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Estruturas e funções do sistema endócrino UNIDADE 3 3.1 Organogênese do sistema endócrino Iniciaremos nossos estudos apresentando como os três folhetos germinativos, derivados do processo de gastrulação e representados pela ectoderme, mesoderme e endoderme, se diferenciam e se desenvolvem, dando origem aos órgãos que compõem o sistema endócrino. A este processo é dado o nome de organogênese do sistema endócrino. Geralmente, a formação das glândulas que compõem o sistema endócrino inicia-se na quarta semana da gestação, sendo que cada glândula apresenta um padrão de desenvolvimento específico, a partir de diferentes estruturas formadas pelos três folhetos embrionários. Hipófise: Desenvolvimento do ectoderma da cavidade oral e do ectoderma do assoalho do diencéfalo. Tireoide: Endoderme da porção cranial do intestino primitivo anterior ou faríngeo, que originará a faringe primitiva. Paratireoides: Endoderme da terceira e quarta bolsas faríngeas. Pâncreas: Endoderme da porção caudal do intestino primitivo anterior. Glândulas suprarrenais: Mesoderme (região cortical) e células da crista neural (região medular). 3.1.1 Hipófise A hipófise é proveniente do desenvolvimento do ectoderma, ela possui duas porções principais distintas, tanto em relação à origem do ectoderma, quanto às suas funções. A glândula é formada pela evaginação de uma porção do ectoderma da cavidade oral primitiva (estomodeu), que se desenvolve em direção cranial, formando a bolsa de Rathke e pelo crescimento do assoalho do diencéfalo em direção caudal, denominado infundíbulo. Durante a terceira semana do desenvolvimento embrionário, a bolsa de Rathke continua crescendo no sentido dorsal, em direção ao infundíbulo, perdendo a conexão com a cavidade oral no final do segundo mês de gestação, porém, permanecendo em contato íntimo com o infundíbulo. Subsequentemente, as células da parede anterior da bolsa de Rathke se multiplicam rapidamente, dando origem ao lobo anterior da hipófise, mais conhecido como adeno-hipófise. Parte do labo anterior da hipófise, conhecida como porção tuberal, cresce ao redor do pedículo do infundíbulo, circundando toda a sua região. Contudo, a parede posterior da bolsa de Rathke, próxima ao infundíbulo, se desenvolve na porção intermediária da adeno-hipófise. O infundíbulo originará o pedículo e a parte nervosa, ou lobo posterior da hipófise, mais comumente designada neuro- hipófise. Esta é formada por células neurogliais e fibras dos neurônios hipotalâmicos. 3.1.2 Tireoide A glândula tireoide é formada pelo desenvolvimento do folheto embrionário endodérmico da porção cranial do intestino primitivo anterior, também denominado intestino faríngeo, que dará origem à faringe primitiva. A partir do 24º dia de desenvolvimento embrionário, ocorre um espessamento endodérmico mediano do assoalho da faringe primitiva (A), entre o tubérculo ímpar e a cópula (estruturas relacionadas ao desenvolvimento da língua), formando uma evaginação conhecida como tireoide primitiva (B). Subsequentemente, com o crescimento do embrião, a glândula em desenvolvimento migra pelo pescoço, passando ventralmente ao osso hioide e às cartilagens laríngeas em desenvolvimento. Durante essa migração, a tireoide permanece conectada à língua por um canal estreito, o ducto tireoglosso (C). Em torno da sétima semana de gestação, a tireoide alcança sua posição final na frente da traqueia, observado na figura acima (D) e o ducto tireoglosso degenera-se, restando apenas vestígios da sua abertura denominado forame cego no dorso da língua. Por volta da 11ª semana, a tireoide começa a funcionar, podendo se observar os primeiros folículos contendo coloide. As células foliculares produzem o coloide, que funciona como matriz para síntese de tiroxina e de tri-iodotironina. Entretanto, a tireoide também possui, em sua constituição, localizadas entre os folículos, as células parafoliculares ou células C, responsáveis pela produção do hormônio calcitonina. Essas células são originadas da migração das células da crista neural, provenientes do fechamento do tubo neural na região cranial do embrião, presentes no corpo ultimobranquial (região ventral da quarta bolsa branquial), que, posteriormente, será incorporado à glândula tireoide. 3.1.3 Paratireoides As glândulas paratireoides originam-se da terceira e quarta bolsa faríngea, formadas a partir do desenvolvimento do folheto embrionário endodérmico da porção cranial do intestino primitivo anterior, também denominado intestino faríngeo, que posteriormente originará a faringe primitiva. A terceira e a quarta bolsas faríngeas são caracterizadas por apresentarem, na sua extremidade distal, uma porção dorsal e outra ventral. Por volta da quinta semana de gestação, a região dorsal da terceira bolsa faríngea se diferencia na glândula paratireoide inferior, enquanto que o timo se origina da porção ventral da bolsa, observe na figura a seguir. Ambos os primórdios glandulares perdem sua conexão com a parede faríngea, e a glândula paratireoide inferior acompanha o timo em sua migração no sentido caudal e medial. Embora a principal porção do timo se mova rapidamente até sua posição final, na porção anterior do tórax, enquanto se funde com seu complemento do lado oposto, sua porção caudal persiste algumas vezes inserida na glândula tireoide ou como nichos tímicos isolados. O tecido paratireoideo da terceira bolsa finalmente se posiciona na superfície dorsal da glândula tireoide e forma a glândula paratireoide inferior. Contudo, o desenvolvimento do epitélio da região dorsal da quarta bolsa faríngea irá formar a glândula paratireoide superior, que, ao perder contato com a parede da faringe, se adere à superfície dorsal da tireoide, que migra caudalmente e se torna a glândula paratireoide superior, visto na figura acima. É interessante ressaltar, que a glândula paratireoide derivada da terceira bolsa migra com o timo e, por essa razão, assume uma posição inferior à glândula paratireoide derivada da região dorsal da quarta bolsa faríngea. 3.1.4 Pâncreas O pâncreas é formado pelo desenvolvimento do folheto embrionário endodérmico da porção caudal do intestino primitivo anterior, que, conjuntamente, originará o duodeno e outros órgãos do sistema digestório. É inicialmente constituído por dois brotos: pancreático dorsal, localizado no mesentério e pancreático ventral, próximo ao ducto biliar. Com a movimentação do duodeno para a direita, o broto pancreático ventral se move dorsalmente, posicionando-se imediatamente abaixo e atrás do broto dorsal. Subsequentemente, o parênquima e os sistemas de ductos dos brotos pancreáticos dorsal e ventral se fundem, formando as diferentes regiões anatômicas do pâncreas; o broto ventral forma o processo uncinado e a porção inferior da cabeça do pâncreas, enquanto que a porção restante da glândula é derivada do broto dorsal. No terceiro mês da vida fetal, as ilhotas pancreáticas ou de Langerhans, se desenvolvem a partir do tecido pancreático parenquimatoso, que no indivíduo adulto, serão constituídas por quatro tipos de células diferentes: células β - produtoras de insulina, células α - produtoras de glucagon, as células δ - produtoras de somatostatina e as células P - produtoras de polipeptídeo prancreático. A distribuição desses tipos celulares não é homogênea ao longo do parênquima do órgão devido à origem ventral e dorsal desse órgão. Dessa maneira, no corpo e na cauda, há maior densidade de células α e β, enquanto que na cabeça, há uma prevalência de células P. O mesoderma visceral, que circunda os brotos pancreáticos, forma o tecido conjuntivo pancreático. 3.1.5 Glândulassuprarrenais (adrenal) A glândula suprarrenal adulta é composta por duas diferentes regiões, o córtex e a medula, que possuem origem no desenvolvimento do folheto embrionário mesodérmico e ectodermico, respectivamente. Durante a quinta semana do desenvolvimento embrionário, as células mesoteliais entre a raiz do mesentério e a gônada em desenvolvimento começam a proliferar e penetram o mesênquima subjacente. Nesse ponto, elas se diferenciam em grandes células acidófilas, que formam o córtex fetal ou córtex primitivo, da glândula suprarrenal. Posteriormente, outras células do mesotélio (morfologicamente menores) invadem o mesenquima, circundando a massa celular acidófila presente. Após o nascimento, o córtex fetal regenera-se e as células mesoteliais menores remanescentes se diferenciam em três camadas definitivas, formando o córtex da adrenal adulta, que é compartimentalizado em três regiões denominadas zona glomerulosa, zona fasciculada e zona reticular. As especificidades histológicas e funcionais dessas sub-regiões do córtex da adrenal serão abordadas adiante. Concomitantemente à formação do córtex, as células da crista neural (origem ectodérmica) invadem a região medial da glândula, onde ficam arranjadas em cordões e grupos para formar a medula da glândula, observe na figura abaixo. As células da crista neural se diferenciarão nas células cromafins, que representam neurônios simpáticos pós-ganglionares modificados, inervados por fibras simpáticas que, quando estimuladas, produzem adrenalina e noradrenalina, liberadas diretamente na corrente sanguínea. 3.2.1 Introdução ao sistema endócrino O sistema endócrino é formado pelo hipotálamo e por um conjunto de glândulas envolvidas na produção de substâncias denominadas hormônios, que são lançados na circulação sanguínea até alcançarem os determinados órgãos de atuação. Em cooperação com o sistema nervoso, o sistema endócrino coordena toda a fisiologia corporal. Essa associação é possível devido à existência do hipotálamo, formado por um grupo de células nervosas localizadas na base do encéfalo, que estabelece a integração entre esses dois sistemas orgânicos, por meio do sistema porta-hipofisário. Hormônios são moléculas, com diferentes naturezas químicas, que agem como sinalizadores. Essas moléculas são sintetizadas e liberadas na corrente sanguínea, por células epiteliais especializadas denominadas endócrinas. Essa denominação foi dada porque essas células secretam os hormônios para dentro da circulação sanguínea, ao contrário das células de glândulas exócrinas, cuja secreção é conduzida pelos ductos excretores à uma cavidade de um determinado órgão ou à superfície do corpo. Os hormônios são responsáveis por diversas funções corporais consideradas contínuas e de longo prazo, que incluem metabolismo, regulação de temperatura, balanço hídrico e de íons, reprodução, crescimento e desenvolvimento As células endócrinas comumente se unem, formando glândulas endócrinas, nas quais se organizam geralmente sob forma de cordões celulares, havendo exceções. Existem também muitas células endócrinas isoladas, tais como as encontradas no sistema digestório (sistema endócrino difuso). Entretanto, hormônios também podem ser liberados por neurônios (neuro- hormônios) e, ocasionalmente, por células do sistema imune (citocinas). Nesse contexto, os principais órgãos do sistema endócrino, que podem ser observados na figura abaixo, são: o hipotálamo, a glândula hipófise, a glândula tireoide, o timo, a região endócrina do pâncreas, as glândulas suprarrenais, os testículos e os ovários. 3.2.2 Classificação hormonal, síntese, secreção, transporte, depuração e mecanismos de ação dos hormônios Os hormônios podem ser classificados de acordo com a natureza química de suas moléculas, que, embora possam apresentar uma grande diversidade estrutural, tais como os hormônios peptídicos (ou proteicos), os hormônios esteroides e os hormônios derivados de aminoácidos (amínicos), didaticamente é conveniente classificá-los em dois grandes grupos: os hidrossolúveis e os lipossolúveis. O caráter de hidrossolubilidade dos hormônios influencia na determinação de características comuns nos processos de síntese, secreção, transporte e metabolização, assim como o tipo de receptor e o mecanismo de ação. Hormônios hidrossolúveis: Também conhecidos como o grupo dos hormônios proteicos, são formados, principalmente, por proteínas. Estas, são formadas por cadeias de aminoácidos, conectados entre si por ligações peptídicas, preservando a característica polar das moléculas dos aminoácidos, o que os torna hidrossolúveis. A composição desses hormônios varia desde um único aminoácido modificado (hormônios derivados de aminoácidos), passando por peptídeos simples (hormônios peptídicos), até grandes proteínas. Os hormônios ainda podem ser formados por proteínas modificadas após um processo de glicosilação (adição de um carboidrato) ou ainda por fosforilação (adição de grupos fosfato PO4). Como exemplos de hormônios hidrofílicos proteicos podemos citar a insulina, o glucagon e o paratormônio. A ocitocina e o hormônio antidiurético são exemplos de hormônios peptídicos e as catecolaminas são exemplos de hormônios hidrossolúveis derivados de aminoácidos. A síntese dos hormônios proteicos é realizada pelos ribossomos presentes no retículo endoplasmático rugoso (RER) das células, sendo denominados de pré-pro- hormônios, por serem proteínas grandes e inativas, contendo um peptídeo sinal, que as direcionam para o lúmen do RER, onde ocorrerá a clivagem dessa sequência, e, consequentemente, a formação do pré- hormônio (ainda inativo). Este é transportado por vesículas até o complexo de Golgi, onde poderá ocorrer modificações como a glicosilação e fosforilação. Posteriormente, essa substância será empacotada em vesículas de secreção, juntamente com enzimas proteolíticas que irão ativar esse hormônio. As vesículas, então, se fundem à membrana plasmáticas das células, liberando os hormônios ativos no interstício ou nos capilares sanguíneos. Em relação ao transporte, os hormônios hidrossolúveis solubilizam-se facilmente, tanto no interstício como no sangue, de forma que circulam livres até atingirem as células -alvo, com algumas exceções, tais como o hormônio do crescimento e os IGF, que circulam acoplados a uma proteína carreadora. Os hormônios proteicos e os derivados de aminoácidos são degradados no fígado e nos rins, devido à grande quantidade de enzimas proteolíticas existentes nesses órgãos. Além disso, na célula alvo da ação hormonal, ocorre um contínuo processo de internalização do complexo hormônio-receptor, e, por ação dos lisossomos, ocorre a metabolização dos hormônios. Alguns desses hormônios têm meia-vida (definida como tempo necessário par degradar 50% da quantidade secretada num dado momento) extremamente curta, como a da insulina, que é de 5 a 8 minutos, o que justifica a necessidade de síntese contínua pelo organismo. Em relação ao mecanismo de ação, é importante ressaltar que por conta da característica lipossolúvel da membrana plasmática, os hormônios hidrossolúveis, como o hormônio do crescimento, não são capazes de penetrar passivamente pela bicamada lipídica das células. Dessa maneira, esses hormônios possuem receptores localizados na membrana plasmática das células-alvo, com o sítio de ligação ao hormônio exposto ao meio extracelular, como observado na figura acima. A interação do hormônio com o seu respectivo receptor desencadeia uma cascata de sinalização intracelular, gerando a resposta fisiológica esperada para aquele determinado hormônio. Hormônios lipossolúveis: São aqueles que possuem moléculas lipídicas como precursores, cujo caráter lipídico ou lipossolúvel é mantido na forma ativa do hormônio.Entretanto, os hormônios tireoidianos T3 e T4 são exceções. Esses hormônios são constituídos pela ligação de dois aminoácidos hidrossolúveis de tirosina que, ao serem posteriormente iodados, perdem o caráter hidrossolúve1 e passam a apresentar características de hormônios. A maioria deles são derivados da molécula de colesterol, sendo chamados de hormônios esteroides. Entretanto, podem também ser sintetizados a partir de moléculas análogas de colesterol, tais como os calciferóis, ou de ácidos graxos, como a prostaglandina. A síntese destes hormônios depende da presença do substrato lipídico precursor e de enzimas específicas na célula secretora, que irão metabolizar o precursor lipídico até a formação do hormônio ativo. Um exemplo de proteína é a aromatase, que converte a testosterona (hormônio esteroide masculino) em estradiol (hormônio esteroide feminino). O tipo de hormônio a ser sintetizado em cada território depende da presença de enzimas específicas na célula, conduzindo a rota da esteroidogênese para determinados produtos finais. Por exemplo, a testosterona é produzida a partir do colesterol, no retículo endoplasmático liso das células de Leydig, situadas no testículo, por meio da atuação de diversas enzimas, incluindo a enzima 17b-HSD. Além de serem produzidos nos testículos e nos ovários e, consequentemente, estarem envolvidos em funções reprodutoras masculinas e femininas, esses hormônios também são sintetizados no córtex da adrenal e desempenham funções no metabolismo de carboidratos (glicocorticoides) e no equilíbrio eletrolítico (mineralocorticoides). Ao contrário dos hormônios hidrossolúveis, os hormônios esteroides possuem afinidade pela membrana plasmática das células, sendo secretados à medida que são sintetizados, por difusão simples para o interstício ou para capilares sanguíneos. Entretanto, apesar da característica lipossolúvel facilitar a secreção desses hormônios, o transporte em meio aquoso, seja no interstício ou no sangue, depende da ligação desses hormônios às proteínas hidrossolúveis, denominadas globulinas, que, ao englobar as moléculas lipídicas, lhes conferem hidrossolubilidade, permitindo-lhes a mobilização por meios hidrofílicos. Uma vez que os hormônios esteroides entram na célula por difusão, o mecanismo de ação desses hormônios será desencadeado a partir da sua ligação a receptores intracelulares, geralmente nucleares, cujo complexo hormônio-receptor termina por se ligar em sítios específicos da região promotora de genes-alvo, agindo como fatores transcricionais da expressão gênica, ou seja, controlando a expressão gênica das células-alvo. 3.2.3 Controle por feedback da secreção hormonal O funcionamento dos diversos sistemas orgânicos dos organismos é possibilitado devido à existência de mecanismos fisiológicos que garantem a manutenção do equilíbrio, também denominado homeostase. Um desses mecanismos é a retroalimentação, popularmente conhecida pela sua denominação em inglês, “feedback”. A retroalimentação pode ser definida de maneira geral, como uma mudança no estado de um dos componentes de um sistema, gerando uma interação que reduz (feedback negativo), ou aumenta (feedback positivo), a resposta do sistema no qual está inserido. Pode parecer um pouco confuso, mas vamos observar uma situação simples do nosso organismo. Imagine as reações do seu corpo quando você está correndo uma maratona, imaginou? Dentre as várias adaptações, após um tempo, ocorrerá um aumento da temperatura do seu corpo. Como a sua temperatura deve manter-se constante para o ideal funcionamento das enzimas, o seu sistema nervoso compreende essa mudança e promove a liberação de suor. A evaporação do suor na sua pele promove o resfriamento do corpo, causando diminuição na temperatura. Ou seja, essa situação mostra que, ao detectar o aumento da temperatura, o organismo promoveu a diminuição dela por meio da produção de suor, sendo um clássico exemplo de retroalimentação negativa. O controle da atuação da grande maioria dos hormônios do nosso corpo ocorre pelo mecanismo de retroalimentação negativa, regido por um eixo principal denominado eixo hipotálamo-hipófise. Esse eixo, além de representar uma conexão entre o sistema nervoso central e o sistema endócrino, atua no controle da secreção de hormônios de glândulas endócrinas tais como a tireoide, paratireoide, pâncreas endócrino, suprarrenais, testículos e ovários. Alterações nesses eixos hipotálamo- hipófise-glândulas, podem causar doenças tais como: diabetes, hipotireoidismo, hipertireoidismo, gigantismo, entre outras. 3.3.1 Eixo hipotálamo-hipofisário A glândula hipófise localiza-se em uma cavidade do osso esfenoide, denominada sella turcica. A hipófise se liga ao hipotálamo, situado na base do cérebro, por meio do infundíbulo, ligação entre a hipófise e o sistema nervoso central. O hipotálamo atua em diversos centros de controle e de integração do organismo, dentre eles, a coordenação de atividades dos sistemas nervoso e endócrino. O hipotálamo age tanto por meio de estimulação ou inibição de células endócrinas na adeno-hipófise, como também por secreção de hormônios pelo núcleo supra-óptico (hormônio antidiurético - ADH) e pelo núcleo paraventricular (ocitocina). A hipófise, em razão de sua origem embriológica dupla, consiste, na realidade, em duas glândulas: a hipófise anterior ou adeno-hipófise e a hipófise posterior ou neuro-hipófise, unidas anatomicamente, porém, apresentando diferentes funções inter-relacionadas. A neuro-hipófise, porção de origem nervosa do telencéfalo é formada por uma porção volumosa (a pars nervosa) e pelo seu pedículo de fixação ao hipotálamo denominado infundíbulo. A adeno-hipófise, originada do ectoderma da cavidade oral primitiva é constituída de três regiões: a primeira e mais volumosa, a pars distalis ou lobo anterior; a segunda, porção cranial que envolve o infundíbulo, denominada pars tuberalis; a terceira, denominada pars intermedia é intermediária entre a neuro-hipófise e a pars distalis, separada desta última pela fissura restante da cavidade da bolsa de Rathke, como observado na figura acima. As células endócrinas da adeno-hipófise sintetizam e secretam diversos hormônios. Essa secreção ocorre por conta da liberação de hormônios peptídicos, sintetizados pelos neurônios dos núcleos dorso-mediano, dorsoventral e infundibular do hipotálamo. Esses hormônios, são liberados no sistema porta hipofisário da eminencia mediana e são transportados para adeno-hipófise pelos capilares. Ao atingirem a adeno-hipófise, esses hormônios estimulam as células endócrinas a produzirem hormônios proteicos, que, ao atingirem os capilares, irão atuar nos mais diversos órgãos. No caso da neuro-hipófise, o hormônio produzido nos núcleos supra-ópticos e paraventriculares, são conduzidos pelos axônios e permanecem armazenados na neuro-hipófise. 3.3.2 Neuro-hipófise e diabetes insipidus Agora iremos aprofundar nossos estudos nas funções desempenhadas pelos hormônios produzidos pelo hipotálamo e armazenados na neuro-hipófise, o hormônio antidiurético (ADH) e a oxitocina. A secreção da vasopressina, mais comumente conhecida como hormônio antidiurético (ADH) é controlada pela pressão osmótica do sangue. O aumento da pressão osmótica estimula os osmorreceptores situados no hipotálamo anterior, promovendo a secreção em neurônios do núcleo supraóptico nos capilares da neuro-hipófise, fazendo com que a vasopressina atinja a circulação sanguínea. Ao alcançar os rins, esse hormônio exerce efeito em aumentar a permeabilidade dos túbulos coletores do rim à água, fazendo com que ela saia do lúmen desses túbulos em direção ao interstício, onde é coletada pelos capilares sanguíneos, fazendo com que haja reabsorção de água pelo organismo.A ligação do ADH ao seu receptor na membrana plasmática desencadeia uma cascata de sinalização que culmina com o aumento de aquaporinas na membrana, possibilitando a entrada de água nas células dos ductos coletores renais. Dessa forma, a vasopressina atua na regulação do equilíbrio osmótico do ambiente interno. Lesões do hipotálamo que causem danos às células produtoras de ADH são responsáveis pela doença denominada diabetes insípido, caracterizada pela perda da capacidade renal de concentrar urina e consequente reabsorção de água pelo organismo. Como resultado, um paciente pode eliminar cerca de 20 litros de urina por dia e beber grandes quantidades de líquidos Outro hormônio secretado pela neuro- hipófise é a ocitocina, que atua na estimulação das células musculares lisas da parede uterina e nas células mioepiteliais que cercam os alvéolos e ductos das glândulas mamárias. A secreção de ocitocina é estimulada por distensão da vagina, distensão da cérvice uterina e pela amamentação, por meio de tratos nervosos que agem sobre o hipotálamo. O reflexo neuro-hormonal estimulado pela sucção dos mamilos é chamado reflexo de ejeção do leite. 3.4 Tireoide (função hormonal, eixo hipotálamo-hipófise-tireoide, hipertireoidismo e hipotireoidismo) A tireoide é uma glândula endócrina, localizada na região cervical anterior à laringe, ilustrada na figura abaixo, que desempenha a função de sintetizar os hormônios tiroxina (T4) e triiodotironina (T3), que atuam em atividades envolvidas na regulação da taxa de metabolismo do corpo, tais como o crescimento e desenvolvimento somático e neural, a termogênese, o metabolismo intermediário e a função sexual. A tireoide é composta de milhares de folículos tireoidianos, revestidos por epitélio simples, cujas células são também denominadas tireócitos. A cavidade dos folículos contém uma substância gelatinosa chamada coloide, que fornece a matriz de formação dos hormônios T3 e T4. Outro tipo de célula encontrado na tireoide é a célula parafolicular ou célula C, responsável pela síntese do hormônio calcitonina. A glândula tireoide é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. Os órgãos envolvidos nesse mecanismo são o hipotálamo, a hipófise, a tireoide e as diversas células-alvos de atuação dos hormônios tireoidianos, distribuídas ao longo de praticamente todos os órgãos do corpo humano. A tireotrofina (TSH), produzida pela adeno-hipófise, atua na glândula tireoide, estimulando a produção dos hormônios tireóideos triiodotironina (T3) e a tiroxina (4), que são liberados na corrente sanguínea, para a agirem nas células-alvo. A liberação da calcitonina é estimulada pelos níveis dos íons Ca2+ no sangue. A liberação do TSH é estimulada pelo hormônio liberador de tireotrofina (TRH), produzida pelo hipotálamo, via sistema porta hipotalâmico-hipofisário. Tanto o TSH quanto o TRH, são controlados por retroalimentação negativa (feedback negativo), mediante inibição exercida pelos hormônios tireoidianos livres, principalmente o T3, como observado na figura acima. 3.5 Paratireoides e Metabolismo do Cálcio (paratormônio, vitamina D, calcitonina). Metabolismo ósseo. Raquitismo e osteomalacia As paratireoides são quatro pequenas glândulas que se localizam nos polos superiores e inferiores da face dorsal da tireoide. Mais raramente, podem situar-se no interior da tireoide ou no mediastino, próximo ao timo, devido à proximidade da localização dessas glândulas durante o desenvolvimento embrionário. O paratormônio, hormônio produzido pelas paratireoides é uma proteína que se liga a receptores de membrana em osteoclastos, estimulando a produção de um fator que aumenta o número e a atividade dessas células, intensificando as taxas de reabsorção de matriz óssea calcificada e a liberação de Ca2+ no sangue. Por outro lado, a elevação da concentração de Ca2+, inibe a produção de paratormônio por meio de receptores de cálcio encontrados na superfície das células principais da paratireoide. Entretanto, a calcitonina, produzida pelas células parafoliculares da glândula tireoide, inibe os osteoclastos, diminuindo a reabsorção de osso e a concentração desse íon no plasma. A calcitonina tem, portanto, ação oposta à do paratormônio. A ação conjunta de ambos hormônios é um mecanismo importante para regular, de forma eficiente, o nível de Ca2+ no sangue, um fator importante para o funcionamento de muitos processos que ocorrem nas células e nos tecidos. 3.6 Pâncreas Endócrino e Glândulas Suprarrenais (Córtex e medula da suprarrenal) De maneira geral, os hormônios produzidos por essas glândulas atuam no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios, mas também desempenham outras funções 3.6.1 Pâncreas endócrino A parte endócrina do pâncreas é constituída pelas ilhotas de Langerhans, e, quando observados ao microscópio, apresentam-se como grupos arredondados de células de coloração menos intensa, incrustados no tecido pancreático. As ilhotas são constituídas por células poligonais, dispostas em cordões, envoltas por uma abundante rede de capilares sanguíneos. Uma doença metabólica muito comum atualmente é a diabetes. O diabetes do tipo 1 é uma doença autoimune, cujos anticorpos produzidos contra células beta deprimem a atividade dessas células. Já no diabetes tipo 2, ocorre a resistência à insulina por parte de alguns tipos celulares, de diversos órgãos do corpo. Como consequência, há uma taxa plasmática de glicose alta nos pacientes acometidos por essa patologia, representados principalmente por adultos. 3.6.2 Glândulas Suprarrenais (Córtex e medula da suprarrenal) As adrenais são duas glândulas achatadas com forma de meia-lua, cada uma situada sobre o polo superior de cada rim. Em humanos podem também ser chamadas suprarrenais, porque se situam sobre os rins. A glândula, que está envolvida principalmente na síntese de hormônios esteroides, é dividida duas porções concêntricas distintas: uma periférica denominada camada cortical ou córtex adrenal, e outra central, conhecida como camada medular ou medula da adrenal As células do córtex adrenal se dispõem em organização cordonal e variam a disposição organizacional em cada região. Possuem ultraestrutura típica de células secretoras de esteroides, com predominância de retículo endoplasmático liso no citoplasma. O córtex adrenal pode ser subdividido em três camadas concêntricas cujos limites nem sempre são perfeitamente definidos em humanos: a zona glomerulosa, a zona fasciculada e a zona reticulada. A zona glomerulosa se situa imediatamente abaixo da cápsula de tecido conjuntivo. A zona glomerulosa secreta a aldosterona, importante mineralocorticoide que contribui para manter o equilíbrio de sódio e potássio, e consequentemente dos níveis de pressão arterial. A aldosterona age principalmente nos túbulos contorcidos distais dos rins, mas também na mucosa gástrica, nas glândulas salivares e sudoríparas. A células da zona fasciculada estão envolvidas na síntese de hormônios glicocorticoides, dentre os quais, um dos mais importantes é o cortisol. Os glicocorticoides regulam o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios, exercendo, portanto, ações no organismo inteiro. Os glicocorticoides atuam na supressão da resposta imune. Contudo, as células da zona reticulada produzem andrógenos e, em menor grau, glicocorticoides e mineralocorticoides. As células do parênquima da medula da adrenal, originadas das células da crista neural, sintetizam os hormônios epinefrina e a norepinefrina, pertencentes a uma classe de substâncias denominadas catecolaminas. Os hormônios produzidos pelo córtex daadrenal são regulados pelo eixo hipotálamo-hipófise- adrenal, pelo mecanismo de retroalimentação negativa
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