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1 NEUROLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Doenças Cerebrovasculares INTRODUÇÃO • Objetivo do estudo: o Devemos estudar doença vascular cerebral porque, em praticamente todos os países do mundo, ela está entre as principais causas de morte, além de ter um alto índice de sequelas o Devemos estudar para tentar mudar esse padrão, pois muitas coisas podem ser prevenidas • Características gerais: o Doenças cerebrovasculares são doenças que acometem a vasculatura cerebral o Há um binômio em doença vascular cerebral, podemos classificar em doenças que causam hemorragia cerebral e doenças que causam isquemia cerebral ▪ Existem doenças que podem causar tanto hemorragia quanto isquemia → Exs.: HAS e Amiloidose vascular cerebral / angiopatia por depósito amiloide (hoje, é a causa mais comum de AVC no idoso) o Possuem inúmeras etiologias (é necessário investigar sempre) → As etiologias variam de prevalência de acordo com a faixa etária • Indicativos na história clínica: o O aparecimento súbito de sintomas neurológicos é um grande indicativo ▪ Mas, existe também quadro vascular cerebral com ictus em evolução (um sintoma aparecendo de cada vez), que ocorre quando o vaso está ocluindo aos poucos • Hemorragia x Isquemia: o Em uma primeira análise do paciente, devemos conseguir diferenciar um quadro hemorrágico de um isquêmico o O fato de o paciente ter tido cefaleia e vômito no ictus (início do quadro) fala a favor de hemorragia cerebral ▪ Porém, existem alguns quadros de isquemia que podem vir com cefaleia, como arterite temporal, mas principalmente dissecção de artéria (mais comum em jovens) o A isquemia cerebral pode ocorrer por fechamento do vaso ou obstrução do fluxo de sangue o Se não tiver vômito e cefaleia e estiver pensando em isquemia, tentar diferenciar trombose de embolia (principalmente porque na trombose o vaso em questão é doente e na embolia ele pode ser normal) ▪ Idoso com sopros, insuficiência vascular etc. provavelmente é aterosclerose com trombose ▪ Paciente com forame oval patente, prótese valvar, uso de drogas etc. provavelmente é embolia • Fatores de risco: o Uso de drogas (pode dar quadro isquêmico ou hemorrágico) → Muito prevalente em adultos jovens o Cardiopatias (Ex.: Forame oval patente levando à shunt e trombo indo para vaso cerebral) o Aterosclerose (lesão do vaso gerando uma placa, que pode trombosar ou embolizar) → Comum em idosos o Doença genética (vários casos numa mesma família) PROF. CESAR RAFFIN 2 NEUROLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Exame físico: o Além do exame clínico geral, faz parte da avaliação de um paciente de risco (Ex.: Idoso) ou que teve doença vascular cerebral, auscultar e palpar os vasos, analisando os pulsos do pescoço, face e até fundo de olho ▪ As principais a serem analisadas são as artérias carótidas e as artérias angulares ▪ Artéria Angular é o ponto de encontro dos fluxos da Artéria Carótida Interna e da Artéria Carótida Externa ❖ O pulso da artéria angular pode ser avaliado na palpação entre a raiz do nariz e o ângulo do olho ❖ Quando há uma estenose crítica da ACI, o fluxo vai preferencialmente pela ACE, levando a um pulso forte na Artéria Angular (que pode ser percebido na palpação) • Principais causas: o Pacientes jovens ▪ Forame oval patente (principal causa) ▪ Dissecção de artéria (2ª principal causa) ▪ Mulheres jovens → Também é comum por trombose venosa (principalmente causada por anovulatório oral) CLÍNICA • Classificação: o Classificamente os quadros vasculares são divididos por sua anatomopatologia em quadros isquêmicos e quadros hemorrágicos ▪ É possível diferenciar pelos exames de imagem ▪ Na isquemia, é fundamental saber o que está causando, lembrando que varia muito por faixa etária ❖ Ex.: Paciente jovem é mais comum a doença do coração, principalmente forame oval patente, e dissecção de artéria (em que a dor é o sintoma mais comum) • Dissecção: o Pode ser espontânea ou causada por exercício físico o O sintoma mais comum é dor o A parede do vaso fica mais frágil e pode levar a um aneurisma distal à dissecção o Paciente jovem que manifesta com quadro vascular cerebral devemos pensar em dissecção (além de forame oval patente) • Tipos de evolução do quadro vascular: o Quadro ictal (quadro súbito de déficit neurológico) → Mais comum o Quadro em evolução (inicia um déficit menor e vai aumentando a intensidade e número de déficits) ▪ Quadro em evolução geralmente evolui junto com a oclusão do vaso o Ataque isquêmico transitório (déficit neurológico momentâneo, com vários episódios de déficit e com recuperação completa) → Por definição o déficit dura menos de 24 horas ▪ Também é urgência, deve ser investigada a causa para tratar ▪ Primeira coisa que devemos pensar é numa fonte emboligênica (pode ser placa carotídea, pode ser placa da própria artéria) ou pode ser também dissecção da artéria 3 NEUROLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Região acometida: o Quando falamos em circulação cerebral, pensamos em 2 grandes sistemas (vertebrobasilar e carotídeo) o O sistema carotídeo forma a A. Cerebral Média (ACM), que gera 2 grandes componentes (um vasculariza tálamo, cápsula interna e núcleos da base e outro que superficializa e vasculariza predominantemente a parte lateral dos hemisférios cerebrais, podendo ter quadros frontal, parietal, temporal e occipital) ▪ Portanto, os quadros de carótida são muito semelhantes aos da Cerebral Média (difícil distinguir, geralmente precisa de exames complementares para confirmar) o O sistema carotídeo também forma a A. Cerebral Anterior (ACA), que irriga a parte inter-hemisférica, impactando principalmente no controle dos membros inferiores e bexiga o O sistema vertebrobasilar forma as Artérias Cerebrais Posteriores (ACP) e irriga tronco cerebral, a parte basal do temporal e os occipitais ▪ Então, quando há síndrome do tronco cerebral, é o sistema vertebrobasilar que está envolvido o Há algumas dicas para distinguir uma síndrome do sistema vertebrobasilar de uma da ACM/carotídea ▪ Quadros alternos (Ex.: Atingindo face de um lado e braço do outro) geralmente é de tronco cerebral (sistema vertebrobasilar/VB) ▪ Quando há um déficit de tudo do mesmo lado (face, braço e perna), geralmente é cápsula interna (ACM) ▪ Déficit só em mão ou só face (lesão mais cortical) geralmente é ramo da ACM ❖ Lesões mais laterais/corticais afetam mais a fala, braço e mão ▪ Déficit mais na perna (lesão inter-hemisférica) geralmente é por ACA (sistema carotídeo) ❖ Um centro também irrigado pela ACA (embaixo do controle de perna) é o controle de bexiga, então pode haver disfunção de bexiga por um déficit da ACA ▪ Quadros de bulbo, ponte e cerebelo (tronco cerebral) geralmente são acometimento de ACP (sistema VB) ▪ Perda de campo visual e distúrbio de consciência geralmente vem de sistema VB (atinge lobos occipitais) ❖ As fibras visuais passam em volta do ventrículo e ali podem ser lesadas por uma lesão de ACM também • Nomenclaturas: o Plegia → Paciente não movimenta nada (plégico) o Paresia → Paciente movimenta pouco, está fraco (parético) • Diagnóstico: o Diagnóstico sindrômico → Os sintomas da lesão (Ex.: Síndrome motora / Hemiparesia esquerda) o Diagnóstico topográfico → Onde está a lesão (Ex.: Hemisfério cerebral esquerdo) ▪ Dá para saber pela clínica, mas se houver dúvida pode ser feita uma RM para melhorar a precisão o Diagnóstico etiológico → A causa da lesão ▪ 9 grupos de causas (de acordo com o quadro devemos organizar a ordem de probabilidade das causas) ❖ Do desenvolvimento (Ex.: Malformação congênita) ❖ Degenerativas (característica de piora progressiva) ❖ Desmielinizantes (Ex.: Esclerose múltipla) 4 NEUROLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ❖ Trauma ❖ Tumor ❖ Tóxico/metabólico(Ex.: Intoxicação exógena) ❖ Vascular (Ex.: Isquemia, hemorragia, vasculite)* → Sempre pensar quando há déficit neurológico ❖ Infeccioso (Ex.: Quadro viral, bacteriano, fúngico) ❖ Paroxístico (causa não definida) • Gráfico PAM x FSC: o Medimos a pressão arterial média (PAM) e o fluxo sanguíneo cerebral (FSC) do paciente o O FSC se mantém de uma maneira estável, apesar das variações de pressão de perfusão (autorregulação) o Há uma curva de autorregulação do FSC que varia de pessoa para pessoa, mas sempre terá um limite inferior e um limite superior a depender da pressão de perfusão cerebral, para manter esse fluxo estável ▪ Se há uma redução da PAM abaixo desse limite inferior, haverá um quadro isquêmico ▪ Se há um aumento da PAM acima desse limite superior, haverá um quadro hemorrágico o O controle hemodinâmico/pressórico é fundamental para manter a autorregulação do fluxo cerebral
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