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_A tragédia grega e a composição do trágico_ Édipo Rei, de Sófocles

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*A tragédia grega e a composição do 
trágico: Édipo Rei, de Sófocles
APRESENTAÇÃO
Você provavelmente já ouviu falar de Édipo. Édipo é o protagonista da tragédia do grego 
Sófocles, chamada Édipo Rei. Porém, esse personagem e a história da peça se descolaram do 
texto, de tão famosos que se tornaram. Édipo, por exemplo, dá nome a um instinto psicológico 
estudado pelo psicanalista Sigmund Freud: o complexo de Édipo. Freud foi capaz de 
compreender melhor o comportamento das crianças pequenas estudando a obra de Sófocles e 
aproximando-a desse tendência. Assim, a tragédia Édipo Rei continua viva através dos tempos. 
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai descobrir do que se trata essa peça. Além disso, você 
vai identificar qual o conceito de tragédia grega e vai analisar trechos da tragédia de Sófocles. 
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Discutir o que é o trágico e no que consiste a tragédia grega.•
Relacionar a obra Édipo Rei com o conceito de tragédia e com o contexto histórico de 
Sófocles.
•
Analisar trechos da obra Édipo Rei.•
DESAFIO
Você está desenvolvendo um seminário interdisciplinar com um profissional de Psicologia. Esse 
profissional desenvolveu o seu projeto sobre o complexo de Édipo.
Ele, como profissional, sabe que o conceito refere-se a um comportamento comum às crianças: 
os meninos, especificadamente, devotam um grande amor pela mãe e acreditam ser a única 
pessoa importante na vida deles. Então, descobrem que existe a figura paterna, por quem eles 
passam a nutrir ciúmes. No seminário, entre os participantes, surge uma dúvida: por que Édipo? 
Esclareça ao participante de onde vem o nome complexo de Édipo e qual o seu real sentido.
Francisco
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INFOGRÁFICO
Na Grécia Antiga, havia vários gêneros na dramaturgia. Em seu texto fundamental, Poética, o 
filósofo grego Aristóteles trata da lírica, da épica e da tragédia, colocando a última como o 
gênero mais elevado entre os três. Ele coloca o gênero comédia como sendo o oposto à tragédia, 
contudo, não o desenvolve.
Em relação a essa falta, Humberto Eco, em seu romance O nome da rosa, ficcionaliza uma 
busca pelo suposto segundo volume perdido de Poética, que trataria justamente da comédia.
Para melhor compreendermos o gênero em foco aqui, a tragédia, é interessante estabelecer um 
paralelo com seu gênero oposto, a comédia, o que você vai conferir neste Infográfico.
Francisco
Realce
CONTEÚDO DO LIVRO
Édipo Rei, de Sófocles, é uma peça que pertence a um gênero específico: a tragédia.
Na obra Textos fundamentais da literatura universal, leia o capítulo A tragédia grega e a 
composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. 
Você vai identificar qual o conceito de tragédia e quais são as especificidades da tragédia grega. 
Francisco
Realce
Vai, ainda, entender melhor a história de Édipo, o protagonista que tenta fugir de seu destino, 
mas não é capaz. Para isso, você vai identificar alguns elementos do contexto histórico de 
Sófocles: a Grécia Antiga. Por fim, vai analisar literariamente alguns trechos desse texto.
Boa leitura!
TEXTOS 
FUNDAMENTAIS DA 
LITERATURA 
UNIVERSAL
Luara Pinto Minuzzi
A tragédia grega e a 
composição do trágico: 
Édipo Rei, de Sófocles
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Discutir o que é o trágico e no que consiste a tragédia grega.
  Relacionar a obra Édipo Rei, de Sófocles, com o conceito de tragédia 
e com o contexto histórico de Sófocles.
  Analisar trechos da obra Édipo Rei.
Introdução
Você provavelmente já ouviu falar de Édipo. Ele é o protagonista da tragédia 
do grego Sófocles chamada de Édipo Rei. Porém, esse personagem e a história 
da peça se descolaram do texto de tão famosos que se tornaram. Édipo, 
por exemplo, dá nome a um instinto psicológico estudado pelo psicanalista 
Sigmund Freud: o complexo de Édipo. Freud foi capaz de compreender 
melhor o comportamento das crianças estudando a obra de Sófocles e 
aproximando-a dessa tendência. Assim, Édipo Rei continua vivo até hoje.
Neste capítulo, você vai descobrir do que se trata essa peça. Além 
disso, vai identificar qual é o conceito de tragédia grega e analisar trechos 
da tragédia de Sófocles.
A Grécia antiga e a tragédia grega
Édipo Rei é uma tragédia grega do século V a.C. Porém, antes de começarmos 
a discutir e a refl etir sobre essa obra, é importante que, primeiramente, você 
entenda o que é o trágico e a tragédia e quais são as características específi cas da 
tragédia grega. Além disso, algumas crenças da Grécia antiga são importantes 
para a compreensão da peça e, por isso, serão comentadas.
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Sófocles viveu no século V a.C. e nasceu em uma família rica que vivia em 
Ática (Figura 1). Não se sabe, com precisão, qual foi ano do seu nascimento, 
mas acredita-se que foi entre 496 e 497 a.C. Ele escreveu algumas peças de 
teatro ao longo da sua vida, e as que chegaram até os nossos dias são Ájax, 
Antígona, As traquínias, Édipo Rei, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono. 
Também temos acesso, ainda hoje, a fragmentos dispersos de algumas peças 
suas, como Hermione e Polyxene. O autor teve como influência outro grande 
escritor grego, Ésquilo, mas acabou desenvolvendo um estilo próprio e original. 
Figura 1. Sófocles.
Fonte: Sófocles (2017).
Vivendo na Grécia antiga, Sófocles acabou inserindo, nas suas obras, muitas 
das crenças daquela época. Uma delas, que é bastante relevante para entender 
Édipo Rei, é a questão do destino. Para os gregos antigos, as moiras eram as 
figuras que determinavam o destino de cada um dos indivíduos, fossem deuses 
ou mortais (Figuras 2). Eram três irmãs, Cloto, Láquesis e Átropos, bastante 
idosas, com uma aparência extremamente lúgubre, conhecidas como as Fian-
deiras do Destino, justamente porque era em um tear, a Roda da Fortuna, que 
elas criavam, teciam e interrompiam os fios da vida dos mortais e imortais. 
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Talvez o seu aspecto sombrio se devesse ao fato de que eram as donas 
incontestáveis daquilo que aconteceria com cada um, fossem coisas boas ou 
más. Nem mesmo Zeus ousava questioná-las, pois isso poderia alterar a ordem 
natural do Universo. Elas eram filhas de Nix, a deusa da noite, e não tinham 
pai. Dessa forma, cada homem ou deus possuía uma sina, um destino do qual 
não poderia escapar. Isso significa que os gregos acreditavam que nem tudo 
dependia das decisões dos homens, visto que havia acontecimentos incontor-
náveis no futuro de cada um. Alguns desses acontecimentos eram comuns a 
toda a raça humana: são dois exemplos, dos mais importantes, a imortalidade 
e a ciência limitada, a incapacidade de compreender e de conhecer tudo. 
Figura 2. As moiras em pintura de Strudwick, de 1885.
Fonte: Moiras (2017).
Além da crença no destino, também devemos mencionar que a tragédia era 
um gênero muito cultivado na Grécia antiga — muitos estudiosos se referem a 
esse gênero como o mais importante para os gregos antigos. Aristóteles, filósofo 
grego do século IV a.C., escreveu um livro precursor para o estudo da literatura 
chamado de Poética. Nele, o teórico explica que a tragédia nasceu de rituais 
e de cultos a deuses — especificamente dos cultos ao deus Dionísio, deus do 
vinho e das festas. Nesses rituais, vários dos elementos próprios da tragédia 
grega podem ser observados: uso de máscaras, divisão dos participantes em 
grupos com mais ou menos destaque, as danças e os versos declamados em 
ditirambos, versossem estrofes regulares ou métrica. (ARISTÓTELES, 2008).
Ao longo do tempo, nos festivais em homenagem a Dionísio, passaram 
a ser organizados concursos de diferentes tipos de apresentações artísticas: 
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os ditirambos, a comédia, o drama satírico e a tragédia. O filósofo Friedrich 
Nietzsche (1992) explica, no livro O nascimento da tragédia, que a competição 
era um fator muito importante da cultura grega — as Olimpíadas, jogos que 
comemoramos até hoje, foram criadas nesse contexto, no século VIII a.C., 
como uma forma de louvar o principal deus do panteão, Zeus, e apontam para 
a importância do fator competitivo entre os gregos antigos. Dessa forma, o 
fato de serem realizados concursos para essas diferentes manifestações artís-
ticas nas festas dedicadas a Dionísio acabava atraindo um grande público. O 
teatro grego era apresentado ao ar livre, em auditórios feitos de pedra e com 
capacidade para 15-30 mil pessoas (Figura 3).
Figura 3. Ruínas de um teatro grego.
Fonte: Milet Amphitheater (2007).
Aristóteles (2008) igualmente define o que os gregos entendiam pelo 
gênero tragédia: conforme explica o teórico, a tragédia representa uma ação 
nobre e completa. Isso quer dizer que esse gênero não se ocupava das pessoas 
comuns, pertencentes ao povo, de indivíduos ricos, influentes e destacados, 
como reis e rainhas, heróis, estadistas, etc. Uma ação e um personagem nobres 
também significam uma ação e um personagem que estão acima da média, 
que são superiores ao que ocorre no mundo comum. Ao contrário, na comédia, 
seriam representados as ações e os indivíduos inferiores, conforme explicita 
Aristóteles (2008). 
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Em relação aos personagens, o seu número é bastante reduzido. Em geral, 
encontram-se três personagens nas tragédias gregas: o protagonista (primeiro 
ator), o deuteragonista (segundo ator) e o tritagonista (o terceiro ator). 
Nesse gênero, as ações prevaleciam sobre os caracteres: não era dada tanta 
importância ao desenvolvimento do personagem, das suas características físicas 
ou psicológicas, pois, na verdade, eram as próprias ações dos personagens 
que mostravam ao espectador ou ao leitor quem eles eram. Para explicar 
essa questão, você pode analisar o que acontece com Antígona, protagonista 
da peça homônima de Sófocles: após a morte do seu irmão, a mulher decide 
não abandonar o seu corpo, porque o rei Creonte, por decreto, proíbe que ele 
receba sepultura devido a confrontos entre os dois no passado. Ao contrário 
dessa lei secular, que não permite os ritos funerários para o seu irmão, a lei 
divina obriga a tal. Assim, por mais que o autor não descreva claramente as 
características de Antígona, acabamos por percebê-las, por concluir quais elas 
são a partir da análise das ações da mulher: ela parece insubmissa, revoltada, 
mas, na verdade, a sua lealdade está em um plano superior: com os deuses, 
não com os homens. 
Ademais, a tragédia se apresentava na forma de versos, não de prosa. Porém, 
como ressalta Aristóteles (2008), não bastava que se colocasse em verso qual-
quer conteúdo para que ele se tornasse automaticamente uma tragédia ou um 
outro gênero em versos: a tragédia, além de se apresentar na forma de versos, 
deveria causar uma catarse no espectador por meio de terror e da piedade. 
Você já ouviu falar em catarse? Esse é outro elemento fundamental para a 
concepção grega do mundo e um conceito bastante complexo também. Todos 
os homens sofrem, todos têm problemas, todos precisam resolver dificuldades. 
Quando eles leem uma obra ou assistem a uma peça trágica de qualidade, 
reconhecem os seus dramas naqueles vivenciados pelos personagens. Não 
necessariamente os problemas das tragédias são os mesmos dos seus espec-
tadores, mas elas falam para as pessoas de problemas universais. Sofrendo 
com o destino desses seres fictícios, sofrendo esse trauma, ocorreria uma 
purificação. Essa é justamente a tradução do termo catarse: purificação, 
purificar. Portanto, é imperativo que o protagonista da tragédia passe de uma 
situação feliz para uma infeliz para que ocorra a catarse no espectador. Como 
ocorre com Édipo, em Édipo Rei: se ele inicia a trama como rei de Tebas, 
acaba cego e exilado, carregando o peso de ter matado o pai e casado com a 
mãe (SÓFOCLES, 2005). 
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Catarse é um termo muito utilizado até hoje. Ele é especialmente importante para a 
psicanálise. Dois famosos psicanalistas utilizaram-no nas suas teorias sobre a mente 
humana. Primeiro, Sigmund Freud, criador dessa ciência, fala em cura pela palavra: 
contando os seus problemas, escrevendo sobre eles ou até mesmo lendo narrativas 
que os simbolizem pode ocorrer a catarse. O trauma é revivido e a sua carga negativa 
desaparece. Carl Gustav Jung, que estudou por muitos anos com Freud, também fala 
em catarse como uma forma de rito de iniciação: quando esse fenômeno ocorre, o 
indivíduo está pronto para iniciar uma nova fase da sua vida. 
Aristóteles (2008) divide a tragédia em três partes: a peripécia, o reco-
nhecimento e o patético. No início de uma história, existe uma perspectiva 
do que pode acontecer. Se o personagem é um ser elevado, presume-se que 
ele vencerá na vida, que seguirá o seu rumo de elevação e de sucesso. Porém, 
algo inesperado e negativo ocorre, o que muda completamente a vida do 
protagonista — a esse evento imprevisto, chama-se de peripécia. Esse é um 
evento surpresa que causa o terror e a piedade que mencionamos anteriormente. 
Depois, o personagem descobre algo sobre a sua identidade, sobre a sua 
relação com algum outro personagem da trama — o reconhecimento. Chega ao 
conhecimento de Édipo, por exemplo, que ele é filho do homem que assassinou 
e que, consequentemente, a sua atual esposa é a sua mãe. Esse reconhecimento 
gera muito sofrimento e dor. 
Por fim, Aristóteles fala em patético. O patético consiste em qualquer ação 
que cause sofrimento: cenas de morte, de dores, de ferimentos e quaisquer 
outras assemelhadas. Mais uma vez, surgem o terror e a piedade, pois são 
esses sentimentos que o patético deve causar na tragédia. O patético deve 
estar, portanto, em toda a tragédia grega. 
As máscaras eram largamente utilizadas no teatro grego e o seu uso tinha origem 
nos festivais e rituais dedicados ao deus Dionísio. Elas eram tipificadas e serviam para 
apresentar o destino do herói. Máscaras sorrindo para destinos felizes e máscaras 
sofrendo para destinos infelizes. As máscaras mais utilizadas na tragédia grega eram, 
portanto, as que apontavam para a dor e para o sofrimento. 
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Mais um elemento fundamental da tragédia grega é o coro. O coro é com-
posto por um conjunto de até 50 atores, que ficam na orquestra. Eles intervêm 
na história com músicas, danças ou falas. Eles, muitas vezes, representavam 
o povo, que acabava ficando um pouco de lado nas histórias das tragédias 
gregas — como vimos anteriormente, os personagens costumavam ser nobres, 
deuses e deusas, pessoas de destaque. 
O coro era considerado como mais um personagem e participava das ações 
dando informações que ajudavam o público a compreender a narrativa que 
estava sendo encenada. Ele, por vezes, revelava segredos dos quais os protago-
nistas ainda não tinham conhecimento ou os quais não desejavam contar por 
vergonha ou medo. O coro ainda servia para expressar melhor o sentimento 
que o autor queria que a sua peça causasse nos espectadores e evitava grandes 
arrebatamentos, constituindo um momento mais tranquilo em meio a uma 
história de enorme sofrimento. Dentre esses atores, podia existir uma figura 
de destaque, que cantava sozinho e era denominado corifeu.
Depois de todas essas reflexões, podemos pensar no que consistia o trágico 
para os gregos: o trágico é o destino, por vezes, imerecido pelo protagonista 
nobre, superior ao comum dos homens. O trágico é o mundo da dissonância, 
do aterrador, do enigma não resolvido em tempo. Esse destino trágico aponta 
para a enorme distância entre deuses e homens e coloca a resignação, a sub-
missão e a moderação como as maiores virtudes: nem sempre o homem é o 
responsável pelo que acontece na sua vida; há algumas coisas em relação às 
quais ele não tem controle. A revolta não é eficaz. Portanto, resta ao mortal 
aceitar o que lhe acontece.
Muitas das tragédias gregas mais interessantes podem ser 
encontradas, em versões integrais, no portal do Domínio 
Público: 
https://goo.gl/Kw7X 
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Sófocles e a tragédia Édipo Rei
A tragédia Édipo Rei faz parte de uma trilogia, uma forma muito utilizada 
pelos escritores gregos antigos para organizar as suas narrativas. Ela é a 
primeira parte desse conjunto, também formado por Antígona e Édipo em 
Colono. Segundo Aristóteles (2008), Édipo Rei é o exemplo mais perfeito 
da tragédia grega. 
A história de Édipo é muito conhecida e inspirou muitas e muitas criações 
artísticas ao longo dos séculos. Você pode, inclusive, já conhecer ou ter uma 
ideia do que essa peça conta: nela, o espectador ou o leitor entra em contato 
com a história de Édipo, que acreditava ser filho de Polípio e Mérope. A fa-
mília vivia em Corinto, e o protagonista um dia decide consultar um oráculo e 
descobre que o seu destino era matar o pai e casar com a mãe. Muito assustado 
e perturbado com a descoberta feita por meio do oráculo, Édipo decide deixar 
Corinto. O que ele não sabe é que Polípio e Mérope não eram os seus verda-
deiros progenitores: os seus pais biológicos eram Laio e Jocasta, rei e rainha 
de Tebas, que abandonaram o bebê no Monte Citerão, tentando justamente 
evitar que a profecia, que eles também conheciam, fosse concretizada. 
O oráculo é um elemento muito importante da cultura grega. Durante os séculos VI a 
IV a.C., a sua influência foi enorme — até políticos consultavam-no a fim de obter auxílio 
para as decisões de Estado. O mais famoso foi o de Delfos, localizado na cidade de 
Delfos, conhecida, pelos gregos, como “o umbigo do mundo”. Porém, nem sempre os 
oráculos ofereciam respostas claras, mas enigmas e charadas para serem solucionados. 
Depois de deixar a sua cidade às pressas, Édipo se depara com um grupo 
de homens. Eles discutem e, em legítima defesa, o herói acaba matando o líder 
do grupo. Dessa forma, mesmo sem ter ideia do que estava fazendo, Édipo 
cumpre a primeira parte da premonição do oráculo: o homem assassinado por 
ele era Laio, o seu verdadeiro pai. 
Na entrada de Tebas, Édipo resolve um enigma proposto pela Esfinge, 
um ser mitológico composto por uma metade de leão e outra de mulher (Fi-
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gura 4). Ele consegue resolver a charada e derrotar a Esfinge que impedia o 
desenvolvimento da cidade, sendo recebido com festas em Tebas. Chegando 
lá, acaba se casando com Jocasta, a rainha viúva, cumprindo a segunda parte 
da previsão do oráculo. Nesse momento é que começa a verdadeira tragédia, 
pois, até então, o herói estava agindo sem ter noção da sua desgraça. 
Figura 4. Édipo e a Esfinge, pintura do século 
XIX de Jean Auguste Dominique Ingres.
Fonte: Édipo Rei (2017).
Muitos anos depois, Tebas começa a ser assolada por uma terrível peste 
cuja origem ou explicação ninguém conhece. Édipo pede ajuda a Tirésias, 
um homem cego com poderes de enxergar mais além, mais profundamente: 
ele podia prever o futuro e descobrir fatos desconhecidos por todos. Tirésias 
revela a Édipo que a peste tem origem no fato de o assassino de Laio, o antigo 
rei de Tebas, não ter sido condenado. O sábio homem ainda afirma que esse 
criminoso está muito mais próximo do que todos imaginam. A partir dessa 
revelação, Édipo descobre que é, na verdade, filho adotivo de Polípio e Mérope 
e que acabou, sem querer, cumprindo a revelação do oráculo, matando o seu 
verdadeiro pai, Laio, e casando com a sua verdadeira mãe, Jocasta.
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Tirésias é uma figura muito interessante da mitologia grega. Ele era um homem 
comum até pisar em duas cobras que estavam copulando. Ao matar a fêmea, ele 
se tornou mulher. Depois de algum tempo vivendo em um corpo feminino, Tirésias 
encontra outro casal de cobras e, dessa vez, volta à sua natureza masculina. O casal 
divino Hera e Zeus, discutindo quem teria mais prazer no ato do amor, se seria o 
homem ou a mulher, decidem chamar Tirésias para resolver o impasse, uma vez que 
ele já tinha experenciado as duas condições. Quando Tirésias responde que é a mulher 
quem mais tem prazer, Hera fica furiosa e cega-o. Zeus, com pena do homem, para 
compensá-lo, agracia-o com uma visão diferente da nossa visão comum: o dom da 
profecia, de enxergar o futuro. 
Jocasta, com a revelação, enforca-se. Édipo, desesperado, fura os próprios 
olhos e parte para o exílio, cumprindo o que ele mesmo, como rei de Tebas, havia 
decretado: que o assassino de Laio sofresse as consequências pelo seu crime.
Essa é basicamente a fábula de Édipo Rei. Os acontecimentos aqui narra-
dos em ordem cronológica são contados em uma outra ordem na tragédia de 
Sófocles — isso é o que chamamos de trama: não a história contada segundo 
a ordem das ações, mas na sequência em que são dispostas no texto. Assim, as 
aventuras de Édipo não são narradas em ordem cronológica: a peça inicia com 
ele já rei de Tebas e muito preocupado com a peste que dizima a população da 
cidade. Todos os acontecimentos ocorridos antes de ele se tornar o monarca 
da cidade são reveladas ao público e ao herói por meio de flashbacks, ou seja, 
retornos ao passado dentro da estrutura da história. 
Os conceitos de fábula e de trama são bastante importantes nos estudos de literatura. 
Apesar de elas já terem sido explicadas por Aristóteles, foram os formalistas russos, 
um grupo de teóricos do início do século XX, que definiram mais claramente as suas 
características. Fábula,então, são todos os acontecimentos narrados em uma história 
na sua ordem cronológica. A trama diz respeito à forma como esses acontecimentos 
são contados: eles podem ser realmente contados em ordem cronológica em um 
texto e, dessa forma, nesse texto, fábula e trama serão parecidas; entretanto, um autor 
pode decidir começar pelo fim da fábula e ir retomando os acontecimentos prévios 
ao longo da narrativa. 
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Assim, você pode perceber a importância do conceito de destino para os gregos 
dentro da peça de Sófocles: Édipo, ao consultar o oráculo e descobrir que o seu 
destino era matar o pai e casar com a mãe, procura fugir, deixando a sua família e 
a sua cidade às pressas. Porém, mesmo tentando fugir, ele não é capaz de escapar 
do destino — quem decide o destino não é ele, mas as Moiras, e o seu futuro já 
está traçado. Porém, mais do que isso, é possível afirmar que é justamente devido 
ao seu esforço em fugir do destino traçado que ele vai ao encontro desse mesmo 
destino: é tentando escapar de matar Polípio e casar com Mérope que ele se depara 
com os verdadeiros pais, Laio e Jocasta, e cumpre a profecia. 
Além disso, você deve atentar para a natureza de Édipo: ele não é um 
cidadão comum do povo, mas um rei. Ele também é um ser elevado por 
outras razões: apesar de cometer crimes, ele os comete não por vontade, mas 
por desconhecimento. Quando descobre ser o criminoso, ele próprio aplica 
a punição em si mesmo, o que demonstra a sua justeza: se prometeu que o 
assassino de Laio não ficaria impune, essa promessa não deve ser descumprida 
nem se ele mesmo for o responsável. 
Agora que você já conhece melhor a trágica história de Édipo, podemos 
começar a analisar alguns de seus trechos e elementos constitutivos. 
Primeiro, você pode observar toda a tragédia da história de Édipo logo 
no início da peça. Creonte foi o homem que havia governado Tebas entre o 
assassinato de Laio e a chegada de Édipo depois de resolver o enigma da 
esfinge. É ele quem informa ao atual rei da cidade o que o oráculo revelou 
em relação à peste e à forma de acabar o problema:
CREONTE 
Vou dizer, pois, o que ouvi da boca do deus. O rei Apolo ordena, expres-
samente, que purifiquemos esta terra da mancha que ela mantém; que 
não a deixemos agravar-se até tornar-se incurável. 
ÉDIPO
Mas, por que meios devemos realizar essa purificação? De que mancha 
se trata? 
CREONTE 
Urge expulsar o culpado, ou punir, com a morte, o assassino, pois o 
sangue maculou a cidade. 
ÉDIPO 
De que homem se refere o oráculo à morte? 
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Francisco
Realce
Francisco
Realce
CREONTE 
Laio, o príncipe, reinou outrora neste país, antes que te tornasses nosso rei. 
ÉDIPO 
Sim; muito ouvi falar nele, mas nunca o vi.
CREONTE 
Tendo sido morto o rei Laio, o deus agora exige que seja punido seu 
assassino, seja quem for. (SÓFOCLES, 2005, p. 10-11)
Nesse trecho, você deve observar a importância do oráculo, como já foi 
comentado, em relação à cultura grega. No caso, Creonte se dirige ao templo 
do deus Apolo, onde se localizava o mais famoso oráculo da Grécia antiga, o 
oráculo de Delfos. Você também pode notar que o crime de uma pessoa acaba 
por atingir a população de uma cidade inteira: Édipo matou Laio e, por isso, 
Tebas sofre com a morte e a doença. Esse, porém, é um castigo cruel para 
Édipo, apesar de ele próprio não ter sido atingido pela peste: como governador 
bom e justo, ele sofre muito pela sua cidade.
O diálogo continua com Édipo procurando saber mais sobre as circuns-
tâncias do misterioso assassinato de Laio:
ÉDIPO 
Mas onde se encontra ele? Como descobrir o culpado de um crime tão 
antigo? 
CREONTE 
Aqui mesmo, na cidade, afirmou o oráculo. Tudo o que se procura, será 
descoberto; e aquilo de que descuramos, nos escapa. 
[...]
ÉDIPO 
Mas como, e para que teria o assassino praticado tão audacioso atentado, 
se não foi coisa tramada aqui, mediante suborno? 
CREONTE 
Também a nós ocorreu essa idéia; mas, depois da morte do rei, ninguém 
pensou em castigar o criminoso, tal era a desgraça que nos ameaçava. 
A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles60
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ÉDIPO 
Que calamidade era essa, que vos impediu de investigar o que se passara? 
CREONTE 
A Esfinge, com seus enigmas, obrigou-nos a deixar de lado os fatos in-
certos, para só pensar no que tínhamos diante de nós (SÓFOCLES, 2005, 
p. 11-12).
Você deve atentar para o trágico da situação: a todo momento em que 
Creonte e Édipo falam do assassino de Laio, eles estão falando de Édipo, 
mesmo que eles não tenham a menor noção disso. Também é possível de se 
perceber um elemento que contribuiu para a continuação do engano e que é 
mencionado no excerto acima: toda Tebas estava absorvida pelos problemas 
causados pela Esfinge e, dessa forma, não pode investigar devidamente o 
assassinato do rei. Note que há uma série desses elementos que não permitem 
que Édipo fuja do seu destino: ele se afasta dos seus pais, mas desconhece 
o fato de eles não serem os seus pais biológicos; ele encontra Laio, mas este 
não se identifica como rei de Tebas e Édipo acaba matando-o; Tebas está tão 
absorvida com a Esfinge que não se preocupa em encontrar o assassino de 
Laio; Édipo encontra a cidade em festa, pois foi o responsável pela derrota 
da Esfinge e pela libertação da cidade, o que coloca todos bem dispostos em 
relação a ele. 
Assim, você pode concluir que, por mais que o sujeito procure negar o 
destino revelado pelo oráculo, esse destino é muito maior e mais forte do 
que a sua vontade. Se, por exemplo, Laio tivesse dito a Édipo que era rei, ele 
provavelmente teria refreado o seu impulso de matá-lo, visto se tratar de uma 
autoridade. Todos os acontecimentos na vida de Édipo parecem preparar o 
momento no qual a profecia seria cumprida, querendo ele ou não.
Por fim, há o emocionado discurso de Édipo, prometendo vingar a morte 
do seu predecessor: 
Está bem; havemos de voltar à origem desse crime, e pô-lo em evidência. 
É digna de Apolo, e de ti, a solicitude que tendes pelo morto; por isso 
mesmo ver-me-eis secundando vosso esforço, a fim de reabilitar e vingar 
a divindade e o país ao mesmo tempo. E não será por um estranho, mas 
no meu interesse que resolvo punir esse crime; quem quer que haja sido 
o assassino do rei Laio bem pode querer, por igual forma, ferir-me com a 
mesma audácia. Auxiliando-vos, portanto, eu sirvo a minha própria causa. 
Eia, depressa, meus filhos! Erguei-vos e tomai vossas palmas de suplicantes; 
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Francisco
Realce
que outros convoquem os cidadãos de Cadmo; eu não recuarei diante 
de obstáculo algum! Com o auxilio do Deus, ou seremos todos felizes, 
ou ver-se-á nossa total ruína! (SÓFOCLES, 2005, p. 13)
Nesse trecho, ele promete encontrar e punir o responsável pelo crime. Claro 
que os gregos antigos, assistindo à peça, talvez não tivessem conhecimento 
do destino de Édipo. Mas, para o leitor contemporâneo que conhece o fim 
da história e para você que já leu sobre isso, esse discurso ganha um tom 
especialmente dramático. Édipo fala, inclusive, na possibilidade do assassino 
de Laio feri-lo também. Depois, ele diz que todos serão felizes ou a ruína 
será total. Com essas duas sentenças, Édipo, mesmo sem a intenção, também 
realiza um tipo de previsão: ele, que já havia assassinado Laio, rasga os seus 
olhos ao final da tragédia, ferindo a si mesmo; a ruína total também é o seu 
destino e o destino de Tebas.
Agora você vai analisar a última interferência do coro na peça de Sófocles, 
para entender umpouco melhor o papel desse elemento na tragédia grega. O 
coro está falando como Édipo foi grande e feliz, sendo consagrado por toda 
Tebas como o salvador, como o vencedor da morte, como o restaurador da 
ordem, e também como foi gigantesca a sua queda:
E agora, quem pode haver no mundo, que seja mais miserável? Quem terá 
sofrido, no decurso da vida, mais rude abalo, precipitando-se no abismo 
da mais tremenda ignomínia? Ilustre e querido Édipo, tu que no leito 
nupcial de teu pai foste recebido como filho, e como esposo dize: como 
por tanto tempo esse abrigo paterno te pôde suportar em silêncio? Só 
o tempo, que tudo vê, logrou, enfim, ao cabo de tantos anos, condenar 
esse himeneu abominável, que fez de ti pai, com aquela de quem eras 
filho! Filho de Laio, prouvera aos deuses que nunca te houvéramos visto! 
Condoído, eu choro tua desgraça, com lamentações da mais sincera dor! 
No entanto, para dizer-te a verdade, foi graças a ti que um dia pudemos 
respirar tranquilos e dormir em paz! (SÓFOCLES, 2005, p. 62-63). 
Você lembra quando falamos sobre a função do coro de mostrar qual 
sentimento a peça deseja causar no público? Nesse trecho, isso fica bastante 
claro, pois o coro explica o significado das ações levadas a cabo ao longo da 
apresentação e sintetizam a história trágica de Édipo. Os membros do coro 
igualmente se mostram ambivalentes em relação ao protagonista: ao mesmo 
tempo em que lamentam o dia em que o conheceram, reconhecem que a ele 
devem a salvação. É como se esse grupo reduzido de pessoas representasse 
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Francisco
Realce
Francisco
Sublinhado
Francisco
Realce
a totalidade do povo de Tebas e a opinião da maioria. O coro ainda fala do 
“himeneu abominável”, ou seja, menciona o casamento entre Édipo e Jocasta 
e ressalta o fator tempo: só a passagem dos anos é que permitiu a descoberta 
da terrível verdade por trás dessa união.
É impressionante como uma peça com uma estrutura simples, que conta 
com um número reduzido de personagens (Édipo, Jocasta, Creonte, Tirésias, 
alguns mensageiros e o coro) e se passa em um espaço reduzido, pode impactar 
tantas pessoas ao longo de tantos e tantos séculos — como ela continua sendo 
catártica, como continua causando fortes emoções até hoje. Se isso acontece, 
é porque esse texto trata de assuntos universais. 
Muito pode mudar: não vivemos mais na Grécia antiga, podemos não acreditar 
mais nos deuses gregos ou dar menos importância para o destino. Porém, nossa 
preocupação com alguns assuntos parece ter permanecido constante ao longo do 
tempo: família, justiça terrena e justiça divina, arrependimento, tristeza e deses-
pero, proibições e tabus. Quando lemos a tragédia de Sófocles, lemos um pouco 
também sobre a nossa realidade, sobre a nossa sociedade, sobre o nosso mundo. 
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Francisco
Realce
ARISTÓTELES. Poética. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. 
ÉDIPO REI. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/%C3%89dipo_Rei>. Acesso em: 7 ago. 2017.
MILET AMPHITHEATER. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:Milet_Amphitheater1.JPG#filehistory>. Acesso em: 7 ago. 2017.
MOIRAS. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Moiras>. 
Acesso em: 7 ago. 2017.
NIETZSCHE, F. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 1992. 
SÓFOCLES. Édipo Rei. Nova York: W. M. Jackson, 2005.
SÓFOCLES. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
S%C3%B3focles>. Acesso em: 7 ago. 2017.
Leituras recomendadas
MALHADAS, D. Tragédia grega: o mito em cena. Cotia: Ateliê Editorial, 2003. 
BRUNA, J. Homero: Odisseia. São Paulo: Cultrix, 1996.
PIQUÉ, J. F. A tragédia grega e seu contexto. Revista letras, Curitiba, v. 49, 1998. Dispo-
nível em: <http://revistas.ufpr.br/letras/article/view/18998>. Acesso em: 7 ago. 2017.
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DICA DO PROFESSOR
Veja nesta Dica do Professor, a encenação de Édipo Rei.
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EXERCÍCIOS
1) Pensando sobre a tragédia grega clássica, assinale a alternativa correta. 
A) Na tragédia grega clássica, há um elemento muito importante, que é o coro. O coro é 
composto por um grupo de atores que interfere com discursos, músicas ou danças ao longo 
da narrativa.
B) Esse gênero não era considerado tão importante pelos gregos, que colocavam a comédia 
como o mais importante, por realizar a crítica às instituições e às figuras políticas.
C) Nesse gênero, os personagens podiam provir de qualquer classe social, já que os dramas 
encenados eram aqueles vividos por todos: a morte, a traição, o desgosto.
D) A tragédia grega contava sempre com muitos personagens em cena para melhor 
representar os dramas encenados, que eram bastante complexos.
E) e) As tragédias gregas clássicas contavam a história de homens que conseguiam escapar do 
destino traçado a eles.
2) O destino é um elemento muito importante da cultura grega clássica e também da 
tragédia grega. Sobre esse conceito, é correto afirmar que: 
A) ele refere-se à possibilidade de os heróis das tragédias gregas ultrapassarem os limites 
impostos pelos deuses e realizarem grandes feitos.
Francisco
Realce
B) determinar o destino de cada um dos homens é uma tarefa de extrema responsabilidade e 
complexidade. Por isso, é Zeus, o principal deus do panteão grego, quem a realiza.
C) como a narrativa da tragédia clássica era uma ficção, nela, os deuses podiam ser 
apresentados como os responsáveis pelo destino dos homens.
D) a diferença entre a comédia e a tragédia era que, na tragédia, os homens não conseguiam 
escapar de seu destino trágico. Na comédia, eles conseguiam, conferindo à história um 
final feliz.
E) as Moiras são as figuras mitológicas responsáveis pela tecelagem dos fios dos destinos de 
deuses e homens.
3) Sobre Sófocles, é correto afirmar que: 
A) é um escritor da Grécia Antiga que produziu inúmeros tipos de textos: desde poemas 
líricos, passando pelos épicos, até as tragédias.
B) Sua obra Édipo Rei é considerada pelo filósofo grego Aristóteles como a tragédia mais 
bem acabada e perfeita.
C) Sófocles foi o primeiro autor grego a escrever tragédias. A partir dele, o gênero virou 
tradicional na Grécia Antiga.
D) Sófocles, por ser um artista à frente de seu tempo, conseguiu transcender algumas das 
crenças da Grécia Antiga, como a de destino.
E) questiona-se se a sua peça mais famosa, Édipo Rei, teria sido realmente escrita por ele, 
visto que muitos dados e documentos perderam-se ao longo dos séculos.
As desventuras de Édipo são narradas na tragédia Édipo Rei. Nessa famosa 4) 
Francisco
Realce
Francisco
Realce
narrativa, o herói descobre, por meio de um oráculo, que seu destino era o de matar 
seu pai e casar com sua mãe. Ele deixa sua cidade com o intuito de evitar esse terrível 
acontecimento, sem saber que aqueles eram seus pais adotivos. Sobre a sua trama e 
personagens, é correto afirmar que: 
A) buscando afastar-se do seu destino, revelado pelo oráculo, Édipo acaba aproximando-se 
cada vez mais dele.
B) para contar toda a história de Édipo, desde o seu nascimento até o momento da descoberta 
de que a profecia do oráculo havia sido cumprida, Sófocles precisou colocar em cena 
muitos atores.
C) Édipo, por ter se tornado rei de Tebas e possuir, portanto, autoridade, consegue escapar à 
punição quando todos descobrem que ele assassinou Laio, seu pai biológico.
D) na Grécia Antiga, casamento entre parentes próximos não era um tabu. O grande problema 
de Édipo foi o assassinato de seu pai.
E) o coro, nessa peça, entra em cena pararevelar a verdadeira identidade de Édipo.
5) Corifeu é um membro de destaque do coro grego. É ele quem finaliza a tragédia de 
Édipo, afirmando: "Habitantes de Tebas, minha Pátria! Vede este Édipo, que 
decifrou os famosos enigmas! Deste homem, tão poderoso, quem não sentirá inveja? 
No entanto, em que torrente de desgraças se precipitou! Assim, não consideremos 
feliz nenhum ser humano, enquanto ele não tiver atingido, sem sofrer os golpes da 
fatalidade, o termo de sua vida". Analisando o trecho, é possível afirmar que: 
A) Édipo caiu em desgraça, pois foi um mau rei, pensando apenas em si mesmo e nas suas 
riquezas e ignorando seu povo flagelado por uma peste.
B) essa fala aponta para a necessidade de se aproveitar os momentos bons da vida enquanto 
eles não acabam, pois, a qualquer momento, uma tragédia pode ocorrer.
Francisco
Realce
C) esse trecho aponta para uma característica importante da tragédia: no início da narrativa, 
há uma situação de alegria que é abalada por um acontecimento trágico.
D) o corifeu é a personificação do autor na tragédia grega clássica.
E) a inveja era um sentimento que podia levar o seu alvo à desgraça, segundo as crenças da 
Grécia Antiga, como fica explícito no trecho.
NA PRÁTICA
Antígona é outra tragédia clássica, de Sófocles, que pertence à mesma trilogia de Édipo Rei. 
Nessa peça, dois filhos de Édipo, Etéocles e Polinices, matam-se lutando pelo trono de Tebas. 
Creonte, que sobe ao trono depois da morte dos dois, decreta que Polinices não teria direito a 
sepultamento e que seu corpo deveria ser abandonado em qualquer lugar.
Antígona, também filha de Édipo e protagonista da peça, decide desobedecer às ordens do rei e 
dar um fim digno, conforme as leis divinas, ao irmão. Por isso, ela é condenada à morte.
Francisco
Realce
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
Conheça mais sobre a tragédia grega neste vídeo.
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Assista este vídeo com uma interessante análise do personagem Édipo e da obra de 
Sófocles.
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Um clássico permanece vivo ao longo do tempo a partir, por exemplo, da inspiração que 
traz às pessoas que entram em contato com esse texto e que criam outras coisas a partir 
dele. Para pensar como a tragédia Édipo Rei, de Sófocles, inspirou a posteridade, neste 
vídeo, você vai entender um pouco melhor o que é o complexo de Édipo, conceito cunhado 
por Sigmund Freud e muito importante para a Psicanálise. Assista!
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Você sabe como se pode relacionar a obra de Friedrich Nietzsche com a tragédia grega? 
Descubra como isso acontece neste artigo.
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Veja nesta dissertação uma análise de Antígona com uma interpretação do original 
clássico e de duas versões do século XX.
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Conheça mais sobre o canto na tragédia grega e como ele é entoado.
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Francisco
Comentário do texto
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Francisco
Realce
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http://pvbps-sambavideos.akamaized.net/account/2975/3/2017-10-06/video/346cadaffe5df12e0ccb2703fe31aa3d/346cadaffe5df12e0ccb2703fe31aa3d_720p.mp4
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https://www.scielo.br/j/trans/a/Xy3jrQTNM5PwbVfxF3cHcwM/?lang=pt
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Francisco
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