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2014 MicroeconoMia Prof. Jurandir Domingues Júnior Copyright © UNIASSELVI 2014 Elaboração: Prof. Jurandir Domingues Júnior Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 338.5 J95m Junior, Jurandir Domingues Microeconomia / Jurandir Domingues Júnior. Indaial : Uniasselvi, 2014. 219 p. : il ISBN 978-85-7830-825-4 1. Microeconomia. 2. Economia. 3. Mercado. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III apresentação Caro(a) acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) ao estudo da disciplina de Microeconomia. Teremos no decorrer deste Caderno de Estudos a oportunidade de perceber quanto a economia faz parte do cotidiano de nossas vidas e das empresas onde trabalhamos ou somos sócios, mesmo quando nem percebemos isso! Um dos mais importantes economistas de nossa história, Alfred Marshall (1842 – 1924), definiu de forma bem clara e direta o que é Economia: “A economia é o estudo do homem nos negócios diários da sua vida”. Cada ciência tem uma forma própria de descrever o mundo real com o objetivo de contribuir para o sucesso e o desenvolvimento da sociedade. Por exemplo, a Geografia – na sua perspectiva tradicional – busca interpretar a relação da sociedade com o mundo real através da conformação do meio ambiente, notadamente dos aspectos físicos (clima, relevo, hidrografia, solo). No caso da Economia, pode-se dizer que é uma ciência que busca interpretar o mundo real através de uma visão econômica. Na concepção dos autores Megginson, Mosley e Pietri Junior (1998), no estudo da administração pode-se dividir o ambiente onde as empresas estão inseridas basicamente em três partes: o ambiente interno, o ambiente de tarefas e o macroambiente, conforme podemos observar na Figura 1. FIGURA 1 – OS AMBIENTES DE UMA ORGANIZAÇÃO FONTE: MEGGINSON, Leon C; MOSLEY, Donald C; PIETRI JUNIOR, Paul H. Administração: conceitos e aplicações. 4. ed. São Paulo: Harbra, 1998, p. 68. MACROAMBIENTE AMBIENTE DE TAREFASLegal/ Político Tecnológico Econômico Internacional Clientes Interesse Especial Concorrentes Fornecedores Agências Reguladoras Estrutura Tecnologia Pessoal Cultura Diretrizes AMBIENTE INTERNO Social IV No macroambiente, o mais distante do centro da figura, podemos identificar variáveis e agentes que a empresa não pode gerenciar, ou seja, estão fora de seu controle direto. É composto basicamente por variáveis de grande amplitude e que afetam todas as organizações de uma economia, dentre elas destacam-se: variáveis econômicas, sociais, tecnológicas, legais, políticas e internacionais. No ambiente de tarefas, que está à meia distância do centro, são relacionados fatores que interagem diretamente com a organização quando a mesma é posta em funcionamento: clientes, fornecedores, concorrentes, agências reguladoras (um exemplo no caso do Brasil: ANS – Agência Nacional de Saúde), sindicatos. E por último o ambiente interno, mais próximo do centro da figura, em que podemos identificar a presença dos seguintes componentes: colaboradores, instalações industriais, máquinas, produção, cultura, contabilidade. São componentes que a empresa pode administrar diretamente. A figura é um modelo do mundo real – ambiente – de uma empresa, vista sob a perspectiva da administração, e busca relacionar as variáveis e/ou agentes que têm alguma influência no dia a dia desta organização. Este ambiente também é chamado de mercado, ou seja, um local onde compradores, vendedores e outros agentes, como o governo, interagem. De forma resumida, o sucesso dessa empresa está diretamente ligado à sua capacidade de interagir com este mercado, fornecendo aos seus clientes bens e serviços de qualidade e a um preço competitivo, que tenham alguma utilidade, respeitando as leis, seus colaboradores, fornecedores e o meio ambiente. E é exatamente deste modo que a Economia pode contribuir de forma muito importante para a formação de um administrador: ajuda a entender como os agentes econômicos interagem em um determinado mercado, às vezes sob a supervisão do governo, colaborando na idealização de estratégias para o sucesso de uma empresa em termos econômicos. Portanto, você como futuro administrador ou administradora, terá neste Caderno de Estudos a oportunidade de manter contato com os principais conceitos da Economia, o que ela estuda, de que ferramentas ela se utiliza, e também dominar um de seus ramos: a Microeconomia. Bons estudos! Prof. Jurandir Domingues Júnior V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA ................................................................1 TÓPICO 1 - CONCEITO DE ECONOMIA .......................................................................................3 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3 2 CONCEITO DE ECONOMIA ..........................................................................................................3 3 LEI DA ESCASSEZ .............................................................................................................................7 3.1 NECESSIDADES HUMANAS .....................................................................................................7 3.2 RECURSOS PRODUTIVOS OU FATORES DE PRODUÇÃO .................................................10 3.3 ESCASSEZ .......................................................................................................................................15 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................17 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................20 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................21 TÓPICO 2 - A ECONOMIA COMO CIÊNCIA ................................................................................23 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................23 2 SURGIMENTO DA ECONOMIA COMO CIÊNCIA ..................................................................243 TEORIAS E MODELOS ....................................................................................................................25 4 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO .......................................................................27 4.1 MERCANTILISTAS .......................................................................................................................28 4.2 FISIOCRATAS.................................................................................................................................29 4.3 ESCOLA CLÁSSICA .....................................................................................................................29 4.3.1 Escola Neoclássica ou Marginalista ...................................................................................31 4.3.2 Teoria Keynesiana .................................................................................................................32 4.3.3 Abordagens alternativas: ideologias socialistas, Marxismo ...........................................33 5 RELAÇÃO DA ECONOMIA COM OUTRAS CIÊNCIAS SOCIAIS .......................................34 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................37 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................38 TÓPICO 3 - SISTEMAS ECONÔMICOS .........................................................................................39 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................39 2 ATIVIDADE ECONÔMICA .............................................................................................................39 2.1 SETORES ECONÔMICOS ............................................................................................................41 2.2 BENS E SERVIÇOS ........................................................................................................................43 3 AGENTES ECONÔMICOS ..............................................................................................................44 3.1 AS FAMÍLIAS OU UNIDADES FAMILIARES ..........................................................................44 3.2 EMPRESAS .....................................................................................................................................45 3.3 O ESTADO – SETOR PÚBLICO ...................................................................................................46 3.4 RESTO DO MUNDO .....................................................................................................................47 4 MERCADOS ........................................................................................................................................49 5 PROBLEMAS FUNDAMENTAIS ...................................................................................................50 6 CONCEITO DE SISTEMA ECONÔMICO ....................................................................................51 6.1 FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA ECONÔMICO CAPITALISTA ..............................55 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................58 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................62 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................63 suMário VIII TÓPICO 4 - O MUNDO DA ECONOMIA .......................................................................................65 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................65 2 MICROECONOMIA E MACROECONOMIA .............................................................................65 3 ECONOMIA POSITIVA E ECONOMIA NORMATIVA ............................................................67 4 POR QUE ESTUDAR MICROECONOMIA? ................................................................................68 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................70 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................71 UNIDADE 2 - TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR .................................73 TÓPICO 1 - TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA .......................................................75 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................75 2 CONCEITO DE VALOR ....................................................................................................................77 3 A QUESTÃO DA UTILIDADE ........................................................................................................79 3.1 UTILIDADE TOTAL E UTILIDADE MARGINAL ...................................................................81 4 DEMANDA DE BENS E SERVIÇOS ..............................................................................................87 4.1 REPRESENTAÇÃO DA DEMANDA .........................................................................................88 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................94 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................98 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................100 TÓPICO 2 - A QUESTÃO DAS PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR ....................................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101 2 CURVA DA INDIFERENÇA.............................................................................................................102 3 TAXA MARGINAL DE SUBSTITUIÇÃO – TMS ........................................................................105 4 SUBSTITUTOS PERFEITOS E COMPLEMENTOS PERFEITOS .............................................107 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................110 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................111 TÓPICO 3 - A QUESTÃO DA RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA ................................................113 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................120 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................121 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................122 TÓPICO 4 - A QUESTÃO DA ESCOLHA ........................................................................................123 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................123 2 TEORIA DA ESCOLHA ....................................................................................................................124 3 A ESCOLHA ÓTIMA .........................................................................................................................125RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................127 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................128 TÓPICO 5 - A QUESTÃO DA ELASTICIDADE .............................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 ELASTICIDADE-PREÇO DA PROCURA .....................................................................................130 3 FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE-PREÇO DA PROCURA .....................131 4 REFLEXOS NA GESTÃO DE EMPRESAS ....................................................................................132 5 ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADA DA PROCURA ...............................................................133 5.1 EMPREGO DA ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADA DA PROCURA ................................134 6 ELASTICIDADE-RENDA DA PROCURA (DEMANDA) ..........................................................135 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................136 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................137 IX UNIDADE 3 - TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA ..............................................139 TÓPICO 1 - TEORIA BÁSICA DA OFERTA ...................................................................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 TEORIA BÁSICA DA OFERTA .......................................................................................................142 2.1 ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS ..............................................................................................144 3 TEORIA DA PRODUÇÃO – A EMPRESA E A PRODUÇÃO ...................................................147 4 A CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO ......................................................................149 5 FUNÇÃO DE PRODUÇÃO ..............................................................................................................152 5.1 PRODUÇÃO NO CURTO PRAZO .............................................................................................153 5.2 PRODUÇÃO NO LONGO PRAZO ............................................................................................157 6 REPRESENTAÇÃO DA OFERTA ....................................................................................................159 7 ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA .........................................................................................164 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................166 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................168 TÓPICO 2 - TEORIA DOS CUSTOS .................................................................................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 CUSTO DE OPORTUNIDADE........................................................................................................170 2.1 CUSTOS EXPLÍCITOS E CUSTOS IMPLÍCITOS ......................................................................171 3 CUSTOS DE PRODUÇÃO................................................................................................................171 3.1 CUSTO DE PRODUÇÃO NO CURTO PRAZO ........................................................................172 3.1.1 Custo unitário de curto prazo .............................................................................................175 3.2 CUSTO DE PRODUÇÃO NO LONGO PRAZO .......................................................................180 3.2.1 Economia de escala ...............................................................................................................180 4 RENDIMENTOS E MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS DA EMPRESA ....................................182 4.1 MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO NO CURTO PRAZO ...............................................................182 5 PONTO DE EQUILÍBRIO OU BREAK-EVEN POINT ................................................................185 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................187 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................189 TÓPICO 3 - EQUILÍBRIO DO MERCADO ......................................................................................191 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................191 2 PREÇO DE EQUILÍBRIO ..................................................................................................................191 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................195 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................196 TÓPICO 4 - ESTRUTURAS DE MERCADO ....................................................................................197 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................197 2 CONCORRÊNCIA ..............................................................................................................................198 2.1 CONCORRÊNCIA PERFEITA OU PURA .................................................................................199 2.2 CONCORRÊNCIA IMPERFEITA ................................................................................................200 2.2.1 Monopólio ..............................................................................................................................200 2.2.2 Competição monopolística ..................................................................................................203 2.2.3 Oligopólio ..............................................................................................................................204 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................210 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................212 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................213 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................215 X 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • diferenciar os vários entendimentos da palavra economia; • identificar quais são os fatores de produção e como eles podem ser com- binados pelas empresas com o objetivo de produzir bens e serviços que atenderão as necessidades e desejos dos consumidores; • identificar os diferentes sistemas econômicos que organizam as economias de diferentes nações, suas características e seu funcionamento; • diferenciar a microeconomia da macroeconomia; • identificar como a microeconomia pode contribuir para o sucesso das em- presas e nas atividades deum administrador. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles você encontrará um resumo do conteúdo e atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos estudados. TÓPICO 1 – CONCEITO DE ECONOMIA TÓPICO 2 – A ECONOMIA COMO CIÊNCIA TÓPICO 3 – SISTEMAS ECONÔMICOS TÓPICO 4 – O MUNDO DA ECONOMIA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONCEITO DE ECONOMIA 1 INTRODUÇÃO A economia é um tema bastante complexo e extenso, cheio de conceitos abstratos, e que se utilizada normalmente de um linguajar próprio, que já foi classificado muitas vezes como “economês”, e que por esse motivo assusta no primeiro contato. Nesta unidade estaremos abordando alguns desses conceitos iniciais de forma bem clara, para que você, acadêmico(a), possa se sentir seguro para enfrentar os desafios que vem pela frente com o estudo da Microeconomia. Para que isso realmente aconteça, estaremos utilizando exemplos do dia a dia de nossas vidas para ilustrar como a economia faz parte das muitas decisões que somos forçados a tomar todos os dias, em virtude, por exemplo, de não termos recursos financeiros na quantidade que sempre desejamos, o que claramente nos impede de comprar o que realmente gostaríamos de ter e atender aos nossos desejos. Recorrendo às principais publicações sobre o tema economia, veremos que muitas são as maneiras de definir esta ciência. Porém, basicamente todas dizem a mesma coisa. Uma das mais difundidas é a de que a Economia é o estudo da alocação de recursos escassos considerando as necessidades infinitas da sociedade formada por nós, seres humanos. Interessante não? Então vamos lá! 2 CONCEITO DE ECONOMIA Mesmo sendo um assunto que requer algum conhecimento, a economia é um tema que está sempre em discussão nas mais variadas esferas da sociedade moderna: desde o nosso lar, no ambiente escolar, no ambiente de trabalho, nas mesas dos restaurantes e bares etc. Junto com outras notícias, como as sobre futebol, não se passa uma única noite sem que os telejornais das diversas estações de televisão brasileiras e também do mundo, abordem a economia quando apresentam notícias ligadas à inflação, ao desemprego, às taxas de juros, ao salário. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 4 Nesse momento vale lembrar que muitas vezes estas discussões não estão baseadas em conhecimento teórico ou científico, mas sim no senso comum, ou seja, em nossas experiências pessoais, que por sua vez, em muitos aspectos não servem para as outras pessoas e vice-versa. E isto na verdade é o que na maioria das vezes nos impede de ver e entender o mundo real como ele é, além de gerar medo e desconfiança! É muito importante entender que não é a mesma coisa discutir futebol e economia! As discussões de assuntos da vida econômica de uma sociedade, como a sociedade brasileira, não podem ser simplificadas demasiadamente. Vejamos: se o seu time ou o meu perder um jogo ou até o campeonato, o reflexo negativo disso em sua vida e na minha será muito pequeno e passageiro! Basicamente, esse momento negativo fica restrito à torcida de cada time. Entretanto, se o nosso governo tiver que aumentar os impostos e/ou os juros em função da inflação, por exemplo, toda a sociedade sofrerá as consequências por um longo tempo! Portanto, não é difícil de entender o motivo que leva esse assunto a ser polêmico e a despertar tanto a curiosidade das pessoas. Vamos relembrar alguns acontecimentos do nosso dia a dia, que envolvem decisões que por sua vez se refletem no lado econômico: ir trabalhar utilizando o transporte coletivo ou usar nosso automóvel/motocicleta; decidir a compra de produtos nos supermercados/farmácias/lanchonetes conforme sua utilidade; necessidade de abastecer com combustível nosso carro ou motocicleta; recarga de créditos nos telefones celulares; usar o limite do cheque especial (considerando os juros) oferecido pelo banco onde possuímos uma conta corrente; optar por fazer nosso almoço em casa ou ir a um restaurante. Todos esses atos têm uma estreita relação com a economia, pois além de afetarem a nossa própria vida, afetam a vida das outras pessoas, das empresas e também do Estado (governo), através do recolhimento de impostos ou na obrigação de oferecer um serviço de transporte público de qualidade para que as pessoas possam se deslocar de casa para o restaurante ou trabalho, por exemplo. Vamos adotar como exemplo, para introduzir a economia como objeto de nossos estudos, a decisão que uma determinada pessoa, que mora sozinha no centro da cidade de São Paulo – SP, e tem de tomar cotidianamente a seguinte decisão: fazer o almoço em casa ou ir a um restaurante. O primeiro ponto que podemos lembrar é que morando no centro de uma cidade tão grande não é possível para esta pessoa produzir seu próprio alimento, ou seja, não pode plantar arroz, feijão, farinha ou tampouco criar galinhas ou porcos. O segundo ponto é certamente bastante óbvio: se não se alimentar essa pessoa não poderá sobreviver! Em outras palavras, se alimentar é uma necessidade fisiológica, ou seja, é uma necessidade básica para o funcionamento TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA 5 do nosso corpo. Assim, uma decisão de onde, quando e como consumir alimentos também é inevitável! Deste modo, se optar por fazer a refeição em casa, a pessoa deve inicialmente dispor de tempo para isso, deixando de lado outros afazeres, como por exemplo, assistir a um programa na televisão. Por não ter a condição de produzir seu próprio alimento, deve comprar de produtores ou de alguma empresa especializada, o que é necessário. Em um supermercado é possível se comprar todos os itens necessários para fazer um almoço completo. O que também demanda tempo, que é limitado a 24 horas por dia. Além de todos os ingredientes, é necessário também ter gás de cozinha e todos os utensílios à disposição: panelas, pratos, talheres, frigideiras e principalmente um fogão. É bom considerar também a quantidade de comida que vai fazer para que não haja desperdício. Não podemos esquecer também de um ponto muito importante: a disponibilidade de recursos financeiros para a aquisição de tudo isso (nosso salário também é limitado). No final da refeição ainda é importante lavar toda a louça que foi utilizada, e então: detergente, esponja, água... Ufa! Realmente é bastante coisa para um simples almoço. Então o mais fácil seria almoçar no restaurante mais próximo, certo? Inicialmente a pessoa deve economizar tempo e possivelmente dinheiro. Será? Para fazer todas essas tarefas que a pessoa considera trabalhosas demais, um pequeno empresário, o dono do restaurante, precisa ter à sua disposição uma equipe composta por cozinheiros, ajudantes de cozinha, garçons e atendentes. Como ele produz alimentos em uma quantidade maior, certamente não compra os ingredientes em um supermercado, mas sim em um distribuidor, de certa forma conseguindo um melhor preço. O que é um fator positivo para seu negócio. Por outro lado, ele precisa se preocupar com o aluguel do lugar onde está o restaurante, pagar os impostos, pagar o salário de seus funcionários, qual a variedade de pratos que vai oferecer aos seus clientes (como consumidor esta pessoa não vai querer ir a um restaurante e comer todos os dias a mesma coisa!), a quantidade a ser produzida, pois é bom que não falte nem sobre muita comida, organizar muito bem o ambiente – meses, pratos, talheres, copos etc. Além de tudo isso, é necessário ter as autorizações necessárias para ter o restaurante: alvará da vigilância sanitária, da prefeitura, dos bombeiros. Agora é a vez do dono do restaurante dizer: UFA! São muitas coisas para levar em consideração. Resultado: é provável que esta pessoa gaste muito mais dinheiro decidindo almoçar em um restaurante. Mas nem por isso os restaurantes estão vazios! Existe uma procura constante por este tipo de serviço. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 6 Fica fácil com este exemplo perceber como uma simples decisão afetatodo o dia a dia de famílias, produtores, consumidores e do governo. As perguntas começam a surgir: - Do lado das famílias e consumidores: O que consumir? Quando consumir? Fazer ou comprar pronto? Qual a quantidade a consumir? Tenho dinheiro para consumir quais produtos/serviços? Compro importado ou nacional? Quais são minhas necessidades? Quanto devo pagar por um determinado produto? - Do lado dos produtores: O que produzir? Quando produzir? Tenho recursos (ingredientes, pessoas, dinheiro) para produzir? Que quantidade produzir? Para que tipo de clientes? Quais são as necessidades dos meus clientes? Quais são meus custos? Que preço cobrar? - Do lado do governo: que serviços públicos são necessários? Quem deve fiscalizar os produtores de alimentos? Quem é o órgão responsável por liberar as autorizações necessárias ao funcionamento das empresas? Todos os empregos são formais, ou seja, com a carteira de trabalho assinada? Qual é a riqueza total do país? Quanto contribui cada trabalhador ou empresário para o crescimento econômico do país? Este tipo de decisão acontece todos os dias com a grande maioria dos habitantes do nosso país, com uma infinidade de empresas instaladas e com os três níveis de governo no Brasil: federal, estadual e municipal. Deste exemplo podemos identificar a primeira definição para a palavra economia. Segundo diversos estudiosos, dentre eles Oliveira (2006, p. 153) expõe que “o termo economia é originário da palavra oikosnomos (oikos = casa e nomos = lei), e significa a administração de uma casa”. Então, baseados em nosso exemplo, estamos exercendo os princípios econômicos quando administramos os recursos (salários, nossa força de trabalho, nossa disponibilidade de tempo, utensílios domésticos, alimentos etc.) que estão à nossa disposição para fazer frente às necessidades da nossa vida cotidiana. Outra definição é a dos autores Samuelson e Nordhaus (2004, p. 3) que apontam que a “Economia é o estudo de como as sociedades usam recursos escassos para produzir bens úteis e distribuí-los entre pessoas diferentes”. Se formos um pouco mais fundo, pensando no que dizem essas duas definições, chegaremos à conclusão de que isto envolve tomar decisões, ou seja, se decidirmos consumir alguma coisa (bem e/ou serviços) ou ainda fazer alguma poupança será necessário abandonar o consumo de outra. Aqui aparece então, outro importante termo da economia: a racionalidade. As decisões requerem uma racionalidade. Em nosso exemplo, se a pessoa decidir TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA 7 por almoçar no restaurante, está agindo de forma racional para aproveitar melhor o seu tempo. Porém, nem sempre agimos de forma racional. Muitas vezes agimos por impulso ou por hábito. E isso também será levado em conta pela economia. Outro consenso entre muitos estudiosos do tema é o de que a Economia é uma ciência social, podendo ser definida como: [...] uma ciência social que estuda como o indivíduo e as sociedades decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas da melhor maneira possível. (PINHO; VASCONCELLOS, 2006, p. 2). Analisando as palavras que formam esta definição, surgem dois termos que necessariamente precisam ser abordados devido à sua importância no contexto econômico, são eles: escassez (na definição acima = recursos produtivos escassos) e necessidades (no nosso caso = necessidades humanas). Da união destes dois termos surge o principal foco de estudos da Economia como ciência: “A Lei da Escassez”, que será abordada no próximo item. 3 LEI DA ESCASSEZ Para Hall e Lieberman (2003) a fonte de todos os problemas que a economia procura entender e sugerir soluções visando a um futuro melhor para a sociedade como um todo é a escassez de recursos. Deste ambiente de escassez surgem as escolhas que produtores, consumidores, empresários e governo são forçados a fazer cotidianamente para atender aos seus objetivos. Para entender melhor como a escassez se tornou o principal foco da Economia vamos inicialmente abordar alguns conceitos básicos, começando pelas necessidades humanas. 3.1 NECESSIDADES HUMANAS Pode-se entender uma necessidade humana como a percepção de que alguma coisa está faltando, gerando então um desejo, uma busca por satisfação. Oliveira (2006) amplia o entendimento de necessidade, identificando que a necessidade pode ser entendida como uma exigência tanto individual como coletiva, que deverá ser satisfeita mediante o consumo de um bem e/ou serviço. Considerando o entendimento deste mesmo autor, as necessidades humanas podem ser classificadas como: UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 8 • Individuais absolutas ou universais: são comuns a todos os indivíduos de todas as sociedades, em todos os momentos e normalmente associadas a nossa condição humana, ou seja, necessidades básicas de origem natural ou biológica, como por exemplo: comer, beber, vestir etc.; • Individuais relativas: são diferentes para cada indivíduo ou sociedade e influenciadas por uma série de fatores, dentre eles: valores, costumes, região onde moram, gosto etc. Exemplos: habitantes do litoral que têm sua alimentação baseada em frutos do mar precisam dos apetrechos de pesca para capturar peixes. • Coletivas: são aquelas que a sociedade como um todo deseja e ligadas ao bem- estar comum. Exemplos: saúde, segurança, educação, empregos, saneamento básico etc. Vale ressaltar que não importa, nesta disciplina de Microeconomia, aprofundar a discussão acerca das necessidades: se são fruto da nossa própria condição humana, se são aspirações de toda uma sociedade ou se ainda criada através de estratégias de marketing. O ponto principal é de que elas existem! São uma realidade e por consequência, sentimos uma vontade de satisfazê-las em busca de um sentimento de bem-estar. Outra realidade é que nós, seres humanos, essencialmente somos diferentes. Isto quer dizer então que, se percebemos diferenças entre os indivíduos, as necessidades também serão diferentes e portanto, em busca da satisfação o comportamento de cada pessoa e de cada sociedade será diferente. Lembram-se do nosso exemplo inicial? Não há dúvidas de que nós todos precisamos nos alimentar para sobrevivermos. Contudo, algumas pessoas decidem consumir sua refeição em um restaurante – preparada em maior quantidade e com variedade – e outras preferem prepará-la em casa, por gostarem de uma refeição no estilo “caseiro”, pouca variedade, mas com um sabor mais apurado. Muitas são as teorias que buscam explicar como se dá o processo de surgimento e satisfação das necessidades humanas. Uma das teorias largamente empregada nos cursos de administração, basicamente nas disciplinas voltadas à gestão de pessoas e de teoria da administração, e que permite entender de forma bastante clara este processo, é a que foi apresentada pelo psicólogo americano Abraham Maslow e ficou conhecida como “hierarquia de necessidades de Maslow” ou “pirâmide de Maslow”. A Figura a seguir apresenta esta teoria sobre as necessidades humanas. TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA 9 FIGURA 2 – HIERARQUIA DE NECESSIDADES DE MASLOW FONTE: O autor Dedicando-se ao estudo do comportamento humano, Maslow identificou os seguintes níveis de necessidades: 1. Necessidades básicas: são as necessidades que todo ser humano possui. Também são conhecidas como necessidades fisiológicas, são as necessidades que, se não saciarmos, teremos um desconforto e isto nos impedirá de tal forma que não teremos outras necessidades. Necessidade de alimentação, repouso, sexo, abrigo e outras necessidades orgânicas. 2. Necessidades de segurança: esta necessidade está relacionada ao nosso bem estar. Precisamos da segurança de um lar, segurança pessoal e financeira para nos sentirmos bem. O ser humano tem a tendência natural de querer se sentir protegido e resguardarsua vida. 3. Necessidades sociais: sentir-se aceito em um grupo é o que a maior parte dos seres humanos deseja. Temos a necessidade de contato e interação social e isto engloba desde o relacionamento no trabalho até um relacionamento amoroso e intimidade sexual. 4. Necessidade de estima: ser respeitado, reconhecido e bem recebido. Esta necessidade está ligada ao fato dos outros reconhecerem nossa capacidade frente ao que realizamos. NECESSIDADES DE REALIZAÇÃO NECESSIDADES DE ESTIMA NECESSIDADES SOCIAIS NECESSIDADES DE SEGURANÇA NECESSIDADES BÁSICAS UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 10 5. Necessidade de realização: a última etapa das necessidades humanas, a autorrealização remete ao indivíduo que está satisfeito com seu posto alcançado e com a vida que leva. Este postulado é interpretado da seguinte forma: um ser humano tende a satisfazer suas necessidades primárias (mais baixas na pirâmide), antes de buscar as do nível mais alto. Como se estivesse subindo os degraus de uma escada. É importante destacar que esta teoria recebe algumas críticas: 1) considera que todos os seres humanos são iguais, não considera que o que pode ser necessidade para uma pessoa, pode não ser para outra; 2) não há flexibilidade, ou seja, a estrutura se apresenta sem a possibilidade de inversão ou troca de necessidades. 3.2 RECURSOS PRODUTIVOS OU FATORES DE PRODUÇÃO Dando continuidade ao nosso esforço de entender a lei básica da economia, é necessário agora definir o que são recursos produtivos ou fatores de produção e, posteriormente a sua situação de escassez. Como já foi abordado anteriormente, a Economia é definida como ciência social, já que estuda as ações e/ou comportamentos dos seres humanos – que por sua vez formam uma sociedade – principalmente no que se refere a decisões que visam atender suas necessidades. Uma das características básicas de uma sociedade é estar em constante mudança, portanto é muito dinâmica. Assim, da mesma forma, a economia deve evoluir constantemente com a sociedade. Santos (apud PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2006) aponta que os fatores de produção tradicionais descritos pelo economista Adam Smith em 1790, em sua obra denominada “A Riqueza das Nações”, foram: terra, trabalho e capital. Durante muitos anos os economistas apontaram estes fatores como os principais responsáveis por toda a geração de riquezas da sociedade. Com a evolução da sociedade, levando consequentemente à evolução do estudo da economia, foi necessário expandir estas três categorias para cinco categorias, considerando: o surgimento da informática, novas técnicas de gestão de empresas, globalização da economia, ampliação do conhecimento etc. Para Sandroni (2005, p. 235) estas cinco categorias seriam: Elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais. Tradicionalmente, desde Say, são considerados fatores de produção a terra (terras cultiváveis, florestas, minas), o homem (trabalho) e o capital (máquinas, equipamentos, instalações, matérias-primas). Atualmente, costuma-se incluir mais dois fatores: organização TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA 11 empresarial e o conjunto de ciência/técnica (pesquisa). De modo geral, os fatores de produção são limitados e, por isso, eles se combinam de forma diferente conforme o local e a situação histórica. Deste modo, atualmente são reconhecidos como recursos produtivos ou fatores de produção os seguintes insumos: • Terra: abrange todos os recursos naturais fornecidos pela natureza. Nesta categoria temos como exemplos: água, minerais, madeiras, peixes, florestas, petróleo, espaços físicos para a instalação de fábricas e construção de prédios comerciais e habitacionais, terra fértil para a plantação de cereais, legumes e frutas. • Trabalho: é o conjunto de recursos humanos e seu esforço físico ou mental; a mão de obra qualificada ou não: operários de fábricas, técnicos administrativos, motoristas, pilotos de avião, trabalhadores que realizam a colheita de café ou laranjas, pedreiros, carpinteiros, serventes, atendentes de lanchonetes, técnicos industriais, engenheiros, gerentes, e muitos outros profissionais que trocam a sua força de trabalho por uma remuneração. • Capital: nesta categoria além dos recursos financeiros (dinheiro), que podem ser obtidos também através de empréstimos e/ou financiamentos nos bancos, temos um conjunto de bens e serviços bastante amplo, formado por todos os tipos de máquinas e equipamentos, estradas, ferrovias, aeroportos, portos, sistemas de telecomunicações, navios, aviões, prédios e instalações industriais, robôs, computadores que são necessários para a produção de outros bens e serviços. • Capacidade empresarial: um dos primeiros economistas a apontar a capacidade empresarial como um insumo foi o economista austríaco Joseph A. Schumpeter. Estudando o desenvolvimento econômico da sociedade, ele apontou a importância da inovação através do “ato empreendedor”, efetivada pelo “empresário empreendedor”. Empregando sua capacidade de gestão, este empreendedor está disposto a assumir riscos calculados (previamente conhecidos) de perder seu capital (ou de terceiros – empréstimos bancários) quando decide dar início a um negócio. O empreendedor certamente visa obter lucro com o empreendimento e para tanto reúne os recursos produtivos necessários à fabricação de bens e/ou serviços destinados a atender o desejo/ necessidade dos consumidores. • Tecnologia: também denominado de técnicas de produção. Representado pelo conjunto de conhecimentos e habilidades que dão sustentação ao processo de produção, ou seja, que permitam que a combinação dos outros insumos resulte em bens e serviços para a satisfação das necessidades e desejos de toda a sociedade. É o elo entre os fatores de produção: terra, trabalho e capital UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 12 (ROSSETTI, 2002). Este componente é que permite o aumento da oferta de bens e serviços. Exemplo: uso de robôs para a fabricação de automóveis, conforme exemplo da figura a seguir. FIGURA 3 - USO DA TECNOLOGIA NA FABRICAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS FONTE: Disponível em: <http://revistaautoesporte.globo.com/Revista/Autoesporte/ foto/0,,47283823,00.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2013. Para Mendes (2004) uma importante característica desses insumos é a sua versatilidade, ou seja, sua capacidade de ser utilizado na produção de diferentes produtos. Um exemplo bem prático dado por este autor é o caso da farinha de trigo, que pode ser utilizada tanto para fazer pão, como na produção de macarrão ou bolachas. Aproveitando esse exemplo do macarrão, também fica fácil de imaginar que para a produção da maioria dos bens e serviços que desejamos ou temos necessidade, é indispensável a combinação destes insumos. Então, os recursos produtivos ou fatores de produção podem ser empregados de forma individual ou combinada, no processo de criação e fabricação de outros bens e serviços – também conhecidos como produtos – destinados por sua vez a atender as necessidades e desejos dos consumidores que formam uma sociedade. A próxima figura nos ajuda a memorizar este conceito. TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA 13 FIGURA 4 – COMBINAÇÃO DOS FATORES DE PRODUÇÃO PARA A PRODUÇÃO DE UM BEM OU SERVIÇO FONTE: O autor Todo esse processo é denominado de atividade econômica. Quando um desses fatores de produção é empregado, de forma combinada ou isolada na produção de algum bem ou serviço, deve receber em troca alguma forma de remuneração. Sendo assim, para Nogami e Passos (2003), estas remunerações são: • Para o fator de produção terra, a remuneração auferida receberá o nome de aluguel. TERRA TRABALHO CAPITAL CAPACIDADE EMPRESARIAL TECNOLOGIA BENS E SERVIÇO Use a sua imaginação e procure relacionar numa folha de papel tudo o que é necessário para que um pacote de seu macarrão preferido esteja à disposição na prateleira do supermercado. UNI UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 14 • Para o fatorde produção trabalho, a remuneração auferida receberá a designação de salário. • O capital recebe sua remuneração sob a forma de juros. • A tecnologia utilizada na produção de mercadorias recebe a remuneração em forma de direito à propriedade, também conhecida por royalties. • A capacidade empresarial é remunerada pelos lucros obtidos nas atividades econômicas. O quadro a seguir ilustra estas relações. QUADRO 1 – OS FATORES DE PRODUÇÃO E SUA RESPECTIVA REMUNERAÇÃO FONTE: O autor No Tópico 3, desta unidade, aprofundaremos a discussão dobre a atividade econômica, incluindo também como as sociedades estão organizadas para produzir estes bens, ou seja, qual é o sistema econômico que predomina em uma determinada nação, como o Brasil. Por hora, iremos nos focar no conceito de economia. Deste modo, para finalizar, precisamos entender o termo escassez! TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA 15 3.3 ESCASSEZ Vamos considerar que você tem uma ocupação remunerada, ou seja, um emprego pelo qual, através do seu esforço pessoal, recebe uma quantidade mensal de dinheiro que simplesmente chamamos de salário, e que a Teoria Econômica chama de renda. Essa sua renda, seja em que quantidade ela for, é empregada mensalmente para atender a todas as suas necessidades. Algumas de suas necessidades, como já estudamos antes, não podem ser simplesmente deixadas de lado por motivos óbvios, como comer! Outras não são de primeira necessidade, mas você também não pode deixar de lado: aluguel da casa ou parcela do financiamento imobiliário, fatura do cartão de crédito, a mensalidade da faculdade (muito importante!), dinheiro para o transporte coletivo etc. Ainda existem outras que você pode e deve administrar muito bem: conta da luz, conta da água, conta do celular, comprar roupas, consumir bebidas alcoólicas etc. No final, vamos supor, sua renda cobre as suas necessidades mensais. Ótimo! Mas, se em função de seu emprego você precisar comprar um carro ou uma motocicleta? Sem recursos disponíveis para comprar à vista, ou somente com parte deles, certamente você poderia fazê-lo através de um financiamento bancário! Resolvido? Não é bem assim. Mesmo assim, depois de alguns dias você teria um novo compromisso financeiro: a parcela do financiamento do carro ou da moto! E, portanto, teria de deixar de lado ou pelo menos reduzir um de seus compromissos anteriores para pagar esse novo. Resultado: sua renda (salário) não é suficiente para fazer frente a mais esta necessidade! Em outras palavras ela é escassa! Não se desespere, todos os brasileiros que são assalariados estão na mesma situação e precisam tomar a mesma decisão! E as empresas? Será que enfrentam o mesmo problema? Com certeza! Imagine o dono do restaurante em nosso exemplo inicial. Ele precisa tomar decisões que envolvem a combinação dos fatores de produção. Uma delas, vamos dizer mais estratégica pode ser: devo investir meus recursos financeiros na ampliação da capacidade de atendimento, ou seja, número de lugares do restaurante ou devo investir a mesma quantidade de recursos na qualidade do ambiente, como por exemplo, a instalação de novos aparelhos de ar-condicionado? Qual dessas duas decisões vai gerar um melhor resultado financeiro? UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 16 Como ele não possui recursos financeiros infinitos precisa fazer uma escolha. Esta mesma conclusão pode então ser estendida a todos os recursos produtivos ou fatores de produção que vimos anteriormente: tudo o que a natureza coloca à nossa disposição é finito, mais cedo ou mais tarde vai acabar. A quantidade de pessoas bem formadas e treinadas – mão de obra qualificada – também é finita, principalmente se considerarmos uma determinada cidade ou região; além disso, o número de empresários/empreendedores dispostos e aptos a concretizar novos negócios; e por fim, toda a tecnologia é um dia substituída por outra mais eficiente e torna-se obsoleta! Agora, para finalizar este tópico, podemos então recordar a principal definição de economia, sabendo exatamente o que significa e tirar uma conclusão sobre como a economia pode contribuir com a sociedade. Definição de Economia como ciência: [...] uma ciência social que estuda como o indivíduo e as sociedades decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas da melhor maneira possível (PINHO; VASCONCELLOS, 2006, p. 2). Uma conclusão que podemos tirar é que a principal contribuição da economia como ciência é auxiliar as pessoas, as famílias, as empresas e o governo em seu processo de tomar uma decisão: como alocar seus recursos que são escassos em diferentes alternativas de como satisfazer suas necessidades que são ilimitadas. TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA 17 LEITURA COMPLEMENTAR ÁGUA: O RECURSO NATURAL ESTÁ ESCASSO Países do norte da África e do Oriente Médio já vivem com poucos recursos hídricos, mas desenvolvem técnicas que ajudam a economizar. População mundial precisa saber administrar bem recursos hídricos para economizar para o futuro (Foto: Divulgação/UNESCO © Edson Fogaça) As perspectivas para o planeta são alarmantes. De acordo com a Unesco, até 2050 cerca de 60% da população mundial irá viver em condições de estresse hídrico, e uma proporção semelhante ficará sem saneamento básico adequado. Alguns países do norte da África e do Oriente Médio já vivem com oferta de água insuficiente para suas populações. E, se não forem tomadas medidas emergenciais, a previsão é de que não seja possível mais a presença humana na região. De acordo com o coordenador de Ciências Naturais da Unesco Celso Schenkel, isso é um alerta e não exatamente a previsão do futuro. “Os dados inspiram medidas para que estes países mudem esta tendência”, explica. No norte da África, por exemplo, cerca de 90% dos recursos hídricos são usados para a agricultura, o que está bem acima da média mundial, que é de 70%. “Nestes UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 18 países com oferta pequena de água, quanto menor é a oferta, melhor é a qualidade da água e melhor é o cuidado no uso dela”, conta. Ou seja, há redução das formas de desperdício e busca por novas fontes de investimento de água. Os países da região acabam procurando água de aquíferos subterrâneos, a água tem qualidade, há um combate incessante ao desperdício, e novos acordos sobre o uso da água são elaborados. Um exemplo do uso consciente da água em países do Oriente Médio e do norte da África é a utilização de técnicas específicas para cada tipo de plantação. Entre elas está a irrigação por gotejamento, que permite que a planta receba a quantidade de água exata. Nem mais, nem menos. A técnica, que nasceu nos desertos de Israel, também ganha espaço nas lavouras brasileiras. Apesar das tentativas de preservar o pouco de recurso hídrico que existe nestes países, a dificuldade de encontrar água causa migração humana, e também da fauna silvestre. “Por exemplo, se os gnus se mudam para um local com agricultura, haverá conflito. Os conflitos não são necessariamente entre povos apenas”, conta Celso. Segundo a Unesco, desde 1870 existem 450 acordos bilaterais sobre compartilhamento de recursos hídricos. Muitos deles estão em regiões entre países que estão em guerra ou conflito. Mas eles não quebram a palavra por nada. O conceito é: ninguém pode sair perdendo. “É preciso fazer um acordo ganha- ganha”, conta Celso. Com os rios secando, países podem enfrentar problemas na pesca, no transporte e em energia (Foto: Divulgação/UNESCO © Edson Fogaça) TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA 19 Para que o mundo continue tendo água é preciso combater o desperdício, seja ele nas indústrias, na agricultura ou no uso diário de cada um. A tecnologia pode ajudar bastante. “Os sistemas de abastecimento de água em si já desperdiçam muito. Há a captação da água, o tratamentodela e a distribuição. Neste momento, perde- se, em média, entre 40 e 50% da água. Isso acontece por causa da má qualidade dos sistemas, que são obsoletos. Fora os gatos, os vazamentos”, conta coordenador de Ciências Naturais da Unesco. O Brasil ainda precisa avançar muito quando o assunto é preservar seus recursos hídricos. Mas há ações animadoras: em São Paulo, por exemplo, algumas indústrias promovem o reúso da água. Trata-se da “água bruta de qualidade”, que não é potável, mas perfeita para ser usada nas indústrias. Outro exemplo veio de uma montadora de automóveis que fez um investimento de 30 milhões de dólares em otimização dos recursos hídricos, reusando a água. “Eles esperavam um retorno financeiro em 5 anos, mas tiveram em 3, o que mostrou que é um bom investimento. Ela pagaria pela água, mas agora devolve para a natureza talvez até com uma qualidade melhor de quando ela foi captada”, diz Celso. FONTE: Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2013/05/agua-o- recurso-natural-esta-escasso.html>. Acesso em: 1 set. 2013. 20 RESUMO DO TÓPICO 1 Caro(a) acadêmico(a), neste tópico você viu que: • A economia faz parte de nossas vidas mesmo quando não percebemos. • Economia é o estudo da alocação de recursos escassos considerando as necessidades infinitas da sociedade formada por nós, seres humanos. • Pode-se entender uma necessidade humana como a percepção de que alguma coisa está faltando, gerando então um desejo, uma busca por satisfação. • Atualmente os fatores de produção ou recursos produtivos (insumos) são: terra, trabalho, capital, capacidade empresarial e tecnologia. • Os recursos produtivos ou fatores de produção podem ser empregados de forma individual ou combinada, no processo de criação e fabricação de outros bens e serviços, destinados por sua vez a atender então as necessidades e desejos dos consumidores que formam uma sociedade. • A principal contribuição da Economia como ciência é auxiliar as pessoas, as famílias, as empresas e o governo em seu processo de tomar uma decisão: como alocar seus recursos que são escassos em diferentes alternativas de como satisfazer suas necessidades que são ilimitadas. 21 AUTOATIVIDADE 1 Complete as lacunas da sentença a seguir e obtenha a definição básica de Economia: A economia é uma ciência__________, pois estuda como o indivíduo e a sociedade__________ empregar os recursos produtivos que são ____________ na produção de __________ e serviços a fim de satisfazer as___________________ dos seres humanos que são ___________________. 2 Além do exemplo da água como insumo escasso, que foi citada no texto da leitura complementar, cite outros 5 (cinco) insumos que claramente possuem uma quantidade finita. 3 Utilizando como exemplo um produto que você costuma consumir no seu dia a dia, relacione os fatores de produção ou insumos, com os componentes que são utilizados na fabricação deste produto. 4 É possível produzir algum bem ou serviço sem utilizar os fatores de produção? 5 Qual dos fatores de produção a seguir é considerado o elo, ou seja, que liga os demais fatores de produção? a) ( ) Trabalho. b) ( ) Terra. c) ( ) Recursos financeiros. d) ( ) Tecnologia. e) ( ) Capacidade empresarial. 22 23 TÓPICO 2 A ECONOMIA COMO CIÊNCIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No tópico anterior, com o esforço pessoal de cada um de vocês, foi construída a primeira parte de uma base teórica para entender mais profundamente o que significa economia. Identificando cada um dos termos que formavam um conceito previamente apresentado, alcançamos nosso objetivo de perceber a Economia como uma ciência social que tem por objetivo estudar como é possível atender as necessidades humanas – ditas ilimitadas – levando em conta que os recursos produtivos disponíveis para este fim são escassos. Na apresentação deste Caderno de Estudos foi dito a você que a Economia, assim como as outras ciências, busca explicar o mundo real como forma de contribuir com o processo de desenvolvimento e de sucesso da sociedade. Esse processo de explicar o mundo real é definido como método de investigação, que no nosso caso torna-se um método de investigação econômica. Na verdade, isto é uma tarefa bastante complicada, pois o mundo real é muito complexo com muitos fatos, comportamentos humanos diferentes e variáveis a considerar. Mas nem por isso os economistas desistiram! Para que seja possível contribuir com a interpretação do mundo real, os economistas utilizam algumas ferramentas, dentre elas estão os modelos e de estatística. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 24 2 SURGIMENTO DA ECONOMIA COMO CIÊNCIA Na tentativa de explicar o mundo que o cerca, o ser humano ao longo do tempo e ainda hoje, emprega diversas formas de conhecimento como: a tradição, as crenças/mitos, a religião, a arte, a ciência e até o bom senso. Após um grande domínio da religião – basicamente até os anos 1700 – sobre as outras formas de conhecimento, o surgimento do Renascimento (que pode ser entendido como uma renovação da civilização) no século XVII, trouxe como novidade o emprego da ciência em substituição à religião. Os estudiosos passaram a contestar as explicações baseadas exclusivamente na fé, e passaram a observar com mais critério o mundo real que estava à sua volta, como forma de interpretar os acontecimentos. É atribuído a Galileu Galilei o emprego de critérios mais racionais – uso da razão e não da fé – desenvolvendo um método inovador de enxergar o mundo real, hoje conhecido como método científico, que se baseava em alguns passos, a saber: 1) observação dos fenômenos do mundo real; 2) tentar recriar esses fenômenos via experimentação, 3) representar estes fenômenos por meio de equações matemáticas. O escopo deste método era descobrir as leis naturais, universais e eternas por meio da regularidade dos fenômenos. Prevendo os fenômenos e não apenas descrevendo-os, a sociedade poderia dominar a natureza e fazê-la trabalhar em benefício próprio. Apesar de inicialmente se restringir ao campo das ciências naturais, mais tarde serviria de modelo para as ciências sociais, sob os princípios de racionalidade, objetividade e neutralidade (COSTA; FLÁVIO, 2005). Portanto, como aponta Bêrni (2002), o surgimento da Ciência Econômica está intimamente ligada às profundas transformações pelas quais a sociedade ocidental passou a partir do século XV, tendo seu ápice nos séculos XVII e XVIII. Vasconcellos e Garcia (2010, p. 17) apontam que “Existe consenso de que a teoria econômica, de forma sistematizada, iniciou-se quando foi publicada a obra de Adam Smith ‘A Riqueza das Nações’, em 1776”. Inclusive este economista foi posteriormente agraciado com o título de Pai da Economia, em virtude da amplitude de seu trabalho. Neste sentido, Costa e Flávio (2005, p. 5) apontam que: A história da ciência econômica é bastante recente. Sendo portanto, uma das ciências mais jovens das ciências sociais. Na verdade, sua história enquanto ciência, ou enquanto um conjunto coerente de reflexões sobre as relações econômicas, só começou há cerca de duzentos anos, na era moderna. TÓPICO 2 | A ECONOMIA COMO CIÊNCIA 25 E completam esta afirmação com o seguinte argumento: Embora as atividades econômicas de que a ciência econômica se ocupa – produção, distribuição, circulação e consumo – estivessem presentes em todas as sociedades e em todas as épocas, muito tempo se passou até que se pudessem levantar questões relevantes acerca da produção material da sociedade. Até este momento as preocupações em torno da produção material da sociedade foram marginais, não havendo necessidade de uma área específica do conhecimento, ou seja, de uma ciência econômica para estudar tal assunto (COSTA; FLÁVIO, 2005, p. 5-6). Deste modo, podemos concluir que antes deste período histórico conhecido como Idade Moderna, em termos econômicos, a vida dos seres humanos em grupo era marcada por um estilo de vida mais simples,que buscava atender as suas necessidades mais básicas e de satisfação imediata (comer, estar protegido, se reproduzir). 3 TEORIAS E MODELOS Como em outras Ciências Sociais, a Economia se baseia na possibilidade de interpretar os acontecimentos do mundo real econômico como forma de gerar respostas a perguntas que intrigam a sociedade. Contudo, a Economia tem de lidar com um importante obstáculo ao empregar o método científico: é praticamente nula a possibilidade de experimentos laboratoriais, ou seja, é quase impossível de se realizar experiências de laboratório referente à vida econômica das pessoas devido ao grande número de variáveis econômicas envolvidas e à própria dinâmica da sociedade. Para contornar esse obstáculo os economistas empregam o método científico, em nosso caso: método de investigação econômica! A Figura 5 apresenta um esquema da sequência de passos do método de investigação econômica, geralmente empregado. Uma variável econômica é algo que influencia nas decisões relacionadas com os problemas econômicos fundamentais (os problemas econômicos fundamentais serão abordados no próximo tópico) ou algo que descreve os resultados dessas decisões. Uma variável tem como característica básica a possibilidade de assumir diferentes valores. Exemplo: valor da renda de um consumidor. UNI UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 26 FIGURA 5 - ESQUEMA DO MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO ECONÔMICA FONTE: Baseado em: Mochón (2006) Partindo da observação do mundo real o investigador, ou seja, o interessado em explicar algum fenômeno econômico, idealiza uma teoria. A teoria permite esquematizar – em outras palavras, colocar em uma determinada ordem, organizar – o que o investigador observou no comportamento econômico do mundo real, com a finalidade de explicar o porquê de certos acontecimentos ou justificar a relação entre duas ou mais coisas ou variáveis. Sem a criação de uma teoria, a única coisa que o investigador pode fazer é observar e descrever o que vê no mundo real (MOCHÓN MORCILLO, 2006). Tendo idealizado uma teoria, o investigador cria um modelo. Modelos são representações do mundo real de forma resumida, com uma quantidade reduzida de variáveis, consideradas principais para o entendimento do fenômeno que o modelo pretende explicar. Em outras palavras, um modelo é a “representação das principais características dos componentes de uma teoria” (RIZZIERI, 2006, p. 4). Desta forma, um modelo pode ser entendido como uma simplificação da realidade, no caso da Economia, da realidade dos agentes econômicos e dos mercados nos quais eles interagem (BERNI, 2002; MORCILLO, 2006). As teorias econômicas são apresentadas, de modo geral, sob a forma de equações matemáticas. Portanto, no decorrer deste caderno estaremos empregando a matemática como uma ferramenta para facilitar nosso entendimento sobre determinado assunto do mundo real que queremos explicar. TÓPICO 2 | A ECONOMIA COMO CIÊNCIA 27 Continuando nosso esquema do método de investigação, depois da construção de um modelo o investigador passa a tarefa de coletar dados. Na ciência econômica os dados estão ligados diretamente às atividades econômicas. Estes dados podem ser obtidos através da base de dados já existentes, construídas por outros investigadores – que são chamadas de fontes secundárias – ou através de instrumentos – entrevistas, questionários – com a participação direta do investigador. No prêmio Nobel de Economia, em 1976, Milton Friedman justificava que somente através da confrontação com dados, uma teoria e seu respectivo modelo podem se revelar úteis para analisar uma determinada classe de problemas concretos. Por último, cabe ao investigador como última etapa desse processo, comparar os dados obtidos com o modelo construído anteriormente. Assim, o investigador tem a possibilidade de verificar se a teoria elaborada após a observação do evento do mundo real tem validade ou não, e se o modelo elaborado explica esse mesmo evento e pode ser utilizado para que um administrador ou pelo Estado, por exemplo, possa tomar alguma decisão baseada nele. Vale ressaltar que este processo de investigação não termina nunca e o investigador deve voltar ao ponto inicial, ou seja, a observar o mundo real constantemente, em busca de teorias e modelos que explicam cada vez melhor os acontecimentos da realidade. Caso uma teoria, com seu respectivo modelo, não conseguir explicar satisfatoriamente a realidade, deve ser abandonada em favor de uma teoria mais adequada (RIZZIERI, 2006). 4 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO Como vimos anteriormente, assim como as demais ciências sociais, a economia evolui à medida que a sociedade se desenvolve no contexto histórico, ou seja, a ciência econômica acompanha a evolução da própria humanidade, pois analisa a evolução do comportamento humano e da tecnologia em função das atividades econômicas da sociedade. Assim, é natural que ao longo da história do pensamento econômico possa-se distinguir a coexistência de diferentes linhas de pensamento. Para entendermos melhor o cenário atual da Economia como ciência, precisamos voltar no tempo para entender de que forma evoluiu a Teoria Econômica no contexto das transformações históricas, dando origem a diferentes formas de interpretação da economia. O esquema exposto na Figura 6 apresenta um apanhado geral da evolução do pensamento da Economia como ciência – considerando os principais expoentes e seu tempo – dando maior ênfase para o período histórico a partir do século XVI, já que como vimos anteriormente, trata-se do período onde as interações entre os membros da sociedade tornaram-se mais voltadas para o lado econômico. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 28 FIGURA 6 – ESQUEMA DA EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO FONTE: TROSTER, Roberto Luís; MOCHON MORCILLO, Francisco. Introdução à economia. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994, p. 18. A seguir vamos abordar brevemente as principais escolas. 4.1 MERCANTILISTAS Vasconcellos e Garcia (2010) apontam que esta primeira escola econômica surgiu a partir do século XVI, e tinha como foco entender o processo de acumulação de riquezas de uma nação. Dentre suas principais características temos: forte presença do Estado na condução dos assuntos econômicos; direcionamento da economia para o comércio entre as nações com posterior acumulação dos resultados deste comércio; e avidez por estocagem de metais preciosos com símbolo de poder, o que resultou em constantes conflitos armados. TÓPICO 2 | A ECONOMIA COMO CIÊNCIA 29 4.2 FISIOCRATAS A escola francesa da Fisiocracia – que significa “regras da natureza” – surgiu no século XVIII em uma clara oposição ao mercantilismo. Vasconcellos e Garcia (2010) apontam como suas principais características: • Liberdade econômica, ou seja, pregava que não deveria haver o intervencionismo do estado em favor do mercantilismo. Seriam competência do estado apenas as funções de manutenção da ordem econômica e da propriedade privada. • Adoção de imposto único que incidiria sobre a propriedade de bens. • A riqueza tem como única origem a produção com base na terra (natureza), que em sua visão possuía a capacidade de gerar excedentes, riquezas. Portanto, o foco da sociedade seria a agricultura em detrimento do comércio e das finanças. 4.3 ESCOLA CLÁSSICA Os clássicos dos quais destacamos Adam Smith (1723-1790), David Ricardo (1772-1823), Thomas Malthus (1766-1834) e John Stuart Mill (1806-1873), não concordavam com seus antecessores fisiocratas na questão relativa à centralidade da terra como única geradora de riquezas. Segundo os pensadores dessa escola, a geração de riqueza está diretamente relacionada com a produtividade da mão de obra, e esta produtividade é sempre incremental e baseada na especialização das tarefas produtivas e da divisão do trabalho. Vasconcellos e Garcia (2010) assinalam como características da obra de Adam Smith: • Livre concorrência: sem interferência do estado oequilíbrio econômico seria causado pela própria atuação dos agentes econômicos, que movidos por ideais individualistas – busca da maximização do lucro – promoveriam o bem estar de toda a sociedade. Esta teoria ficou conhecida como a Teoria da Mão Invisível. • A causa da riqueza das nações é o trabalho humano, sendo que a moeda tem somente a função de meio de troca. • Os mercados de consumo e a iniciativa privada devem ser ampliados para que a produtividade e a riqueza sejam ampliadas. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 30 • O papel do Estado estaria restrito apenas à proteção da sociedade e à manutenção de obras e instituições necessárias. David Ricardo é outro importante pensador do período clássico. Usando como ponto de partida as ideias de Adam Smith, desenvolveu modelos econômicos para analisar os problemas econômicos de sua época. A obra mais importante deste pensador foi Princípios de economia política e tributação, que gerou duas importantes teorias: • Teoria das vantagens comparativas: aplicada ao comércio internacional. Em resumo argumenta que cada nação deve se especializar em produzir aquilo – matérias-primas, bens – em que são relativamente melhores e comprar de outras nações aquilo em que são relativamente piores na produção. • Lei dos rendimentos decrescentes: resumidamente aponta que considerando um determinado processo produtivo em que se empregam uma variedade de insumos ou fatores de produção, se a quantidade de um insumo for aumentada e a quantidade dos outros insumos permanecer constante, a produção total por insumo irá cair. Adicionalmente, Vasconcellos e Garcia (2010, p. 20) apontam que: A maioria dos estudiosos considera que os estudos de Ricardo deram origem a duas correntes antagônicas: a neoclássica, por suas abstrações simplificadoras, e a marxista, pela ênfase dada à questão distributiva e aos aspectos sociais na repartição da renda da terra. O economista e filósofo John Stuart Mill é outro membro da Escola Clássica. Reconhecidamente um liberal, tem como obra mais importante o livro Princípios de Economia Política, de 1848, que é considerado o primeiro grande manual de Economia. Vasconcellos e Garcia (2010, p. 21) apontam ainda que: Seu trabalho foi o principal texto utilizado para o ensino de Economia no fim do período clássico e no início do período neoclássico. Sua obra consolidou o exposto por seus antecessores e avançou, por incorporar mais elementos institucionais, definindo melhor as restrições, vantagens e funcionamento de uma economia de mercado. Além de economista, Thomas Malthus também era estatístico, demógrafo e sacerdote da Igreja Anglicana na Grã-Bretanha. Preocupado com as possíveis consequências negativas – principalmente a falta de alimentos – do crescimento desordenado da população, elaborou uma teoria que ficou conhecida como Teoria Neomalthusiana. Em termos gerais, para este economista existia um grande potencial de que em determinado momento a população humana excederia em muito TÓPICO 2 | A ECONOMIA COMO CIÊNCIA 31 o potencial da terra na produção de alimentos. O que certamente teria como consequências a fome e a pobreza. Ele defendia que as nações deveriam implantar medidas de controle populacional de controle da natalidade, como por exemplo a limitação voluntária de nascimentos nas famílias pobres. Aceitava sem receios que as guerras seriam uma solução para interromper o crescimento populacional. Entretanto, Malthus não previu o ritmo e o impacto do progresso tecnológico, nem as técnicas de limitação da fertilidade humana que se seguiram (VASCONCELLOS; GARCIA, 2010). Após essa breve abordagem, podemos concluir que a Escola Clássica através de seus pensadores, lançou as bases para que a Ciência Econômica se desenvolvesse a partir de um referencial teórico próprio com foco nas questões econômicas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2010). Dessas bases surgiu a Escola Neoclássica. 4.3.1 Escola Neoclássica ou Marginalista Vasconcellos e Garcia (2010) apontam que a Escola Neoclássica ou Marginalista refere-se ao período histórico que iniciou na década de 1870 e desenvolveu-se até as primeiras décadas do século XX. Segundo Vasconcellos e Garcia (2004, p. 22), Destacam-se os aspectos microeconômicos da teoria, pois a crença na economia de mercado e em sua capacidade autorreguladora fez com que não se preocupassem tanto com a política e o planejamento macroeconômico. Os neoclássicos sedimentaram o raciocínio matemático explícito inaugurado por David Ricardo, procurando isolar os fatos econômicos de outros aspectos da realidade social. Troster e Morcillo (1994, p. 110) complementam que os membros desta escola dão atenção especial ao indivíduo, ou seja, “em vez de considerar a economia globalmente, os marginalistas centravam suas análises nas decisões dos sujeitos econômicos individuais e nas condições e preços do mercado”. Outro ponto que identifica claramente os membros desta linha de pensamento é sua especial preocupação pela determinação dos preços de mercado. Um dos destaques dessa linha de pensamento é o economista e matemático francês León Walras (1831 – 1910), que dedicou-se a interpretar e a expor a Economia com uma visão matemática, com o objetivo de ampliar o caráter científico desta ciência, igualando-a às ciências físicas (TROSTER; MORCILLO, 1994). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 32 Algumas de suas contribuições são: • Buscou provar que os resultados de um mercado de livre concorrência (que estipulou como concorrência perfeita) são benéficos para a sociedade. • A concorrência perfeita se origina de uma situação de mercado na qual os compradores e os vendedores se reuniam em um leilão coletivo, de forma que as condições de cada troca seriam conhecidas. Procedendo assim, os vendedores deste mercado teriam a oportunidade de reduzir seus preços conforme os compradores receberiam suas ofertas (TROSTER; MORCILLO, 1994). • Idealizou a Teoria do Equilíbrio Geral: inter-relação entre todas as atividades econômicas. Outro importante pensador dessa corrente foi o economista inglês Alfred Marshall (1842 – 1924), considerado por muitos o fundador da moderna economia. A obra mais notável desse pensador foi Princípios de economia, publicada em 1890, e que serviu de linha mestra da economia até a metade do século XX. Algumas de suas contribuições são: • Formalização matemática dos conceitos econômicos. • Emprego do conceito de equilíbrio parcial: em função das incontáveis variáveis as quais o estudo da economia está sujeito, se faz necessária a utilização de uma análise parcial dos problemas econômicos. Portanto, o termo ceteris paribus (tudo mais permanecendo constante) é introduzido na abordagem matemática econômica. • “O comportamento do consumidor é analisado em profundidade; o desejo do consumidor de maximizar sua utilidade (satisfação no consumo) e o do produtor de maximizar seu lucro são a base para a elaboração de um sofisticado aparato teórico” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004, p. 22). 4.3.2 Teoria Keynesiana Dentro da Escola Neoclássica surge a figura do economista inglês John Maynard Keynes (1883 – 1946). Suas obras provocaram um impacto tão forte no estudo da economia que sua contribuição ficou conhecida como a Revolução Keynesiana. Sua obra mais importante é Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda de 1936. O momento histórico em que Keynes construiu seu pensamento é marcado por uma economia que atravessa uma grave crise, e que ficou conhecida como a Grande Depressão de 1929. Nesta época havia um grande desemprego tanto na TÓPICO 2 | A ECONOMIA COMO CIÊNCIA 33 Europa como nos Estados Unidos, este último marcado pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929 (VASCONCELLOS; GARCIA, 2010). Considerando esse cenário, Keynes buscava identificar através desta obra quais os motivos ou variáveis que o governo de cada país deveria controlar com o objetivo de reduzir o desemprego. Alguns pontos de destaque
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