Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Hepatites Virais Infectologia Introdução As hepatites virais podem ser causadas por dois grupos de vírus: 1- Vírus hepatotrópicos: A, B, C, D, E ... (esses são os de importância clínica); 2- Vírus multissistêmicos que podem afetar o fígado: EBV, CMV, HSV, Rubéola, Febre Amarela... Vírus hepatotrópicos 3 fases gerais do processo de infecção (curso clínico estereotipado já). 1- Prodrômica ou catarral Sinais e sintomas inespecíficos que são facilmente confundidos com sd. Gripal aguda; Assintomática ou oligossintomática em crianças (provavelmente por conta de imaturidade do sistema imunológico pediátrico); Artrite, GNDA, rash/urticária - manifestações extra-hepáticas por conta da deposição de imunocomplexos; Hemograma: leucopenia + linfocitose (atípicos) 2- Ictérica Sd. Hepatocelular aguda - fase de excreção de Bb é a mais prejudicada (etapa que mais consome energia); Oligossintomática em crianças; Hepatomegalia dolorosa, icterícia, colúria (via bilirrubina direta liberada após necrose do hepatócito); Hepatograma: ALT e AST > 10x LSN [limite superior da normalidade] (< FAL e GGT) 3- Convalescência Normalização gradual clínica e laboratorial se paciente não evoluir para hepatite crônica, fulminante e com a necessidade de transplante. Classificação temporal Hepatites virais agudas: < 6meses; Hepatites virais crônicas: > 6 meses. Hepatite A RNA-v, 6 genótipos, transmissão fecal-oral, mais comum em crianças < 10 anos e possui baixa incidência no Brasil (vacinação contra HpA); Vírus possuem tropismo hepatócito, mas não são citopáticos. A lesão hepatocelular é mediada por LTCD8+; - Clínica Icterícia: 5 – 10% (crianças) e 70 – 80% (adultos); Forma colestática: lesão visualizada no hepatograma com padrão colestático. Quadro com duração mais prolongado (quase 6 meses essa fase); Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Forma fulminante: < 0,5% dos pacientes, sendo mais comum em idosos e em pessoas hepatopatas; NÃO CRONIFICA!!!! - Diagnóstico Anti-HAV IgM; Anti-HAV IgG: cicatriz sorológica ou vacinação. - Tratamento Não há droga antiviral específica; Repouso (afastamento de atividades laborativas/escolares por 2 semanas porque as hepatites virais podem gerar quadros de hipoglicemia e evitar transmissão); Não precisa de isolamento hospitalar após diagnóstico (provavelmente a fase de transmissão já deve ter passado/ a maioria da população já tem imunidade); Aporte calórico; Não usar paracetamol (hepatotóxico); Drogas de suporte e controle sintomatológico; Evitar álcool por 6 meses. - Prevenção Vacina inativada: 1 dose IM aos 15 meses de vida. Profilaxia pós-exposição: faz-se em pessoa com Anti-HAV (-) e no máximo até 2 semanas após a exposição. Indivíduo saudável (12 – 40 anos) = vacina dose única; idade < 12 ou > 40 ou imunodepressão = imunoglobulina. Hepatite B aguda Vírus B = DNA-HBV, envelope celular com o antígeno HBs.Ag (principal antígeno e é secretado em grande quantidade no sangue); HBc.Ag (principal componente do capsídeo); HBe.Ag (só é secretado quando o vírus está proliferando); HBsAg = incita a síntese de anti-HBs; HBeAg = anti-HBe; HBcAg = anti-HBc. Tropismo hepatócito, mas não é citopático. - Transmissão Sexual (forma mais importante), parenteral e vertical (geralmente no momento do parto); Mais prevalente em adultos jovens. - Clínica Icterícia - diretamente proporcional à idade; Hepatite fulminante ocorre em cerca de 1% dos casos; CRONIFICA (chance é inversamente proporcional à idade) Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Adulto = cura > 90 – 95%; RN = cronifica > 90 – 95%. Obs: na gestante com hepatite B pode haver a passagem de antígenos virais pela placenta. Assim, essa exposição precoce aos ag pode fazer com que o sistema imunológico fetal passe a reconhecê-los como antígenos self e não gerar resposta imune futuramente = uma das coisas que explicam a alta taxa de cronificação em crianças. - Diagnóstico Anti-HBc IgM – grande marcador da hepatite aguda (< 6 meses de duração); HBsAg geralmente estará presente também. - Tratamento Suporte = hepatite A; TDF ou Entecavir = pacientes com sinais de hepatite fulminante ou coagulopatia ou icterícia > 14 dias. - Prevenção Vacina recombinante: estímulo da síntese de anti-HBs; 1ª dose ao nascimento: monovalente; 2ª, 3ª e 4ª doses: pentavalente. Vacina universal em adultos e idosos = 3 doses da vacina monovalente nos tempos 0, 1 e 6 meses (não usar a penta). Quem deve dosar anti-HBs? Profissionais de saúde, imunodeprimidos e pacientes em diálise (anual). < 10 mUI/ml = repetir esquema vacinal 1x. Profilaxia pós-exposição: HBIg até 7 – 14 dias após a possível exposição de risco. Hepatite B crônica HBsAg (+) > 6 meses; Anti-HBc IgG (+) e IgM (-); Cirrose ocorre em 50% dos pacientes após 20 anos; Carcinoma hepatocelular (CHC): 5 – 15% (vírus do HBV é o mais carcinogênico). Dos pacientes que desenvolvem CHC, 30 – 50% não tiveram cirrose prévia; - História natural 3 fases (+ 2 fases adicionais em alguns doentes). a) Imunotolerância HBsAg e HBeAg (+) = altos títulos de HBV-DNA; ALT/AST normais; Relacionada à faixa etária da pessoa: adulto (1 – 6 meses) e crianças (10 – 30 anos) b) Imunoeliminação HBsAg e HBeAg (+), HBV-DNA variável pois já há resposta imune; Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB ALT/AST altas; 10 – 15% evoluem para soroconversão; Sistema imune consegue controlar a infecção. c) Soroconversão HBsAg (+) e HBeAg (-), HBV-DNA (-); Anti-HBe (+) - marcador de quem controlou a replicação viral; ALT/AST tendem a normalizar (após o flare = surto de atividade de hepatite aguda sobreposto a hepatite crônica); Pacientes portadores inativos. Duas evoluções = cura (HBsAg negativo e Anti-HBs positivo) ou reativações espontâneas. d) Reativação HBsAg e HBeAg (+) e Anti-HBe (-) = 4 – 20% dos pacientes na fase de soroconversão - pacientes que passam por algum processo de imunossupressão; Pode haver reativação por conta de “mutação pré-core” (região antes do antígeno E) = paciente com HBeAg (-) e HBV-DNA (positivo) = mutante do vírus B que consegue recuperar sua capacidade replicativa sem secretar o HBeAg. e) Não reativa Também decorre de uma mutação viral; Pode acontecer em muitos pacientes mesmo com critérios de cura, uma vez que o genoma viral continua para sempre no genoma da célula hospedeira; Vírus já mutados previamente, mas silenciados por conta da resposta imune eficaz, podem voltar a replicar em períodos de imunodepressão sem expressar o antígeno de superfície = hepatite B oculta = “mutante de escape” (deleção pré-S1); HBsAg (-) e Anti-HBs (+); ALT, AST e HBV-DNA altíssimos. - Quadro clínico A maioria é oligossintomática (fadiga); “Flare”; Cirrose; Manifestações extra-hepáticas: glomerulonefrite membranosa (crianças), poliarterite nodosa (HBsAg + em 30%). - Diagnóstico Pessoas com mais de 18 meses: Triagem (HBsAg por ELISA ou TR) e confirmação por anti-HBc total; Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Pessoas com menos de 18 meses: Triagem (HBsAg por ELISA ou TR) e confirmação por anti-HBc total + HBV- DNA (para mostrar a presença do vírus no sangue); HB “oculta” = HBV-DNA. - Tratamento Vacina Hepatite A se anti-HAV (-) = evitar a chance de infecção e hepatite fulminante; Tratamento antiviral - α-PEG-IFN ou tenofovir (droga de escolha 300 mg/dia) ou entecavir (segunda droga de escolha – essencial na prevenção da reativação em pacientes em QT ou em terapias de imunossupressão); Contraindicação ao α-PEG-IFN – gravidez, doença autoimune, cirrose avançada, citopenias, cardiopatias graves, doença psiquiátrica não tratada e drogas ilícitas; Contraindicação ao tenofovir – DRC, osteoporose e cirrose (contraindicação relativa); Contraindicação ao entecavir – gravidez. - Critérios de inclusão para tratamentoantiviral HBeAg (+) e ALT > 2x LSN; HBeAg (+) e idade > 30 anos; HBeAg (-) e HBV-DNA > 2.000 UI/ml e ALT > 2x LSN - Outros critérios de inclusão História familiar de CHC, manifestações extra-hepáticas, coinfecção HBV/HCV ou HBV/HIV, hepatite aguda grave, reativação da HB crônica, cirrose/insuficiência hepática, biópsia hepática mostrando METAVIR > A2F2, elastografia hepática > 7,0 kPa e prevenção da reativação viral em pacientes imunossupressos ou em quimioterapia. Obs: biópsia hepática é opcional. Hepatite D RNA-v defectivo que usa o HBsAg para complementar; Endêmico na Amazônia, no Mediterrâneo e no norte da África. - Transmissão Coinfecção = adquire JUNTO; Superinfecção = adquire se HBV CRÔNICO. - Clínica Efeito citopático direto; - Diagnóstico HDV-Ag e HDV-RNA (PCR) - Tratamento α-PEG-IFN + TDF ou Entecavir. - Prevenção Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Vacina contra a hepatite B Hepatite C aguda Flavivirus-RNA, 7 genótipos diferentes. - Transmissão Contato com SANGUE (drogas, tattoo, manicure). Chance de transmissão sexual e no parco é pouca (vírus faz baixa viremia). - Clínica Tropismo hepatócito, mas não citopático; Icterícia - < 20% dos casos – maioria dos casos é oligo ou assintomática; > 80% CRONIFICAM - Diagnóstico Anti-HCV (ELISA ou Teste rápido) + PCR. - Tratamento Indicado sempre; Maioria dos casos (quase 100%) são curados sem chegar à fase crônica; (vou explicar isso melhor na hepatite C crônica). Hepatite C crônica HCV-RNA (+) > 6 meses; - História natural (história do1/3) Cirrose rápida com progressão rápida; Cirrose com progressão lenta; Pacientes que não desenvolvem cirrose. - Fatores de risco para progressão rápida Sexo masculino, idade > 40a no momento da infecção, álcool, coinfecção HBV/HIV, imunossupressão, esteatose hepática, resistência à insulina e atividade necroinflamatória acentuada na biópsia. - Clínica Oligossintomática (fadiga) e cirrose; Manifestações extra-hepáticas: crioglobulinemia mista tipo II (pode causar vasculites, 5 – 30%), porfiria cutânea tardia (bolhosa) e líquen plano; Linfoma não-Hodgkin. - Diagnóstico Pessoas com mais de 18 meses: Triagem (Anti-HCV por ELISA ou TR) e confirmação por HCV-RNA total; Pessoas com menos de 18 meses: HCV-RNA ou antígenos HCV e anti-HCV após 18 meses de idade para confirmar; GENOTIPAGEM VIRAL SEMPRE! - orientação do tratamento! Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB - Estratificação da gravidade (tem ou não tem cirrose?) Escores APRI e FIB4 (são fórmulas que não vou colocar); APRI e FIB4 altos = fibrose/cirrose hepática avançada; USG e RNM também podem ser feitos, mas é opcional por não ter como ser feita em todos os lugares; Pacientes com sintomas/sinais típicos de cirrose, não precisa de estratificarr nada = tratamento para cirrose grave. - Tratamento Vacina hepatite A e hepatite B se negativos; Drogas antivirais de ação direta (DAA); Indicação para tratamento – HCV-RNA +; Objetivo do tratamento: resposta virológica sustentada (HCV-RNA indetectável 12 – 24 semanas após o término do tratamento); Sofosbuvir + Daclastavir + ou Ribavirina (tratam todos os genótipos); Genótipos 1a/b, 2, 4, 5, 6 = 12 semanas (sem cirrose ou child A) ou 24 semanas (child B ou C); Genótipo 3 = 12 semanas (sem cirrose) ou 24 semanas (com cirrose). - Critérios de exclusão Hepatite E aguda RNA-vírus, genótipos 1 e 2 (epidêmica), 3 e 4 (forma autóctone - reservatório são os porcos). Endêmica na Ásia e na África. - Transmissão Fecal-oral. - Clínica Igual ao da Hepatite A; Pode ser fulminante em grávidas (20 – 30%) - Diagnóstico HEV-RNA e Anti-HEV IgM. Quando eu penso nessa hepatite? Hepatite aguda afastada as outras causas, viagem para área endêmica e epidemias com contágio por fonte de água. Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB - Tratamento Suporte; Transplante de fígado em casos de hepatite fulminante.
Compartilhar