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1 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 OBJETIVOS 1. Identificar as principais anemias hemolíticas. 2. Interpretar exames hematológicos relacionado ao diagóstico de quadros hemolíticos. 3. Diferenciar hemolise intra e extravascular. 4. Caracterizar a Doença Hemolítica do RN: etiopatogenia,diagnóstico,noções do tratamento e profilaxia. 5. Descrever aspectos básico do diagnóstico clínico e laboratorial da esferocitose e talassemia. 6. Discutir a importância da correta identificação do paciente e outros aspectos relacionados à segurança do paciente no ambiente hospitalar, bem como as implicações éticas e legais relacionadas. REFERÊNCIAS HOFFBRAND, A V.; MOSS, P. A H. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. ZAGO, Marco Antônio; FALCÃO, Roberto Passetto; PASQUINI, Ricardo. Tratado de hematologia. São Paulo: Atheneu, 2013. DEFINIÇÃO As anemias hemolíticas compreendem um grupo de doenças em que a sobrevida dos eritrócitos madulos na circulação é reduzida e a medula óssea não é capaz de compensação mesmo aumentando sua produção. Isso pode acontecer por um defeito intrínseco à hemácia (ex. estrutura da hemoglobina) ou devido a um distúrbio extrínseco (imune, infeccioso, tóxico). MECANISMOS DE DESTRUIÇÃO DAS HEMÁCIAS HEMÓLISE EXTRAVASCULAR A vida média das hemácias em circulação é de aproximadamente 120 dias. Em condições normais, a destruição das hemácias ocorre preferencialmente no interior dos macrófagos, e somente pequena quantidade de hemólise ocorre no compartimento intravascular. A hemólise extravascular acontece primariamente no baço, no fígado e na medula óssea. A destruição de hemoglobina resulta em catabolismo do heme. Nos macrófagos, o heme livre é rompido pela oxidação da protoporfirina, pela ação da enzima heme oxigenasse microssomal. O carbono liberado forma monóxido de carbono, o ferro é liberado para recirculação via transferrina plasmática, principalmente para os eritroblastos da medula óssea. Já a protoporfirina rompida e oxidada forma a biliverdina (pigmento esverdeado), e é rapidamente reduzido a bilirrubina. Obs: Bilirrubina no plasma: 0,5 a 1,0 mg/dL. A bilirrubina é muito pouco solúvel em água, mas é lipossolúvel, e por isso circula ligada à albumina, o que aumenta sua solubilidade. No fígado, liberada da albumina, a bilirrubina é captada pelo hepatócito e conjugada com ácido glicurônico. À reação é catalisada pela enzima glicuroniltransferase, ocorrendo formação de diglicuronato de bilirrubina (bilirrubina conjugada ou direta), sendo excretado nas fezes juntamente com a bile. Obs: ↑ de bilirrubina plasmática: é facilmente filtrada e excretada na urina: bilirrubina na urina é sinal de excreção de bilirrubina conjugada (direta), enquanto que a bilirrubina não conjugada (indireta) não é excretada na urina. No intestino, a bilirrubina é reduzida à urobilinogênios (compostos incolores). Anemias Hemolíticas Problema 04 2 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Esses podem dar origem a compostos coloridos nas fezes (urobilinas) ou ser absorvidos (10-20%) e levados ao fígado e reexcretados (recirculação entero-hepática do urobilinogênio). Pequena quantidade desse urobilinogênio reabsorvido é filtrada e excretada pelos rins. HEMÓLISE INTRAVASCULAR Uma lesão grave das hemácias pode levar à sua destruição no espaço intravascular, como acontece nos traumas ou na hemólise por ação do complemento, e a hemoglobina é liberada na circulação (hemoglobinemia). Quantidade ↓ de Hb liberada no plasma: toda ela se liga à haptoglobina, α2-glicoproteína plasmática sintetizada pelo fígado, e o complexo hemoglobina-haptoglobina é levado ao fígado, onde é catabolizado. Quantidade ↑ de Hb liberada no plama: excede a capacidade de ligação da haptoglobina e a hemoglobina livre é filtrada nos rins, sendo a maior parte reabsorvida nos túbulos. Se a capacidade de reabsorção dos túbulos é excedida, aparece hemoglobina na urina (hemoglobinúria). A hemoglobina reabsorvida é metabolizada na célula epitelial tubular, e o ferro fica acumulado sob a forma de ferritina e hemossiderina. Quando a hemólise intravascular ocorre cronicamente, as células epiteliais carregadas de hemossiderina podem ser demonstradas na urina pela reação do azul da prússia (nemossiderinúria) CONSEQUÊNCIAS DA HEMÓLISE EXACERBADA ↑ do catabolismo do heme = ↑ a quantidade de bilirrubina produzida = ↑ bilirrubina não conjugada (indireta) no plasma = icterícia. Como se trata de bilirrubina indireta, ela não é excretada na urina, portanto, não há escurecimento da urina (icterícia acolúrica). ↑ de urobilinogênio excretada diariamente = formação de cálculos biliares. Em consequência, esses pacientes podem ter crises intermitentes de icterícia obstrutiva, com elevação de bilirrubina conjugada (“direta”) e excreção de pigmentos biliares na urina (icterícia colúrica). A excessiva destruição de eritrócitos no sistema fagocitário quase invariavelmente conduz a hiperplasia celular e esplenomegalia e, também, ocasionalmente, à hepatomegalia. COMPENSAÇÃO PELA MEDULA ÓSSEA Nas anemias hemolíticas, a medula óssea se mostra excepcionalmente hiperplásica. Além disso, a medula óssea ativa expande seu volume, ocupando áreas que normalmente conteriam medula óssea inativa (medula óssea gordurosa). Como consequência da hiperatividade da medula óssea, há aumento de reticulócitos no sangue periférico (policromatofilia ou policromasia = presença de shift cells no sangue, ou seja, reticulócitos jovens, com tamanho maior) Nas anemias hemolíticas de evolução crônica, o esqueleto pode manifestar alterações 3 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 importantes, particularmente evidentes na talassemia beta-homozigotica, visíveis nas radiografias dos ossos. CLASSIFICAÇÃO DAS ANEMIAS HEMOLÍTICAS Embora a causa exata seja obscura ou incompletamente estabelecida em muitas anemias hemolíticas ocorre devido: a) anormalidades da membrana das hemácias: afetam a forma e a deformabilidade eritrocitária. O exemplo mais comum desse tipo de anormalidade e a esferocitose hereditária. Outras alterações da membrana incluem a eliptocitose hereditária e a estomatocitose hereditária. b) anormalidades da hemoglobina: envolve anormalidades estruturais e no ritmo de síntese das globinas. A presença da hemoglobina anormal no interior das hemácias pode alterar sua viscosidade ou sua deformabilidade. As anormalidades no ritmo de síntese são representadas pelas síndromes talassêmicas (β e a). c) anormalidades das enzimas eritrocitárias: sobrevida e a função das hemácias dependem de numerosas enzimas e a deficiência na produção delas pode ser causada por alterações na codificação genética. • defeitos da via de Embden-Meyerhof: a anormalidade mais frequente é a deficiência de Piruvato Quinase ou Cinase (PK). • defeitos na via das pentoses: a alteração mais frequente é a deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD). d) fatores extrínsecos às hemácias: • Fixação de anticorpos a membrana. Trata-se de processos imunes em que a membrana celular se liga a aglutininas tipo IgM, anticorpos incompletos do tipo IgG (que causa esferocitose imune) ou anticorpos que fixam e ativam o complemento. Quando o anticorpo fixa e ativa o complemento, ocorre hemólise intravascular. Um exemplo e a reação hemolítica a uma transfusão incompatível do sistema ABO. • Hemolise mecânica: situações em que o rompimento das hemácias ocorre por lesão por próteses valvares cardíacas e marcha prolongada, porexemplo, quanto as anemias associadas a deposição de fibrina na microcirculação (anemias hemolíticas microangiopaticas). Essas podem ocorrer, por exemplo, na Coagulação Intravascular Disseminada (CID), na Purpura Trombocitopenica Trombótica (PIT), na Síndrome Hemolitico-Uremica (SHU) e na pré-eclâmpsia grave complicada com síndrome HELLP. • Anemia hemolítica em infecções: devido ação direta do parasita na hemácia (malária), quer pela produção de substancias biológicas que atuam sobre a hemácia e sua membrana ou desencadeando mecanismos imunes (viroses). 4 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 ANEMIA HEMOLÍTICA DO RN É decorrente da produção de anticorpos maternos contra antígenos presentes no sangue fetal, devido a algum tipo de incompatibilidade sanguínea materno-fetal (ABO ou Rh) CLASSIFICAÇÃO Sistema ABO: A: produz anti-B B: produz anti-A AB: não produz anticorpo – receptor universal O: produz anti-A e anti-B – doador universal Ao contrário do observado na incompatibilidade Rh, não existe necessidade de exposição prévia da mãe a sangue A, B ou AB para o desenvolvimento de anticorpos, uma vez que estes já são naturalmente encontrados no organismo materno. Sistema Rh: D+: Rh + D-: Rh - As pessoas Rh- podem ser facilmente estimuladas a produzir anticorpos anti-Rh, basicamente após transfusão incompatível ou gestação de feto Rh+ . FISIOPATOLOGIA 1ª exposição: antígenos fetais são fagocitados pelos macrófagos maternos, processados e levados aos linfócitos, com consequente produção de anticorpos IgM – resposta imunológica primária. Os anticorpos IgM tem alto peso molecular e não atravessam a barreira placentária, sendo uma resposta limitada, de baixa intensidade e de curta duração e, portanto, não é capaz de produzir dano fetal . 2ª exposição: haverá nova passagem de hemácias Rh+ para a circulação materna Porém, devido à memória linfocitária, já haverá um reconhecimento antigênico com consequente produção acelerada de anticorpos IgG. Os anticorpos IgG tem baixo peso molecular e atravessam a barreira placentária (Teste de Coombs indireto só detecta IgG) Ao invadirem a circulação fetal, podem se fixar às hemácias dos conceptos por uma reação antígeno-anticorpo, com posterior hemólise A hemólise leva a aumento da produção de eritropoietina e eritropoese medular Com o agravamento do quadro, a MO não será mais capaz de manter a eritropoese adequada e instala-se a hematopoese extramedular (fígado e baço) – pode causar hipertensão portal e hipoproteinemia Frente a anemia fetal, ocorre diminuição da viscosidade sanguínea, pela menor concentração de hemácias na circulação, consequente à hemólise A anemia leva a hipóxia tissular e posterior vasodilatação periférica, além de aumento do DC (hipercinesia) Esses fatores, em conjunto, geral hidropsia fetal: extravasamento de liquido causando derrame pleural, derrame pericárdico, ascite e edema cerebral Pode haver desenvolvimento de kernicterus – impregnação dos núcleos da base por bilirrubina indireta (letargia, hipertonicidade, perda auditiva, paralisia cerebral) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Icterícia: devido à destruição das hemácias causando um aumento da bilirrubina indireta Palidez: devido à anemia intensa Hepatoesplenomegalia: devido à eritropoese extramedular Sinais de descompensação cardíaca: cardiomegalia, desconforto respiratório Anasarca maciça e colapso circulatório Petéquias, púrpura: devido à plaquetopenia Hipoglicemia – decorrente da hiperinsulinemia DIAGNÓSTICO 5 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Mãe: Rh- + Pai: Rh+ = feto: Rh+ PRÉ-NATAL Clínico: investigação dos tipos sanguíneos dos pais e da pesquisa da possibilidade de sensibilização materna prévia Teste de Coombs indireto: detecta anticorpos anti- D no soro da mãe, determinando se ela já foi sensibilizada PÓS-NATAL • Tipagem sanguínea do RN no sangue do cordão • Teste de Coombs direto: presença de anticorpos IgG nos eritrócitos do RN • Hemograma do RN: - Anemia hemolítica macrocítica - Reticulocitose - Microesferocitose: na aloimunização ABO - Aumento da bilirrubina indireta: no sangue do cordão do RN TRATAMENTO • Transfusão de sangue fetal • Às vezes, parto nas 32ª a 35ª semanas • Se o sangue fetal é Rh negativo ou o fluxo da ACM permanece normal, a gestação pode continuar sem tratamento até o termo. PREVENC ̧ÃO DA IMUNIZAC ̧ÃO ANTI-RH D Tão logo seja confirmada a gravidez, de uma mulher Rh- com parceiro Rh+ deve-se realizar o exame de Coombs indireto para detectar a presença de anticorpos anti-Rh no sangue Toda mulher Rh-: deve receber a gamaglobulina humana anti-D via IM para que os anticorpos anti- Rh sejam destruídos. A dose padrão é 300 mcg, IM. • Na 28ª semana de gestação • Em 72 horas depois da interrupção da gestação • Após qualquer episódio de sangramento vaginal • Depois de amniocentese ou amostragem para vilos coriônicos ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA (ESH) anemias hemolíticas caracterizadas pela forma esférica do eritrócito. ETIOPATOGÊNIA É causada por defeitos nas proteínas envolvidas nas interações verticais entre o esqueleto e a bicamada lipídica da membrana dos eritrócitos. Vários graus de deficiência de espectrina são detectados na maioria dos pacientes com EsH, mas o defeito molecular básico é heterogêneo e envolve, principalmente, mutações no gene da anquirina, β-espectrina e banda 3. A medula óssea produz eritrócitos de forma bico ̂ncava normal, mas eles perdem porções de membrana e ficam cada vez mais esféricos (perda de área da superfície em relação ao vo- lume) à medida que circulam pelo baço e pelo resto do sistema RE. A perda de membrana pode ser causada por liberação de partes da bicamada lipídica que não estejam adequadamente sustentadas pelo esqueleto. Por fim, os eritrócitos tornam-se incapazes de passar pela circulação esplênica e mor- rem prematuramente. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico varia de assintomático, que é o mais comum, à sintomáticos, cursando com anemia que pode apresentar-se em qualquer idade, dos primeiros meses à velhice. A icterícia é flutuante e é acentuada se houver concomitância com síndrome de Gilbert (defeito genético da conjugação hepática da bilirrubina); 6 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 A esplenomegalia ocorre na maioria dos pacientes. Cálculos vesiculares de pigmento são frequentes Crises aplásticas, em geral precipitadas por infecção por parvovírus, causam súbita intensificação da anemia. DIAGNÓSTICO Histórico familiar positivo + exames laboratoriais ACHADOS LABORATORIAIS • Anemia hipercrômica (ou não, a depender do grau da esferocitose) • Reticulocitose • Microesferócitos • Coombs direto negativo Hemólise: aumento de DHL e bilirrubina indireta Teste de fragilidade osmótica: teste diagnóstico TRATAMENTO A principal forma de tratamento é a esplenectomia, preferentemente laparoscópica, que só deve ser feita se houver indicação clínica, por anemia, litíase biliar, úlceras de perna ou retardo de crescimento. Deve ser feita colecistectomia simultânea se houver litíase com expressão clínica. TALASSEMIAS Constituem um grupo heterogêneo de doenças genéticas que resultam de diminuição ou ausência da síntese de um dos tipos de cadeia de globina (cadeias α ou β) que formam a hemoglobina. SÍNTESE DE HEMOGLOBINA A molécula de hemoglobina (Hb) é composta por 4 cadeias globínica e 4 grupos heme. A síntese das cadeias globínicas é controlada por grupamentos gênicos localizados nos cromossomos11 e 16. No início do desenvolvimento intrauterino, as Hb embrionárias são substituídas pela Hb fetal (HbF) e posteriormente pela HbA, após o nascimento. As Hb normais são constituídas por um par de cadeias alfa, combinadas com um par de cadeias não alfa, na proporção de 1:1. Cromossomo 16: possui os genes responsáveis pela síntese de cadeias alfa (alfa-1 e alfa-2) Cromossomo 11: controla a síntese das cadeias delta e gama. • HbA: 2 cadeias alfa e 2 cadeias beta • HbA2: 2 cadeias alfa e 2 cadeias delta • HbF: 2 cadeias alfa e 2 cadeias gama (*) Todas são formadas por 2 cadeias alfa e 2 cadeias não alfa. SÍNDROMES α-TALASSÊMICAS Há redução de cadeias alfa em relação as cadeias beta na vida fetal, consequentemente, ocorre que as cadeias beta livres se agrupam em tetrâmeros (beta4). A hemoglobina constituída por este tetrâmero é denominada hemoglobina H (HbH), é instável e se precipita formando corpos de inclusão. Esses corpos de inclusão são removidos pelo sistema reticulo endotelial (SRE) resultando em anemia. Na fase intrauterina, as cadeias que sobram são as cadeias gama que se agrupam formando tetrâmeros gama4 ou Hb Bart’s. As Hb Bart ́s e HbH são ineficientes no transporte de oxigênio, por isso precipitam dentro do eritrócito, causando a destruição precoce da célula dentro da medula (eritropoiese ineficiente). 7 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Inclui quatro apresentações clínicas, conforme a alteração genética apresentada no cromossomo 16: Portador silencioso (sem manifestações) Ocorre por deleção de 1 único gene alfa não causa anormalidades clínicas ou hematológicas, sendo detectada apenas pela demonstração da alteração gênica em análise de DNA. As deleções de 1 ou de 2 genes são assintomáticas e não requerem tratamento. Traço talassêmico alfa (anemia leve) Quadro clínico: assintomática, com níveis de hemoglobina normais ou discretamente reduzidos.. Diagnóstico: medida da relação sintética alfa/beta de 0,7 ou por métodos de análise de DNA. A anemia, quando presente, é hipocrômica e microcítica Tratamento: não há necessidade de tratamento, sendo indicado acompanhamento ambulatorial regular. Doença da hemoglobina H (anemia moderada a grave) Ocorre por 3 deleções do gene α. Quadro clínico: grande variação da gravidade da doença, presença de anemia, esplenomegalia e alterações ósseas. Diagnóstico: A anemia é hipocrômica e microcítica, com variação da Hb entre 7 e 10 g/dL. A HbH pode ser identificada por eletroforese ou pela coloração supravital de sangue com azul brilhante de cresil. Tratamento: em geral, não há necessidade de tratamento, sendo aconselhável orientar sobre evitar o uso de drogas oxidantes pelo risco de crise hemolítica. Em alguns casos, podem ser necessárias transfusões sanguíneas e a esplenectomia está indicada em casos de hiperesplenismo. Síndrome da hidropsia fetal da hemoglobina Bart’s (anemia muito grave e incompatível com a vida). Resulta da ausência dos 4 genes alfa, é a mais devastadora de todas as talassemias. Como o feto não produz cadeias alfa, sua hemoglobina consiste quase completamente de Hb Bart’s (gama4). Quadro clínico: prematuridade, palidez e edema, em geral, o neonato morre após o nascimento. Diagnóstico: pode ser feito utilizando técnicas de análise do DNA em células do líquido amniótico a partir da 14ª semana e pela biópsia de vilosidade coriônica a partir da 10ª semana. β-TALASSEMIAS FISIOPATOLOGIA β-talassemia homozigótica β0-talassemia = síntese de cadeia β ausente β+- talassemia = síntese de cadeia β diminuída Ocorre diminuição da produção de cadeias beta, o que acarreta um excesso de cadeias alfa. As cadeias alfa são insolúveis e precipitam nos eritroblastos, acarretando a maturação defeituosa e destruição celular, principalmente intramedular. As células anormais que não são destruídas na medula óssea e caem no sangue periférico são removidas rapidamente pelo baço e pelo fígado. O baço aumenta gradativamente e exacerba a anemia pela hemodiluição. A anemia grave resultante desse processo estimula a produção de eritropoetina, causando expansão da medula óssea e hematopoese extramedular. Essa expansão leva a anormalidades esqueléticas e alterações metabólicas diversas. A hematopoese acelerada induz sinalização para aumentar a absorção de ferro no nível intestinal. A ferroportina e a hepcidina são proteínas críticas na regulação dos mecanismos de absorção e movimentação do ferro pelo organismo. Esse processo, associado à sobrecarga de ferro iatrogênica, secundária ao tratamento 8 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 transfusional ao longo da vida, leva à hemocromatose tecidual e suas complicações. BETA-TALASSEMIA MAIOR: forma mais grave de beta-talassemia. Quadro clínico Até os 6 meses de idade a hemoglobina predominante é a HbF (alfa2,gama2), não há necessidade de cadeia B e não há como “sobrar” cadeia alfa, uma vez que elas se ligam quase todas às cadeias gama, para formar HbF – paciente é assintomático até 6 meses!! A partir dessa faixa etária a doença se instala. • Anemia grave (Hb entre 3,0-5,0) • Icterícia • Deformidades ósseas: proeminência dos maxilares, aumento da arcada dentária superior, separação dos dentes e bossa frontal – porque o ritmo acelerado de destruição das células eritroides estimula a produção de eritropoietina, que estimula a proliferação e maturação dos eritroblastos (hiperplasia eritroide), gerando uma grande expansão da MO • Baixa estatura, disfunção endócrina, inanição, suscetibilidade a infecções: porque as reservas metabólicas passam a serem usadas para a produção das células sanguíneas, fazendo com que outras funções (crescimento, desenvolvimento, resposta imunológica) fiquem prejudicadas • Hepatoesplenomegalia – devido à hemólise crônica (hiperplasia reticuloendotelial) e à eritropoese extramedular • Litíase biliar – devido à hemólise crônica • Coloração bronzeada da pele, hipogonadismo, DM, insuficiência cardíaca congestiva – naquelas pacientes submetidos à transfusões repetidas, devido à hemocromatose eritropoiética + hemocromatose transfusional Diagnóstico Hemograma: • Anemia microcítica e hipocrômica grave (Hb 3-5, VCM 48-72, CHCM 23-32) • Hiperbilirrubinemia indireta • Aumento do LDH • Redução da haptoglobina • Reticulocitose • Leucocitose neutrofilica Esfregaço do sangue periférico: • Anisocitose • Poiquilocitose com predomínio de hemácias em alvo (leptócitos) • Eritroblastose • Hemácias com pontilhado basofílico Eletroforese de Hemoglobina: aumento de Hb fetal, Hb A2 variável (aumentada ou normal) Tratamento -Transplante de medula óssea (curativo) -Transfusões sanguíneas (deixar a Hb > 10g/dL): reduz complicações da talassemia -Terapia quelante de ferro: desferroxamina, via parenteral ou deferiprone VO -Esplenectomia BETA-TALASSEMIA INTERMEDIA: caracteriza-se por anemia hemolítica de gravidade variável que não requer transfusões crônicas. Quadro clínico: frequentemente o diagnóstico é feito na adolescência ou fase adulta • Deformidades ósseas características • Icterícia intermitente • Episódios de litíase biliar recorrente • Esplenomegalia moderada *Os sinais de hemocromatose só aparecem após os 30 anos Diagnóstico • Hemograma e Esfregaço do sangue periférico: Idem, o que diferencia é o grau de anemia! • Anemia microcítica e hipocrômica (Hb 6-9, Ht 18- 27) Tratamento -Transfusões sanguíneas (deixar a Hb > 10g/dL): reduz complicações da talassemia 9 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 -Terapiaquelante de ferro: desferroxamina, via parenteral ou deferiprone VO BETA-TALASSEMIA MENOR: é a mais comum e menos grave Quadro clínico: Assintomático, sendo seu problema descoberto acidentalmente no seu hemograma Diagnóstico Hemograma: • Anemia discreta microcítica e hipocrômica (Hb > 10, VCM 60-75, HCM 18-21) Esfregaço de sangue periférico: • Hemácias em alvo • Hemácias com pontilhado basofílico Eletroforese de Hemoglobina: aumento de Hb A2 e Hb fetal ligeraimente aumentada Tratamento Não necessita de tratamento
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