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UVA Construção do Pensamento Unidade 1

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Filosofia 
 
 
Olá, estudante! 
 
Muita gente pensa que o filósofo é um intelectual que se ocupa apenas de questões 
abstratas, e que a Filosofia, por consequência, não passa de um conjunto de teorias 
sem qualquer relação com a vida prática. Mas a Filosofia, na verdade, nasce da não 
acomodação do homem no mundo e da tentativa de entender o porquê das coisas. 
Filosofar é refletir sobre tudo que nos cerca. 
 
A filosofia nos tira da zona de conforto, pois questiona o modo de ser das pessoas e 
das coisas. Ela debate as práticas política, científica, técnica, ética, econômica, 
cultural e artística. 
 
Todos nós, portanto, podemos e devemos exercitar a reflexão filosófica, se quisermos 
ir além das opiniões simplistas que nos são transmitidas a todo tempo. A Filosofia é 
uma atividade crítica e questionadora que procura compreender a realidade de forma 
abrangente, a fim de possibilitar a autonomia do homem, fazendo-o desenvolver sua 
capacidade de pensar os problemas do cotidiano, sem se deixar levar como massa de 
manobra. 
 
Filosofar é, em última análise, dar ao homem as condições teóricas e práticas 
imprescindíveis à elaboração de sua própria história. Esperamos, por isso, que nossa 
Disciplina possa despertar em você o real interesse pelo pensar filosófico. 
 
 
 
Objetivos 
 
 
Ao final desta disciplina, você deverá ser capaz de: 
 
• Identificar as características básicas que tornam o homem um 
ser de cultura. 
• Distinguir os elementos da constituição lógica do raciocínio. 
• Descrever os sistemas clássicos da filosofia e sua relação com 
o mundo concreto. 
• E laborar uma reflexão crítica acerca do conhecimento, da ética 
e das novas tecnologias que se interpenetram e interagem no 
mundo globalizado. 
 
 
Conteúdo Programático 
 
 
Esta disciplina está organizada de acordo com as seguintes 
unidades: 
 
• Unidade 1 – Unidade 1 – Condição Humana 
• Unidade 2 – A Propedêutica Filosófica 
• Unidade 3 – Elaboração do Pensamento Filosófico 
• Unidade 4 – Filosofia, Ciência e Questões Epistemológicas 
 
 
 
Autoria 
 
Professora Regina Yara Martinelli 
 
Doutorado, Mestrado e Graduação (Bacharelado e Licenciatura) em Filosofia (UERJ). 
Lato sensu em Literatura Brasileira (UERJ). Bacharelado em Comunicação Social – 
Jornalismo (FACHA). 
 
Revisão e atualização 
 
Ronaldo da Costa Formiga 
 
Doutorado em Comunicação, Cultura e Sistemas de Pensamento (UFRJ). Mestrado 
em Antropologia (UFRJ). Graduação em Ciências Sociais (PUC/RJ). 
 
A condição humana 
 
 
A reflexão sobre a própria existência desperta no homem uma consciência crítica a 
respeito de si mesmo, do outro e do mundo. Por isso, nesta unidade, vamos 
apresentar uma síntese da constituição das sociedades humanas, destacando 
aspectos antropológicos e filosóficos de especial relevância no percurso que segue da 
pré-história até os dias de hoje. 
 
 
Objetivo 
 
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: 
• Identificar as características básicas que tornam o homem um 
ser de cultura. 
 
 
Conteúdo Programático 
 
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas: 
• Tema 1 - Natureza e Cultura 
• Tema 2 - Relações entre técnica e sociedade 
• Tema 3 - O homem: uma perspectiva filosófica 
 
 
 
O início do processo de humanização 
 
 
 
 
A Antiguidade Clássica e os primeiros pensadores
 
 
A Época Medieval e o poder da fé
 
 
A Idade Moderna: o novo conhecimento e as Grandes Navegações
 
 
 
 
A Contemporaneidade
 
 
 
Já é possível imaginar nosso limite? 
 
 
 
 
Tema 1 
Natureza e Cultura 
 
 
Por que se considera que o homem é um ser cultural? 
 
 
 
 
Uma das maiores questões que 
afligem a humanidade é a busca de 
sua origem, dos princípios 
fundadores da concepção 
propriamente humana. Por mais que 
se investigue, as dúvidas sempre 
surgem nesse âmbito, e as 
discussões resvalam em problemas 
filosóficos, religiosos e científicos. 
 
Assim, a questão “O que é o homem?” perpassa a história do conhecimento, da 
Antiguidade aos dias atuais. E muitos, a sua maneira, procuram desenvolver ideias 
capazes de justificar a complexidade da existência e dos procedimentos humanos. 
 
Além disso, inúmeras diferenças entre os seres vivos podem ser percebidas, 
especialmente entre homens e animais. Por exemplo, a adaptação do homem ao 
espaço físico e temporal difere bastante da adequação dos animais à natureza, e nem 
sempre o comportamento humano pode ser comparado às ações dos animais, até 
pela previsibilidade comportamental característica das espécies comumente 
chamadas irracionais. 
 
Saiba Mais 
 
A sociabilidade como tal não é característica exclusiva do homem, nem 
seu único privilégio. [...] Mas no caso do homem encontramos não apenas, 
como entre animais, uma sociedade de ação, mas também uma sociedade 
de pensamento e sentimento. [...] Como os animais, o homem se submete 
às regras da sociedade, mas, além disso, participa ativamente da 
produção e da mudança das formas da vida social. Nos estágios 
rudimentares da sociedade humana, essa atividade é ainda escassamente 
perceptível, parecendo reduzida ao mínimo. Mas quanto mais nos 
adiantamos, tanto mais explícita e significativa se torna esta característica. 
Este lento desenvolvimento pode ser acompanhado em quase todas as 
formas da cultura humana. 
 
(CASSIRER, 1977, p. 349) 
 
Os atos dos animais são instintivos e determinados biologicamente; assim, eles 
possuem características rígidas, próprias de cada espécie, e não costumam sofrer 
mudanças significativas, visto que são geneticamente programados para seguir as leis 
naturais, integrando-se harmonicamente a seu espaço físico. Já o homem, desde os 
primeiros momentos de vida, transforma e adapta a natureza de acordo com suas 
necessidades. 
 
 
Saiba Mais 
 
Enquanto se opõe à natura (natureza), a cultura possui um duplo sentido 
antropológico: a) é o conjunto das representações e dos comportamentos 
adquiridos pelo homem enquanto ser social. [...] b) é o processo dinâmico 
de socialização pelo qual todos esses fatos de cultura se comunicam e se 
impõem, em determinada sociedade [...]. Nesse sentido, a cultura 
praticamente se identifica com o modo de vida de uma população 
determinada, vale dizer, com todo esse conjunto de regras e 
comportamentos pelos quais as instituições adquirem um significado para 
os agentes sociais e através dos quais elas encarnam em condutas mais 
ou menos codificadas. 
 
(JAPIASSÚ & MARCONDES, 1991, p. 63) 
 
 
A espécie humana, não sendo, portanto, biologicamente determinada para agir no 
mundo, conta com a linguagem simbólica para a produção de cultura, transcendendo, 
assim, o estado de natureza. Através do símbolo, o homem cria a realidade em vez de 
apenas adaptar-se a ela. 
 
Observamos, então, que somente o homem é 
capaz de agir e modificar conscientemente a 
realidade, pois seu contato com o mundo está 
vinculado à cultura, a qual resulta especificamente 
das transformações realizadas por sua capacidade 
de criar e tornar comuns as coisas a seu redor. 
 
Por exemplo: cansado, um homem primitivo senta-
se em uma pedra; mesmo sem sofrer 
transformação em sua forma, aquela pedra, ao lhe 
servir de descanso, adquire um sentido utilitário e 
passa a ser um objeto cultural. 
 
Por outro lado, a expressão “o homem é um ser cultural”, constantemente utilizada, 
confunde mais do que explica, pois não é raro que se vincule o conceito de cultura à 
instrução, à formação intelectual, à erudição, privilégios de poucos. Porém, quando 
tratamos do termo em seu sentido antropológico, vemos que cultura é toda 
transformação exercida pelo homem sobre a natureza. 
 
 
 
Verificamos assim que, independentemente 
do espaço geográfico em que está inserido, 
todo homem é um ser cultural – o que 
significa que não existe uma cultura 
superior e outra inferior, mas culturas 
diversificadas, e devemos entender que ser 
diferente não é ser melhor nem pior, é 
simplesmente ser diferente. 
Ou seja, a cultura engloba oque pensamos, fazemos e temos enquanto membros de 
um grupo social. Nesse sentido, o termo cultura é aplicável tanto a uma civilização 
tecnicamente evoluída [...] quanto às formas de vida social mais rústicas [...]. Todas as 
sociedades humanas, da pré-história aos dias atuais, possuem uma cultura. E cada 
cultura tem seus próprios valores e sua própria verdade. Podemos acrescentar, por 
fim, e numa abordagem mais filosófica, que cultura é a resposta oferecida pelos 
grupos humanos ao desafio da existência. (COTRIM, 1999, p. 15) 
Estamos, portanto, combatendo a perspectiva etnocêntrica que afirma que um 
determinado grupo é o centro do universo. 
 
Ao se instalar no mundo, o homem consegue 
agir e modificar conscientemente a realidade que 
o cerca, vinculando esses procedimentos ao 
desenvolvimento de seu psiquismo, a sua 
capacidade de abstração. A necessidade de 
viver em contato com seus semelhantes, 
interagindo com eles, possibilita a criação de 
símbolos, de palavras, da linguagem, enfim, 
permite o afastamento do concreto e o “domínio” 
do tempo (lembrar-se do passado, pensar o presente, projetar o futuro). 
A linguagem é um sistema simbólico e caracteriza o universo humano por sua 
capacidade de distanciar-se do “real vivido” e produzir abstrações. 
Quer dizer, o homem representa, por meio de palavras, ideias e objetos ausentes. Por 
exemplo, podemos falar de um elefante sem que ele esteja presente, pois todos os 
membros de um grupo já sabem a que se refere a palavra elefante. 
 
A linguagem se manifesta, assim, como fenômeno coletivo, capaz de expressar tudo 
aquilo que diz respeito à civilização, dando ao homem a possibilidade de expor 
discursivamente seu pensamento, de ordenar, refletir, divulgar e transmitir os 
costumes e tradições da sociedade em que vive. A linguagem é, portanto, a 
capacidade que permite ao homem a comunicação por meio de um código, o qual é 
 
reflexo de seu modo de ser e de agir e, consequentemente, de sua própria 
humanização. 
 
Como ser de cultura, o homem cria formas de 
representação que se disseminam através do 
tempo e do espaço, levando ao 
desenvolvimento dinâmico e contínuo de seu 
modo de “estar no mundo”. Para isso, a plena 
adaptação ao mundo humano requer o 
entendimento dos símbolos linguísticos. 
O homem descobriu, por assim dizer, um novo método para adaptar-se ao seu 
ambiente. Entre o sistema receptor e o efetuador [emissor], que são encontrados em 
todas as espécies animais, observamos no homem um terceiro elo que podemos 
descrever como sistema simbólico. Essa nova aquisição transforma o conjunto da vida 
humana. Comparado aos outros animais, o homem não vive apenas em uma realidade 
mais ampla; vive, pode-se dizer, em uma nova dimensão da realidade. 
 
Esta ação do homem sobre a natureza, modificando o ambiente, seu espaço físico, 
por interesses próprios, é denominada trabalho, conjunto de atos humanos realizados 
de modo consciente e intencional. Nesse sentido, o trabalho é considerado de modo 
positivo, visto que, ao modificar a natureza, o ser humano trabalha e se realiza, e essa 
atividade implica a satisfação de suas necessidades primeiras: alimentação, moradia, 
defesa, entre outras. 
 
 
 
Quando pensamos sobre o papel do trabalho em seu aspecto individual, verificamos 
que ele permite ao homem expandir suas energias, desenvolver sua criatividade e 
realizar suas potencialidades. Pelo trabalho, o homem é capaz de moldar a natureza 
e, ao mesmo tempo, alterar a si próprio. Ou seja, trabalhando, o homem pode 
modificar o mundo e a si mesmo, produzir cultura e se autoproduzir. Em seu aspecto 
social, isto é, como esforço conjunto dos membros de uma comunidade, o trabalho 
 
tem como objetivo último a manutenção da vida e o desenvolvimento da sociedade. 
(COTRIM, 1999, p. 28) 
O animal é movido por instintos enquanto o homem, por não possuir um número de 
instintos fixos e inatos suficiente para garantir sua sobrevivência, depende da cultura 
para sobreviver. 
 
Os homens, de fato, começaram a produzir 
cultura quando fizeram, da pedra bruta, facas e 
pontas de lança para cortar, ferir e matar; quando 
fabricaram utensílios de uso cotidiano a partir do 
barro; quando aprenderam a usar como 
vestimenta as peles dos animais abatidos; 
quando começaram a plantar, a colher e a 
armazenar mantimentos; quando, mais tarde, 
descobriram os métodos necessários à 
construção de casas sólidas e confortáveis; e 
assim por diante. 
 
Vemos, pois, que existe na concepção do existir humano uma relação profunda e 
indissociável entre cultura, linguagem e trabalho, já que estes elementos fundamentais 
moldam a vida do homem desde o nascimento. Ao contrário dos animais, que se 
adaptam perfeitamente à natureza, nós – não só pela necessidade de sobrevivência, 
mas também pelo desejo de conforto – somos capazes de transformar o meio em que 
vivemos, a partir de nosso próprio esforço e ousadia. 
 
A modificação da natureza por seu agir leva o homem a desenvolver técnicas e 
instrumentos, transmitidos e aperfeiçoados de geração em geração, possibilitando, 
sempre, a instauração de novas tecnologias. 
 
 
 
Tema 2 
Relações entre técnica e sociedade 
 
 
De que modo as transformações da técnica contribuem 
para o desenvolvimento humano? 
 
Assim, a questão “O que é o homem?” perpassa a história do conhecimento, da 
Antiguidade aos dias atuais. E muitos, a sua maneira, procuram desenvolver ideias 
capazes de justificar a complexidade da existência e dos procedimentos humanos. 
 
 
 
No alvorecer da humanidade, o trabalho era 
coletivo, e todos participavam dos mesmos 
afazeres; porém, as mudanças resultantes do 
desenvolvimento das sociedades alteraram 
esta visão positiva, de participação solidária, 
desvirtuando sua função inicial. 
 
Para as classes dominantes daquele tempo, 
tudo que se relacionasse com a realidade 
 
prática seria indigno de seus interesses, devendo ser executado por aqueles 
desprovidos de habilidades intelectuais. Assim, enquanto a elite se dedicava a 
questões mais “nobres” – tais como política, filosofia, ciência –, o fazer técnico 
(a techné) vinculava-se a classes sociais menos favorecidas. 
 
Na Grécia Clássica, por exemplo, os 
cidadãos participavam ativamente da 
vida pública, das guerras e das 
decisões do governo, mas, de modo 
geral, desconsideravam o trabalho 
manual ou material dos artesãos, 
marceneiros e outros. Numa 
sociedade como a grega, não caberia 
aos atenienses – aqueles que tinham 
direito à cidadania – o 
desenvolvimento de técnicas 
“braçais”, visto que apenas o trabalho intelectual daria plenitude à vida humana. 
 
Esta visão preconceituosa leva o homem a “separar” o pensamento da ação, 
valorizando a intelectualidade em detrimento do trabalho braçal; isto é, o trabalho 
intelectual, ou mental, seria superior ao trabalho manual, ou material – como se fosse 
possível essa distinção entre o pensar e o agir. 
 
Contudo, devemos enfatizar que é o processo 
de aprimoramento das técnicas na criação de 
ferramentas de trabalho que vai possibilitar a 
intervenção na natureza, quando o homem 
sentir a necessidade de modificar o meio 
ambiente. Assim, em vez de usar as mãos, o 
ser humano recorre a instrumentos por ele 
criados e que facilitem sua tarefa de agir 
sobre o mundo. Estes instrumentos, cada vez 
 
mais aperfeiçoados, serão transmitidos de geração em geração, proporcionando a 
criação de novas fontes de desenvolvimento. 
 
 
Considerando as transformações 
históricas, podemos observar que, ao 
fim da época medieval, a relação 
entre trabalho e técnica há de se 
modificar, e as mudanças daí 
decorrentes, como a ascensão da 
classe burguesa, vão determinar 
novos rumos para a vida em 
sociedade. A partir de então, aliada 
às ciências emergentes, a técnica 
passa a ser valorizada e incorporada 
ao progresso. 
 
Cabe destacar que a utilização da técnica no início dos tempos modernos (a partir do 
século XVII), também alterou a concepção de ciência.Entretanto, as grandes transformações ocasionadas pela união da ciência com a 
técnica passam a assumir contornos dúbios, já que, ao mesmo tempo em que se 
desenvolve, a ciência, quando mal aplicada, pode provocar sérios danos aos recursos 
naturais e ao próprio homem, causando um desequilíbrio ecológico, que pode 
significar o fim da própria civilização. 
 
Outro ponto de considerável relevância, além do domínio da natureza (para o bem ou 
para o mal), é a ascendência que poucos homens passam a exercer sobre muitos. O 
filósofo Jean-Jacques Rousseau já denunciava, no século XVIII, os problemas 
resultantes do avanço técnico, o qual, segundo ele, aumentaria a desigualdade entre 
as classes. 
 
Rousseau, apesar de filósofo iluminista, critica a noção de progresso como potencial 
instrumento de degeneração da natureza humana, mostrando-se preocupado com a 
vida moral na sociedade. 
 
 
A partir do desenvolvimento e da consolidação das indústrias da Modernidade, a 
condição de vida dos trabalhadores foi visivelmente alterada. Enquanto os artesãos, 
por exemplo, antes dominavam todas as etapas de seu trabalho, posteriormente, com 
o advento das máquinas, este mesmo artesão não tinha como competir com os 
produtos industrializados, transformando-se, então, em operário da fábrica, sem 
condições de domínio sobre seu fazer, realizando mecanicamente suas funções, de 
modo alienado. 
 
 
O processo de alienação afeta milhões de 
trabalhadores nas sociedades capitalistas 
modernas, onde a produção econômica 
transformou-se no objetivo do homem, em vez 
de o homem ser objetivo da produção. Esse 
processo iniciou-se no século XIX, quando o 
trabalho na maioria das indústrias começou a 
tornar-se cada vez mais rotineiro, 
automatizado e especializado ao ser dividido 
em múltiplas operações. Visava-se com isso 
economizar tempo e aumentar a 
produtividade. [...] tudo transcorre sem que o 
operário tenha controle sobre o produto final do seu trabalho, nem governo sobre a 
finalidade do que fabrica. Sempre repetindo as mesmas operações mecânicas, o 
trabalhador produz bens estranhos à sua pessoa, aos seus desejos e às suas 
necessidades. (COTRIM, 1999, p. 30) 
 
 
 O filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, é um exemplo clássico da 
crítica à condição do operário no início da mecanização industrial, com o 
advento da linha de montagem. 
 
 
Com efeito, o processo de alienação provoca uma ruptura entre o trabalhador e o bem 
produzido, separando homem e objeto; porque, na maioria das vezes, o operário 
perde sua autonomia e não tem condições de adquirir aquilo que ele próprio produz. 
 
O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) criticava as condições alienantes em que 
viviam os operários. Por não poder usufruir daquilo que produzem, estes trabalhadores 
são “despossuídos” do fruto de seu próprio trabalho. Marx associa a alienação a uma 
“despossessão”, sustentando a inexistência de acesso do operário ao bem produzido. 
 
Em nossos dias, o conceito de alienação aplica-se a vários aspectos da realidade, 
interferindo tanto na política quanto na vida social, o que leva o homem a perder sua 
autonomia e a consciência crítica de seu fazer. Podemos também perceber a 
alienação quando o indivíduo é compelido a adquirir produtos que, muitas vezes, não 
passam da mera criação de “necessidades” inúteis por parte das grandes corporações 
que alicerçam o capitalismo. 
 
 
A falta de acesso aos bens produzidos, a precariedade dos serviços públicos e a 
dificuldade de emprego provocam o surgimento de um número cada vez maior de 
excluídos, incapazes de aproveitar os benefícios da cidadania. Estes fatores 
perpetuam as diferenças entre as classes, descambando para o etnocentrismo (a 
sociedade dominante como modelo único) e para a xenofobia (aversão ao 
estrangeiro). 
 
 
 
 
Não podemos esquecer que essas 
ações, ou normas sociais, são 
sustentadas pela ideologia dominante. 
De fato, a ideologia, como “ciência das 
ideias”, naturaliza a divisão de classes 
das sociedades, fazendo com que exista 
uma aparente harmonia entre os 
membros do grupo, mascarando, porém 
as diferenças e as desigualdades 
sociais. Assim, o indivíduo passa a agir 
de acordo com as normas estabelecidas 
e, sem a devida percepção, assimila 
essas regras passivamente, sem 
contradizê-las. A ideologia apresenta, 
então, um mundo idealizado, onde a 
realidade – mesmo com a divisão entre 
ricos e pobres – é naturalizada. 
 
Entretanto, embora o processo de divisão e de exploração do trabalho possa provocar 
a alienação do indivíduo, é importante destacarmos que o ser humano é capaz de 
transpor os obstáculos com os quais se depara, por força de sua inata capacidade de 
pensar e de agir; e é justamente este vínculo indissociável do pensamento e da ação 
que possibilita o entendimento e a reflexão sobre a realidade e sobre o próprio 
conceito de homem. 
 
 
 
Tema 3 
O homem: uma perspectiva filosófica 
 
 
Por que o questionamento filosófico se afasta das 
narrativas míticas? 
 
Dependendo de cada sociedade em seu processo civilizatório, a compreensão sobre a 
existência do ser humano assume aspectos diversos e algumas vezes contraditórios, 
já que, além da influência espontânea do grupo, outros fatores, tais como a educação 
e a herança cultural, interferem na formação dos indivíduos. 
Nos primórdios da civilização, os seres humanos se inquietavam com tudo o que 
acontecia a sua volta, e os fenômenos da natureza eram grandes mistérios. O dia, a 
noite, a chuva, a tempestade, o vento, o frio, a seca, todas estas manifestações 
naturais causavam um medo além da compreensão humana. 
 
 
 
Foi por isso que, na tentativa de entender estes fenômenos, os homens acabaram por 
vinculá-los às divindades. Engendraram, então, histórias fantásticas – as narrativas 
míticas – a respeito do que lhes causava estranhamento. 
Na Antiguidade grega, na época arcaica, por exemplo, especialmente quando a 
sociedade ainda era ágrafa (não se expressava através de sinais gráficos), os homens 
estabeleceram diversos cultos aos deuses, reverenciando-os sem qualquer 
questionamento ou crítica, pois os fenômenos da natureza, comandados pela vontade 
divina, independeriam dos indivíduos do grupo, simples e impotentes mortais. 
Aos poucos, porém, as explicações míticas sobre a origem do universo, relacionadas 
à cosmogonia – gênese do cosmos – passam a ser insatisfatórias. Daí o surgimento 
da cosmologia – descrição racional do cosmos –, pela qual se procura esclarecer o 
princípio originário (a arché) do universo. 
 
Desse modo, diferentemente das 
narrativas míticas, de aceitação passiva, 
os primeiros pensadores gregos buscam 
a compreensão do princípio fundante do 
universo, por intermédio de 
investigações cosmológicas. Para eles, 
 
tal origem resultaria dos quatro elementos da natureza – água, terra, fogo e ar –, que, 
juntos ou isolados, teriam dado início à formação do mundo. 
 
Determinadas condições históricas, como, por exemplo, as viagens marítimas, a 
invenção do calendário, a invenção da moeda, o surgimento da vida urbana, a 
invenção da escrita alfabética, além da invenção da política possibilitaram o 
surgimento da Filosofia na Grécia no final do século VII e no início do século VI a.c. 
 
Nesse contexto, surgem os pensadores conhecidos como Filósofos da Natureza, ou 
pré-socráticos. Poucos textos destes pensadores chegaram até nossos dias, mas seus 
fragmentos (pequenos trechos do que escreveram) servem sempre de motivo para 
reflexão. Conheça alguns desses fragmentos, clicando no nome de cada pensador. 
 
Tales de Mileto Anaxímenes Xenófanes Heráclito 
Para Tales de 
Mileto (640-548 
a.C.), a água é o 
elemento 
primordial de 
todas as coisas. 
Anaxímenes 
(588-524 a.C.) 
afirma que o 
princípio de 
tudo o que 
existe é o ar. 
Em Xenófanes 
(séc. IV a.C.), o 
elemento 
originante é 
a terra. 
Heráclito (séc. 
VI-V a.C.) diz 
que o fogo é o 
gerador do 
processo 
cósmico; para 
ele tudo está 
num movimento 
infinito,em 
constante devir 
(ninguém se 
banha duas 
vezes no 
mesmo rio). 
 
Pitágoras Parmênides Empédocles Leucipo e Demócrito 
Pitágoras 
assegura que 
o número é 
a arché que 
possibilita 
a harmonia de 
todas as coisas. 
Parmênides, 
‘antagonista de 
Heráclito’, dizia 
que a mudança 
é ilusão, pois a 
essência seria 
imutável. 
Já em 
Empédocles, os 
quatro 
elementos 
compõem a 
formação de 
tudo. 
Por fim, 
Leucipo e 
Demócrito 
sustentam que 
o universo é 
composto por 
átomos. 
 
 
 
Gradativamente, então, a reflexão filosófica se volta, de modo mais específico, para a 
condição humana, analisando antropologicamente o papel do homem no mundo. 
Pouco a pouco, como já destacamos no início desta aula, a indagação sobre “O que é 
o homem?” passa a constituir a base do conhecimento filosófico. Veja o que 
pensavam os principais filósofos da época, clicando na imagem de cada um deles. 
 
 
Protágoras e Górgias 
 
Os pensadores sofistas, tais como Protágoras (séc. V a.C.) e 
Górgias ( 485-380 a.C.) vinculam o conhecimento à 
contextualidade, enfatizando o ensino da retórica – instrumento 
político da época –, das matemáticas e da cultura geral. Estes 
filósofos ressaltavam, também, a primazia do homem com relação 
aos saberes. Segundo Protágoras, o homem é a medida de todas 
as coisas. 
 
Sócrates 
 
Sócrates (470-399 a.C.) não deixou nada escrito, mas suas ideias, 
transmitidas por discípulos, apresentam a força e o rigor da 
reflexão filosófica. O método maiêutico – de construção do saber 
por meio de perguntas e respostas –, por ele criado, é utilizado 
contemporaneamente no processo de aprendizagem. Além disso, 
sua expressão “só sei que nada sei” sintetiza a infinitude do 
conhecimento e a busca sem fim da filosofia. 
 
Platão 
 
Platão (428-347 a.C.), discípulo de Sócrates, louva o mestre em 
várias de suas obras, colocando-o como interlocutor principal em 
seus famosos Diálogos. Seu pensamento repousa na Teoria das 
Ideias, ou Teoria das Formas, na qual destaca o dualismo entre o 
intelecto e o sensível. Para ele, a busca do conhecimento consiste 
na superação do sensível para alcançar as essências perfeitas e 
imutáveis. 
 
Aristóteles 
 
Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, acredita que o 
processo do conhecimento deveria chegar à essência universal do 
objeto. Mas, ao contrário de seu mestre, ele não despreza o 
mundo sensível, da empeiria (experiência), nem tampouco a 
mutabilidade dos seres. Segundo Aristóteles, é impossível 
considerar verdadeiramente o ser concreto e individual como 
fundamento da investigação científica. 
 
 
Dentre as teorias filosóficas clássicas que se destacam em sua forma de buscar a 
compreensão do que é o homem, a concepção metafísica da natureza humana é uma 
das mais representativas, pois surgiu na Antiguidade grega – especialmente com 
 
Sócrates, Platão e Aristóteles –, atravessou séculos, e até hoje continua válida quando 
se pensa a natureza humana em seu sentido amplo, igualando todos os homens, sem 
distinção de classe ou riqueza. 
 
A concepção metafísica valoriza, em especial, a essência humana, eterna, única e 
imutável; não atrelada, portanto, à dinâmica social. O homem, no sentido amplo, é 
compreendido de modo abrangente, independentemente de suas particularidades, do 
tempo e do espaço em que se encontra. Para a visão metafísica, não importam as 
características específicas de cada indivíduo (quanto ao sexo ou idade, por exemplo), 
pois o que conta é a essência comum a todos eles. Desse modo, a essência é única e 
idêntica em todos os seres humanos. 
 
Podemos também pensar, de modo metafísico, os conceitos. Por exemplo: a ideia de 
cadeira é abstrata, logo metafísica, pois não estamos nos referindo a um objeto 
específico, mas a um conceito amplo, que abarca qualquer modelo de cadeira. 
 
 
 
 
Mas, ao considerar apenas um modelo abstrato e universal, os problemas concretos 
do homem em suas relações sociais e históricas não são levados em conta, 
provocando muitas críticas de pensadores que se dedicaram a conceber a existência 
humana de modo mais concreto e específico. 
 
Dentre os pensadores mais críticos a tal corrente abstrata e universal podemos 
destacar Friedrich Nietzsche e, posteriormente, Jean-Paul Sartre, que constituem 
exemplos clássicos de oposição à corrente metafísica. 
 
 
 
Friedrich Nietzsche (1844-1900) 
O pensamento de Nietzsche revoluciona os 
modelos clássicos da filosofia, desde sua 
exacerbada crítica à metafísica e a Sócrates até 
a tentativa de “implosão” aos valores vigentes de 
sua época. Para ele, existiriam dois elementos 
distintos: o espírito apolíneo (da forma, da ordem 
da razão) e o espírito dionisíaco (do deus 
Dioniso, representando a paixão, o delírio, a 
emoção), os quais deveriam se manifestar 
igualitariamente, mas que a sociedade procurava 
sufocar no que tange aos apelos dionisíacos. 
 
 
Outra crítica à metafísica, das mais 
representativas, é a corrente existencialista, 
característica da época contemporânea, que 
desenvolve uma oposição contundente ao 
modelo único de uma essência abstrata. Um 
dos principais pensadores do existencialismo 
é o francês Jean-Paul Sartre, que defende o 
valor autônomo da consciência e da liberdade 
humana. De acordo com ele, a liberdade é a 
característica primordial do ser humano (“nós 
somos aquilo que fazemos do que fazem de 
 
Jean-Paul Sartre (1925-1980) 
nós”), que, dotado de consciência, é responsável por seu próprio destino e por suas 
escolhas (“a não escolha também é uma escolha”). Portanto, e seguindo o 
pensamento de Sartre, o homem é um ser condenado à liberdade, que constrói seu 
próprio destino e é responsável por ele. 
 
Com relação ao que o homem representa e 
deseja em determinado espaço temporal, 
muitos são os modelos ideais forjados, mas 
existem entre eles, como pudemos observar, 
concepções bem contraditórias. Assim, as 
duas correntes já mencionadas apresentam 
possibilidades divergentes de como pensar o 
homem no mundo. 
 
Na elaboração de suas teses, os filósofos que 
brevemente examinamos buscaram 
desenvolver seus sistemas e ideias de modo 
claro e preciso, a fim de que seus argumentos 
fossem bem compreendidos e não dessem 
margem a contradições ou dubiedades. Isso 
porque, em Filosofia, não temos a garantia 
antecipada própria das ciências exatas e 
naturais. Ou seja, não se pode dizer que um sistema filosófico é superior a outro, 
assim como não podemos afirmar que Aristóteles suplantava Platão, ou vice-versa. 
Por isso, sempre foi e será necessário que as ideias expostas pelos filósofos tenham 
por base uma organização lógica e coerente que possibilite o pleno entendimento dos 
raciocínios expostos. 
 
 
 
 
 
 
 Vídeo 
Para saber mais sobre a análise filosófica a respeito do homem, 
destacando sua interação com a natureza e as diversas concepções das 
quais foi objeto no decorrer da história, assista agora ao vídeo: Uma 
introdução à Antropologia Filosófica. 
 
 
 
Clique na imagem para visualizar o vídeo. 
 
 
https://player.vimeo.com/video/344183287?badge=0&autopause=0&player_id=0&app_id=58479
 
Encerramento 
 
 
Por que se considera que o homem é um ser cultural? 
 
Porque, ao se instalar na natureza, o ser humano modifica o meio de acordo com suas 
necessidades e interesses, num processo constante de transformação, cujo resultado 
é a criação da cultura, pois, diferentemente dos animais, adaptados e integrados ao 
meio em que vivem, a relação do homem com o mundo é de permanente 
enfrentamento. 
 
De que modo as transformações da técnica contribuem 
para o desenvolvimento humano? 
 
Com o aperfeiçoamento das técnicas, o homem ampliou sua visão de mundo, 
modificando seu modo de vida. Assim, ao aprimorar seus instrumentos de trabalho, o 
ser humano aperfeiçoou também suas ações sobre o mundo, o que lhe possibilitou, 
gradativamente, seu desenvolvimento. 
 
Por que o questionamento filosófico se afasta das 
narrativas míticas? 
 
Porque peloquestionamento filosófico o homem deixa de aceitar passivamente as 
normas predeterminadas e as explicações sobrenaturais que lhes são transmitidas, 
procurando alcançar um entendimento racional sobre a origem do universo, livre da 
recorrência ao sagrado. 
 
Resumo da Unidade 
 
 
Como vimos, o ser humano se destaca dos animais irracionais devido a sua inata 
capacidade de adequar o ambiente a suas necessidades, elaborando técnicas cujo 
resultado é o desenvolvimento ininterrupto da cultura. 
 
Em sua ação sobre a natureza, o homem estabelece costumes e valores sociais 
que lhe permitem diversificar sua visão de mundo, na busca de um entendimento 
capaz de levá-lo a refletir sobre a realidade que o cerca e sobre si mesmo. 
 
Vamos observar que é por meio do pensamento lógico que o ser humano tem 
condições de elaborar corretamente seu raciocínio. 
 
 
	O homem: uma perspectiva filosófica

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