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UNIDADE IV (1)

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UNIDADE IV
Teorias e
Metodologias do
Ensino da Arte e
Literatura
Grupo Ser Educacional
2021.2 Módulo A
Literatura e outras linguagens
artísticas
Ao final desta unidade, você terá uma visão bastante ampla a respeito
da literatura e da arte de uma maneira geral. Veremos conceitos básicos ligados
à arte, também passaremos pelas formas artísticas mais conhecidas e logo
observaremos as teorias que veem as artes de diferentes maneiras. Ao final,
poderemos compreender melhor como é possível utilizar a Literatura e outras
linguagens artísticas em sala de aula, contribuindo para a ampliação de
repertório dos alunos e atuando de maneira extremamente eficaz em seu
processo de formação. Vamos lá?
1
O que é arte?
Como se sabe, a arte não é algo que se possa definir tão facilmente. As
discussões acerca do que é do que não é arte são frequentes e nós costumamos
tomar conhecimento delas pelos noticiários que dão conta de polêmicas que
surgem de tempos em tempos, geralmente suscitados por obras de exposições.
Em 2016, por exemplo, circulou em todos os jornais do mundo a notícia de que
os óculos deixados por um adolescente no chão de uma sala de Exposição
passaram imediatamente a ser identificados e fotografados como uma das
obras de arte.
Se voltarmos um pouquinho mais no tempo, veremos que essas
discussões sobre o que é e o que não é arte não são precisamente uma
novidade, elas já ocorreram há algumas centenas de anos. No último século,
um dos principais questionadores a esse respeito foi Marcel Duchamp, o
responsável por criar um tipo de obra chamada ready-made, O que, Trocando
em miúdos, quer dizer Algo que "já está pronto". Aponte é uma de suas mais
famosas obras de. Final trata-se de um mictório que ele pegou, assinou e
enviou para um processo que seleciona obras para uma exposição. O quê
Duchamp estava fazendo com isso era, na verdade, questionar a função do
artista e os limites da arte dentro de uma sociedade mediada pela manufatura,
2
pelos produtos industrializados. Além disso, ele questionava o valor dado para
uma obra de maneira desproporcional às outras, uma vez que algumas eram
sacralizadas pelo mercado de arte a ponto de aumentarem excessivamente o
seu preço.
Outro exemplo interessante para pensar mais o conceito de obra de arte
vem dos anos de 1950. Nessa época, o artista plástico Robert Rauschenberg
produziu e expôs uma de suas obras mais polêmicas, e que também se tornaria
uma obra muito discutida dentro do campo da arte. A obra se chamava "o
desenho apagado de Kooning" E nada mais era do que uma folha em que dava
para se notar que ela já tinha sido usada para desenhar e que no momento ela
se encontrava apagada.O autor dessa obra, de fato tinha ido até o atelier de um
renomado artista chamado Willem de Kooning No intuito de pedir um de seus
3
desenhos e depois apagá-lo utilizando uma borracha. Williem de Kooning
compreendeu a intenção de Rauschenberg e deu a ele um desenho de sua
autoria exatamente para esse fim incomum: ser apagado para então se tornar
uma obra de arte assinada não por ele, mas por Rauschenberg.
Naturalmente, todos os três exemplos que acabamos de dar (os óculos
no museu, a fonte e o desenho apagado de kooning) são exemplos de obras ou
de situações em que o papel da arte foi questionado e ressignificado ao
extremo. Só esse dado já seria suficiente para pensarmos sobre um aspecto
importante da arte: ela não deixa traduzir se delimitar demais, ela não cabe em
4
uma caixa, ela está constantemente em transformação, ela frequentemente
subverte todos os padrões. Dessa forma, as definições que se dá para arte são
sempre passíveis de questionamentos e discussões. Elas podem ser
compreendidas como balizas, mas nunca como cláusulas pétreas, ou seja,
nunca como algo definitivo e imutável.
É a partir desse olhar que veremos um exemplo de definição da arte que
se podem encontrar no dicionário:
Arte: conjunto de técnicas para produzir algo; técnica especial. Expressão de
um ideal estético através de uma atividade criativa. Conjunto de atividades
humanas que visam essa expressão. Criação de obras artísticas. Conjunto de
obras artísticas de um determinado período ou lugar. Capacidade; dom; jeito.
Como você pode notar, há diversas formas de se entender a arte: ela
pode ser uma técnica, pode ser uma forma de expressão da criatividade e do
sentimento humano e, embora não apareça na definição acima, ela também
pode ser uma forma de conhecimento do mundo. Essas são, na verdade, as três
principais vias por meio do qual se costuma compreender a arte. Essa teoria
das "3 vias" foi elaborada por Luigi Pareyson e vamos nos deter mais
atentamente sobre elas nos próximos capítulos. Por hora, ela nos basta para
que compreendamos que a arte pode ser olhada sob diversos prismas e ainda
assim ela é capaz de escapar deles, se renovando.
5
As belas artes
Outra questão importante sobre a arte é que, em muitos casos, ela é
vista como um artefato tão especial e sublime ao ponto de não estar acessível a
todos, como se ela não pudesse ser fruída por qualquer pessoa.
O termo “fruição” é muito importante para o campo da arte e se refere
ao processo de apreciação estética. Ele se refere, então, à experiência única que
temos ao entrarmos em contato com uma obra de arte.
A ideia de “alta cultura” ou hierarquia das artes é algo muito antigo e
que ainda está presente no pensamento da nossa sociedade. Essa ideia está, de
certa forma, incrustada naquilo que Jung chamou de inconsciente coletivo.
● Inconsciente Coletivo: Conceito desenvolvido pelo psiquiatra suíço
Carl Jung para tratar de uma espécie de herança de memória
coletiva presente no subconsciente de todos. Segundo esse
conceito, todos os seres humanos compartilham uma série de
imagens e de ideias que são anteriores a nós.
Mas não são todas as artes que ocupam essa posição de prestígio, ou
seja, não são todas as artes que se identificam como o conceito de “alta
cultura”. O cinema é um exemplo de arte que é perfeitamente popularizada. O
6
que ocorre é que a vírgula de certa forma, ele está sozinho em um grupo de
expressões artísticas muito antigas e que são, por isso, muito ligadas às
culturas dominantes.
Você já percebeu que existem algumas Barreiras dentro do campo da
arte? A música, por exemplo: existe a música erudita que em geral é bastante
restrita aqueles que tiveram a oportunidade de estudá-la e entendê-la; existe a
música popular que tem a pretensão de não ser tão elitizada mas muitas vezes
acaba sendo; e por fim existe a música popularesca ou comercial que é feita
para consumo de todos, especialmente as pessoas que em geral têm menos
acesso aos bens culturais. Procure refletir como isso ocorre em outras artes,
Elas têm o mesmo tipo de separação interna? Como se dá esse processo?
Você já deve ter ouvido alguém falar do cinema e usar a expressão
"sétima arte" ponto final essa expressão ficou conhecida a partir do texto
famoso que circulou em 1923. O texto se chamava Manifesto das sete Artes e
tinha sido escrito por um intelectual italiano chamado Riccioto Canudo. nele, o
autor reivindicava a inclusão do cinema, que naquele momento tinha sido
recentemente inventado, como um integrante do grupo reconhecido como as
"belas-artes". até então se consideravam 6 as expressões artísticas capazes de
mobilizar o Belo: A arquitetura, a escultura, a pintura, a música, a poesia e a
dança.
7
Como você pode notar, não há a presença do teatro nessa lista e a
literatura recebe o nome de "poesia" apenas. Bem, isso se dá por uma série de
questões. Em primeiro lugar, de acordo com o texto de Riccioto Canudo, o
teatro seria uma manifestação que englobava outras expressões artísticas que
já faziam parte da lista. Na questão da poesia, a nomenclatura está ligada a
tradição antiga que ainda não admitia o texto em prosa como admitimos hoje
em dia.
De qualquer maneira, além do Teatro e da literatura em prosa não
serem contemplados nessa lista, podemosdizer que uma série de outras Artes
também ficam de fora dela. A fotografia que já existe na época desse Manifesto
não está contemplada nele, como se ela não fosse uma arte. Além disso, e
pegasse universalista sob o ponto de vista da atualidade, veríamos que, na
verdade, falta uma infinidade de expressões: a história em quadrinhos, a
performance, a instalação, o happening, o slam E assim por diante. Essa noção
de exclusão de determinadas expressões artísticas vai de encontro com o que
8
estávamos discutindo a respeito da ideia de artes do sublime e do belo, ou seja,
as artes que são menos populares e mais inacessíveis, mais restritas a pessoas
de determinadas classes sociais.
Essas formas artísticas mais clássicas, chamadas de "belas-artes",
formam a base de nossa cultura e, por conta disso, vamos fazer um breve
Panorama a respeito delas, de maneira que você poderá pensar sobre as
especificidades de cada uma.
Começamos pela arquitetura e vejamos o que o dicionário assiná-la
sobre ela:
● Arquitetura: Arte da construção que trata simultaneamente os
aspectos funcionais, construtivos e estéticos dos edifícios e
construções. Método ou estilo de construção que caracteriza uma
civilização, uma época, etc. Conjunto das obras arquitetônicas
realizadas num dado período.
Como você pode notar pela definição, arquitetura é considerada uma
arte embora ela tenha um aspecto funcional muito importante. Quer dizer,
Diferentemente de outras artes, arquitetura não serve apenas para a fruição, o
prazer estético, à apreciação, o deleite. Ela une o belo ao funcional. É claro que,
em alguns casos, tanto a Beleza quanto a funcionalidade são questionáveis.
9
A arquitetura surgiu junto com a agricultura. No momento em que o
homem foi deixando de ser nômade, ele passou a criar habitações para se
estabelecer, da mesma forma que ele foi criando técnicas de cultivo de
alimentos ponto-final a primeira vez que isso aconteceu foi Provavelmente na
região do Oriente Médio e da África setentrional. Jericó é considerada a
primeira cidade da história e, por conta disso, ela é também uma espécie de
Marco para a arquitetura.
Entre as grandes obras da arquitetura mundial de todos os tempos,
encontra-se o Partenon grego o que é um templo construído no século V a.C.
Em homenagem a Deusa Atena. Temos ainda as famosas pirâmides do Egito e
as pirâmides construídas do México no período pré colonização ponto final
10
Catedral de notre-dame, na França, E o Taj Mahal, na Índia, são outros
exemplos de construções monumentais que servem como referências de
arquitetura Mundial.
Um dos mais importantes arquitetos modernos do mundo era
brasileiro. Você já deve ter ouvido falar de Oscar Niemeyer. Ele foi o
responsável por criar o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional em Brasília.
Outras de suas importantes obras são o Museu de Arte Contemporânea de
Niterói e o Museu de Arte de Curitiba que recebeu o seu nome: Museu Oscar
Niemeyer. Nesse último espaço, há uma exposição permanente sobre a vida e
obra do arquiteto. Além de visitar esses espaços para conhecer melhor o seu
trabalho, você pode também buscar pelo documentário Oscar Niemeyer - A
vida é um sopro.
Outra manifestação artística que é bastante antiga é A escultura.
Diferentemente da arquitetura, a escultura não tem o compromisso com a
funcionalidade. Ela, assim como a pintura que veremos na sequência, em geral
é feita para ser apreciada. Veja a definição que encontramos no dicionário:
● Escultura: Arte de representar um objeto em relevo ou em três
dimensões, moldando pedra, madeira ou outro material duro. Uma
das artes plásticas cujo meio de expressão é o volume e a forma.
Obra produzida por um escultor.
11
Uma das mais antigas peças de escultura e também uma das mais
estudadas na história da arte é a Vênus de willendorf. estima-se que ela tenha
sido esculpida cerca de 25 mil Anos Antes de Cristo. com apenas 11,1 cm de
altura, essa peça retrata uma mulher e possivelmente sua condição de
fertilidade, seus atributos para a procriação. A escultura pertence ao Museu de
História Natural de Viena, na Áustria, e recebe milhões de visitantes todos os
dias.
12
Entre as obras das culturas mais importantes de todos os tempos está a
Vênus de Milo, atualmente exposta no Museu do Louvre, na França. A obra é o
retrato de uma mulher semideusa sem os dois braços. Na verdade, a forma com
que a obra teria perdido os braços nunca foi realmente confirmada, há apenas
algumas especulações a respeito do episódio. Ela seria a data do século II a.C. E
segue sendo uma referência da escultura em todo o mundo. São também obras
renomadas do campo da escultura a Vitória de Samotrácia, Sem autoria
definida, o Pensador de Auguste Rodin e Davi de Michelangelo.
Uma das mais importantes escultoras do mundo foi a francesa Camille
Claudel ponto final durante muito tempo sua obra não foi reconhecida. Durante
algum tempo, a obra de Claudel teria ficado ofuscada pela obra de seu mais
famoso amante, o grande escultor Auguste Rodin. A história da artista e
também de sua relação com Rodin é retratada num filme chamado Camille
Claudel de 1987. Vale a pena conferir!
Seguindo na linha das belas-artes chegamos a uma linguagem artística
que provavelmente foi e talvez ainda seja a forma mais valorizada de arte na
história: a pintura. O dicionário registra esse termo da seguinte maneira:
● Pintura: Conjunto de obras de artes de um país, de uma época,
escola, temática e produção original de um pintor. Representação
estética realizada por um artista (e pintor) através da aplicação de
13
cor sobre uma superfície e. Resultado da aplicação de tintas (óleo,
têmpera, vernizes, lacas, etc.) Sobre um suporte (tela, madeira,
cobre, papel, etc.).
É bem provável que você tenha estudado na escola sobre a pintura
rupestre. ela é, de fato, a maneira pela qual conhecemos um pouco dos hábitos
e da vida do homem que viveu na era pré-escrita. Isso porque, ao contrário da
ideia mais atual de que a pintura tem a função única de provocar poluição, na
época do homem das cavernas ela possivelmente tinha uma finalidade prática
ligada ao misticismo. Sendo assim, os seres humanos retratavam os animais
que eles gostariam de caçar, por exemplo, de maneira que a pintura desses
animais contribuísse, de certa forma Mística, para que a caça fosse bem
sucedida.
Naturalmente, a pintura foi se transformando ao longo do tempo. A
pintura egípcia, por exemplo, tinha algumas características bem próprias como
a representação de figuras humanas respeitando o que se convencionou
chamar de “lei da frontalidade” Em que o tronco aparece sempre de frente
14
enquanto a cabeça, as mãos e os pés estão sempre de lado. A pintura da
antiguidade clássica grega também tinha suas particularidades, muitas das
quais foram retomadas no período Áureo da pintura que foi o renascimento. É
inclusive desse período que vem aquela que Possivelmente seja a obra de arte
mais popular do acidente: a Monalisa.
No Brasil, o MASP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand,
possui um excelente acervo de pinturas. Há no espaço obras muito importantes
da história da arte ocidental, de artistas como Rafael, Van Gogh, Cézanne,
Renoir, Monet e Picasso. Isso além de reunir também importantes pinturas da
arte brasileira, como Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Candido Portinari. Se você
15
tiver a oportunidade, não deixe de visitar o Museu que fica na Avenida Paulista,
na maior cidade brasileira.
A música é outra arte tão antiga quanto a pintura e a escultura, isso
muito Embora tenha sido muito mais difícil mapear a sua história. Isso
acontece, obviamente, porque o som, que é a matéria-prima da música, não se
inscreve em algo duradouro como a parede de uma caverna ou um bloco de
pedra. Vejamos o que o dicionário assinala a respeito da música:
● Música: Arte de combinar harmoniosamente vários sons,
frequentemente de acordo com regras definidas. Conjunto de sons
agradáveis, harmonia,concerto vocal ou instrumental.
Em geral, a presença da música em povos mais antigos é confirmada
por meio das pinturas que representam cenas de danças e de pessoas utilizando
instrumentos que já se identificam como musicais. No Egito antigo, cerca de
4.000 a.C., as imagens nos mostram que já existiam uma série de instrumentos
bastante elaborados, sendo que muitos deles se parecem com os instrumentos
que se utilizam hoje em dia.
Assim como ocorreu com outras artes, a música Se relacionou durante
muito tempo com rituais místicos e religiosos, sendo mais um instrumento que
servia para determinada finalidade do que uma simples peça de apreciação
estética ou até mesmo de entretenimento como é hoje em dia. Algo semelhante
16
ocorreu com a dança que também é considerada uma das Belas Artes. Assim
como a música Ela Possivelmente ocorria em situações ritualísticas, como
forma de adorar algum Deus ou agradecer Os seres místicos por conquistas
alcançadas. Em um sítio arqueológico da Espanha, encontra-se, por exemplo,
uma pintura que retrata um grupo de mulheres dançando.
● Dança: Arte de dançar, série de movimentos executados com o
corpo, de forma ritmada e coreografada, geralmente ao som de
música. Ato ou técnica de dançar, estilo ou forma particular de se
dançar. Movimento incessante, agitação.
17
Como se nota pela definição e, naturalmente, a partir dos nossos
pressupostos lógicos, sabemos que a dança é uma arte que está
intrinsecamente ligada à música. Mas, se formos pensar direito a esse respeito,
logo veremos que todas as artes que discutimos até então vírgula de certa
maneira, estão ligadas. Essa ligação se dá tanto a partir da ideia do surgimento
quanto a partir das características de cada uma das manifestações artísticas. Os
primeiros registros de manifestações da música e da arte estão nas pinturas
que por sua vez são complementares às esculturas e em último caso se ligam
também ao surgimento da arquitetura.
Se você ainda não viu, vale muito a pena ver o filme "A Guerra do Fogo".
O longa-metragem mostra um pouco da vida do homem pré-histórico
admitindo que povos em diferentes níveis de evolução chegaram a conviver
entre si. Na história contada, um grupo que ainda não domina a técnica do fogo
se encontra com um grupo que já domina o fogo há algum tempo. Isso provoca
uma espécie de choque de cultura, uma vez que a tribo mais evoluída já possui
uma série de tecnologias, a começar pela agricultura. O filme é um excelente
exemplo para se começar a pensar no contexto em que surgiram as artes e a
comunicação.
Mas além dessa ligação de nascimento, todas as artes que tratamos até
aqui se encontram, acima de tudo, no universo da linguagem. Não por acaso,
uma das Artes mais importantes da linguagem é justamente a única expressão
18
artística que ainda não tínhamos tratado e aqui é Nosso principal Foco: a
literatura.
A questão que surge é sempre a mesma: Por que o conhecimento de
outras Artes pode contribuir com o exercício de ensino-aprendizagem ligado
às letras e especificamente a literatura? A resposta relativamente simples:
porque estamos sempre diante de narrativas e a narrativa é algo que muito
interessa a Literatura e as letras de uma maneira geral.
Quando observamos todos os prédios que Oscar Niemeyer construiu no
lugar onde se tornaria a série do Poder brasileiro, Brasília, notamos que as
edificações de certa forma estão nos contando histórias. O mesmo ocorre
quando apreciamos uma música de Bach ou Mozart. E se vamos ao museu e
vemos uma escultura de Rodin ou uma pintura de Pablo Picasso, estamos
igualmente diante de uma narrativa.
A literatura se une as outras Artes também por sua capacidade de
provocar o pensamento complexo, seja na utilização de palavras ou de sons, de
imagens etc. Quanto mais nos aproximamos da arte, mais críticos nós podemos
nos tornar. É claro que isso nem sempre é uma tarefa fácil, Pois é necessário
uma espécie de experiência e criação do gosto pela arte ponto-final muitas
vezes a arte é eletrizada a ponto de se distanciar da maioria das pessoas, o que
ocorre com muita clareza no Brasil. Mas há uma arte que consegue se
19
aproximar ainda mais das pessoas, independentemente da classe social ou da
formação acadêmica.
É o caso do cinema, a sétima arte do Manifesto que estamos tomando
como baliza neste capítulo.
O cinema é, como sabemos, uma arte muito mais recente do que as
outras que tratamos até aqui. Isso porque ela depende de uma tecnologia
bastante específica. Vejamos o que o dicionário aponta para o verbete cinema:
● Cinema: Arte de fazer filmes para projeção. Espetáculo de projeção
de filmes. Indústria que produz filmes. Sequência de imagens
registradas em película através de uma câmera, que podem ser
projetadas em tela.
O cinema é uma das artes que está profundamente ligada à fotografia
por conta de sua técnica, de sua tecnologia. Mas, o cinema também está
profundamente ligado à literatura, visto que logo quando essa arte começou a
trabalhar com narrativas, os cineastas começaram a adaptar histórias
literárias.
O mesmo ainda tem uma forte relação com o teatro. Tanto é que nos
primeiros filmes se pode ver como a uma espécie de internação filmada, com
pouco movimento de câmera e ainda sem a montagem. No cinema há também
a música e as artes plásticas, o que faz dele uma arte bastante versátil e plural.
20
Se você tem curiosidade para assistir as primeiras filmagens
cinematográficas da história, basta fazer uma busca no YouTube. Procure por
abrir a saída dos Operários da fábrica Lumiére" e depois por "a chegada do
trem à estação ciotat". Essas foram as primeiras gravações exibidas para o
público. Elas, na verdade, não tem nada demais, são só imagens corriqueiras.
Contudo, lembre-se que as pessoas que viram aquilo nunca tinham visto uma
imagem em movimento, de modo que esses primeiros filmes muito curtos e
pouco elaborados causaram um espanto muito grande nas pessoas que viram.
Logo depois você pode pesquisar filmes de Georges Melies. Esse cineasta já
produzia pequenos filmes muito mais elaborados, inclusive usando diversas
técnicas de mágica, o que torna as imagens muito divertidas.
Chegamos, enfim, à sétima arte. Como dissemos no início, ela partiu de
um manifesto que ela encarava as principais formas de expressão artística que
embora hoje em dia não seja suficiente, pode servir para termos uma pequena
ideia da arte. Conforme adiantamos também, todas essas manifestações podem
ser compreendidas a partir de três vias da estética, ou seja, três maneiras que
se tem de pensar a arte. É justamente esse assunto o tema dos próximos
capítulos.
21
A arte como procedimento
A primeira maneira de se entender a arte está ligada à ideia de que ela é
um procedimento, ou seja, um trabalho, uma construção. Nessa concepção, é o
fazer o elemento-chave de uma obra e não o seu conceber enquanto ideia ou
enquanto o pensamento complexo. Imagine, por exemplo, o trabalho de um
pintor de casa e o trabalho de um pintor de quadros. Para a vertente que ver a
arte como um procedimento, ângulos os pintores desempenham exatamente a
mesma função do ponto de vista do fazer. de acordo com essa concepção, o
pintor de casa e o pintor de parede não fazem nada além de utilizar Pincéis e
tintas para pintar uma superfície, seja ela uma parede ou quadro feito de
tecido, dominando uma técnica que é a de pintar. Ainda segundo essa
concepção, Bosi explica:
A arte é um fazer. A arte é um conjunto de Atos pelos quais se muda a
forma, se transforma a matéria oferecida pela natureza e pela cultura
por do final a arte é uma produção; logo, supõe trabalho. Movimento
que arranca o ser do não ser, a forma do amorfo, o Ato da potência, o
Cosmos do Caos. [...] Techné Chamavam-na os gregos: modo exato de
perfazer uma tarefa, antecedente de todas as técnicas dos nossos dias.
(BOSI, 1986, p. 13)
22
Essa ideia de que é necessário transformar algo e que só por meio dessa
transformação é que sepode dizer que alguém é um criador, acaba colocando o
artista e o artesão no mesmo patamar, como ocorre no exemplo do pintor de
casa e do pintor de parede. Claro que não estamos querendo desmerecer o
trabalho de um ou o trabalho do outro. Acontece que nós não estamos
acostumados com esse tipo de concepção que reduz um trabalho intelectual ao
simples domínio de uma técnica. Não estamos acostumados com essa ideia
porque há uma distinção bastante antiga entre as formas de se transformar um
objeto. Tal distinção vem da época de dominação do império romano e
classificava as artes em "liberales" e "serviles". Veja no quadro abaixo.
Se olharmos para o quadro acima sob o ponto de vista da arte como
procedimento, será necessário fazer um deslocamento completo dos itens que
23
estão no quadro da esquerda para o quadro da direita. Quer dizer que, do ponto
de vista da arte como procedimento, as chamadas "Artes liberales” não
existem porque toda arte deve ter uma função e ser produzida por um artesão,
ou seja, um sujeito que domina uma técnica para transformar um material
específico.
Uma palavra-chave para esse conceito de arte é o tecnicismo. De acordo
com o dicionário, o tecnicismo está ligado à “submissão rigorosa às normas
que condicionam a prática de uma atividade técnica”. Isso quer dizer que a
concepção da arte como procedimento está necessariamente submissa à ideia
de técnica.
Por conta disso, nenhuma concepção que valorize o caráter criativo do
produtor costuma ser admitida dessa concepção tecnicista. Dessa maneira,
Como já mencionamos, não há distinção de uma artista para um artesão, e se
ambos dominam igualmente a técnica. Se ambos sabem transformar a
natureza, seja por meio de uma pintura, ou de uma escultura ou até mesmo por
meio da produção manual de um utensílio, uma ferramenta ou um calçado,
ambos devem ser vistos como trabalhadores que criam e transformam a
natureza.
Podemos dizer que o grande filósofo da antiguidade, Platão, pensava A
partir dessa concepção de arte como procedimento. Isso embora ainda fossem
porque as discussões acerca da arte na época de Platão se comparado com tudo
24
o que se discutiu principalmente a partir do século XV no Oriente. Platão
acreditava na ideia de que qualquer tipo de transformação da natureza era feita
por um criador, um autor.
Embora essa concepção de arte como procedimento seja muito antiga e
embora ela tenha sido questionada por outras concepções desde a Roma
Antiga, Como é frequente nas ciências humanas, alguns conceitos nunca são
superados por completo e vez ou outra retomam. O caso da arte como
procedimento, por exemplo, teve muito destaque entre um movimento
científico chamado de estruturalismo que surgiu em meados do século
passado. No campo dos estudos literários, por exemplo, os estruturalistas se
dedicaram com muito afinco ao estudo da forma, de modo que tentaram
encontrar explicações para clássicos da nossa literatura somente a partir desse
elemento, como lembra Vygotsky em psicologia da arte:
Assim, a explicação da Psicologia das personagens e dos seus atos não
devem ser buscadas nas leis da Psicologia mas no condicionamento
estético às metas do autor. Hamlet demora a matar o rei, a causa disso
não deve ser buscada na psicologia da indecisão e falta de vontade, mas
nas leis da construção artística. A demora de Hamlet é mero
procedimento artístico da tragédia, e Hamlet Só não mata logo o rei
porque Shakespeare precisa entender a ação trágica obedecendo às leis
puramente formais, como o poeta precisa selecionar as palavras por
rima e não por serem essas as leis da fonética mais por serem essas as
metas da arte. (VYGOTSKY, 1999, p. 62)
25
De certa maneira, essa é a concepção que mais procura dessacralizar a
arte, Torná-la algo comum, ao que pode ser apreendido por qualquer pessoa
que tenha vontade e ponto final do outro lado da moeda, estão outras
concepções que valorizam mais o artista enquanto sujeito que tem uma
capacidade criativa e muito mais complexa do que o Mero domínio de uma
técnica. Falaremos dessas concepções na sequência.
26
A arte como conhecimento
Outra forma de se encarar a arte é compreendê-la como uma fonte de
conhecimento do mundo. É provável que essa seja a maneira mais comum de se
pensar a arte. A partir dela, cria-se a imagem de que o artista está plenamente
conectado com o mundo e auxilia os espectadores a conhecê-lo melhor. Essa
concepção chega a ter uma explicação que parte da etimologia, como afirma
Bosi quando diz: “A linguística indo-europeia apurou que o termo alemão para
arte, Kunst, partilha com o inglês “Know”, com o latim “cognosco” e com o
grego “gignosco” (=eu conheço) a raiz do “gno”, que indica a ideia geral de
saber, teórico ou prático”. (1986, p. 27-28)
O verbo principal desta concepção, então, não seria o fazer, como na
concepção que vimos anteriormente, mas sim o conhecer. Nessa perspectiva,
podemos dizer que a arte se aproxima da ciência, pois ela também é capaz de
oferecer ao ser humano algum conhecimento. A arte seria capaz também de
formar uma pessoa, de ampliar o seu repertório, de fazê-la compreender
melhor fenômenos da natureza e da sociedade, por exemplo. Sobre isso,
Vygotsky utiliza também o exemplo extraído do grande dramaturgo inglês,
William Shakespeare:
27
Verifica-se,pois, que a poesia e a arte são um modo específico de
pensamento, que acaba acarretando o mesmo que conhecimento
científico acarreta (a explicação do ciúme em Shakespeare), só que o faz
por outras vias. A arte difere da ciência apenas pelo seu método, ou seja,
pelo modo de vivenciar, vale dizer, psicologicamente. (Vygotsky, p. 34)
Se a arte pode ser capaz de proporcionar ao espectador um aumento de
seu repertório de conhecimento do mundo, isso significa que se deve entender
que a arte necessariamente é feita para refletir coisas do mundo. Essa
concepção nos leva até Aristóteles. Se a concepção de arte como procedimento
que vimos no capítulo anterior está ligada ao pensamento platônico, a
concepção de arte como conhecimento está ligada ao pensamento aristotélico.
Isso porque Aristóteles foi o responsável por cunhar o termo mimeses que
significa e que se refere à capacidade que a arte tem em representar o mundo.
A poética de Aristóteles é uma obra fundamental para o profissional da
área das Letras e para qualquer pessoa que se interesse por artes. Se você ainda
não entrou em contato com essa obra brilhante, está na hora de fazê-lo. Nesta
obra, além de aparecer o termo mímesis, há também o conceito de catarse que
se refere ao efeito que uma obra de arte pode provocar no público.
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O conceito aristotélico de mímese também é visto como "imitação", ou
seja, como se determinado objeto artístico tentar se reproduzir algo do mundo
de maneira perfeita, sem adicionar alguma reflexão ou problematização na
obra. Há, contudo, uma corrente de pensadores que acredita que a mimesis não
deve ser vista dessa maneira e que, portanto, uma obra de arte é sempre uma
maneira de se olhar o mundo. Dessa forma, nosso conhecimento adquirido por
meio da arte só poderia ocorrer justamente por conta da mediação da arte e da
provocação que ela adiciona a dados extraídos do mundo. A partir dessa ideia,
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Worringer, autor de "Abstração e Empatia", nomeia duas vertentes possíveis
da arte enquanto mímesis: a vertente mais abstrata e a vertente do naturalismo
empático. Acompanhe no quadro abaixo:
A partir dessas duas vertentes da mímeses, compreendemos que a arte
pode nos transmitir conhecimento de mundo porque ela, de alguma forma,
representa o mundo. Mas é importante lembrar que essa representação não é
algo que tem a pretensão de imitar perfeitamente os dados da natureza. Ao
contrário: se pensarmos na concepção abstrata, por exemplo, veremos que a
intenção da arte ao se voltar para o mundo é extrair elementos constantes dele,
de modo que o olhar do espectador seja apenas para o essencial.
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Poderíamos muito bem parar poraqui, já que a ideia de mímeses
consegue dar conta de uma maneira satisfatória da concepção que acredita que
a arte é capaz de oferecer conhecimento. O que ocorre é que essa corrente
acredita na mimesis, mas também acredita em um conhecimento que é próprio
da arte, ou seja, não é fruto da meta imitação ou representação do mundo a
nossa volta. Isso quer dizer que quando falamos de arte como conhecimento,
estamos dizendo que ela oferece dois tipos de conhecimento: o conhecimento
do mundo como ele é e o conhecimento de outras coisas que não
necessariamente existem.
Parece um pouco estranho, mas a arte já foi capaz de interpretar de tal
maneira o mundo que acabou expondo coisas que ainda não tinham
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acontecido. Logo, a arte pode oferecer inclusive um tipo de conhecimento que
se assemelharia ao que se chama de previsão.
Podemos pensar na literatura de ficção científica que vez ou outra tenta
imaginar como deverá ser o futuro da humanidade. Há três obras fundamentais
sobre esse tema: Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley; Laranja Mecânica,
de Anthony Burgess e 1984 de George Orwell. Todas essas obras foram
publicadas antes dos anos 1970 e acertaram em muitos elementos que de fato
já ocorreram no final do século passado e início deste. A obra de Orwell, por
exemplo, serviu de inspiração para dar nome ao famoso reality show de
televisão "Big Brother". Isso porque Orwell previu uma sociedade
extremamente vigiada em que havia um ser superior que assistia e controlava
tudo, sendo ele nomeado de Big Brother, traduzindo: Grande Irmão.
Essa capacidade de ler o mundo faz com que o artista nos forneça um
tipo de conhecimento que muitas vezes pode ir além do que aquele que
podemos encontrar sozinhos no mundo. O ver do artista é sempre um
transformar, em combinar, um repensar os dados da experiência sensível.
Leonardo é observador evidente, cientista e visionário, naturalista e mago.
Extraordinário, Charles Baudelaire contemporâneo dos primeiros realistas,
mas com os olhos medusos pelo último romantismo francês (Delacroix,
principalmente), viu com rara perspicácia o que iria constituir a grande
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antinomia das estéticas da era industrial: ou a reprodução técnica, fotográfica,
do universo ou a estilização criadora dos artistas. (BOSI, 1986, p. 36)
A partir dessa concepção o artista é o responsável por fornecer algum
conhecimento de mundo, mas apenas o conhecimento que já está dado. Isso
porque o artista não apenas recria um conhecimento, como ele mesmo é capaz
de criar o conhecimento. Nesse sentido o artista está cada vez mais próximo do
cientista que consegue enxergar as coisas que aparentemente estão
escondidas. Não é à toa que Leonardo Da Vinci, um dos maiores artistas de
todos os tempos, é considerado também um dos maiores cientistas de todos os
tempos. Ele estudava, por exemplo, a anatomia humana tanto para pintar lá
quanto para conhecer melhor o corpo, de modo que seus experimentos são
utilizados até hoje em diversos campos dos saberes.
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Para aproximar mais um pouco a nossa discussão para o âmbito de
nosso exercício profissional, vamos pensar um pouco sobre como essa
concepção de arte pode nos ajudar a contribuir com a formação do aluno. Ora,
sabemos que muitas vezes a desinteresse por parte do aluno em se envolver
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com conhecimentos produzidos pelas diversas áreas da ciência, como da
linguística, por exemplo. Mas sabemos também que é possível que esse mesmo
aluno que demonstra desinteresse em se envolver como conhecimento
científico, mostre-se interessado pelo conhecimento escondido em uma obra
de arte seja ela uma pintura, um filme ou até mesmo uma história em
quadrinhos.
É exatamente por isso que nós enquanto profissionais da educação
devemos estar sempre ampliando nosso repertório de objetos estéticos para
que possamos utilizá-los como ferramentas do processo de formação de um
aluno. Mas não é apenas nesse ponto que a arte pode nos ajudar. Ela não nos
ajuda apenas no sentido de transmitir algum conhecimento. Ela também nos
ajuda a nos expressar mus EA ensinar nossos alunos a se expressarem também.
E essa expressão é igualmente fundamental para o processo formativo. É sobre
essa concepção que iremos falar a seguir.
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A arte como expressão
Até agora vimos duas das três vias por meio do qual se pode
compreender a arte. Vimos a ideia de arte como procedimento e vimos a ideia
de arte como conhecimento. Podemos dizer que a terceira e última via, que aqui
chamamos de arte como expressão, se aproxima mais da segunda do que da
primeira via, ou seja, a ideia de arte como expressão está mais ligada a ideia de
arte como conhecimento e está um pouco distante da ideia de arte como
procedimento. Isso ocorre porque a arte como procedimento dessacralizava
completamente o trabalho de um artista a ponto de reduzi-lo a uma operação
técnica. Mas a ideia de arte como expressão, assim como a ideia de arte como
conhecimento, não faz a mesma coisa.
Para começarmos a compreender o que quer dizer arte como expressão,
tomemos a definição que o dicionários nos dá para a palavra "expressão":
● Expressão: ato ou efeito de exprimir. Manifestação de pensamentos por
gestos ou palavras. Modo como o rosto, a voz e/ou os gestos revelam um
estado de espírito. Manifestação de um sentimento ou de uma emoção.
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Note que na curta definição acima a palavra "gestos" aparece duas
vezes. Não é à toa que Alfredo Bosi começa a discorrer sobre os gestos na dança
e no teatro ao tratar da questão da arte como expressão. Isso porque nessas
artes a expressão do corpo vai ao limite para alcançar a expressão dos
sentimentos e das sensações humanas. Mas é muito importante ressaltar que
esse tipo de expressão, a artística, é algo programado e que portanto não pode
ser visto como uma imitação perfeita dos sentimentos humanos. Bosi explica
melhor essa distinção apresentando um exemplo: Um grito de dor pela morte
de um ser amado e uma oração fúnebre recitada em sua memória não são
formas expressivas da mesma qualidade. Ambos, o grito e a oração,
compõem-se de signos; ambos remetem a uma gênese psíquica, o luto
experimentado por quem os proferiu. Mas diferem visivelmente quanto ao grau
de mediação que intercorre entre a fonte e a forma. No primeiro caso, a
expressão é direta, imediata, podendo-se chamá-la com propriedade projeção
ou efusão emocional. No segundo caso, a expressão é articulada pela escrita de
frases nas quais um determinado ponto de vista compõe as imagens e a
sintaxe: a expressão obtida será simbólica. (BOSI, 1986, p. 51-52)
Sendo assim, é preciso separar a efusão sentimental genuína, que é algo
inerente ao ser humano e ocorre de maneira mais ou menos espontânea, da
expressão simbólica produzida pela arte. Esta última embora procure muitas
vezes reproduzir da maneira mais perfeita possível, ela é mediada por uma
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plataforma, que pode ser composta por imagens estáticas, imagens em
movimento ou até sons. Esse tipo de mediação é que pode fazer com que o
espectador receba a expressão de maneiras variadas. Isso pode ocorrer em todo
o processo artístico até porque ele é uma espécie de comunicação e no processo
comunicativo nem sempre a mensagem chega intacta ao seu destinatário.
Além da efusão emocional e da expressão simbólica, há ainda um
terceiro nível que podemos analisar quando falamos de expressão, trata-se da
alegoria. Esta, segundo Bosi (1986), se distancia ainda mais da forma genuína
de expressão do sentimento humano. Isso porque uma alegoria é um processo
de criar imagens diversas para expressar uma ideia que nem sempre se liga
diretamente com as imagens. A famosa história da caverna de Platão, por
exemplo, é tida como uma alegoria. Isso porque Platão inventou uma situação,
uma cena, para demonstrar a ideia filosófica que ele estava querendo
apresentar. A história tratava de um grupo de pessoas presas dentro de uma
caverna sem conhecer o mundo que estava fora dela; já a ideia pretendia, de
uma maneiraampla, tratar de questões de alienação das pessoas e da
dificuldade em se libertar das amarras para conhecer de fato o mundo em sua
plenitude. Esse exercício de criar imagens para se alcançar determinada ideia é
algo bastante comum nas artes e não deixa de ser uma maneira de expressão, o
que ocorre é que essa expressão em forma alegórica é um pouco menos óbvia e
passa por um processo bem mais complexo.
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O romancista inglês George Orwell, além de escrever o clássico futurista
chamado 1984, também foi responsável por criar uma das obras alegóricas
mais importantes do século XX. O romance A revolução dos bichos ficou
famoso por criticar o regime stalinista a partir de uma alegoria. Orwell
comparou a revolução ocorrida na União Soviética a uma tomada de poder
pelos animais de uma fazenda. Os bichos que, em princípio, lideraram uma
revolução que prometia dar condições iguais a todos, logo se viram fazendo
exatamente o mesmo que seus antigos opressores faziam. A obra é curta e fácil
de ler, vale a pena você conferir. Mas, como se trata de uma alegoria, é
importante você procurar também um bom comentador desse romance para
poder compreendê-lo melhor.
Contudo, há de se lembrar que a expressão artística, seja ela feita pela
via simbólica ou seja ela feita pela via alegórica, não representa
necessariamente algo que está fora do artista. Quer dizer, se pensarmos na
mímesis, ou no exercício de copiar o mundo, é normal que pensemos que um
artista esteja expressando emoções que identificou no mundo, nas pessoas,
nos animais e nas relações sociais, por exemplo. Acontece que a expressão
também pode ser particular, ou seja, pode ser uma expressão puramente
individual do artista. Tomemos o caso famoso do pintor holandês Vincent Van
Gogh. Muitos de seus quadros retratam a vida de outras pessoas, mas outros
são plenamente a expressão de seus próprios sentimentos. Muito se estudou a
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respeito de Van Gogh, chegando inclusive a relacionar a constante presença do
amarelo em algumas de suas telas à doença mental que ele teve.
Em resumo, a arte pode ser vista como uma expressão porque ela pode
expressar o sentimento humano. Mas não é apenas isso. A arte pode ser
entendida como uma expressão porque no outro lado da moeda, o lado do
espectador, também pode haver expressão de sentimentos. Nesse ponto,
voltamos a Aristóteles que tratou do conceito de catarse. De acordo com sua
teoria, a catarse era a purgação dos sentimentos ao qual o espectador de uma
peça, por exemplo, era levado a experienciar. Essa profusão de sentimentos só
podia ser despertada por meio da arte. A partir dessa ideia, é possível conceber
a arte como forma de expressão e também como forma de provocação da
expressão humana.
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