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Cardiotônicos Glicosídeos cardíacos Definição - Os glicosídeos cardíacos são fármacos provenientes da dedaleira (Digitalis spp.) e plantas relacionadas. - Os glicosídeos cardíacos são frequentemente chamados digitálicos ou glicosídeos digitálicos, pois a maioria dos fármacos é proveniente da planta conhecida como digital (dedaleira). Trata-se de um grupo de compostos quimicamente similares que podem aumentar a contratilidade do músculo cardíaco e, em vista disso, são usados no tratamento da insuficiência cardíaca. - Os glicosídeos cardíacos são fármacos inotrópicos positivos que aumentam a contratilidade cardíaca e, dessa forma, aumentam o débito cardíaco; esse mecanismo está relacionado com o aumento da concentração de cálcio citoplasmático nos miocardios, que aumenta a contratilidade do músculo cardíaco. - Os glicosídeos cardíacos estão associados com diminuição da sobrevida, especialmente em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr), resultante de doença coronariana arterial. Por essa razão, esses fármacos, com exceção da digoxina, são usados somente por períodos curtos e principalmente em pacientes hospitalizados. - Terapeuticamente, o glicosídeo cardíaco mais importante é a digoxina. Estrutura - Os glicosídeos cardíacos apresentam uma estrutura molecular típica: uma estrutura açúcar, um esteróide e um anel lactona; essa última é essencial para a atividade, e as outras partes da molécula determinam a potência e as propriedades farmacocinéticas. Um cardiotônico apresenta anéis ligados com um final de pentose. Mecanismo de ação Efeito inotrópico positivo - A digoxina inibe a bomba de sódio e potássio ATPase, ligando-se na bomba reversivelmente, impedindo a retirada de sódio e a entrada de potássio na célula. Assim, aumenta sódio no interior da célula e acaba por interferir em outra bomba que faz transporte ativo secundário (bomba de sódio e cálcio). Conforme diminui a concentração iônica de sódio, essa bomba repõe o sódio na célula e tira o cálcio de dentro dela. Como essa bomba não está funcionando, (pois já tem muito sódio na célula e não precisa colocar mais) ela deixa também de retirar o cálcio, aumentando o cálcio intracelular, tendo maior interação entre as proteínas contráteis e melhorando a força de contração e o débito cardíaco. - O mecanismo pelo qual os glicosídeos cardíacos aumentam a força de contração (efeito inotrópico positivo) é a inibição da bomba Na+/K+ nos miócitos cardíacos. Isso causa aumento de sódio intracelular, e um aumento secundário de cálcio intracelular. Os glicosídeos cardíacos ligam-se a um ponto na porção extracelular da subunidade α da Na+/K+-ATPase. Em condições normais, a bomba de sódio/potássio ATPase, presente na membrana das células cardíacas, gera uma troca de 3 sódio com 2 potássio promovendo uma diminuição na concentração de sódio intracelular ativando a segunda bomba que repõem a quantidade de sódio, a qual troca um cálcio pelo sódio. A digoxina, na membrana da células cardíaca, inibe a atividade da bomba de sódio/potássio ATPase gerando uma não redução do nível de sódio intracelular, a qual estará aumentado impedindo o funcionamento do canal trocador de sódio/cálcio, como consequência, há um aumento da concentração de cálcio dentro da células cardíacas promovendo uma maior interação entre as proteínas contráteis melhorando a força de contração e o débito cardíaco. - Ao potenciar o músculo cardíaco, ocorre um aumento do volume sistólico da sangue que será ejetado (aumentando a taxa de ejeção) interferindo diretamente no aumento do débito cardíaco (Débito cardíaco= Volume Sistólico x Frequência Cardíaca). A digoxina não interfere na bomba de sódio/potássio ATPase dos músculos estriado esquelético, não interferindo na sua contração. - A digoxina é usada para tratamento de insuficiência cardíaca e fibrilação atrial. Efeito cronotrópico negativo - A digoxina promove, indiretamente, uma redução da atividade simpática pelo aumento do débito cardíaco e da perfusão periférica; pois, o sistema autônomo simpático interagem com os receptores alfa-1 dos vasos sanguíneos gerando a vasoconstrição que gera um aumento da resistência periférica. Ou seja, reduzindo a atividade simpática, não ocorre a vasoconstrição, assim reduzindo a resistência periférica com manutenção da frequência cardíaca normal. - O estímulo vagal com doses terapêuticas de digoxina pode resultar num efeito cronotrópico negativo, causando bradicardia. Outro mecanismo que contribui para a bradicardia é o efeito direto da digoxina no nódulo atrioventricular, aumentando seu período refratário e lentificando a condução do impulso do nó atrioventricular ao ventrículo. Efeito dromotrópico negativo - A redução da atividade simpática interfere na condução elétrica do nodo átrio ventricular, a qual estará diminuída impedindo a fibrilação atrial. Efeitos terapêuticos - Efeito inotrópico positivo (aumenta a força das células cardíacas) - Efeito cronotrópico negativo (manutenção da frequência) - Efeito dromotrópico negativo (diminuição da condução elétrica) - Reduz automaticidade (diminui a capacidade cardíaca de gerar sua própria atividade elétrica) Farmacocinética - A digoxina é administrada por via oral ou, em situações de urgência, pela via intravenosa. É uma molécula polar, e sua eliminação ocorre, principalmente, por excreção renal e envolve a glicoproteína P, levando a interações clinicamente significativas com outros fármacos usados para tratamento da insuficiência cardíaca, como a espironolactona, e com antiarrítmicos como o verapamil e a amiodarona. - A digoxina tem amplo volume de distribuição porque acumula nos músculos. E sua meia-vida de eliminação é de aproximadamente 36 h em pacientes com função renal normal, mas torna-se consideravelmente mais longa em idosos e em pacientes com insuficiência renal manifesta. Nesses casos, é necessário reduzir as doses. - Usa-se dose de ataque em situações de urgência. - A determinação da concentração plasmática de digoxina é útil quando houver suspeitas sobre a eficácia ou a toxicidade. - Cerca de 10% da população possui Eubacterium, tendo como consequência uma tolerância à digoxina. Uso clínico - Os digitálicos são utilizados para o tratamento de insuficiência cardíaca crônica (pacientes que continuam sintomáticos apesar do uso ótimo de diuréticos e IECA) e para reduzir a frequência ventricular em fibrilação atrial rápida persistente. Efeitos adversos - Uma das principais desvantagens dos glicosídeos em uso clínico é a estreita margem entre eficácia e toxicidade. - Em concentrações séricas baixas, a digoxina é bem tolerada. Contudo, ela tem um índice terapêutico muito estreito, e sua toxicidade é uma das mais comuns reações adversas de fármacos que levam à hospitalização. - Psiquiátricos: delírio, fadiga, confusão, sonhos anormais - Visuais: visão embaçada, amarelada (xantopsia), halos - Gastrintestinais: anorexia, diarreia, vômitos, náuseas, dor - Respiratórios: aumento da ventilação à hipóxia - Cardíacos: arritmias ectópicas (pois mexe com condução elétrica), distúrbios de condução, bradicardia sinusal, prolongamento da condução ou bloqueio átrio-ventricular. Risco de toxicidade - Os efeitos dos glicosídeos cardíacos aumentam caso haja diminuição da K+ plasmática, em consequência da redução da competição no local de ligação de K+ na bomba Na+/K+-ATPase. Esse fato é de importância clínica, porque muitos diuréticos, que costumam ser usados no tratamento da insuficiência cardíaca, diminuem a K+ no plasma, aumentando, assim, o risco de arritmia induzida pelos glicosídeos cardíacos. - A redução de potássio extracelular torna os efeitos dos glicosídeos tóxicos, pois a digoxina se liga no sítio de ligação do potássio na bomba de sódio/potássio ATPase; logo a redução a concentração de potássio no meio extracelular promove um aumento da ligação dos glicosídeos cardíacos na bomba de sódio/potássio ATPase no sítio de ligação do potássio pela redução da competitividade pelo sítiode ligação. A hipercalemia promove uma reversão dos efeitos tóxicos dos digitálicos. Margem de segurança estreita: 0,5-2ng/mL; Dose tóxica: >2,5ng/mL Intoxicação Digitálica - Anorexia, náusea e êmese podem ser indicadores iniciais de toxicidade. Manifestações cardíacas - Taquicardias supraventriculares paroxísticas e não paroxísticas - Bradicardia com bloqueio atrioventricular - Bloqueio sinoatrial - Taquicardia e fibrilação ventriculares - Extra-sístoles Manifestações extra-cardíacas - Trato gastrointestinal: Náusea, vômitos, diarreia. - Sistema nervoso central: Cefaléia, astenia muscular, nevralgias (simulando nevralgia do trigêmio), desorientação, confusão mental e até mesmo delírios e alucinações - Visuais: Alteração nas percepções de cores (visão amarela), visão dupla, visão branca (presença de halos brancos em objetos escuros e os objetos em geral são vistos como congelados). Atenção!!! Em 20% dos casos de intoxicação digitálica, os pacientes são idosos. Logo, quando eles apresentarem náuseas, hiporexia, vômitos, diarreia, alucinações visuais (enxerga em faixas verde e amarelas ou vê um halo), confusão mental, vertigens, insônia; o médico deve suspeitar de intoxicação digitálica. Tratamento da intoxicação digitálica - Suspender a medicação - Administração de sais de potássio - Antiarrítmicos (fenitoína ou Lidocaína/ Betabloqueadores) - Implante do marcapasso temporário - Anticorpos antidigoxina (fragmentos FAB - Digibind) A intoxicação grave, que pode resultar em taquicardia ventricular, necessita da administração de antiarrítmicos e do uso de anticorpos à digoxina (digoxina imuno Fab), que se ligam e inativam o fármaco. Agonistas beta 1-adrenérgicos Definição - Os agonistas beta-1 adrenérgicos, como a dobutamina e a dopamina, melhoram a performance cardíaca, causando efeitos inotrópicos positivos e vasodilatação. - A digoxina aumenta a força de contração cardíaca, já a dobutamina aumenta a força de contração cardíaca e aumenta a frequência cardíaca. Representantes - Dobutamina e dopamina Mecanismo de ação - A dobutamina é um agonista beta-adrenérgico, pois se liga ao receptor beta-1 adrenérgico do músculo cardíaco no sítio de ligação da adrenalina/noradrenalina gerando a ativação da proteína G que ativa a enzima adenilato ciclase, a qual converte o ATP em AMP-cíclico que ativará a enzima proteína quinase gerando a fosforilação do canal de cálcio promovendo uma maior entrada de cálcio no meio intracelular, o qual aumentará a interação das proteínas de contração muscular, e como consequência aumenta o débito cardíaco. - Os β-agonistas adrenérgicos aumentam o monofosfato cíclico de adenosina (AMPc) intracelular, o que resulta na ativação da proteinocinase. A proteinocinase então fosforila canais lentos de cálcio, aumentando a entrada de íons cálcio nas células do miocárdio e a contração. Como os β-bloqueadores melhoram a função cardíaca na insuficiência cardíaca? Embora pareça contraditório diminuir a frequência cardíaca na IC, os β-bloqueadores melhoram o funcionamento cardíaco, diminuindo a frequência e a liberação de renina e prevenindo os efeitos diretos da norepinefrina no músculo cardíaco, reduzindo o remodelamento. Sacubitril e Valsartan Em condições normais, uma redução do débito cardíaco gera uma redução da perfusão renal, assim, o rim libera a renina que atua no angiotensinogênio formando a angiotensina-I, que se direciona para os vasos pulmonares onde encontra a ECA formando a angiotensina-II que atua no receptor AT1 (presente no córtex da adrenal), promovendo a ação do hormônio aldosterona, a qual gera retenção de sódio. O vasartana é uma BRA (bloqueador do receptor de angiotensina-II) interferindo na ligação a angiotensina-II com seu receptor AT1 impedindo a liberação de aldosterona, e como consequência apresenta um efeito vasodilatador; já a sacubitril interfere na ação da enzima nephrilysina, impedindo a quebra dos peptídeos natriuréticos, bradicinina e substância P aumentando a formação de angiotensina I e angiotensina II, por isso é utilizada com a valsartana para impedir a liberação da aldosterona intensificando o efeito vasodilatador. A sacubitril, um inibidor da neprilisina, aumenta os peptídeos natriuréticos circulantes, os quais aumentam a eliminação de Na+ e água pelo rim, relaxam a musculatura lisa vascular (exceto arteríolas eferentes dos glomérulos renais), aumentam a permeabilidade vascular, e inibem a liberação e/ou ações de vários hormônios vasoconstritores ou de retenção de sal e mediadores, incluindo aldosterona, angiotensina II, endotelina e hormônio antidiurético; e, em combinação fixa com valsartana, é eficaz no tratamento da insuficiência cardíaca crônica. A associação sacubitril/valsartana, comercialmente denominado Entresto, é o primeiro da classe dos inibidores da neprilisina e do receptor da angiotensina aprovado para o tratamento da insuficiência cardíaca. Letícia Terruel
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