Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Deleções e Duplicações de Segmentos Cromossômicos A ausência de um segmento cromossômico é denominada deleção ou deficiência. Grandes deleções podem ser detectadas citologicamente por estudo dos padrões de bandeamento em cromossomos corados, mas as pequenas, não. Em um organismo diploide , a deleção de um segmento cromossômico faz parte do genoma hipoploide. Essa hipoploidia pode estar associada a um efeito fenotípico, principalmente se a deleção for grande. Um exemplo clássico é a síndrome do miado do gato, também conhecida como síndrome cri-du-chat em seres humanos. Esse distúrbio é causado por deleção no braço curto do cromossomo 5. O tamanho da deleção varia. Indivíduos heterozigotos para a deleção e um cromossomo normal têm o cariótipo 46del(5)(p14), no qual os termos entre parênteses indicam a ausência de bandas na região 14 do braço curto (p) de um dos cromossomos 5. Esses indivíduos podem apresentar grave comprometimento mental e físico; o choro queixoso, , semelhante ao miado de gato na infância, dá nome à síndrome. A presença de um segmento cromossômico extra é denominada duplicação. O segmento Estruturais 00 extra pode estar unido a um dos cromossomos ou pode constituir um novo cromossomo separado, ou seja, uma “duplicação livre”. O efeito é o mesmo nos dois casos: o organismo é hiperploide em relação a parte de seu genoma. A exemplo do que ocorre nas deleções, essa hiperploidia pode estar associada a um efeito fenotípico. As deleções e duplicações são dois tipos de aberrações na estrutura do cromossomo. As grandes aberrações podem ser detectadas por exame dos cromossomos mitóticos corados por agentes de bandeamento como quinacrina ou Giemsa. No entanto, é difícil detectar pequenas aberrações dessa forma, que geralmente são identificadas por outras técnicas genéticas e moleculares. O organismo mais adequado para estudo de deleções e duplicações é Drosophila, cujos cromossomos politênicos garantem uma oportunidade ímpar de análise citológica detalhada. Os segmentos duplicados também podem ser reconhecidos nos cromossomos politênicos. Muitas outras duplicações consecutivas foram encontradas em Drosophila , na qual a análise de cromossomos politênicos torna a detecção relativamente fáci. Hoje, as técnicas moleculares tornaram possível detectar duplicações consecutivas muito pequenas em uma grande variedade de organismos. Por exemplo, os genes que codificam as proteínas da hemoglobina passaram por duplicação consecutiva em mamíferos. As duplicações gênicas parecem ser relativamente comuns e garantem variação significativa para a evolução. Um cromossomo pode sofrer rearranjo interno ou se unir a outro cromossomo. Na natureza há considerável variação no número e na estrutura de cromossomos, mesmo entre organismos muito próximos. Portanto, as espécies, ainda que do mesmo gênero, podem ter diferentes arranjos dos cromossomos. Essas Rearranjos da estru tura do cromossomo diferenças indicam o rearranjo do genoma ao longo do processo de evolução. Na verdade, a observação de que é possível encontrar rearranjos cromossômicos como variantes em uma mesma espécie sugere que há reformulação contínua do genoma. Esses rearranjos podem modificar a posição de um segmento do cromossomo, ou podem unir segmentos de diferentes cromossomos. De uma forma ou de outra, a ordem dos genes é alterada. Os citogeneticistas identificaram muitos tipos de rearranjos cromossômicos. Aqui serão analisados dois tipos: inversão, que é a mudança de orientação de um segmento em um cromossomo, e translocação, que é a fusão de segmentos de diferentes cromossomos. Em seres humanos, os rearranjos cromossômicos têm significado médico porque alguns predispõem ao desenvolvimento de certos tipos de câncer. Inversões A inversão ocorre quando um segmento do cromossomo se desprende, gira cerca de 180° e se fixa novamente ao restante do cromossomo; logo, há uma inversão da ordem dos genes no segmento. Esses rearranjos podem ser induzidos no laboratório com raios X, que fragmentam os cromossomos. Às vezes, os fragmentos se fixam novamente, mas durante o processo um segmento gira e há uma inversão. Também há evidências de inversões naturais por atividade de elementos transponíveis – sequências de DNA capazes de mudar de posição no cromossomo. As inversões também podem ser provocadas pela reunião de fragmentos do cromossomo gerados por cisalhamento mecânico, talvez em razão do entrelaçamento de cromossomos no núcleo. Ninguém sabe ao certo que fração das inversões naturais é causada por cada um desses mecanismos. Os citogeneticistas distinguem dois tipos de inversões observando se o segmento invertido inclui ou não o centrômero do cromossomo. As inversões pericêntricas incluem o centrômero e as inversões paracêntricas, não. A consequência disso é que uma inversão pericêntrica não tem esse efeito. Assim, se um cromossomo acrocêntrico sofre uma inversão com um ponto de quebra em cada braço (i.e, uma inversão pericêntrica), pode ser transformado em um cromossomo metacêntrico. Mas se um cromossomo acrocêntrico sofre uma inversão em que as duas quebras estão no braço longo (i.e , uma inversão paracêntrica), a morfologia do cromossomo não se altera. Desse modo, com o uso de métodos citológicos padronizados, é muito mais fácil detectar inversões pericêntricas que paracêntricas. Durante a meiose, há pareamento ponto a ponto dos cromossomos invertido e não invertido ao longo de seu comprimento. Entretanto, por causa da inversão, os cromossomos precisam formar uma alça para permitir o pareamento na região em que a ordem dos genes foi invertida. Translocações A translocação ocorre quando um segmento de um cromossomo se desprende e se une a outro cromossomo (i.e., não homólogo). O significado genético é a transferência dos genes de um cromossomo para outro. A troca de fragmentos de dois cromossomos não homólogos sem perda de material é denominada translocação recíproca. Os dois cromossomos translocados ficam de frente um para o outro no centro da cruz, e os dois cromossomos não translocados fazem o mesmo; para maximizar o pareamento, os cromossomos translocados e não translocados alteranm-se, formando os braços da cruz. Essa configuração de pareamento é diagnóstica de um heterozigoto para translocação. As células em que os cromossomos translocados são homozigotos não formam um padrão cruciforme. Em vez disso, há pareamento uniforme de cada cromossomo translocado com seu par de estrutura idêntica. Como participam do pareamento cruciforme quatro centrômeros, cuja distribuição coordenada para polos opostos na primeira divisão meiótica pode ou não ocorrer, a disjunção do cromossomo em heterozigotos para translocação é um processo um tanto incerto, propenso a produzir gametas aneuploides. Quando os centrômeros que vão para o mesmo polo são de cromossomos diferentes (i.e., heterólogos ) , a disjunção é denominada adjacente I; quando os centrômeros que vão para o mesmo polo são do mesmo cromossomo (i.e, homólogos), a disjunção é denominada adjacente II. A produção de gametas aneuploides por disjunção adjacente explica por que os heterozigotos para translocação têm fertilidade reduzida. Quando esses gametas fertilizam um gameta euploide, o zigoto resultante é geneticamente desequilibrado e, portanto, é improvável que sobreviva. Em vegetais, muitas vezes os próprios gametas aneuploides são iniviáveis, sobretudo do lado masculino, e são produzidos menos zigotos. Portanto, os heterozigotos para translocação são caracterizados por baixa fertilidade.Cromossomos Compostos e Translocações Robertsonianas Às vezes, um cromossomo funde-se ao seu homólogo, ou duas cromátides- irmãs se unem, formando uma unidade genética única. Um cromossomo composto pode ser estável em uma célula desde que tenha apenas um centrômero ativo; se houver dois centrômeros, cada um deles pode se mover para um polo diferente durante a divisão, separando o cromossomo composto. O cromossomo composto também pode ser formado pela união de segmentos de cromossomos homólogos. Às vezes a citogenética chama essa estrutura de isocromossomo, porque seus dois braços são equivalentes. A diferença entre o cromossomo composto e a translocação é que o primeiro é a fusão de segmentos de cromossomos homólogos. Já a translocação é a fusão de cromossomos não homólogos. O primeiro cromossomo composto foi descoberto em 1922 por Lilian Morgan, casada com T.H. Morgan. Esse cromossomo foi formado pela fusão de dois cromossomos X em Drosophila, criando um cromossomo X ligado ou X duplo. A descoberta foi feita por meio de experimentos genéticos, não por análise citológica. Lilian Morgan cruzou fêmeas homozigotas para uma mutação recessiva ligada ao X com machos de tipo selvagem. A partir desse cruzamento, seria de esperar que todas as fêmeas da prole fossem do tipo selvagem e os machos, mutantes. No entanto, Morgan observou exatamente o oposto: todas as fêmeas eram mutantes e todos os machos, de tipo selvagem. Outra pesquisa mostrou que os cromossomos X nas fêmeas mutantes haviam se ligado uns aos outros. As fêmeas com X ligado produzem dois tipos de ovócitos, duplo – X e nulo-X, e os machos produzem dois tipos de espermatozoides, os que têm X e os que têm Y. A união desses gametas de todas as maneiras possíveis produz dois tipos de prole viável: fêmeas XXY mutantes, que herdam os cromossomos X ligados da mãe e um cromossomo Y do pai; e os machos X0 de fenótipo selvagem, que herdam um cromossomo X do pai e não herdam cromossomo sexual da mãe. Já que o cromossomo Y é necessário para a fertilidade, esses machos X0 são estéreis. Por terem herdado um cromossomo Y da mãe, os machos nascidos desse cruzamento eram férteis e puderam ser cruzados com suas irmãs XXY para criar um estoque no qual os cromossomos X ligados foram permanentemente mantidos na linhagem feminina. Os cromossomos não homólogos também podem se fundir em seus centrômeros, com criação de uma estrutura chamada translocação robertsoniana, em homenagem ao citologista F.W. Robertson. Por exemplo, a fusão de dois cromossomos acrocêntricos produz um cromossomo metacêntrico; os diminutos braços curtos dos cromossomos participantes são perdidos nesse processo. Ao que tudo indica, essas fusões de cromossomos foram bastante frequentes durante a evolução. Também pode haver fusão terminoterminal dos cromossomos para formar uma estrutura com dois centrômeros . Se um dos centrômeros for inativado, a fusão dos cromossomos será estável. Essa fusão notavelmente ocorreu na evolução de nossa própria espécie. O cromossomo 2 humano, que é metacêntrico, tem braços que correspondem a dois cromossomos acrocêntricos nos genomas dos grandes primatas. A análise citológica detalhada mostrou que aparentemente as extremidades dos braços curtos desses dois cromossomos se fundiram para criar o cromossomo 2 humano.
Compartilhar