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ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! PROFESSOR Dr. Wellington Piveta Oliveira Prática de Ensino: Modelagem Matemática e Resolução de Problemas NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. OLIVEIRA, Wellington Piveta. Prática de Ensino: Modelagem Matemática e Resolução de Problemas. Wellington Piveta Oliveira. Maringá - PR.: UniCesumar, 2021. 216 p. “Graduação - EaD”. 1. Modelagem 2. Matemática 3. Ensino. 4. EaD. I. Título. ISBN: 978-65-5615-696-5 CDD - 22 ed. 510.7 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Coordenador(a) de Conteúdo Antoneli da Silva Ramos Projeto Gráfico e Capa André Morais, Arthur Cantareli e Matheus Silva Editoração Lavígnia da Silva Santos Design Educacional Antonio Eduardo Nicacio Curadoria Fabiana Bruna Gozer Dias Revisão Textual Ana Caroline C. de Sousa Baniogli Ilustração Geison Odlevati Ferreira e Eduardo Aparecido Alves Fotos Shutterstock FICHA CATALOGRÁFICA A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade, ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria- mente para que nossa educação à distância continue como uma das melhores do Brasil. Atuamos sobre quatro pilares que consolidam a visão abrangente do que é o conhecimento para nós: o intelectual, o profissional, o emocional e o espiritual. A nossa missão é a de “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, for- mando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. Neste sentido, a UniCesumar tem um gênio impor- tante para o cumprimento integral desta missão: o coletivo. São os nossos professores e equipe que produzem a cada dia uma inovação, uma transforma- ção na forma de pensar e de aprender. É assim que fazemos juntos um novo conhecimento diariamente. São mais de 800 títulos de livros didáticos como este produzidos anualmente, com a distribuição de mais de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nos- sos acadêmicos. Estamos presentes em mais de 700 polos EAD e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina, Ponta Grossa e Corumbá), o que nos posiciona entre os 10 maiores grupos educacionais do país. Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima história da jornada do conhecimento. Mário Quin- tana diz que “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportu- nidade de fazer a sua mudança! Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa missão, que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Dr. Wellington Piveta Oliveira Olá! Sou Wellington Piveta Oliveira, natural de Assis Cha- teaubriand, Paraná. Desde muito pequeno, sempre gostei de coisas que diziam respeito à escola. Nas brincadeiras da minha infância, a minha irmã e os meus primos sempre eram os meus “alunos”. Na Educação Básica, em escola pública, conheci um professor de Matemática que me fez enxergar essa área de conhecimento com “outros olhos” e considero que essa visão me conduziu à cursar a Licen- ciatura em Matemática. Na graduação, ao ter contato com disciplinas da área de Ensino de Matemática foi como se eu resgatasse toda aquela inspiração sobre ser professor. Naquele momento da minha vida, tive a oportunidade de participar de alguns eventos da área de Educação Mate- mática e me relacionar de modo mais íntimo com a Mo- delagem Matemática, um dos temas abarcados por essa componente curricular. Cursei pós-graduação (Mestrado e Doutorado) nesta área e, neste momento, ao escrever um pouco da minha trajetória que, certamente, exerceu influências nas esco- lhas que fiz para a escrita deste livro, inúmeras lembran- ças se manifestaram. Lembranças essas que, além de deixar saudades, me fazem enxergar as oportunidades e as escolhas que tive de fazer. Inclusive essa, o desafio de escrever esse material. No planejamento de uma aula de Matemática, o professor Marcos se deparou com um exer- cício no final de uma unidade do livro didático cuja temática envolvia mudanças climáticas. Buscando informações sobre o tema, se deparou com notícias de que as mudanças climá- ticas estão entre os maiores problemas mundiais. Em reportagens publicadas, obteve infor- mações como movimentos cruciais na luta contra o aquecimento global que contribuíram para minimizar os índices de temperatura do planeta, já que as projeções são alarmantes. Diante de informações, o professor Marcos considerou a possibilidade de abordar esse tema com Matemática. Você seria capaz de dizer que possibilidades ele teria para desenvolver o trabalho pedagógico em sala de aula? Pois é, essa pergunta pode nos guiar a diferentes abordagens de práticas em salas de aulas, por exemplo, a proposição de situações-problema a partir de um texto com dados quantitativos, como também a elaboração e resolução de situações pelos próprios estudantes. Porém, o professor Marcos teve outra ideia: na aula seguinte, pediu que os estudantes monitorassem a temperatura, em suas residências, ao longo de um dia e que registrassem os horários e as respectivas temperaturas. Nesta orientação, o professor já pressupõe o desenvolvimento de uma habilidade matemática, a de organização desses dados. Na aula seguinte, quando os estudantes chegaram com as anotações dos horários e, respectivamente, das temperaturas, o professor pediu que em grupos, eles esco- lhessem como poderiam trabalhar com aquelas temperaturas de modo que o grupo devesse eleger as temperaturas de um dia. Os grupos, prontamente, realizaram um média das temperaturas de cada um dos membros e estabeleceram as temperaturas do grupo, para cada horário. Em seguida, o professor pediu que eles representassem aqueles dados no plano cartesiano e logo visualizaram que os “pontos” indicavam o comportamento das tem- peraturas, isto é, iniciava o dia com uma temperatura mais amena, ao longo do dia “esquentava” e, ao chegar à noite, a temperatura colocava-se a decair. PRÁTICA DE ENSINO: MODELAGEM MATEMÁTICA E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Provavelmente, você já representou, mentalmente, essa situação, não é mesmo? Pois é, essa ideia foi oportuna para que o professor Marcos abordasse o conteúdo de função quadrática ou função de grau 2, cuja localização dos pares ordenados no plano cartesiano tendo em seus eixos, temperatura e horário, permitiram a visualização, pelos estudantes, de uma curva e, ao estudá-la, compreenderam que o coeficiente angular era menor que zero e tantas outras coisas. E você, como desenvolveria uma experiência em sala de aula, para abordar o conteúdo de função quadrática? Note que tanto a exploração dessa situação por meio de problemas, quanto por meio de um convite à produção e manipulação de dados pelos próprios estudantes são escolhas que, geralmente, não ocorrem nas práticas dos professores de Matemática. Porém o ato de problematizar e investigar a situação, além de conquistar os estudan- tes, promove uma visão sobre Matemática contextualizada, permitindo a atribuição de sentidos aos conceitos que estão previstos curricularmente. Essa é a pauta de nossos estudos, pois abordaremos desde algumas ideias para que você, assim como o professor Marcos possa ampliar seus horizontes didático-pe- dagógicos sobre como ensinar e aprender Matemática, até a apresentação de algumas práticas para inspirá-lo(a) em sua jornada como futuro(a) educador(a). Me refiro à Resolução de Problemas e à Modelagem Matemática como possibilidades para o pla- nejamento e desenvolvimento de ações pautadas na Educação Matemática.Espero que, com carinho e determinação, você aproveite e mergulhe de cabeça em cada linha, imagem ou figura que foi escolhida para a elaboração deste material, que só se tornará rico se você transcendê-los e articulá-los na produção de saberes e conhecimentos profissionais. Excelentes estudos! Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store Ao longo do livro, você será convida- do(a) a refletir, questionar e trans- formar. Aproveite este momento. PENSANDO JUNTOS NOVAS DESCOBERTAS Enquanto estuda, você pode aces- sar conteúdos online que amplia- ram a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tec- nologia a seu favor. Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo Unicesumar Experien- ce. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recur- sos em Realidade Aumentada. Ex- plore as ferramentas do App para saber das possibilidades de intera- ção de cada objeto. REALIDADE AUMENTADA Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode sobre o códi- go, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido. PÍLULA DE APRENDIZAGEM OLHAR CONCEITUAL Neste elemento, você encontrará di- versas informações que serão apre- sentadas na forma de infográficos, esquemas e fluxogramas os quais te ajudarão no entendimento do con- teúdo de forma rápida e clara Professores especialistas e convi- dados, ampliando as discussões sobre os temas. RODA DE CONVERSA EXPLORANDO IDEIAS Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do assunto discu- tido, de forma mais objetiva. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881 Outro Paradigma: Perspectivas Para Uma Educação Matemática 9 47 APRENDIZAGEM CAMINHOS DE 1 2 Resolução De Problemas Na Perspectiva Da Educação Matemática 83 Problemas E Práticas Na Abordagem Com A Resolução De Problemas 3 4 121 Modelagem Matemática Na Perspectiva Da Educação Matemática 5 161 Alguns Aspectos Sobre Práticas Com Modelagem Matemática 1Outro Paradigma: Perspectivas para uma Educação Matemática Dr. Wellington Piveta Oliveira Prezado(a) estudante, seja bem-vindo à disciplina Prática de Ensino: Modelagem Matemática e Resolução de Problemas. Nesta unidade, você terá a oportunidade de refletir sobre três aspectos que, na minha compreensão, são fundamentais para o trabalho pedagógico com a Resolução de Problemas e com a Modelagem Matemática. O primeiro deles se refere à natureza das práticas, que contemplam atividades matemáticas; o segundo, à postura dos agentes na prática pedagógica; e o terceiro, à Resolução de Problemas e a Modelagem Matemática nas orientações curriculares. A reflexão sobre esses aspectos, certamente, lhe subsidiará no planejamento de atividades e práticas que se confi- gurem em verdadeiros ambientes de aprendizagem. UNIDADE 1 10 Caro(a) estudante, como futuro(a) profissional que atuará com Matemática, cer- tamente, você é um(a) apaixonado(a) por números, cálculos, tabelas, gráficos, entre outros tipos de registros. Desde muito cedo, eu sempre me dei bem com a Matemática, mas quando ingressei nos Anos Finais do Ensino Fundamental, algumas coisas começaram a me causar desconforto de serem aprendidas. Eu não enxergava muito sentido naquelas coisas que a minha professora de Matemática apresentava sem muitos rodeios. Quando ingressei no Ensino Médio, tive um professor que era um amante da astronomia e aquelas “viagens” que ele fazia (que hoje entendo ser relações entre os diferentes campos do conhecimento), consequentemente, me aproximou novamen- te daquilo que, atualmente, tenho apreço. Esse apreço me levou ao curso de Licen- ciatura em Matemática e nele tive o contato com outras “coisas” que se quer eu sabia da existência, por exemplo, os modos pelos quais a Matemática pode ser ensinada e aprendida. Há alguns anos, esses modos de ensinar e aprender se tornaram meus objetos de estudo, de pesquisa e de profissão. Com esta reflexão, possivelmente, você também retomou as suas experiências com a Matemática. Resgatando essas me- mórias, te pergunto: ao longo da sua vida, como você tem aprendido Matemática? A pergunta anterior, provavelmente, te fez lembrar e reviver muita coisa. Digo isso, porque ao fazê-la, eu também me peguei refletindo e esse movimento me conduziu a pensar em alguns pontos, que vou te apresentar e que pretendo escla- recer ao longo dos nossos estudos com essa primeira unidade. Ao mesmo tempo, vejo que esses pontos podem justificar as razões pelas quais essa disciplina está na grade curricular do seu curso e, consequentemente, em seu processo formativo, visando a sua prática profissional. Bom, mencionei sobre ser apaixonado(a) por “números, cálculos, tabelas, grá- ficos, entre outros”. Apoiados na Didática da Matemática, podemos considerar esses objetos “números, cálculos, tabelas, gráficos…”, como sendo diferentes tipos de registros de representação. É sabido que a mobilização e coordenação desses re- gistros, pelos estudantes, em atividades matemáticas, pode indicar a aprendizagem de conceitos matemáticos. Contudo, para isso, as práticas que contemplam ati- vidades matemáticas, precisam oportunizar condições para essa manifestação. Consequentemente, outro aspecto que surge no âmbito da natureza dessas práticas se dirige à postura dos agentes da prática pedagógica, estudantes e UNICESUMAR 11 professores, que são assumidas nos empreendimentos que se caracterizam como práticas de ensino e que visam a aprendizagem. Esses dois pontos me parecem suficientes, neste momento, para começarmos a refletir sobre outros modos de ensinar e aprender Matemática que, podem ou não, fazer parte dos modos pelos quais você também aprendeu Matemática. No entanto, os dois aspectos anteriores estão presentes em alguns documentos oficiais que orientam o processo de ensino e aprendizagem da Matemática na Educação Básica. Convergente às práticas matemáticas, que contemplam posturas ativas dos sujeitos envolvidos nesse processo, esses documentos sugerem a Reso- lução de Problemas e a Modelagem Matemática como tendências em Educação Matemática. Nesse sentido, também considero importante que você conheça sobre a Resolução de Problemas e a Modelagem Matemática nas orientações cur- riculares para pensarmos em nossas ações como futuro(a) profissional. Vamos lá? Antes disso, te convido para analisar a seguinte atividade que foi extraída do Projeto Araibá (2010, p.134): Luísa quer dividir 700 reais para presentear seus três sobrinhos: Fred, Fernanda e Fabiano. Fred receberá o triplo da quantia que Fernanda receberá, e Fabiano receberá o dobro da quantia que Fred receberá. Como será feita essa divisão? Bom, vamos lá, mas, primeiro: você sabe me dizer qual a quantia que cada um receberá? Como você resolveu? Anteriormente, foi colocada uma situação-problema que é apresentada para estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental - Anos Finais, para a aprendizagem do conteúdo de Equação do 1º grau. Mas como profissionais, temos autonomia para pensar e utilizar outras situações que podem ser úteis ao processo de apren- dizagem, sejam elas derivadas de problemas como esse, apresentados nos livros didáticos, ou estruturadas de outros modos. Você consegue pensar em outros modos para abordar essa situação, isto é, outra proposta que exija a mesma habilidade ou outra semelhante requerida para a resolução dessa atividade? Bom, ao experimentar, analiticamente, a atividade anterior, te convido a refletir: ■ O que você pensa sobre esse tipo de atividade matemática (apresentada anteriormente)? ■ Quais são os outros modos que você conjecturou? UNIDADE 1 12 Não esqueça de anotar as suas respostas e outras reflexões em nosso Diário de Bordo. A prática de registrar o pensamentoé um excelente exercício cognitivo para organizarmos as nossas ideias. Até porque, você poderá visitá-las e acom- panhar o seu próprio desenvolvimento. DIÁRIO DE BORDO É evidente que as práticas que contemplam atividades matemáticas, nos con- textos educacionais, assumem naturezas distintas. Ao longo da nossa trajetória de formação, seja na Educação Básica e/ou no Ensino Superior, inúmeras experiên- cias (algumas delas de sucesso e outras nem tanto), configuraram a nossa relação com a Matemática. Talvez seja por isso, que alguns poucos têm uma relação de paixão por essa ciência, e outros tenham aversão. Essa atividade que apresentei, anteriormente, é um exemplo de algumas das possibilidades que nós temos para ensinar e aprender Matemática. Existem outras e, provavelmente, você pensou nelas para abordar o conteúdo de Equações do 1º grau ou para exercitar os conteúdos trabalhados. Um exemplo desse seria, sabendo que Fred é representado por x, Fernanda por y e Fabiano por z, basta equacionarmos x + y + z = 700. Contudo, há as re- lações entre as quantidades recebidas por cada um deles, isto implica em outra dedução de que x = 3y, y = y e z = 6y, ou seja, para a solução do problema, basta resolvermos a equação: 3y + y + 6y = 700. UNICESUMAR 13 Poderia então, esquecer dessa situação-problema que mais parece ter “con- fundido” e apresentar apenas “Resolva a equação: 3y + y + 6y = 700?”. Obviamente que a resposta é sim, mas essa escolha, certamente, pode deixar muitas oportuni- dades de lado. É sobre a natureza das práticas envolvendo esses diferentes tipos de atividades, que vamos aprofundar neste momento. Para isso, recorremos ao famoso texto de Skovsmose (2000), apresentado no Bolema, um importante periódico de Educação Matemática. O texto intitulado Cenários para Investigação é um convite a pensarmos na natureza das práticas de ensino de Matemática e nas oportunidades de aprendizagem que se consti- tuem ou deixam de existir, quando fazemos algumas escolhas, bem como nas posturas que professores e estudantes assumem em cada uma delas. Na época em que Skovsmose (2000) apresentou esse texto, ele afirmou a exis- tência de um paradigma em que as práticas educacionais para ensinar Matemáti- ca pareciam estar pautadas e sugeriu uma outra abordagem. Concordando com o autor, ao propor outras abordagens, não se tem por objetivo superar um ou outro paradigma, tão pouco tornar qualquer abordagem excludente, mas sim, oferecer condições para que possamos pensar em outros caminhos para fazer Matemática, de forma crítica e democrática, em sala de aula. UNIDADE 1 14 O paradigma identificado como recorrente é denominado por paradigma do exercício como aquele que parece ter permanecido. Esse paradigma assume dis- tintas características que, na minha compreensão, faz todo sentido o uso do termo exercício. Dentre os aspectos que dimensionam esse paradigma, temos que: “ [...] o professor apresenta algumas ideias e técnicas matemáticas e, de-pois, os alunos trabalham com exercícios selecionados. [...] existem va-riações nesse mesmo padrão: há desde o tipo de aula em que o professor ocupa a maior parte do tempo com exposição até aquela em que o aluno fica a maior parte do tempo envolvido com resolução de exercícios. De acordo com essas e muitas outras observações, a educação matemática tradicional se enquadra no paradigma do exercício. Geralmente, o livro didático representa as condições tradicionais da prática de sala de aula. Os exercícios são formulados por uma autoridade externa à sala de aula. Isso significa que a justificativa da relevância dos exercí- cios não é parte da aula de matemática em si mesma. Além disso, a premissa central do paradigma do exercício e que existe uma, e somente uma, resposta correta(SKOVSMOSE, 2000, p. 1-2, grifo nosso). A citação do autor revela inúmeros pontos que nos parecem familiares quanto à práti- ca educativa, ao fazer docente e os artefatos utilizados. A configuração da prática, nesse paradigma, parece silenciar a oportunidade de enxergar o brilho da Matemática como uma ciência, que apresenta relações e aplicações; silencia também que a produção do conhecimento matemático escolar pode ser um produto de conjecturas e de testes; entre outras ausências, porque tudo é apresentado, “despejado”, com a intenção de que haja uma reprodução, uma prática sem efetiva e necessária compreensão. Evidentemente que a “justificativa da relevância” de determinados exercícios, con- teúdos, temas, entre outros, é outro aspecto que merece atenção. Sabemos que essa justificativa do “Por que isso?”, “Para que, aquilo?” precisa ser objeto que permeia a prática de ensino e de aprendizagem, em qualquer ambiente. Entendo que essa justi- ficativa vai dando sentido às experiências que são desenvolvidas, na medida em que também oportuniza aos estudantes, a elaboração de significados para os conceitos, isto é, para que eles possam generalizá-los e transpor para outros contextos. Outro aspecto que destaco desse paradigma é a visão de que há uma “res- posta correta”. Esse entendimento faz todo o sentido, quando consideramos exercícios prontos e acabados, sem qualquer abertura para modificá-los. É certo UNICESUMAR 15 que admitir uma resposta pode trazer resultados que, ancorados em proce- dimentos e técnicas apresentadas previamente, vão revelar o domínio de um conceito por aquele que resolve. Contudo, façamos um alerta de que, esse “dominar” pode não expressar uma aprendizagem com significado, quando uma resposta pode ser correta depois de um rol de exercícios semelhantes, em que basta, por exemplo, apenas trocar os valores numéricos. Com esses pontos problematizados, Skovsmose (2000) propõe outra abor- dagem que chamou de cenários para investigação. A princípio, esses cenários rompem com os aspectos que configuram as práticas situadas no paradigma anterior, quando oferecem condições e suporte ao trabalho investigativo. Segundo o autor, na prática investigativa, os atos dialógicos são sustentados por perguntas como: “O que acontece se...?” e “Por que isto?”, que por sua vez geram respostas e promovem outras perguntas. Nesse sentido, um cenário para investigação “[...] é aquele que convida os alunos a formularem questões e pro- curarem explicações” (SKOVSMOSE, 2000, p. 6). UNIDADE 1 16 Evidentemente que, “O que acontece se…?” se torna um convite para o es- tudante e o aceite deste, leva ao “Por que isto?”, perguntado pelo professor e tor- nando o objeto de estudo um desafio para o estudante. Desse modo, “quando os alunos assumem o processo de exploração e explicação, o cenário para investi- gação passa a constituir um novo ambiente de aprendizagem. No cenário para investigação, os alunos são responsáveis pelo processo” (SKOVSMOSE, 2000, p. 6). O empreendimento destes cenários, além de contrapor-se ao paradigma do exercício, coloca sob categorias analíticas e reflexivas o papel social da matemáti- ca, isto é, interroga a sua presença na sociedade, bem como a própria matemática. Essa abertura para análise e reflexão coloca em desenvolvimento, o que D’Am- brosio (1999) chamou de materacia, não se referindo “[...] apenas às habilidades matemáticas, mas também à competência de interpretar e agir numa situação social e política estruturada pela matemática” (SKOVSMOSE, 2000, p. 68). “ [...] o cenário somente torna-se um cenário para investigação se os alunos aceitam o convite. Ser um cenário para investigação é uma propriedade relacional. A aceitação do convite depende de sua natu- reza, (a possibilidade de explorar e explicar propriedades matemáticas de uma tabela de números pode não ser atrativa para muitos alunos), depende do professor, (um convite pode ser feito de muitas manei- ras e para alguns alunos um convite do professor pode soar como um comando), e depende, certamente, dos alunos (no momento, eles po- dem ter outras prioridades). O que pode servir perfeitamente como um cenário para investigação a um grupo dealunos numa situação particular pode não representar um convite para um outro grupo de alunos (SKOVSMOSE, 2000, p. 7, grifo nosso). Aqui temos, portanto, uma clara diferença entre o paradigma do exercício e os cenários para investigação. Veja que no primeiro, tudo já está muito bem dese- nhado, o professor expõe as suas ideias, os estudantes resolvem exercícios e, sem muito diálogo (ou apenas para entendimento, exclusivamente, do conteúdo), a prática é desenvolvida. Já no segundo, o cenário constituído como uma aborda- gem investigativa depende, inteiramente, das posturas que os sujeitos envolvidos vão assumir para que ela se desenvolva. UNICESUMAR 17 Skovsmose (2000) argumenta que as práticas, tanto situadas no paradigma de exercícios quanto nos cenários para investigação, podem admitir outro aspecto que nos ajudam a estabelecer uma clara distinção entre elas. Esse aspecto é atri- buído por ele como referência que, por sua vez, respalda a produção de signifi- cados dos conceitos que são mobilizados ou introduzidos no desenvolvimento das práticas educativas. “ Essa atividade de escolher as referências faz parte do processo de preparação do cenário. Ao reconhecer o tipo de referência que se está utilizando, o aluno assume uma vista privilegiada para olhar o cenário que está sendo proposto e, dessa forma, consegue atribuir significado as suas atividades (ALRØ; SKOVSMOSE, 2006, p. 57). Na tentativa de exemplificar o que se entende por referência, temos a ideia de abordar fração utilizando uma divisão de pizza. Essa escolha evidencia que “usar a pizza” faz alusão a um tipo de referência e que ela leva à produção de um tipo de significado para esse conceito. Se optarmos por abordar fração utilizando de uma definição como, um número que representa parte e todo, que é descrito por um numerador e denominador [...], essa abordagem, certamente, fará alusão a outro tipo de referência (SKOVSMOSE, 2000). Neste exemplo anterior, temos indicativos de pelo menos duas referências: a primeira, de uma semirrealidade ou realidade (dependendo do contexto) e, a segunda, referência à matemática. “ [...] questões e atividades matemáticas podem se referir à mate-mática e somente a ela. Segundo, é possível se referir a uma semi--realidade - não se trata de uma realidade que ‘de fato’ observamos, mas uma realidade construída, por exemplo, por um autor de um livro didático de matemática. Finalmente, alunos e professores po- dem trabalhar com tarefas com referências a situações da vida real (SKOVSMOSE, 2000, p. 7-8, grifo nosso). UNIDADE 1 18 Considerando que temos dois paradigmas (o do exercício e os cenários para investigação) e que as atividades desenvolvidas nesses paradigmas podem assu- mir pelo menos três tipos de referências, podemos dizer que há, portanto, uma combinação de seis possibilidades de práticas que se configuram em ambientes de aprendizagem. Esses ambientes foram estruturados em uma matriz, no se- guinte modelo: Exercícios Cenário para Investigação Referências à matemática pura (1) (2) Referências à semirrealidade (3) (4) Referências à realidade (5) (6) Quadro 1: Ambientes de Aprendizagem Fonte: Skovsmose (2000, p. 8). Caro(a) estudante, com base no que estudamos até aqui, você saberia exempli- ficar cada um desses ambientes? Bom, enquanto você vai pensando sobre isso, farei aqui uma indicação de leitura que pode te ajudar a estabelecer as suas com- preensões. NOVAS DESCOBERTAS A sugestão de leitura que poderá subsidiar as suas compreensões sobre o assunto que estamos estudando é o artigo intitulado “Transformar Exer- cícios em Cenários para Investigação: uma Possibilidade de Inserção na Educação Matemática Crítica”, de autoria da Prof.ª Dr.ª Raquel Milani foi publicado em 2020, pela Revista Perspectivas da Educação Matemática. Além de trazer reflexões interessantes, a autora contextualiza alguns exem- plos que podem ser esclarecedores para a compreensão desses ambientes de aprendizagem e nos dá indícios de como se pode abrir um exercício (SKOVSMOSE, 2011), transformando-o em problemas que podem se configu- rar em excelentes cenários para investigação. Vale destacar que a autora foi orientada pelo Professor Dr. Ole Skovsmose em seu doutoramento, portan- to, não perca essa oportunidade de expandir os seus conhecimentos. UNICESUMAR 19 Se retomarmos o texto de Skovsmose (2000), o autor também apresenta um exemplo de cada um desses ambientes, bem como nos fornece alguns indicati- vos para pensarmos na elaboração de situações que podem ser desenvolvidas e configuradas como ambientes de aprendizagem. Tentarei exemplificar, ainda que brevemente, cada um deles. Tomando como referência os ambientes explicitados no Quadro 1, temos que exercícios do tipo, Encontre a raiz da equação: 8x + 3 = - 5, configuram o ambiente (1). Veja que esse exercício tem como objetivo o treino de uma técnica “que estabelece em termos absolutos o que é certo e o que é errado sem explicitar os critérios que orientam tais decisões” (ALRØ; SKOVSMOSE, 2006, p. 26). O exemplo seguinte pode ilustrar uma atividade pautada no ambiente (2): Considere um quadrado de lado “m”. Se o perímetro desse quadrado é 40 cm, qual é a medida do lado dessa figura? Você consegue dizer qual é a medida da área desse quadrado? Agora, se aumentarmos em 2 cm a medida do lado dessa figura, o que ocorre com o seu perímetro? E com a área? E se no lugar de 2, aumentarmos ou diminuirmos, o que acontece? Em outras palavras, mesmo essas questões tendo referência na Matemática pura, elas se mostram como uma abertura para investigar matematicamente o que ocorre, quando a medida do lado é alterada. Aqui também, registramos que parece haver maiores chances de um diálogo ser estabelecido entre os estudantes e o professor. Passando ao ambiente (3), teríamos um exemplo que é clássico nos livros didáticos, vejamos: Certo dia, uma família mediu a altura de todos os seus mem- bros. A altura do pai era 0,24m a mais que a altura da mãe. O filho tinha dois terços da altura do pai. Se a altura do filho era 1,20m, quais eram as alturas do pai e da mãe? (PROJETO ARARIBÁ, 2010, p. 141). Veja que nessa situação-problema, temos um contexto familiar constituído por três membros e são problematizadas as alturas dos pais e a medida da altura do filho é conhecida. Contudo, a altura do pai pode ser encontrada a partir da medida da altura da mãe e, sabendo que há uma relação entre elas, o estudante precisa encontrar que relação é essa que expressa a altura que tem o pai, em me- tros, em função da altura da mãe. Encontrando a relação, basta ele multiplicar por dois terços e igualar a altura do filho que é 1,20m. UNIDADE 1 20 Observe que a intenção do autor desse exercício é a de que os estudantes possam equacionar os dados para encontrar o valor da incógnita (altura da mãe), e assim calcular a altura do pai. Em relação a esse exercício, destaco que a família contextualizada por ele, não existe e, do mesmo modo, também a relação das altu- ras entre os seus membros. Contudo, não podemos desconsiderar a possibilidade dela existir e de que essa relação entre eles também seja verdadeira. Isso torna o exercício como sendo de referência em uma semirrealidade, por ser artificial, construído para que o estudante possa equacionar os dados. Utilizando o mesmo exemplo do exercício anterior, vamos tentar transfor- má-lo em um ambiente (4), isto é, de semirrealidade, mas que admite um caráter investigativo. Ao ser apresentado aos estudantes é possível que eles façam algu- mas perguntas, na medida em que eles comecem a interpretar o problema, por exemplo: “Por que desejam saber essas alturas?”, “Filho de 1,20m, qual será a idade média desse filho?”, “A gente pode medir a nossa altura, professor(a)?”, “Qual será a altura do meu pai e da minha mãe?”, “Qual a família da nossa turma é a mais alta?”, “Quem é o homem mais alto do mundo?”, “E o mais baixo?”, entre outras. Veja que essas e outras perguntaspodem conduzir a uma leitura crítica do problema e colocar o conhecimento matemático como instrumento para esta- belecer e compreender as relações. Além disso, se o professor estiver atento, elas podem gerar novas possibilidades de investigação. Perceba que esse tipo de situa- ção pode mobilizar a investigação das alturas dos próprios membros familiares dos estudantes, da comunidade escolar, conduzir à realização de pesquisas em livros, na internet, bem como, a construção e manipulação de instrumentos para efetuar tal tarefa (a de medir). É interessante destacar que a exploração do ambiente anterior também se aproxima do ambiente (5), mas apresentarei outro exemplo que pode ser bem mais elucidativo. Para isso, recorremos a uma situação com referência na reali- dade: nos últimos meses, temos registrado um aumento significativo dos preços dos combustíveis nas refinarias e, automaticamente, esse preço é repassado aos proprietários de postos de combustíveis que, por sua vez, acabam repassando esse aumento aos consumidores. Essa informação contextualiza uma situação real, o aumento do preço dos combustíveis, particularmente, em várias cidades do Estado do Paraná. UNICESUMAR 21 Assim, um exercício que pode representar esse ambiente (5) seria: segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço mé- dio da gasolina do Estado do Paraná tem registrado as seguintes médias: 3 de janeiro: R$ 4,17; 10 de janeiro: R$ 4,23; 17 de janeiro: R$ 4,30; 24 de janeiro: R$ 4,32; 31 de janeiro: R$ 4,42; 7 de fevereiro: R$ 4,49; 14 de fevereiro: R$ 4,60; 21 de fevereiro: R$ 4,66; 28 de fevereiro: R$ 4,94; 7 de março: R$ 5,05. Qual tem sido o preço médio da gasolina, no Paraná, nos dois primeiros meses do ano de 2021? Nesse tipo de exercício, conhecendo a média aritmética, os estudantes devem somar os valores dados no enunciado e dividir pela quantidade de parcelas soma- das, e o resultado expressará o preço médio da gasolina no Estado. Observe que aqui, os dados e informações apresentados no enunciado (dados e informações reais) expressam a situação do cotidiano dos paranaenses. Aqui, não exigimos dos estudantes a busca de novas informações para resolver a situação. Já para caracterizar um ambiente do tipo (6), continuamos no mesmo con- texto, o aumento do preço dos combustíveis. Uma possibilidade seria, quase que na perspectiva de ensino por projetos, propor o levantamento de problemas que decorrem desta situação, por exemplo, problemas locais que podem ser estudados e solucionados, tendo o conhecimento matemático como ferramenta de trabalho. Caro(a) estudante, ao longo da nossa formação, indepen- dente da área de atuação, sempre nos deparamos com o termo “projetos”, não é mesmo? Seja a elaboração de projetos ou algo relacionado ao trabalho na perspectiva de projetos. Bom, no âmbito educacional, o ensino e a aprendizagem, baseados em projetos, também têm gan- hado espaço nas discussões e práticas, sobretudo, com as ideias de um importante educador brasileiro, Paulo Freire. Por essa razão, te convido a dar um PLAY nesse podcast, que preparei com muito carinho e atenção, especialmente, para você! Nele, vamos conversar sobre Pedagogia de Projetos em Matemática, você verá que tem tudo a ver com o que estamos estudando nesta unidade e também com as demais que estão por vir. Aproveite! Não descarto a possibilidade desse tipo de informação também ser apenas o mo- tivo para despertar reflexões que guiem os estudantes a outros temas de interesse deles, por exemplo, a investigação de mobilidade urbana e/ou planejamento e infraestrutura das cidades. UNIDADE 1 22 Também compreendo que nesse tipo de ambiente (6), a investigação, por exemplo, da variação dos preços dos combustíveis na cidade pode abranger ou- tras situações, tais como: como está o preço do combustível em nosso bairro? Em nossa cidade?. Perguntas que derivam são: qual bairro, um? Todos os bairros? De que cidade? Onde buscar esses preços? Em todos os postos? Quantos dias serão monitorados para coleta dos valores? Outra possibilidade seria investigar a relação entre os tipos de combustíveis: álcool ou gasolina, o que compensa mais? Outras questões que podem surgir: carro ou motocicleta? Qual o consumo médio? Dentro da cidade ou na “estrada”? Em qual estação do ano, o veículo à álcool gasta mais? No inverno? Qual o valor registrado dos combustíveis? Veja que essas indagações exigem uma mobilização dos sujeitos, também pesquisa, investigação e seleção de algumas variáveis. Nesse tipo de ambiente (6), encontramos possibilidades para os estudantes explorarem outros aspectos de ordem econômica, política e social como, a razão dessa variação/aumento; o consumo médio de veículos em função de distâncias percorridas, envolvendo marcas e modelos; impactos financeiros na renda fami- liar gerada por esse aumento; escolhas alternativas, como opção por bicicletas ou outros meios de locomoção; implicações ambientais como, a possibilidade de menor circulação, menos emissão de dióxido de carbono; entre outros temas que poderiam ser explorados. Veja que aqui, diferente do ambiente (5) e no ambiente (6), os estudantes são convidados a participarem na elaboração de problemas, a pensarem estrategi- camente para apresentar um estudo que, a princípio, se apresenta mais como uma temática, uma situação inacabada que vai exigir deles o desafio de efetuar algumas escolhas. Vale destacar que eles podem não possuir todos os (ou nenhum dos) dados e, assim, tornando-se sujeitos partícipes do processo de elaboração da atividade, tomam decisões, coletam informações e dados e buscam caminhos para resolver, o que os tornam conhecedores. Paremos para pensar: 21 anos depois da publicação do texto de Skovsmose (2000), pode- mos afirmar que o paradigma do exercício ainda persiste, e que os cenários para investi- gação encontram inúmeras resistências que fazem com que ele não seja efetivo nas aulas de Matemática. O que você pensa sobre isso? PENSANDO JUNTOS UNICESUMAR 23 Caro(a) estudante, os exemplos apresentados até aqui, além de representar cada um dos ambientes, mostram-nos que existe a possibilidade de transformação, isto é, de transitar entre eles modificando a sua natureza, segundo a intenciona- lidade pedagógica estabelecida por aquele que organiza e idealiza a prática - o professor. Interpretamos essa possibilidade de transitar naquilo que Skovsmose (2011) intitula por “abrir um exercício”. Segundo Milani (2020): “ [...] abrir um exercício para criar uma atividade ligada a um cená-rio para investigação está ligada a duas possíveis ações: criar outras possibilidades de encaminhamento sobre a temática proposta no exercício (SKOVSMOSE, 2011) e legitimar e desenvolver os comen- tários dos/as alunos/as a respeito do enunciado do exercício (p. 11, grifo da autora). Nesse sentido, os exemplos apresentados e a citação de Milani (2020), deixam evidente que esses ambientes, na sala de aula, não são objetos fronteiriços, isto é, não há uma linha que separa cada um deles porque, para além da estrutura da atividade que é escolhida para ser desenvolvida nos ambientes educacionais, a postura que os agentes da prática pedagógica assumem também é um elemento definidor que vai caracterizá-los. Como podemos ver, o desenvolvimento de práticas, caracterizadas como ce- nários para investigação, apresentam características de imprevisibilidade, por ter como objeto de conhecimento algo que pode surgir da própria exploração (mate- mática ou não), que é oriunda da situação investigada. Nesse sentido, a atribuição de significados vai sendo coordenada por aqueles envolvidos, ou seja, demandam um protagonismo do professor mas, sobretudo, dos estudantes. Podemos dizer então, que as relações de ação e comunicação que são estabelecidas nesses am- bientes não são verticalizadas, mas horizontalizadas. Mas o que isso significa? Significa que a postura assumida por esses agentes da práticaé a de cola- boração e parceria, isto é, por mais que saibam dos papéis de cada um deles no processo e ambiente (físico e de aprendizagem), a produção do conhecimento corresponde ao objetivo final, portanto, não é uma relação hierárquica em que um sabe mais e outro menos. Para que isso ocorra, precisamos compreender que há saberes diferentes e repertórios de conhecimentos também distintos, mas que se integram numa relação dialógica, quando ambos se colocam no papel de UNIDADE 1 24 investigadores e produtores de conhecimentos ao buscarem conhecer algo que os incomoda, que causou desconforto, um conflito cognitivo. Nesse cenário, temos um trabalho colaborativo que cabe ao professor o papel de orientar, de sugerir e de acompanhar o desenvolvimento da atividade. Papel esse que permitirá aos estudantes descobrirem seus próprios caminhos, a pen- sarem em hipóteses e estratégias, a refletirem e a tomarem decisões que sejam assertivas para a solução de determinadas situações e problemas. Ao assumirem esses papéis, questionamentos podem surgir a qualquer mo- mento, no início, durante ou ao término da prática, configurando-se em novas possibilidades para problematização e investigação. Assim, não há como o pro- fessor prever, por antecipação, quais perguntas, estratégias ou resultados os estu- dantes apresentarão em cada atividade proposta. Com isso, temos a ideia de que os estudantes assumem um papel ativo pois, trabalhando em grupos, negociam os significados na busca por compreender a situação que eles investigam, bem como a delimitação de estratégias para encon- trarem as possíveis soluções. O professor, nesse contexto, é aquele que está atento, que provoca e convida, todo o tempo, à investigação e observação de aspectos relevantes que, muitas vezes, podem passar despercebidos pelos estudantes. Sem dúvidas, o professor assumindo esse papel, ele sai do que Skovsmose (2000) chamou de zona de conforto (porque sabe o que fazer e como fazer, sustentado pela ideologia da certeza, isto é, tem clareza do que é certo e errado e das respostas previamente), movendo-se para uma zona de risco (porque é incerto, a ideologia da certeza “cai por terra”). UNICESUMAR 25 Caro(a) estudante, “abrimos um parênteses” para abordar sobre ideologia da certeza. Segundo Skovsmose (2007), essa denominação está relacionada a uma compreensão ou atitude que volta para a Matemática. Nas palavras do autor, “[...] designa uma atitude para com a matemática. Refere-se a um respeito exagerado em relação aos números. A ideo- logia afirma que a matemática, mesmo quando aplicada, apresentará soluções corretas asseguradas por suas certezas” (SKOVSMOSE, 2007, p. 81). Fica evidente que, no paradigma do exercício, há uma mobilização dessa ideologia, impor- tando a “exatidão” que se cultua na matemática para o contexto de atividades, tarefas ou exercícios que são desenvolvidos no ambiente educacional. Em outras palavras, “a preci- são da matemática (pura) é como que transferida para a precisão das soluções dos pro- blemas. A matemática é vista como uma ferramenta adequada para resolver problemas de uma área abrangente de questões cotidianas e tecnológicas” (SKOVSMOSE, 2007, p. 81). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 1 26 Sabemos que esse engajamento numa zona de risco está associado à formação que o professor vivenciou, pois sem dúvida, quanto mais experiências vivenciar, mais confortável e seguro ele se sentirá para desenvolver uma prática pautada no paradigma investigativo, estreitando as distâncias entre essas “zonas”. No que se refere ao estudante, quando opta-se pela criação de um ambiente investigativo, veja que há uma aproximação entre os agentes da prática pedagó- gica, fortalecendo as relações, entre elas, a de comunicação, entre o estudante e o professor, e do estudante com outro(s) estudante(s). Segundo Alrø e Skovsmose (2006), essa comunicação é resultante do próprio ambiente investigativo que é criado, isto é, por uma cooperação investigativa, a qual pode ser promotora dos seguintes atos: “ [...] estabelecer contato, significa criar uma sintonia com o colega e com as perspectivas dele; perceber, significa descobrir alguma coisa da qual nada se sabia; reconhecer, significa se tornar apto a expressa-se em sua própria perspectiva; posicionar-se, significa levantar ideias e pontos de vistas não como verdades absolutas, mas como algo que pode ser examinado; pensar alto, significa expressar pensamentos, ideias e sentimentos durante o processo de inves- tigação; reformular, significa repetir o que foi dito com palavras diferentes ou tom de voz diferente; desafiar, significa tentar levar as coisas para uma outra direção ou questionar conhecimentos ou perspectivas já estabelecidas; avaliar, que pode assumir muitas for- mas: correção de erros, crítica negativa, crítica construtiva, conselho, apoio incondicional, elogio, novo exame etc. (SILVA, 2016, p. 59, grifo nosso). O reconhecimento desse fortalecimento das relações, bem como dos papéis que aqui explicitamos, pode ser exemplificado no episódio a seguir, extraído do texto de Araújo et al (2008). No artigo intitulado, Efemeridade dos cenários para investigação em um episódio de sala de aula de Matemática com tecnolo- gias, publicado pela Revista Zetetiké, os autores avaliam e justificam se ocorrem cenários para investigação em aulas de matemática utilizando computadores. A experiência que abarcou o episódio que aqui será apresentado, ocorreu com duplas de estudantes do primeiro ano do Ensino Médio no laboratório de informática de uma escola pública de Belo Horizonte - MG. Segundo os autores, UNICESUMAR 27 o professor da turma pretendia abordar, utilizando a tecnologia, “representação de dados em gráfico de setor” e, para isso, foi criado um aplicativo semelhante ao Excel, denominado “Pizza”. Esse aplicativo foi utilizado pelos estudantes em algumas atividades que fo- ram elaboradas pelo professor, as quais versavam resultados de pesquisas de opi- nião fictícias, portanto, com referência na semirrealidade. A interface do referido aplicativo pode ser visualizado na Figura 1 a seguir: Descrição da Imagem: a figura expressa a interface do aplicativo Pizza, desenvolvido pelos pesquisadores para computar uma pesquisa de opinião contemplando quatro opções para votos. À direita da figura, temos um gráfico de setores constituído pelas cores, no sentido horário, amarelo, laranja, azul e rosa. O percentual da área que correspondente às cores é de 34, 26, 15 e 25, respectivamente. Mais ao centro da figura, temos a legenda do gráfico, que retrata a quantidade de votos em cada alternativa. À esquerda, temos uma tabela de duas colunas. A primeira coluna expressa as quatro alternativas de votos, sendo A, B, C e D, e a segunda expressa a quantidade de votos correspondentes às quatro alternativas que devem totalizar os 100 votos. Figura 1 - Interface do aplicativo Pizza, utilizado na prática investigativa. Fonte: Araújo et al (2008, p. 19). É importante destacar que esse aplicativo permitia aos estudantes modificar os setores, alterando a legenda do gráfico sem modificar os dados da tabela. Assim, o aplicativo permitia que eles estabelecessem hipóteses, tecessem conjecturas e tes- tassem, contribuindo para um dinamismo nas tarefas e atividades apresentadas. No total, foram propostas 5 atividades que, em geral, em 4 delas envolvia ajustes do gráfico aos dados da tabela e vice-versa, envolvendo temas como apresenta- dor mais “bonito” da TV brasileira; música brasileira com a “melhor mensagem”; UNIDADE 1 28 eleição da novela mais popular; e a última atividade, a representação do gráfico atribuindo valores à tabela. A segunda atividade que era sobre as opções de músicas, “Éguinha poco- tó”, “Vai Lacraia”, “Cachorrinho” ou “Bonde do Tigrão”, os estudantes Maurício e Gabriel deveriam ajustar o gráfico, que estava dividido em quatro partes iguais, aos valores da tabela. Durante a leitura da atividade, a professora Fernandaos interromperam: Fernanda: Tenta… zerar uma fatia. O que vai acontecer? Maurício: Zerar? Ele vai… [pausa] é como se... por exemplo, se eu diminuir este aqui todo... este aqui vai... é como se eu somasse, todos os votos... Gabriel: Todos vão aumentar. Maurício: … Por exemplo, o Cachorrinho é… aqui, se eu diminuísse para zero aqui, o Bonde do Tigrão, o Cachorrinho ia passar a ter 30... [mostrando os setores correspondentes na tela com o auxílio do mouse]. Gabriel: Mas mais certo seria aumentar todos, né? Maurício: Não. Gabriel: É, ué! Maurício: Se zerar este aqui...[apontando uma fatia do gráfico com o mouse]. Gabriel: Zera! [desafiando Maurício a zerar uma fatia no aplicativo]. Até aqui é possível identificarmos, na proposta da professora Fernanda de “zerar uma fatia”, que foi uma oportunidade para os estudantes perceberem uma estratégia que não haviam cogitado, na realização da tarefa. Quando Gabriel afirma “Zera!”, ele desa- fia Maurício, conforme a sugestão da professora e, do mesmo modo, ele se posiciona, após discordar dos argumentos do colega, quando sustenta: “Mas mais certo seria aumentar todos, né?”. Aqui, também é possível reconhecermos que há um embate que vai se expressar no sentido de estabelecer contato. Continuando com a atividade, reconhecemos essas e outras novas negociações entre eles, vejamos: UNICESUMAR 29 Fernanda: Tenta zerar! [Maurício atende ao pedido da pesquisadora, zerando uma fatia e deixan- do apenas três fatias no gráfico]. Gabriel: ... o certo seria aumentar todos. Maurício: Agora se eu zero para cá... A Lacraia vai ficar com 40... [mostra no gráfico com o auxílio do mouse]. Gabriel: Mas aí na verdade teria que aumentar todos...proporcionalmente. [aponta para a tela]. [Maurício e Gabriel se olham]. Maurício: Será? Gabriel: Sabe que o gráfico não mexe todo assim, não! Faz de conta que... Tem 100, não é? [aponta para a tela do computador, mostrando a tabela]. Jussara: Por que tem que aumentar proporcionalmente? Gabriel: Porque tem 100, no total [mostrando no gráfico]. Aí cada… fatia representa uma porcentagem. Se diminuir uma, se deixou de existir uma, as outras têm que ter... é... [Maurício olhando para Gabriel, observa sua explicação e completa]. Maurício: É como se dividisse aquela fatia... para as outras três que restaram. Gabriel: Aqui divide por 4. Agora tem que dividir por 3... é... de acordo com a proporção da quantidade de votos...[pausa] Se tirar daqui [aponta para tela, mostrando no gráfico], não pode aumentar para este ou para este. Tem que aumentar… Maurício e Gabriel: para todos. Fernanda: Então você acha que a fatia de pizza não devia aumentar? Gabriel: Eu acho que não! Maurício: Tinha que aumentar proporcionalmente para todos. Acho que é isto. UNIDADE 1 30 Nesse segundo momento, reconhecemos o papel de Fernanda incentivando-os, além disso, já é possível reconhecermos um enfraquecimento das ideias de Maurício, quan- do ele olha para Gabriel e expressa “Será?”, o que nos dá indícios de uma sintonia entre as ideias dos colegas, na medida em que Maurício parece avaliar o seu ponto de vista. Destaco também a fala da participante Jussara (pesquisadora que acompanhava a ati- vidade), quando ela faz um questionamento que conduz à explicitação, às justificativas do pensamento matemático utilizado na resolução da situação. Veja que nessa situação, os estudantes foram confrontados pela pergunta da pro- fessora Fernanda e o aceite do convite foi explicitado, quando os estudantes discorda- ram entre eles e um disse “Zera!”. Os autores argumentaram que essa atitude vigilante foi o que configurou um ambiente diferente do que vinha ocorrendo, isto é, uma rup- tura deixando de ser um paradigma do exercício, “[...] ficou explícita na reação inicial de Maurício [...] a cadeia de atitudes que vinha acontecendo — leitura do enunciado, execução da tarefa —, com seu respectivo padrão comunicacional, foi desestabilizada pela pergunta feita por Fernanda” (ARAÚJO et al, 2008, p. 27). Com esse episódio, espero que você, caro(a) estudante, compreenda a importância das escolhas que faz o profissional que leciona Matemática, escolhas essas que incluem planejamento e elaboração de atividades, mas, sobretudo, atenção e comunicação durante a experiência, avaliando e refletindo, durante e após a prática de ensino. Como podemos ver, essas compreensões podem ser determinantes para a aprendizagem dos estudantes e talvez seja por essa razão que a nossa atividade docente requer atenção, compromisso e responsabilidade. Como o próprio título do artigo dos pesquisadores sugere, a rapidez e o dinamismo com que as coisas acontecem na escola, podem tornar as oportunidades efêmeras, o que exige, “então, em cada situação particular, analisar com cuidado as causas tanto de sua constitui- ção quanto de seu desaparecimento, uma vez não se tem controle sobre os proces- sos dos quais emergem os cenários para investigação” (ARAÚJO et al, 2008, p. 32). Essa discussão profícua do ponto de vista formativo, nos faz pensar, para além do que abordamos até aqui, em que outras circunstâncias esses cenários para investigação podem ser construídos. Considerando a trajetória da Educação Matemática, como campo de experiências práticas e profissionais, destaco que práticas subsidiadas pelas Tendências em Educação Matemática como a Resolu- ção de Problemas e a Modelagem Matemática são algumas dessas possibilidades [exploraremos a Resolução de Problemas e a Modelagem Matemática nas próxi- mas unidades desse livro]. UNICESUMAR 31 Possibilidades essas que são discutidas e recomendadas também por alguns do- cumentos curriculares oficiais como, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e, mais recentemente, ainda que de modo menos explícito, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Passemos a conhecer o que esses documentos sugerem. UNIDADE 1 32 Descrição da Imagem: temos duas imagens que expressam a capa dos documentos curriculares nacio- nais. À esquerda, temos a dos Parâmetros Curriculares Nacionais, na cor roxa. Ao topo da capa, no canto superior esquerdo, tem uma pequena tarja rosa em que está escrito em números indo-arábicos “quinta a oitava séries”. Ao centro da capa, há um retângulo delimitado por segmentos de retas pontilhados. Dentro desse retângulo há um outro na cor rosa e dentro deste um quadrado na cor azul claro. Sob esse quadrado, temos a sigla PCN e abaixo dele o significado dessa sigla escrito em caixa alta. Abaixo do retângulo rosa e dentro do retângulo pontilhado temos a palavra Matemática escrita em caixa alta, na cor branca. À direita, temos a capa da Base Nacional Comum Curricular. Com fundo na cor cinza claro, há a palavra base em caixa alta, escrita em cinza mais escuro, repetida várias vezes. No meio da figura há um retângulo na cor branca e, dentro dele, uma figura em perspectiva formada visualmente por seis cubos sobrepostos (três, formando a base, na cor azul; dois na cor verde sob os azuis; e, ao topo, um cubo na cor amarela). Abaixo dessa figura está escrito, em caixa alta, o nome desse documento em cores em degradê do azul para o verde. Abaixo dessa escrita um segmento de reta e, abaixo dele, está escrito também em caixa alta, “Educação é a Base”. Figura 2 - Capa dos documentos curriculares nacionais. Fonte: Arquivo próprio (2021). Antes disso, penso valer a pena alguns esclarecimentos. Em nível nacional, temos o PCN e a BNCC. O primeiro corresponde a alguns parâmetros, portanto indica- ções de alguns critérios que serviram de apoio à elaboração de um currículo, um projeto educativo por cada instituição de ensino. Com a publicação da BNCC, sendo ela uma Base, as orientações que compõem esse documento tornaram-se obrigatórias para todas as instituições de ensino da Educação Básica estrutura- UNICESUMAR 33 rem suas propostas pedagógicas. Isso porque, secretarias de estados e municípios têm “autonomia” para elaboração de seus currículos, desde que, agora, tenhama BNCC como norte. A título de exemplo dessa estruturação, podemos citar o Estado do Paraná. Até anos atrás, tínhamos as Diretrizes Curriculares Estaduais para a Educação Básica (DCE), que sistematizou compreensões e conteúdos como orientações às escolas paranaenses. Atualmente, com a publicação da Base, foi instituído, para o Ensino Fundamental, o Currículo da Rede Estadual Paranaense (CREP) que, “ “[...] tem como objetivo complementar e reorganizar o Referencial Curricular do Paraná, abordando as principais necessidades e carac-terísticas da nossa rede de ensino à luz da BNCC. Nele, são elencadas sugestões e orientações de conteúdos adequados à nossa realidade regional, os quais devem servir como base para o desenvolvimento de competências e habilidades fundamentais para a trajetória dos estudantes” (PARANÁ, 2019, p. 3). O que desejo é que você compreenda que, obrigatoriamente, a BNCC é o do- cumento curricular que rege, nacionalmente, a nossa estrutura curricular e, por exemplo, no Estado do Paraná, além dela, temos o CREP. Contudo, nesse contexto exemplificado, o PCN e a DCE explicitam compreensões que, no contexto da nossa formação, ainda se tornam relevantes para pensarmos na elaboração de propostas pedagógicas e, por essa e outras razões, também farei alguns apon- tamentos sobre esses dois documentos, por contemplar reflexões de natureza teórico-metodológicas que, na minha compreensão, são carentes quando olha- mos para a BNCC e o CREP. Fica o convite para que você, caro estudante, possa procurar e conhecer outros documentos que orientam a elaboração de propostas pedagógicas curriculares em seu Estado e municípios. O PCN foi publicado, em 1998, manifestando interesses em fornecer ele- mentos para ampliar o debate, em todo território nacional, a respeito do ensi- no e aprendizagem da Matemática escolar, bem como visando à construção de um referencial nacional que orientasse a prática pedagógica (BRASIL, 1998). A publicação desse documento foi fruto das inúmeras transformações no âmbito educacional, internacional e nacional, que podemos registrar após a década de 70, por exemplo: UNIDADE 1 34 “ Em 1980, o National Council of Teachers of Mathematics NCTM, dos Estados Unidos, apresentou recomendações para o ensino de Matemática no documento “Agenda para Ação”. Nele a resolução de problemas era destacada como o foco do ensino da Matemáti- ca nos anos 80. Também a compreensão da relevância de aspectos sociais, antropológicos, linguísticos, além dos cognitivos, na apren- dizagem da Matemática, imprimiu novos rumos às discussões cur- riculares (BRASIL, 1998, p. 20, grifo nosso). Desde então, ficou explícita a importância de que a resolução de problemas seja incorporada aos currículos, privilegiando a exploração matemática de problemas vividos com referência no cotidiano, o que nos permite interpretar a relevância de situações-problema com referência na semirrealidade e realidade. Entretanto, naquele período, o documento revelava alguns obstáculos para que a resolução de problemas se efetivasse como orientação para o ensino da Matemática. En- tendo que esse cenário, 23 anos depois, tem sido modificado graças aos avanços da Educação Matemática, mas alguns obstáculos ainda permanecem latentes. Dentre eles está o desconhecimento da Resolução de Problemas como abor- dagem metodológica, pois “[...] quando é incorporada, aparece como um item isolado, desenvolvido paralelamente como aplicação da aprendizagem, a partir de listagens de problemas cuja resolução depende basicamente da escolha de técnicas [...]” (BRASIL, 1998, p. 22). Isso porque o PCN considera que a Resolução de Problemas seja orientadora da prática, que os problemas sejam o ponto de partida da atividade matemática, envolvendo os conteúdos fundamentais como instrumento para compreender e atuar no mundo, ou para desenvolver um tipo de raciocínio, uma forma de pensar matematicamente. Concebendo a Matemática como ciência, fruto da construção humana que interage continuamente como o contexto natural, social e cultural (BRASIL, 1998), o PCN sugere que resolver problemas seja o “combustível” que alimenta a prática em sala de aula, porque “com o advento da era da informação e da auto- mação e com a rapidez, antes impensada, na realização dos cálculos numéricos ou algébricos, torna-se cada vez mais amplo o espectro de problemas que podem ser abordados e resolvidos” (BRASIL, 1998, p. 25). Em outras palavras, a natureza e a complexidade dos problemas são inúmeras e a sua abordagem em sala de aula é sugerida como uma ótima alternativa que conduz ao desenvolvimento das capacidades cognitivas do sujeito, pois mediante UNICESUMAR 35 ao exercício de indução e dedução matemática, “[...] reveste-se de importância no desenvolvimento da capacidade de resolver problemas, de formular e testar hipóteses, de induzir, de generalizar e de inferir dentro de determinada lógica, o que assegura um papel de relevo ao aprendizado [...]” (BRASIL, 1998, p. 26). Essas características, sobretudo, a de formular hipóteses, também são convergentes à Modelagem Matemática, tendência essa que também é sugerida pelos docu- mentos curriculares como outro caminho para fazer Matemática nos ambientes educacionais. “ Para que ocorram as inserções dos cidadãos no mundo do trabalho, no mundo das relações sociais e no mundo da cultura e para que desenvolvam a crítica diante das questões sociais, é importante que a Matemática desempenhe, no currículo, equilibrada e indissocia- velmente, seu papel na formação de capacidades intelectuais, na es- truturação do pensamento, na agilização do raciocínio do aluno, na sua aplicação a problemas, situações da vida cotidiana e atividades do mundo do trabalho e no apoio à construção de conhecimentos em outras áreas curriculares (BRASIL, 1998, p. 28). Essas ideias também estão presentes no CREP-Paraná, mas de modo sutil, como sugestão de encaminhamentos metodológicos. “ A Resolução de Problemas, a Modelagem Matemática e a Investi-gação Matemática partem do princípio da contextualização de co-nhecimentos matemáticos para a solução de um desafio ou situação posta no contexto extraescolar e/ou intraescolar, respeitando-se, em cada um deles, os métodos e técnicas que lhes cabem para que os objetivos sejam alcançados, e também interpretar/avaliar o re- sultado obtido tendo-se em vista o contexto original do problema (PARANÁ, 2019, p. 6). Já nas DCE do Estado do Paraná, tanto a Resolução de Problemas quanto a Mo- delagem Matemática são consideradas como encaminhamentos metodológicos, “as quais têm grau de importância similar entre si e complementam-se uma às outras” (PARANÁ, 2008, p. 63). UNIDADE 1 36 Nesse documento curricular, a Resolução de Problemas é um modo de desafiar os estudantes a mobilizar conhecimentos ou a construir novos, mediante as situa- ções-problema que são propostas. Esse desafio “[...] torna as aulas mais dinâmicas e não restringe o ensino de Matemática aos modelos clássicos. A resolução de problemas possibilita compreender os argumentos matemáticos e ajuda a vê-los como um conhecimento passível de ser apreendido [...]” (PARANÁ, 2008, p. 62). Em outras palavras, é uma forma de superarmos o paradigma do exercício, o qual mais parece contribuir com a reprodução de conhecimentos matemáticos do que com a elaboração de compreensões sobre eles. Nesse contexto é sugerido que “[...] os alunos pensem sobre os problemas que irão resolver, elaborem uma estratégia, apresentem suas hipóteses e façam o registro da solução encontrada ou de recursos que utilizaram [...]. Isso favorece a formação do pensamento ma- temático, livre do apego às regras” (PARANÁ, 2008, p. 62). Nessa mesma linha também está a Modelagem Matemática. Segundo esse documento, a Modelagem Matemática, “[...] tem como pres- suposto a problematização de situações do cotidiano. Ao mesmo tempo em que propõe a valorização do aluno no contexto social, procura levantar problemas que sugeremquestionamentos sobre situações de vida” (PARANÁ, 2008, p. 64), envolvendo a investigação de fenômenos físicos, biológicos e sociais. No contexto da DCE, a Modelagem Matemática é tida como uma oportu- nidade para que o estudante realize intervenções em problemas reais do meio social e cultural em que vive. Essa intervenção é realizada tendo a Matemática como ferramenta que subsidia a construção de um modelo que permita descre- ver, inferir ou fazer previsões. Modelo esse que é construído com o repertório de conhecimento matemático dos sujeitos, mas “[...] sem desconsiderar novas opor- tunidades de aprendizagem, para que ele possa sofisticar a matemática conhecida a priori” (PARANÁ, 2008, p. 65). Portanto, fomenta a sua formação conceitual e crítica na medida em que interroga os problemas do mundo. Ambos os documentos citados trazem, explicitamente, a compreensão e su- gestão da Resolução de Problemas e da Modelagem Matemática como possibi- lidades metodológicas. No entanto, o mesmo não ocorre no contexto da BNCC, pois essa manifestação explícita é relativizada. Talvez por conta da intencionali- dade de estabelecer um currículo, no sentido de apenas elencar um rol de con- teúdos, essas orientações perderam espaço e alguns indícios delas surgem de modo sutil. Embora eu, conforme outros autores também tenham defendido, de UNICESUMAR 37 que houvesse uma presença explícita das Tendências em Educação Matemática no documento, isso não ocorre. Desse modo, entendo que tal sutileza deve se complementar do conhecimen- to que construímos em nossa trajetória profissional docente, preferencialmente, aquele que é coletivo, em que lentes teórico-metodológicas possam ser utilizadas para interpretar, na BNCC, as possibilidades que dispomos para desenvolver competências e habilidades matemáticas. É nesse sentido que trago aqui, caro(a) estudante, algumas manifestações que, na minha compreensão, se revelaram como indícios da Resolução de Problemas e da Modelagem Matemática como potencializadoras da prática pedagógica. As compreensões que se manifestam da BNCC, indicam que o conhecimento matemático é necessário para a formação cidadã e humana, dada a sua aplicabi- lidade na resolução dos problemas contemporâneos. Com essa visão é esperado que por meio das ações promovidas no ambiente educacional com Matemática, os estudantes “[...] desenvolvam a capacidade de identificar oportunidades de utilização da matemática para resolver problemas, aplicando conceitos, proce- dimentos e resultados para obter soluções e interpretá-las segundo os contextos das situações” (BRASIL, 2018, p. 265, grifo nosso). No mesmo sentido, é esperado UNIDADE 1 38 que eles possam, no Ensino Fundamental, desenvolver o letramento matemá- tico, isto é, “[...] competências e habilidades de raciocinar, representar, comuni- car e argumentar matematicamente, de modo a favorecer o estabelecimento de conjecturas, a formulação e a resolução de problemas em uma variedade de contextos [...]” (BRASIL, 2018, p. 266, grifo nosso). Perceba que a resolução de problemas aparece aqui como uma ação ou uma atitude, que demanda do estudante habilidades específicas (a de resolvedor). Isso é diferente de uma prática com Resolução de Problemas, em que, nela, o estudan- te pode aprender a resolver problemas (isso mesmo, no minúsculo porque faz referência à atitude e não à Tendência Resolução de Problemas). Falaremos um pouco mais sobre essa distinção na próxima unidade. Ao longo desse documento curricular, outras indicações se revelam: “ O desenvolvimento dessas habilidades está intrinsecamente rela-cionado a algumas formas de organização da aprendizagem ma-temática, com base na análise de situações da vida cotidiana, de outras áreas do conhecimento e da própria Matemática. Os proces- sos matemáticos de resolução de problemas, de investigação, de desenvolvimento de projetos e da modelagem podem ser citados como formas privilegiadas da atividade matemática, motivo pelo qual são, ao mesmo tempo, objeto e estratégia para a aprendizagem [...] (BRASIL, 2018, p. 266, grifos nosso). Veja que na citação anterior surgem outras ações, que expressam formas de pen- sar matematicamente. Além de resolver problemas, destaco a investigação e a modelagem como processos que, cognitivamente, exigem habilidades diferentes. Focando, especificamente, na modelagem, ela exige uma tradução de um pro- blema não essencialmente matemático, para uma linguagem matemática, bem como estabelecer hipóteses que deem conta de uma solução (modelo). Entendo que é nesse sentido a menção, como atividade de modelar fenômenos, talvez, segundo uma abordagem direcionada ao campo da Matemática Aplicada, o que difere da Modelagem Matemática como orientação metodológica ou alternativa pedagógica. Também aprofundaremos sobre esse assunto nas próximas unidades. Ainda assim, entendo que essas atitudes esperadas, trabalhando com mate- mática exige o desenvolvimento de diferentes competências e habilidades. Ha- UNICESUMAR 39 bilidades e competências que vão sendo construídas de acordo com as situações de ensino que são apresentadas, construídas e/ou elaboradas na coletividade, uns com os outros. Você concorda que parece haver uma convergência explícita dessas ações com as configurações de um cenário para investigação? Pois é, as discussões e configurações que levam ao desenvolvimento de posturas distintas parecem con- tribuir para as recomendações curriculares em âmbito nacional, no caso a BNCC. Longe de tentar estabelecer um paralelo entre as orientações curriculares, as orientações para a prática pedagógica e as Tendências Resolução de Problemas e a Modelagem Matemática, listo a seguir, as competências específicas de Matemática para o Ensino Fundamental apontadas na BNCC: 1. Reconhecer que a Matemática é uma ciência humana, fruto das neces- sidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, e é uma ciência viva, que contribui para solucionar problemas científicos e tecnológicos e para alicerçar descobertas e construções, in- clusive com impactos no mundo do trabalho. 2. Desenvolver o raciocínio lógico, o espírito de investigação e a capacidade de produzir argumentos convincentes, recorrendo aos conhecimentos matemáticos para compreender e atuar no mundo. 3. Compreender as relações entre conceitos e procedimentos dos diferen- tes campos da Matemática (Aritmética, Álgebra, Geometria, Estatística e Probabilidade) e de outras áreas do conhecimento, sentindo seguran- ça quanto à própria capacidade de construir e aplicar conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a autoestima e a perseverança na busca de soluções. 4. Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos presentes nas práticas sociais e culturais, de modo a investigar, organizar, representar e comunicar informações relevantes, para interpretá-las e avaliá-las crítica e eticamente, produzindo argumentos convincentes. 5. Utilizar processos e ferramentas matemáticas, inclusive tecnologias digi- tais disponíveis, para modelar e resolver problemas cotidianos, sociais e de outras áreas de conhecimento, validando estratégias e resultados. 6. Enfrentar situações-problema em múltiplos contextos, incluindo-se situa- ções imaginadas, não diretamente relacionadas com o aspecto prático- -utilitário, expressar suas respostas e sintetizar conclusões, utilizando di- UNIDADE 1 40 ferentes registros e linguagens (gráficos, tabelas, esquemas, além de texto escrito na língua materna e outras linguagens para descrever algoritmos, como fluxogramas, e dados). 7. Desenvolver e/ou discutir projetos que abordem, sobretudo, questões de urgência social, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários, valorizando a diversidade de opiniões de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza. 8. Interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando coletiva- mente no planejamento edesenvolvimento de pesquisas para responder aos questionamentos e na busca de soluções para problemas, de modo a identificar aspectos consensuais ou não na discussão de uma determinada questão, respeitando o modo de pensar dos colegas e aprendendo com eles (BRASIL, 2018, p. 267). Veja que nessas competências específicas, temos vários indicativos de que o co- nhecimento matemático é um objeto que vai sendo construído pelas relações que os estudantes estabelecem durante a prática pedagógica, mas esse conhecimento matemático não parece ser a única “preocupação” com as práticas de ensino de Matemática. Quero dizer que o conhecimento parece ser um veículo que con- duz à formação do sujeito que seja competente matematicamente, para atuar e modificar a sociedade. Há também indicações que fazem referência a alguns condicionantes para o desenvolvimento de tais habilidades e competências como, as experiências, os conhecimentos e os saberes dos estudantes serem considerados na promoção de qualquer ação pedagógica: “[...] é imprescindível levar em conta as experiências e os conhecimentos matemáticos já vivenciados pelos alunos, criando situações nas quais possam fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qua- litativos da realidade” (BRASIL, 2018, p. 298). Para encerrarmos a nossa trajetória de estudos e reflexões com essa primeira unidade, passemos a refletir sobre a etapa do Ensino Médio na BNCC: “ A área de Matemática, no Ensino Fundamental, centra-se na com-preensão de conceitos e procedimentos em seus diferentes campos e no desenvolvimento do pensamento computacional, visando à reso- lução e formulação de problemas em contextos diversos. No Ensino UNICESUMAR 41 Médio, na área de Matemática e suas Tecnologias, os estudantes devem consolidar os conhecimentos desenvolvidos na etapa ante- rior e agregar novos, ampliando o leque de recursos para resolver problemas mais complexos, que exijam maior reflexão e abstração. Também devem construir uma visão mais integrada da Matemática, da Matemática com outras áreas do conhecimento e da aplicação da Matemática à realidade (BRASIL, 2018, p. 471, grifo nosso). Veja que nessa etapa, Ensino Médio, além de ampliar as experiências vividas em etapas precedentes, é sugerida a resolução de problemas mais complexos, que se construa uma visão integrada da Matemática e de sua aplicação à realidade. Em busca de indícios da Resolução de Problemas e da Modelagem Matemática, neste documento, entendo que esses três grandes desafios estão contemplados na terceira competência específica, a saber: “Utilizar estratégias, conceitos, definições e procedimentos matemáticos para interpretar, construir modelos e resolver problemas em diversos contextos, analisando a plausibilidade dos resultados e a adequação das soluções propostas, de modo a construir argumentação consis- tente” (BRASIL, 2018, p. 535, grifo nosso). Aqui, temos pelo menos dois tipos de propostas que surgem para solucionar problemas: a primeira faz referência a identificação de conceitos e procedimentos, que podem ser empregados na resolução do problema. Aplicando esses conceitos, os estudantes podem resolver os problemas fazendo o uso de tais procedimentos e, no final, comunicar e argumentar, fazendo uso de uma linguagem coerente, os resultados aos colegas; a segunda, teríamos que as tarefas exigidas podem não estar explícitas no enunciado, levando os estudantes a conceber uma possível estratégia para resolução, por exemplo, situações que demandam a construção de um modelo. Problemas como esses, “envolve analisar os fundamentos e proprie- dades de modelos existentes, avaliando seu alcance e validade para o problema em foco” (BRASIL, 2018, p. 535). É possível reconhecermos que nesta etapa há um investimento para que ocor- ra uma análise crítica das situações, em que os argumentos possam ser subsidia- dos pela Matemática. Situações essas que são fundamentadas na vida, no cotidia- no, no mundo do trabalho, isto é, com referência na realidade. Evidentemente que essas atividades de utilizar estratégias, construir modelos e resolver problemas, demandam ricos processos cognitivos que favorecem a criatividade, a criticidade e a autonomia, contribuindo para significação dos conceitos matemáticos. UNIDADE 1 42 Caro(a) estudante, com base no que estudamos, nesta primeira unidade, e interpretando as competências anteriores, proponho a seguinte reflexão: “Quais encaminhamentos didáticos, metodológicos, pedagógicos, podem oferecer condições para que as competências e habilidades sejam desenvolvidas?”. Possivelmente, uma resposta coerente seria: as Tendências em Educação Ma- temática como a Resolução de Problemas e a Modelagem Matemática. Mas essa resposta decorre apenas porque você está cursando esse componente curricular? Se sim, te convido a analisar criticamente, ao longo das nossas próximas unidades de estudos, elementos que caracterizam a Resolução de Problemas e a Modelagem Matemática, os quais tornam as práticas enriquecedoras. O “enriquecedoras” é no sentido de que elas são apenas possibilidades que distanciam, por exemplo, do paradigma do exercício e se aproximam de cenários investigativos. É importante que você saiba que essas possibilidades não invalidam outras abordagens e tão pouco se tornam excludentes. Algumas características são seme- lhantes, outras nem tanto, mas entendo que elas se complementam na produção de conhecimento matemático e na complexidade que é esse processo de ensinar e aprender Matemática. Caro(a) estudante, agora que você se tornou um conhecedor dessas possibi- lidades, te convido a pensar na situação que contempla o exercício a seguir. Essa situação, na sala de aula, se configura em um ambiente de aprendizagem com referência à semirrealidade, portanto, do tipo (3), ou seja, uma situação artificial- mente construída. Vejamos: (Adaptada da Questão 5 do nível II da OBMEP 2015) Um grupo de 20 amigos reuniu-se em uma pizzaria que oferece a promoção oferece uma promoção de "Na compra de 5 pizzas grandes, ganhe 1 grátis". Cada pizza grande foi cortada em 12 fatias e cada um dos amigos comeu 5 fatias de pizza. Quantos reais, no mínimo, o grupo pagou pelas pizzas? a. R$ 180,00 b. R$ 210,00 c. R$ 240,00 d. R$ 270,00 e. R$ 300,00 UNICESUMAR 43 Conhecendo o exercício, tente fazer o movimento de transformá-lo em uma situação que possa ser clas- sificada no ambiente do tipo (6). Aqui, o seu desa- fio é transitar do paradigma do exercício ao cenário para investigação. Lembre-se de que esse movimen- to pode ser compreendido por abrir um exercício (SKOVSMOSE, 2011). Por que esse movimento? Porque você, como fu- turo profissional, poderá utilizar de diferentes exer- cícios, problemas ou tarefas, presentes nos livros di- dáticos ou outros materiais de apoio, modificando-os para atividades que exijam o protagonismo dos estu- dantes, envolvendo-os na construção, problematiza- ção e investigação da situação. Frente a questão apresentada, você poderá ana- lisar as possibilidades que o exercício apresentado oferece, e por exemplo, o contexto, o tema gerador, o que é problematizado, e principalmente, o(s) con- ceito(s) matemático(s) que é/são envolvido(s), além de outros aspectos que ali se manifestam. Feito isso, você terá clareza da sua intencionalidade pedagógica ao propor a atividade que vai elaborar. Lembre-se de que quando estamos direcionados ao ambiente de aprendizagem do tipo (6), a imprevisibilidade impera na prática, porque gera uma dependência do aceite pelos estudantes, do convite que é realizado. Portanto, você deverá supor, com base nos seus objetivos, quais questionamentos poderão ser levantados na aula de matemática, tendo como referência a realidade, para abordar o conteúdo identificado. 44 Agora, como instrumento de avaliação de sua aprendizagem a respeito dos con- ceitos que abordamos nesta unidade, te convido para pensar e elaborar um mapa mental. Para isso, você poderá
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