo será investigado. Esse modelo traduz o que os 
historiadores pensam a respeito da natureza da Ciência à qual se dedicam e das formas de aquisição do 
conhecimento científico. Os historiadores também possuem opiniões próprias que dirigem seus olhares 
para determinadas evidências, em detrimento de outras. Em outras palavras, precisamos reconhecer 
que as concepções gerais do pesquisador (nem sempre explícitas) moldam a realidade estudada, como 
se fossem lentes coloridas. Assim, o historiador, ao contar a história, reflete sobre esse material histórico 
e agrega a ele um novo discurso, qual seja, o seu próprio e o do seu próprio tempo. O historiador jamais 
consegue apreender e descrever a realidade histórica tal, e exatamente tal, como ela aconteceu.
Isso significa que, ao falarmos de Smith, não estaremos contando exatamente o que aconteceu 
no tempo de Smith e não poderemos nos apropriar (ou falar) dos exatos pensamentos e objetivos 
de Smith ao escrever A Riqueza das Nações. Estaremos, apenas, contando a nossa versão sobre os 
desenvolvimentos teóricos de Smith; quando você, aluno, for estudar A Riqueza das Nações, estará 
construindo uma opinião a respeito de Smith que poderá ser completamente distinta daquela por 
nós construída.
Então, como administrar as perdas inerentes ao uso de um manual? Em primeiro lugar, sugerimos 
que você procure saber a respeito dos vieses ideológicos de quem escreveu o manual. Historiadores 
marxistas tendem a perceber a História do ponto de vista materialista e dialético. Historiadores sob forte 
influência do Positivismo tendem a enxergar a História a partir de uma concepção linear e cumulativa. 
Em outras palavras, sugerimos que você identifique as cores e as lentes a partir das quais os autores 
do manual olharam a realidade. Finalmente, sugerimos que você vá até as fontes originais e leia os 
autores que apresentaremos. Não se contente em acessar esse conhecimento apenas por meio do 
nosso olhar: exercite o seu. Não leia A Riqueza das Nações apenas a partir dos nossos olhos, leia esse 
texto com os seus próprios olhos. Ao estudar o passado e investigar documentos históricos, estamos 
também concretizando o presente à medida que nós, sujeitos do conhecimento, não estamos aptos a 
nos dissociar do objeto de estudo. Dessa forma, ao convidar você, aluno, ao estudo das fontes primárias, 
estamos sugerindo que construa, conosco, a história do nosso presente.
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
Unidade I
1 OS PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS
De acordo com Nunes e Bianchi (1999, p. 93), “suspeitamos que os economistas do passado 
coabitam nosso presente, mas não o fazem na forma pura como vieram ao mundo, e sim transformados 
pela passagem do tempo”. Ao contarmos o passado, assumiremos que a História não é linear e que os 
desenvolvimentos teóricos não são necessariamente cumulativos. Isso quer dizer que os economistas 
posteriores a Smith não necessariamente agregaram novas interpretações às ideias dele; talvez, alguns 
não tenham sequer feito referência ao universo tratado por Smith. Teóricos constroem e divulgam suas 
ideias a partir de determinados contextos sociais e históricos, havendo a possibilidade de as ideias se 
constituírem em posições de consenso – paradigmas – dentro da comunidade de estudiosos, e que 
serão substituídos por outros à medida que mudarem as condições desses contextos sociais e históricos. 
Consideraremos, portanto, que:
[...] os paradigmas instituem-se porque são mais bem-sucedidos que seus 
competidores na resolução de alguns problemas que o grupo de cientistas 
reconhece como graves. Contudo — e esse é um ponto crucial —, ser 
bem-sucedido não significa ser totalmente bem-sucedido com um único 
problema, nem ser notavelmente bem-sucedido com um grande número. 
De início, o sucesso de um paradigma [...] é, em grande parte, uma promessa 
de sucesso que pode ser descoberta em exemplos selecionados e ainda 
incompletos [...] (NUNES; BIANCHI, 1999, p. 96).
 Observação
Thomas Kuhn (1922-1996) foi um físico e historiador norte-americano. 
Em um de seus mais famosos trabalhos, A Estrutura das Revoluções 
Científicas, explica o conceito de paradigma, entendido então como o 
consenso de uma classe de cientistas em relação a determinado objeto. Esse 
consenso sofre abalos quando não dá mais conta de responder às perguntas 
feitas e, então, costumam ocorrer as revoluções científicas, a partir das quais 
rompe-se com o antigo paradigma, substituindo-o por outro. Um exemplo 
clássico de paradigma em Ciência é o geocentrismo, crença que defendia 
a ideia de a Terra imóvel ser o centro do Universo. Quando essa explicação 
não deu mais conta de responder a todas as perguntas, forçosamente, esse 
paradigma teve de ser abandonado e substituído por outro (no caso, pelo 
heliocentrismo).
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Unidade I
 Saiba mais
Para aprofundar o tema, sugerimos a leitura de:
CHIBENI, S. S. Síntese de A Estrutura das Revoluções Científicas, de 
Thomas Kuhn. Campinas: Unicamp, [s.d.]. Disponível em: <http://www.
unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/structure-sintese.htm>. Acesso em: 
14 out. 2015.
Em função disso, buscaremos relativizar a proposta de “grandes figuras”: claro que falaremos dos 
teóricos mais importantes e fundamentais da história do pensamento econômico, mas procuraremos 
entendê-los como frutos dos seus próprios tempos. Buscaremos, assim, jogar luz nos paradigmas 
construídos e/ou substituídos pela comunidade de pensadores, representados por essas grandes figuras 
tidas como responsáveis pelas concepções paradigmáticas.
É importante também explicitar: contaremos a História tendo em vista que ela é um processotenso, contraditório e sem finalidade imanente, em que agentes (grupos sociais) com interesses 
comuns e constituídos a partir de possibilidades e limites determinados afirmam e fazem reconhecer 
suas necessidades sociais. Mais: partiremos do princípio de que os problemas se colocam diante dos 
pensadores em função de condições temporais muito específicas. Assim, não fará o menor sentido 
dizer que David Ricardo acertou naquilo que Adam Smith errou: não há erros ou acertos, mas respostas 
possíveis dadas para problemas formulados em função de circunstâncias específicas. Em outras palavras:
O historiador do pensamento econômico pode assinalar que fato fundamental, 
em um tempo e um lugar determinados e numa escala mais ou menos grande, 
polariza a atenção de um economista sob a forma de um problema prático para o 
qual é preciso trazer urgentemente uma solução passível de argumentação junto a 
um público esclarecido, justificando uma intervenção sobre variáveis particulares. 
Mas o historiador do pensamento econômico também pode descrever como tal 
conjunto de enunciados reflete as condições particulares de uma sociedade, 
de uma classe ou de uma região - quer estas condições sejam políticas, morais, 
psicológicas ou traduzam por si mesmas leis naturais demográficas, físicas, 
climáticas etc. (BERTHOUD, 2000, p. 64).
Não trataremos, portanto, de “corrigir” ideias, conceitos e teorias. A História não se presta a consertar 
o que “de errado foi construído lá atrás”. Pretendemos apenas resgatar um processo de desenvolvimento 
e amadurecimento de constructos teóricos a partir de uma leitura externalista da construção científica: 
não há como descolar a teoria do contexto histórico que a engendrou. Assim, há de se compreender as 
interfaces e relações entre os acontecimentos políticos, econômicos, sociais, científicos e artísticos em 
determinado período; há de se conhecer as realizações, as atitudes e os comportamentos dos homens 
àquele tempo, as instituições enfim construídas, os templos erguidos ou destruídos, as obras escritas e 
as ideias então disseminadas.
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
 Saiba mais
Podemos fazer duas leituras dos desenvolvimentos e das transformações 
das ideias. A primeira, internalista, diz respeito às mudanças das ideias 
em si, independentemente do contexto histórico que as engendraram 
ou que as estimularam. Seria, por exemplo, compararmos o conceito de 
equilíbrio em Adam Smith com o conceito de equilíbrio no século XXI. Seria 
colocarmos para dialogar, em pé de igualdade e nas mesmas condições, 
um economista do século XVIII e outro do século XX. De forma contrária, a 
leitura externalista privilegia o contexto histórico. Parte-se do pressuposto, 
portanto, de que as condições sociais e históricas determinam, em grande 
parte, as elaborações científicas feitas.
Para estudar mais o tema, sugerimos:
BASSALO, J. M. F. A importância do estudo da história da ciência. Revista 
da SBHC, Rio de Janeiro, n. 8, p. 57-66, 1992. Disponível em: <http://www.
mast.br/arquivos_sbhc/121.pdf>. Acesso em: 20 out. 2010.
Finalmente, iremos contar a história do pensamento econômico a partir do período em que foram 
criadas as condições para o nascimento da economia de mercado. Falaremos de teorias que buscaram 
explicar os atos econômicos com interesses e objetivos essencialmente econômicos que surgiram apenas 
a partir do nascimento da economia de mercado, quando as relações sociais passaram a ser explicadas 
em função de um sistema econômico organizado.
Segundo Cerqueira (2001, p. 398), nas sociedades primitivas pré-capitalistas:
[...] o que leva os homens a desenvolverem atos de produção e distribuição 
não é o interesse individual na posse de bens, mas a tentativa de preservar 
sua situação social. Desse modo, a motivação para produzir não provém de 
interesses especificamente econômicos, mas pode estar ligada a um conjunto 
de fatores sociais que variam em cada grupo humano: a necessidade de 
preservar vínculos familiares ou uma posição social, a adesão a um código 
de honra ou a valores tradicionais.
Nas sociedades primitivas pré-capitalistas, não apenas inexistiam comportamentos como a busca 
do lucro, a necessidade de maximização e de otimização da produção, o espírito empreendedor e 
concorrencial, como inexistiam as instituições e os espaços que poderiam abrigar os atos que entendemos 
como econômicos. Portanto, não faz o menor sentido falarmos de pensamento econômico em relação 
a um período histórico em que inexistiam moedas, formação de preços ou a produção e distribuição de 
mercadorias e fatores de produção (quer dizer, fatores reconhecidos como de produção).
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Unidade I
Assim, partiremos do pressuposto de ser a História do Pensamento Econômico o resgate dos 
desenvolvimentos teóricos a respeito das estruturas econômicas de mercado, das formas pelas quais, 
nas sociedades capitalistas, a reprodução material das sociedades passou a se processar através de 
instituições orientadas exclusivamente para objetivos econômicos, como os mercados. Nesses termos, 
começaremos a nossa investigação a partir das condições que possibilitaram o surgimento do capitalismo 
e, portanto, das Ciências Econômicas como objeto autônomo e definido de estudo.
1.1 O período pré-capitalista
A Europa da Idade Moderna (quer dizer, a partir do século XV) encontrava-se em intensa 
transformação. O sistema feudal, degradado e obsoleto, aos poucos, começava a ser substituído por 
outro em que o comércio tinha importância vital e no qual o rei era o responsável pela formulação 
e aplicação das leis e das normas. É claro que esse processo não ocorreu sem percalços ou de forma 
linear: ao contrário, ele se deu de forma irregular, tanto no tempo quanto no espaço geográfico. O 
que se podia perceber claramente era que o que havia sustentado o mundo feudal estava ruindo 
lentamente (HUBERMAN, 1974).
A intensificação da atividade comercial e o surgimento de novas cidades transferiram o poder das 
regiões urbanas feudais para os centros urbanos. Mesmo nos feudos, o aumento de produtividade 
ocasionado pela adoção de novas técnicas de plantio havia gerado um excedente econômico que 
dependia das cidades para ser trocado e que, posteriormente, seria gasto com a compra de artigos de 
luxo do Oriente ou de outros locais distantes (HOBSON, 1985).
Segundo Heilbroner e Milberg (2008), se esse comércio, em suas origens, dispensou a figura do 
intermediário (e os próprios camponeses e agricultores tratavam de vender o excedente nas feiras 
medievais), o tempo e a intensificação das trocas acabaram provocando o surgimento do comerciante, 
aquele que percorria as estradas medievais em companhia de outros vendedores e que se especializava 
na venda de determinados produtos. Os senhores feudais toleravam essas figuras tão estranhas ao 
mundo rígido das categorias sociais imutáveis da Idade Média: afinal, eles, senhores e donos das terras, 
ganhavam comissões nos negócios realizados nas feiras localizadas em suas propriedades.
A intensificação do comércio trouxe consigo a necessidade de melhores vias de transporte. Também 
era necessário que agentes fizessem a troca entre as inúmeras moedas em circulação, e dessa necessidade 
surgiram os banqueiros e agentes que estabeleciam o câmbio.
O ressurgimento de antigas rotas comerciais que, anteriormente, partiam do Mediterrâneo em 
direção à Ásia e que haviam sobrevivido às invasões bárbaras intensificou a atividade comercial ao longo 
da costa italiana. Ainda, as Cruzadas (movimento religioso que tinha como objetivo libertar a Cidade 
Santa dos infiéis) fizeram surgir entrepostos comerciais ao longo do caminho em direção ao Oriente 
(HUBERMAN, 1974).
No mar do Norte e no Báltico também podiam ser vistos navios carregados de peixe, madeira, peles, 
couros e peliças (HUBERMAN, 1974). Bruges,em Flandres, tornou-se um importante centro comercial e 
estabeleceu o contato com o mundo russo-escandinavo. O aumento da atividade comercial provocou 
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
o aperfeiçoamento das técnicas de construção naval e a criação de um sistema monetário no qual 
conviviam o florim, o florentino e o ducado.
Figura 1 – Rotas comerciais ao final da Idade Média
A intensificação da atividade comercial e a expansão dos meios de pagamento também causaram 
fissuras no poder exercido até então pela Igreja. Não havia mais como tolerar as restrições religiosas aos 
mecanismos de crédito. Aliás, toda a imobilidade social preconizada pelo catolicismo já não tinha razão 
de ser.
Dessa forma, o poder que antes pertencia ao clero e ao senhor feudal foi sendo transferido, aos 
poucos, para os habitantes da cidade, que era a representante da liberdade em relação às amarras do 
sistema feudal.
Do ponto de vista religioso, essas transformações e esses movimentos contrários ao poder da Igreja 
Católica tomaram corpo com a Reforma Protestante. O calvinismo e o luteranismo, vertentes cristãs que 
se opuseram ao poder hegemônico de Roma, provocaram uma mudança significativa na forma de se 
ver e pensar o mundo: uma nova ética ditava que o trabalho santificava o homem, não sendo castigo 
ou punição pelo pecado original. Ao contrário, o trabalho resultava em dinheiro, que não deveria ser 
desperdiçado ou gasto com luxúria. O trabalho, longe de ser tido como vexaminoso, era o meio lícito de 
se melhorar de vida e ascender socialmente. A abstinência e a parcimônia, por sua vez, eram estratégias 
para aumentar a renda e disponibilizar recursos para a produção e para o comércio (HOBSBAWM, 2010).
A Igreja Católica havia deixado de ser o centro do qual emanavam as regras morais e as explicações 
para o funcionamento do mundo e da natureza, e essas mudanças provocaram transformações no 
pensamento filosófico daquele período: paulatinamente, a Escolástica cedeu espaço para o espírito 
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renascentista. Com o apoio da autoridade dos textos clássicos, os filósofos naturais renascentistas 
buscaram a matemática, a cabala e os métodos de observação como formas de obter maiores níveis 
de certeza nas abstrações sobre o homem e a natureza: o texto bíblico já não dava conta de responder 
a todas as perguntas feitas. Para isso, era necessário que a Razão fosse utilizada como antídoto para 
as superstições, as paixões e a imaginação. Havia respeito e reverência ao conhecimento antigo e às 
antigas tradições, mas havia também a necessidade e a coragem de ir além.
Essas mudanças e transformações teriam a decisiva e final contribuição de três processos que 
ocorreram concomitantemente: o aumento de poder dos reis, a formação dos Estados Nacionais e a 
exploração marítima que alcançou o Novo Mundo. Vejamos como.
 Lembrete
Tal como falamos anteriormente, nossa abordagem privilegia a 
investigação das ideias a partir do contexto social e histórico no qual 
elas nascem.
Segundo Huberman (1974), à medida que o senhor feudal e a Igreja perdiam poder, a figura do rei 
– símbolo do poder nacional – ganhou destaque. Não apenas sua importância aumentou, mas também 
se tornaram visíveis seus movimentos em defesa de uma unidade nacional que forjasse e estimulasse 
a formação de uma identidade. O rei passou a representar a luta por conquistas de territórios, a defesa 
de fronteiras e a adoção de uma língua nacional, de uma moeda nacional e de uma legislação nacional. 
Esse movimento, é claro, contava com o apoio dos moradores das cidades e dos comerciantes: eles 
eram os principais beneficiários dessas conquistas que correspondiam exatamente ao que perdiam os 
senhores feudais e a Igreja.
Esse processo foi bastante lento, é claro. De qualquer forma, ele representou a transformação 
paulatina das velhas e antigas estruturas que, obrigatoriamente, deviam dar espaço às novas. Ao rei, 
os moradores das cidades e os comerciantes pagavam impostos; do rei, esperavam proteção, tanto em 
relação às suas atividades comerciais quanto em relação à defesa do território e das rotas marítimas. O 
rei, em acordo às expectativas, organizou exércitos e instituiu uma moeda única. Nas cortes, homens de 
finanças e grandes comerciantes tratavam de defender os interesses comerciais daqueles que pagavam 
impostos. Parece-nos possível concluir, portanto, que o Estado Nacional surgiu como resultado da luta 
do poder das cidades e da nascente classe média contra “o particularismo – a jurisdição autônoma 
senhorial, com seus tributos, moedas, pedágios, e contra o universalismo – a pretensão da Igreja em 
representar o universo dos fiéis, regulando todas as esferas da vida comum, da econômica à cultural” 
(REZENDE, 2007, p. 74).
Ilustrativa desse momento, a obra de Nicolau Maquiavel (1469-1527) fala dessa nova figura 
do rei. No caso de O Príncipe (1512), temos um texto que resume de maneira magnífica o espírito 
de seu tempo.
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
 Saiba mais
Maquiavel, filho de um advogado estudioso das humanidades, trabalhou 
em funções diplomáticas em meio à luta entre os Médici, a Espanha e a 
França. Por conta de acusações de traição e conspiração, chegou a ser 
preso e torturado. Posteriormente, Maquiavel conseguiu libertar-se da 
prisão, embora sem voltar ao serviço público. Para os republicanos, ele 
era simpático à monarquia. Para os monarcas, ele era favorável aos ideais 
republicanos. Sugerimos a leitura de:
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. 1512. Disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_
obra=24134>. Acesso em: 14 out. 2015.
De fato, o que interessava a Maquiavel era falar sobre o Estado. “Não o melhor Estado, aquele tantas 
vezes imaginado, mas que nunca existiu. Mas o Estado real, capaz de impor a ordem” (SADEK, 2006, p. 
17). Tratava-se de uma verdadeira ruptura em relação ao saber anterior, pois ignorava a premissa de 
uma ordem natural e eterna.
A ordem, produto necessário da política, não é natural, nem a materialização 
de uma vontade extraterrena, e tampouco resulta do jogo de dados do 
acaso. Ao contrário, a ordem tem um imperativo: deve ser construída pelos 
homens para se evitar o caos e a barbárie e, uma vez alcançada, ela não será 
definitiva, pois há sempre, em germe, o seu trabalho em negativo, isto é, a 
ameaça de que seja desfeita (SADEK, 2006, p. 18).
A política, a partir dessa visão, podia ser comparada a um feixe de forças, unidas sempre por conta 
de mecanismos racionais. Para se entender o poder, era necessário, portanto, assumir a incerteza, a 
contingência e a falta de estabilidade. Os traços humanos imutáveis eram aqueles associados à ingratidão, 
à covardia e à ganância. Por isso, a História encontrava-se repleta de conflitos, caos e anarquia. Segundo 
Maquiavel, o conhecimento das relações de causa e efeito entre os fenômenos se daria por meio do 
estudo dos fatos do passado; afinal, a História era cíclica.
O poder político tem, pois, uma origem mundana. Nasce da própria 
“malignidade” que é intrínseca à natureza humana. Além disso, o poder 
aparece como a única possibilidade de enfrentar o conflito, ainda que 
qualquer forma de “domesticação” seja precária e transitória. Não há 
garantias de sua permanência. A perversidade das paixões humanas sempre 
volta a se manifestar, mesmo que tenha permanecido oculta por algum 
tempo (SADEK, 2006, p. 20).
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Para Maquiavel, só havia duas respostas possíveis para a anarquia: o Principado e a República. A 
escolha de uma delas dependia de quão preparada uma sociedade estivesse para a vida republicana; 
afinal, a República requeria queo povo fosse virtuoso e que as instituições fossem estáveis. Caso a nação 
estivesse dividida e à mercê da corrupção ou de inimigos externos, só havia uma saída: “o surgimento de 
um homem virtuoso capaz de fundar um Estado. Era preciso, enfim, um príncipe” (SADEK, 2006, p. 21).
[Há] a impossibilidade de manter o governo republicano em uma cidade 
corrompida, ou de estabelecê-lo aí. Em um e em outro caso seria melhor 
inclinar-se para a monarquia que para o estado popular, a fim de que esses 
homens, cujas únicas leis não conseguem reprimir a insolência, sejam ao 
menos subjugados por uma autoridade, por assim dizer, real (MAQUIAVEL, 
1955 apud SADEK, 2006, p. 50).
Nesses termos, o príncipe não era necessariamente o mais forte, mas o que conseguia manter o 
domínio adquirido e o respeito dos seus governados. O príncipe devia aparentar possuir as qualidades 
valorizadas pelos seus governados, porque a política tinha regras próprias e fazia parte do jogo a 
ambiguidade entre aparência e essência. Em outras palavras, o poder até podia emanar da força, mas 
sua sustentação dependia do controle e do domínio. Nem tudo aquilo que podia ser considerado uma 
virtude em se tratando de pessoas comuns também o era em relação ao Príncipe.
Maquiavel era incisivo: alguns vícios poderiam ser, na verdade, virtudes. Esperava-se que o Príncipe, 
para manter-se no poder, tivesse a sabedoria de agir conforme as circunstâncias.
Não tema, pois, se o príncipe que deseje se manter no poder “incorrer no 
opróbrio dos defeitos mencionados, se tal for indispensável para salvar o 
Estado”. [...] Os ditames da moralidade convencional podem significar sua 
ruína. Um príncipe sábio deve guiar-se pela necessidade – “aprender os 
meios de não ser bom e a fazer uso ou não deles, conforme as necessidades” 
(MAQUIAVEL, 1955 apud SADEK, 2006, p. 23).
Maquiavel escreveu tendo a crise na Itália como pano de fundo, mas sua obra dizia respeito a todos 
os países em que a monarquia se estabelecia, naquele momento, como força absoluta. De fato, as 
monarquias absolutistas eram a forma de governo dos Estados nascentes.
Esses Estados são mesmo imensos e constituídos por zonas de cidades, ou 
por grandes cidades isoladas, com arrabaldes férteis e povoados separados 
por vastos espaços semidesérticos, por florestas, pinhais ou estepes. Entre 
províncias e entre Estados estendem-se “fronteiras”. [...] Essa geografia, 
resultado da história humana, favorece certo aspecto federativo que os 
Estados apresentam em graus diferentes (MOUSNIER, 1995, p. 176-177).
Os Estados menores e médios submetiam-se aos maiores. Por meio de casamentos ou alianças, casas 
imperiais se juntavam umas às outras, reunindo seus Estados a partir de uma única liderança, o rei.
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A maioria destes Estados evolui para a monarquia absoluta. É o regime em 
que o rei, encarnando o ideal nacional, possui, além disso, de direito e de fato, 
os atributos da soberania: poder de decretar leis, de fazer justiça, de arrecadar 
impostos, de manter um exército permanente, de nomear funcionários, de 
julgar os atentados contra o bem público e, em especial, a autoridade real 
por meio de jurisdições de exceção emanadas do seu poder de justiceiro 
supremo. A ideia de monarquia absoluta acrescenta-se, sem destruí-las, às 
velhas ideias de contrato e de costume que regulamentavam as relações 
dos reis com seus vassalos e súditos e que, ao mesmo tempo, a temperavam 
(MOUSNIER, 1995, 177-178).
O sentimento patriótico gerou o nacionalismo exacerbado. O rei não era apenas alguém com o 
direito de governar, mas era um “herói”, um semideus que dominava de forma sábia e absoluta. Era dele 
que se esperava a gestão dos constantes conflitos entre os burgueses e a nobreza. Afinal, a monarquia 
defendia os burgueses, porque deles vinha o dinheiro tão necessário para a manutenção de soldados 
e funcionários; em contrapartida, a burguesia desejava um status social parecido com a nobreza, e 
para o rei pedia títulos e cargos. Por outro lado, a nobreza, para defender o seu espaço na sociedade, 
precisava de favores do rei. Assim, cada vez mais, o rei era pressionado pelo choque entre os interesses 
antagônicos da burguesia e da nobreza, sendo necessário considerar que:
tais monarquias absolutas, aliás, possuem menos força efetiva, menos 
influência real sobre a vida quotidiana de seus súditos do que os governos 
democráticos liberais do século XIX. A lei divina cristã, as leis fundamentais 
do reino, que exprime algumas dessas condições de existência, as leis do 
direito das gentes, como as que garantem a propriedade, os corpos e as 
comunidades, seus contratos, costumes e privilégios, tudo isso limita o 
poder do rei (MOUSNIER, 1995, p. 184-185).
Do ponto de vista econômico, o rei praticava o mercantilismo, conjunto de estratégias que tinham 
como principal objetivo excluir a concorrência das indústrias estrangeiras em solo nacional e criar mais 
empregos com a renda advinda da exportação de bens.
O Estado ou a nação (a polity) representam a esfera de ação do rei, sua 
jurisdição, o espaço de que está incumbido de cuidar. A economia é a forma 
de organização deste espaço. Os dois domínios não podem ser tratados 
separadamente, quando mais não fosse porque ocupam o mesmo espaço 
(CERQUEIRA, 2001, p. 396).
Segundo os pressupostos dessas estratégias, as estratégias mercantilistas constituíam o mecanismo 
necessário para a obtenção de uma balança comercial favorável, sinal de saúde e vitalidade do sistema 
econômico da Nação.
A ênfase conferida às virtudes do aumento da exportação esperava pelo 
aparecimento de um poderoso interesse manufatureiro, distinto do 
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comercial, pois era benéfico para o fabricante que o mercado para seu 
produto se mostrasse tão amplo quanto possível, como também redundava 
em sua vantagem que a importação dos artigos competitivos fosse reduzida. 
É verdade que ele tinha ainda interesse em incentivar a barateza de suas 
matérias-primas e da subsistência dos trabalhadores: fato que vimos 
a doutrina mercantilista levar inteiramente em conta ao reservar sua 
recomendação de exportação às manufaturas e restringir sua condenação 
às importações do que não fosse matéria-prima ou mercadorias acabadas, 
destinadas ao consumo de luxo (DOBB, 1986, p. 151).
Segundo Hobson (1985), o mercantilismo se apoiava em três premissas:
• o país deveria apenas importar aquilo que não podia ser vantajosamente produzido no país;
• o saldo favorável da balança comercial (resultante de um volume maior de exportações em 
comparação às importações) significava um maior estoque de ouro e de metais;
• o Estado deveria chamar para si a tarefa de estimular as exportações e encontrar novas fontes de 
extração de metais preciosos. Tanto de uma forma quanto de outra, aumentar-se-ia o estoque 
nacional de ouro e prata, desde que também fossem criados mecanismos que impedissem a saída 
desses metais do país.
Para Cerqueira (2001, p. 395):
o mercantilismo propõe a regulação da vida econômica da sociedade pelo 
Estado, pois esta não se organiza por si só. A ordem econômica e a ordem 
política, neste sentido, estão mutuamente relacionadas, pois ao Estado 
compete a oikonomia, a organização daquele espaço que é entendido 
como a propriedade, a casa do rei. A boa administração da economia é 
benéfica para o Estado e para seus membros. Ela depende de assegurar 
que a população esteja adequadamente distribuída entre as diferentes 
ocupações, que cada um ocupe o lugar que lhe cabe. Nesse caso, o sentido 
da palavra “economia” não está referido às “leis de administração da casa” 
(da maneira como hoje falaríamos em leis de administração da economia 
ou em princípios de política econômica), mas sim à responsabilidade de 
cuidar da propriedade, de preservar cada coisa em seu justo e devidolugar 
(CERQUEIRA, 2001, p. 395).
 Lembrete
O mercantilismo é o conjunto de estratégias conduzidas pelo Estado 
para promover a exportação e estimular a formação de estoque de moedas.
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As mercadorias necessárias à atividade comercial e o metal que representava a riqueza da nação 
teriam a mesma origem: a exploração de um novo mundo encontrado além-mar. A solução parecia 
incrivelmente lógica: se era proibido exportar metais, a exportação de mercadorias deveria ser estimulada. 
Assim, mercadorias atraentes para o mercado europeu deveriam ser encontradas e trazidas de seus 
locais de origem para os grandes centros de troca na Europa. Mais: era necessário encontrar territórios 
até então inexplorados e que pudessem conter minas de ouro e prata.
Essa estratégia fez surgirem os grandes investimentos da monarquia na exploração marítima. Com os 
recursos dos cofres imperiais, grandes embarcações foram construídas, e empreendedores e aventureiros 
seguiram para os oceanos em busca de fontes de matérias-primas e metais.
Colombo e Vasco da Gama, Cabral e Magalhães não se aventuraram em suas 
viagens que marcaram época como mercadores (embora esperassem fazer 
fortuna com a aventura). Eles se aventuraram em embarcações compradas 
e equipadas com o dinheiro real, com o selo real de aprovação, e foram 
enviados para longe com a esperança de acréscimos aos tesouros dos reis 
(HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 61).
Assim, as colônias estabelecidas nos novos territórios descobertos e conquistados foram 
inseridas no modelo preconizado pelos reis e pelas monarquias em favor da burguesia comerciante. 
Dessas colônias chegavam açúcar e especiarias e eram retirados ouro e prata das minas. Ainda, 
essas colônias serviam de mercado consumidor para os produtos fabricados nas metrópoles: o 
arranjo era simplesmente perfeito.
Rei
Estado
Metropolitano
Burguesia
Colonização
Figura 2 – A colonização correspondeu aos interesses do Estado Absolutista e da burguesia mercantil 
europeia, fortalecendo o primeiro e enriquecendo a segunda
A conquista de novas terras era a peça que faltava para a consolidação do que ficou conhecido como 
Antigo Regime (Ancien Régime, em francês): o absolutismo, o capitalismo comercial, o mercantilismo, a 
sociedade estamental e o sistema colonial.
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Sistema colonial
M
ercantilism
o
Colônia Metrópole
Pacto 
colonial
Escravos, manufaturados
Gêneros tropicais, metais preciosos
Saldo favorável
Figura 3 – O tripé econômico do Antigo Regime (Capitalismo Comercial, Mercantilismo e Sistema Colonial)
É importante salientar que, embora não se pudesse ainda falar de capitalismo industrial ou de 
economia de mercado, o cenário para o surgimento desses fatores já estava pronto. O mundo feudal 
havia se desintegrado e já havia uma nova atitude em relação ao lucro; a ética católica havia sido 
substituída pela ética protestante, que defendia o trabalho e a parcimônia; o comércio crescia a olhos 
vistos, sob a proteção da monarquia; a atividade econômica encontrava-se cada vez mais monetizada; 
a urbanização havia estimulado a mobilidade social. Não havia ainda capitalismo, mas existiam atos 
econômicos sobre os quais os estudiosos e defensores do mercantilismo iriam falar. Ainda não se tratava 
de um “sistema de pensamento”, mas não é possível ignorar essas marcas deixadas pelos primeiros 
textos sobre os negócios e a administração das finanças públicas. De forma mais específica, é importante 
investigar os textos que se dedicaram ao estudo das condições da acumulação primitiva de capital que, 
posteriormente, sustentaria o processo de industrialização e o desenvolvimento capitalista.
Segundo Cerqueira (2001, p. 394):
Alguém poderia objetar, porém, que é possível encontrar este tipo de 
discurso na obra de autores do século XVII e inícios do XVIII, tais como 
Thomas Mun, Petty, Barbon, Child, Cantillon etc. Nelas, haveria uma reflexão 
sobre a moeda, o comércio, os juros e a riqueza, que parece prefigurar a 
ciência econômica. De modo geral, é deste modo que os textos de história 
do pensamento econômico apresentam os autores do período mercantilista: 
como representantes de um momento em que emergem os conceitos e 
uma nova maneira de pensar, que redundariam no surgimento da economia 
política clássica. Ainda que se lamente a ausência de rigor e sistematicidade, a 
presença de conceitos como valor, renda e produção é quase sempre tomada 
como o sinal inequívoco de uma certa forma de entender os fenômenos 
da produção material que autoriza a inclusão dos mercantilistas no grupo 
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
seleto dos “primeiros economistas”: “Talvez os teóricos de hoje distorçam 
os processos de pensamento de seus predecessores, ao reformularem os 
problemas, conceitos e análises de ontem em termos modernos; mas, ao 
fazê-lo, ainda podem clarear suas próprias ideias e aguçar sua mensagem. 
Olhando-se para trás dessa maneira, não é difícil aceitar Sir William Petty, 
digamos, como um economista na expressão moderna [...]. É verdade que 
os economistas do século XVII herdaram ou desenvolveram uma base de 
teoria econômica no sentido moderno, ainda que fosse muitas vezes apenas 
esboçada [...].
1.2 A moeda, o câmbio e a riqueza a partir dos pressupostos mercantilistas
Para que possamos entender melhor a contribuição dos autores mercantilistas para a compreensão 
das práticas preconizadas pelo Estado no sentido de criar e manter a riqueza dentro da nação, devemos 
considerar as principais características do modo de funcionamento do sistema monetário e comercial 
do período. Segundo Suprinyak (2009, p. 572):
As primeiras décadas do século XVII configuraram um período conturbado 
na história da Europa, em especial na Inglaterra – presságio de um 
século marcado por contínuas e profundas turbulências. Ao início da 
década de 1620, várias tendências confluíam para deflagrar uma crise 
econômico-social que causou comoção pública nos domínios britânicos. 
As contingências bélicas associadas à eclosão da Guerra dos Trinta Anos 
deram origem ao célebre fenômeno do Kipper-und Wipper-Zeit, uma série 
de desvalorizações metálicas nas moedas dos diversos principados do Sacro 
Império Romano-Germânico que visavam aumentar os recursos disponíveis 
para as despesas de guerra. O resultado foi um fluxo massivo de moedas 
de toda a Europa Ocidental em direção à região dos conflitos, atraídas pela 
possibilidade de ganhos na arbitragem entre valores nominais e metálicos. A 
Inglaterra, que vinha sofrendo com o aumento da concorrência no mercado 
internacional de tecidos e com o recente fracasso do Cockayne Project 
(que amplificou a crise na manufatura têxtil do país), sentiu de forma 
particularmente severa os efeitos da escassez de moeda.
Nada mais natural, portanto, que autores se dispusessem a discorrer sobre questões pragmáticas 
e que envolvessem alternativas e estratégias políticas a serem seguidas pelos nascentes (e em franco 
crescimento e consolidação) Estados europeus. Esses autores nada mais fariam do que discorrer a respeito 
de condições necessárias para o surgimento de saldos favoráveis da balança comercial, mecanismo 
ideal para o estoque da moeda, símbolo do fetiche mercantilista pela economia monetária. Além disso, 
ao considerar o consumo apenas uma atividade da destruição da riqueza gerada, esses autores, de 
bom grado, abandonaram a investigação do comércio interno, mecanismo pelo qual a riqueza apenas 
mudava de mãos. Assim, para esses autores, é o comércio internacional o mecanismo ideal para gerar 
estoque de moedas. Segundo Suprinyak (2009, p. 578),
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Se as transações internasnão são capazes de criar riqueza, cabe ao comércio 
internacional a tarefa de garantir a prosperidade nacional. É importante 
ressaltar que estes autores não são adeptos de um ascetismo radical. Pelo 
contrário, acreditam que a prosperidade se manifesta, entre outras coisas, 
no conforto e no bem-estar dos súditos; que a natureza distribuiu as 
riquezas por todo o globo, de forma a induzir os povos a comerciar entre si 
para satisfazer suas necessidades; e que não é possível exportar muito sem 
importar nada, pois o comércio internacional requer certo equilíbrio nos 
fluxos. Entretanto, frugalidade e laboriosidade são as principais maneiras 
de garantir que, no âmbito do comércio internacional, a riqueza doméstica 
seja incrementada. A receita é clara: transformar o consumo estrangeiro 
em riqueza nacional. Compreender tais ideias a partir da perspectiva de 
aversão ao consumo também permite iluminar sob outro ângulo a noção 
de comércio internacional como jogo de soma-zero, característica do 
período. Incapazes de perceber a potencialidade do mercado interno para 
a prosperidade, os autores do período vislumbraram de forma distorcida a 
dinâmica do sistema econômico. Se o consumo é transferência de riqueza, 
o consumo de mercadorias importadas é transferência de riqueza entre 
nações – a única forma possível de incremento da riqueza doméstica.
A moeda surge do comércio internacional e irriga o mercado interno de vitalidade. Assim, esse 
sistema monetário bimetalista (no qual ouro e prata eram cunhados sob a forma de moedas) será objeto 
de análise dos estudiosos mercantilistas. Afinal, embora de aparente simplicidade, o sistema monetário 
funcionava à base de uma taxa de conversão entre ouro e prata, taxa essa que variava dentro de cada 
região da Europa.
Cada moeda tinha seu valor nominal (valor de face) determinado por 
uma estampa real que recebia na cunhagem. Em termos ideais, este valor 
corrente deveria representar seu conteúdo metálico – seu valor “intrínseco”. 
Na prática, este frequentemente não era o caso. Donos da prerrogativa da 
cunhagem, os soberanos com frequência utilizavam-na para obter recursos 
financeiros extraordinários ou mesmo para aumentar a oferta de moeda 
em circulação. Isto poderia ocorrer por meio de uma alteração no valor de 
face – o valor nominal da moeda era alterado sem mudança correspondente 
no conteúdo metálico; ou então adulterando a liga metálica das moedas – 
adicionando metais não preciosos na composição da moeda sem alterar seu 
valor de face. No âmbito do comércio internacional, este sistema monetário 
abria inúmeras vias para atividades especulativas e de arbitragem entre 
moedas (SUPRINYAK, 2009, p. 580).
No contexto mercantilista, a moeda serve como padrão de valor, e o seu valor, portanto, é 
determinado pelo soberano. No entanto, os metais preciosos a partir dos quais as moedas eram 
cunhadas continuam sendo mercadorias; “enquanto mercadorias, tinham seu valor determinado no 
mercado, pela interação entre oferta e demanda. Esta ambiguidade na natureza do valor das moedas 
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criou algumas dificuldades que obscureceram as análises do período” (SUPRINYAK, 2009, p. 581), o 
que criou ambiguidades e dificuldades na interpretação e análise do mecanismo financeiro por parte 
dos autores mercantilistas.
Ainda, devem-se considerar as dificuldades criadas pela diferença entre o valor arbitrado pelo 
soberano e o valor da moeda conforme o metal que continha.
[...] as moedas correntes de cada nação têm seu valor nominal determinado 
pelo soberano, frequentemente não correspondendo ao seu conteúdo 
metálico. Desta forma, no mercado de câmbio – o mercado de letras de 
câmbio – surge uma cotação entre as diversas moedas internacionais, uma 
taxa de conversão idealmente relacionada à equivalência metálica entre elas, 
porém sujeita às flutuações do mercado. Além disto, certas modalidades de 
letras de câmbio não eram descontáveis à vista, possuindo um vencimento 
determinado. Neste caso, encobriam não apenas uma especulação em 
relação à cotação futura da moeda, mas também a cobrança de juros, 
em uma época em que a usura ainda era condenada moral e legalmente. 
Previsivelmente, as modalidades especulativas viabilizadas por este mercado 
internacional de divisas foram inúmeras (SUPRINYAK, 2009, p. 583).
2 O MERCANTILISMO: AUTORES, OBRAS E IDEIAS
Os autores que escreveram sobre atos e fatos econômicos, na maior parte das vezes com a 
preocupação de sugerir estratégias para a gestão pública das finanças, tiveram como objeto de 
estudo aquilo que, para o mercantilismo, era essencial: os meios de pagamento, a quantidade de 
moeda circulante, as questões de comércio internacional, os interditos à importação de bens, as 
vantagens das trocas internacionais etc.
Richard Cantillon (168?-1734) foi um desses autores. A sua obra, Ensaio sobre a Natureza do Comércio 
em Geral (1730), é tida como um dos tratados mais sistemáticos e originais do período anterior a Adam 
Smith (COUTINHO, 2004). Brilhante homem de negócios, filho de uma família irlandesa proprietária de 
terras, Cantillon exerceu atividades nos setores financeiro e bancário, atuando em todas as partes da 
Europa e amealhando uma fortuna com a especulação nas Bolsas de Valores (IORIO, 2014).
Quais são os temas discutidos por Cantillon? Basicamente, suas áreas de interesse foram as seguintes: 
a) a estrutura social e a natureza do excedente econômico; b) a natureza dos problemas monetários e de 
circulação; c) a propriedade privada; d) a distribuição espacial da população e das atividades econômicas. 
De forma resumida, os pressupostos de Cantillon são os seguintes:
i) as decisões (de cultivo, de consumo, de localização) dos proprietários 
determinam o tamanho da população, sua dispersão pelo território e a 
configuração da rede urbana; ii) os custos de transporte ocupam um papel 
decisivo na definição da estrutura de preços e na alocação de atividades 
produtivas no território; iii) os custos de transporte moldam, em conjunto 
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com outros elementos, os processos de mercado, as trocas internacionais 
e a circulação monetária. A visão naturalista e agrícola de economia que 
marca o sistema, no entanto, afeta até mesmo seu componente espacial. 
Esta visão se faz sentir na centralidade da relação social de propriedade da 
terra – a despeito do destaque concedido à produção manufatureira e ao 
capital mercantil – e na importância concedida à produção de subsistência. 
Isso muitas vezes se dá em detrimento de uma concepção mais refinada 
de produtividade e vantagens comparativas, e implica: i) no alcance 
limitado da análise das economias de aglomeração, uma vez que a renda 
é determinada em última instância na agricultura; ii) o recuo a posições de 
sabor mercantilista e dirigista, que se revelam na identificação de trocas 
internacionais recomendáveis e não recomendáveis, e na aspiração a que se 
promova uma redistribuição das manufaturas pelo território como modo de 
nivelar a distribuição de meio circulante, elevar a renda e baixar os custos de 
produção (COUTINHO, 2004, p. 10).
É importante ressaltar que, para Cantillon, independentemente da origem da propriedade, ela será 
sempre o resultado que irá gerar a concentração da terra nas mãos de poucos. De fato, Cantillon afirma 
a ideia de inevitabilidade da má distribuição da riqueza e o fato de a estrutura social da atividade 
econômica estar assentada sobre essa má distribuição. Segundo Coutinho (2004, p. 3):
O sistema de Cantillon compreende três classes sociais básicas – 
proprietários fundiários, trabalhadores agrícolas, arrendatários capitalistas 
– e contempla diversas variações, ao reconhecer as figuras dos trabalhadores 
manufatureiros, do artesão urbano independente, do comerciante, do 
artesão na construção civil. Ao trocaremo produto social, que emana da 
agricultura, estas classes são protagonistas de um modelo de circulação, 
que é o núcleo do Ensaio e abrange as discussões sobre dinheiro, meio 
circulante e preços. No sistema de Cantillon, as decisões (de consumo e de 
como utilizar a terra) do proprietário rural é que determinam a capacidade 
de sustentação da população e o progresso da nação. Em todos os sentidos, 
os proprietários, ou a classe cujos direitos são primários e naturais, detêm 
um poder efetivo de decisão, que flui de sua posição privilegiada na 
percepção de um segmento do produto nacional. Nessa exata medida os 
proprietários de terra constituem a “classe independente”. As demais classes 
sociais – trabalhadores agrícolas, produtores manufatureiros, arrendatários 
capitalistas – são, por contraste, “dependentes” (COUTINHO, 2004, p. 3).
Dessa forma, a necessidade faz que os trabalhadores e fazendeiros vivam próximos ao plantio. As 
vilas serão ocupadas por eles – pelos arrendatários e trabalhadores – e pelos artesãos que trabalharão 
para eles. As cidades, os burgos, por sua vez, representarão os mercados, servindo de moradia para os 
proprietários e artesãos mais especializados e que dependem de uma maior clientela. Também servirão 
de entreposto para o comércio agrícola.
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No sistema de Cantillon, as trocas de produtos agrícolas dão-se em uma 
primeira etapa nos burgos. Os produtores levam as mercadorias aos burgos, 
ao invés de os comerciantes mercadejarem pelo campo, de vila em vila. Essa 
pode ser uma descrição de como se dava o comércio no início do século 
XVIII, mas constitui, preponderantemente, um artifício para mostrar como 
se formam os preços, já que o processo de oferta e demanda e a formação 
de apenas um preço por mercado depende de informação. O burgo é o local 
onde circulam as informações sobre preços e onde se obtém economia nos 
custos de transação. O burgo, portanto, é uma abstração econômica do 
mercado de produtos agrícolas (COUTINHO, 2004, p. 4).
A cidade sobrevive em função da demanda dos nobres e dos proprietários. Por sua vez, é da capital 
que emanam o poder e a riqueza do soberano e da nobreza que o cerca.
A capital, finalmente, que se situa no topo da escala dos aglomerados urbanos, 
é simplesmente a cidade em que o soberano decidiu estabelecer-se. A 
presença do soberano atrai a nobreza e os proprietários mais ricos, determina 
a fixação das principais cortes de justiça e estimula o estabelecimento de 
produtores de manufaturas e de serviços. A capital é o foco em torno do 
qual gravitam os homens de dinheiro e os que lhes prestam serviços. No 
tratamento da economia das cidades e da capital, o Ensaio dá um destaque 
especial aos artesãos dedicados à construção civil. Convém insistir que 
estamos diante de um tratamento econômico da aglomeração bastante 
limitado porque, apesar das externalidades urbanas, a renda nunca é gerada 
na cidade. A concepção natural e agrícola de economia é inteiramente 
dominante (COUTINHO, 2004, p. 5).
Cantillon vai além: ao descrever o locus da atividade econômica, ele observa que a população se 
distribui no espaço territorial em função do cultivo; por sua vez, o tamanho da população depende da 
disponibilidade de meios para o plantio e para a subsistência. Outra grande preocupação de Cantillon 
tem relação com a estrutura de preços e a circulação monetária. De acordo com o contexto da época, 
no qual a questão da quantidade de metal é fundamental, Cantillon se indaga a respeito da quantidade 
necessária do meio circulante.
Na medida em que nas cidades concentra-se metade da população, pode-se 
dizer que uma proporção similar dos produtos agrícolas enfrenta custos de 
transporte. Combinam-se aqui custos de transporte e circulação monetária, 
já que dois fatores – os custos de transporte e a maior disponibilidade de meio 
circulante - contribuem para que os preços sejam maiores nas cidades do que 
nas províncias. Em face disso, as questões que Cantillon passa a enfrentar 
são: a) levando-se em consideração os custos de transporte, qual a estrutura 
de preços de equilíbrio?; b) em que medida a “desigualdade de circulação” 
afeta a distribuição das atividades econômicas e o balanço campo/cidade? 
A primeira questão envolve dois mecanismos complementares de equilíbrio, 
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associados ao custo de transporte. Um dos mecanismos é o de arbitragem no 
sentido estrito. Para Cantillon, a estrutura de preços de equilíbrio é aquela 
em que o diferencial de preços se explica pelos custos de transporte. Fora 
desta estrutura, os comerciantes obteriam ganhos de arbitragem levando as 
mercadorias de um local a outro. O outro mecanismo amplia a dimensão dos 
custos de transporte no modelo, pois remete a seu papel como elemento de 
reorganização da distribuição espacial (COUTINHO, 2004, p. 7).
De fato, e inclusive antecipando algumas das ideias de Smith, Cantillon busca desenvolver o conceito 
de mercado. No mercado que ele descreve, “produtos que não concorrem entre si, devido à impossibilidade 
de transporte, [...] participam de mercados distintos; mercados distintos não nivelam os preços; custos 
de transporte muito elevados criam mercados distintos para o mesmo produto” (COUTINHO, 2004, p. 
10). Entretanto, de forma diferente da que Smith fará, o equilíbrio desse mercado não emana de algum 
mecanismo mágico invisível: são as barganhas e as trocas realizadas por todos os agentes que mantêm 
o mercado funcionando.
Outra grande preocupação de Cantillon diz respeito às formas por meio das quais as diferenças de 
meio circulante afetam os níveis de preços, o comércio internacional e o desenvolvimento das nações.
A localização do país passa a ser um fator estratégico de competitividade 
internacional, atenuando ou intensificando os efeitos do aumento do nível 
de meio circulante provocados pelo superávit comercial. Nesse ponto, a 
localização interage com o specie flow mechanism. É importante assinalar 
que o modelo de comércio internacional do Ensaio leva em consideração 
preços de mercadorias e de fatores e, preponderantemente, o nível dos 
salários. A mobilidade dos fatores é um dos mecanismos de equilíbrio dos 
preços no mercado internacional, considerados os custos de transporte. 
Assim sendo, vantagens em custos de transporte podem também retardar o 
gatilho da mobilidade fatorial (COUTINHO, 2004, p. 10).
Coubert foi outro grande nome entre os que buscaram refletir sobre as práticas governamentais 
associadas ao ideário mercantilista. Segundo Souza ([s.d.], p. 5):
Na França, o Mercantilismo manifestou-se pelo Colbertismo, ideias 
derivadas de Jean Baptiste Colbert (1619-1683), segundo as quais as 
disponibilidades de metais preciosos poderiam aumentar pelas exportações 
e pelo desenvolvimento das manufaturas. Colbert foi Ministro das Finanças 
de Louis XIV e chegou a controlar toda a administração pública. Protegeu 
a indústria e o comércio. Trouxe para a França importantes artesãos 
estrangeiros, criou fábricas estatais, reorganizou as finanças públicas e a 
justiça, criou empresas de navegação e fundou a Academia de Ciências e o 
Observatório Nacional da França. Com a proteção à indústria, as exportações 
seriam mais regulares e com maior valor. Com esse objetivo, os salários e 
os juros passaram a ser controlados pelo Estado, a fim de não elevar os 
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custos de produção e poder assegurar vantagens competitivas no mercado 
internacional. O Colbertismo implicava [a] intervenção do Estado em todos 
os domínios e caracterizava-se pelo protecionismo, ou seja, pela adoção 
de medidas pelo governo para proteger as empresas nacionais contra a 
concorrência estrangeira. Seu pensamento encontra-se na sua obraCartas, 
Instruções e Memórias, 1651 a 1669.
Finalmente, Souza ([s.d.], p. 5) cita outros importantes nomes e significativas obras representativas 
do pensamento mercantilista.
a) Malestroit (Paradoxos sobre a Moeda, 1566): segundo ele, o aumento 
do estoque de metais preciosos não provocava inflação; b) Jean Bodin 
(Resposta aos Paradoxos do Sr. Malestroit, 1568): para ele, maior quantidade 
de moeda gerava aumento do nível geral de preços; c) Ortiz (Relatório ao 
Rei para Impedir a Saída de Ouro, 1588): ele afirmava que, quanto mais 
ouro o país acumulasse, tanto mais rico ele seria; d) Montchrétien (Tratado 
de Economia Política, 1615): ensinava que o ouro e a prata suprem as 
necessidades dos homens, sendo o ouro muitas vezes mais poderoso do que 
o ferro; e) Locke (Consequências da Redução da Taxa de Juro e da Elevação 
do Valor da Moeda, Londres, 1692): argumentava que os metais preciosos 
precisavam permanecer no país. f) Thomas Mun (Discurso sobre o Comércio 
da Inglaterra com as Índias Orientais, 1621). Através dessa obra, Mun exerceu 
grande influência sobre o colonialismo inglês.
Por sua vez, Corazza (2009, p. 112) percebe no período mercantilista uma discussão antecipada do 
que viria a ser tema frequente de debates na área das Ciências Econômicas.
Assim, do ponto de vista metodológico, podemos considerar como 
precursores de um confronto metodológico, que perdurará longamente 
na história da ciência econômica, os autores William Petty e Dudley 
North. Petty, ao propor só aceitar conhecimentos baseados nos sentidos 
e causas que tenham fundamentos naturais, antecipa o uso do método 
empírico, indutivo ou experimental. Os argumentos devem basear-se 
em números, pesos e medidas. Sua “aritmética política” se confunde, 
de certo modo, com a futura estatística econômica. Em contraposição, 
North, em seu Discurso sobre o Comércio (1691), propõe um método 
oposto, baseado na dedução, de explícita inspiração cartesiana. Para 
ele, só devem ser aceitos os conhecimentos baseados em ideias claras 
e evidentes, a partir das quais se poderiam deduzir logicamente outros 
conhecimentos, também claros e evidentes.
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Unidade I
 Saiba mais
Sugerimos fortemente a leitura do texto do Professor Nali de Souza, 
já que proporciona uma visão ampla e resumida das principais ideias da 
história do pensamento econômico:
SOUZA, N. J. Uma introdução à história do pensamento econômico. 
[s.d.]. Disponível em: <http://www.nalijsouza.web.br.com/introd_hpe.pdf>. 
Acesso em: 14 out. 2015.
As ideias mercantilistas, paulatinamente, seriam abandonadas. Ainda, por influência do ambiente 
do despotismo esclarecido e da Ilustração, os ares iluministas provocariam profunda influência no 
pensamento filosófico, que, a partir dali, fazia surgir uma corrente preocupada única e exclusivamente 
com os aspectos do comportamento econômico e do funcionamento do próprio sistema capitalista.
2.1 O Despotismo Esclarecido e o Século das Luzes
Para os mercantilistas, a origem da riqueza estava no acúmulo de ouro e prata. Com as exportações, 
conseguia-se metal; as importações, ao contrário, significavam o envio de metal para outras nações. 
Como uma nação poderia conseguir o superávit? Quanto mais poderosa ela fosse, quanto mais rotas 
comerciais estivessem sob o seu domínio, quanto maior a dependência de suas colônias em relação à 
metrópole, tanto maiores seriam as possibilidades de acumular ouro e prata (BRUE, 2006).
Essa política requeria um Estado forte e um conjunto de instituições militares capazes de realizar a 
ação expansionista. Segundo Brue (2006), as frotas mercantes, desde que armadas e poderosas, eram 
um requisito absoluto para o sucesso dessa estratégia expansionista. Um governo centralizado bastante 
forte era outra exigência: fazia-se necessário um controle governamental bastante rigoroso para dar 
conta das políticas e das metas mercantilistas.
Esse controle era visível por meio da concessão de monopólios, da edição de leis protecionistas e da 
elaboração e fiscalização de normas que regulamentassem a produção e a distribuição de mercadorias. As 
importações eram rigorosamente controladas, quando não proibidas, e a fixação de preços dos produtos 
nacionais no mercado interno obedecia às exigências da política mercantilista. Pedágios, impostos e 
regulamentações eram instrumentos de ação do Estado, tendo em vista o acúmulo de metal.
É importante salientar que os mercantilistas não eram defensores do livre-comércio. Ao contrário, o 
ideário mercantilista se apoiava na concessão de monopólios e privilégios, mesmo porque essa era uma 
forma de manter o controle sobre a atividade econômica (BRUE, 2006).
Em consonância, o sistema político absolutista estabeleceria seus próprios limites na versão mais 
popular do despotismo esclarecido, modelo monárquico em que a autoridade absoluta do rei era utilizada 
para distribuição de mais justiça social aos seus súditos. O despotismo estaria associado, portanto, ao 
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
poder autoritário dos monarcas; o esclarecimento estaria associado a projetos de cunho mais liberal, sob 
a inspiração ou não dos ideais iluministas da Ilustração.
Como exemplos desse Absolutismo “bem-intencionado”, podemos mencionar, na Prússia, Frederico II 
(1740-1786), que estimulou o ensino e a liberdade de culto entre seus súditos, aboliu a tortura e 
estabeleceu um novo código de justiça. Na Áustria, José II (1780-1790) aboliu a escravidão, estimulou 
a liberdade de culto e buscou racionalizar a administração do Estado. Claro que, na maioria dos casos, 
o esclarecimento ocupava menos espaço que o despotismo, pouco tendo influência, tanto do ponto de 
vista de mudanças radicais quanto do ponto de vista dos resultados concretos.
Segundo Falcon (2009), temos como traço marcante dos setecentos essa associação entre a busca 
de governos mais populares e as ideias de uma série de pensadores e filósofos que defendiam uma 
postura intelectual madura, moderna e autônoma: Locke, Voltaire, Montesquieu e Rosseau surgiram 
como os arautos de um movimento filosófico que assumiu uma crítica implacável ao Absolutismo. 
Afinal, naquele momento, o capitalismo se disseminava, e o absolutismo político esbarrava nos anseios 
da burguesia em relação à liberdade de agir e à maturidade concreta. Essa análise explica, inclusive, 
a herança que o Iluminismo nos deixou, no que se refere a uma proposta individualista da cidadania 
com base na liberdade e na propriedade privada e a uma proposta filosófica racionalista e otimista 
quanto ao valor da ciência. Aliás, o próprio termo Iluminismo irá disputar espaço com outro, Ilustração, 
dependendo do lugar em que se disseminou. Na França, correspondeu ao sentido de uma filosofia de 
história e a um ato de fé, sentido resumido na palavra Luzes. Na Alemanha, o Iluminismo significará 
esclarecimento, descobrimento, e estará fortemente vinculado ao Despotismo Esclarecido de Frederico II 
e José II. Na Escócia, o Iluminismo ganhará contornos mais definidos em questões de natureza moral e 
econômica (e Adam Smith será o grande representante dessa vertente a partir das suas considerações 
sobre a natureza da riqueza das nações e da moral centrada no individualismo, no autointeresse e no 
egoísmo que, a partir de um movimento natural, acabam por gerar o bem-estar de todos).
Em outras palavras, o Iluminismo, escola de pensamento fruto da ascensão da burguesia e da 
classe média, teria como foco de sua reflexão o debate sobre o papel do Estado e do rei, bem como 
o fortalecimento do primado da razão. Assim, nada mais natural que as obras mercantilistas, meras 
explanações das estratégias governamentais para a obtenção de saldos comerciais favoráveis, fossem 
dando espaço para obras mais reflexivas e que buscavam a compreensão do funcionamento da atividade 
econômica em sua totalidade.

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