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Ao se indicar procedimentos terapêuticos em pacientes com arritmias cardíacas deve-se antes considerar as características clínicas do paciente, aspecto fundamental para o sucesso do tratamento. Assim, uma mesma arritmia pode ter repercussão e riscos diferentes, conforme a idade do indivíduo, o grau de acometimento cardíaco e a situação em que ocorre. Sempre que possível o mecanismo da arritmia e as estruturas envolvidas (átrios, ventrículos, nó AV, sistema de condução) devem ser identificados para a correta decisão terapêutica. Células marcapasso e não marcapasso O coração contém dois tipos de miócitos cardíacos – os que espontaneamente podem iniciar potenciais de ação e os que não o fazem. As células capazes de iniciar potenciais de ação espontâneos são denominadas células marca-passo. As células marca-passo são encontradas em nó sinoatrial (nó SA), nó atrioventricular (nó AV) e sistema de condução ventricular (feixe de His, ramos do feixe e fibras de Purkinje). Em seu conjunto, as células marca-passo constituem o sistema de condução especializado que governa a atividade elétrica do coração. O segundo tipo de células cardíacas, as células não marca-passo, inclui os miócitos atriais e ventriculares. As células não marca- passo sofrem contração em resposta à despolarização e são responsáveis pela maior parte da contração cardíaca. Em situações patológicas, essas células não marca-passo podem adquirir automaticidade e, portanto, também atuam como células marca-passo. Potenciais de ação cardíacos Transportadores (bombas) impulsionam K+ para dentro das células, enquanto retiram Na+ e Ca2+, dando origem a gradientes elétricos e químicos através da membrana. Esses gradientes determinam o potencial de membrana de uma célula cardíaca. O potencial de equilíbrio de Nernst para cada íon (ENa = +70 mV; EK = –94 mV; e ECa = +150 mV) depende das concentrações relativas de íons dentro e fora da célula. Quando um canal seletivo para um íon se abre, o potencial de membrana aproxima-se do potencial de equilíbrio para aquele íon. A abertura de canal seletivo para K+, por exemplo, impulsiona o potencial de membrana para EK (−94 mV). Quando um canal seletivo para Na+ se abre, o potencial de membrana é impulsionado para ENa (+70 mV), e a abertura de canal seletivo para Ca+ impulsiona o potencial de membrana para ECa (+150 mV). O potencial de membrana final depende de: número de canais de cada tipo, suas condutâncias (i. e., a capacidade para deixar passar íons de cada canal) e duração de abertura de cada canal. A membrana em repouso do miócito cardíaco é relativamente permeável aos íons K+ (uma vez que alguns tipos de canais seletivos para K+ estão abertos), mas não aos íons Na+ ou Ca+; por conseguinte, o potencial de membrana em repouso aproxima- se do potencial de equilíbrio para K+. (O verdadeiro potencial de membrana do miócito cardíaco é pouco mais alto que o potencial de equilíbrio para K+, dada a contribuição de outros canais iônicos para o potencial de membrana em repouso.) Os potenciais de ação cardíacos prolongados proporcionam sustentada despolarização e contração necessárias para esvaziar as câmaras cardíacas. As células do nó sinoatrial (SA) regulam o ritmo do coração em frequências cardíacas de repouso normais situadas entre 60 e 100 bpm, enquanto as células musculares ventriculares coordenam a contração que ejeta sangue do coração. Fases nas células do nó sinoatrial As células do nó SA disparam espontaneamente em ciclo definido por três fases, designadas como fase 4, fase 0 e fase 3. @waleska112 Med IX - UFOB A fase 4 consiste em uma despolarização espontânea lenta, produzida por corrente marca-passo de entrada (If). Essa despolarização espontânea é responsável pela automaticidade do nó SA. Os canais de If são canais catiônicos relativamente não seletivos. A fase 0 consiste em uma despolarização mais rápida mediada por canais de Ca2+ regulados por voltagem e altamente seletivos, que, logo ao abrirem, impulsionam o potencial de membrana para ECa. Na fase 3, os canais de Ca2+ fecham-se lentamente, e ocorre abertura dos canais seletivos de K+, resultando em repolarização da membrana. Quando o potencial de membrana repolariza para cerca de −60 mV, a abertura dos canais de If é desencadeada e o ciclo começa novamente. Embora a corrente If seja responsável pela despolarização espontânea lenta na fase 4 do potencial de ação do nó SA, a cinética dessa despolarização é modulada por canais de Na+ regulados por voltagem, também expressos no nó. Assim, temos que: - Borda do nó sinoatrial: número relativamente maior de canais de Na+ regulados por voltagem. - Centro do nó sinoatrial: número relativamente maior de canais de Ca2+ regulados por voltagem e de If. Segmento Características Principal corrente subjacente Fase 4 Despolarização lenta Corrente lf para dentro da célula (transporte principalmente pelos íons Na+). Fase 0 Fase ascendente do potencial de ação Corrente de Ca2+ para dentro das células através dos canais de Ca2+ sensíveis à voltagem (lCa). Fase 3 Repolarização Corrente de K+ para fora das células através dos canais de K+ (lk). Fases dos miócitos ventriculares Ao contrário das células nodais SA, os miócitos ventriculares não sofrem despolarização espontânea em condições fisiológicas. Em consequência, o potencial de membrana do miócito ventricular em repouso permanece próximo a EK até que a célula seja estimulada por uma onda de despolarização iniciada pelas células marca- passo adjacentes. As cinco fases do potencial de ação dos miócitos ventriculares resultam de uma cascata intricadamente entrelaçada de aberturas e fechamentos de canais; as fases são numeradas de 0 a 4. Na fase 0, a ascensão do potencial de ação de despolarização muito rápida é causada por aumento transitório da corrente da Na+ para dentro da célula através dos canais de Na+ regulados por voltagem. A abertura dos canais de Na+ leva a rápido influxo de Na+ (INa), que responde pela despolarização e impulsiona o potencial de membrana para E Na(+70 mV). Apesar de ser grande, o aumento da condutância de Na+ durante a fase 0 dura apenas 1 a 2 milissegundos, em decorrência da inativação dos canais de Na+ em função de tempo e voltagem. O tempo necessário para que os canais de Na+ se recuperem de sua inativação dependente da voltagem e do tempo determina o período refratário do miócito. O período refratário refere-se ao tempo durante o qual não pode haver disparo de outro potencial de ação. Isso serve como um mecanismo protetor para assegurar ao coração um tempo suficiente para a ejeção do sangue de suas câmaras. Na fase 1 ocorre repolarização como consequência de dois eventos: (1) rápida inativação de INa dependente da voltagem; e (2) ativação de correntes transitórias de K+ (Ito; corrente transitória para fora da célula). A fase 2 é marcada como a fase de platô do potencial de ação ventricular. O platô é mantido por equilíbrio entre corrente de Ca2+ para dentro da célula, através de dois tipos de canais de Ca2+ (ICa.T, ICa.L), e corrente de K+ para fora da célula, através de vários tipos de canais de K+(IK, IK1, Ito). Como apenas poucos canais estão abertos, a condutância total da membrana é lenta. A alta resistência da membrana durante a fase de platô isola eletricamente as células cardíacas, permitindo rápida propagação do potencial de ação com pouca dissipação da corrente. Na fase 3 ocorre repolarização, uma vez que as correntes de Ca2+ para dentro da célula dependentes de tempo se inativam, as correntes de K+ para fora da célula (principalmente IK) impulsionam rapidamenteo potencial de membrana para EK. Mas, esses canais são incapazes de impulsionar o potencial de membrana até EK, visto que sofrem desativação em −40 mV. Na fase 4, o potencial de membrana em repouso é restabelecido pela ativação das correntes de K+ independentes do tempo (IK1), que impulsionam o potencial de membrana próximo ao potencial de equilíbrio do K+. Segmento Características Principal corrente subjacente Fase 4 Potencial de membrana em repouso Correntes para dentro e para fora da célula são iguais Fase 0 Despolarização rápida Corrente de Na+ para dentro da célula através dos canais de Na+ (INa) Fase 1 Fase precoce de repolarização Diminuição da corrente de Na+ para dentro da célula e efluxo de íons K+ através dos canais de K+ (Ito) Fase 2 Platô Equilíbrio entre a corrente de Ca2+ para dentro da célula através dos canais de Ca2+ (ICa · T, ICa · L) e a corrente de K + para fora da célula através dos canais de K+ (IK, IK1, Ito) Fase 3 Fase tardia da repolarização rápida Diminuição da corrente de Ca2+ e grande aumento da corrente de K+ para fora da célula. Na prática clínica, a atividade elétrica global do coração é medida, mais do que as alterações iônicas que ocorrem em nível celular. Essa atividade global é fornecida pelo eletrocardiograma: O eletrocardiograma (ECG) mede os potenciais de superfície corporal induzidos pela atividade elétrica cardíaca. A onda P reflete a despolarização atrial, o complexo QRS representa a despolarização ventricular e a onda T indica a repolarização ventricular. O intervalo PR estende-se desde o início da onda P (despolarização inicial dos átrios) até o início da onda Q (despolarização inicial dos ventrículos). O intervalo QT começa no início da onda Q e termina no final da onda T, representando todo o intervalo da despolarização e repolarização ventriculares. O segmento ST começa no final da onda S e termina no início da onda T, representando o período durante o qual os ventrículos estão despolarizados (i. e., a fase de platô do potencial de ação). As causas de disfunção elétrica no coração podem ser divididas em: 1. Defeitos na formação do impulso - Automaticidade alterada - Atividade deflagrada 2. Defeitos na condução do impulso - Reentrada - Bloqueio da condução - Vias acessórias Automaticidade alterada Em condições patológicas, a automaticidade pode ser alterada quando as células marca-passo latentes assumem o papel do nó SA como marca-passo do coração. Quando a frequência de disparo do nó SA torna-se patologicamente lenta,ou a condução do impulso de AS está comprometida, pode ocorrer um batimento de escape, no momento em que um marca-passo latente inicia um impulso. A disfunção prolongada do nó SA pode resultar em séries de batimentos de escape, conhecidas como ritmo de escape. Por outro lado, um batimento ectópico ocorre quando as células marca-passo latentes desenvolvem uma frequência de disparo intrínseca, que é mais rápida que a frequência nodal SA, em alguns casos a despeito de funcionamento normal do nó SA. Isquemia, anormalidades eletrolíticas ou aumento do tônus simpático podem resultar em séries de batimentos ectópicos, denominadas ritmo ectópico. Atividade deflagrada Ocorrem pós-despolarizações quando um potencial de ação normal deflagra despolarizações anormais adicionais. Ou seja, o primeiro potencial de ação (normal) deflagra oscilações adicionais do potencial de membrana, podendo levar a arritmias. São dois os tipos de pós-despolarizações: - Precoces: a pós-despolarização ocorre durante o potencial de ação incitado. Se uma pós-despolarização precoce for sustentada, pode resultar em um tipo de arritmia ventricular, denominado torsades de pointes. Especificamente, pode haver pós- despolarização precoce durante as fases de platô (fase 2) ou de repolarização rápida (fase 3). - Tardias: pós-despolarizações tardias ocorrem pouco depois do término da repolarização. Reentrada Quando um circuito elétrico autossustentado estimula uma área do miocárdio repetitiva e rapidamente. Duas condições devem estar presentes para que ocorra um circuito elétrico de reentrada: (1) bloqueio unidirecional (a condução anterógrada é proibida, enquanto a retrógrada é permitida); e (2) diminuição da velocidade de condução retrógrada. Quando o impulso chega ao ponto a, pode percorrer somente a via 1, porque a via 2 está bloqueada unidirecionalmente. A condução do impulso prossegue pela via 1 e chega ao ponto b. Nesse ponto, as células na via 2 não estão mais refratárias, e a condução do impulso segue de modo retrógrado pela via 2 em direção ao ponto a. Quando o impulso retrógrado chega ao ponto a, pode iniciar a reentrada, a qual pode resultar em um padrão sustentado de despolarizações rápidas, que desencadeiam taquiarritmias. Vias acessórias Ciclo cardíaco normal: o nó SA inicia impulso nó AV condução do impulso lenta para preenchimento dos ventrículos com sangue antes do início da contração ventricular propagação rápida do impulso pelos ventrículos para deflagrar a contração ventricular. Algumas pessoas apresentam vias elétricas acessórias que transpõem o nó AV. Uma via acessória comum é o feixe de Kent, uma faixa de miocárdio que conduz impulsos diretamente dos átrios para os ventrículos. o tecido ventricular recebe impulsos tanto da via de condução normal quanto da via acessória. Em consequência, os eletrocardiogramas dessas pessoas geralmente exibem um complexo QRS mais largo que o normal e uma fase ascendente ventricular mais precoce que o normal. CLASSE I: Fármacos que retardam a condução mediada pelos canais rápidos de sódio. Bloqueadores dos canais de Na+ diminuem a automaticidade nas células do nó SA ao: (1) deslocar o limiar para potenciais mais positivos; e (2) diminuir a inclinação da despolarização da fase 4 (estende a fase). O bloqueio dos canais de Na+ deixa menos canais disponíveis para abrir em resposta à despolarização da membrana, como resultado, aumenta o limiar para o disparo do potencial de ação e lentifica a taxa de despolarização. Isso leva à diminuição da FC. Os bloqueadores dos canais de Na+ atuam sobre os miócitos ventriculares, reduzindo a reentrada, pela diminuição da velocidade ascendente da fase 0, e, alguma vezes, por prolongamento da repolarização. Assim, diminuem a velocidade de condução. São classificados em: classes IA, IB e IC. CLASSE IA Deprimem a fase 0, retardam a condução e prolongam a repolarização. Bloqueio moderado dos canais de Na+ Quinidina: utilizada com menos frequência em virtude de seus efeitos adversos. Exerce efeito anticolinérgico (vagolítico), provavelmente ao bloquear canais de potássio após estimulação vagal de receptores muscarínicos M2 no nó AV. Pode aumentar a velocidade de condução através do nó AV. Contraindicada em pacientes com prolongamento QT e nos usuários de medicamentos que predispõem ao prolongamento QT, em decorrência do risco aumentado de torsades de pointes. Procainamida: é agente antiarrítmico da classe IA, efetivo no tratamento de muitos tipos de arritmias supraventriculares e ventriculares. Pode ser utilizada com segurança para diminuir a probabilidade de arritmias reentrantes no contexto do IAM, mesmo em presença de débito cardíaco diminuído. Também pode ser administrada por infusão intravenosa lenta para tratamento de taquicardia ventricular aguda. Com tratamento crônico, quase todos os pacientes desenvolvem síndrome semelhante ao lúpus e anticorpos antinucleares positivos. Disopiramida: Uso no tratamento da cardiomiopatia obstrutiva hipertrófica e síncope neurocardiogênica. Atua de forma semelhante à quinidina, porém provoca menos problemas gastrintestinais, apesar de exerceefeitos anticolinérgicos ainda mais profundos que a quinidina, causando efeitos adversos como retenção urinária e boca seca. Contraindicada em pacientes com uropatia obstrutiva ou glaucoma, e, ainda, em pacientes com bloqueio da condução entre átrios e ventrículos e nos com disfunção sinusal-nodal. Absolutamente contraindicada em pacientes com insuficiência cardíaca descompensada. CLASSE IB Pouco efeito da fase 0 ou normais, deprimem fase 0 em tecidos anormais e encurtam ou tem pouco efeito na repolarização. Ligam- se rapidamente (bloqueiam) e dissociam-se (desbloqueiam) dos canais de Na+. Lidocaína: comumente empregada no tratamento das arritmias ventriculares em situações de emergência, não é efetiva no tratamento das arritmias supraventriculares. Em pacientes hemodinamicamente estáveis, restringe-se ao tratamento das taquiarritmias ventriculares ou contrações ventriculares prematuras (CVP) frequentes que sejam incômodas ou hemodinamicamente significativas. Mexiletina: análogo da lidocaína, disponível como formulação oral. Apesar de sua eficácia ser semelhante à da quinidina, não prolonga o intervalo QT e carece de efeitos colaterais vagolíticos. As arritmias ventriculares potencialmente fatais constituem a principal indicação para uso da mexiletina. Mas é frequentemente utilizada como adjuvante de outros agentes antiarrítmicos: em associação com amiodarona no tratamento de pacientes com cardioversores-desfibriladores implantáveis (CDI), bem como no dos pacientes com taquicardia ventricular recorrente; também é utilizada em combinação com quinidina ou sotalol para aumentar a eficácia antiarrítmica e, ao mesmo tempo, reduzir os efeitos adversos. Fenitoína ou difenil-hidantoína: sua eficácia foi constatada na taquicardia ventricular de crianças pequenas. Especificamente, a fenitoína tem sido utilizada no tratamento da síndrome de QT prolongado congênita, quando a monoterapia com antagonistas β- adrenérgicos é malsucedida; é também empregada no tratamento da taquicardia ventricular após a cirurgia cardíaca congênita. Útil no paciente raro que apresenta epilepsia e arritmias cardíacas concomitantes. CLASSE IC Reprimem acentuadamente a fase 0, retardam a condução acentuadamente e discreto efeito na repolarização. Acentuado bloqueio dos canais de Na+. Flecainida: aprovada para uso apenas em situações potencialmente fatais (p. ex., quando as arritmias supraventriculares paroxísticas ou ventriculares não respondem a outras medidas). Quando administrada a pacientes com taquiarritmias ventriculares preexistentes e àqueles com história de infarto do miocárdio, a flecainida pode agravar a arritmia, até mesmo em doses normais. Encainida, a moricizina e a propafenona CLASSE II: Fármacos bloqueadores beta-adrenérgicos Atuam por meio das seguintes ações: (1) diminuem a frequência de despolarização da fase 4; e (2) prolongam a repolarização, diminuindo o influxo de simpático para as regiões de regulação do ritmo, A estimulação simpática libera norepinefrina, que se liga aos receptores β1-adrenérgicos nos tecidos nodais. Assim, no nó SA desencadeia um aumento na corrente marca-passo (If), que aumenta a frequência de despolarização da fase 4 e leva a um disparo mais frequente do nó. A estimulação dos receptores β1- adrenérgicos no nó AV aumenta as correntes de Ca2+ e K+, elevando, assim, a velocidade de condução e diminuindo o período refratário do nódulo. Os antagonistas β1 bloqueiam a estimulação simpática dos receptores β1-adrenérgicos nos nós SA e AV. Utilizados no tratamento de arritmias supraventriculares e ventriculares precipitadas por estimulação simpática, reduzem a mortalidade após infarto do miocárdio, mesmo em pacientes com contraindicações relativas a esse tratamento, como diabetes melito grave ou asma. Gerações: 1ª geração: como propranolol, são antagonistas β-adrenérgicos não seletivos que antagonizam receptores β 1e β2-adrenérgicos. Utilizados para tratar taquiarritmias causadas por estimulação de catecolaminas durante exercício físico ou estresse emocional. Como propranolol não prolonga a repolarização no tecido ventricular, pode ser utilizado em pacientes com síndrome do QT longo. 2ª geração: atenolol, metoprolol, acebutolol e bisoprolol, são relativamente seletivos para receptores β1-adrenérgicos quando administrados em baixas doses. 3ª geração: provocam vasodilatação além de antagonismo em receptores β1-adrenérgicos. Labetalol e carvedilol induzem vasodilatação ao antagonizarem a vasoconstrição mediada por receptores α-adrenérgicos; pindolol é agonista parcial em receptores β2-adrenérgicos e nebivolol estimula a produção endotelial de óxido nítrico. CLASSE III: Fármacos que prolongam a repolarização São fármacos que bloqueiam os canais de K+, gerando uma corrente hiperpolarizante menor de K+. Por isso, produzem uma fase de platô mais longa e prolongam a repolarização. No entanto, atenção, o prolongamento da duração do platô aumenta a probabilidade de desenvolvimento de pós- despolarizações precoces e torsades de pointes. Ibutilida: prolonga a repolarização por inibir a corrente de K+ retificadora tardia e intensifica a corrente de Na+ lenta dirigida para dentro da célula, que prolonga ainda mais a repolarização. Ibutilida é utilizada para interromper fibrilação e flutter atriais. Dofetilida: disponível apenas por via oral. Inibe exclusivamente o componente rápido da corrente retificadora de K+ tardia e não exerce nenhum efeito sobre a corrente de Na+ para dentro da célula. Utilizada em pacientes com fibrilação atrial e/ou flutter atrial altamente sintomáticos. Bretílio: atua como anti-hipertensivo (efeitos simpaticolíticos) e antiarrítmico de classe III. Seus locais de atividade antiarrítmica situam-se em fibras de Purkinje e, secundariamente, em miócitos ventriculares; não exerce efeito sobre o tecido atrial. Indicado somente em pacientes com taquicardia ventricular recorrente ou fibrilação após fracasso de lidocaína e de medidas de desfibrilação. Amiodarona: é principalmente um agente antiarrítmico de classe III, mas também atua como antiarrítmico das classes I, II e IV. A capacidade da amiodarona de exercer essa diversidade de efeitos pode ser explicada por seu mecanismo de ação: alteração da membrana lipídica na qual se localizam canais iônicos e receptores. - Como potente agente de classe I, amiodarona bloqueia os canais de Na+ e, por conseguinte, diminui a frequência de disparo nas células marca-passo; - Exerce atividade antiarrítmica de classe II pelo antagonismo não competitivo de receptores α e de β-adrenérgicos. - Como bloqueador dos canais de Ca2+ (classe IV), amiodarona pode causar bloqueio significativo do nó AV e bradicardia. -Atenção diversos efeitos adversos: pneimonite, hipo ou hipertireoidismo, ataxia, microdepósitos na córnea, pigmentação cutânea etc. Sotalol: antiarrítmico misto das classes II e III. Esse fármaco antagoniza não seletivamente os receptores β-adrenérgicos (ação de classe II) e também aumenta a duração do potencial de ação ao bloquear os canais de K+ (ação da classe III). Empregado no tratamento das arritmias ventriculares graves, particularmente em pacientes que não conseguem tolerar os efeitos adversos da amiodarona; prevenção de flutter ou fibrilação atriais recorrentes e, por conseguinte, na manutenção do ritmo sinusal normal. CLASSE IV: Antagonistas do cálcio Os fármacos que bloqueiam os canais de Ca2+ cardíacos atuam preferencialmente nos tecidos nodais SA e AV, uma vez que esses tecidos marca-passo dependem das correntes de Ca2+ para a fase de despolarização do potencial de ação. Diminuem a excitabilidade das células do nó SA e prolongam a condução do nó AV. A principal ação terapêutica dos antiarrítmicos de classe IV consiste em tornar mais lentaa ascensão do potencial de ação nas células do nó AV, resultando em diminuição da velocidade de condução através do nó AV. Isso também bloqueia arritmias de reentrada, em que o nó AV constitui parte do circuito de reentrada. Verapamil e diltiazem são empregados no tratamento de taquicardias supraventriculares paroxísticas de reentrada, na medida em que representam frequentemente arritmias de reentrada que envolvem o nó AV. Verapamil e diltiazem são raramente utilizados em taquicardia ventricular. De fato, as únicas indicações desses agentes nas arritmias ventriculares consistem em taquicardia ventricular idiopática do trato de efluxo direito e taquicardias fasciculares. Verapamil também é utilizado no tratamento de hipertensão e angina vasospástica (de Prinzmetal). Atenção administração de verapamil intravenoso a pacientes em uso de β-bloqueadores pode precipitar insuficiência cardíaca grave e levar a dissociação eletromecânica irreversível. Adenosina Pela estimulação da classe P1 de receptores purinérgicos, adenosina abre um canal de K+ acoplado à proteína G (IKACh) e inibe, portanto, a condução nodal AV, atrial e nodal SA. Uso: taquicardia supraventricular. Atropina Uso: bradicadial sinusal Epinefrina (adrenalina) Uso: parada cardíaca Isopresalina Uso: bloqueio cardíaco Digoxina Uso: fibrilação atrial rápida Cloreto de cálcio Uso: taquicardia ventricular por hipercalemia Cloreto de magnésio Uso: fibrilação ventricular, toxicidade pela digoxina. Potássio Tanto hipopotassemia quanto hiperpotassemia podem ser arritmogênicas, e, por conseguinte, é preciso monitorar cuidadosamente os níveis plasmáticos de K+. A correção do potássio é antiarrítmica. Essa abordagem raramente é utilizada na prática clínica, na medida em que é difícil modificar os níveis de K+ de modo confiável e que alterações exogenamente induzidas nos níveis de K+ são rapidamente corrigidas por mecanismos renais. Classe Ação Fármacos Uso IA Bloqueio moderado dos canais de Na+. Deprimem a fase 0, retardam a condução e prolongam a repolarização. Quinidina Utilizada com menos frequência em virtude de seus efeitos adversos. Exerce efeito anticolinérgico. Procainamida Arritmias supraventriculares e ventriculares, para diminuir a probabilidade de arritmias reentrantes no contexto do IAM, mesmo em presença de débito cardíaco diminuído. Também pode ser administrada por infusão intravenosa lenta para tratamento de taquicardia ventricular aguda. Disopiramida Tratamento da cardiomiopatia obstrutiva hipertrófica e síncope neurocardiogênica IB Ligam-se rapidamente (bloqueiam) e dissociam-se (desbloqueiam) dos canais de Na+. Pouco efeito da fase 0 ou normais, deprimem fase 0 em tecidos anormais e encurtam ou tem pouco efeito na repolarização. Lidocaína Tratamento das arritmias ventriculares em situações de emergência, contrações ventriculares prematuras (CVP) frequentes. Mexiletina Arritmias ventriculares potencialmente fatais; em associação com amiodarona no tratamento de pacientes com cardioversores-desfibriladores implantáveis (CDI) e taquicardia ventricular recorrente; em combinação com quinidina ou sotalol para aumentar a eficácia antiarrítmica e, ao mesmo tempo, reduzir os efeitos adversos. Fenitoína Taquicardia ventricular de crianças pequenas, tratamento da síndrome de QT prolongado congênita, quando a monoterapia com antagonistas β-adrenérgicos é malsucedida, tratamento da taquicardia ventricular após a cirurgia cardíaca congênita. IC Acentuado bloqueio dos canais de Na+. Reprimem acentuadamente a fase 0, retardam a condução acentuadamente e discreto efeito na repolarização. Flecainida Apenas em situações potencialmente fatais (p. ex., quando as arritmias supraventriculares paroxísticas ou ventriculares não respondem a outras medidas). Encainida, a moricizina e a propafenona II Diminuem a frequência de despolarização da fase 4 e prolongam a repolarização, diminuindo o influxo de simpático para as regiões de regulação do ritmo, pois bloqueiam a estimulação simpática dos receptores β1- adrenérgicos nos nós SA e AV. 1ª geração Propranolol Taquiarritmias causadas por estimulação de catecolaminas durante exercício físico ou estresse emocional. 2ª geração atenolol, metoprolol, acebutolol bisoprolol 3ª geração Labetalol carvedilol, nebivolol Vasodilatação III Bloqueiam os canais de K+, gerando uma corrente hiperpolarizante menor de K+. Por isso, produzem uma fase de platô mais longa e prolongam a repolarização. Ibutilida Interromper fibrilação e flutter atriais Dofetilida Fibrilação atrial e/ou flutter atrial altamente sintomáticos. Bretílio Taquicardia ventricular recorrente ou fibrilação após fracasso de lidocaína e de medidas de desfibrilação. Amidarona Agente antiarrítmico de classe III, mas também atua como antiarrítmico das classes I, II e IV Sotalol Arritmias ventriculares graves, particularmente em pacientes que não conseguem tolerar os efeitos adversos da amiodarona; prevenção de flutter ou fibrilação atriais recorrente IV Os antagonistas do Cálcio diminuem a excitabilidade das células do nó SA e prolongam a condução do nó AV. Verapamil e diltiazem Taquicardia ventricular idiopática do trato de efluxo direito e taquicardias fasciculares, arritmias de reentrada que envolvem o nó AV. Outros Adenosina Taquicardia supraventricular. Atropina Bradicadial sinusal Adrenalina Parada cardíaca Isopresalina Bloqueio cardíaco Digoxina Fibrilação atrial rápida Cloreto de cálcio Taquicardia ventricular por hipercalemia Cloreto de magnésio Fibrilação ventricular, toxicidade pela digoxina Potássio Arritmias por hipopotassemia ou hiperpotassemia
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