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*A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles APRESENTAÇÃO Você provavelmente já ouviu falar de Édipo. Édipo é o protagonista da tragédia do grego Sófocles, chamada Édipo Rei. Porém, esse personagem e a história da peça se descolaram do texto, de tão famosos que se tornaram. Édipo, por exemplo, dá nome a um instinto psicológico estudado pelo psicanalista Sigmund Freud: o complexo de Édipo. Freud foi capaz de compreender melhor o comportamento das crianças pequenas estudando a obra de Sófocles e aproximando-a desse tendência. Assim, a tragédia Édipo Rei continua viva através dos tempos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai descobrir do que se trata essa peça. Além disso, você vai identificar qual o conceito de tragédia grega e vai analisar trechos da tragédia de Sófocles. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Discutir o que é o trágico e no que consiste a tragédia grega.• Relacionar a obra Édipo Rei com o conceito de tragédia e com o contexto histórico de Sófocles. • Analisar trechos da obra Édipo Rei.• DESAFIO Você está desenvolvendo um seminário interdisciplinar com um profissional de Psicologia. Esse profissional desenvolveu o seu projeto sobre o complexo de Édipo. Ele, como profissional, sabe que o conceito refere-se a um comportamento comum às crianças: os meninos, especificadamente, devotam um grande amor pela mãe e acreditam ser a única pessoa importante na vida deles. Então, descobrem que existe a figura paterna, por quem eles passam a nutrir ciúmes. No seminário, entre os participantes, surge uma dúvida: por que Édipo? Esclareça ao participante de onde vem o nome complexo de Édipo e qual o seu real sentido. Francisco Realce INFOGRÁFICO Na Grécia Antiga, havia vários gêneros na dramaturgia. Em seu texto fundamental, Poética, o filósofo grego Aristóteles trata da lírica, da épica e da tragédia, colocando a última como o gênero mais elevado entre os três. Ele coloca o gênero comédia como sendo o oposto à tragédia, contudo, não o desenvolve. Em relação a essa falta, Humberto Eco, em seu romance O nome da rosa, ficcionaliza uma busca pelo suposto segundo volume perdido de Poética, que trataria justamente da comédia. Para melhor compreendermos o gênero em foco aqui, a tragédia, é interessante estabelecer um paralelo com seu gênero oposto, a comédia, o que você vai conferir neste Infográfico. Francisco Realce CONTEÚDO DO LIVRO Édipo Rei, de Sófocles, é uma peça que pertence a um gênero específico: a tragédia. Na obra Textos fundamentais da literatura universal, leia o capítulo A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Você vai identificar qual o conceito de tragédia e quais são as especificidades da tragédia grega. Francisco Realce Vai, ainda, entender melhor a história de Édipo, o protagonista que tenta fugir de seu destino, mas não é capaz. Para isso, você vai identificar alguns elementos do contexto histórico de Sófocles: a Grécia Antiga. Por fim, vai analisar literariamente alguns trechos desse texto. Boa leitura! TEXTOS FUNDAMENTAIS DA LITERATURA UNIVERSAL Luara Pinto Minuzzi A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Discutir o que é o trágico e no que consiste a tragédia grega. Relacionar a obra Édipo Rei, de Sófocles, com o conceito de tragédia e com o contexto histórico de Sófocles. Analisar trechos da obra Édipo Rei. Introdução Você provavelmente já ouviu falar de Édipo. Ele é o protagonista da tragédia do grego Sófocles chamada de Édipo Rei. Porém, esse personagem e a história da peça se descolaram do texto de tão famosos que se tornaram. Édipo, por exemplo, dá nome a um instinto psicológico estudado pelo psicanalista Sigmund Freud: o complexo de Édipo. Freud foi capaz de compreender melhor o comportamento das crianças estudando a obra de Sófocles e aproximando-a dessa tendência. Assim, Édipo Rei continua vivo até hoje. Neste capítulo, você vai descobrir do que se trata essa peça. Além disso, vai identificar qual é o conceito de tragédia grega e analisar trechos da tragédia de Sófocles. A Grécia antiga e a tragédia grega Édipo Rei é uma tragédia grega do século V a.C. Porém, antes de começarmos a discutir e a refl etir sobre essa obra, é importante que, primeiramente, você entenda o que é o trágico e a tragédia e quais são as características específi cas da tragédia grega. Além disso, algumas crenças da Grécia antiga são importantes para a compreensão da peça e, por isso, serão comentadas. Textos fundamentais_U1C3.indd 49 28/08/2017 16:42:24 Sófocles viveu no século V a.C. e nasceu em uma família rica que vivia em Ática (Figura 1). Não se sabe, com precisão, qual foi ano do seu nascimento, mas acredita-se que foi entre 496 e 497 a.C. Ele escreveu algumas peças de teatro ao longo da sua vida, e as que chegaram até os nossos dias são Ájax, Antígona, As traquínias, Édipo Rei, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono. Também temos acesso, ainda hoje, a fragmentos dispersos de algumas peças suas, como Hermione e Polyxene. O autor teve como influência outro grande escritor grego, Ésquilo, mas acabou desenvolvendo um estilo próprio e original. Figura 1. Sófocles. Fonte: Sófocles (2017). Vivendo na Grécia antiga, Sófocles acabou inserindo, nas suas obras, muitas das crenças daquela época. Uma delas, que é bastante relevante para entender Édipo Rei, é a questão do destino. Para os gregos antigos, as moiras eram as figuras que determinavam o destino de cada um dos indivíduos, fossem deuses ou mortais (Figuras 2). Eram três irmãs, Cloto, Láquesis e Átropos, bastante idosas, com uma aparência extremamente lúgubre, conhecidas como as Fian- deiras do Destino, justamente porque era em um tear, a Roda da Fortuna, que elas criavam, teciam e interrompiam os fios da vida dos mortais e imortais. A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles50 Textos fundamentais_U1C3.indd 50 28/08/2017 16:42:24 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Talvez o seu aspecto sombrio se devesse ao fato de que eram as donas incontestáveis daquilo que aconteceria com cada um, fossem coisas boas ou más. Nem mesmo Zeus ousava questioná-las, pois isso poderia alterar a ordem natural do Universo. Elas eram filhas de Nix, a deusa da noite, e não tinham pai. Dessa forma, cada homem ou deus possuía uma sina, um destino do qual não poderia escapar. Isso significa que os gregos acreditavam que nem tudo dependia das decisões dos homens, visto que havia acontecimentos incontor- náveis no futuro de cada um. Alguns desses acontecimentos eram comuns a toda a raça humana: são dois exemplos, dos mais importantes, a imortalidade e a ciência limitada, a incapacidade de compreender e de conhecer tudo. Figura 2. As moiras em pintura de Strudwick, de 1885. Fonte: Moiras (2017). Além da crença no destino, também devemos mencionar que a tragédia era um gênero muito cultivado na Grécia antiga — muitos estudiosos se referem a esse gênero como o mais importante para os gregos antigos. Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., escreveu um livro precursor para o estudo da literatura chamado de Poética. Nele, o teórico explica que a tragédia nasceu de rituais e de cultos a deuses — especificamente dos cultos ao deus Dionísio, deus do vinho e das festas. Nesses rituais, vários dos elementos próprios da tragédia grega podem ser observados: uso de máscaras, divisão dos participantes em grupos com mais ou menos destaque, as danças e os versos declamados em ditirambos, versossem estrofes regulares ou métrica. (ARISTÓTELES, 2008). Ao longo do tempo, nos festivais em homenagem a Dionísio, passaram a ser organizados concursos de diferentes tipos de apresentações artísticas: 51A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles Textos fundamentais_U1C3.indd 51 28/08/2017 16:42:25 Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado os ditirambos, a comédia, o drama satírico e a tragédia. O filósofo Friedrich Nietzsche (1992) explica, no livro O nascimento da tragédia, que a competição era um fator muito importante da cultura grega — as Olimpíadas, jogos que comemoramos até hoje, foram criadas nesse contexto, no século VIII a.C., como uma forma de louvar o principal deus do panteão, Zeus, e apontam para a importância do fator competitivo entre os gregos antigos. Dessa forma, o fato de serem realizados concursos para essas diferentes manifestações artís- ticas nas festas dedicadas a Dionísio acabava atraindo um grande público. O teatro grego era apresentado ao ar livre, em auditórios feitos de pedra e com capacidade para 15-30 mil pessoas (Figura 3). Figura 3. Ruínas de um teatro grego. Fonte: Milet Amphitheater (2007). Aristóteles (2008) igualmente define o que os gregos entendiam pelo gênero tragédia: conforme explica o teórico, a tragédia representa uma ação nobre e completa. Isso quer dizer que esse gênero não se ocupava das pessoas comuns, pertencentes ao povo, de indivíduos ricos, influentes e destacados, como reis e rainhas, heróis, estadistas, etc. Uma ação e um personagem nobres também significam uma ação e um personagem que estão acima da média, que são superiores ao que ocorre no mundo comum. Ao contrário, na comédia, seriam representados as ações e os indivíduos inferiores, conforme explicita Aristóteles (2008). A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles52 Textos fundamentais_U1C3.indd 52 28/08/2017 16:42:25 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Em relação aos personagens, o seu número é bastante reduzido. Em geral, encontram-se três personagens nas tragédias gregas: o protagonista (primeiro ator), o deuteragonista (segundo ator) e o tritagonista (o terceiro ator). Nesse gênero, as ações prevaleciam sobre os caracteres: não era dada tanta importância ao desenvolvimento do personagem, das suas características físicas ou psicológicas, pois, na verdade, eram as próprias ações dos personagens que mostravam ao espectador ou ao leitor quem eles eram. Para explicar essa questão, você pode analisar o que acontece com Antígona, protagonista da peça homônima de Sófocles: após a morte do seu irmão, a mulher decide não abandonar o seu corpo, porque o rei Creonte, por decreto, proíbe que ele receba sepultura devido a confrontos entre os dois no passado. Ao contrário dessa lei secular, que não permite os ritos funerários para o seu irmão, a lei divina obriga a tal. Assim, por mais que o autor não descreva claramente as características de Antígona, acabamos por percebê-las, por concluir quais elas são a partir da análise das ações da mulher: ela parece insubmissa, revoltada, mas, na verdade, a sua lealdade está em um plano superior: com os deuses, não com os homens. Ademais, a tragédia se apresentava na forma de versos, não de prosa. Porém, como ressalta Aristóteles (2008), não bastava que se colocasse em verso qual- quer conteúdo para que ele se tornasse automaticamente uma tragédia ou um outro gênero em versos: a tragédia, além de se apresentar na forma de versos, deveria causar uma catarse no espectador por meio de terror e da piedade. Você já ouviu falar em catarse? Esse é outro elemento fundamental para a concepção grega do mundo e um conceito bastante complexo também. Todos os homens sofrem, todos têm problemas, todos precisam resolver dificuldades. Quando eles leem uma obra ou assistem a uma peça trágica de qualidade, reconhecem os seus dramas naqueles vivenciados pelos personagens. Não necessariamente os problemas das tragédias são os mesmos dos seus espec- tadores, mas elas falam para as pessoas de problemas universais. Sofrendo com o destino desses seres fictícios, sofrendo esse trauma, ocorreria uma purificação. Essa é justamente a tradução do termo catarse: purificação, purificar. Portanto, é imperativo que o protagonista da tragédia passe de uma situação feliz para uma infeliz para que ocorra a catarse no espectador. Como ocorre com Édipo, em Édipo Rei: se ele inicia a trama como rei de Tebas, acaba cego e exilado, carregando o peso de ter matado o pai e casado com a mãe (SÓFOCLES, 2005). 53A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles Textos fundamentais_U1C3.indd 53 28/08/2017 16:42:25 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Catarse é um termo muito utilizado até hoje. Ele é especialmente importante para a psicanálise. Dois famosos psicanalistas utilizaram-no nas suas teorias sobre a mente humana. Primeiro, Sigmund Freud, criador dessa ciência, fala em cura pela palavra: contando os seus problemas, escrevendo sobre eles ou até mesmo lendo narrativas que os simbolizem pode ocorrer a catarse. O trauma é revivido e a sua carga negativa desaparece. Carl Gustav Jung, que estudou por muitos anos com Freud, também fala em catarse como uma forma de rito de iniciação: quando esse fenômeno ocorre, o indivíduo está pronto para iniciar uma nova fase da sua vida. Aristóteles (2008) divide a tragédia em três partes: a peripécia, o reco- nhecimento e o patético. No início de uma história, existe uma perspectiva do que pode acontecer. Se o personagem é um ser elevado, presume-se que ele vencerá na vida, que seguirá o seu rumo de elevação e de sucesso. Porém, algo inesperado e negativo ocorre, o que muda completamente a vida do protagonista — a esse evento imprevisto, chama-se de peripécia. Esse é um evento surpresa que causa o terror e a piedade que mencionamos anteriormente. Depois, o personagem descobre algo sobre a sua identidade, sobre a sua relação com algum outro personagem da trama — o reconhecimento. Chega ao conhecimento de Édipo, por exemplo, que ele é filho do homem que assassinou e que, consequentemente, a sua atual esposa é a sua mãe. Esse reconhecimento gera muito sofrimento e dor. Por fim, Aristóteles fala em patético. O patético consiste em qualquer ação que cause sofrimento: cenas de morte, de dores, de ferimentos e quaisquer outras assemelhadas. Mais uma vez, surgem o terror e a piedade, pois são esses sentimentos que o patético deve causar na tragédia. O patético deve estar, portanto, em toda a tragédia grega. As máscaras eram largamente utilizadas no teatro grego e o seu uso tinha origem nos festivais e rituais dedicados ao deus Dionísio. Elas eram tipificadas e serviam para apresentar o destino do herói. Máscaras sorrindo para destinos felizes e máscaras sofrendo para destinos infelizes. As máscaras mais utilizadas na tragédia grega eram, portanto, as que apontavam para a dor e para o sofrimento. A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles54 Textos fundamentais_U1C3.indd 54 28/08/2017 16:42:25 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado FranciscoSublinhado Francisco Sublinhado Mais um elemento fundamental da tragédia grega é o coro. O coro é com- posto por um conjunto de até 50 atores, que ficam na orquestra. Eles intervêm na história com músicas, danças ou falas. Eles, muitas vezes, representavam o povo, que acabava ficando um pouco de lado nas histórias das tragédias gregas — como vimos anteriormente, os personagens costumavam ser nobres, deuses e deusas, pessoas de destaque. O coro era considerado como mais um personagem e participava das ações dando informações que ajudavam o público a compreender a narrativa que estava sendo encenada. Ele, por vezes, revelava segredos dos quais os protago- nistas ainda não tinham conhecimento ou os quais não desejavam contar por vergonha ou medo. O coro ainda servia para expressar melhor o sentimento que o autor queria que a sua peça causasse nos espectadores e evitava grandes arrebatamentos, constituindo um momento mais tranquilo em meio a uma história de enorme sofrimento. Dentre esses atores, podia existir uma figura de destaque, que cantava sozinho e era denominado corifeu. Depois de todas essas reflexões, podemos pensar no que consistia o trágico para os gregos: o trágico é o destino, por vezes, imerecido pelo protagonista nobre, superior ao comum dos homens. O trágico é o mundo da dissonância, do aterrador, do enigma não resolvido em tempo. Esse destino trágico aponta para a enorme distância entre deuses e homens e coloca a resignação, a sub- missão e a moderação como as maiores virtudes: nem sempre o homem é o responsável pelo que acontece na sua vida; há algumas coisas em relação às quais ele não tem controle. A revolta não é eficaz. Portanto, resta ao mortal aceitar o que lhe acontece. Muitas das tragédias gregas mais interessantes podem ser encontradas, em versões integrais, no portal do Domínio Público: https://goo.gl/Kw7X 55A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles Textos fundamentais_U1C3.indd 55 28/08/2017 16:42:26 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Sófocles e a tragédia Édipo Rei A tragédia Édipo Rei faz parte de uma trilogia, uma forma muito utilizada pelos escritores gregos antigos para organizar as suas narrativas. Ela é a primeira parte desse conjunto, também formado por Antígona e Édipo em Colono. Segundo Aristóteles (2008), Édipo Rei é o exemplo mais perfeito da tragédia grega. A história de Édipo é muito conhecida e inspirou muitas e muitas criações artísticas ao longo dos séculos. Você pode, inclusive, já conhecer ou ter uma ideia do que essa peça conta: nela, o espectador ou o leitor entra em contato com a história de Édipo, que acreditava ser filho de Polípio e Mérope. A fa- mília vivia em Corinto, e o protagonista um dia decide consultar um oráculo e descobre que o seu destino era matar o pai e casar com a mãe. Muito assustado e perturbado com a descoberta feita por meio do oráculo, Édipo decide deixar Corinto. O que ele não sabe é que Polípio e Mérope não eram os seus verda- deiros progenitores: os seus pais biológicos eram Laio e Jocasta, rei e rainha de Tebas, que abandonaram o bebê no Monte Citerão, tentando justamente evitar que a profecia, que eles também conheciam, fosse concretizada. O oráculo é um elemento muito importante da cultura grega. Durante os séculos VI a IV a.C., a sua influência foi enorme — até políticos consultavam-no a fim de obter auxílio para as decisões de Estado. O mais famoso foi o de Delfos, localizado na cidade de Delfos, conhecida, pelos gregos, como “o umbigo do mundo”. Porém, nem sempre os oráculos ofereciam respostas claras, mas enigmas e charadas para serem solucionados. Depois de deixar a sua cidade às pressas, Édipo se depara com um grupo de homens. Eles discutem e, em legítima defesa, o herói acaba matando o líder do grupo. Dessa forma, mesmo sem ter ideia do que estava fazendo, Édipo cumpre a primeira parte da premonição do oráculo: o homem assassinado por ele era Laio, o seu verdadeiro pai. Na entrada de Tebas, Édipo resolve um enigma proposto pela Esfinge, um ser mitológico composto por uma metade de leão e outra de mulher (Fi- A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles56 Textos fundamentais_U1C3.indd 56 28/08/2017 16:42:26 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce gura 4). Ele consegue resolver a charada e derrotar a Esfinge que impedia o desenvolvimento da cidade, sendo recebido com festas em Tebas. Chegando lá, acaba se casando com Jocasta, a rainha viúva, cumprindo a segunda parte da previsão do oráculo. Nesse momento é que começa a verdadeira tragédia, pois, até então, o herói estava agindo sem ter noção da sua desgraça. Figura 4. Édipo e a Esfinge, pintura do século XIX de Jean Auguste Dominique Ingres. Fonte: Édipo Rei (2017). Muitos anos depois, Tebas começa a ser assolada por uma terrível peste cuja origem ou explicação ninguém conhece. Édipo pede ajuda a Tirésias, um homem cego com poderes de enxergar mais além, mais profundamente: ele podia prever o futuro e descobrir fatos desconhecidos por todos. Tirésias revela a Édipo que a peste tem origem no fato de o assassino de Laio, o antigo rei de Tebas, não ter sido condenado. O sábio homem ainda afirma que esse criminoso está muito mais próximo do que todos imaginam. A partir dessa revelação, Édipo descobre que é, na verdade, filho adotivo de Polípio e Mérope e que acabou, sem querer, cumprindo a revelação do oráculo, matando o seu verdadeiro pai, Laio, e casando com a sua verdadeira mãe, Jocasta. 57A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles Textos fundamentais_U1C3.indd 57 28/08/2017 16:42:26 Tirésias é uma figura muito interessante da mitologia grega. Ele era um homem comum até pisar em duas cobras que estavam copulando. Ao matar a fêmea, ele se tornou mulher. Depois de algum tempo vivendo em um corpo feminino, Tirésias encontra outro casal de cobras e, dessa vez, volta à sua natureza masculina. O casal divino Hera e Zeus, discutindo quem teria mais prazer no ato do amor, se seria o homem ou a mulher, decidem chamar Tirésias para resolver o impasse, uma vez que ele já tinha experenciado as duas condições. Quando Tirésias responde que é a mulher quem mais tem prazer, Hera fica furiosa e cega-o. Zeus, com pena do homem, para compensá-lo, agracia-o com uma visão diferente da nossa visão comum: o dom da profecia, de enxergar o futuro. Jocasta, com a revelação, enforca-se. Édipo, desesperado, fura os próprios olhos e parte para o exílio, cumprindo o que ele mesmo, como rei de Tebas, havia decretado: que o assassino de Laio sofresse as consequências pelo seu crime. Essa é basicamente a fábula de Édipo Rei. Os acontecimentos aqui narra- dos em ordem cronológica são contados em uma outra ordem na tragédia de Sófocles — isso é o que chamamos de trama: não a história contada segundo a ordem das ações, mas na sequência em que são dispostas no texto. Assim, as aventuras de Édipo não são narradas em ordem cronológica: a peça inicia com ele já rei de Tebas e muito preocupado com a peste que dizima a população da cidade. Todos os acontecimentos ocorridos antes de ele se tornar o monarca da cidade são reveladas ao público e ao herói por meio de flashbacks, ou seja, retornos ao passado dentro da estrutura da história. Os conceitos de fábula e de trama são bastante importantes nos estudos de literatura. Apesar de elas já terem sido explicadas por Aristóteles, foram os formalistas russos, um grupo de teóricos do início do século XX, que definiram mais claramente as suas características. Fábula,então, são todos os acontecimentos narrados em uma história na sua ordem cronológica. A trama diz respeito à forma como esses acontecimentos são contados: eles podem ser realmente contados em ordem cronológica em um texto e, dessa forma, nesse texto, fábula e trama serão parecidas; entretanto, um autor pode decidir começar pelo fim da fábula e ir retomando os acontecimentos prévios ao longo da narrativa. A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles58 Textos fundamentais_U1C3.indd 58 28/08/2017 16:42:26 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Assim, você pode perceber a importância do conceito de destino para os gregos dentro da peça de Sófocles: Édipo, ao consultar o oráculo e descobrir que o seu destino era matar o pai e casar com a mãe, procura fugir, deixando a sua família e a sua cidade às pressas. Porém, mesmo tentando fugir, ele não é capaz de escapar do destino — quem decide o destino não é ele, mas as Moiras, e o seu futuro já está traçado. Porém, mais do que isso, é possível afirmar que é justamente devido ao seu esforço em fugir do destino traçado que ele vai ao encontro desse mesmo destino: é tentando escapar de matar Polípio e casar com Mérope que ele se depara com os verdadeiros pais, Laio e Jocasta, e cumpre a profecia. Além disso, você deve atentar para a natureza de Édipo: ele não é um cidadão comum do povo, mas um rei. Ele também é um ser elevado por outras razões: apesar de cometer crimes, ele os comete não por vontade, mas por desconhecimento. Quando descobre ser o criminoso, ele próprio aplica a punição em si mesmo, o que demonstra a sua justeza: se prometeu que o assassino de Laio não ficaria impune, essa promessa não deve ser descumprida nem se ele mesmo for o responsável. Agora que você já conhece melhor a trágica história de Édipo, podemos começar a analisar alguns de seus trechos e elementos constitutivos. Primeiro, você pode observar toda a tragédia da história de Édipo logo no início da peça. Creonte foi o homem que havia governado Tebas entre o assassinato de Laio e a chegada de Édipo depois de resolver o enigma da esfinge. É ele quem informa ao atual rei da cidade o que o oráculo revelou em relação à peste e à forma de acabar o problema: CREONTE Vou dizer, pois, o que ouvi da boca do deus. O rei Apolo ordena, expres- samente, que purifiquemos esta terra da mancha que ela mantém; que não a deixemos agravar-se até tornar-se incurável. ÉDIPO Mas, por que meios devemos realizar essa purificação? De que mancha se trata? CREONTE Urge expulsar o culpado, ou punir, com a morte, o assassino, pois o sangue maculou a cidade. ÉDIPO De que homem se refere o oráculo à morte? 59A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles Textos fundamentais_U1C3.indd 59 28/08/2017 16:42:26 Francisco Realce Francisco Realce CREONTE Laio, o príncipe, reinou outrora neste país, antes que te tornasses nosso rei. ÉDIPO Sim; muito ouvi falar nele, mas nunca o vi. CREONTE Tendo sido morto o rei Laio, o deus agora exige que seja punido seu assassino, seja quem for. (SÓFOCLES, 2005, p. 10-11) Nesse trecho, você deve observar a importância do oráculo, como já foi comentado, em relação à cultura grega. No caso, Creonte se dirige ao templo do deus Apolo, onde se localizava o mais famoso oráculo da Grécia antiga, o oráculo de Delfos. Você também pode notar que o crime de uma pessoa acaba por atingir a população de uma cidade inteira: Édipo matou Laio e, por isso, Tebas sofre com a morte e a doença. Esse, porém, é um castigo cruel para Édipo, apesar de ele próprio não ter sido atingido pela peste: como governador bom e justo, ele sofre muito pela sua cidade. O diálogo continua com Édipo procurando saber mais sobre as circuns- tâncias do misterioso assassinato de Laio: ÉDIPO Mas onde se encontra ele? Como descobrir o culpado de um crime tão antigo? CREONTE Aqui mesmo, na cidade, afirmou o oráculo. Tudo o que se procura, será descoberto; e aquilo de que descuramos, nos escapa. [...] ÉDIPO Mas como, e para que teria o assassino praticado tão audacioso atentado, se não foi coisa tramada aqui, mediante suborno? CREONTE Também a nós ocorreu essa idéia; mas, depois da morte do rei, ninguém pensou em castigar o criminoso, tal era a desgraça que nos ameaçava. A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles60 Textos fundamentais_U1C3.indd 60 28/08/2017 16:42:26 ÉDIPO Que calamidade era essa, que vos impediu de investigar o que se passara? CREONTE A Esfinge, com seus enigmas, obrigou-nos a deixar de lado os fatos in- certos, para só pensar no que tínhamos diante de nós (SÓFOCLES, 2005, p. 11-12). Você deve atentar para o trágico da situação: a todo momento em que Creonte e Édipo falam do assassino de Laio, eles estão falando de Édipo, mesmo que eles não tenham a menor noção disso. Também é possível de se perceber um elemento que contribuiu para a continuação do engano e que é mencionado no excerto acima: toda Tebas estava absorvida pelos problemas causados pela Esfinge e, dessa forma, não pode investigar devidamente o assassinato do rei. Note que há uma série desses elementos que não permitem que Édipo fuja do seu destino: ele se afasta dos seus pais, mas desconhece o fato de eles não serem os seus pais biológicos; ele encontra Laio, mas este não se identifica como rei de Tebas e Édipo acaba matando-o; Tebas está tão absorvida com a Esfinge que não se preocupa em encontrar o assassino de Laio; Édipo encontra a cidade em festa, pois foi o responsável pela derrota da Esfinge e pela libertação da cidade, o que coloca todos bem dispostos em relação a ele. Assim, você pode concluir que, por mais que o sujeito procure negar o destino revelado pelo oráculo, esse destino é muito maior e mais forte do que a sua vontade. Se, por exemplo, Laio tivesse dito a Édipo que era rei, ele provavelmente teria refreado o seu impulso de matá-lo, visto se tratar de uma autoridade. Todos os acontecimentos na vida de Édipo parecem preparar o momento no qual a profecia seria cumprida, querendo ele ou não. Por fim, há o emocionado discurso de Édipo, prometendo vingar a morte do seu predecessor: Está bem; havemos de voltar à origem desse crime, e pô-lo em evidência. É digna de Apolo, e de ti, a solicitude que tendes pelo morto; por isso mesmo ver-me-eis secundando vosso esforço, a fim de reabilitar e vingar a divindade e o país ao mesmo tempo. E não será por um estranho, mas no meu interesse que resolvo punir esse crime; quem quer que haja sido o assassino do rei Laio bem pode querer, por igual forma, ferir-me com a mesma audácia. Auxiliando-vos, portanto, eu sirvo a minha própria causa. Eia, depressa, meus filhos! Erguei-vos e tomai vossas palmas de suplicantes; 61A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles Textos fundamentais_U1C3.indd 61 28/08/2017 16:42:26 Francisco Realce que outros convoquem os cidadãos de Cadmo; eu não recuarei diante de obstáculo algum! Com o auxilio do Deus, ou seremos todos felizes, ou ver-se-á nossa total ruína! (SÓFOCLES, 2005, p. 13) Nesse trecho, ele promete encontrar e punir o responsável pelo crime. Claro que os gregos antigos, assistindo à peça, talvez não tivessem conhecimento do destino de Édipo. Mas, para o leitor contemporâneo que conhece o fim da história e para você que já leu sobre isso, esse discurso ganha um tom especialmente dramático. Édipo fala, inclusive, na possibilidade do assassino de Laio feri-lo também. Depois, ele diz que todos serão felizes ou a ruína será total. Com essas duas sentenças, Édipo, mesmo sem a intenção, também realiza um tipo de previsão: ele, que já havia assassinado Laio, rasga os seus olhos ao final da tragédia, ferindo a si mesmo; a ruína total também é o seu destino e o destino de Tebas. Agora você vai analisar a última interferência do coro na peça de Sófocles, para entender umpouco melhor o papel desse elemento na tragédia grega. O coro está falando como Édipo foi grande e feliz, sendo consagrado por toda Tebas como o salvador, como o vencedor da morte, como o restaurador da ordem, e também como foi gigantesca a sua queda: E agora, quem pode haver no mundo, que seja mais miserável? Quem terá sofrido, no decurso da vida, mais rude abalo, precipitando-se no abismo da mais tremenda ignomínia? Ilustre e querido Édipo, tu que no leito nupcial de teu pai foste recebido como filho, e como esposo dize: como por tanto tempo esse abrigo paterno te pôde suportar em silêncio? Só o tempo, que tudo vê, logrou, enfim, ao cabo de tantos anos, condenar esse himeneu abominável, que fez de ti pai, com aquela de quem eras filho! Filho de Laio, prouvera aos deuses que nunca te houvéramos visto! Condoído, eu choro tua desgraça, com lamentações da mais sincera dor! No entanto, para dizer-te a verdade, foi graças a ti que um dia pudemos respirar tranquilos e dormir em paz! (SÓFOCLES, 2005, p. 62-63). Você lembra quando falamos sobre a função do coro de mostrar qual sentimento a peça deseja causar no público? Nesse trecho, isso fica bastante claro, pois o coro explica o significado das ações levadas a cabo ao longo da apresentação e sintetizam a história trágica de Édipo. Os membros do coro igualmente se mostram ambivalentes em relação ao protagonista: ao mesmo tempo em que lamentam o dia em que o conheceram, reconhecem que a ele devem a salvação. É como se esse grupo reduzido de pessoas representasse A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles62 Textos fundamentais_U1C3.indd 62 28/08/2017 16:42:26 Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Realce a totalidade do povo de Tebas e a opinião da maioria. O coro ainda fala do “himeneu abominável”, ou seja, menciona o casamento entre Édipo e Jocasta e ressalta o fator tempo: só a passagem dos anos é que permitiu a descoberta da terrível verdade por trás dessa união. É impressionante como uma peça com uma estrutura simples, que conta com um número reduzido de personagens (Édipo, Jocasta, Creonte, Tirésias, alguns mensageiros e o coro) e se passa em um espaço reduzido, pode impactar tantas pessoas ao longo de tantos e tantos séculos — como ela continua sendo catártica, como continua causando fortes emoções até hoje. Se isso acontece, é porque esse texto trata de assuntos universais. Muito pode mudar: não vivemos mais na Grécia antiga, podemos não acreditar mais nos deuses gregos ou dar menos importância para o destino. Porém, nossa preocupação com alguns assuntos parece ter permanecido constante ao longo do tempo: família, justiça terrena e justiça divina, arrependimento, tristeza e deses- pero, proibições e tabus. Quando lemos a tragédia de Sófocles, lemos um pouco também sobre a nossa realidade, sobre a nossa sociedade, sobre o nosso mundo. 63A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles Textos fundamentais_U1C3.indd 63 28/08/2017 16:42:27 Francisco Realce ARISTÓTELES. Poética. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. ÉDIPO REI. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/ wiki/%C3%89dipo_Rei>. Acesso em: 7 ago. 2017. MILET AMPHITHEATER. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/ wiki/Ficheiro:Milet_Amphitheater1.JPG#filehistory>. Acesso em: 7 ago. 2017. MOIRAS. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Moiras>. Acesso em: 7 ago. 2017. NIETZSCHE, F. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. São Paulo: Com- panhia das Letras, 1992. SÓFOCLES. Édipo Rei. Nova York: W. M. Jackson, 2005. SÓFOCLES. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ S%C3%B3focles>. Acesso em: 7 ago. 2017. Leituras recomendadas MALHADAS, D. Tragédia grega: o mito em cena. Cotia: Ateliê Editorial, 2003. BRUNA, J. Homero: Odisseia. São Paulo: Cultrix, 1996. PIQUÉ, J. F. A tragédia grega e seu contexto. Revista letras, Curitiba, v. 49, 1998. Dispo- nível em: <http://revistas.ufpr.br/letras/article/view/18998>. Acesso em: 7 ago. 2017. 65A tragédia grega e a composição do trágico: Édipo Rei, de Sófocles Textos fundamentais_U1C3.indd 65 28/08/2017 16:42:28 DICA DO PROFESSOR Veja nesta Dica do Professor, a encenação de Édipo Rei. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Pensando sobre a tragédia grega clássica, assinale a alternativa correta. A) Na tragédia grega clássica, há um elemento muito importante, que é o coro. O coro é composto por um grupo de atores que interfere com discursos, músicas ou danças ao longo da narrativa. B) Esse gênero não era considerado tão importante pelos gregos, que colocavam a comédia como o mais importante, por realizar a crítica às instituições e às figuras políticas. C) Nesse gênero, os personagens podiam provir de qualquer classe social, já que os dramas encenados eram aqueles vividos por todos: a morte, a traição, o desgosto. D) A tragédia grega contava sempre com muitos personagens em cena para melhor representar os dramas encenados, que eram bastante complexos. E) e) As tragédias gregas clássicas contavam a história de homens que conseguiam escapar do destino traçado a eles. 2) O destino é um elemento muito importante da cultura grega clássica e também da tragédia grega. Sobre esse conceito, é correto afirmar que: A) ele refere-se à possibilidade de os heróis das tragédias gregas ultrapassarem os limites impostos pelos deuses e realizarem grandes feitos. Francisco Realce B) determinar o destino de cada um dos homens é uma tarefa de extrema responsabilidade e complexidade. Por isso, é Zeus, o principal deus do panteão grego, quem a realiza. C) como a narrativa da tragédia clássica era uma ficção, nela, os deuses podiam ser apresentados como os responsáveis pelo destino dos homens. D) a diferença entre a comédia e a tragédia era que, na tragédia, os homens não conseguiam escapar de seu destino trágico. Na comédia, eles conseguiam, conferindo à história um final feliz. E) as Moiras são as figuras mitológicas responsáveis pela tecelagem dos fios dos destinos de deuses e homens. 3) Sobre Sófocles, é correto afirmar que: A) é um escritor da Grécia Antiga que produziu inúmeros tipos de textos: desde poemas líricos, passando pelos épicos, até as tragédias. B) Sua obra Édipo Rei é considerada pelo filósofo grego Aristóteles como a tragédia mais bem acabada e perfeita. C) Sófocles foi o primeiro autor grego a escrever tragédias. A partir dele, o gênero virou tradicional na Grécia Antiga. D) Sófocles, por ser um artista à frente de seu tempo, conseguiu transcender algumas das crenças da Grécia Antiga, como a de destino. E) questiona-se se a sua peça mais famosa, Édipo Rei, teria sido realmente escrita por ele, visto que muitos dados e documentos perderam-se ao longo dos séculos. As desventuras de Édipo são narradas na tragédia Édipo Rei. Nessa famosa 4) Francisco Realce Francisco Realce narrativa, o herói descobre, por meio de um oráculo, que seu destino era o de matar seu pai e casar com sua mãe. Ele deixa sua cidade com o intuito de evitar esse terrível acontecimento, sem saber que aqueles eram seus pais adotivos. Sobre a sua trama e personagens, é correto afirmar que: A) buscando afastar-se do seu destino, revelado pelo oráculo, Édipo acaba aproximando-se cada vez mais dele. B) para contar toda a história de Édipo, desde o seu nascimento até o momento da descoberta de que a profecia do oráculo havia sido cumprida, Sófocles precisou colocar em cena muitos atores. C) Édipo, por ter se tornado rei de Tebas e possuir, portanto, autoridade, consegue escapar à punição quando todos descobrem que ele assassinou Laio, seu pai biológico. D) na Grécia Antiga, casamento entre parentes próximos não era um tabu. O grande problema de Édipo foi o assassinato de seu pai. E) o coro, nessa peça, entra em cena pararevelar a verdadeira identidade de Édipo. 5) Corifeu é um membro de destaque do coro grego. É ele quem finaliza a tragédia de Édipo, afirmando: "Habitantes de Tebas, minha Pátria! Vede este Édipo, que decifrou os famosos enigmas! Deste homem, tão poderoso, quem não sentirá inveja? No entanto, em que torrente de desgraças se precipitou! Assim, não consideremos feliz nenhum ser humano, enquanto ele não tiver atingido, sem sofrer os golpes da fatalidade, o termo de sua vida". Analisando o trecho, é possível afirmar que: A) Édipo caiu em desgraça, pois foi um mau rei, pensando apenas em si mesmo e nas suas riquezas e ignorando seu povo flagelado por uma peste. B) essa fala aponta para a necessidade de se aproveitar os momentos bons da vida enquanto eles não acabam, pois, a qualquer momento, uma tragédia pode ocorrer. Francisco Realce C) esse trecho aponta para uma característica importante da tragédia: no início da narrativa, há uma situação de alegria que é abalada por um acontecimento trágico. D) o corifeu é a personificação do autor na tragédia grega clássica. E) a inveja era um sentimento que podia levar o seu alvo à desgraça, segundo as crenças da Grécia Antiga, como fica explícito no trecho. NA PRÁTICA Antígona é outra tragédia clássica, de Sófocles, que pertence à mesma trilogia de Édipo Rei. Nessa peça, dois filhos de Édipo, Etéocles e Polinices, matam-se lutando pelo trono de Tebas. Creonte, que sobe ao trono depois da morte dos dois, decreta que Polinices não teria direito a sepultamento e que seu corpo deveria ser abandonado em qualquer lugar. Antígona, também filha de Édipo e protagonista da peça, decide desobedecer às ordens do rei e dar um fim digno, conforme as leis divinas, ao irmão. Por isso, ela é condenada à morte. Francisco Realce SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Conheça mais sobre a tragédia grega neste vídeo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Assista este vídeo com uma interessante análise do personagem Édipo e da obra de Sófocles. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Um clássico permanece vivo ao longo do tempo a partir, por exemplo, da inspiração que traz às pessoas que entram em contato com esse texto e que criam outras coisas a partir dele. Para pensar como a tragédia Édipo Rei, de Sófocles, inspirou a posteridade, neste vídeo, você vai entender um pouco melhor o que é o complexo de Édipo, conceito cunhado por Sigmund Freud e muito importante para a Psicanálise. Assista! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Você sabe como se pode relacionar a obra de Friedrich Nietzsche com a tragédia grega? Descubra como isso acontece neste artigo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Veja nesta dissertação uma análise de Antígona com uma interpretação do original clássico e de duas versões do século XX. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Conheça mais sobre o canto na tragédia grega e como ele é entoado. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Francisco Comentário do texto https://www.youtube.com/embed/GzQwP75o4O4 Francisco Realce https://www.youtube.com/embed/YemeaEEVN5k Francisco Realce http://pvbps-sambavideos.akamaized.net/account/2975/3/2017-10-06/video/346cadaffe5df12e0ccb2703fe31aa3d/346cadaffe5df12e0ccb2703fe31aa3d_720p.mp4 Francisco Realce https://www.scielo.br/j/trans/a/Xy3jrQTNM5PwbVfxF3cHcwM/?lang=pt Francisco Realce http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=184815 Francisco Realce conteúdo indisponível no AVA
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