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1 ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS(AS) PSICÓLOGOS(AS) POR MEIO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO1 PALOMA PASSIG DA SILVA JUSTEN2 Resumo: A tecnologia tem atravessado o cotidiano de milhões de pessoas. Devido à disseminação das Tecnologias de Informação e Comunicação em geral, principalmente da internet, muitas profissões passaram ou estão passando por transformações, entre elas a do(a) psicólogo(a). Por isso, o presente estudo visa conhecer as percepções de psicólogos/as acerca das possibilidades de atuação profissional realizadas por meio das TICs e, como objetivos específicos, busca identificar quais as possibilidades de atuação profissional realizadas por meio das TICs os psicólogos(as) conhecem, se já atuaram ou atuam, o que pensam acerca das possibilidades de atuação profissional, se percebem implicações e aspectos favoráveis e desfavoráveis nos serviços psicológicos realizados por meio das TICs. Esta pesquisa é caracterizada como descritiva, de corte transversal, de natureza quantitativa, e com delineamento classificado como levantamento. Para tanto, 189 psicólogos(as) responderam um questionário on-line criado por meio da plataforma Google Forms. O questionário continha doze perguntas fechadas, cinco perguntas abertas, e onze itens que foram respondidas por meio de escala likert. Os dados coletados foram organizados no banco de dados Excel, com categorias a priori e posteriori, tabulados e tratados de maneira quantitativa utilizando estatística descritiva. Os resultados obtidos demonstram que 86,2% dos participantes da pesquisa são do sexo feminino, 85,7% concluíram a graduação em psicologia no período de 2000 até 2018, 64,6% indicaram que não tiveram informações sobre a realização de serviços psicológicos por meio das TICs durante o período de formação (graduação, pós-graduação, formações entre outros) e 82,5% apontaram conhecer as possibilidades de atuação profissional por meio das TICs. Dos participantes 65,1% (n=123) indicaram que nunca realizaram serviços psicológicos por meio das TICs, 19,6% (n=37) responderam já ter realizado e 15,3% (n=29) realizam atualmente. Entre os participantes que consideram existir implicações éticas nos serviços psicológicos realizados por meio das TICs, 59,2% (n=90), acreditam que as questões que apresentam risco são relativas a manter o sigilo. Entre os participantes que acreditam que há implicações práticas nos serviços, 24,8% (n=36) citaram como dificuldade prática a impossibilidade do contato físico e 24,1% (n=35) a dificuldade no estabelecimento de vínculo/aliança terapêutica/transferência. Foram apontadas implicações práticas positivas, na qual 7% (n=10) dos participantes consideram que as TICs são uma facilidade de acesso ao atendimento, e 4% (n=6) que é uma possibilidade de atingir mais pessoas, disseminando a Psicologia. Dos participantes, 82% consideram necessário ter um procedimento orientativo por parte do órgão regulador da profissão, o Conselho Regional de Psicologia (CRP) para a prestação de serviços psicológicos por meio das TICs. Este estudo pode contribuir aumentando a visibilidade sobre o tema que ainda é pouco discutido, como seguir de base para ações do Conselho Federal e Regional de Psicologia de Santa Catarina. Sugere-se que novas pesquisas sejam feitas sobre esse tema, com profissionais e com os sujeitos atendidos. Palavras-chave: Psicologia e Internet, Atendimento On-line, TICs. 1 Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicóloga. Orientadoras: Profs. Zuleica Pretto, Drª e Camila Felipe Tonn, Msc. Palhoça, 2018. 2 Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina. palomapassig@gmail.com. 2 1 AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO A tecnologia tem atravessado o cotidiano de milhões de pessoas. De acordo com o relatório sobre economia digital divulgado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) em 2015, o Brasil ocupava o quarto lugar no ranking mundial de usuários de internet com o número de 120 milhões de usuários. Ainda segundo o relatório, o país estava atrás apenas dos Estados Unidos, Índia e China. Isso evidencia que o acesso à internet está presente no cotidiano de mais da metade da população brasileira3. Mas, o que é tecnologia? Para Veloso (2011), o conceito pode ser empregado a tudo aquilo que não existia na natureza, o ser humano inventa para ampliar seus poderes, superar suas limitações físicas, transformar seu trabalho mais fácil e tornar a sua vida mais agradável. Ainda segundo o autor, falar em tecnologia não significa, obrigatoriamente, referir-se à Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), apesar de que nos dias atuais a tendência seja a de confundir esses termos ou torná-los sinônimos. De acordo com Veloso (2011, p. 50), as TICs caracterizam-se como ferramentas inovadoras “que aceleram a comunicação, fomentam a interatividade, transformam a produção, alteram as relações dos homens entre si, modificam suas atividades, e, interferem na própria organização da sociedade”. São exemplos de TICs: os telefones celulares, os computadores de uso pessoais, o correio eletrônico, a internet, a TV digital, os inúmeros suportes de armazenamento de dados, as diversas tecnologias digitais de acesso remoto e de captura e tratamento de dados, sejam eles texto, imagem ou som (VELOSO, 2011). Dessa forma, as TICs estão ocupando lugares cada vez mais significativos, o que remete à relevância de conhecer seus significados, desafios e perspectivas (VELOSO, 2011). A população brasileira utiliza as TICs, principalmente à internet, para estar conectado. Segundo dados do IBGE4, 64,7% dos entrevistados utilizaram a internet no período de referência dos últimos três meses. Entre os equipamentos utilizados para o acesso à internet, 94,6% utilizaram o telefone móvel celular, seguido do microcomputador com 63,7% dos entrevistados. O Brasil estava em quarto lugar no ranking mundial de usuários de internet em 2015 e a elevada porcentagem da população com acesso a alguma TIC em 2016, corroboram algumas características da contemporaneidade em especial a expansão tecnológica (PEREIRA JÚNIOR, 2011). 3De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, o Brasil possuía o número de 207.660.929 milhões de habitantes. 4 Em uma pesquisa realizada no País no quarto trimestre de 2016 com o tema TIC. 3 Levando em conta essa característica da contemporaneidade referente à expansão tecnológica, aponta-se que a disseminação da internet é um fator responsável por novas formas de sociabilidade. Passamos a viver em uma nova disposição social, a da sociedade em rede (LEITÃO; ABREU; NICOLACI-DA-COSTA, 2005). Essa sociedade constituída pela ligação das inúmeras tecnologias de informação e comunicação ocasionou inúmeras mudanças em diversas áreas da vida do ser humano. De acordo com Nicolaci-da-Costa (2005), a difusão da internet, ocorrida em meados da década de 1990 [...] possibilitou ao usuário ter acesso a qualquer tipo de informação e poder interagir com qualquer outro usuário. Para Thibes, Mancini (2013), a chegada da internet e sua incorporação ao cotidiano das pessoas gerou novas formas de sociabilidade mediadas pelo computador que extinguem o contato face a face. “A ausência do corpo físico nas interações virtuais mostra que a plasticidade do eu passa a ter um novo locus: além da identidade corporal, ela coloniza o espaço virtual” (THIBES, MANCINI, 2013, p. 149). Por exemplo, nas interações virtuais, naquelas específicas das redes sociais, as expressões corporais, faciais e aspectos da fala encontram-se quase completamenteextinguidas. O que há são imagens e sinais indiretos referente a aspectos corporais dotados pelos indivíduos, presentes, como por exemplo nas fotos dos perfis. O que sobra é a face, materializada não pelo corpo, porém pelo perfil virtual ou avatar do indivíduo (THIBES, MANCINI, 2013). Nascia aí o que Lévy (1999) denomina de ciberespaço. Também chamado de rede “ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores” (LÉVY, 1999, p. 17). Mas pode-se dizer que rede abrange muito mais que os computadores, e de acordo com Castells (1996/2000 apud NICOLACI-DA-COSTA, 2006, p. 21) esse acontecimento é chamado de sociedade em rede. Segundo o autor, é “à organização social produzida pela convergência das diversas tecnologias de informação e telecomunicação (microeletrônica, computação, telecomunicações/radiodifusão, optoeletrônica, etc)”. Este ciberespaço ou esta sociedade em rede está possibilitando novos estilos de vida, novas formas de organização e também novas formas de sociabilização, como a sociabilidade virtual. Para Thibes, Mancini (2013, p. 149), “a popularização das formas de sociabilidade virtual é algo notável desde a virada do século XXI”. Entre as mais famosas redes sociais no período de estudo dos autores, estavam o Twitter, o Facebook e o Orkut, sendo este último o mais frequentado pelos brasileiros e atualmente extinto. Hoje, nessa lista, pode-se acrescentar o Instagram e considerar como umas das redes sociais mais utilizadas no momento. 4 Essa nova forma de sociabilização, a virtual, pode ser considerada uma característica da cibercultura que segundo Lévy (1999, p. 17) é “um conjunto de técnicas, de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. Neste ciberespaço, o sujeito tem a possibilidade de conectar-se imediatamente a qualquer lugar que pretender e assumir a identidade que desejar, sendo que o tempo e o espaço não são limites (MOREIRA, 2010). Para Moreira (2010, p. 4) “a realidade virtual apresenta uma nova possibilidade de relação com o mundo através da simulação do real”, fatores esses que colaboram para a constituição da subjetividade. A partir do ciberespaço, “estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas desse espaço nos planos econômico, político, cultural e humano” (LÉVY 1999, p. 11). Para Siegmund, Lisboa (2015), essa realidade assinala a necessidade de um olhar atento da Psicologia para esse novo cenário de estudo, e mais recentemente, de prática dos psicólogos. Para Moreira (2010) a nova mídia representada pela internet aumenta o potencial de produção subjetiva, alterando as experiências físicas, mentais e sociais dos sujeitos, como também, segundo a autora, altera a relação com o próprio corpo, o tempo, o espaço e com a ideia de um ser autônomo. Corroborando o assunto, para Pereira Júnior (2011) a contemporaneidade é representada por diversas características que trazem consequências sobre a subjetividade, como também é caracterizada pela emergência de características particulares na história humana. “Essas características impactam a vivência do sujeito contemporâneo, trazendo sofrimentos que, mesmo não sendo inéditos, se apresentam numa frequência nunca antes observada”. (PEREIRA JÚNIOR, 2011, p. 02). Para o autor supracitado, das características contemporâneas uma delas é a valorização social do narcisismo que resulta em um sujeito demasiadamente individualista, focado no culto ao prazer, ao corpo e aparência. Esses valores são apresentados diariamente nas mídias, a ponto do sujeito se sentir socialmente inapropriado caso não consiga se enquadrar nos moldes de beleza e ostentação apresentados. (PEREIRA JÚNIOR, 2011). Ainda segundo Pereira Júnior (2011) através das mídias, ao mesmo tempo em que o sujeito contemporâneo é afetado pela circulação do pensamento massificado é afetado também com o individualismo e a homogeneização. Nesse sentido, “a originalidade e criatividade de pensamento e opinião é uma tarefa árdua ao sujeito, e a dimensão da profundidade e interioridade é desvalorizada em nome do que é superficial e efêmero.” (GIOVANETTI 1999 apud PEREIRA JÚNIOR, 2011, p. 08). 5 Resultado disso, é um sujeito vazio de sentido pessoal, que flutua ao sabor das notícias, programas entre outros do momento. (PEREIRA JÚNIOR, 2011). Segundo Pereira Júnior (2011), essa saturação social de informações, que é denominada de sociedade de informação exerce outras influências subjetivas como por exemplo a ansiedade. Essa ansiedade, pode ser percebida em várias esferas da vida do ser humano, como a ansiedade permanente de organizar toda informação recebida ocasionada pela valorização social de sujeitos antenados e atualizados, como as constantes obrigações de sempre estar se atualizando, fazendo cursos, pós-graduações e outros. Ainda segundo o autor, outros sintomas possíveis do sujeito contemporâneo são o tédio e a angústia existencial. De acordo com Pereira Júnior (2011) nem todos os sujeitos são afetados igualmente por esses sintomas, mesmo sendo sujeitados a condições idênticas, devido que as potencialidades existências da personalidade humana proporcionam ajustes a essa macroestrutura. 1.1 TRANSFORMAÇÕES QUE AS TICs PRODUZEM NO TRABALHO DO PSICÓLOGO Segundo Oliveira, Rego e Villardi (2007), uma das mais importantes consequências do aparecimento da Sociedade da Informação como uma marca da modernidade, é a disseminada utilização das novas TICs a todas as áreas da vida. Para Veloso (2011), as novas tecnologias possuem diversas consequências, e seu poder multiplicador tem permeado quase todas as áreas da esfera humana como por exemplo o lar, a fábrica, a escola, o comércio, o lazer, a cultura, a indústria entre outros. Na relação com o trabalho, segundo Veloso (2011) a tecnologia tem sido predominantemente utilizada pelo capitalismo para a automatização dos processos e na diminuição da demanda por força de trabalho. Para Merlo (2006 apud PRADO; FORTIM; COSENTINO, 2006) o uso de novas tecnologias em atividades tradicionais, como por exemplo o trabalho em escritório, ocasionou, nos últimos 30 anos, grandes modificações nos ambientes como na organização do trabalho. Devido à disseminação das TICs em geral, principalmente da internet, muitas profissões passaram ou estão passando por transformações, entre elas a do(a) psicólogo(a), reconhecida como profissão, no Brasil, no século XX. A questão que esta pesquisa se propôs a problematizar envolve pensar, justamente, como as novas tecnologias poderiam estar provocando a atuação dessa profissão e como os profissionais estão lidando com essa característica da contemporaneidade. Para Bastos e Gondim (2010 apud SIEGMUND; LISBOA, 2015, p. 170), 6 na contemporaneidade, “um dos grandes desafios na atuação do profissional psicólogo brasileiro é o crescente desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação”. Pode- se dizer que isso acontece devido tanto ao surgimento de novos fenômenos como a sociabilidade virtual entre outros, quanto em relação as novas possibilidades de atuação e intervenção profissional possíveis de serem realizadas a partir desses meios tecnológicos. Atento a essa demanda contemporânea, em 25 de setembro de 2000, o Conselho Federal de Psicologia do Brasil regulamentou5 o atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador. Por ser uma atividade ainda não reconhecida6 pela Psicologia, somente era permitido ser realizado fazendo parte de um projeto de pesquisa. Nessa resolução, conforme o Art. 5º. p. 03 foram reconhecidos alguns serviços psicológicos mediados pelo computador, desde que não fossem psicoterapêuticos, como a “orientação psicológica e afetivo-sexual, desde que pontuais e informativos,orientação profissional, orientação de aprendizagem e psicologia escolar, orientação ergonômica, consultorias a empresas, reabilitação cognitiva, ideomotora e comunicativa” e outros. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA Nº 003/2000). Cinco anos após, em 18 de agosto de 2005, o Conselho revogou a resolução supracitada mantendo regulamentado o atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador, sendo esse realizado em caráter experimental e fazendo parte de um projeto de pesquisa, devido essa modalidade de atuação ainda não ser reconhecida pela Psicologia. Na mesma resolução, foi mantido o reconhecimento e regulamentados os serviços psicológicos mediados pelo computador supracitados, desde que não fossem psicoterapêuticos. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA N° 012/2005). Em 2012, o Conselho Federal de Psicologia revogou a Resolução Nº 12/2005 e por meio da Resolução Nº 011/2012 manteve regulamentado o atendimento psicoterapêutico em caráter experimental, sendo obrigatório fazer parte de um projeto de pesquisa. Ainda segundo a resolução, foram regulamentados e reconhecidos outros serviços psicológicos, desde que sejam pontuais, informativos e focados no tema proposto tais como: orientações psicológicas de diferentes tipos realizadas em até 20 encontros ou contatos virtuais, síncronos ou assíncronos, processos prévios de seleção de pessoal, aplicação de testes, supervisão do trabalho de psicólogos e o atendimento eventual de clientes em trânsito e ou de clientes que se encontrem sem possibilidade de comparecer ao atendimento presencial. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, Nº 011/2012). E por fim, em 11 de maio de 2018, o Conselho Federal de Psicologia reformulou a prestação de serviços psicológicos realizados por meios de tecnologias da informação e da 5 De acordo com o Dicionário Online de Português, regulamentou é o mesmo que regularizou. 6 De acordo com o Dicionário Online de Português, reconhecida é o mesmo que legalizada, aprovada. 7 comunicação e revogou a resolução nº 011/2012. Nessa resolução foram regulamentados e autorizados a prestação dos seguintes serviços psicológicos realizados por meios de Tecnologias da Informação e da Comunicação: consultas e/ou atendimentos psicológicos de diferentes tipos. processos de seleção de pessoal, uso de instrumentos psicológicos regulamentados com parecer favorável e a supervisão técnica. A resolução entrou em vigor no dia 10 de novembro de 2018. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA n° 011/ 2018). Para que o(a) profissional possa fazer a prestação dos serviços psicológicos mencionados acima por meio das TICs, é necessário que assine um termo de orientação e declaração que contém os deveres do(a) profissional para a realização desses serviços, tais como: efetuar e manter atualizado o cadastro profissional junto ao CRP de acordo com a Resolução CFP Nº 11/2018; acordar com os usuários contrato de prestação de serviços incluindo as garantias fundamentais de manutenção do sigilo e segurança referente ao acesso aos equipamentos e registros documentais utilizados; efetuar o registro documental observando que este deverá respeitar a legislação vigente; assegurar uma adequada condição de guarda e sigilo do registro documental; utilizar recursos de TICs pertinentes do ponto de vista ético, metodológico, teórico, e técnico da Psicologia; apenas divulgar e efetuar práticas com evidência científica consolidada na ciência psicológica; zelar e acompanhar pelo cumprimento das obrigações legais e éticas e aguardar as verificações do CRP no que se refere à situação cadastral, financeira e ética para que possa ser validada a introdução do nome no Cadastro profissional para a prestação dos serviços por meio das TICs, bem como a autorização para a prestação de serviços mediados por TICs. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2018). Em suma, visto que a tecnologia tem estado presente no cotidiano de milhões de pessoas, que as possibilidades de atuação profissional do(a) Psicólogo(a) permeiam esse campo e não tem a tradição de fazer uso dessas tecnologias, o presente projeto tem como pergunta de pesquisa: Quais são as percepções de psicólogos/as acerca das possibilidades de atuação profissional realizadas por meio das tecnologias de informação e comunicação? No tocante à relevância social da presente pesquisa, visto que a atual resolução entrou em vigor recentemente, sendo a realização de serviços psicológicos por meio das TICs um tema ainda polêmico que carece de esclarecimentos, o estudo poderá aumentar a visibilidade sobre esse tema que ainda é pouco discutido, como seguir de base para ações do Conselho Federal e Regional de Psicologia. Acredita-se que pode proporcionar maior compreensão sobre a realização dos serviços pelas TICs para os profissionais que atuam como para aqueles que não atuam. 8 Além dos aspectos sociais que envolvem a temática, há também os científicos. Foi realizada uma revisão bibliográfica nos meses de março e abril de 2018 nas bases de dados SciELO, PePSIC e Lilacs. Foram encontrados onze artigos pertinentes ao tema apresentado, ou seja, notou-se uma produção incipiente. A partir da leitura desses artigos, percebeu-se que cinco deles, abordavam questões referentes a realização de psicoterapia por meio das TICs, tais como: efetividade do tratamento, recursos, limites, relação terapêutica, protocolos para acompanhamento da psicoterapia pela internet, possibilidades de que modo a psicoterapia on- line pode ser oferecida no Brasil e que resultados podem ser esperados e como os psicólogos europeus e suíços estão utilizando esse formato de atendimento psicológico. Desta maneira, visto que dos artigos encontrados quase a metade deles possuem o foco na psicoterapia com a utilização das TICS, e poucas publicações buscaram conhecer a percepção de profissionais a respeito das possibilidades de atuação profissional através das TICs, é que se fez relevante pesquisar sobre o tema proposto, ao qual tem como objetivo geral conhecer as percepções de psicólogos(as) acerca das possibilidades de atuação profissional realizadas por meio das TICs. E, como objetivos específicos, de maneira a identificar quais as possibilidades de atuação profissional realizadas por meio das TICs conhecem, se já atuaram ou atuam, o que pensam acerca das possibilidades de atuação profissional, se percebem implicações e aspectos favoráveis e desfavoráveis nos serviços psicológicos realizados por meio das TICs. 2 MÉTODO Com o objetivo de conhecer as percepções de psicólogos(as) acerca das possibilidades de atuação profissional realizadas por meio das TICs, fez-se necessário uma pesquisa caracterizada como descritiva, de corte transversal, de natureza quantitativa, e com delineamento classificado como levantamento. Considerando que de acordo com o Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina – 12ª Região, o Estado possuía em abril de 2017, 11.534 psicólogos(as) com registro profissional ativo, a presente pesquisa almejava atingir aproximadamente uma amostra aleatória de 390 profissionais, considerando um erro amostral de ±5%, utilizando a amostragem aleatória simples. Mas participaram dessa pesquisa, 189 psicólogos(as) atuantes e residentes no Estado de Santa Catarina, que possuíam o registro no órgão profissional competente (CRP-12). Destes, 9 86,2% eram mulheres, e 13,8% homens. No que se refere a idade, 71,4% tinham entre 21 a 40 anos, e 85,7% concluíram a graduação em Psicologia no período de 2000 até 2018. Para que fosse possível alcançar os sujeitos da presente pesquisa, foi utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário on-line criado por meio da plataforma Google Forms. O questionário fez conferência aos objetivos geral e específicos bem como com a literatura utilizada como referencial teórico. Foi organizadocom doze perguntas fechadas, cinco perguntas abertas, e uma escala likert com onze itens que foram respondidos por meio das seguintes opções de respostas (1= totalmente discordo; 2= discordo; 3= nem concordo e nem discordo; 4= concordo e 5= completamente concordo). O instrumento de coleta de dados foi submetido a um pré-teste para sua validação. Após, concedida a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)7, deu- se início a coleta de dados. Inicialmente os participantes contatados foram os conhecidos da pesquisadora, e posteriormente buscou-se contato com os coordenadores dos cursos de Psicologia das Universidades do Estado para que enviassem aos seus egressos o instrumento de coleta. Também se fez a busca de institutos, espaços e comunidades relacionadas a psicologia como consultórios e listas de psicólogos(as), além de encaminhar aos indicados por colegas. O contato com os participantes foi realizado por meio do envio de e-mails e pelas redes sociais da pesquisadora. Após a coleta, os dados foram organizados no banco de dados Excell, com categorias determinadas a priori, considerando os objetivos específicos da pesquisa. Também tiveram categorias a posteriori, que emergiram das respostas às perguntas abertas. Nesse caso, foi realizada análise de conteúdo das respostas, de acordo com os procedimentos apresentados por Bardin (2011). Em seguida, todos os dados foram tabulados, e tratados de maneira quantitativa utilizando estatística descritiva. Posteriormente, os dados coletados foram representados na forma de gráficos e interpretados pela pesquisadora com base nas referências encontradas para a elaboração do estudo. Alguns dados representativos, serão apresentados no decorrer do texto. É importante ressaltar, que pela ausência de estudos de natureza quantitativa, utilizou-se estudos qualitativos para a discussão dos dados. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES 7 Número do Parecer de Aprovação: 2.814.384/2018 10 Serão apresentados inicialmente as informações referente a caracterização dos participantes do presente estudo, tais como idade, sexo, ano de formação, se obtiveram informações sobre os serviços psicológicos por meio das TICs durante o período de formação, se conhecem as possibilidades de atuação por meio das TICs, quais os serviços que conhecem, se já realizaram, nunca realizaram ou realizam atualmente os serviços, quais os serviços realizam/já realizaram e quais as TICs utilizadas. De acordo com Lhullier e Roslindo (2013)8, as mulheres representam 89% da atuação profissional na área de Psicologia no Brasil. Informação que corrobora os achados desta pesquisa, que contou com a grande maioria dos participantes do sexo feminino, sendo 86,2%. Apresentavam idade entre 21 a 30 anos (30,2%), 31 a 40 anos (41,3%), 41 a 50 anos (16,4%) e mais de 50 anos (12,2%). No que se refere à conclusão do curso de graduação em Psicologia, 4,76% (n=9) concluíram no período de 1967 até 1988, 9,52% (n=18) no período entre 1989 até 1999, 42,3% (n=80) no período de 2000 até 2011 e 43,4% (n=82) no período de 2012 até 2018, ou seja, as percepções apresentadas referem-se principalmente a de profissionais com menos de 20 anos de atuação profissional. Dos participantes, 64,6% indicaram que não tiveram informações sobre a realização de serviços psicológicos por meio das TICs durante o período de formação (graduação, pós- graduação, formações entre outros). Entretanto, 82,5% apontaram conhecer as possibilidades de atuação profissional por meio das TICs. Ao relacionar tais dados, é possível perceber que muitos participantes obtiveram informações sobre os serviços por meio das TICs de outras formas, possivelmente nas trocas com colegas de profissão, no contato com as atualizações das resoluções do Conselho Federal de Psicologia (CFP), ou seja, contextos não acadêmicos. Os dados apresentados vão ao encontro de os resultados do estudo de Feijó; Silva; Benetti (2018), realizado através de uma entrevista semiestruturada com 11 psicólogos(as) com especialização em nível de pós-graduação em psicoterapia de orientação psicanalítica, na qual os profissionais indicaram que não receberam a formação profissional apropriada, seja em nível de graduação ou pós-graduação para conduzir as tecnologias no contexto de prática clínica. Da amostra pesquisada 65,1% (n=123) dos participantes indicaram que nunca realizaram serviços psicológicos por meio das TICs. Destes 41,5% (n=51) disseram que tiveram conhecimento dos serviços psicológicos durante o período de formação (graduação, pós- graduação, formações entre outros). Entre os participantes desse grupo, 4,9% (n=6) responderam ter concluído a graduação em Psicologia no período de 1967 até 1988, 7,3% (n=9) 8 Com base nas informações cadastrais do Conselho Federal de Psicologia, pesquisa CFP 2012. 11 no período de 1989 até 1999, 37,4% (n=46) no período de 2000 até 2011 e 50,4 (n=62) no período entre 2012 até 2018. A média de idade desse grupo é de 35 anos. Logo, 19,6% (n=37) dos participantes, disseram já ter realizado os serviços. Destes, 21,6% (n=8) tiveram conhecimento dos serviços psicológicos durante o período de formação (graduação, pós-graduação, formações entre outros). Entre os participantes desse grupo, 5,4% (n=2) disseram ter concluído a graduação em Psicologia no período de 1967 até 1988, 13,5% (n=5) no período de 1989 até 1999, 48,6% (n=18) no período de 2000 até 2011, 32,4% (n=12) no período entre 2012 até 2018. A média de idade desse grupo é de 39 anos. Já aqueles que indicaram realizar atualmente os serviços, totalizam 15,3% (n=29) dos participantes. Destes 27,8% (n=8) tiveram conhecimento dos serviços psicológicos durante o período de formação (graduação, pós-graduação, formações entre outros). Referente ao ano de formação desse grupo, 3,4% (n=1) respondeu ter concluído a graduação em Psicologia no período de 1967 até 1988, 13,8% (n=4) no período de 1989 até 1999, 55,2% (n=16) no período de 2000 até 2011 e 27,6% (n=8) no período entre 2012 até 2018. A média de idade desse grupo é de 37 anos. Ao analisar os grupos acima, e possível observar que dos participantes que indicaram nunca ter realizado serviços psicológicos por meio da TICs, constatou-se que a maioria, 50,4% (n=62) concluíram a graduação em Psicologia no período de 2012 até 2018, o que pode ser um reflexo da falta de informação sobre essas possibilidades na formação atual dos psicólogos(as). Entre a maioria daqueles que afirmam já ter realizado os serviços, 48,6% (n=18) e, aqueles que realizam atualmente 55,2% (n=16), concluíram a graduação no período de 2000 até 2011, o que evidencia que o maior número de participantes que realizam/já realizaram serviços, possuem mais tempo de formação. Esses resultados, vão ao encontro de o estudo de Hallberg; Lisboa (2016), em uma pesquisa executada com 155 psicoterapeutas gaúchos, na qual os participantes que tinham entre cinco a 15 anos de prática clínica, eram os que mais realizam serviços psicológicos via internet com maior periodicidade. Ainda no que se refere aos grupos acima, os resultados apresentados demonstram que 34,9% dos participantes realizam/já realizaram serviços psicológicos por meio das TICs. A baixa adesão para realizar os serviços, corrobora o estudo de Hallberg, Lisboa (2016), em uma pesquisa executada com 155 psicoterapeutas gaúchos, 21,2% indicaram realizar/já ter realizado algum tipo de serviço psicológico via web. Considerando apenas o universo de 82,5% (n=156) dos participantes que indicaram conhecer as possibilidades de atuação por meio das TICs, 60,9% (n=95) nunca realizaram 12 serviços psicológicos por meio das TICs, 21,2% (n=33) já realizaram e 17,9% (n=28) realizam atualmente.Ao analisar tais informações com os dados relatados anteriormente, é possível observar, que a partir do momento que se tem conhecimento das possibilidades de atuação, aumentam os participantes que realizam os serviços. Nesse sentido, faz-se importante que as formações (graduação, pós-graduação, formações entre outros), passem a incorporar esse tema em seus currículos, uma vez que é uma possibilidade de atuação regulamentada do profissional de psicologia. No que se refere aos serviços psicológicos possíveis de serem realizados por meio das TICs que os participantes conhecem9, 75,7% citaram consultas e atendimentos psicológicos de maneira síncrona (quando o emissor está em contato “direto” com o receptor e vice-versa); 50,3% supervisão técnica dos serviços prestados por psicólogos(as); 42,9% os processos de seleção de pessoal; 24,3% utilização de instrumentos psicológicos; 22,8% consultas e/ou atendimentos psicológicos de maneira assíncrona (o emissor envia uma mensagem ao receptor e esse não a recebe no mesmo momento); e 15,9% não tem conhecimento dos serviços, conforme é possível verificar no gráfico 1. Fonte: Elaboração da autora, 2018. Ao examinar o grupo de participantes que realizam/já realizaram serviços psicológicos por meio das TICs, 48,1% (n=39) fazem psicoterapia, 18,5% (n=15) métodos de avaliação psicológica (entrevista de seleção; aplicação e/ou correção de testes), 14,8% (n=12) orientação psicológica, 9,9% (n=8) supervisão on-line e 8,6% (n=7) não especificou claramente, conforme apresentados no gráfico 2, a seguir. 9 Nesse item, era possível que o participante respondesse mais de uma alternativa. 75,7 22,8 42,9 24,3 50,3 15,9 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 Consultas e/ou Atendimentos Psicológicos de maneira síncrona Consultas e/ou Atendimentos Psicológicos de maneira assíncrona Processos de Seleção de Pessoal Utilização de Instrumentos psicológicos Supervisão técnica dos serviços prestados por psicólogos(as) Não tenho conhecimento dos serviços Gráfico 1 - Serviços Psicológicos realizados por meio das TICs que os participantes conhecem 13 Fonte: Elaboração da autora, 2018. Ao examinar o item “Com que frequência você realiza/realizou serviços psicológicos por meio das TICs” dos 66 participantes que responderam, 47% (n=31) disseram ser diariamente ou semanalmente, 33,3% (n=22) raramente ou eventualmente, 10,6% (n=7) quinzenalmente ou mensalmente, e 9,9% (n=6) não informaram a frequência. Os dados apresentam que entre aqueles que realizam/já realizaram serviços psicológicos, prestam com maior regularidade. Dos 15,3% (n=29) participantes que indicaram realizar atualmente serviços psicológicos por meio das TICs, e 19,6% (n=37) daqueles que já realizaram, somente 39,4% (n=26) explicitaram possuir o cadastro específico no site do CRP para esse tipo de serviço, sendo este obrigatório para a prestação dos serviços psicológicos por meio das TICs de acordo com a resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 011/2018. E, um número ainda menor, 16,7% (n=11) responderam que possuem site exclusivo para fazer a divulgação dos serviços, sendo esse obrigatório10 conforme a resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 011/2012 ainda vigente no período da realização do presente estudo. É importante ressaltar que no grupo de participantes que indicaram realizar atualmente os serviços psicológicos por meio das TICs, 72,4% (n=21) não tiveram informações sobre a realização dos serviços ao longo da sua formação. Destaca-se também que não há muita literatura científica publicada sobre a prestação 10 Conforme a Resolução do Conselho Federal de Psicologia Nº 011/2012 “Art. 2º. Quando os serviços psicológicos referentes à presente resolução forem prestados regularmente pelo profissional, este está obrigado à realização de cadastramento desses serviços no Conselho Regional de Psicologia no qual está inscrito. Para realizar este cadastro o profissional deverá manter site exclusivo para a oferta dos serviços psicológicos na internet com registro de domínio próprio mantido no Brasil e de acordo com a legislação brasileira para este fim”. 48,1 14,8 8,6 18,5 9,9 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 Psicoterapia Orientação Psicológica Não especificou claramente Métodos de avaliação psicológica (entrevista de seleção; aplicação e correção de testes) Supervisão Online Gráfico 2 - Serviços psicológicos que os participantes realizam/já realizaram 14 de serviços por meio das TICs, como também as tecnologias altamente acessíveis são novas, o que pode ser um fator pelo pouco conhecimento dos profissionais. Além disso, é importante ressaltar que 82% dos participantes da pesquisa consideram necessário ter um procedimento orientativo por parte do órgão regulador da profissão, o Conselho Regional de Psicologia (CRP), para a prestação de serviços psicológicos por meio das TICs. O que demonstra que os profissionais ou não acompanham ou não consideram suficientes as diretrizes apresentadas nas resoluções. Ainda nessa mesma direção, constata-se que 51,7% dos participantes que realizam atualmente serviços psicológicos, consideram que é “necessário” e “totalmente necessário” um treinamento/qualificação para realizar serviços psicológicos por meio das TICs. Isso revela que cerca de metade dos profissionais que estão prestando esses serviços, apresentam grande desconhecimento sobre as possibilidades de atuação por meio das TICs. Os dados apresentados vão de encontro com o estudo de Pinhatti, Pieta (2011), realizado com seis psicoterapeutas de diferentes abordagens através de entrevistas semiestruturadas. Estes relataram que não possuem uma definição clara do que é, como indicaram ser necessário parâmetros para a prática. Dos participantes que acham que é “necessário” 67,8% e “totalmente necessário” 75,9% um treinamento/qualificação para realizar serviços psicológicos por meio das TICs, nunca realizaram serviços. Já para os participantes em que é “desnecessário” 35,7% ou “totalmente desnecessário” 28,6%, já realizaram serviços. Para aqueles que possuem dúvidas se é necessário um treinamento ou qualificação 33,3% realizam serviços atualmente. Dado esse que pode ser explicado devido a atual e última resolução sobre a realização dos serviços psicológicos entrar em vigor no dia 10 de novembro de 2018. Dentre os participantes que nunca realizaram serviços psicológicos por meio das TICs, 30,1% (n=37) disseram ter “dúvidas” para realizar e 26,8% (n=33) disseram se sentir “totalmente despreparados”. Dos participantes que já realizaram os serviços, 45,9% (n=17) se sentem “preparados”, e entre os que realizam atualmente, 55,2% (n=16) se sentem “totalmente preparados”. Tais dados indicam que apenas metade dos profissionais que realizam/já realizaram os serviços psicológicos se sentem preparados ou totalmente preparados. Ou seja, muitos profissionais estão prestando serviços psicológicos sem se sentirem totalmente preparados, o que poderá ocasionar consequências éticas e práticas nos serviços realizados. Já 94,3% dos participantes que se sentem “totalmente despreparados” para realizar serviços psicológicos por meio das TICs, nunca realizaram. Por outro lado, nenhum dos participantes que realizam atualmente os serviços se sentem “totalmente despreparados”. Essas 15 informações evidenciam, que a grande maioria daqueles que realizam os serviços psicológicos por meio das TICs, se sentem “totalmente preparados” para realizar os serviços, diferente daqueles que nunca realizaram. Provavelmente essa preparação ocorreu no desenvolvimento da própria prática profissional. Entre os participantes que realizam/já realizaram serviços psicológicos por meio das TICs11,55,3% (n=63) utilizam/já utilizaram aplicativos como Skype, WhatsApp e FaceTime, 21,9% (n=25) aparelhos telefônicos, 13,2% (n=15) plataformas digitais, 8,8% (n=10) websites e 0,9% (n=1) e-mail, como é possível verificar no gráfico 3. Fonte: Elaboração da autora, 2018. Visto isso, é possível identificar que as TICs que os participantes mais utilizam/já utilizaram para realizar os serviços, são os aplicativos (Skype, WhatsApp e Face Time). No próximo capítulo, serão apresentadas as percepções de psicólogos(as) frente as TICs. 3.2 PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS(AS) FRENTE AS TICS QUE VIABILIZAM E INVIABILIZAM A REALIZAÇÃO DE SERVIÇOS PSICOLÓGICOS Serão apresentadas a seguir, as percepções de psicólogos(as) frente às TICs dos três grupos de participantes, os que nunca realizaram os serviços psicológicos, os que já realizaram e os que realizam atualmente. Ao analisar a amostra da pesquisa, no item “Você acha que há implicações éticas nos serviços psicológicos realizados por meio das TICs”, 80,4% consideram que há. Esse alto índice 11 Nesse item, era possível que o participante respondesse mais de uma alternativa. 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 Aplicativos (Skype, WhatsApp, FaceTime) Aparelhos Telefônicos Plataformas Digitais Websites E-mail 55,3 21,9 13,2 8,8 0,9 Gráfico 3 - TICs utilizadas para realizar os serviços psicológicos pelos participantes que realizam/já realizaram 16 de participantes que consideram que há implicações, vão ao encontro de os resultados do estudo de McMinn e outros (2011 apud HALLBERG; LISBOA, 2016). Ao perguntar para 296 psicólogos norte-americanos sobre o uso das TICs no campo da clínica, localizou-se uma elevada preocupação ética quanto ao uso dessas ferramentas no campo profissional. Dos participantes que consideram existir implicações éticas, 59,2% (n=90), acreditam que as questões que apresentam risco são relativas a manter o sigilo. Entre esses, alguns participantes apresentaram inseguranças especificas como invasão de hackers, vazamento de informações pela internet, risco de exposição do sujeito, entre outros. No item referente a qualidade do sigilo nos serviços psicológicos realizados por meio das TICs, 58,6% dos participantes que nunca realizaram os serviços consideram que a qualidade do sigilo on-line é “diferente” ou “totalmente diferente” da qualidade presencial. No entanto para quem já realizou, 54% consideram que a qualidade do sigilo é “parecida” ou “totalmente igual”. Entre os que realizam atualmente, 62,1% consideram que é “parecido” ou “totalmente igual”. A qualidade do sigilo on-line é “diferente” da qualidade presencial para 72,6%, ou “totalmente diferente” para 90% dos participantes que nunca realizaram serviços psicológicos por meio das TICs, e 77,1% desse grupo possuem “dúvidas” se a qualidade é semelhante. No entanto, a qualidade do sigilo on-line é “parecida” para 37,9% ou “totalmente igual” para 27,3% dos participantes que já realizaram os serviços. É “parecida” para 13,8% e “totalmente igual” para 42,4% de quem realiza atualmente. Sobre as implicações éticas, 25,7% (n=39) consideram uma implicação garantir um local e ferramentas adequadas para os atendimentos. É importante ressaltar que não basta a escolha do local pelo profissional que atende. O sujeito que está sendo atendido também precisa ter cuidados em relação a isso, para que não haja interferência e quebra do sigilo. Para isso, o profissional pode orientar na escolha do local de atendimento. Ainda sobre as implicações éticas, 6,6% (n=10) consideram a necessidade de habilitação para prestar serviços psicológicos on-line, e 9,9% (n=15) que os serviços psicológicos on-line não estão claramente previstos no código de ética. Esses dados indicam, a necessidade de formação e de acompanhamento dos profissionais referente as atualizações de resoluções do Conselho Federal de Psicologia. E por fim, 2% (n=3) disseram que uma implicação é o profissional agir de forma inadequada, e 7,9% (n=12) indicaram ser as mesmas do atendimento presencial, o que evidencia 17 que as implicações mencionadas, não se referem ao uso da TICs, mas sim a própria conduta do psicólogo(a). Houve 19,1% (n=29) que não especificaram claramente, conforme o gráfico 4. Fonte: Elaboração da autora, 2018. Ao segmentar apenas o grupo de participantes que realizam atualmente serviços psicológicos por meio das TICs, 72,4% (n=21) consideram que há implicações éticas. E entre os que já realizaram 91,9% (n=34) consideram que há. McMinn e outros (2011 apud HALLBERG; LISBOA, 2016) assinala que na atualidade a grande maioria dos clínicos, parece experimentar dúvidas no que se refere à utilização ética apropriada das inúmeras possibilidades de tecnologias no dia a dia profissional. Entre os 66 participantes que realizam/já realizaram, 83,3% (n=55) consideram que existem implicações éticas nos serviços psicológicos realizados por meio das TICs. Tais quais: sigilo (n=30), garantir local adequado para atendimentos (n=17), os serviços psicológicos on- line não estão claramente previstos no código de ética (n=10), garantir ferramenta adequada para atendimentos (n=7). necessidade de habilitação para prestar serviços psicológicos on-line (n=6), as mesmas do atendimento presencial (n=6), não especificou (n=7). No que se refere às implicações práticas, 76,7% dos participantes consideram que prestar serviços por meio das TICs apresentam implicações práticas. No estudo de Feijó; Silva; Benetti (2018), realizado através de uma ficha de dados sociodemográficos e uma entrevista semiestruturada com 11 psicólogos(as) com especialização em nível de pós-graduação em psicoterapia de orientação psicanalítica, relataram algumas implicações práticas relacionadas 19,1 6,6 2,0 6,6 7,9 59,2 19,1 9,9 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 Garantir local adequado para atendimentos Garantir ferramenta adequada para atendimentos Profissional agir de forma inadequada Necessidade de habilitação para prestar serviços psicológicos online As mesmas do atendimento presencial Sigilo Não especificou claramente Os serviços psicológicos online não estão claramente previstos no código de ética Gráfico 4 - Implicações Éticas 18 ao uso do aplicativo de mensagens WhatsApp no campo clínico, tais como, ser uma comunicação invasiva e ilimitada, quando os pacientes mandam mensagens no final de semana. Além disso, alguns disseram gerar uma forma instantânea de comunicação, como se o terapeuta estivesse que estar presente e acessível a todo momento para o paciente. Outros participantes relataram desconforto com solicitações de amizades por meio do Facebook. Na presente pesquisa, entre os participantes que acreditam que há implicações práticas, 24,8% (n=36) citaram como dificuldade prática a impossibilidade do contato físico, 24,1% (n=35) a dificuldade no estabelecimento de vínculo/aliança terapêutica/transferência, 22,1% (n=32) a impossibilidade da observação da postura e linguagem corporal e 17,9% (n=26) possíveis problemas com os recursos utilizados para o atendimento, tais como, conexão da internet e qualidade do vídeo. Foram apontadas implicações práticas positivas, que viabilizam a realização dos atendimentos, na qual 7% (n=10) dos participantes consideram que é uma facilidade de acesso ao atendimento, e 4% (n=6) que é uma possibilidade de atingir mais pessoas, disseminando a Psicologia. Houve mais implicações, que estão descritas no gráfico 5. 19 Fonte: Elaboração da autora, 2018. No que se refere à qualidade da comunicação nos serviçospsicológicos on-line, para quem nunca realizou serviços psicológicos, 61% consideram a qualidade da comunicação on- line “diferente” ou “totalmente diferente”. Para quem já realizou, 54% consideram “diferente” ou “totalmente diferente”. No entanto, quem realiza atualmente os serviços, 51,7% consideram que a qualidade da comunicação on-line é “parecida” ou “totalmente igual” com a presencial. Já a qualidade da comunicação on-line é “diferente” para 67,6% ou “totalmente diferente” para 83,3% da qualidade presencial, para os participantes que nunca realizaram 6,9 4,1 4,1 3,4 6,2 1,4 15,9 2,1 4,1 3,4 1,4 4,8 4,8 4,1 17,9 6,9 24,8 22,1 5,5 24,1 6,2 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 Facilidade de acesso ao atendimento Possibilidade de atingir mais pessoas, disseminando a Psicologia Necessidade de habilitação para prestar serviços psicológicos online Impacto na efetividade do trabalho Desvalorização dos atendimentos (do ponto de vista financeiro e social) Mesma implicações do atendimento presencial Não especificou claramente Dificuldades no diagnóstico/devolutiva Necessidade de familiaridade do psicólogo com as tecnologias Nem todos os sujeitos podem ser atendidos de forma online Dificuldades no diagnóstico/devolutiva Especificidade do contrato de trabalho Necessidade de conhecimento sobre a legislação específica Dificuldades na utilização de resursos práticos Possíveis problemas com os recursos utilizados para o atendimento (conexão da internet e qualidade do vídeo) Possíveis problemas de comunicação Impossibilidade do contato fisico Impossibilidade da observação da postura e linguagem corporal Emissão/Registro de documentos decorrentes dos atendimentos online Dificuldades no estabelecimento de vínculo/aliança terapêutica/transferência Limitações no acolhimento Gráfico 5 - Implicações Práticas 20 serviços psicológicos. É “parecida” para 21,9% ou “totalmente igual” para 23,1% de quem já realizou. É “parecida” para 25% ou “totalmente igual” para 53,8% de quem realiza atualmente. Os dados demonstram que mais da metade dos profissionais que realizam atualmente os serviços, consideram que a qualidade da comunicação on-line é totalmente igual. No entanto, para aqueles que já realizaram, apenas menos de um quarto dos participantes consideram que é totalmente igual, o que pode ser devido a ter acontecido algumas dificuldades relacionadas as ferramentas utilizadas, tais como, conexão da internet e qualidade do vídeo. Ao segmentar apenas o grupo de participantes que realizam atualmente serviços psicológicos por meio das TICs, 72,4% (n=21) consideram que há implicações práticas. Entre os que já realizaram, 83,8% (n=31) consideram que há. Ao verificar os dados, é possível observar um expressivo número de participantes que considera que há implicações, o que evidencia que é importante que o Conselho Federal de Psicologia verifique tais informações, para que não haja perdas aos sujeitos atendidos relativas aos serviços prestados. As implicações mencionadas, seguiram a tendência do grupo de participantes no todo. Tais implicações, vão ao encontro de Barak e outros (2008 apud PIETA, GOMES 2014). Segundo os autores, no início da psicoterapia pela internet, há mais de uma década, haviam preocupações quanto ao regulamento da prática, e considerações sobre a necessidade de treinamento dos terapeutas para a nova modalidade psicoterápica. Ao analisar a grande maioria dos três grupos de participantes, 42,3% dos que nunca realizaram os serviços, 35,1% dos que já realizaram e 27,6% dos que realizam atualmente, consideram a qualidade da relação terapêutica on-line é “diferente” da qualidade presencial. Os dados apresentam, que a medida em que o profissional realiza os serviços, ele passa a considerar a qualidade da relação mais parecida com a presencial. De acordo com Pieta, Gomes (2014, p. 22) “É de se esperar que essa relação, na sua forma on-line, difira qualitativamente de sua versão presencial. No entanto, pesquisas têm apontado semelhanças entre ambas”. Já no item referente a qualidade do vínculo terapêutico on-line, 69,1% dos participantes que nunca realizaram serviços psicológicos por meio das TICs, consideram que é “diferente” ou “totalmente diferente” da qualidade presencial. Entre os participantes que já realizaram, 54% disseram que é “diferente” ou “totalmente diferente”. Para quem realiza atualmente os serviços, 55,2% consideram que a qualidade do vínculo on-line é “parecido” ou “totalmente igual” com a qualidade presencial. A qualidade do vínculo terapêutico on-line é “diferente” da qualidade do vínculo presencial para 69,9% ou “totalmente diferente” para 87% dos participantes que nunca 21 realizaram serviços psicológicos por meio das TICs. Já a qualidade do vínculo é “parecida” para 30,3 ou “totalmente igual” para 50% dos participantes que realizam atualmente os serviços. Os dados evidenciam que um expressivo número de participantes que realizam os serviços considera ser muito semelhante o vínculo on-line do vínculo presencial, diferente de quem nunca realizou. Essa diferença de opinião, pode ser devido à experiência de realização dos serviços na prática profissional. Os dados apresentados, vão ao encontro de o estudo de Pinhatti, Pieta (2011) realizado com seis psicoterapeutas de diferentes abordagens através de entrevistas semiestruturadas. Estes avaliam a psicoterapia on-line como diferente da presencial no que se refere ao vínculo. Para quem nunca realizou serviços psicológicos por meio das TICs, 57,7% consideram que a qualidade da escuta on-line é “diferente” ou “totalmente diferente” da qualidade presencial. Para aqueles que já realizaram, 45,9% consideram que é “diferente” ou “totalmente diferente”. Para os que realizam atualmente, 72,4% consideram que a qualidade da escuta é “parecida” ou “totalmente igual” à qualidade presencial. Ao relacionar tais dados, constata-se que o grupo de participantes que já realizaram os serviços e os que realizam atualmente, possuem opiniões divergentes referente a qualidade da escuta, o que pode ser, devido àqueles que já realizaram ter passado por dificuldades na realização dos serviços. A qualidade da escuta on-line é “diferente” para 71,2% ou “totalmente diferente” para 85,7%, da qualidade presencial para aqueles que nunca realizaram serviços psicológicos. No entanto, a qualidade da escuta on-line é “parecida” para 22,5% ou “totalmente igual”52,2% da qualidade presencial para os participantes que realizam atualmente os serviços. Ao analisar nos três grupos o maior número de respostas, no item referente a qualidade do acolhimento nos serviços psicológicos on-line, para aqueles que nunca realizaram serviços psicológicos por meio das TICs, 64,2% consideram a qualidade “diferente” ou “totalmente diferente”. Para quem já realizou, 51,4% consideram “diferente” ou “totalmente diferente”. E para quem realiza atualmente, 31% possuem dúvidas se a qualidade do acolhimento on-line é semelhante a qualidade presencial. O expressivo número de participantes que realizam atualmente os serviços e consideram possuir dúvidas quanto à qualidade do acolhimento, evidencia que muitos estão realizando os serviços, sem uma total segurança na realização. Ao examinar, o item que se refere à qualidade da eficiência das intervenções on-line 51,3% de que nunca realizou os serviços consideram que a eficiência é “diferente” ou “totalmente diferente”, e 48,6% de quem já realizou concordam. Já para 68,9% de quem realiza atualmente, consideram a qualidade “parecida” ou “totalmente parecida” com as intervenções 22 face a face. Os dados apresentados, indicam que aqueles que nunca realizaram e aqueles que já realizaram, possuem opiniões muito semelhantes, o que pode ser devido àqueles que já realizaram terem encontrado dificuldades na realizaçãodos serviços, pois segundo Eg. e outros (2010 apud LOPES; BERGER, 2016), há um forte corpo de evidências que demonstra a eficiência das intervenções psicológicas baseados em tecnologias de comunicação, como por exemplo a internet, para problemas e distúrbios psicológicos e de saúde. Referente as qualidades mencionadas anteriormente, relativo a prestação de serviços psicológicos por meio das TICs, ressalta-se que conforme o Código de Ética Profissional do Psicólogo(a) (2005, p. 08), é de responsabilidade do(a) psicólogo(a), conforme o Art. 1º, alínea c): “prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços [...]”. Já a eficiência das intervenções on-line é “diferente” para 70,5% ou “totalmente diferente” para 90,9% dos participantes que nunca realizaram serviços psicológicos por meio das TICs. É “diferente” para 26,2% e “totalmente diferente” para 9,1% de quem já realizou. É “parecida” para 34,1% ou “totalmente igual” para 55,6% de quem realiza atualmente. Para alguns autores, como Andersson e outros (2013); Berger e outros (2011); Berger e Andersson, (2013); Spek e outros, (2007) (apud LOPES e BERGER, 2016), a eficiência destas intervenções é semelhante às intervenções face a face para os mesmos problemas, apesar de que a pesquisa sobre esta questão tenha sido executada extensivamente em alguns países, no Brasil ela está em sua infância. (PIETA E GOMES 2014 apud LOPES E BERGER, 2016). No que se refere às TICs auxiliar em a oferta de atendimento psicológico para aqueles que não podem frequentar regularmente os serviços presenciais, 68,3% de quem nunca realizou os serviços, 89,2% daqueles que já realizaram concordam, e 100% de quem realiza atualmente, consideram que as TICs “auxiliam” e “são fundamentais” na oferta de atendimento psicológico. Os resultados apresentados, demonstram que mesmo aqueles que nunca realizaram os serviços, mais da metade consideram que as TICs auxiliam e são fundamentais na oferta de atendimento psicológico. Já entre aqueles que realizam, a unanimidade dos participantes considera. Donnamaria e Terzis (2011) relatam que as tecnologias de comunicação a distância com a internet possibilitaram uma nova modalidade de atendimento psicológico para aqueles sujeitos que por algum motivo não poderiam frequentar regularmente os serviços de forma presencial, como por exemplo os emigrados que não estão familiarizados com o idioma do novo país, viajantes, pessoas com dificuldades de locomoção, moradores de áreas rurais. 23 Ao analisar a grande maioria dos três grupos de participantes, no item referente as TICs servir como um instrumento para a prática da Psicologia, 63,4% dos participantes que nunca realizaram, 91,9% de quem já realizou e 96,6% daqueles que realizam atualmente consideram que as TICs “servem” e “são fundamentais” como um instrumento para a prática da Psicologia. Os dados evidenciam que mais da metade dos participantes que nunca realizaram os serviços, e quase a totalidade daqueles que realizam/já realizaram indicaram que as TICs podem ser um instrumento para a atuação profissional. Os resultados apresentados corroboram a pesquisadora Nicolaci-da-Costa (2005 apud SIEGMUND, LISBOA, 2015) que relata que a internet pode servir como um instrumento para a prática da Psicologia. Dessa maneira, é possível verificar que a maior parte dos participantes consideram que as TICs podem servir como um instrumento para a prática profissional do psicólogo. Os dados apresentados demonstram que os participantes que nunca realizaram os serviços psicológicos por meio das TICs e os que já realizaram, percebem que a qualidade da comunicação on-line, sigilo, acolhimento, vínculo, escuta, e a eficiência das intervenções são “diferentes” ou “totalmente diferentes” da qualidade presencial. Entretanto, entre aqueles que realizam atualmente os serviços, consideram “parecido ou totalmente igual”, exceto a qualidade do acolhimento, que este grupo possui dúvidas se é “semelhante” a presencial. Foi possível verificar, que a maioria dos participantes dos três grupos consideram que a qualidade da relação terapêutica é “diferente” da qualidade presencial. A maior parte dos participantes dos três grupos, consideram que as TICS “auxiliam” e “são fundamentais” na oferta de atendimento psicológico àqueles que não podem frequentar regularmente os serviços presenciais. E ainda nesse sentido, a maioria dos participantes de cada grupo, consideram que as TICs “servem” e “são fundamentais” como um instrumento para a prática da Psicologia. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve como objetivo geral conhecer as percepções de psicólogos/as acerca das possibilidades de atuação profissional realizadas por meio das TICs e, como objetivos específicos, buscou identificar quais as possibilidades de atuação profissional realizadas por meio das TICs os psicólogos(as) conhecem, se já atuaram ou atuam, o que pensam acerca das possibilidades de atuação profissional, se percebem implicações e aspectos favoráveis e desfavoráveis nos serviços psicológicos realizados por meio das TICs. 24 Nesse sentido, os resultados demonstraram que a maior porcentagem dos participantes nunca realizaram serviços psicológicos por meio das TICs. Constatou-se que a maioria destes, concluíram a graduação em Psicologia no período de 2012 até 2018, e que a baixa adesão para realizar os serviços, pode ser um reflexo da falta de informação sobre as possibilidades de atuação na formação atual dos psicólogos(as). Os participantes desse grupo, consideram que a qualidade do sigilo, comunicação, relação terapêutica, vínculo, escuta, acolhimento, eficiência das intervenções, são sempre diferentes ou totalmente diferentes da qualidade presencial. No entanto, indicaram que as TICs servem e são fundamentais como um instrumento para a prática da Psicologia, como auxiliam e são fundamentais na oferta de atendimento psicológico àqueles que não podem frequentar regularmente os serviços presenciais, o que demonstra que mesmo não realizando os serviços por meio das TICs, acreditam que elas podem ser um instrumento da prática profissional. Neste sentido, foi possível identificar que entre os serviços psicológicos que a maior parte dos participantes indicaram conhecer são as consultas e/ou atendimentos psicológicos de maneira síncrona e entre aqueles que realizam/já realizaram a grande maioria indicou que faz psicoterapia on-line. Referente aos participantes que já realizaram os serviços, observou-se que consideram a qualidade do sigilo, comunicação, relação terapêutica, vínculo, escuta, acolhimento, eficiência das intervenções muito semelhantes ao grupo que nunca realizou, ou seja, diferentes ou totalmente diferentes da qualidade presencial. Se estes profissionais não estão mais realizando atualmente os serviços e tem essa percepção, esse grupo de participantes pode ter enfrentado dificuldades nos atendimentos via TICs e optaram por não mais atender. E no que se refere ao grupo de participantes que realizam atualmente os serviços, percebe-se que estes consideram a qualidade do sigilo, comunicação, vínculo, escuta e eficiência das intervenções parecida ou totalmente parecida. No entanto, em relação à qualidade da relação terapêutica a grande maioria indicou que é diferente, e no que se refere ao acolhimento a maior parte possui duvidas se é semelhante. Observou-se também que 51,7% dos participantes que realizam atualmente serviços psicológicos, consideram que é “necessário” e “totalmente necessário” um treinamento/qualificação para realizar serviços psicológicos por meio das TICs. Nesse sentido, os dados indicam que parece ser necessário que haja ações orientativas por parte do Conselho de Psicologia, tanto em âmbito nacional como estadual para a realização dos serviços, visto quesomente 35,4% dos participantes da pesquisa disseram que tiveram informações sobre a 25 realização de serviços psicológicos por meio das TICs durante o período de formação (graduação, pós-graduação, formações entre outros). Ressalta-se que as resoluções estão atualizadas e disponíveis no site do Conselho Regional de Psicologia (CRP-12), e cabe ao profissional buscar informações. Ainda neste sentido, é importante que esse tema tenha espaço nos currículos dos cursos de graduação, uma vez que é uma atividade regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia, e ainda é um assunto polêmico que gera inúmeras dúvidas. Um grupo expressivo de participantes relatou que percebe algum tipo de implicação prática ou ética na prestação de serviço psicológico por meio de TICs. Entre os participantes que consideram existir implicações éticas, a maior parte acredita que as questões que apresentam risco são relativas a manter o sigilo. Referente as implicações práticas, as dificuldades mais citadas foram a impossibilidade do contato físico e a dificuldade no estabelecimento de vínculo/aliança terapêutica/transferência. Foram apontadas implicações práticas positivas, que viabilizam a realização dos atendimentos, sendo uma facilidade de acesso ao atendimento, e que é uma possibilidade de atingir mais pessoas, disseminando a Psicologia. No processo de construção da presente pesquisa, existiram dificuldades referentes a coleta de dados pelos meios formais, no que se refere a utilização do e-mail. Notou-se que a partir do momento em que o instrumento foi enviado pelas redes sociais da pesquisadora, houve mais aderência. É importante ressaltar, que inicialmente se tinha a pretensão de conseguir um número de 390 respostas para que fosse estatisticamente representativo. Mas diante da baixa adesão dos participantes e do pouco tempo para conclusão da pesquisa não foi possível conseguir esse número. E, para continuidade da construção do conhecimento, sugere-se realizar novos estudos com profissionais de abordagens e métodos distintos, tanto em nível nacional como estadual no intuito de investigar as suas percepções sobre o tema. Também, sugere-se realizar estudos com os sujeitos atendidos com o objetivo de averiguar as suas percepções referentes ao uso das TICs. REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Cadastro e-Psi. Termos. Disponível em: < https://e-psi.cfp.org.br/termo/>. Acesso em: 08. dez. 2018. https://e-psi.cfp.org.br/termo/ 26 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, agosto, 2005. 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