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Antiarrítmicos Potencial de ação cardíaco O coração é um órgão muscular, oco, tem forma de cone e funciona de modo similar a duas bombas, contrátil e propulsora. O órgão realiza dois movimentos básicos: sístole (contração) e diástole (relaxamento), de acordo com a despolarização e repolarização de suas cargas elétricas intra e extracelulares, estimuladas por íons como: sódio, potássio, magnésio, cálcio. As câmaras cardíacas normalmente se contraem de maneira coordenada, bombeando sangue eficientemente por uma via determinada pelas valvas. A coordenação da contração é efetuada por um sistema de condução especializado. O ritmo sinusal normal é gerado por impulsos de marca-passo que se originam no nó sinoatrial (SA) e são conduzidos em sequência, através de átrios, nó atrioventricular (AV), feixe de His, fibras de Purkinje e ventrículos. As células cardíacas devem sua excitabilidade elétrica a canais da membrana plasmática sensíveis à voltagem, seletivos para vários íons, incluindo Na+, K+ e Ca2+. As características eletrofisiológicas do músculo cardíaco que o distinguem de outros tecidos excitáveis incluem: - Atividade de marca-passo; - Ausência de corrente de Na+ rápida nos nós sinoatrial e atrioventricular, em que a corrente lenta de entrada de Ca2+ inicia os potenciais de ação; - Potencial de ação prolongado (“platô”) e período refratário longo; - Influxo de Ca2+ durante o platô. Potencial de ação das células do nó sinoatrial e nó atrioventricular Fase 4 (potencial de marcapasso) - O potencial de ação varia de -60mV para -40mV pelo influxo de sódio lento e gradual. Fase 0 (despolarização) - O potencial de ação varia de -40mV para 10mV pelo influxo de cálcio. Fase 3 (repolarização) - O potencial de ação varia de 10 mV para -60mV pela inativação de canais de cálcio e abertura dos canais de potássio (efluxo de potássio). Potencial de ação do feixe de Hiss-Purkinje Fase 0 (despolarização rápida): - O nó sinoatrial, gera um estímulo, passado célula-a-célula, para abertura dos canais de cálcio dependentes-de-voltagem permitindo o influxo de cálcio para os miocárdios deixando o interior celular menos negativos atingindo o limiar (-70 mV), o qual permite a abertura dos canais rápidos de sódio gerando um influxo de sódio (despolarização). Em - 40 mV ocorre a abertura dos canais lentos de cálcio, promovendo um influxo constante de cálcio. Fase 1 (repolarização parcial): - Ao chegar no potencial +20 mV, ocorre o fechamento brusco dos canais rápidos de sódio e a abertura transitória dos canais de potássio promovendo o efluxo de potássio diminuindo o potencial de +20mV para 0 mV. Fase 2 (platô): - Na fase platô, o potencial elétrico se mantém em 0 mV; pois, ocorre, simultaneamente, a abertura de canais de cálcio com influxo de cálcio (íon positivo) e efluxo de potássio (íon positivo). A entrada de cálcio estimula a liberação de cálcio pelo retículo endoplasmático liso gerando uma sobrecarga de cálcio, responsável pelo mecanismo de contração da célula muscular. - Durante toda fase 2, a célula permanece em estado de contração. - Durante esta fase a célula permanece em período refratário absoluto, isto é, não pode ser despolarizada por estímulo externo. Fase 3 (repolarização): - Durante esta fase, o potencial elétrico se torna cada vez mais negativo, até atingir –90 mV, porque os canais de cálcio se fecham encerrando o influxo de cálcio, e se mantém a saída de potássio para o espaço extracelular. Fase 4 (repouso): - Nesta fase o potencial da membrana se mantém em torno de – 90 mV, e se mantém assim até receber um novo estímulo externo. Arritmias As arritmias são disfunções que causam anormalidades na formação e na condução de impulsos no miocárdio. Entretanto, em situações clínicas, as arritmias se apresentam como uma família complexa de distúrbios com uma variedade de sintomas. Clinicamente, as arritmias são classificadas de acordo com: - Local de origem da anormalidade (atriais, juncionais ou ventriculares). - Aumento da frequência (taquicardia) ou sua diminuição (bradicardia). A maioria das arritmias resulta de aberrações na geração do impulso (automaticidade anormal) ou de um defeito na condução do impulso. As arritmias cardíacas podem ter uma única causa ou podem ser o resultado de uma combinação das seguintes anormalidades no sistema excitocondutor do coração: - Ritmicidade anormal do marca-passo; - Deslocamento do marca-passo do nó sinusal para outro lugar no coração; - Bloqueios em diferentes pontos na propagação do impulso através do coração - Anormalidades nas vias de transmissão do impulso através o coração; - Geração espontânea de impulsos anômalos em praticamente qualquer parte do coração. Os tipos mais comuns de taquiarritmia são a fibrilação atrial (FA), em que os batimentos cardíacos são completamente irregulares, e a taquicardia supraventricular (TSV), em que os batimentos cardíacos são rápidos, mas regulares. São comuns os batimentos ectópicos ocasionais (ventriculares ou supraventriculares). As taquiarritmias ventriculares sustentadas são menos comuns, porém muito mais graves; incluem a taquicardia ventricular e a fibrilação ventricular, nas quais a atividade elétrica nos ventrículos é completamente caótica e o débito cardíaco cessa. Arritmias atriais Fibrilação atrial - A fibrilação atrial (FA) é uma manifestação de múltiplas ondas simultâneas de ativação de focos atriais. - A fibrilação atrial é uma arritmia supraventricular caracterizada por atividade elétrica atrial desorganizada, secundária a múltiplos focos de despolarização atrial. - O padrão de atividade na fibrilação atrial é aparentemente caótico, com despolarizações na frequência de 300 a 400 vezes por minuto. O resultado desta desorganização é a perda da contração atrial coordenada com possíveis consequências hemodinâmicas. - O diagnóstico de fibrilação atrial é realizado pela identificação eletrocardiográfica de intervalos R-R totalmente irregulares, associadamente à ausência de qualquer atividade elétrica atrial organizada. - A fibrilação atrial ocorre quando anormalidades eletrofisiológicas alteram o tecido atrial e promovem formação/propagação anormal do impulso elétrico. - Uma causa frequente de fibrilação atrial é o aumento do volume atrial, que pode resultar, por exemplo, de lesões nas valvas cardíacas que impedem o esvaziamento adequado dos átrios para os ventrículos ou de insuficiência ventricular com excesso de represamento de sangue nos átrios. As paredes atriais dilatadas fornecem as condições ideais para uma via de condução longa, bem como de condução lenta, e ambas predispõem à fibrilação atrial. - A fibrilação atrial é um tipo de arritmia onde os batimentos cardíacos ficam com ritmo desordenado. A frequência cardíaca acelerada e desordenada exige maior trabalho contrátil do miocárdio, em particular do ventrículo cardíaco que acaba hipertrofiando. Flutter atrial - O flutter atrial é outra patologia causada por movimentos circulares nos átrios. O flutter atrial é diferente da fibrilação atrial porque o sinal elétrico se propaga como uma única onda grande, sempre em uma direção, repetitivamente em torno da massa muscular atrial. - O flutter atrial causa uma aceleração na frequência de contração dos átrios, geralmente entre 200 e 350 batimentos/min. No entanto, como um lado dos átrios está se contraindo enquanto o outro lado relaxa, a quantidade de sangue bombeado pelos átrios é reduzida. Taquicardias supraventriculares Reentrada no Nó atrioventricular - A taquicardia por reentrada nodal é caracterizada pela reentrada do impulso elétrico na área do nó atrioventricular. - A reentrada é a causa mais comum das arritmias e pode ocorrer em qualquer nível do sistema de condução cardíaca. Essa via de curto-circuito resulta em reexcitação do músculo ventricular, causando contração prematura ou arritmia ventricular sustentada. Taquicardia supraventricular aguda - As taquicardias supraventriculares são arritmias que aceleram subitamente os batimentos cardíacos e se originamnas câmaras superiores do coração (átrios). Taquicardias ventriculares Taquicardia ventricular aguda - As taquicardias ventriculares são definidas por três ou mais batimentos de origem ventricular numa frequência acima de 100 batimentos por minuto. - A taquicardia ventricular geralmente é uma condição séria por dois motivos. Em primeiro lugar, esse tipo de taquicardia geralmente não ocorre, a menos que haja dano isquêmico considerável nos ventrículos. Em segundo lugar, a taquicardia ventricular frequentemente inicia a condição letal de fibrilação ventricular por causa da estimulação rápida e repetida do músculo ventricular. Fibrilação ventricular - A fibrilação ventricular resulta de impulsos cardíacos que se tornaram irregulares dentro da massa muscular ventricular, estimulando primeiro uma porção do músculo ventricular, depois outra porção, depois outra e, finalmente, realimentando-se para excitar o mesmo músculo ventricular repetidamente, sem parar. Quando esse fenômeno ocorre, pequenas porções da musculatura ventricular se contraem ao mesmo tempo, enquanto outras partes relaxam. Assim, nunca ocorre uma contração coordenada de toda a musculatura ventricular de uma só vez, necessária ao ciclo de bombeamento cardíaco. Antiarrítmicos Os antiarrítmicos podem modificar a geração e a condução de impulsos, para prevenir que ocorram arritmias ou para reduzir os sintomas associados com elas. Infelizmente, vários dos antiarrítmicos apresentam ações pró-arrítmicas, ou seja, causam arritmias. Objetivos do uso de antiarrítmicos: - Controle da frequência cardíaca e alívio sintomáticos; - Reversão da arritmia; - Suporte a pacientes com dispositivo eletrônico, como desfibriladores implantáveis ou marcapasso. Deve-se lembrar que as medidas não farmacológicas, como atividade física regular, dieta balanceada, controle de peso, otimização da qualidade do sono, devem ser instituídas. Além disso, alguns medicamentos não antiarrítmicos apresentam importante papel na prevenção de fibrilação atrial como as estatinas, os inibidores da enzima conversora da angiotensina e bloqueadores dos receptores da angiotensina I, especialmente nos pacientes que também apresentam hipertensão arterial ou insuficiência cardíaca. Vaughan Williams propôs, em 1970, uma classificação de antiarrítmicos com base em seus efeitos eletrofisiológicos: - Classe I: fármacos que bloqueiam canais de sódio sensíveis à voltagem. São subdivididos em: Ia, Ib e Ic; - Classe II: antagonistas dos receptores β-adrenérgicos; - Classe III: fármacos que prolongam, substancialmente, o potencial de ação cardíaco; - Classe IV: antagonistas do cálcio. Arritmias atriais (fármacos de classe II, III e de classe IV). - Flutter atrial. - Fibrilação atrial. Arritmias supraventriculares - Reentrada no nó AV (fármacos de classe II e de classe IV e outros-digoxina). - Taquicardia supraventricular aguda (fármacos de classe IV e outros-amiodarona). Arritmias ventriculares - Taquicardia ventricular aguda (fármacos de classe I e de classe III). - Fibrilação ventricular (fármacos de classe III e outros-epinefrina)- não responde à desfibrilação. Classe I-Bloqueadores dos canais de sódio Os antiarrítmicos da classe I atuam bloqueando canais de Na+ voltagem-sensíveis ligando-se a pontos na subunidade alfa, assim inibindo a propagação do potencial de ação nas células excitáveis não nodais. Ao bloquear os canais de sódio, ocorre uma redução da velocidade máxima de despolarização (fase 0) interferindo na velocidade de condução elétrica. Os bloqueadores dos canais de sódio diminuem a inclinação da despolarização espontânea de fase 4, inibem os canais de potássio e bloqueiam canais de cálcio, assim, promovem uma redução da velocidade de condução e um aumento da refratariedade. Os fármacos da classe I ligam-se mais rapidamente aos canais de sódio abertos ou inativados do que aos completamente repolarizados após a recuperação do ciclo de despolarização prévio. Os bloqueadores de canais de sódio bloqueiam a estimulação de alta frequência do miocárdio que ocorre nas taquiarritmias, sem impedir que o coração bata em frequências normais; esse fenômeno é denominado dependência de uso (ou dependência de estado), e possibilita a esses fármacos bloquearem células que estão disparando em uma frequência anormalmente alta, sem interferir na frequência normal baixa de batimentos cardíacos. Antiarrítmicos da classe IA - A quinidina é o fármaco protótipo da classe IA; outros fármacos desta classe incluem procainamida e disopiramida. - A quinidina se liga aos canais de sódio abertos e inativados, impedindo o influxo de NA+ e reduzindo, dessa forma, a velocidade de entrada rápida durante a fase 0. Ela diminui a inclinação da despolarização espontânea de fase 4, inibe canais de potássio e bloqueia canais de cálcio. Devido a essas razões, ela diminui a velocidade de condução e aumenta a refratariedade. A quinidina também tem ações bloqueadoras α-adrenérgica leve e anticolinérgica. - Procainamida e disopiramida têm ações similares às da quinidina. Contudo, há menos atividade anticolinérgica associada com procainamida e mais com disopiramida. Nenhuma tem atividade α-bloqueadora. - A quinidina é usada no tratamento de uma grande variedade de arritmias, incluindo taquiarritmias atrial, juncional atrio-ventricular e ventricular. O sulfato ou gliconato de quinidina é rápido e quase completamente absorvido após administração oral; ele sofre extensa biotransformação primariamente pela isoenzima hepática CYP3A4, formando metabólitos ativos. - A procainamida só está disponível em formulação intravenosa (IV) e pode ser usada para tratar arritmias atriais e ventriculares agudas. Ela tem duração de ação relativamente curta, de 2 a 3 horas. Parte da procainamida é acetilada no fígado em N-acetilprocainamida (Napa), que prolonga a duração do potencial de ação; assim, a Napa tem as propriedades e os efeitos adversos de um fármaco da classe III. Ela é eliminada pelos rins, e as dosagens de procainamida precisam ser ajustadas em pacientes com insuficiência renal. - A disopiramida é usada no tratamento das arritmias ventriculares como alternativa à procainamida e à quinidina, e pode ser usada também para manutenção do ritmo sinusal na fibrilação atrial ou flutter. Ela é bem absorvida após administração oral, e é biotransformada no fígado a um metabólito menos ativo e vários inativos. A disopiramida é substrato da CYP3A4, e cerca de metade do fármaco é excretado inalterado pelos rins. - Doses elevadas de quinidina podem induzir sintomas de cinchonismo (visão turva, zumbido, cefaléia, desorientação e psicose). Interações de fármacos são comuns com a quinidina, pois ela inibe a CYP2D6 e a glicoproteína P. - A administração intravenosa de procainamida pode causar hipotensão. - A disopiramida é a que tem mais efeitos adversos anticolinérgicos dos fármacos da classe IA (boca seca, retenção urinária, visão turva e constipação). - Quinidina e disopiramida devem ser usadas com cautela com inibidores potentes da CYP3A4. Antiarrítmicos da classe IB - Os fármacos da classe IB se associam e se dissociam rapidamente dos canais de sódio. Assim, as ações dos fármacos da classe IB se manifestam quando a célula cardíaca está despolarizada ou disparando rapidamente. - Os fármacos da classe IB, lidocaína e mexiletina, são úteis para tratar arritmias ventriculares. - O fármaco liga-se a canais abertos durante a fase 0 do potencial de ação (afetando muito pouco a velocidade de elevação, mas deixando muitos dos canais bloqueados no momento em que o potencial de ação chega ao pico). Ocorre dissociação no momento do potencial de ação seguinte, desde que o ritmo cardíaco seja normal. Um batimento prematuro, contudo, será abortado porque os canais ainda estão bloqueados. Além disso, os fármacos da classe Ib se ligam, seletivamente, aos canais inativados, e, assim, bloqueiam preferencialmente quando as células estão despolarizadas, por exemplo, na isquemia. - Além de bloquear o canal de sódio, lidocaínae mexiletina encurtam a repolarização da fase 3 e diminuem a duração do potencial de ação. - A lidocaína é administrada por via intravenosa devido à extensa biotransformação de primeira passagem no fígado, que impede a administração oral. Ela é desalquilada a dois metabólitos menos ativos, primariamente pela CYP1A2, com papel menor pela CYP3A4. A lidocaína deve ser monitorada atentamente quando dada em associação com fármacos que afetam as isoenzimas CYP. Como a lidocaína é um fármaco de alta extração, fármacos que diminuem o fluxo sanguíneo hepático (β-bloqueadores) podem exigir ajuste da dose da lidocaína. - A mexiletina é bem absorvida após administração oral, e ela é biotransformada no fígado, primariamente pela CYP2D6, a metabólitos inativos e excretada principalmente por via biliar. - A lidocaína tem um índice terapêutico bastante amplo. Ela pouco interfere na função ventricular esquerda e não tem efeito inotrópico negativo. Os efeitos no sistema vernoso central (SNC) incluem nistagmo (indicador precoce de toxicidade), sedação, fala enrolada, parestesia, agitação, confusão e convulsões, que frequentemente limitam a duração da infusão contínua. - A mexiletina tem índice terapêutico estreito, e deve-se ter cautela ao administrá-la com fármacos inibidores da CYP2D6. Os efeitos adversos mais comuns são náusea, êmese e dispepsia. Antiarrítmicos da classe IC - A flecainida e a propafenona se dissociam lentamente dos canais de sódio em repouso e têm efeitos proeminentes, mesmo em frequências cardíacas normais. - Os fármacos da classe Ic, como a flecainida e a encainida, associam-se e dissociam-se muito mais lentamente, chegando, assim, a um nível de equilíbrio que não varia de forma apreciável durante o ciclo cardíaco. A condução é acentuadamente inibida por meio do sistema His-Purkinje. - A flecainida suprime a ascensão da fase 0 nas fibras de Purkinje e miocárdicas. Isso causa redução acentuada da velocidade de condução em todo tecido cardíaco, com pouco efeito na duração do potencial de ação e no período refratário. A automaticidade é reduzida pelo aumento do potencial limiar, em vez da diminuição na inclinação da despolarização na fase 4. A flecainida também bloqueia os canais de potássio, aumentando a duração do potencial de ação, ainda mais do que a propafenona. A propafenona, como a flecainida, retarda a condução em todo tecido cardíaco, mas não bloqueia os canais de potássio. - A flecainida é útil na manutenção do ritmo sinusal no flutter atrial ou na fibrilação em pacientes sem doença cardíaca estrutural (hipertrofia ventricular esquerda, insuficiência cardíaca, doença cardíaca aterosclerótica) e no tratamento de arritmias ventriculares refratárias. - O uso de propafenona é restrito principalmente nas arritmias atriais: controle do ritmo da fibrilação ou flutter atrial e profilaxia da taquicardia supraventricular paroxística em pacientes com taquicardias atrio-ventricular reentrantes. - A flecainida é absorvida por via oral e biotransformada pela CYP2D6 a múltiplos metabólitos. O fármaco original e os metabólitos são eliminados principalmente pelos rins; assim, pode ser necessário ajustar a dosagem na doença renal. - A propafenona é biotransformada a metabólitos ativos primariamente via CYP2D6 e também via CYP1A2 e CYP3A4. Os metabólitos são excretados na urina e nas fezes. - A flecainida é geralmente bem tolerada, com visão turva, tontura e náuseas ocorrendo mais frequentemente. - A propafenona tem perfil similar de efeitos adversos, mas pode causar broncoespasmo devido aos seus efeitos β-bloqueadores. Ela deve ser evitada em pacientes com asma. A propafenona também é inibidora da glicoproteína P. - A flecainida e a propafenona devem ser usados com cautela com inibidores potentes da CYP2D6. Classe II- Antagonistas beta-adrenérgicos - Os fármacos da classe II são β-antagonistas adrenérgicos do nó sinoatrial, os quais reduzem a despolarização de fase 4; assim, deprimem a automaticidade, prolongam a condução atrio-ventricular e diminuem a frequência e a contratilidade cardíacas. - Os beta-bloqueadores antagonizam os efeitos do sistema nervoso parassimpático não gerando aumento da frequência cardíaca, aumento do automatismo, repolarização e restauração da função após despolarização cardíaca generalizada, redução da eficiência cardíaca e hipertrofia cardíaca. - Os fármacos da classe II são úteis no tratamento de taquiarritmias causadas por aumento da atividade simpática. Eles também são usados contra flutter e fibrilação atrial e contra a taquicardia de reentrada no nó atrio-ventricular. Além disso, os β-bloqueadores previnem as arritmias ventriculares ameaçadoras à vida que podem causar infarto do miocárdio. - O propranolol e os medicamentos similares possuem propriedades antiarrítmicas em virtude de sua ação bloqueadora do β-receptor e de efeitos diretos na membrana. - O esmolol é um β-bloqueador de ação curta usado sobretudo como antiarrítmico em caso de arritmia intraoperatória e outras arritmias agudas. - O atenolol é um beta bloqueador e pertence a classe II dos antiarrítmicos segundo a classificação de Vaughan Williams. Este fármaco bloqueia seletivamente o receptor beta 1 adrenérgico do nó sinoatrial. - O metoprolol é o β-antagonista adrenérgico mais amplamente usado no tratamento de arritmias cardíacas. Comparado aos β-bloqueadores não seletivos, como propranolol, ele reduz o risco de broncoespasmo. É extensamente biotransformado no fígado, primariamente pela CYP2D6, e entra no SNC (menos do que o propranolol, mas mais do que o atenolol). Classe III-prolongam o período refratário Os medicamentos da classe III atuam bloqueando os canais de potássio no nó sinoatrial e no músculo cardíaco ou estimulando a corrente de influxo, por exemplo, por meio dos canais de sódio. Os fármacos da classe III bloqueiam os canais de K+ e, assim, diminuem o efluxo de potássio durante a repolarização das células cardíacas. Esses fármacos prolongam a duração do potencial de ação sem alterar a fase 0 de despolarização ou o potencial de repouso da membrana. Ao contrário, eles prolongam o período refratário efetivo aumentando a refratariedade. Amiodarona - A amiodarona contém iodo e é estruturalmente relacionada com a tiroxina. - Mecanismo de ação: a amiodarona bloqueia os canais de sódio e os canais lentos de cálcio, bem com bloqueio da atividade dos receptores beta-adrenérgicos. Mas, seu efeito dominante é o prolongamento da duração do potencial de ação e do período refratário, bloqueando os canais de K+. - A amiodarona é eficaz no tratamento de taquiarritmias ventriculares e supraventriculares refratárias graves. A amiodarona tem sido a base do tratamento do ritmo da fibrilação e flutter atrial. - A amiodarona é absorvida incompletamente após a administração oral. O fármaco é incomum por apresentar meia-vida de várias semanas, e se distribui extensamente no tecido adiposo. Os efeitos clínicos completos podem não ser obtidos até meses após o início do tratamento, a menos que sejam empregadas doses de ataque. - A amiodarona apresenta uma variedade de efeitos tóxicos, incluindo fibrose pulmonar, neuropatia, hepatotoxicida- de, depósitos na córnea, neurite óptica, coloração azul-acinzentada da pele e hipo ou hipertiroidismo. Todavia, o uso de dosagens baixas e monitoração cuidadosa reduzem a toxicidade e mantêm a eficácia clínica. - A amiodarona está sujeita a numerosas interações de fármacos, pois é biotransformada pela CYP3A4 e serve como inibidor de CYP1A2, CYP2C9, CYP2D6 e glicoproteína P. Dronedarona - A dronedarona é um derivado benzofurano da amiodarona. Ela é menos lipofílica, tem menor acúmulo tecidual e menor meia-vida sérica que a amiodarona. Não tem moléculas de iodo que são responsáveis pelas disfunções tireóideas associadas com a amiodarona. - Mecanismo de ação: A dronedarona bloqueia os canais de sódio e os canais lentos de cálcio, bem com bloqueio da atividade dos receptores beta-adrenérgicos. Mas, seu efeito dominante é o prolongamento da duração do potencialde ação e do período refratário, bloqueando os canais de K+. - A dronedarona tem perfil de efeitos adversos mais favorável do que a amiodarona, mas ainda pode causar insuficiência hepática. - É contraindicada para quem tem sintomas de insuficiência hepática ou fibrilação atrial permanente, devido ao aumento do risco de morte. - Atualmente, a dronedarona é usada para manter o ritmo sinusal na fibrilação ou flutter atrial, mas é menos eficaz que a amiodarona. Sotalol - O sotalol, embora seja um antiarrítmico da classe III, também apresenta atividade β-bloqueadora não seletiva e potente. - Mecanismo de ação: o sotalol apresenta um isômero levorrotatório (l-sotalol) com atividade β-bloqueadora, e um isômero d-sotalol com ação antiarrítmica da classe III, o qual bloqueia a corrente de saída rápida de potássio, conhecida como retificação retardada; esse bloqueio prolonga a despolarização e a duração do potencial de ação, prolongando, assim, o período refratário efetivo. - O sotalol é usado na manutenção do ritmo sinusal normal em pacientes com fibrilação atrial, flutter atrial ou taquicardia supraventricular paroxística refratária e no tratamento de arritmias ventriculares. - Como o sotalol tem propriedades β-bloqueadoras, ele é usado comumente para essas indicações em pacientes com hipertrofia ventricular esquerda ou doença cardíaca aterosclerótica. - Pode causar os efeitos adversos típicos dos β-bloqueadores, mas tem menos efeitos adversos quando comparado com outros antiarrítmicos. Dofetilida - A dofetilida é um bloqueador do canal de potássio puro. - Mecanismo de ação: A dofelida gera um prolongamento da duração do potencial de ação e do período refratário, bloqueando os canais de K+. - Ela pode ser usada como fármaco antiarrítmico de primeira linha em pacientes com fibrilação atrial persistente e insuficiência cardíaca ou em pacientes com doença arterial coronariana. - Devido ao risco de pró-arritmias, a dofetilida é iniciada no paciente hospitalizado. A meia-vida desse fármaco oral é de 5 horas. O fármaco é excretado principalmente pela urina, inalterado. Fármacos que inibem a secreção tubular ativa são contraindicados. Ibutilida - A ibutilida é um bloqueador dos canais de potássio que também ativa a corrente de entrada de sódio (ações mistas de classes III e IA). - É o fármaco de escolha para a conversão química do flutter atrial, mas a cardioversão elétrica suplantou seu uso. - A ibutilida sofre extensa biotransformação de primeira passagem e não é usada por via oral. Devido ao risco de prolongamento do intervalo QT e pró-arritmia, o início da ibutilida é restrito ao paciente hospitalizado. Classe IV-Bloqueadores do canais de cálcio sensíveis à voltagem - Os agentes da classe IV atuam bloqueando canais tipo L de cálcio sensíveis à voltagem, logo a redução da entrada de Ca2+ reduz a pós-despolarização e, desse modo, suprime os batimentos ectópicos prematuros. - Embora haja canais de cálcio voltagem-sensíveis em muitos tecidos diferentes, o principal efeito dos bloqueadores dos canais de cálcio ocorre no músculo liso vascular e no coração. - Mecanismo de ação: Os fármacos da classe IV bloqueiam os canais de cálcio tipo L tornando mais lenta a condução nos nós sinoatrial e atrioventricular, pois a propagação do potencial de ação depende da corrente de entrada de Ca2+, tornando mais lento o coração e extinguindo a taquicardias supraventriculares por meio de bloqueio atrio-ventricular parcial. Além disso, abreviam o platô do potencial de ação e reduzem a força de contração. - O verapamil tem maior ação no coração do que no músculo liso vascular, e o diltiazem tem uma ação intermediária. No coração, verapamil e diltiazem, somente, se ligam a canais voltagem-sensíveis, despolarizados abertos, diminuindo, assim, a corrente de entrada levada pelo cálcio. Eles previnem a repolarização até que se dissociem do canal, resultando em diminuição da velocidade da despolarização espontânea da fase 4. Esses fármacos são, por isso, dependentes do uso. Eles também diminuem a velocidade de condução em tecidos que dependem de correntes de cálcio, como os nós atrio-ventricular e sinoatrial. - O verapamil e o diltiazem são mais eficazes contra as arritmias atriais do que contra as ventriculares. Eles são úteis no tratamento de taquicardia supraventricular de reentrada e na redução da frequência ventricular no flutter e na fibrilação atrial. - Os dois fármacos são biotransformados no fígado pela CYP3A4. Ajustes de dosagem podem ser necessários em pacientes com disfunção hepática. Ambos também são inibidores da CYP3A4, bem como substratos e inibidores da glicoproteína P. Como tais, são sujeitos a várias interações com fármacos Classe V- fármacos fora da classificação de V. Williams Adenosina - A adenosina é um nucleosídeo de ocorrência natural que, em doses altas, diminui a velocidade de condução, prolonga o período refratário e diminui a automaticidade no nó atrio-ventricular. - Mecanismo de ação: a interação da adenosina com seu receptor A1 promove feito no nó atrioventricular, pois o receptor A1 está ligado ao mesmo canal de potássio cardíaco ativado pela acetilcolina, e a adenosina hiperpolariza o tecido de condução cardíaco e, consequentemente, torna mais lenta a velocidade de elevação do potencial de marca-passo. - A adenosina por via intravenosa é o fármaco de escolha para abolir taquicardia supraventricular aguda (paroxísticas); ela tem baixa toxicidade, mas causa rubor, dor torácica e hipotensão. - A adenosina tem duração de ação extremamente curta (cerca de 10-15 segundos), devido à rápida captação pelos eritrócitos e pelas células endoteliais. Digoxina - A digoxina inibe a bomba Na+/K+-ATPase, diminuindo o período refratário nas células miocárdicas atriais e ventriculares, enquanto prolonga o período refratário efetivo e diminui a velocidade de condução no nódulo atrio-ventricular. - A digoxina é usada para controlar a velocidade de resposta ventricular na fibrilação ou no flutter atrial; contudo, a estimulação simpática facilmente supera o efeito inibidor da digoxina. - Em concentrações tóxicas, a digoxina causa batimentos ventriculares ectópicos que podem resultar em taquicardia ventricular e fibrilação. Digoxina e adenosina não são incluídas na classificação de Vaughan Williams. A digoxina encurta os períodos refratários atrial e ventricular e é vagotônica, prolonga assim o período de condução e o período refratário do nó atrio-ventricular. A adenosina diminui ou bloqueia a condução no nó atrioventricular e pode terminar taquiarritmias que se utilizam da condução no nó atrioventricular para sua perpetuação. Sulfato de magnésio - O magnésio é necessário para o transporte de sódio, cálcio e potássio através das membranas celulares; logo, ele diminui a velocidade de formação de impulsos no nó sinoatrial e prolonga o tempo de condução ao longo do tecido cardíaco. - O sal usado para tratar arritmias é o sulfato de magnésio via intravenosa, pois o magnésio oral não é eficaz no caso de arritmia. - Mais surpreendentemente, o magnésio é a substância de escolha para o tratamento de arritmia potencialmente fatal, torsade de pointes e arritmias induzidas por digoxina. Anticoagulantes também são utilizados no tratamento das arritmias, sendo altamente recomendados para a fibrilação atrial. Letícia Terruel
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