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Montes Claros/MG - 2015
Ângela de Santana Rocha Correia
Maria Socorro Isidório
Cosmovisão das 
Religiões: Islamismo
2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Antônio Alvimar Souza 
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Jânio Marques Dias
EDITORA UNIMONTES
Conselho Consultivo
Antônio Alvimar Souza
César Henrique de Queiroz Porto
Duarte Nuno Pessoa Vieira
Fernando Lolas Stepke
Fernando Verdú Pascoal
Hercílio Mertelli Júnior
Humberto Guido
José Geraldo de Freitas Drumond
Luis Jobim
Maisa Tavares de Souza Leite
Manuel Sarmento
Maria Geralda Almeida
Rita de Cássia Silva Dionísio
Sílvio Fernando Guimarães Carvalho
Siomara Aparecida Silva
CONSELHO EDITORIAL
Ângela Cristina Borges
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma Athayde Moraes
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Karen Torres C. Lafetá de Almeida 
Káthia Silva Gomes
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Sanzio Mendonça Henriques
Wendell Brito Mineiro
CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Camila Pereira Guimarães
Joeli Teixeira Antunes
Magda Lima de Oliveira
Zilmar Santos Cardoso
diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner Veloso Rocha
diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Mariléia de Souza
Chefe do departamento de educação/Unimontes
Maria Cristina Freire Barbosa
Chefe do departamento de educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do departamento de Filosofi a/Unimontes
Alex Fabiano Correia Jardim
Chefe do departamento de Geociências/Unimontes
Anete Marília Pereira
Chefe do departamento de História/Unimontes
Claudia de Jesus Maia
Chefe do departamento de estágios e Práticas escolares
Cléa Márcia Pereira Câmara
Chefe do departamento de Métodos e Técnicas educacionais
Helena Murta Moraes Souto
Chefe do departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Carlos Caixeta de Queiroz
Ministro da educação
Cid Gomes
Presidente Geral da CAPeS
Jorge Almeida Guimarães
diretor de educação a distância da CAPeS
Jean Marc Georges Mutzig
Governador do estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel 
Secretário de estado de Ciência, Tecnologia e ensino Superior
Vicente Gamarano
Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Antônio Alvimar Souza 
Pró-Reitor de ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues Neto
diretor do Centro de educação a distância/Unimontes
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Ângela de Santana Rocha Correia
Especialista em Metodologia do Ensino Religioso pela Universidade Internacional do 
Paraná (UNINTER) e graduada em Ciências da Religião pela Universidade Estadual de 
Montes Claros - Unimontes. Atua como docente formadora no curso de Ciências da 
Religião da Universidade Aberta do Brasil (UAB) na Universidade Estadual de Montes 
Claros.
Maria Socorro Isidório
Possui graduação e especialização em Filosofia pela Universidade Estadual de 
Montes Claros - Unimontes. Mestrado em Ciências da Religião pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. É professora na Universidade Estadual 
de Montes Claros - Unimontes, no curso de Ciências da Religião. 
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Origens do Islã: da Arábia Pré- Islâmica ao Profeta Maomé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 A Arábia Pré-Islâmica: Geografia, Sociedade, Religião e Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
1.3 Os Sinais de Novos Tempos no Mundo Árabe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
1.4 A Trajetória de Mohamed, o Profeta do Islã. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25
O Islã após Mohamed. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 O Problema da Sucessão do Profeta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26
2.3 Divisões do Islã: Sunitas e Xiitas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2.4 A Formação do Império Islâmico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
Teologia, Mística e Questões Filosóficas do Islã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.2 Teologia Islâmica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.3 A Mística Islâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
3.4 Questões Filosóficas Islâmicas: entre a Fé e a Razão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
Fundamentos e Pilares do Islã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
4.2 O Significado de “Islã” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
4.3 As Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.4 Os Pilares do Islã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52
4.5 Jihad: um Preceito Controverso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62
Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
Aspirações Sociais e Tendências Contemporâneas do Islã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
5.2 Prescrições Sociais do Islã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
5.3 Modernidade, Fundamentalismo e Tendências Secularizantes: Desafios 
Contemporâneos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
5.4 O Islã e a Mídia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73
Unidade 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
O Conflito Israelo–Palestino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
6.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
6.2 O Conflito Israelo - Palestino Numa Perspectiva Histórico-Política: Raízes . . . . . . . . .75
6.3 A Cidade de Jerusalém: Dimensão Histórico-Religiosa do Conflito . . . . . . . . . . . . . . . .79
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .81
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . .85
Atividades de Aprendizagem- AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87
9
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
Apresentação
Caro (a) acadêmico (a), neste caderno didático apresentaremos a você o Islamismo, ou Islã, 
nomenclaturas que utilizaremos ao longo do nosso estudo. Trataremos de uma das grandes re-
ligiões mundiais e, historicamente, a terceira grande religião monoteísta, ao lado do Judaísmo e 
do Cristianismo. 
Atualmente, o Islã vem sendo apresentado ao mundo pela mídia ocidental sob a imagem 
do extremismo e do terrorismo. Atentados suicidas, opressão de populações inteiras por grupos 
radicais, assassinato de jornalistas, de soldados e de adeptos de outras religiões, surgem diaria-
mente na mídia e transmitem a ideia de um Oriente Médio, berço do Islã, semelhante a um barril 
de pólvora, povoado por fanáticos religiosos armados e dispostos a matar, movidos por uma reli-
gião assustadoramente sangrenta, que leva seus adeptos ao assassínio. 
Não negamos que haja no Islã, assim como em todas as religiões, grupos fundamentalistas 
que buscam levar ao extremo suas mensagens religiosas e, não raramente, acabam radicalizando 
ou mesmo ultrapassando os limites éticos da própria religião que representam. Contudo, reduzir 
todo um universo religioso à ação de um ou mais grupos que emergem da religião é ignorar os 
seus fundamentos e sua diversidade; é desconhecer a cosmovisão religiosa, a sua história e os 
seus pilares. No caso do Islã, há toda uma realidade social e cultural, um universo simbólico, as-
sim como uma tradição silenciada sob a imagem do terror que nos é apresentada, à medida que, 
como disse Peter Antes (2003, p.21), “há uma falta de informação sobre o que os islã como rea-
lidade multifacetada representam”. Acresça a isso, a leitura enviesada feita por lentes ocidentais 
“fundamentalistas”, que, por resistência cultural e outras, distorcem a visão integral desta belíssi-
ma religião. 
Deste pensar, nos voltaremos para a origem histórica desta religião, capturando os seus fun-
damentos, vislumbrando as suas crenças, perscrutando os seus ritos e símbolos, no intento de 
compreendê-los em seus significados. Abordaremos também sobre a presença e o impacto des-
ta religião no mundo, sua interferência na vida e na sociedade, no que tange a seus adeptos e 
sobre o lugar assumido pelo Islã no mundo moderno. Traremos, ainda, dos conflitos que esta re-
ligião vivencia, em uma ótica imparcial, desprovida de estereótipos e preconceitos. Com o olhar 
característico da Ciência da Religião, que investiga religião enquanto fenômeno, vamos desven-
dar esta, que é a mais jovem das três religiões monoteístas.
As autoras
11
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
UnIdAde 1
Origens do Islã: da Arábia Pré- 
Islâmica ao Profeta Maomé
Ângela de Santana Rocha Correia
1.1 Introdução
Caros acadêmicos, conhecer o modo de vida de um povo, em seu contexto geográfico, so-
cial, histórico e cultural, é fundamental para compreendermos a cosmovisão religiosa deste 
povo, pois, como diz Mircea Eliade (1991, p. 27), “não existe fato religioso ‘puro’, fora da história, 
fora do tempo”, uma vez que a concepção de mundo e de sagrado relaciona-se intrinsecamen-
te com as vivências humanas no tempo e no espaço. Por isso, nesta unidade, apresentaremos a 
você o contexto histórico, social e cultural em que surgiu o Islã, a fim de que você compreenda 
melhor a origem e os fundamentos desta religião. Começaremos pela Arábia pré-Islâmica, apre-
sentando a geografia, as relações sociais, os aspectos culturais e identitários do povo árabe no 
período que precedeu o Islã. Abordaremos também as transformações no âmbito socioeconômi-
co e cultural que muito possivelmente ocasionaram a necessidade de um novo modo de organi-
zação, necessidade esta que encontraria uma resposta efetiva nesta religião. 
GLOSSÁRIO
Península: Região 
cercada de água, exceto 
por um lado, que se 
liga a outra região, 
geralmente mais vasta. 
(FERNANDES, 1994).
◄ Figura 1: Arábia pré-
islâmica. 
Fonte: Disponível em 
<http://static.hsw.com.br/
gif/maome-1.jpg> Acesso 
em 08 dez. 2014
12
UAB/Unimontes - 4º Período
1.2 A Arábia Pré-Islâmica: 
Geografia, Sociedade, Religião e 
Cultura
A península arábica foi o berço desta que se tornou uma das religiões mais influentes do 
mundo. Localizada no sudoeste do continente asiático (Ásia Ocidental), a região é atualmente 
composta pelos seguintes países: Arábia 
Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã, 
Bahrein, Kuwait, Qatar e Iêmen. Seus li-
mites geográficos (veja no mapa a seguir) 
são, ao norte, os países Iraque e Jordânia, 
a oeste o Mar Vermelho, a leste o Golfo 
Pérsico e ao sul o Mar de Omã. A vege-
tação é desértica na região central, apre-
sentando estepes secas e alguns oásis, e 
o relevo, em sua maior parte, composto 
por desertos. O clima predominante é 
árido, apresentando também, ao norte, o 
clima subtropical e, ao sul, o clima tropi-
cal.
Foi mais precisamente o noroeste dapenínsula arábica, região árida, descrita por Hans Küng 
(2004, p, 258) como “Uma terra que exige de plantas, animais e homens o máximo em dureza, 
persistência e espírito de luta!”, que testemunhou o surgimento do Islã. Nesta região havia habi-
tantes de estilo de vida diversificado, desde povos nômades criadores de camelos, cabras e ove-
lhas - conhecidos como beduínos - a agricultores estabelecidos nos oásis, além de comerciantes 
e artesãos que viviam em pequenos vilarejos. 
Figura 2: Mapa da 
Arábia
Fonte: Disponível em 
<http://www.auxitec.es/
uploads/pics/arabia-saudi-
-mapa.jpg> Acesso em 08 
set. 2014.


Figura 3: Paisagem 
típica da Arábia. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/4pSE0Y>. 
Acesso em 13 set. 2014.
13
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
Esses habitantes falavam diversos dialetos do idioma árabe e não apresentavam uma coe-
são sólida entre si. Não havia uma autoridade governamental centralizada e, sim, grupos diver-
sos, cada qual com a sua organização interna, nos quais a autoridade era concedida ao senhor 
(sayyid), conforme suas qualidades pessoais e seu prestígio. Quanto à estrutura social, a única or-
ganização hierárquica era a nobreza, que consistia na descendência de antepassados de sangue 
puro (NABHAN, 1996, p. 14).
Os beduínos, organizados em tribos lideradas pelos chefes de famílias, eram povos valentes 
que, embora fossem a minoria da população, dominavam, juntamente com os comerciantes das 
aldeias, sobre os lavradores e artesãos, fazendo prevalecer também o seu ethos. Caracterizavam-
se pela hospitalidade, lealdade à família e reverência aos ancestrais, mas também pela violência. 
Por essa razão, a Arábia pré-islâmica costuma ser descrita, inclusive entre os mulçumanos, como 
“uma terra rude, isolada e quase inteiramente voltada ao deserto” (NABHAN, 1996, p. 15).
No contexto de aridez e violência, as regras morais e sociais ajustavam-se às condições de 
vida no deserto e revelavam o modo de ser construído em meio a situações nas quais resistir 
para sobreviver era um imperativo. O banditismo, consequência da escassez de bens matérias, 
era, segundo Huston Smith (1991, p. 218), uma instituição regional e prova de virilidade. As re-
gras morais e sociais predominantes eram características de uma sociedade patriarcal, centrada 
na figura do chefe da família, na qual os laços sanguíneos, ou seja, o parentesco direto, estavam 
na base de formação dos grupos. O princípio ético que regulava a vida pessoal e tribal basea-
va-se, sobretudo, na honra, esta associada à virilidade, à ética guerreira. Fazia parte dessa ética, 
como dissemos acima, tanto a hospitalidade e a generosidade - de suma importância a um povo 
que tinha na coesão do grupo uma necessidade para a sobrevivência - quanto o fio da espada. 
Leia mais a esse respeito no box a seguir: 
◄ Figura 4: Caravana de 
beduínos. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/xwY1Q4> 
Acesso em 08 set. 2014.
14
UAB/Unimontes - 4º Período
BOX 01 - ÉTICA COMUNITÁRIA NA ARÁBIA PRÉ- ISLÂMICA
Para promover o espírito comunitário essencial à sobrevivência, os árabes conceberam 
uma ideologia chamada muruwah [...]. Os estudiosos modernos muitas vezes traduzem muru-
wah como “virilidade”, porém essa palavra tinha uma gama de significados bem mais ampla: 
coragem em combate, paciência e resignação no sofrimento, absoluta dedicação à tribo. As 
virtudes do muruwah exigiam que o árabe obedecesse sem hesitar ao seu sayyid, ou chefe, 
independentemente de sua segurança pessoal; tinha de cumprir os deveres cavalheirescos de 
vingar qualquer ofensa feita à tribo e proteger seus membros mais vulneráveis. Para assegurar 
a sobrevivência de sua gente, o sayyid distribuía a riqueza e os bens da tribo em partes iguais 
e vingava a morte de um dos seus, matando um membro da tribo do assassino. É aqui que 
vemos mais claramente a ética comunitária: não havia obrigação de punir o próprio matador, 
porque um indivíduo podia desparecer sem deixar rastro numa sociedade como a da Arábia 
pré-islâmica. Um membro da tribo inimiga equivalia a outro para esses fins. A vendeta, ou rixa 
de sangue, era a única maneira de garantir um mínimo de segurança social numa região onde 
não havia autoridade central, onde cada grupo tribal fazia a própria lei e não existia nada 
comparável à moderna força policial. Se um chefe deixasse de retaliar, os outros não respei-
tariam sua tribo e se sentiriam livres para matar sua gente impunemente. A vendeta era, pois, 
uma forma rude de justiça, o que significava que era difícil uma tribo adquirir ascendência so-
bre outra. Também significava que as várias tribos podiam se envolver facilmente num inter-
minável ciclo de violência, no qual uma vendeta levava à outra, se as pessoas considerassem a 
vingança desproporcional à ofensa.
Fonte: ARMSTRONG, Karen. Uma História de deus: quatro milênios de busca do judaísmo, islamismo e Cristianismo. 
Tradução Marcos Santarrita. Revisão da tradução Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras. 2008).
A mentalidade patriarcal relegava à mulher uma condição inferior em relação ao homem: 
dela o pai e o marido, chefes da família, dispunham como lhes aprouvesse. As filhas não tinham 
direito à herança, não havia normas definidas quanto ao matrimônio e o infanticídio de meninas 
recém-nascidas não era incomum (SMITH, 1991, p. 242). Para uma mentalidade cuja honra estava 
associada à virilidade, ter uma filha mulher era sinal de desventura.
A religiosidade caracterizava um sistema politeísta, no qual se adorava uma diversidade de 
deuses. Contudo, não havia um panteão organizado, cada tribo adorava uma ou mais divinda-
des. Conforme Karen Armstrong (2008, p. 178), as tribos beduínas “não se interessavam muito 
por religião no sentido convencional”, cultuavam um panteão de divindades, porém não desen-
volviam uma mitologia referente ao papel dos deuses e do templo na vida espiritual. Também 
não esperavam uma intervenção divina extraordinária na vida humana (NABHAN, 1996, p.14), 
nem imaginavam uma vida pós-morte. Contudo acreditavam na supremacia do que chamavam 
darh, que se pode traduzir como “tempo” ou “destino”, controlador da alegria e da miséria, da 
morte e da subsistência no mundo. Dividida entre o império romano e o império persa, a região 
contava também com a presença do zoroastrismo e de crenças do paganismo grego.
Ainda que com menor expressividade, o monoteísmo também já se aventava no mundo 
árabe, embora muitos teólogos mulçumanos afirmem que a crença em um único Deus foi intro-
duzida pelo Islã na região. Representavam o monoteísmo minorias de judeus e cristãos que ali 
viviam. É por essa razão que afirma Peter Antes:
[...] o credo em um único Deus, em geral, não era novo na península arábica, 
como teólogos islâmicos, muitas vezes, querem-nos deixar acreditar, desqualifi-
cando, em sua totalidade, o tempo antes de Mohamed como o tempo da igno-
rância (jahilyyah). De há muito tempo havia judeus (somente duas tribos judai-
cas moravam em Medina) e também cristãos de cunho diferente na região do 
atual reino da Arábia Saudita. Em uma ampla pesquisa, Claus Shedl conseguiu 
demonstrar como especificamente as passagens do Alcorão sobre Jesus contêm, 
de maneira profunda, alusões e pensamentos defendidos no cristianismo orien-
tal e que, com certeza, não eram totalmente desconhecidos na região de Moha-
med. Assim, o profeta proclamou com sua mensagem algo que foi entendido, 
com efeito, por parte de seu público. (ANTES, 2003, p. 38)
Vejamos no Box a seguir o que nos informa Mircea Eliade (1999) sobre o campo religioso da 
Arábia no período anterior ao Islã:
15
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
BOX 02 - O CAMPO RELIGIOSO DA ARÁBIA PRÉ-ISLÃMICA
A Arábia, antes do Islamismo, era território do politeísmo semítico, do judaísmo arabi-
zante e do cristianismobizantino. As religiões do norte e do leste, atravessadas pelas grandes 
rotas comerciais, foram profundamente influenciadas pelo helenismo e pelos romanos. No 
tempo de Maomé, o culto dos deuses tribais havia relegado a segundo plano a antiga reli-
gião astral do Sol, da Lua e de Vênus. A principal divindade tribal era adorada sob a forma 
de uma pedra, talvez meteórica, de uma árvore ou de um bosque. Em sua honra erigiam-se 
santuários, apresentavam-se oferendas e sacrificavam-se animais. A existência de espíritos 
onipresentes, às vezes malignos, chamados djins, era universalmente admitida antes e depois 
do advento do islamismo. Alá, “Deus”, era venerado ao lado das grandes deusas árabes. As fes-
tas, os jejuns, e as peregrinações eram as principais práticas religiosas. O henoteísmo e o mo-
noteísmo do culto de AL-Rahmãn também eram conhecidos. Grandes e poderosas tribos de 
judeus haviam se estabelecido nos centros urbanos, como o do oásis de Yathrib, que mais tar-
de se chamaria Medina (Madina, “A Cidade”). As missões cristãs haviam feito alguns prosélitos 
(conhece-se um na família da primeira mulher de Maomé). No século VI d.C., Meca (Makka), 
com seu santuário da Caaba em torno do famoso meteorito negro, já era o centro religioso da 
Arábia Central e uma importante cidade comercial. 
Fonte: (ELIADE, Mircea. dicionário das Religiões / Mircea Eliade e Ioan P. Couliano; tradução Ivone Castilho Beneditti. 
2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999).
Economicamente, a característica nômade dos “povos do deserto” contribuiu para fazer 
da Arábia o “cenário de um sistema de relações econômicas internacionais” (NABHAN, 1996, p. 
15) que, seguramente, lançaram as bases das profundas mudanças que ocorreriam na região. O 
deslocamento espacial em forma de caravanas, peregrinações ou feiras, favorecia um intenso in-
tercâmbio comercial dentro e fora da península, o que possibilitava a emergência de grandes e 
poderosos mercadores de caravanas, os quais constituíam repúblicas aristocráticas. Entre estes, 
encontrava-se o clã dos qoraichitas, que, graças ao êxito no comércio, saíram da dureza do no-
madismo nas estepes da Arábia para criar, na cidade de Meca (Makkah), localizada na rota entre 
Damasco e a Mesopotâmia, um estado bem estruturado, centro internacional de comércio e fi-
nanças. Essa tribo vivia do tráfego de caravanas e da peregrinação à Caaba, santuário religioso 
dedicado a várias divindades, que atraíam intenso movimento de pessoas e do qual os qoraichi-
tas se consideravam guardiães. Neste clã nasceria Maomé, aquele que, com sua doutrina, trans-
formaria o mundo árabe.
Para finalizar este tópico, não poderíamos deixar de mencionar que não somente o fio da 
espada caracterizava os antigos árabes. Hourani (1994, p.27) nos fala também sobre uma identi-
dade cultural entre as tribos pastoris, manifesta em uma linguagem poética comum, a partir dos 
dialetos árabes. Poemas que, originalmente, não eram escritos, mas recitados publicamente, de 
modo que as palavras eram combinadas em arranjos capazes de expressar ideias e sentimentos 
(falaremos mais sobre a poesia árabe na unidade III). Com uma linguagem formal, de gramática 
e vocabulário requintados, a ode, ou qasida, poema de até cem versos, apresentando uma úni-
ca rima ao longo de todo ele, era a forma mais valorizada. Essas composições foram registradas, 
mais tarde, por filólogos ou críticos literários, os quais, segundo Hourani, podem ter introduzido 
nas produções novos elementos, estranhos aos poemas originais. Contudo, eles não deixam de 
transmitir a essência da Arábia antiga. A transitoriedade da vida humana, o erotismo, a evocação 
de um lugar ou de um amor perdido eram as principais tendências da poesia beduína. Certa-
mente, a veia poética do povo árabe forneceu a base cultural para a composição do Alcorão, livro 
sagrado do Islã.
Esse povo valente e também sensível, que tinha a honra por princípio e o sangue como ga-
rantia, passou por importantes transformações sócio-históricas, e estas incidiram em suas neces-
sidades e interesses. Vejamos o próximo item.
GLOSSÁRIO
Henoteísmo: crença 
religiosa em que um só 
deus é cultuado sem, 
no entanto, deixar de 
considerar a existência 
de outros deuses, ge-
ralmente inferiores ou a 
ele subordinados. 
dICA
Para saber mais sobre a 
história dos povos ára-
bes no período anterior 
ao Islamismo, reco-
mendamos a leitura na 
íntegra da unidade I do 
livro Uma História dos 
Povos árabes, de Albert 
Hourani (1994).
16
UAB/Unimontes - 4º Período
1.3 Os Sinais de Novos Tempos no 
Mundo Árabe
Já não é novidade para você que modificações no contexto histórico-social vivenciado por 
um povo acarretam mudanças também na sua compreensão de homem, de mundo e de sagra-
do. No que se refere ao povo árabe, não foi diferente. Transformações ocorridas no Oriente Próxi-
mo, entre os séculos VI e VII, afetaram também a península arábica. A expansão dos grandes im-
périos romano e persa influenciava a região não somente no plano físico, mas também em suas 
fronteiras culturais; a intensificação das relações comerciais gerava uma nova classe enriquecida 
na qual a própria ascensão interessava mais do que o vínculo tribal, causando o afrouxamento 
dos laços de sangue em função das comunidades de interesse; além disso, o consequente conta-
to com outros povos, possibilitado pelos encontros comerciais, bem como a convivência com re-
ligiões universalizantes e voltadas mais para o indivíduo do que para a unidade étnica, tais como 
o judaísmo e cristianismo, aproximavam o povo árabe de outras ideologias e visões de mundo. 
Veja no box a seguir: 
BOX 03 - TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO ÁRABE
Na última fase do período pré-islâmico, que os muçulmanos chamam de jahiliyyah (tem-
po da ignorância), parece ter havido uma insatisfação e uma inquietação espiritual generaliza-
das. Os árabes estavam cercados por todos os lados pelos dois poderosos impérios da Pérsia 
Sassânida e de Bizâncio. Idéias modernas, procedentes dos territórios colonizados, começa-
vam a penetrar na Arábia; mercadores que viajavam para a Síria ou o Iraque voltavam falando 
das maravilhas da civilização. Contudo, os árabes pareciam condenados ao barbarismo. Sem-
pre em guerra, as tribos não conseguiam reunir seus magros recursos e tornar-se o povo ára-
be unido que tinham vaga consciência de ser. Não conseguiam tomar as rédeas de seu desti-
no e fundar uma civilização própria. Estavam sujeitos à exploração pelas grandes potências: a 
região mais fértil e sofisticada do sul da Arábia, correspondente ao Iêmen atual (beneficiada 
pelas monções), tornara-se mera província da Pérsia. Ao mesmo tempo, as idéias que se infil-
travam na região sugeriam individualismo e solapavam o velho ethos comunitário. 
(ARMSTRONG, Karen. Uma História de deus: quatro milênios de busca do judaísmo, islamismo e Cristianismo. 
Tradução Marcos Santarrita. Revisão da tradução Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras. 2008.)
GLOSSÁRIO
Bizâncio: Referente 
ao império bizantino. 
Antigo império romano 
do oriente.
Figura 5: Arábia. 
Fonte: Disponível em 
<http://upload.wiki-
media.org/wikipedia/
commons/d/d2/Mosquei-
nAbuja.jpg> Acesso em 
08 dez. 2014.

17
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
Contextos assim clamam por reformas em todos os âmbitos da vida social e são terreno fér-
til para a emergência de figuras que se levantam em meio ao povo para apresentar novas pro-
postas. Podemos afirmar que, no contexto árabe do século VII, essa figura foi Mohamed (em por-
tuguês, Maomé), o profeta, que, falando em nome de Alá, lançou os fundamentos não somente 
de uma nova religião, como também de um novo modo de vida. Embora ele não tenha sido o 
único profeta a se levantar naquele tempo, foi quem se sobressaiu com sua mensagem. Vejamos 
o que diz Peter Antes: 
Acredita-se que a anunciaçãode Mohamed tenha satisfeito as principais expec-
tativas dos árabes durante a ruptura [...] Nessa ruptura, a anunciação de Moha-
med não se deu sem concorrentes. Os historiógrafos islâmicos têm algo para 
relatar sobre alguns deles: contemporâneo de Mohamed, o mais famoso foi Mos-
saylima, pejorativa designação diminutiva para Maslama, que apareceu, entre os 
Banu Hanîfa in Yamâna (ANTES, 2003, p.32).
No próximo tópico, apresentaremos a você quem foi Mohamed, o que ele viveu, o que pre-
gou e qual foi a repercussão de sua mensagem no mundo árabe.
1.4 A Trajetória de Mohamed, o 
Profeta do Islã
Um importante sociólogo contemporâneo, Peter Berger (1985, p.35), afirma que “toda so-
ciedade humana é um empreendimento de construção do mundo” e “a religião ocupa um lugar 
destacado nesse empreendimento”. Pensemos em uma sociedade em processo de ruptura com 
uma antiga ordem e em busca de uma nova, como expusemos na unidade anterior a respeito da 
civilização árabe no período que precedeu o Islã. Toda uma estrutura social e cultural começava 
a ruir para ceder lugar a novos anseios e, nesse contexto, um novo empreendimento de cons-
trução de mundo se fazia necessário. E foi por meio de uma nova ordem religiosa que se lança-
ram os fundamentos da nova ordem social. A desagregação de um sistema em que cada tribo 
possuía seu domínio, suas regras e seus deuses, estrutura que já não correspondia às aspirações 
daquele povo, trazia à baila a necessidade de um centro, um elemento agregador nunca antes 
experimentado, capaz de criar coesão e unir o povo em torno de uma só lei. Isso seria alcançado 
a partir de uma religião única, cujo Deus era um só, e de um homem, considerado o mensageiro 
por excelência deste Deus e seu representante nas coisas terrenas. Assim nasceu o Islã, com seu 
livro sagrado, o Alcorão, seu Deus e seu profeta, lançando as bases não somente de uma nova 
religião, mas também de uma nova sociedade. 
ATIVIdAde
Faça uma pesquisa so-
bre o contexto atual da 
Arábia, qual a situação 
socioeconômica e cultu-
ral e qual o lugar da re-
ligião nas comunidades 
árabes hoje. Discuta os 
resultados da pesquisa 
com seus colegas no 
fórum da unidade.
dICA
Recomendamos a 
leitura na íntegra do 
livro “o Dossel Sagrado” 
de Peter Berger (1985), 
pois traz uma interes-
sante discussão sobre 
a relação indivíduo-
sociedade-cultura-reli-
gião, que pode auxiliar 
na compreensão do 
advento de fenômenos 
sócio- religiosos, tais 
como o Islã.
◄ Figura 6: A Trajetória 
do Profeta: imagem 
ilustrativa. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/QL5A3G>. 
Acesso em 17 nov. 2014. 
18
UAB/Unimontes - 4º Período
Mohamed começou a pregar no início do século VII, na cidade de Meca, uma doutrina ino-
vadora, que reclamava, além de uma fé obediente, também novos costumes e um novo modo de 
vida. Este mercador afirmava ter recebido a mensagem de um deus, Allah (palavra utilizada tam-
bém por judeus e cristãos de língua árabe para se referir ao divino), que, como dissemos na uni-
dade I, era um dos deuses locais. Allah teria se revelado ao profeta como criador do universo e da 
humanidade e como único Deus, sem concorrentes: os demais deuses não passavam de ilusão. O 
mensageiro havia sido um anjo, e este anjo era Gabriel (o mesmo da cosmovisão judaica e cristã). 
A mensagem divina estava gravada nas palavras de um livro santo e celestial, apresentado pelo 
anjo a Mohamed juntamente com uma ordem: Recita! Era o chamado a proclamar a palavra divi-
na. Este livro era o Alcorão (a leitura por excelência, recitação), texto sagrado do Islamismo (veja 
mais sobre a história da revelação na unidade III).
Estabelecer com precisão a biografia de Mohamed é uma tarefa que não deixa de apresen-
tar seus desafios, visto que, como informa Albert Hourani (1994), além das narrativas próprias da 
tradição, oriundas da transmissão oral (e empenhadas em apresentar o profeta de forma idealiza-
da, como um homem santo e de descendência nobre, porém o mais humilde entre os homens), a 
primeira obra biográfica conhecida foi escrita mais de um século após sua morte. O início da vida 
do profeta é, nas palavras de Hourani, a parte mais obscura na narrativa dos biógrafos. 
Mohamed teria nascido por volta de 570 na cidade de Meca e, órfão de pai e mãe desde 
tenra infância, teria sido criado pelo avô paterno Abd Al Muttalib, líder de Meca. Após a morte 
deste, passou a viver com o tio Abu Talib. Teria trabalhado no comércio de caravanas, ofício que 
o levou a cuidar dos negócios de uma rica viúva, chamada Khadija, com quem se casou aos 25 
anos de idade, embora ela fosse quinze anos mais velha do que ele. 
Por volta dos quarenta anos de idade, diz a tradição muçulmana, algo transformador teria 
ocorrido na vida deste homem: um momento epifânico, um encontro com o sagrado, que teria 
deixado Maomé atônito, e a ordem de anunciar ao mundo uma nova lei e uma nova doutrina. 
Enquanto meditava sozinho no monte Hira, nos arredores de Meca, Maomé teria sido interpe-
lado pelo anjo: seria a primeira de sucessivas visitas que, durante 23 anos, lhe trariam os funda-
mentos de nova doutrina, revelação iniciada a partir da mensagem imperativa:
dICA
Segundo Huston Smith 
(1991, p. 219), a divinda-
de denominada Allah, 
era cultuada em Meca 
não como Deus Único, 
mas como um deus de 
características impres-
sionantes, criador, 
provedor e determina-
dor do destino humano. 
Contemplativos da 
época, chamados ha-
nifs, cultuavam somente 
Allah, e Maomé era um 
deles. Em suas vigílias 
noturnas, Maomé 
refletia sobre a natureza 
e a grandeza de Allah, 
que supunha maiores 
do que cogitavam os 
árabes. Dessas reflexões 
teria o profeta chegado 
à conclusão de que 
Allah era não o maior 
entre os deuses, mas, 
como indicava o nome 
Allah (o deus), era o 
único Deus. 
dICA
Segundo Peter Antes 
(2003), a palavra Allah, 
traduzida como “o 
Deus”, também utilizado 
por judeus e cristãos 
árabes com este mesmo 
significado, gera con-
trovérsias no mundo 
islâmico atual, uma vez 
que o nome “Deus” soa 
um tanto vago, uma vez 
que permite a forma 
plural “deuses”, dando 
margem a dúvidas so-
bre a que deus se refere, 
enquanto Allah não 
admite a forma plural, 
podendo ser mais ade-
quadamente utilizado 
como nome próprio. 
Assim, muçulmanos 
de alguns países não 
árabes preferem utilizar 
a palavra Allah para no-
mear o divino, ao invés 
da tradução “Deus”.
Figura 7: O Imaginário 
de Mohamed. 
Fonte: Disponível em 
<http://guiadoestudante.
abril.com.br/aventuras> 
Acesso em 08 dez. 2014.

19
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
Recita: em nome de vosso senhor que criou,
Criou o homem de um coágulo de sangue. 
Recita: e vosso Senhor é o mais generoso, que ensinou junto ao aprisco,
Ensinou ao homem o que ele não sabia. (ALCORÃO 96:1-3)
O conteúdo das revelações transmitidas pelo anjo a Maomé era, certamente, estremecedor 
para aqueles que acolhiam sua mensagem e se tornavam seus seguidores: 
O mundo ia acabar; Deus todo-poderoso, que criara os seres humanos, iria julgá
-los a todos; os prazeres do Céu e as dores do Inferno eram descritos em cores 
vívidas. Se, durante a vida, se submetessem à Vontade de Deus, podiam confiar 
na misericórdia d’Ele quando fossem a julgamento; e era Vontade de Deus que 
agora mostrassem sua gratidão com a prece regular e outras observâncias, e com 
benevolência e contenção sexual (HOURANI, 1994, p. 33). 
A mensagem chamava à obediência aos preceitos rigorosamente estabelecidos, com vistas 
à elevação moral do ser humano em todos os níveis de sua vida, critério para obter as bênçãos 
divinas e a salvação eterna. Inicialmente transmitida de forma discreta a um pequeno grupo de 
seguidores, formado por familiares (a esposa Khadija teria sido a primeira muçulmana),merca-
dores, artesãos e escravos, logo o profeta receberia a ordem divina de que fosse pregada publi-
camente. Sem operar feitos miraculosos, Mohamed se autoproclamava, diz a tradição, não mais 
que um pregador, portador das palavras de Allah para a humanidade (SMITH, 1991, p. 221).
A princípio, a nova fé teve poucos adeptos na cidade de Meca, mas, por outro lado, não de-
morou a gerar conflitos e a encontrar opositores, inclusive entre as próprias famílias qoraichitas, 
que se consideravam guardiãs da religião em Meca e controlavam as atividades em torno da 
Caaba. A religião politeísta, agora ameaçada pela doutrina do Deus único de Mohamed, era não 
somente a religião dos ancestrais a ser respeitosamente preservada, como também fonte da dis-
tinção, honra, poder e riqueza dos qoraichitas na Arábia (NABHAN, 1996, p. 18).
GLOSSÁRIO
Preceitos: Normas, 
regras de proceder, 
doutrinas, ensinamen-
tos, determinações, 
prescrições (FERNAN-
DES, 1994).
◄ Figura 8: A Imagem de 
Mohamed. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/faCkmF>.
Acesso em 14 set. 2014
20
UAB/Unimontes - 4º Período
Smith pontua três fatores que levaram à oposição à doutrina de Mohamed em Meca:
(1) Seu monoteísmo irredutível ameaçava as crenças politeístas e a renda con-
siderável que entrava nos cofres de Meca com as peregrinações a seus 360 san-
tuários (um para cada dia do ano lunar); (2) seus ensinamentos morais exigiam o 
fim da licenciosidade a que se agarravam os cidadãos; e (3) seu conteúdo social 
desafiava uma ordem injusta. Numa sociedade dividida por distinções de classe, 
o novo Profeta pregava uma mensagem intensamente democrática. Maomé in-
sistia que, aos olhos do seu Senhor, todas as pessoas eram iguais. (SMITH, 1991, 
p. 221)
Em outras palavras, as diferenças em relação às crenças mais difundidas, ou seja, ao mundo 
politeísta, o ataque aos ídolos, considerados por Mohamed inúteis e desnecessários, porquanto 
ilusórios, e a proposta de novas formas de crença, de culto e de conduta, foram os fatores que 
insuflaram uma perseguição ferrenha a Mohamed e a seus seguidores. A princípio, diz a tradição, 
por meio de zombarias, vaias e escárnios, depois calúnias, difamações e ameaças e, por fim, da 
violência física: Mohamed e seus seguidores foram agredidos, presos e insultados, contudo, as 
perseguições não intimidaram o profeta e o seu então pequeno grupo, antes os faziam mais obs-
tinados e convictos.
A força das perseguições sofridas em Meca levou Mohamed e seus companheiros a migra-
rem para a cidade de Yatrib, onde já havia adeptos de sua doutrina, convertidos durante visitas à 
Meca. Lá o profeta e seus seguidores foram acolhidos por tribos poderosas, recebendo apoio e 
proteção. Yatrib mais tarde passaria a se chamar Madinat al Rasul, que significa a cidade do profe-
ta, ou madina, de onde se tem o nome Medina:
BOX 04 - A EMIGRAÇÃO PARA YATRIB
[...] Maomé recebeu a inesperada visita de uma delegação composta pelos principais ci-
dadãos de Yathrib, cidade situada a 450 quilômetros ao norte de Meca. Por intermédio dos 
peregrinos e outras pessoas que visitavam Meca, os ensinamentos de Maomé estavam se di-
fundindo firmemente em Yathrib. Essa cidade enfrentava rivalidades internas que exigiam um 
líder forte e imparcial, um homem de fora, e Maomé parecia ser esse homem. Depois de ouvir 
o compromisso da delegação (o juramento de adorarem apenas Alá, observarem os preceitos 
do Islã, obedecerem ao Profeta em tudo o que fosse correto e o defenderem, e os seus fiéis, 
tal como defenderiam suas próprias mulheres e crianças), Maomé recebeu um sinal de Deus 
para aceitar o encargo. Cerca de setenta famílias o precederam. Quando os líderes de Meca 
ficaram sabendo desse êxodo, fizeram o possível para impedir a ida de Maomé; mas ele, com 
seu grande amigo Abu Bakr, iludiu a vigilância e, escapando por uma fenda ao sul da cidade, 
partiu para Yathrib. 
SMITH, Huston. As Religiões do Mundo: nossas grandes tradições de sabedoria. Tradução Merle Scoss. São Paulo: 
Editora Cultrix, 1998. p. 222).
Figura 9: Vista atual da 
cidade de Meca. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/Ck2VeN> 
Acesso em 24 set. 2014.

21
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
A emigração (chamada hégira) de Mohamed para Yatrib inaugurou o período impulsionador 
da nova religião e foi, por isso, um evento de tal modo significativo para os muçulmanos que 
a sua data, 16 de julho de 622, passou a ser o marco de uma nova era, ano I da hégira, a partir 
do qual seria estabelecido o calendário muçulmano (leia mais a este respeito no adendo ao final 
desta unidade).
Em Yathrib Mohamed construiu a primeira mesquita (local de encontro dos muçulmanos 
para a oração coletiva) como local de adoração e de reunião dos fieis e aprimorou as bases de 
sua doutrina. A mensagem que, em Meca, tinha o caráter centrado no discurso religioso e em 
princípios teológicos, em Medina assumiu a feição de uma teocracia, amarrando à religião toda a 
vida política, administrativa e social daquela que configuraria a comunidade islâmica:
O profeta, em Meca, tinha se dedicado aos fundamentos da fé: a unidade de 
Deus, a ressurreição, o dia do julgamento, a adoração, a purificação da alma. Em 
Yatrib, Maomé acrescentou às suas reflexões a preocupação em organizar a na-
ção (ummah), como entidade independente, constituindo um sistema de defesa 
com uma ordem social e política (NABHAN, 1996, p. 21).
Portanto, em Yatrib Mohamed foi mais do que um profeta: assumiu também a função políti-
ca, administrativa e militar, definindo as bases da umma, a comunidade islâmica. Nesta, prevale-
ciam não os laços sanguíneos, ou seja, a vinculação tribal, mas a pertença à religião coletiva (cf.: 
ANTES, 2003, p.41). Mohamed tornou-se, portanto, um estadista, papel que, conforme a tradição 
muçulmana, desempenhou com maestria e humildade, mas também com pulso forte, quando 
isso se fazia necessário para a manutenção da ordem e da justiça e para a proteção da comunida-
de. A integração entre vida religiosa e vida secular seria uma característica marcante do mundo 
islâmico, com regras concretas e realistas para a convivência humana, baseadas em soluções prá-
ticas, inclusive para o cotidiano.
A influência secular e religiosa possibilitou a Mohamed unificar as heterogêneas e conflitan-
tes tribos de Medina em uma federação ordenada. Em seguida, o profeta empreendeu uma luta 
pela unificação da Arábia como um todo. A primeira investida foi sobre Meca, enfrentando o seu 
próprio povo, os qoraichitas, crente na permissão de Allah para dominar, inclusive por meio das 
armas se preciso, aqueles que recusavam a verdade e a graça divina. Após seis anos de guerra 
contra a tribo natal, Mohamed conquistou a cidade de Meca, onde entrou triunfante, mas paci-
ficamente, diz a tradição, sem oprimir os vencidos. Lá encontrou uma população rendida à sua 
autoridade e disposta à conversão. 
◄ Figura 10: Vista atual 
da Mesquita de al-
Nawabi ou Mesquita 
do Profeta, em Medina. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/uwVfll> 
Acesso em 14 set. 2014.
22
UAB/Unimontes - 4º Período
Em Meca, Mohamed purificou a Caaba (templo cúbico antes dedicado à adoração de deu-
ses do panteão árabe), que acreditava ter sido construída pelo patriarca Abraão por ordem divi-
na, reconsagrou-a a Allah e adotou-a como foco central do Islã e centro de peregrinação mulçu-
mana. Após a conversão em massa da população de Meca ao Islã, o profeta retornou a Medina, 
onde faleceu, em 632, ano 10 depois da Hégira.
Descrito pela tradição muçulmana como um homem meigo, gentil, puro de coração e ama-
do pelos seus, movido pelo senso de honra, dever e fidelidade (SMITH, 1991, p.218), Mohamed é 
considerado pelos mulçumanos o “selo dos profetas”, pois acreditam que Deus, tendo se revela-
do aos homens sucessivamente através dos profetas, tais quais Abraão,Moisés e Jesus Cristo - os 
mesmos do Judaísmo e do Cristianismo respectivamente - escolheu Mohamed como último pro-
feta, portador da versão acabada da revelação divina. Por tudo isso, Mohamed é, para os segui-
dores do Islã, uma referência única, o porta-voz divino por excelência. Vejamos o que disse um 
renomado pensador iraniano sobre o profeta:
BOX 05 - REVERÊNCIA A MOHAMED
O Profeta, como fundador do Islã e mensageiro da Revelação de Deus para a humani-
dade, é o intérprete par excellence do livro de Deus; e seus Hadith e Sunnah, suas sentenças 
e ações, são, depois do Corão, as fontes mais importantes da tradição islâmica. A fim de en-
tender a importância do profeta, não basta estudar, de fora, textos históricos referentes à sua 
vida. Deve-se vê-lo também a partir do ponto de vista islâmico e tentar descobrir a posição 
que ocupa na consciência religiosa dos muçulmanos. Quando, em qualquer língua islâmica, 
alguém diz o Profeta, está se referindo a Muhammad – cujo nome como tal não é nunca repe-
tido a não ser que, como gentileza, seja seguido pela fórmula “sall’ Allãhu ‘alaihi wa sallam”, ou 
seja, “possam a bênção e a saudação de Deus estar sobre ele”.
NASR, Seyyed Hossein. O Profeta e a Tradição Profética: O ultimo Profeta e o Homem Universal. In: BARTHOLO, Jr. 
Roberto. Islã: O credo é a conduta. Rio de Janeiro: Imago, 1990. p.64. 
Não tendo realizado feitos miraculosos, a tradição muçulmana considera o Alcorão como 
único milagre de Mohamed. Diz o islã que nenhum homem poderia formular frases em árabe 
com tamanha qualidade senão por intermédio divino; além disso, não era possível a um homem 
simples e praticamente analfabeto, como teria sido Mohamed, elaborar por si só um conteúdo 
de tão elevado conhecimento. 
Contudo, em um olhar para além das afirmações de fé, Peter Antes (2003, p. 36) afirma que o 
talento poético de um beduíno dispensava a aquisição da escrita. Além disso, este autor nos traz 
a inquietude da controvérsia, para uma maior ponderação e discussão, ao afirmar que “Moha-
med foi estilizado por tendências distintas em uma imagem ideal”, de modo tal que houve um 
esforço dos biógrafos do profeta em ressaltar o fato de ter sido ele um homem inculto, que não 
sabia ler nem escrever, para, assim, ratificar a origem divina do Alcorão. Quanto ao conteúdo da 
revelação, há, segundo Peter Antes (2003), uma teoria que aventa a possibilidade de o profeta ter 
se baseado em saberes já difundidos no meio popular árabe, embora a mesma seja pouco cogi-
tada no meio científico e, logicamente, rechaçada pelos muçulmanos. Além disso, como aventa 
Vasconcelos (2013), o Alcorão passou por um processo de compilação e canonização posteriores 
à morte do profeta, o que dá margem a questionamento sobre a originalidade e autoria de todo 
o seu conteúdo.
Estas são questões a serem consideradas e refletidas quando assumimos a posição analíti-
ca e nos distanciamos de qualquer parcialidade, como é característico da Ciência da Religião: a 
figura do herói de um povo é um misto de realidade, idealizações, fatos e lendas. Tal é Mohamed 
com sua simplicidade imbuída da sabedoria divina, assim como Buda e seu nirvana, Moisés e seu 
êxodo acompanhado de grandes feitos, Jesus Cristo e seus milagres impressionantes, e tantos 
outros que enlevaram e enlevam a esperança de milhares de seguidores ao longo dos tempos.
ATIVIdAde
O profetismo: é um 
fenômeno comum em 
momentos de crise 
social, quando a instabi-
lidade gera insegurança 
e, sob a ameaça do 
caos, figuras carismáti-
cas surgem anunciando 
ora a total destruição 
ora a restauração da or-
dem por um ser divino. 
Como exemplo, citamos 
os profetas de Israel 
no período anterior e 
durante o exílio, Jesus 
Cristo durante o Império 
Romano e, na história 
do Brasil, Jacobina no 
período posterior á 
guerra do Paraguai e 
Antônio Conselheiro 
na lendária revolta 
de Canudos. Escolha 
um desses exemplos 
citados e faça uma pes-
quisa sobre o contexto 
social vivenciado na 
localidade em que estes 
profetas atuaram, com-
pare-os com o contexto 
vivido por Mohamed no 
período pré-islâmico. 
Em seguida, discuta 
suas conclusões com 
os colegas no fórum da 
unidade.
23
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
BOX 06 - ADENDO: CALENDÁRIO DOS MONOTEÍSTAS
Deve-se distinguir quando as pessoas começam a contar o tempo e como o contam. Os 
judeus começam com a Criação, que datam em 3760 a.e.c., e contam diretamente sem ne-
nhuma interrupção. Assim, nosso solene ano 2000 caiu entre os inócuos anos de 5760-5761 
do calendário hebraico. Os cristãos também começam com a Criação, com a diferença de que 
sua data tradicional para esse acontecimento é 4004 a.e.c. Contam de maneira decrescente 
desde aí até o fim do ano 1 a.C. (antes de Cristo), ano que é a linha divisória por ser o ano 
do nascimento de Cristo (a.D., anno Domini) que marca o começo da era cristã. A partir daí 
o tempo é contado de maneira crescente até o fim do mundo, cujo dia e hora ninguém co-
nhece (d.C., depois de Cristo). Para os muçulmanos, os anos desde a Criação até a Hégira – 
a migração de Mohamed de Meca para Medina, em 622 e.c. – são simplesmente ajuntados 
como “a era da ignorância” (al-jahiliyya). Em 622 começa a era propriamente muçulmana, em 
geral designada por a.H., anno Hegirae, “ano da Hégira”. Como essas três comunidades calcu-
lam o tempo é outra questão. Judeus e muçulmanos usam os calendários lunares compostos 
de 12 meses de 29 dias e algumas horas, num total de 354 dias. Isso coloca o ano lunar 11 dias 
atrás do ciclo solar de nosso calendário. Os judeus resolvem a discrepância (e por isso conser-
vam seus festivais em compasso com as estações) por intercalação – prática de acrescentar 
um mês extra sete vezes em cada ciclo de 19 anos e adicionar um dia em outros intervalos 
mais curtos. O Alcorão (9, 36-37) proíbe estritamente os muçulmanos de intercalarem (como 
faziam nos dias pré-islâmicos), e por isso seu ano lunar cai 11 dias atrás do ciclo solar cada 
ano. Pela contagem deles, o ano solar de 2000 e.c. ocupa os anos lunares de 1421-1422 a. H. 
Os cristãos seguem o calendário solar comumente usado no Ocidente.
Fonte: F. E. Peters . Os Monoteístas - Vol. I. São Paulo: Contexto. 2007, p. 27.
Na próxima unidade, falaremos a você sobre o período posterior à morte de Mohamed, com 
ênfase na sucessão do profeta, causa do primeiro grande dissenso da religião e na formação do 
império islâmico.
Referências
ALCORÃO. Mem Martins. Portugal: Publicações Europa-América Ltda, 2002.
ANTES, Peter. O Islã e a Política /tradução Frank Usarski. São Paulo: Paulinas, 2003. – (Coleção 
Religião e Cultura).
ARMSTRONG, Karen. Uma História de deus: quatro milênios de busca do judaísmo, islamismo e 
Cristianismo. Tradução Marcos Santarrita. Revisão da tradução Hildegard Feist. São Paulo: Com-
panhia das Letras. 2008.
BERGER, Peter L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Pau-
lo: Paulus, 1985.
ELIADE, Mircea. dicionário das Religiões / Mircea Eliade e Ioan P. Couliano; tradução Ivone Cas-
tilho Beneditti. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
______________. Imagens e Símbolos: ensaio sobre o simbolismo mágico religioso. / tradu-
ção: Sônia Cristina Tamer. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
FERNANDES, Francisco. dicionário Brasileiro Globo. São Paulo: Globo, 1997.
HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
KÜNG, Hans. Religiões do Mundo: em busca de pontos comuns. Tradução Carlos Almeida Perei-
ra. Campinas-SP: Verus Editora. 2004. 
NABHAN, Neuza Neif. Islamismo: de Maomé aos nossos dias. São Paulo: Ática, 1996.
24
UAB/Unimontes - 4º Período
NASR, Seyyed Hossein. O Profeta e a Tradição Profética: O ultimo Profeta e o Homem Universal. 
In: BARTHOLO, Jr. Roberto. Islã: O credo é a conduta.Rio de Janeiro: Imago, 1990. p.64. 
SMITH, Huston. As Religiões do Mundo: nossas grandes tradições de sabedoria. Tradução Merle 
Scoss. São Paulo: Editora Cultrix, 1998.
VASCONCELOS, Pedro Lima. Metodologia de Estudos das “escrituras” no campo da Ciência da Re-
ligião. In. PASSOS, João Décio, USARSKI, Frank. Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: 
Paullus. 2013.
25
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
UnIdAde 2
O Islã após Mohamed
Ângela de Santana Rocha Correia
2.1 Introdução
Após a morte de Mohamed, dois importantes fenômenos se observaram na história do Islã, 
os quais abordaremos nesta unidade: o problema da sucessão do profeta, causa do primeiro cis-
ma na religião, e a formação do gigantesco império Islâmico. A questão da sucessão refere-se ao 
impasse sobre quem deveria assumir o seu lugar à frente da comunidade religiosa que, por sua 
vez, era também uma unidade política e administrativa. O profeta não havia deixado instruções 
para o caso do seu falecimento (ANTES, 2003, p. 77), nem filhos homens que pudessem herdar 
sua função. Como veremos, após a morte do profeta ocorreram acirradas disputas pela sua su-
cessão, que ocasionaram importantes rupturas no interior do islã. Pontuaremos dois grupos dis-
tintos que tiveram origem nesse período, em função do impasse sobre quem era o mais apto 
ou o mais digno de assumir a umma: são eles os sunitas e os xiitas (muito conhecidos em nosso 
meio graças à mídia, não é mesmo?). Falaremos sobre o posicionamento de cada grupo e a rivali-
dade, existente até os dias atuais, entre ambos. Em seguida, trataremos da expansão do Islã pelo 
mundo, um processo de tal modo acelerado que, em menos de um século, já havia formado um 
gigantesco império. 
◄ Figura 11: O Islã após 
Mohamed. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/9J7qoh>. 
Acesso em 10 nov. 2014.
26
UAB/Unimontes - 4º Período
2.2 O Problema da Sucessão do 
Profeta
Conforme Hourani (1994, p. 39), na ocasião da morte do profeta, havia três grupos principais 
postulantes à função de Khalifa (em português califa, palavra que significa sucessor): os primei-
ros companheiros, que haviam acompanhado Mohamed na hégira; alguns homens importan-
tes de Medina, que haviam feito aliança com o profeta; e os membros das principais famílias de 
Meca, recém-convertidas ao Islã. Colaboradores e líderes do profeta reuniram-se e escolheram 
como primeiro califa um membro do primeiro grupo mencionado, Abu Bakr, companheiro da hé-
gira em Medina e sogro do profeta, pai de Aisha, uma das esposas com quem Maomé se casara 
após a morte de Khadija. 
O califado de Abu Bakr durou apenas dois anos, de 632 a 634, e foi sucedido por Omar (634-
644). Após a morte deste califa, começaram as secessões religiosas, com a formação de diversas 
seitas. Isso ocorreu, sobretudo, porque partidários de um primo e genro de Mohamed, chama-
do Ali, casado com sua filha Fátima, defendiam que este, pelo laço de parentesco, deveria ser o 
sucessor do profeta. Contudo, em seu lugar foi eleito Otmã (644-656), aristocrata Da família dos 
Omíadas de Meca, outrora adversários de Mohamed. Os partidários de Ali constituíram o grupo 
dos Xiitas (palavra derivada de shi’at’Ali, que significa “partido de Ali”). Em oposição a este esta-
va o grupo dos sunitas, aqueles que defendiam o califado mediante eleição pela comunidade 
(uma), independentemente do parentesco em relação ao profeta, de modo que o governo se 
exercesse com base na sunna, o registro dos ditos e feitos do profeta, considerado a orientação 
necessária para a condução do estado islâmico.
A oposição xiita à eleição de Otmã foi de tal modo ferrenha, que este foi assassinado por par-
tidários de Ali em 656 (ELIADE, 1991, p. 196). Contudo, Ali foi eleito califa por um consenso entre 
os dois grupos e liderou a comunidade mulçumana entre 656 e 661, quando entrou em conflito 
com um grupo dissidente do xiismo, os carijitas, que negavam o direito ao califado por parentes-
co, defendendo um califado eletivo com base nas virtudes do aspirante, e acabou assassinado por 
eles. O califado passou então ao governador omíada da Síria, Moawia, que iniciou um sistema ba-
seado na sucessão hereditária, fundando assim a dinastia dos Omíadas de Damasco (661-750). 
Durante o califado omíada, a comunidade islâmica se configurou como um império monár-
quico árabe. O segundo califa da dinastia omíada, Abd al-Malik, introduziu o árabe como língua 
oficial da nação islâmica, substituindo o grego e islamizando, desse modo, toda a vida pública, 
do direito às artes. 
Em 750, os Omíadas foram destronados pelos Abássidas (descendentes do tio do profeta 
Ibn’Abbãs). Estes promoveram uma renovação no império, passando de uma base árabe para 
uma base islâmica, ou seja, ao invés de um império arabizado, estabeleceu-se um império mu-
çulmano, com caráter de uma religião mundial. Desse modo, resolvia-se o crescente e conflitan-
te contraste entre os muçulmanos árabes e os muçulmanos não árabes, habitantes das regiões 
conquistadas fora da península arábica. A nova capital foi transferida para Bagdá, uma cidade 
multiétnica, o que, para Küng (2004, p. 268), sinalizava para uma concreta universalização do Islã. 
O império Abássida durou dois séculos até entrar em decadência: fatores internos, como crise 
do califado, revolta do exército, corrupção e queda da economia, levaram o império ao declínio. 
Em 1258, com a conquista de Bagdá pelos mongóis, a dinastia abássida encerrou-se de vez e, jun-
to com ela, findou-se no islã o sinal de unidade universalmente reconhecida e baseada em uma 
autoridade política central. Seguiu-se, então, a regionalização, pequenos estados desprovidos de 
governo central, dominados por chefes militares, latifundiários, sultões (KÜNG, 2004, p.270).
O califado foi dissolvido por completo em 1924 (ANTES, 2003, p.78). Hoje, em muitos países 
islâmicos, os chefes de estado, com seu partido unitário, representam o estilo de governo do cali-
fa, e a nação assume o lugar da umma. Outros estados são governados pelo emir (príncipe), com 
base em lealdades tribais. Há ainda ditaduras militares com líderes carismáticos, além de monar-
quias e teocracias. 
Como se pode entrever, ao contrário do que costumamos pensar, em nosso imaginário po-
voado pela ideia de um conjunto de países islâmicos governados por uma mesma lei, compar-
tilhando a mesma cultura, a mesma identidade, o mesmo arcabouço ideológico, político e reli-
gioso, o Islã está longe de ser um bloco monolítico. Rupturas e dissensos, diferentes ideologias e 
interesses, diversos grupos, e dentro destes outros tantos subgrupos, tendências conservadoras 
e modernizantes, tudo isto faz parte do heterogêneo universo muçulmano. 
dICA
Os quatro primeiros cali-
fas são chamados califas 
“corretamente guiados”, 
por se pautarem no 
Alcorão e na sunna para 
dirigir o estado islâmico. 
Eleito por consenso 
pela umma, o califa, 
assim como Moha-
med, era líder tanto da 
comunidade política 
quanto da comunidade 
religiosa. Contudo, não 
era um profeta, tão 
somente um guardião e 
transmissor da tradição 
revelada por Mohamed, 
jamais um intérprete 
da mensagem divina, 
como foi o profeta. Des-
se modo, desprovido 
de infalibilidade, estava 
submisso ao Alcorão, 
única autoridade doutri-
nal suprema após a 
morte de Mohamed 
(KÜNG, 2004, p. 263), 
deveria comprometer-
se, perante a umma, 
em obedecer aos 
mandamentos divinos 
prescritos no livro e nele 
pautar suas ações, não 
podendo ab-rogar suas 
instruções, privilégio do 
qual gozava o profeta. 
GLOSSÁRIO
Multiétnica: Caráter do 
que abriga pessoas de 
diferentes etnias.
Universalização: Tornar 
universal, abrangente, 
generalizado, esten-
der algo a tudo e/ou a 
todos.
27
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
No próximo item,falaremos um pouco mais sobre os sunitas e os xiitas, ambos de grande 
importância na história do Islã. 
2.3 Divisões do Islã: Sunitas e 
Xiitas
Para começar, saiba que os sunitas são maioria da população muçulmana até hoje e se carac-
terizam pela, já por nós mencionada, defesa da manutenção da sunna (tradição do profeta), daí o 
nome Sunitas. Os Xiitas, minoria dos muçulmanos (10%),encontram-se hoje principalmente no Irã, 
Iraque e Líbano e, como informamos anteriormente, fundamenta-se na defesa de Ali e sua des-
cendência como legítimos sucessores de Mohamed. Os xiitas viram os três primeiros califas como 
usurpadores dessa função. Tal diferença prevalece até os dias atuais. Saibamos um pouco mais.
O grupo dos sunitas teve origem entre aqueles que, na ocasião da morte do profeta, acre-
ditavam ser possível resolver todas as questões da comunidade islâmica por meio do Alcorão e 
da sunna. Desse modo, o sucessor de Mohamed, ou seja, o califa, poderia ser um autêntico repre-
sentante da comunidade, eleito, como dissemos, pela umma, não havendo para isso a exigência 
de pertencer à linhagem do profeta, e sim de ser um bom conhecedor do Alcorão e da sunna.
Já para os xiitas, a função de liderar o estado muçulmano deveria ser desempenhada pelo 
“imã” (líder, guia), e este só poderia ser um descendente direto de Mohamed, ou seja, o genro do 
profeta e seus descendentes, os únicos autorizados a interpretar o Alcorão e a sunna. Este parti-
do chegou a fundar, em 864, um estado à beira do mar Cáspio, governado no sistema de imana-
do, que perdurou por quase três séculos (ANTES, 2003, p.96), conquistaram também o norte afri-
cano, onde formaram a dinastia Fatímida (segundo a descendência de Fátima, a filha do profeta), 
que durou até 1171, quando entrou em declínio.
 O triunfo dos califas, representantes do sunismo, acentuou a rivalidade entre os grupos e 
também as diferenças entre eles. Pontuemos mais uma dessas diferenças: enquanto os sunitas 
reconhecem que o profeta Mohamed, enquanto ser humano, era passível de limites e defeitos, 
assim como seus sucessores, para os xiitas o imã é incompatível com o erro e o pecado, porquan-
to recebe a inspiração divina para proteger a comunidade e conduzi-la à salvação. O califa pas-
sou a ser visto pelo xiismo como a personificação do mal, de modo que a luta pelo poder político 
entre o imã e o califa passou a ser identificada como a luta cósmica entre as forças da luz e as 
forças das trevas (ANTES, 2003, p.96). Por outro lado, muitos xiitas, ou mesmo pessoas suspeitas 
de xiismo, vistos como hereges, rebeldes e revolucionários, foram condenados e perderam suas 
vidas sob governos sunitas (ANTES, 2003, p.103).
Estes grupos ainda vivem disputas no cenário político nos Estados muçulmanos, não rara-
mente em sangrentos conflitos de ambos os lados. Vejamos no box a seguir o caso do Iraque, 
país com maioria xiita:
dICA
Durante o império 
Abássida, o Islã alcan-
çou o estágio que se 
considera sua forma 
clássica, caracterizada 
pela universalidade da 
religião e pela cultura 
fundamentada sobre o 
árabe clássico, o estilo 
de vida persa e a filo-
sofia e ciência gregas 
(KÜNG, 2004, p. 269). 
GLOSSÁRIO
Sultão: Título que se 
dava ao imperador dos 
turcos e a outros prínci-
pes asiáticos (FERNAN-
DES, 1994).
Teocracia: Governo em 
que o poder é exercido 
pela classe sacerdotal 
(FERNANDES, 1994).
dICA
A partir da queda do 
califado, o islã expe-
rimentou uma cres-
cente separação entre 
instituições estatais e 
religiosas. A autoridade 
maior em assuntos reli-
giosos, bem como sobre 
ética e direito, passou a 
ser representada pelos 
ulemás, teólogos e ju-
ristas conhecedores do 
Alcorão e da sunna. Em-
bora não substituam o 
soberano nos negócios 
do estado, os ulemás 
exercem, por meio da 
interpretação do texto 
sagrado e do hadith, 
forte influência sobre a 
vida religiosa e secular 
(KÜNG, 2004, p.271).
◄ Figura 12: Sunitas 
e Xiitas- imagem 
ilustrativa. 
Fonte: Disponível em 
<http://i.ytimg.com/
vi/_e8O95QUWGA/ma-
xresdefault.jpg>. Acesso 
em 20 set. 2014.
28
UAB/Unimontes - 4º Período
BOX 07 - O EMBATE ENTRE SUNITAS E XIITAS NO IRAQUE
Os dois grupos religiosos são responsáveis pela maioria dos confrontos entre civis. [...] Os 
xiitas são maioria no Iraque - representam entre 60% e 65% da população, segundo estima-
tiva da CIA, a agência de inteligência norte-americana. Já os sunitas representam entre 32% 
e 37% da população iraquiana, mas são maioria no mundo árabe (correspondem a mais de 
85% dos muçulmanos de todo o mundo). As origens do atual conflito, segundo analistas, são 
sociopolíticas. Apesar de serem maioria no Iraque, os xiitas assumiram o frágil governo do país 
somente após a invasão. Antes, durante a ditadura de Saddam Hussein, era a minoria sunita 
que detinha o poder do país. A mudança, advinda da invasão, levou à tensão entre os dois 
grupos, que chegou à atual guerra civil. [...] Os sunitas árabes tomaram o controle da região 
hoje conhecida como Iraque por volta do século 16 (na época do Império Otomano) e domi-
naram a política nacional desde a criação formal do país, em 1920. Depois que o partido Baath 
- de Saddam Hussein - tomou o poder em 1968, ele recebeu apoio crescente dos clãs árabes 
sunitas no noroeste do Iraque. Os xiitas foram muito oprimidos durante o regime ditatorial de 
Saddam (1979-2003), que era de origem sunita. Agora, sem o ditador e sua polícia política nas 
ruas, muitos xiitas estão revidando as agressões e humilhações sofridas durante aqueles anos. 
Os sunitas sentem-se vítimas dessa nova onda de violência e também revidam - formando 
uma espiral de ataques terroristas por todo o país. 
Fonte: Texto Disponível em <http://www.universitario.com.br/noticias/n.php?i=2833>. Acesso em 24 set. 2014
Contudo, é importante ressaltar que a violência não representa a posição política e religiosa 
da maioria da população muçulmana, mesmo entre sunitas e xiitas, como às vezes as notícias 
recorrentes sobre atentados terroristas, execuções e outros atos violentos nos fazem imaginar. 
Exemplifiquemos com um posicionamento xiita sobre a divergência entre xiitas e sunitas. 
BOX 08 - UMA OPINIÃO XIITA SOBRE A DIVERGÊNCIA COM OS SUNITAS
Muçulmanos é um só, Deus enviou um islã, o Profeta (s.a.a.s) profetizou uma religião, o 
Alcorão é um, mesquita é a casa de Deus, os muçulmanos fazem 5 orações por dia, fazem je-
jum no mês do ramadan, rezam em direção a Meca, fazem a peregrinação ..., portanto o islã 
é um. Quanto a sunita ou xiita, todos são muçulmanos, e devem ser unidos, pois há mais se-
melhanças que diferenças. As semelhanças, por exemplo, são como as citadas acima, porém 
as diferenças são as coisas mínimas, como fazer a oração com o braço cruzado ou esticado, 
significa que as diferenças não estão nos atos principais e sim nos detalhes mínimos detalhes. 
Agora quem esta certo só Deus sabe, não temos direito de julgar um ao outro, somente 
podemos dizer inshallah (se Deus quiser) que a oração de todos forem aceitas, e os outros 
atos igualmente. Infelizmente alguns grupos extremistas que se denominam muçulmanos, 
pregam o contrário disso e trabalham diariamente duramente nas diferenças mínimas e o pior 
de tudo é que julgam o próximo, fazendo o papel de Deus, e simplesmente dizem aos brasilei-
ros leigos no islã que tal grupo não é muçulmano.
O Profeta (s.a.a.s) sofreu humilhações e passou por uma situação muito difícil para divul-
gar a mensagem divina, unir os muçulmanos, e infelizmente grupos extremistas atualmente 
trabalham no Brasil e no mundo para destruir este esforço do Mensageiro de Deus (s.a.a.s). 
Muçulmano é um, briga de xiita e sunita é política, muçulmano de verdade sabe respeitar o 
próximo independente da cor, credo, classe social, etc. 
Portanto, quando ver um muçulmano difamando outro grupo de muçulmano, inclusive 
sheiks, logo desconfiese o problema esta na religião ou na opinião desta pessoa. [...]
Xiita e sunita são muçulmanos e o islã e os muçulmanos são um só! Devemos aprender a 
respeitar sempre o próximo, pedir a Deus que abençoe todos, pregar o amor tanto na teoria 
como na prática. Islã é mais importante que a briga dos homens, devemos olhar para os obje-
tivos da religião ao escutar estes comentários maldosos e sem fundamentos.
Respeito ao judeu, cristão ou muçulmano, respeito ao próximo! Respeito é a chave para 
solucionar muitos problemas, e podem ter certeza que Deus se alegra mais com o respeito 
do que a intriga entre muçulmanos. Quando fizeram um filme ofendendo o nobre Profeta 
(s.a.a.s), em São Paulo foi feita uma passeata em protesto ao filme, e sheiks xiitas, sunitas, além 
de representantes do cristianismo participaram desta manifestação. Uma prova que xiitas e 
sunitas são muçulmanos, se possível até nos afastarmos de usar estes termos, e usarmos o ter-
mo mais bonito, MUÇULMANO!
Fonte: Texto Disponível em <http://www.friendsislam.com/2013/03/xiita-sunita-ou-simplesmente-muculmano.html>. 
Acesso em 24 jul. 2014
29
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
Agora que aprendemos sobre a polêmica sucessão do profeta, origem desses grupos que vi-
mos ser tão antigos e, contudo, perduram até a atualidade, estando presentes em nossos noticiá-
rios desde o alvorecer deste século XXI, voltemos mais uma vez aos tempos do profeta Mohamed 
para vislumbrar a extraordinária expansão do islamismo que, em um período de tempo relativa-
mente curto, formou um gigantesco império. Vamos ao próximo tópico! 
2.4 A Formação do Império 
Islâmico
A expansão do império islâmico foi rápida e, em menos de um século, regiões imensas pas-
saram a ser muçulmanas dentro e fora do médio Oriente. Conforme Küng (2004, p.263), “nenhu-
ma outra religião teve tão grande difusão em tão pouco tempo e de forma tão duradoura como 
o Islã”. 
A união de fatores religiosos e não religiosos pode ter contribuído para a rápida expansão 
do Islã. Por um lado, a convicção religiosa, a consciência de missão em nome de Allah e o univer-
salismo implícito na doutrina islâmica imbuíam os muçulmanos de uma motivação especial e de 
uma justificativa moral para as conquistas. Por outro lado, interessava mais aos califas a expansão 
territorial do estado islâmico do que a própria difusão da religião. Ao ethos guerreiro do povo 
árabe somava-se a política de colonização empreendida pelas elites de Meca e Medina, o caráter 
voluntário das ligas que se lançavam à batalha, uma tática militar eficiente e, ainda, o enfraqueci-
mento de grandes impérios que, já em declínio, caíram facilmente sob os árabes. Contribuiu para 
o sucesso das conquistas também as concessões feitas aos povos conquistados, como a cobran-
ça de baixos impostos e a liberdade religiosa (concedida a cristãos, judeus e zoroastrianos), o que 
evitava revoltas contra os conquistadores (KÜNG, 2004, p. 263). 
Os primeiros setecentos anos de existência foram, conforme Peter Antes (2003), uma fase 
de franca expansão do islã, processo que apresentou um refreamento nos anos posteriores. Os 
quatro primeiros califas, entre 632 e 661, conquistaram o Oriente Próximo do Irã ao Egito. Em 
635, Damasco foi conquistada e, em 638, Jerusalém, Antioquia e Basra. Entre 637 e 650, foi con-
quistada a Pérsia, o Egito entre 639 e 642. Entre 661 e 750, os Omíadas de Damasco continuaram 
a expansão para o leste, conquistando o Afeganistão, e, para o oeste, chegando à África do norte 
e à Península Ibérica, que compreendia Portugal e Espanha (ELIADE, 1991, p. 197). Da India e da 
fronteira da China, até o Himalaia e o território dos pirineus, houve conquistas do império mulçu-
mano. Acompanhe nos mapas o fluxo da conquista mulçumana.
◄ Figura 13: Cortejo 
religioso e militar 
Muçulmano. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/zDroL0> 
Acesso em 08 dez. 2014.
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UAB/Unimontes - 4º Período
Vejamos agora o que informa Peter Antes (2003, p. 74-75) sobre a presença do Islã no mun-
do atual. Em seguida, confira o mapa.
BOX 09 - O ISLÃ NO MUNDO
A respeito dos novos territórios, é preciso pensar, em primeiro lugar, no subcontinente 
indiano-paquistanês, fortemente influenciado por uma arquitetura islâmica [...]. Apesar da di-
visão do subcontinente em Paquistão (mais recentemente, também Bangladesh) e Índia, vi-
vem no norte da Índia hoje cerca de 100 milhões de muçulmanos. Além da Índia, o islã esten-
de-se à região do sul da Ásia, cujos países islâmicos contemporâneos mais importantes são 
Malásia e Indonésia. Hoje, somente na Indonésia vivem mais muçulmanos do que em todos 
os países árabes. Notícias de jornais sobre brigas religiosas nas Filipinas também nos lembram 
regularmente seus habitantes muçulmanos.
Na Idade Moderna, com os países da África situados ao sul do Saara, mais um continente 
caiu na esfera de influência do Islã. Lá, o número de muçulmanos cresce continuamente. As 
relações dos muçulmanos da África negra com os países centrais islâmicos são normalmente 
boas e sabe-se que, quando políticos africanos são mulçumanos, podem contar com o apoio 
dos seus correligionários árabes. [...]
É preciso lembrar outras esferas de influência do Islã. Primeiro, nos países sucessores da 
anterior União Soviética, há uma porcentagem considerável de muçulmanos que linguística e 
culturalmente mostra uma forte relação ou com a Turquia ou com o Irã. Devem ser menciona-
dos também os muçulmanos na República Popular da China, embora atualmente seja difícil 
receber informações confiáveis sobre eles. Os Black Muslims, nos Estados Unidos, têm, de cer-
to modo, uma posição especial. Finalmente, há que se falar do forte crescimento do número 
de mulçumanos na União Européia. Na França, o Islã é a segunda maior religião, sobretudo 
devido a imigrantes da Argélia e do Marrocos. O mesmo vale para a Alemanha, pelo grande 
número de turcos. Na Grã-Bretanha cresce continuamente o número de árabes, paquistaneses 
e indianos. Além disso, há cada vez mais asilados e refugiados, o que faz com que salte ime-
diatamente aos olhos o caráter oriental de certas cidades e de certos bairros 
Fonte: ANTES, 2003, p. 74-75
dICA
Saiba mais sobre o islã 
dos dias atuais, acessan-
do o site da fundação 
“Amigos do Islã”, dispo-
nível em <http://www.
friendsislam.com/>. Esta 
entidade dedica-se em 
divulgar a cultura do 
islã aos brasileiros. Visite 
também o site do cen-
tro islâmico brasileiro, 
no link <http://www.
centroislamico.com.br/ 
>. Lá você entrará em 
contato com o universo 
do Islã a partir da ótica 
dos próprios muçul-
manos. É um exercício 
importante e necessário 
verificar o que a religião 
diz de si mesmo, ou 
seja, como os seus 
adeptos a veem, o que 
transmitem.
ATIVIdAde
Faça uma pesquisa 
sobre a presença do Islã 
no Brasil e discuta com 
seus colegas no fórum 
da unidade.
Figura 14: Fluxo 
da expansão 
islâmica: a cor mais 
escura simboliza 
a conquista até a 
morte de Mohamed. 
A cor intermediária 
representa a expansão 
realizada pelos quatro 
primeiros califas. A 
cor mais clara indica a 
conquista omíada. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/Vr35pO>.
Acesso em 24 jul. 2014.

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Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões: Islamismo
Referências
ANTES, Peter. O Islã e a Política /tradução Frank Usarski. São Paulo: Paulinas, 2003. (Coleção Reli-
gião e Cultura).
BERGER, Peter L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Pau-
lo: Paulus, 1985.
ELIADE, Mircea. dicionário das Religiões / Mircea Eliade e Ioan P. Couliano; tradução Ivone Cas-
tilho Beneditti. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FERNANDES, Francisco. dicionário Brasileiro Globo. São Paulo: Globo, 1997.
HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. São Paulo: Companhia das

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