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( ( ( Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais Vol.11 o PROCEsso DE ATENDIMENTO s1sTÊM1co TOMO 1 ( Juliana Gontijo Aun Maria José Esteves de Vasconcellos Sônia Vieira Coelho mico de Famílias e Red~s Sociais 50 DE ATENDIMENTO SIST!MICO ár as, atuando em diferentes contextos. v z mais, com situações em que se torna t nd r familias, como atendê-las inseridas em m nto ,stêmico de Famílias e Redes Sociais - numa seqüência coerente e integrada, textos r o d profissionais de diferentes áreas de h r t ndimentos de famílias e de redes sociais. r v lum volume 1 - Fundamentos Teóricos e EOllllf'n,01i,101cc:,s. volum li O Processo de Atendimento Sistémico r tica , t~micas Novo-paradigmóticas. rlva da prática das autoras e tem sido amplamente r u alunos na fundamentação e realização de d t nd1mcnto sistêmico: de uma familia ampliada, r m orno do problema de uma familia, da rede em torno pr bl ma d várias familias, de grupos multifamiliares cm torno um pr I ma comum - que vêm sendo utilizados com sucesso. t 1s como adoção, guarda compartilhada, educação sexual, a 1ntra-fam1har, socialização de crianças e jovens, drogadicção, fnmento mental, prematuridade, assentamento de familias. ln tu o social, presença de portador de HN na familia etc. ~m ndo abordadas em variados contextos: hospitalar, judiciário, lar, comunitário ... O uso desse material contribuirá também para habilitar os profissionais não só para compreender e atuar sistemicamente, como para integrar equipes transdisciplinares de atendimento. Assim, certamente facilitará a professores e alunos essa longa travessia da mudança de paradigma que traz questionamentos. rd1cxões, revisões e que implica em sofridas perdas e prazerosos ganhos. Neste segundo volume, já começando a se preparar para a realização das práticas sistêmicas novo-paradigmáticas, os leitores encontrarão: - uma explicitação de como as autoras concebem o processo de atendimento sistêmico de famílias e redes sociais: a concepção do sistema a ser atendido, a nova identidade do profissional, a constituição de equipes de atendimento e os passos distinguidos nesse processo de atendimento; - uma breve exposição de alguns recursos teóricos e instrumentais para a c:omprcensão e o atendimento do sistema familiar- dcsenYoMdos em outros contextos de prática - de que o profi$ional sistemico novo- paradigmático poderá se utilizar no atendimento sistêmico de familias e redes sociais: recursos desenvolvidos pelas abordagens transgcracional, estrutural e comunicacional do sistema familiar. Atendimento Sistêmico de Familias e Redes Sociais v. II - O processo de atendimento sistêmico TOMOI Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais v. II - O processo de atendimento sistêmico TOMOI Juliana Gontijo Aun Maria José Esteves de Vasconcellos Sônia Vieira Coelho Ophicina de Arte & Prosa Belo Horizon te - 2007 www.equipsis.com.br tcndim ·nt isrêmico de Famílias e Redes Sociais v. 2 - pr cesso de atendimento sistêmico pyright 2007 by JuLiana Gontijo Aun, Maria José Esteves de VasconceUos, Sônia Vieira Coelho. Direitos reservados para a língua portuguesa: Juliana Gontijo Aun, Maria José Esteves de Vasconcellos, Sônia Vieira Coelho. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados, sem a permissão, por escrito, das Autoras. Capa: Danielle Parentoni Diagramação: Objeto de Arte Design Editorial Revisão: Rachel Kopit Cunha juLiana@aun.psc.br estevasc@terra.com. br soniavcoelho@terra.com.br equipsis@equipsis.com.br - www.equisis.com.br A926a 2007 Ophicina de Arte & Prosa Editores: Rachel Kopit - Fernando Poetta (31) 9128-7441 - 9197-1589 Aun,Juliana Gontijo Atendimento sistémico de famílias e redes sociais / Juliana Gontijo Aun, Maria José Esteves de Vasconcellos, Sônia Vieira Coelho. - Belo Horizonte: Ophicina de Arte & Prosa, 2007. - (v.2., t.1. O processo de acendimento sistêmico) 216p. ISBN: 978-85-88750-31-9 1. Acendimento de familia. 2. Escudo da família. 3. Epistemologia sistémica. 4. Pensamento siscêm.ico novo-paradigmático. 5. Política social. 6. Redes sociais. 1. Aun, J uLiana G. II Vasconcellos, Macia José Esteves de. 111 . Coelho, Sônia Vieira .. Titulo. CDU: 364.044.24 SUMÁRIO Apresentação ................. .... ...... .................. ........................................... ......... .. .... ...... 7 TOMO I - O PROCESSO DE ATENDIMENTO SISTÊMICO DE FAMÍLIAS E REDES SOCIAIS • Introdução ................ ... ........ .... ........ .................... ..... ........... ... .. ... .... ..... ........ .... .. 11 • Familia como sistema, sistema mais amplo que a familia, sistema determinado pelo problema - Juliana Gonttjo Aun, Maria José Esteves de Vasconce//os, Sónia Vieira Coelho ................................ ... ...... .. ...... ... ... 13 • Uma nova identidade para o profissional que lida com as relações humanas: o especialista em atendimento sistêrnico - Juliana Gontjjo A un ........ ............ ....... ..... ...... .................................. .. ................... 38 • O profissional novo-paradigmático, sua prática, sua ética - Maria José Esteves de Vasconce//os .. ...... ..... ....... ................................... ....... .. ........ 61 • Valores: questões para a reflexão do profissional novo-paradigmático - Maria José Esteves de Vasconcellos ................................................................... 84 • A questão da equipe interdisciplinar - Sónia Vieira Coelho .. ..................... ... 89 • Pensando uma equipe interdisciplinar como um sistema: a partir do pensamento sistêmico novo-paradigmático - Juliana GontijoA1111 ......... 118 • O processo de atendimento sistêrnico: passos para sua realização Juliana Gontijo A11n ..... .... .... ............ ........ ............. ........ .... .. ..... ............... .. ........ 138 • A distinção do problema, no lugar do diagnóstico - Juliana Gontijo Aun .... .... .. ... .. .................................. ... .. ............................ ... ..... 188 Referências bibliográficas .. .. .......... .... ............................................ ... ...... .... ......... 207 SUMÁRIO DO TOMO II RECURSOS TEÓRICOS E INSTRUMENTAIS PARA A COMPREENSÃO E ATENDIMENTO DO SISTEMA FAMILIAR • Introdução • Panorama das abordagens transgeracionais em terapia familiar - Mmia José Esteves de Vasconcellos • A transmissão transgeracional de padrões familiares: conceitos teóricos - Sônia Vieira Coelho • A transmissão de padrões familiares: o ciclo de vida e recursos instrumentais - Sônia Vieira Coelho • A transmissão transgeracional da contabilidade familiar - Juliana Gontijo A1m • Aspectos estruturais do sistema familiar - Sônia Vieira Coelho • A "teoria da comunicação humana" na abordagem sistêmica da família - Maria José Esteves de Vasconcellos • A presença e os efeitos da comunicação paradoxal nas interações humanas - Maria José Esteves de Vasconcellos • Permanência e mudança: formação e resolução de problemas - Juliana Gontijo Aun • Compreendendo a dificuldade da mudança: "jogo sem fim" e política - Maria José Esteves de Vasconcellos • Paradoxo e intervenções para a mudança - Maria José Esteves de Vasconcellos • Roteiros para entrevistas com a familia - Juliana Gontijo Aun e Sônia Vieira Coelho Referências bibliográficas APRESENTAÇÃO Esta obra se constitui de três volumes. o volume I - publicado em 1005 (2 ed., 2006) - abordamos o que distinguimos como os fundamentos 1rnricos e epistemológicos para os atendimentos sistêmicos de familias e 1l·clcs sociais. Neste volume II, começamos a abordar alguns aspectos da ,lluação do profissional sistêmico novo-paradigmático - o que ainda conti- nuaremos a fazer no volume III. Nossa proposta para este volume era a de primeiro apresentar uma explicitação de como concebemos o processo de atendimento sistêmico de familiase redes sociais e, em seguida, fazer uma breve exposição de alguns recursos teóricos e instrumentais - já desenvolvidos em outros contextos de prática - de que o profissional sistêmico novo-paradigmático poderá utilizar-se, seja no atendimento sis têmico de familias, seja no atendimento de sistemas mais amplos do que a familia . Entretanto, dada a extensão do material que preparamos, foi necessá- rio subdividir essa segunda parte, incluindo neste volume - além do proces- so de atendimento sistêmico - apenas os recursos teóricos e instrumentais para a compreensão e atendimento de familias. D eixamos para o volume III os recursos teóricos e instrumentais para a compreensão e atuação em siste- mas mais amplos que a familia, no qual também incluiremos uma descrição de práticas sistêmicas coerentes com a definição do processo de atendimen- to sistêmico aqui apresentado. Então, este volume se constitui de dois tomos, cada um deles com textos das três autoras. O Tomo I contém os textos referentes às implicações da epistemo- logia para a concepção do processo de atendimento sistêmico, abordando: nossa concepção de família como sistema e de sistemas mais amplos que a familia; a identidade do profissional novo-paradigmático e sua ética ao atu- ar; a constituição e funcionamento de equipes sistêmicas interdisciplinares e transdisciplinares; e, finalmente, a descrição dos passos que constituem um processo de atendimento sistêmico de familias e redes sociais e a questão do diagnóstico, revista na perspectiva si têmica novo-paradigmática. O Tomo II contém textos que pretendem fazer um resgate de algu- mas contribuições teóricas para a c mpreensão do funcionamento do siste- 7 ma familiar e de algumas propostas de intervenção desenvolvidas na pers- pectiva istêmica de 1 ª ordem, oferecendo: uma visão geral das abordagens tran geraci nais da familia, focalizando especialmente as contribuições de Bowen e de Boszormenyi-Nagi; uma visão geral das abordagens estrutural e comunicacional do sistema familiar; as questões da mudança e das inter- venções estratégicas para a mudança; e, finalmente, algumas orientações e roteiros para a realização de entrevi tas com a família. pesar de cada texto ser e cri to por uma de nós - cada uma manten- do seu estilo próprio - preocupamo-nos com a unidade do conteúdo, com a coerência no uso dos conceitos e com a articulação dos diferentes temas. Trata-se de variados aspectos interligados do processo de atendimen- to sistêmico. Como não podem ser apresentados todos simultaneamente, apesar de apresentá-los separadamente, em diferentes textos, procuramo evidenciar sua interligação, remetendo freqüentemente o leitor - por meio de notas de rodapé - a aspectos correlatos ou complementares ao tema, que e encontram em outros textos. Sendo esta obra o resultado de no sos trabalho conjuntos, que vêm se desenvolvendo há longo tempo, muitas referências bibliográficas são co- muns a vários textos. Por isso, optamos por apresentá-las todas reunidas, no final de cada tomo. Além disso, cabe ressaltar que nos preocupamos em preservar a cronologia das publicações referidas, colocando duas datas jun- to ao nome do autor citado: a primeira se refere à data de publicação da edi- ção efetivamente consu.ltada, e a segunda, à data da publicação original do texto. Para facilitar a leitura, os útulos de artigos ou livros citados no texto estão todos em português, mesmo quando o material consultado, constante na seção de Referências Bibliográficas, esteja em outro idioma. esse caso, a tradução das citações li terais foi feita pelas autoras. Tendo sido muito boa a acolhida do volume 1, esperamos que tam- bém este corresponda às expectativas dos professores e alunos interessados nestes temas, com os quais temos estado tão envolvidas. Belo Horizonte, maio de 2007. As aJJtoras TOMO I O Processo de Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais Introdução Este tomo I do volume II reúne oito textos que ressaltam as- 1 •1 t s importantes do processo de atendimento sistémico, tal como o , ,111 ebemos. No primeiro deles, "Família como sistema, sistema mais amplo •111 · a familia, sistema determinado pelo problema", elaborado conjun- t.11 ente pelas três autoras, apresentamos nossa concepção dos sistemas qu atendemos - a família e os sistemas mais amplos do que a família destacando como mudou essa concepção quando assumimos o pen- samento sistémico novo-paradigmático. A seguir, o texto "Uma nova identidade para o profissional que lida com relações humanas: o especialista em atendimento sistémico" destaca as novas noções teórico-práticas de problema, de diagnóstico e de sistema a tratar ou sistema determinado pelo problema, coerentes com a visão sistémica de 2ª ordem. Aborda especialmente as implica- ções da adoção dessa visão pelo profissional, definido como "constru- tor de contextos". Caracterizando a prática do profissional novo-paradigmático como a participação em conversações transformadoras, o texto "O profissional novo-paradigmático, sua prática, sua ética" destaca alguns aspectos dessas conversações - sobre o quê? com quem? como? o pro- fissional conversa - bem como a preocupação ética nelas implicada. Diretamente relacionado a essa dimensão ética da atuação do profissional, o texto ''Valores: questões para a reflexão do profissio- nal novo-paradigmático" contrasta a concepção tradicional de valores em nossa sociedade contemporânea com sua concepção na perspectiva novo-paradigmática. Abordando a questão das equipes constituídas por profissionais de diversas especialidades, seguem-se dois textos - ''A questão da equi- pe interdisciplinar" e ''Pensando uma equipe interdisciplinar como um sistema: a partir do pensamento sistémico novo-paradigmático". No primeiro, são abordadas as diferenças entre equipes multi- disciplinares e equipes interdisciplinares, e ainda uma distinção entre 11 equipes sistêmicas em que os profissionais têm uma visão sistêmica de 1 ª ordem e equipes sistêmicas cujos profissionais assumem uma postura sistêmica de 2ª ordem, as equipes transdisciplinares. No segundo, é descrito o atendimento de um caso por uma equi- pe interdisciplinar tradicional, apontando suas dificuldades. Em segui- da, abordando o mesmo caso, são sugeridas as possibilidades de seu atendimento por uma equipe sistêmica de 1 ª ordem e por uma equipe transdisciplinar. No texto "O processo de atendimento sistêmico de familias e redes sociais: passos para sua realização", é feita uma apresentação di- dática do processo de atendimento, com descrições detalhadas sobre os passos que o profissional realiza, no atendimento sistêmico de familias e redes sociais. Para ilustrar o processo, é relatada uma pesquisa-ação, em que se identificam esses passos. Finalmente, o texto ''A distinção do problema, no lugar do diag- nóstico" questiona o diagnóstico, tradicionalmente embasado no mode- lo médico e propõe um outro modo de pensá-lo, coerente com o pen- samento sistêmico novo-paradigmático. Exemplifica, com a descrição de alguns atendimentos sistêmicos, essa abordagem em que não ocorre uma etapa de diagnóstico ou de avaliação, tal como tradicionalmente definida. 17 FAMÍLIA COMO SISTEMA, SISTEMA MAIS AMPLO QUE A FAMÍLIA, SISTEMA DETERMINADO PELO PROBLEMA Juliana Gontijo Aun Maria José Esteves de Vasconcellos Sônia Vieira Coelho ''A familia não existe: vemos a familia porque somos especialistas em vê-la". Pode parecer muito estranho iniciar com essa afirmação um ca- pítulo cujo título anuncia uma proposta em que se começaria apresen- tando ou definindo a familia como um sistema. Como definir como um sistema algo que não existe? Trata-se de uma afirmação que faz sentido, tendo-se assumido a visão sistêmica novo-paradigmática', ou uma visão sistêmica de 2ª ordem. Essa é a proposta deste capítulo: refletir sobre nossa concepção de famí- lia - e de outros sistemas- a partir dessa nova postura epistemológica. Coerentes com essa visão, assumimos posturas que parecem mui- to radicais para quem ainda não fez a ultrapassagem do paradigma tra- dicional. Não se trata apenas de admitir que a familia pode ser vista ou concebida de diferentes modos, com diferentes lentes ou teorias, o que seria apenas repetir uma postura relativista. Trata-se de ir além do relati- vismo e admitir que a familia não pré-existe ao olhar de um observador e que é este que a faz emergir. Consistente com essa postura de 2ª ordem e chamando-a de "tese construtivista", Sluzki afirma que vemos e tratamos a família nuclear, e em certas ocasiões, a família extensa, porque somos especialistas em vê-la e não porque exista assim, como uma forma claramente delineada. Estudamos a família porque a vemos, e a vemos porque a evocamos com nossos modelos e nosso interrogatório. ( ... ) Vivemos imersos em redes ' Ver o texto "Pensamento sistêmico novo-paradigmático: novo-paradigmático, por quê?", no volume 1 desta obra. múltiplas, complexas e em evolução, dentre as quais "extraímos" a família quando perguntamos, por exemplo, "Quem faz parte de sua farru1ia?" (Sluzki, 1997a, p. 28). Podemos ainda ir além dessa afirmação de Sluzki e dizer que essas redes, em que ele diz que vivemos imersos, também não existem: Constituímos a rede, quando perguntamos: "quem são as pessoas significativas para você, na família nuclear, na familia extensa, no trabalho, na escola, na vizinhança, na comunidade?" Se focalizamos a rede, nós o fazemos às custas de focalizar menos o indivíduo ou a família. ( ... ) A escolha da unidade em foco será sempre do "observador" e dependerá de seu "paradigma" (Esteves de Vasconcellos, 2000/1996). Vemos as redes porque nossa visão sistêmica nos permite vê-Ias ou porque nos tornamos especialistas em vê-las. Se continuarmos especialis- tas em ver indivíduos, continuaremos vendo e tratando de indivíduos. Concebemos a família como um sistema porque desenvolvemos um olhar sistêmico e então, para nós, a familia emerge como um siste- ma, para o qual orientamos nossas práticas e nossas intervenções, ao propor e realizar o "atendimento sistêmico de famílias e redes sociais". Acreditamos que, sem esse olhar sistêmico, o profissional, mes- mo pretendendo trabalhar com a familia - como acontece, por exem- plo, com os profissionais do Programa de Saúde da Familia e, de resto, com muitos outros profissionais e outros programas sociais - acaba "tratando do indivíduo na familia", sem conseguir deslocar seu olhar do indivíduo para a teia de relações entre os elementos do grupo familiar, as quais constituem o sistema familiar. Só com esse foco nas relações, o grupo familiar emergiria como um sistema para esses profissionais, possibilitando então planejar e diri- gir sua atuação às relações familiares, desenvolvendo práticas sistêmicas, mesmo que ainda sistêmicas de 1 ª ordem. Seria já um primeiro passo, para então avançarem para a visão sistêmica de 2ª ordem, que temos procurado assumir e que embasa as práticas sistêmicas que temos pro- curado desenvolver. Antes mesmo de se desenvolver a concepção da "familia como sistema" - o que aconteceu por volta dos anos 50 do século passado muitas disciplinas, tais como sociologia, antropologia, demografia, direito, psicanálise, história, psicologia, já tinham se interessado pelo estudo da familia, propondo diferentes definições para o grupo familiar, embasadas em diferentes critérios (Coelho, 2005).2 Apesar de evidenciarem aspectos importantes do funcionamento de uma família, esses estudos não oferecem, entretanto, fundamento teórico para se trabalhar com a família como uma unidade, uma vez que ainda não a concebem como um sistema. Com o surgimento da terapia familiar sistêmica, os terapeutas de familia conceberam "a familia como um sistema" e, colocando o foco nas interações, puderam trabalhar com ela como uma unidade. Surgem então as definições sistêmicas da familia, ou definições da familia como um sistema, quando se estendem para o sistema familiar os conceitos teóricos desenvolvidos para os sistemas em geral - seja pela Teoria Geral dos Sistemas, seja pela Teoria Cibernética.3 Essas teo- rias - com uma pretensão transdisciplinar - se propuseram desenvolver princípios teóricos aplicáveis a todo e qualquer sistema, independen- temente da natureza de seus componentes. Surgem então definições de familia focalizando as relações entre os elementos constituintes do sistema familiar. Acontece que a maior parte do que já se tem escrito sobre a "familia como um sistema" está conforme uma visão sistêmica de 1 ª ordem, de acordo com diversos modelos teóricos desenvolvidos, não só para se compreender o funcionamento do sistema familiar, como também para fundamentar as intervenções em terapia familiar sistêmi- ca. O que as caracteriza como concepções de 1 ª ordem é exatamente o fato de não partirem do pressuposto - ou pelo menos de não o explicitarem - de que o sistema familiar emerge das distinções de ob- servadores e de consensos construídos na linguagem sobre o que o constitui como tal. 'Ver o texto "Introdução aos estudos da família", no volume I desta obra. ' Ver o capítulo 6 - "Rastreando as origens das abordagens teóricas dos sistemas" do livro Pema111mlo 1i1li111it0. O 11011/J porodig1110 da cii,rcia (Esteves de Vasconcellos, 2002). Nesse caso, essas definições sistêmicas de 1 ª ordem, adotadas por profissionais que, sendo sistêmicos, já assumiram apenas o pressuposto da complexidade, tendem a ser definições reificadas4 do sistema familiar. Entretanto essas definições foram importantes, por colocarem o foco nos padrões de interação do sistema familiar e por terem intro- duzido a concepção sistêmica da família. Além disso, quando o profis- sional se tornar novo-paradigmático, poderá resgatar essas definições, considerando-as como distinções do observador. Por isso - antes de apresentarmos nossa concepção de família na perspectiva novo-para- digmática - destacamos duas delas, a título de exemplos, para constituir a seção que se segue. Faremos o mesmo, mais adiante, quando apresentarmos as defi- nições de "sistema mais amplo que a familia". Abordaremos primeiro as concepções de sistema amplo desenvolvidas ainda na perspectiva sis- têmica de 1 ª ordem e depois a concepção de "sistema determinado pelo problema", que consideramos coerente com a visão sistêmica novo- paradigmática. 1. Família como sistema, na perspectiva sistêmica de ia ordem Tomamos algumas definições de "família como um sistema", ela- boradas no primeiro momento do desenvolvimento da terapia familiar sistêmica - tendo como epistemologia a cibernética de 1 ª ordem - por dois dentre os primeiros terapeutas de família sistêmicos, Jackson e Mi- nuchin, representando respectivamente a abordagem comunicacional e a abordagem estrutural da família. Ambos enfatizam a visão da unidade do sistema familiar (pressuposto da complexidade). Para Jackson (1976/1968), a família é "um sistema governado por regras: ( ... ) seus membros se conduzem entre si de maneira organi- zada e repetitiva e ( ... ) esta estruturação das condutas pode ser consi- derada como um princípio que preside a vida familiar" (p. 139). Jackson • Rei ficado, usado como equivalente de coisificado, vem do latim res/ ni, que quer dizer coisa. Esse termo costuma ser usado para se referir à consideração, como coisa, de algo que poderia ser pensado como um processo, ou também à consideração, como realidade objetiva, de algo que se reconhece como uma distinção do observador. focaliza o "caráter organizado da interação familiar", a mudança na for- ma de pensar a família a partir das relações entre seus membros e não os indivíduos ou a "soma dos indivíduos" para entender a organização do sistema. O sentido dado à forma de ver a organização é o de dedução das normas familiares, entendidas então como regras abstratas, conceito essedesenvolvido na "teoria da comunicação humana". Assim, a idéia de "regra" é a de padrões de relação que se repetem, inferidos da ob- servação das relações e suas redundâncias, uma "metáfora" usada pelo observador para descrever e explicar as relações que observa, não se atendo exclusivamente às condutas individuais. Esse autor defende seu argumento sistêmico, mostrando a dife- rença entre essa concepção e uma outra concepção de família que pre- define papéis diferenciados na estrutura familiar (pai, mãe, fi lho). Para ele, a teoria de papéis se refere à descrição de "condutas do indivíduo", instituídas pela cultura, ficando as relações como secundárias e obscu- recidos os processos de interação. O papel é predefinido socialmente, de acordo com a posição do indivíduo no modelo da estrutura social, estabelecendo o que é adequado ou não adequado no exercício das fun- ções dos membros da familia. Além de mudar o foco para as relações, fazendo abstração do modelo cultural, sua visão sistêmica da família, neste momento, é a de seu funcionamento como um sistema homeostático, um sistema dota- do de mecanismos auto-reguladores, os quais garantem a manutenção da estabilidade do sistema: "mecanismos homeostáticos são condutas que delimitam as Autuações de outras condutas ao longo da gama par- ticular correspondente à norma", ou seja, à regra Gackson, 1976/1968, p.146). Jackson enfatiza os obstáculos de se pensar a familia como um sistema de interação, principalmente pela dificuldade de passar do pen- samento linear para o circular e pela dificuldade de mudar o foco do indivíduo para a relação. Preocupa-se com a mudança epistemológica do pressuposto da simplicidade para o pressuposto da complexidade, mas não com a visão cultural da familia como parte do sistema social mais amplo. Exercitava sua mente sistêmica, ao deslocar o foco do indi- víduo para a relação e, também, ao ultrapassar a concepção sociológica de papéis familiares, propondo uma definição abstrata de "regras de re- lação". Já Minuchin parte da definição sociocultural de familia e a defi- ne como um "sistema aberto", considerando-a como um todo em que as partes estão relacionadas, constituindo uma unidade organizada por padrões de relação recorrentes e previsíveis, indo além do indivíduo, estabelecendo conexões com o contexto social específico - vizinhança, instituições, comunidade: ''A familia é um grupo social natural, que go- verna as respostas de seus membros aos inputs de dentro e de fora. Sua organização e sua estrutura peneiram e qualificam as experiências dos membros da familia" (Minuchin, 1982/1974, p.16). A família é um grupo natural que através dos tempos tem desenvolvido padrões de interação. Estes padrões constituem a estrutura familiar, que por sua vez governa o funcionamento dos membros da família, delineando sua gama de comportamento e facilitando sua interação (Minuchin; Fishman, 1990/1981, p. 21). Para ele, o conceito de estmt11ra se refere à dimensão funcional da instituição social, ao utilizar a idéia de "padrões repetitivos" de inte- ração, entre os membros do sistema familiar. Essas duas definições de Minuchin ressaltam o aspecto sistêmico do funcionamento familiar, que é o relacional. A forma de ver a relação da familia com o contexto social mais amplo é a de considerá-la um subsistema da sociedade, sendo ao mesmo tempo ela própria constituída de subsistemas: ''As familias são sistemas multi-individuais de extrema complexidade, porém, são por sua vez, subsistemas de unidades mais amplas - a família extensa, a vizinhança, a sociedade como um todo" (Minuchin; Fishman, 1990/1981, p.25). O autor elabora conceitos correlatos como os de subsistema, co- erção e fronteiras, usados como um esquema conceituai para compreen- são do funcionamento familiar. Tendo a visão da família e da sociedade como unidades compostas, como todos constituídos de partes inter-re- lacionadas, o subsistema se refere às partes desse todo, ora visto como uma unidade, ora como uma subunidade (holon)S, cada parte cumprindo o seu papel: "o todo é maior que a soma da partes. ( ... ) Parte e todo con- 1êm um ao outro num processo contínuo, atual e corrente de comunica- ção e inter-relação" (Minuchin; Fishman, 1990/1981, p. 22-23). Embora 1cndo urna visão sistêrnica, com estes conceitos teóricos mantém uma concepção hierarquizada da sociedade e da familia: por exemplo, os pais considerados como um subsistema de um nível superior; os filhos como um subsistema de nível inferior, na hierarquia familiar.6 2. Familia como sistema, na perspectiva sistêmica novo- paradigmática Na perspectiva novo-paradigmática, o sistema familiar - como de resto todos os demais sistemas - não pré-existe a uma distinção de um observador. Quem seria então esse observador que distingue a familia e a faz emergir como tendo "existência real"? Os próprios elementos que constituem o sistema familiar? Um estudioso/pesquisador da famí- lia? Alguém que se dispõe a ajudar a familia em suas dificuldades - um especialista em atendimento sistêrnico de família ou um terapeuta de familia? Se pedirmos aos vários membros de um grupo distinguido como uma família para responder individualmente à pergunta "quem são os membros de sua familia?", muito provavelmente obteremos respostas di- ferentes. Alguns incluirão apenas as pessoas com as quais têm vínculos de consangüinidade; outros incluirão as pessoas que "entraram para a familia", tais como cunhados, genros, noras; alguns se limitarão à familia nuclear, enquanto outros incluirão a familia extensa e outros ainda inclui- rão a familia do cônjuge como sendo sua. E haverá ainda os que incluem alguém que "não é da família, mas considero como se fosse, pois é como se fosse meu irmão". E, provavelmente, aparecerão também justificativas para as exclusões: "não o considero porque nunca convivi com ele" ou "depois do que aconteceu, não o considero mais: já morreu para mim". 'O conceito de ho/on é usado por Minuchin para explicar a unidade individual e social. Significa tanto um todo como uma parte, dependendo de como essa é vista em relação ao todo maior. Usa-o para se referir à possibilidade de se considerar o sistema familiar simultaneamente corno todo (constituído de partes) e como parte (parte da sociedade). ' Ver o texto "Aspectos estruturais do sistema familiar", neste volume. Numa conversação sobre a questão proposta, esse grupo familiar poderá chegar, por consenso, a uma definição sobre a constituição da sua própria familia e sobre o critério a adotar para defini-la: vínculos de consangüinidade, vínculos legais, vínculos de convivência, vínculos de afinidade ou emocionais. Ficará evidente que as distinções dos observadores - neste caso, dos próprios membros "da família" -poderão fazer emergir um sistema familiar ou sistemas familiares diversos. É isso o que podemos observar quando propomos a alguém a elaboração de seu próprio "mapa de rede" - uma representação gráfica dos vínculos afetivo-sociais, que constituem sua rede social.7 Num dos quadrantes do mapa de rede - delimitado por um círculo - a pessoa que o constrói é solicitada a localizar sua família e, noutro quadrante, seus parentes, havendo ainda os quadrantes para as relações profissionais (trabalho, escola) e para as relações na comunidade (vizinhos, amigos, profissionais de ajuda). Nesse caso, pedimos que a pessoa coloque cada um dos membros de sua rede mais próximo ou mais afastado de si próprio - que ocupa o centro do círculo - dependendo da maior ou menor intensidade do vínculo que ela distingue entre ambos: localizará mais próximo de si as relações mais significativas, cujo vínculo ela considera mais forte. No mapa de rede, tal como proposto por Klefbeck (1995), a pessoa deveria colocar no quadrante da familia as pessoas que moram juntas - o que pode corresponder, ou não, ao que geralmente se chama de familia nuclear - e no quadrante dos parentes, as relações significativascorrespon- dentes à sua familia extensa ou família de origem e ainda os membros de sua familia nuclear que não moram mais na mesma casa em que ela mora. Nesse caso, não é apenas a própria pessoa que está definindo sua familia, mas também o profissional que, ao adotar as instruções de Kle- fbeck, oferece ao sujeito uma definição sua, propondo uma distinção entre família e parentes. Porém continuam sendo do sujeito as decisões sobre quem incluir e onde incluir no gráfico (em que subgrupo e a que 'Um texto, " Rede social: concei1Uação, importância e funções", encontra-se no volume Ili desta obra. '>n distância de si próprio). Provavelmente, em conformidade com o con- texto cultural em que vivemos, o sujeito embasará suas decisões, como vimos, nos critérios referentes aos vínculos geralmente considerados definidores da existência de uma familia. Lembrando o que disse Slu- ✓,ki (1997a, p. 29), "vivemos imersos em redes múltiplas ( ... ) dentre as quais 'extraímos' a família quando perguntamos, por exemplo, 'Quem faz parte de sua familia?"' Enfim, nesse caso, são os próprios membros da familia que, com suas distinções, fazem emergir o(s) seu(s) sistema(s) familiar( es). Tendo assumido uma postura sistêmica de 2ª ordem, ou esco- lhido o "caminho da objetividade entre parênteses", alguns terapeutas de familia também têm proposto uma compreensão teórica do sistema familiar que possa embasar práticas coerentes com essa postura. Num artigo em co-autoria com Maturana, dois terapeutas de fa- milia chilenos (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/1988), ao abordarem o emergir da patologia mental no sistema familiar, propõem uma in- teressante concepção de familia, coerente com nossa visão sistêmica novo-paradigmática. Esses autores constroem um conceito de família como "um domínio de interação de apoio mútuo na paixão por viver juntos em proximidade física ou emocional, gerado por duas ou mais pessoas, seja através de um acordo explícito ou porque crescem imersos nele, no acontecer de seu viver. ( ... ) Como sistema, uma família existe no âmbito biológico,' através da realização do viver de seus componentes. Além disso, ( ... ) (a família) se realiza no linguajar e emocionar de seus membros como um caso particular da configuração de conversações recorrentes (organização) que a definem como membro de tal classe" (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/1988, p. 161-162). Para concebermos a familia dessa forma, precisamos retomar os conceitos de conversar, linguajar, emocionar e as distinções que Maturana propõe entre sistema social, sistema de trabalho e sistema de poder (Ma- • Essa afirmação de que a farru1ia existe no âmbito biológico refere-se à existência dos membros da família como seres vivos individuais, o que não deve ser confundido com relações de consangüinidade. turana, 1997 /1988a), assim como os conceitos de organização e estrutura do sistema, da teoria da autopoiese de Maturana e Varela (1995/1983). O humano surge com o linguajar (definido como coordenação de coordenação de ações) que, fluindo entrelaçado com o emocionar, cons- titui o conversar. A maneira de coexistir dos seres humanos é a de viver juntos, em coordenações recursivas de ações, constituindo redes de con- versações, que coordenam constantemente o que fazemos nesse conviver. O humano se vive sempre num conversar: linguajar com emocionar. As diferentes emoções do ser humano o predispõem a di ferentes formas de responder aos eventos do meio, ou seja, a emoção especifica um espaço de ações possíveis. O emocionar-se humano - derivado da estrutura biológica que constitui o ser vivo humano - centra-se no pra- zer da convivência, na aceitação mútua sem questionamentos, o que gera uma convivência harmoniosa. Porém diferentes emoções propiciam di- ferentes formas de relação ou diferentes domínios de conversações, e nossa cultura ocidental tem cada vez mais propiciado o desenvolvimen- to de redes de conversações contraditórias com a nossa biologia, con- traditórias com a biologia do amor (Maturana, 1997 / 1985).9 Tanto o bem-estar quanto o sofrimento humano dependem do conversar, ou seja, dos diferentes modos de fluir o entrelaçamento de linguajar e emocionar, dos diferentes tipos de conversação, os quais constituem diferentes sistemas de convivência. Maturana (1997 /1988a, p. 177) propõe uma distinção entre sistemas sociais e outros sistemas, como sistemas de trabalho ou sistemas de poder, com base na emoção que especifica o espaço básico de ações nessas dife- rentes formas de conviver, ou seja, com base na emoção que especifica o espaço em que se dão as relações com o outro e consigo mesmo. Assim: Sistemas sociais - são sistemas de convivência constituídos sob a emoção do amor, que é a emoção que constitui o espaço de ações de aceitação do outro na convivência. A partir daí, sistemas de convivência fundados numa emoção que não seja o amor não são sistemas sociais. • Ver os textos "O profissional novo-paradigmático, sua prática, sua ética" e "Valores: questões para a reflexão do profissional novo-paradigmático", neste volume. 22 Siste111as de trabalho - são sistemas de convivência constituídos sob a emoção do compromisso, que é a emoção que constitui o espaço de ações de aceitação condicionada à realização de uma tarefa. Assim sendo, os sistemas de relações de trabalho não são sistemas sociais. Sistemas hierárquicos 011 de poder - são sistemas de convivência constituídos sob a emoção que configura as ações de autonegação e negação do outro na aceitação da submissão própria ou da do outro, numa dinâmica de ordem e obediência. Assim sendo, os sistemas hierárquicos não são sistemas sociais. É importante ressaltar que, mesmo que possamos distinguir ou- tros sistemas de convivência, fundados em outras emoções, "cada um deles constitui uma rede particular de conversações que configura um modo particular de emocionar, a partir de uma emoção definidora bá- sica" (p. 177). Um observador pode distinguir diferentes tipos de con- versações, com distintas configurações de coordenações de condutas ocorrendo sob diferentes estados emocionais. Conversações que geram harmonia social, bem-estar, prazer de conviver, configuram-se no âmbito da "aceitação mútua, sem questiona- mentos, que é a condição biológica constitutiva da coexistência, na qual as contradições emocionais são eventos transitórios, não um modo de vida" (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/ 1988, p. 156). Esse modo de conviver, na aceitação incondicional do outro, requer abandonar a visão objetivista do mundo e se constitui como uma implicação da "objetivi- dade entre parênteses": todas as formas de se comportar são igualmente legítimas, embora nem todas sejam igualmente desejáveis. Aceitar ge- nuinamente o outro nas diferenças pode fazer com que os membros da familia preservem a paixão por viver juntos, rejeitando críticas a qualquer dos seus, vindas de quem não faz parte dessa rede de conversações. Entretanto há também outros tipos de conversações, tais como, aquelas que antecipam comportamentos futuros, trazendo à tona outros domínios emocionais. Dentre essas, destacam-se as conversações de ca- racterização e as conversações de acusação e recriminação injustificadas (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/ 1988). As conversações de caracterização decorrem de expectativas so- bre as condutas dos participantes do sistema, correspondendo às defi- ruções consensuais (implícitas ou explícitas) sobre "como o outro é" e, portanto, sobre "o que se pode esperar dele". Já as "conversações de acusação e recriminação injustificadas representam protestos por não se cumprirem condutas esperadas em circunstâncias em que não existiu acordo prévio sobre elas" (p.160), correspondendo a cobranças sobre "o que o outro deveria ter feito" ou sobre "o que o outro não deveria ter feito". Tanto as conversações de caracterização quanto as conversações de acusação e recriminação mútuas contêm afirmações de qualidadesou defeitos permanentes do outro, embasadas no pressuposto de uma realidade independente do observador (objetividade sem parênteses). Esses padrões de conversação, contendo uma contradição emocional - de acusar em vez de aceitar o outro - podem se tornar recorrentes, causar infelicidade e sofrimento, sendo a desarmonia social atribuída ao comportamento inadequado de um de seus membros. Então, voltando à concepção de família como um domínio em que as interações se dão na paixão de viver juntos, uma familia existe e se rea- liza no linguajar e emocionar de seus membros, como um caso particular dessa configuração de conversações recorrentes, que a definem como membro dessa classe de sistemas, ou seja, como um sistema social, cujos participantes vivem a aceitação incondicional do outro, legitimando-o na convivência. As condutas de seus membros, ou seja, as interações entre eles - que constituem suas conversações recorrentes - realizam essa or- ganização de sistema familiar, distinguida pelo observador. No domínio humano, a configuração de relações e interações entre os componentes de um grupo, que o realizam como sistema de uma dada classe, constitui a organizaçãa1° desse sistema. A organização do sistema familiar, ou seja, a configuração de interações que o reali- " Em Marurana, as noções de organização e eslmt11ra têm definições bem específicas e bem diferentes de outros sentidos em que esses termos costumam ser usados. A organização é a configuração de relações entre os componentes do sistema, a qual, ao ser distinguida pelo observador, define a identidade do sistema, ou seja, define-o como sistema de determinada classe. A estrutura é a configuração de relações concretas que caracteriza aquele sistema como um caso particular claque.la classe, com aquela identidade ou organização. A estrutura do sistema pode alterar-se sem que se perca a organização distinguida pelo observador. ?,1 zam, seria uma rede de conversações em que as coordenações de ações aconteceriam sem contradições emocionais, vivendo seus membros na objetividade entre parênteses, sem conversações de caracterização, acu- sação e recnrrunação. Com essa concepção de sistema familiar, um observador pode distinguir uma família quando distingue uma rede de conversações que se desenvolvem sob uma paixão de viver juntos, em harmonia, de forma prazerosa. Quando mudanças nos membros dessa família e em suas inte- rações - mudanças na estmtura do sistema - são tais que já não per- mitem participar na geração dessas conversações, elas se interrompem ou deixam de ser recorrentes e, perdendo-se a paixão de viver juntos, desaparecendo essa configuração de conversações, a família se desinte- gra como familia dessa classe, ou seja, deixa de realizar a organização distinguida pelo observador. Por outro lado, o observador pode distinguir, num grupo que se apresenta a si próprio como uma família, uma rede de conversações de caracterizações, acusações e recriminações, sendo essa a organização dessa família. Como "essa organização tanto realiza como gera uma contradição existencial", essa é uma condição de sofrimento e infeli- cidade que pode levar o sistema a solicitar a ajuda de um profissional (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/ 1988, p 163). Sendo solicitada a ajuda de um profissional novo-paradigmático, ele distinguirá a possibilidade de resgatar uma convivência harmoniosa, já que ainda existe a paixão de viver juntos, que é exatamente o que está implícito no pedido de ajuda. Esse profissional acredita genuinamente que o viver humano se dá em conversações: conversando fazemos emergir problemas; conver- sando, podemos dissolver problemas. Portanto, participando nessa rede de conversações, o profissional, utilizando habilmente a linguagem, po- derá ajudar a gerar outras conversações que provoquem mudanças es- truturais tais que desintegrem esse sistema caracterizado pela condição de sofrimento, de infelicidade. O fato de os membros da familia passa- rem de uma postura objetivista para uma postura de "objetividade entre parênteses", criará as condições para se restabelecer uma convivência harmoniosa, antes que eles percam a paixão por viver juntos. 3. Sistema mais amplo que a familia, na perspectiva sistêmica de 1ª ordem Assim como a familia, o sistema amplo ou mais amplo que a famí- lia, foi definido segundo a visão sistêmica prevalente em cada momento. Desde o início do movimento da Terapia de Família, terapeutas de fa- mília, como Bowen (1989 / 1978) e Boszormenyi-Nagy (1983/1973), se interessaram em pensar a sociedade como um sistema e em descrever os fenômenos sociais - referentes a âmbitos além das famílias - segundo uma visão sistêmica. No entanto, poucos se aventuraram a abordar na prática esses sistemas sociais, que depois vieram a ser chamados de "sis- temas amplos" ou de "sistemas mais amplos que a familia" (SMAF). Um dos primeiros grupos que desenvolveu esse tipo de trabalho foi uma das equipes coordenadas por Selvini-Palazzoli, composta por seus alunos formados num curso sobre "teoria geral dos sistemas e prá- ticas da comunicação humana", ministrado no ano acadêmico de 1971- 1972, na Escola de E specialização em Psicologia da Universidade Cató- lica de Milão (Selvini-Palazzoli et al., 1985/ 1976). Tinham o objetivo de verificar se "os instrumentos oferecidos pelos modelos conceituais ( . . . ) para induzir mudanças no microssistema da família" também podiam ser de utilidade para a intervenção em sistemas mais amplos. Escolhe- ram a escola para realizar "um primeiro experimento" (p.13). Esses autores não utilizaram ainda o termo sistemas amplos, mas propuseram definir "a comunidade escolar como um sistema". Para isso, basearam-se na definição clássica de sistema, de Hall e Fagen (apud Watzlawicketal., 1993/ 1967,p.109): um sistema é um conjunto de objetos e de relações entre os objetos e entre seus atributos, ( ... ) no qual os objetos são os componentes ou partes do sistema; os atributos são as propriedades dos objetos; e as relações mantêm unido o sistema". Selvini-Palazzoli et ai. (1985/1976) acrescentaram a essa concep- ção a noção de que só se constituem como sistemas "grupos com histó- 21\ 1i.1", isto é, grupos cujos membros evoluíram juntos e compartilharam t't'rtos objetivos comuns, durante um período de tempo suficientemente prolongado para se constituírem "como unidades funcionais regidas por 11ormas próprias" - regras especiais, válidas só para seus membros. Com base nessa concepção de sistema, esses autores propõem a ,cguinte definição da escola como um sistema: em sua acepção de complexo escolar submetido a uma administração unitária, (a escola) constitui um amplo sistema dentro do qual podem-se identificar muitos subsistemas que se entrecruzam e comunicam entre si e em relação com os quais a escola constitui o ambiente (1985/ 1976, p. 63). Essa é uma definição reificada de sistema amplo, pois o define como uma entidade concreta, objetiva - "uma escola". A familia tam- bém foi, inicialmente, definida como um sistema reificado, o que não impediu que fosse atendida em conjunto, mantendo sua unidade. Porém o mesmo não aconteceu, quando se pretendeu desenvolver uma inter- venção nos sistemas amplos. Devido à sua amplitude, torna-se impossí- vel atender o sistema amplo em conjunto, mantendo sua unidade - to- dos seus elementos juntos, ao mesmo tempo, como se pôde fazer com a familia. Isso traz para o profissional o problema de dividir o sistema amplo em subunidades, sem perder sua complexidade. A estratégia utilizada pela equipe coordenada por Selvini-Pala- zzoli para realizar uma intervenção sistêmica na escola foi dividi-la em subsistemas para que cada um deles pudesse ser atendido como uma unidade. Os autores se propuseram a identificar os subsistemas que melhor representassem a escola como um todo11 e identificaram como mais representativo o subsistema "classe", seguido imediatamente pelo "corpo docente (reitor+ educadores)" (p. 63). Se cada um desses subsistemas foi atendido separadamente, en- tendemos que os profissionais viram a escola como um sistema amplo, mas no momento da ação prática perderam a complexidade do sistema, um problema que permaneceu sem solução por muito tempo. Como "Segundo suas palavras, os subsistemas que apresentassem "características de maior estabilidade temporal e de redundância" cm relação à escola como um todo (p. 63). 77 se verá a seguir, mesmo autores que questionam a reificação do sistema amplo e tentam uma abordagem a partir de uma perspectiva constru- tivista, compreendem o sistema amplo em sua complexidade, mas, ao atuar, fracionam o sistema. Evitar esse problema requer a definição do sistema amplo como um "sistema determinado pelo problema", concei- to que será desenvolvido mais adiante. Em um levantamento bibliográfico sobre intervenções em "siste- mas mais amplos que a familia" (SMAF), realizadas nos anos seguintes à pesquisa descrita acima, Imber-Black (1995/1991) classifica em duas categorias os artigos encontrados. Com base nessa classificação, identi- ficamos duas concepções de SMAF: (1) sistema específico, predefinido como tal - qualquer "organização social" ou instituição, que não a familia. Por exemplo, a escola, tal como foi considerada por Selvini-Palazzoli, na pesquisa/intervenção acima citada; (2) sistema constituído de uma família e um ou mais serviços profissionais com os quais ela se relaciona. Por exemplo: uma familia multiproblemática e os serviços profissionais; uma família e o sistema de atenção médica; uma família e o médico que a encaminha; uma família e o hospital psiquiátrico; uma família e a escola. Em ambas as concepções, o SMAF é considerado como uma rea- lidade objetiva, sugerindo uma visão reificada do sistema. Apesar clisso, Imber-Black destaca a importância de se considerar e abordar o con- texto social mais amplo que a familia, ressaltando que, desconsiderar os SMAFs - a relação família e serviços que a atendem - "faz com que, às vezes, esses sistemas mais amplos perpetuem os próprios problemas que deveriam resolver" (p. 36). Assim como Imber-Black, Fruggeri e Matteini(l 991/1988) tam- bém identificaram dois tipos de sistemas tradicionalmente definidos como sistemas amplos: (1) "aqueles sistemas interativos que podem ser denominados de organizações sociais diferentes da família (por exemplo: o serviço de saúde, uma instituição acadêmica etc.)"; (~) e, mais freqüentemente, "sistemas interativos que crescem em torno de uma familia entrelaçada por relações com diversas instituições externas com o propósito de 'receber ajuda' na solução de seus problemas" (p. 33). Note-se que esses dois tipos de sistemas amplos correspondem .1os descritos por Imber-Black. Porém Fruggeri e Matteini se interessam cm definir também as bases epistemológicas em que se fundamentam :is definições e a forma de abordagem dos sistemas amplos. Ressaltam que os sistemas amplos podem ser definidos ou segundo uma "pers- pectiva reificante" ou segundo uma "matriz construtivista" e que há uma diferença significativa entre as definições, segundo uma ou outra perspectiva. Então, consideram explicitamente a primeira modalidade de descrição dos sistemas amplos - "sistemas interativos que podem ser denominados de organizações sociais diferentes da familia" -, como típica de uma "perspectiva reificante", uma vez que o sistema é con- siderado um objeto, isto é, é visto como "uma coleção de elementos interativos dentro de fronteiras que o separam do ambiente e que são concretas, tal como o próprio sistema" (p. 34). Entretanto, segundo nossa concepção, qualquer das duas formas - identificadas por esses autores - de descrever os sistemas amplos, independentemente de seu tamanho e de sua composição, pode se dar dentro de uma "perspectiva reificante", correspondente à Cibernética de 1a ordem. Considerando que o mundo não se apresenta dividido em siste- mas amplos, sistemas, subsistemas, ambiente etc., mas que um sistema específico existe apenas a partir da operação de distinção pelo obser- vador, Fruggeri e Matteini propõem a "perspectiva construtivista" para fundamentar a descrição dos sistemas amplos: "o sistema não é um dado, mas sim uma forma de organizar os dados que o observador decide tomar como elementos do sistema", o que implica que a relação do observador com o sistema observado é parte constitutiva do sistema amplo. Consideramos que se trata de uma perspectiva correspondente à Cibernética de 2' ordem. Além disto, questionam o uso do termo "sistema amplo", por corresponder a "qualquer coisa além da família" e, então, manter a mes- ma característica de reificação que acompanha o uso do termo subsiste- ma para se referir a "qualquer coisa menor que o sistema familiar" - in- divíduo, casal etc. Com base nessa argumentação, os autores propõem que, assumindo-se uma perspectiva epistemológica construtivista, se substitua o termo "sistema amplo" pelo termo "sistema complexo". Concordamos com a preocupação dos autores quanto à tentativa de encontrar uma definição não reificante para os sistemas amplos, mas não consideramos que a mudança de rótulo seja suficiente para evitar a reificação. Quanto à abordagem prática dos "sistemas complexos" segundo uma "perspectiva construtivista", os autores descrevem uma consultoria dada a uma psicóloga e a uma assistente social, membros de um "siste- ma complexo", constituído conforme a definição dos próprios autores, como "sistemas interativos que crescem em torno de uma família entre- laçada por relações com diversas instituições externas com o propósito de 'receber ajuda' na solução de seus problemas". Apesar da interessan- te forma de conduzir a consultoria com o emprego de perguntas reflexi- vas, evitando-se interações instrutivas, de se considerar as relações entre a família e as instituições externas, e dos resultados alcançados, a atua- ção descrita ainda continua sendo fracionada. Cada parte do sistema é atendida por sua vez: o consultor atende às técnicas demandantes; estas atendem ora ao casal, ora à família toda, ora introduzindo uma freira do orfanato onde a mãe viveu até os 18 anos; as técnicas atendem também o juizado em sua relação com a família. Embora cada um desses atendimentos seja feito segundo uma posição construtivista, que inclui uma atitude auto-reflexiva e considera o significado e os efeitos recursivos do atendimento, segue-se propondo pensar o "sistema complexo", mas sua atuação em partes fracionadas do sistema mantém a concepção de que ele existe objetivamente. Assim, apesar da substituição dos termos, a prática se dá a partir de uma visão fracionada do sistema. Concluímos, portanto, que a definição do sistema amplo segundo uma "perspectiva construtivista" não é suficiente para ,n 1csolver o problema proposto anteriormente, o de atender o sistema amplo ou "complexo" - mantendo sua complexidade. A nosso ver, ., solução para esse problema requer um salto qualitativo na concepção de sistema a abordar: requer concebê-lo como um "sistema determina- do por um problema". Porém, antes de abordar essa nova concepção, vamos tratar das redes sociais como sistemas. Paralelamente ao desenvolvimento da noção de sistemas amplos ou de sistemas mais amplos que a família, mas talvez com menos vi- sibilidade, foi desenvolvida a noção de rede social, outra tentativa de superar a reificação. Consideramos a rede social como um sistema am- plo. No entanto, como a metáfora de rede não inclui limites definidos, a definição da rede social como um sistema poderia torná-la menos propícia à reificação. Uma brilhante exceção à concepção reificante de sistema amplo foi desenvolvida nas décadas de 60 e 70, no Leste dos Estados Unidos, por Auerswald (1976/1968). Nessa época, o autor propôs que se abor- dasse o serviço (a política) de assistência médica como um ecossistema, segundo uma abordagem "ecológica". Ilustra,por meio da descrição de um caso, a diferença que ele faz entre a atuação tradicional de uma equipe "interdisciplinar" em que cada profissional é especialista em sua área, e a atuação de uma equipe interdisciplinar segundo a "abordagem ecológica", em que todos os profissionais têm uma visão sistêmica. Trata-se de um caso em que o profissional responsável, um psi- quiatra com visão sistêmica, colheu informações sobre uma paciente em diferentes ambientes sociais, ampliando sua visão para além do in- divíduo e de sua família. 12 Naquele momento, não foi realizado o aten- dimento da rede social da paciente em conjunto, mas o autor ressalta a importância, para o atendimento no serviço de saúde mental, de se considerarem todos os ambientes sociais em que a paciente está en- volvida - igreja, família nuclear, família extensa, polícia, até mesmo o próprio serviço de saúde. Entendemos que Auerswald concebia, desde "Ver no texto " Implicações do pensamento sistêmico cm diverscs contextos de práticas profissionais", no volume I desta obra, uma descrição desse caso. aquela época, a política de assistência médica como um sistema amplo, organizado em rede, e que assim lançava as bases para o atendimento da rede em conjunto. Pouco tempo depois, trabalhando na Califórnia, Speck e Attneave (1974/1973), reconhecendo a influência de Auerswald, relatam suas pri- meiras experiências de atendimento da rede social de pacientes psiqui- átricos e suas famílias. A partir do trabalho em hospitais psiquiátricos, deslocam o atendimento para a residência do cliente, aproximando-se de sua rede social e valorizando-a, o que torna possível atender em tor- no de 40 a 50 pessoas ao mesmo tempo e no mesmo local. Esses auto- res salientam que, nesse caso, a rede social é o cliente, o que deixa claro que a concebem como uma unidade. Para atendê-la, desenvolvem um interessante procedimento de intervenção, constituído de seis etapas.13 Em seu trabalho, adotam a definição de rede social do antropólogo bri- tânico Barnes, a qual pode ser vista como uma definição não reificada: Cada pessoa está, por assim dizer, em contato com certo número de pessoas, algumas das quais estão em contato direto entre si e outras não ( ... ) Creio ser conveniente denominar de rede a um campo social deste tipo. A imagem que tenho é a de uma rede de pontos, dos quais alguns estão unidos por seguimentos de retas. As pessoas, ou às vezes os grupos, seriam os pontos desta imagem e os seguimentos de reta indicariam que interatuam entre si (Barnes, 1954, ap11d Speck; Attneave, 1974/1973, p. 19). Ao adotarem essa definição, que não inclui fronteiras para a rede social, esses autores trouxeram a possibilidade de se trabalhar com sis- temas amplos não reificados. E, de fato, eles o fizeram ao atender a rede de seus pacientes e suas familias. Entretanto, ao tentarem utilizar o mesmo procedimento para atender associações profissionais e ou- tras instituições, tendem novamente a reificar o sistema. Descrevem o atendimento de uma associação, utilizando o mesmo procedimento de- senvolvido com as redes sociais das famílias, porém sem incluir no aten- dimento a rede social da associação (por exemplo, a sua matriz) nem a rede social dos associados. "Esse procedimento encontra-se descrito de forma detalhada no volume III desta obra. ·~ É curioso notar que, ao ampliar sua concepção teórica da rede social de um indivíduo ou de urna familia para um "sistema amplo", no caso uma associação, os autores deixaram de considerar o aspecto não reificado da rede. Ficaram presos a uma pré-definição da associação e perderam a possibilidade de trabalhar com um sistema não reificado. 4. Sistema determinado pelo problema - perspectiva sistêmica novo-paradigmática No final da década de 1980 e durante a de 1990, vários autores retomam o trabalho com as redes sociais, desenvolvendo-o em seus respectivos países, principalmente no atendimento a familias multi-pro- blemáticas: na Argentina, Dabas (1993; 1995), Dabas e Najmanovich (1995); na Bélgica e na França, Elkaim (Elkaim et al., 1989/1987); na Suécia, Klefbeck (1995/s.d.; 1996); nos Estados Unidos, Sluzki (1990) e Minuchin (Minuchin et al., 1999/1998). D entre eles, de grande importância para nosso trabalho foi tomar conhecimento de duas experiências realizadas na Suécia, relatadas por Klefbeck (1995/ s.d.; 1996). Em uma delas, Klefbeck, um psiquiatra, re- toma o processo de atendimento da rede social de pacientes com sofri- mento mental - tal como descrito por Speck e Attneave - para atender os pacientes que o procuram em uma unidade de crise de um hospital geral. Como primeiro passo, ainda na unidade de crise do hospital, com a ajuda da pessoa demandante da consulta, ele monta um mapa da rede social. D aí em diante, desenvolve o atendimento da rede identificada na casa da família do demandante ou em local próximo a essa. Numa outra experiência relatada, ele amplia ainda mais a rede a ser atendida: num programa de mobilização da rede social de famílias previamente definidas como incapacitadas para cuidar de seus filhos - desenvolvido por uma equipe de saúde, da qual Klefbeck é membro, na comunidade de Botkyrka, na periferia de Estocolmo - com o atendimento da rede busca-se evitar a retirada das crianças de suas famílias e o rompimento de seus vínculos afetivos. O contato com essas experiências de Klefbeck se deu em 1995, num workshop do qual nós três - autoras deste livro - participamos. ",'\ Exatamente naquele ano, uma de nós estava finalizando uma pesquisa- ação e redigindo seu relato, parte de sua dissertação de mestrado sobre a política de assistência à pessoa com deficiência, em Belo Horizonte (Aun, 1996)14, e considerou que o conceito de rede social seria útil para descrever os sistemas com os quais tinha trabalhado e que tinham sido constituídos a partir da noção de "sistema determinado pelo problema" de Goolishian e Winderman (1989 /1988). Percebeu também que a for- ma de Klefbeck coordenar a assembléia de rede - no atendimento da rede de uma familia simulada - poderia ser utilizada na coordenação de grandes assembléias em políticas sociais que pretendiam ser participa- tivas. Desde então, associando esses dois conjuntos de noções - redes sociais e sistema determinado pelo problema - temos trabalhado com grandes sistemas, mantendo sua complexidade. A contribuição teórica de Goolishian e Winderman trouxe uma diferença significativa para nossas práticas sistêmicas. Goolishian e Winderman (1989 /1988) propõem um conjunto de noções coerentes com os três pressupostos do pensamento sistêmico novo-paradigmáti- co - complexidade, instabilidade e intersubjetividade - conforme o qua- dro de referência organizado por Esteves de Vasconcellos (1992; 1995; 2002). As noções propostas por esses autores propiciam uma alterna- tiva de solução ao problema que vem sendo colocado: como dividir o sistema amplo para atendê-lo, sem perder sua complexidade. Referindo-se ao processo de terapia, Goolishian e Winderman (1989/1988) definem o sistema terapêutico - assim como qualquer sis- tema social - como um sistema lingüístico, o que lhes permite prescindir de definições diferentes para sistema familiar, sistema amplo, sistema mais amplo que a família. Segundo esses autores, é a estrutura da ecologia de significados que determina quem faz o que a quem, nos sistemas humanos. O sistema interacional relevante para qualquer problema em estudo está determinado na linguagem, não na estrutura social ou no papel. A dinâmica organizacional destes sistemas de significados, que existem na linguagem, determina "A pesquisa-ação relatada na dissertação da autora está resumidamente apresentada no texto "O processo de atendimento sistêmico: passos para sua realização", neste volume. "'ª os diversos comportamentos e problemas pelos quais a consulta terapêutica é demandada. E isto é assim, desde o momento em que trabalhamos com indivíduos que têm problemasconsigo mesmos, ou também com vários indivíduos que consultam em função de um problema (p. 22). É importante ressaltar que Goolishian e Winderman estão con- cebendo os sistemas sociais humanos como "sistemas lingüísticos". A nosso ver, isso corresponde à concepção da familia e de outros sistemas sociais como sistemas cuja organização é distinguida como uma "rede de conversações", conforme proposto por Méndez, Coddou e Matura- na (1998/1988). Com o objetivo de uma abordagem terapêutica, Gooloshian e Winderman pretendem ultrapassar os "sistemas predeterminados a par- tir de definições sociais tradicionais consensuais" e, assim, abandonar os modelos de tratamento tradicionalmente "definidos por conceitos tais como individual, conjugal, familiar e outros sistemas sociais mais am- plos" (p. 23). Propõem, então, a noção de Sistema Determinado pelo Problema - SDP para o sistema a tratar, com o que, ultrapassando as re- lações de "consangüinidade e os limites organizacionais e legais", evitam a perspectiva reificante e mantém a complexidade do sistema abordado. O SDP é definido "a partir daqueles que estão ativamente com- prometidos em uma interação lingüística ( .. . ),enfrentando um proble- ma, ou estando em posição antagônica" (p. 23). Assim, podemos afir- mar que o SDP se constitui de todos aqueles que estão envolvidos na definição do problema como um problema, inclusive o profissional ou a equipe de atendimento. Isso significa que o SDP constitui-se de uma variedade de pessoas em posições diferentes com relação ao problema, que, quando participam de uma conversação em conjunto, enriquecem- na e contribuem com diferentes pontos de vista. Como se vê, a definição do sistema a partir do problema considera a complexidade do sistema. Como se trata de um sistema lingüístico composto pela interseção dos campos de experiências subjetivas de seus diversos participantes, ele está em constante evolução; podem ocorrer mudanças no número e tipo de atores que o compõem, segundo evolui também a definição do problema em torno do qual se constitui o sistema, ao longo do processo ·~ de atendimento. Como se vê, essa definição permite que o profissional acompanhe a instabilidade do sistema. Por sua vez, o problema é definido como uma "experiência em comum de desacordo sobre um fenômeno condutual percebido" pelos diversos participantes que compõem o SDP. Note-se a coerência com a dimensão da intersubjetividade: o problema é co-construído ao longo de todo o processo. Enquanto percebido como tal, o problema mantém os atores unidos na conversação e quando considerado como não mais existindo como problema, dissolve-se o SDP, acompanhando o ritmo de evolução do sistema.15 Goolishian e Winderman se preocupam em definir o SDP "indepen- dentemente de qualquer convenção social a priori, limite ou agrupamento de indivíduos (por exemplo: familia nuclear, familia extensa, comunidade, associação etc.)" (p. 23). Ao contrário, sua definição depende do observa- dor, ou melhor, dos observadores - profissionais ou equipe de atendimen- to, clientes e todos os outros atores sociais que compartilham o problema. Como se pode ver, esse conceito evita a reificação do sistema e é coerente com a "perspectiva construtivista" proposta por Fruggeri e Matteini para se definirem os sistemas amplos, a qual corresponde à dimensão da intersub- jetividade do quadro de referência de Esteves de Vasconcellos. Enfim, devemos responder à pergunta proposta: como atender os sistemas amplos mantendo sua complexidade? Usaremos um exemplo fictício de uma "intervenção" em uma es- cola. A direção, os professores e vários pais de alunos de uma escola do segundo grau queixavam-se de indisciplina dos jovens. Os profissionais responsáveis pelo atendimento, juntamente com a escola e alguns pais, definiram de forma positiva16 o problema como "elaboração de regras de conduta para a escola e para a familia". A partir deste problema, definiram o SDP como constituído pelos pais, os alunos, a direção da "Ver o texto "Uma nova identidade para o profissional que lida com as relações humanas: o especialista cm atendimento sistêmko", neste volume. "Os termos "definir de forma positiva o problema" ou "definir positivamente o problema" não devem ser confundidos com as noções de "redefinição do sintoma" ou "positivaçào do sintoma", apresentadas no texto "Paradoxo e intervenções para a mudança", neste volume. O texto "O processo de acendimento: passos para sua realização", também neste volume, explica o que significa "definir de forma positiva o problema". escola, os professores, os funcionários administrativos, o que cria um sistema muito amplo. Em vez de atender a cada "subsistema", perdendo a complexidade do sistema amplo, os profissionais, juntamente com al- guns membros da escola, dividiram o sistema em vários SDPs pequenos, a partir das classes de alunos. Assim, foram constituídos vários SDPs como o seguinte: os alunos de uma classe, seus pais, seus professores, um ou dois membros da diretoria da escola, os funcionários administrativos diretamente envolvidos com aquela classe. Cada um destes pequenos SDPs foi atendido em um certo número de encontros conversacionais. Em cada um dos pequenos SDPs, foi mantida a complexidade corres- pondente à do SDP completo. No texto "O processo de atendimento sistêmico: passos para sua realização", neste volume, encontra-se uma descrição detalhada desse procedimento de divisão do sistema amplo em sistemas menores do que o original, mantendo sua complexidade. Na E quipSIS, temos integrado a noção de Sistema Determinado pelo Problema às noções de rede social e de grupos de multifamilias, constituindo sistemas a abordar tais como: rede em torno de um pro- blema de uma familia, rede em torno de um problema comum a várias familias, grupo de multifamilias em torno de um problema comum a todas as familias. Trabalhando no contexto de atendimento, temos adotado essa concepção de Sistema Determinado pelo Problema - SDP. Ao longo do tempo, temos sistematizado as especificidades de nossas práticas, integrando a noção de SDP à de "atendimento sistêmico", tal qual o temos definido.17 Assim, temos desenvolvido práticas que distinguimos como coerentes com os três pressupostos do novo paradigma da ciên- cia - complexidade, instabilidade, intersubjetividade-, o que as consti- tui como práticas sistêmicas novo-paradigmáticas. "Ver definição de "acendimento sistêmico", no texto "Psicoterapia/terapia de família/atendimento sistêmico à família: propondo uma diferenciação", no volume 1 desta obra. UMA NOVA IDENTIDADE PARA O PROFISSIONAL QUE LIDA COM AS RELAÇÕES HUMANAS O Especialista em Atendimento Sistêmico Juliana Gontijo Aun O reconhecimento da impossibilidade do acesso a uma realidade objetiva do mundo, pela ciência, implicou a necessidade de reformula- ção de nossa prática profissional, assim como dos conceitos teóricos que a embasam. Pois, se consideramos a realidade como uma constru- ção social, isso significa que cada um de nós participa da construção da realidade, segundo as possibilidades de sua estrutura, no sentido de Ma- turana. Então, tanto nós, profissionais, como nossos clientes (aqueles que nos procuram, pedindo ajuda), os usuários de programas ou políti- cas que lhes oferecemos, os membros das comunidades que abordamos, participam desta construção. De fato, esta visão de mundo construtivis- ta1 questiona a própria idéia de que a ciência possa encontrar verdades absolutas nas quais nós, os profissionais, pudéssemos embasar nossa prática e definir o que é bom, correto, saudável, aconselhável para aque- les com os quais trabalhamos. Diante dessa evolução da ciência, a iden- tidade do profissional que trabalha com as relações humanas ficou for- temente abalada. Se não temos mais como fazer essas definições, qual é nossa tarefa? Se não temos mais a crença na objetividade científica, nem a esperança de chegar a uma verdade absoluta, objetiva,por meio de mais e mais pesquisas científicas, e se ainda queremos permanecer rigorosamente científicos, qual é o nosso rumo? Em novembro de 1998, escrevi um texto que pretendia oferecer uma resposta às perguntas acima2• Tratwa-se de um resumo comentado 'Mantenho o termo "construtivista" para ser fiel ao texto de Goolishian e Winderman (1989/1988) que uso como fundo para colocar minhas idéias. Considero que o construtivismo como epistemologia corresponde à 3• dimensão do pensamento sistêmico novo-paradigmático. Por isso, o adjetivo "construtivista" pode ser lido como "novo-paradigmático", ' Texto preparado para o Workshop "Formas de Perguntar", realizado pela EquipSIS, Belo Horizonte, 1998, sob o título "Uma nova identidade para o profissional que lida com as relações humanas: resumo comentado de um texto de Goolishian e Winderman", de um artigo de Goolishian e Winderman3, do qual transcrevi vários e extensos trechos intercalados com comentários. Hoje, neste texto, evito tantas transcrições, mas o mesmo artigo continua sendo o fundo sobre o qual elaboro uma concepção de identidade para o profissional espe- cialista no atendimento sistêmico. De fato, as idéias desenvolvidas por Goolishian e seus colaboradores continuam sendo fundamentais, entre outras, para os trabalhos que tenho desenvolvido desde então. Quando escrevi o primeiro texto, já me sentia incomodada em usar o termo "terapeuta" de familia para me referir ao profissional que trabalha com sistemas amplos, mesmo que incluindo famílias em sua constituição. Na falta de um termo específico, passei a usar a expressão "profissional que lida com as relações humanas". Por ocasião do lança- mento de nosso curso de especialização em "Atendimento sistêmico às famílias", em 2000, insatisfeita também com os termos "terapia" (por seu caráter clinico) e "intervenção" (por seu caráter instrutivo), propus uma definição de "atendimento sistêmico", diferenciando-o de "terapia de familia", a partir da caracterização dos diferentes contextos que se formam, em um e outro caso, ao se iniciar o trabalho e ao se definir um contrato (Aun, 2005/2003). Tendo então proposto uma definição do "contexto de atendimento sistêmico", proponho aqui uma definição de identidade para o especialista em atendimento sistêmico, segundo uma visão sistêmica novo-paradigmática. Em 1998, uma outra razão, que permanece atual, me levou a escre- ver aquele texto: a preocupação com o risco de uma falta de discriminação entre a ação do profissional e a do cliente, a partir da disseminação das idéias do construtivismo e/ ou do construcionismo social no ambiente da terapia de familia no Brasil. Confusão esta que poderia levar o profissional a uma posição amorfa. Como disse, a adoção de uma posição construti- vista implica a revisão de nossas práticas. Se a realidade é entendida como uma construção social, trata-se de um acordo entre as pessoas sobre o que é real - correto, desejável, bom etc. - para elas. Tanto o especialista em atendimento quanto os outros membros do sistema participam da cons- ~~~ 'GOOLISHIAN, H.; WINDERMAN, l. Constructivismo, autopo1es1s y sistemas determinados por problemas. Sist,111111 Fa111iliam, Buenos fures, v. 5, n. 3, p.19-29, 1989. Original inglês, 1988. trução desse acordo. Se assim é, em que a participação do especialista em atendimento é diferente da participação dos outros membros do sistema, quando o objetivo é construir um acordo que crie uma nova realidade que não inclua mais o problema inicialmente experimentado pelo sistema? Autores que se autodefinem como partidários de uma posição construtivista ou construcionista social questionam a atuação interventi- va estratégica, considerando-a fundamentada nos pressupostos da ciber- nética de 1 ªordem.Esses autores propõem que o "terapeuta" desenvolva ações não instrutivas e assuma uma "posição colaborativa" (Goolishian; Winderman, 1989 / 1988), ou uma posição de "não saber", afirmando que o "cliente é o especialista" (Anderson; Goolishian, 1993/ s.d.). Sen- do assim, em que é especialista o profissional? Esta é uma questão à qual não podemos deixar de oferecer uma resposta neste livro. Neste texto, como se verá adiante, proponho uma resposta defi- nindo o profissional como "expert em contexto" e os outros membros do sistema como "experts em conteúdo". Antes disso, vou dialogar com o texto de Goolishian e Winderman. Na maioria das vezes, vou fazer uma citação do artigo, vou comentá-la e relacioná-la com a noção de atendimento sistêmico: - inicialmente, vou contextualizar o artigo de Goolishian e Winderman e resumir as noções nas quais eles se basearam para desenvolver suas idéias - construtivismo radical, autopoiese e linguagem; - em seguida, resumo e comento as noções que esses autores desenvolveram - terapia, Sistema Determinado pelo Problema, definição colaborativa de problema (diagnóstico), mudança - nas quais me baseio para desenvolver minhas idéias; - finalmente, resumo a descrição dos autores da atuação do terapeuta na realização de sua tarefa - "dirigir a conversação"-, seguida de minha descrição da atuação do profissional especialista em atendimento sistêmico, a qual eu chamo de "coordenação da conversação no contexto de autonomia". Depois de tudo isso, coerentemente com as idéias apresentadas e desenvolvidas, defino a identidade do "profissional que lida com as •n ,dações humanas" - especialista em atendimento sistêmico - como um ", .. ,pert em criar e manter contextos conversacionais de autonomia". 1. O artigo de Goolishian e Winderman - noções básicas Apesar de esse artigo• ter sido escrito para a área da terapia fami- liar, é perfeitamente aplicável na abordagem de qualquer outro sistema social como demonstra o trabalho por mim realizado na área das políti- cas sociais (Aun, 1996). Escolhi-o porque, do meu ponto de vista, traz um conjunto de noções teórico-práticas, em torno do conceito de Sis- tema Determinado pelo Problema - SDP, altamente estimulantes para se pensar e abordar sistemas mais amplos do que a família. Convido o leitor a estudá-lo integralmente e, por sua própria reflexão e criativida- de, fazer uma transposição para sua área de interesse. Para o objetivo imediato, enfocarei especialmente os conteúdos referentes à atuação do profissional especialista em atendimento sistémico. Segundo os próprios autores, esse artigo foi escrito a partir de um pedido de que discutissem "a pertinência, a aplicabilidade e a utilidade dos pressupostos fundamentais do construtivismo radical e do conceito de autopoiese, em psicoterapia". Para isso, os autores definem breve- mente esses conceitos e vão estabelecendo sua relação com a "psicote- rapia" (p. 19)5. Quanto ao constmtivismo radical esses autores assumem uma posi- ção definida como um questionamento à nossa noção de um mundo composto por propriedades estáveis que existem independentes da observação. Assim, o mundo torna- se um mundo de sistemas observantes• ( ... ) caracterizado, por um fluxo caleidoscópico de eventos; padrões (redes) de relações nos quais todos os que o percebem são, ao mesmo tempo, partes deles, [aos quais] damos significado através da linguagem (p.20). Dessa mesma forma, o mundo cienófico também é visto como um mundo de sistemas observantes, de forma que os autores podem • As referências bibliográficas usadas por Goolishian e Winderman serão citadas no rodapé, para se diferenciarem das referências desta autora. ' Para evitar excessivas repetições, as citações rcuradas do arúgo básico de Goolishian e Winderman (1989/1988) serão idenúficadas apenas pelo n,,mcro da p,ígina, entre parênteses. •VON FOERSTER, H. (1981) ObsmingI.Jsltms. Scas1dc: lntersystcms Publication. afirmar que "Todo conhecimento, inclusive a realidade cientifica, é uma construção mental (no sentido de Bateson~ dentro do campo social" (p. 20). Citando Gergen8 afirmam que o conhecimento, e isto inclui a pro- dução cientifica, "não é
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