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Procedimentos especiais de jurisdição contenciosa e voluntária Profª. Larissa Clare Pochmann da Silva false Descrição Apresentação dos principais procedimentos especiais de jurisdição contenciosa e voluntária, das ações de alimentos e das ações locatícias, bem como do procedimento dos juizados especiais, e sua comparação com o procedimento comum. Propósito Compreender que existem procedimentos diferenciados e identificar a diferença desses procedimentos em relação ao procedimento comum é fundamental para a tutela adequada de direitos. Preparação Antes de iniciar os estudos, tenha em mãos o Código de Processo Civil (CPC) e as Leis nº 5.478/1974, nº 9.099/1995, nº 10.259/2001 e nº 12.153/2009. Objetivos Módulo 1 Principais procedimentos contenciosos e não contenciosos no CPC Identificar o cabimento e a diferenciação dos procedimentos especiais em relação ao procedimento comum. Módulo 2 Ação de alimentos e ações locatícias Analisar o procedimento das ações locatícias e de alimentos. Módulo 3 Juizados especiais Reconhecer o procedimento dos juizados especiais e suas peculiaridades diante do procedimento comum. O CPC de 2015 prevê um procedimento comum e procedimentos especiais, que são sujeitos a trâmites específicos e que se revelam distintos do procedimento comum. Você pode se perguntar: Por que procedimentos especiais? Os procedimentos especiais têm a finalidade específica de adequar os atos processuais às peculiaridades do direito material, promovendo a tutela adequada de direitos. Por exemplo, Introdução 1 - Principais procedimentos contenciosos e não contenciosos no CPC para realizar um pagamento em consignação, há uma sequência diferenciada de atos processuais, da mesma forma se desejar tutelar a posse etc. Os procedimentos especiais diferenciam-se do procedimento comum por: Simplificação e agilização dos trâmites processuais, com redução de prazos, supressão de alguns atos e outras modificações no procedimento. Delimitação do tema, que pode ser deduzido na petição inicial e na contestação. Explicitação dos requisitos materiais e processuais para que o procedimento possa ser adotado. Os procedimentos especiais podem ser de jurisdição contenciosa ou voluntária, em virtude da presença ou não de lide. Consequentemente, há, na jurisdição contenciosa, referência a partes e, na jurisdição voluntária, referência a interessados. Ao fim do módulo, você será capaz de identificar o cabimento e a diferenciação dos procedimentos especiais em relação ao procedimento comum. Procedimentos especiais versus procedimento comum Os procedimentos especiais têm uma sequência diferenciada de atos processuais para a adequada tutela do direito material. O legislador explicita os atos processuais diferenciados a serem praticados. Então, o que for tratado pelo legislador, é preciso saber que será diferente do procedimento comum. Para que seja adotado um procedimento especial, devem ser observados requisitos materiais e formais, quais sejam: Requisito material A pretensão deve situar-se no plano de direito material correspondente ao rito. Por exemplo, na ação de consignação em pagamento, a pretensão envolve o instituto do Direito Civil do pagamento em consignação. Para observar o procedimento especial, somente pode haver a cumulação de pedidos autorizados pelo legislador. Caso o pedido que se deseje cumular não esteja previsto em lei, aplica-se o disposto no art. 327, § 2º, do CPC, isto é, não se utilizará o procedimento especial, e, sim, o procedimento comum. Em outros termos: se desejasse formular um pedido não previsto no procedimento, poderia fazer a cumulação se observasse o procedimento comum. Requisito formal Diz respeito às exigências específicas a serem cumpridas no procedimento, que condicionam a forma e o desenvolvimento válidos até o julgamento do mérito. Por exemplo, no procedimento de consignação em pagamento, o art. 542 do CPC prevê que, no prazo de cinco dias, contados do deferimento da inicial, deve haver o depósito d ti d i d id b d ti ã d l ã d Ação de consignação em pagamento A ação de consignação em pagamento é um instituto criado pelo direito processual para atender às peculiaridades do direito material para extinção de obrigações, tanto que o pagamento por consignação é regulado nos arts. 334 a 345 do Código Civil (CC). O art. 539 do CPC remete o cabimento da consignação em pagamento aos casos previstos em lei, podendo-se referir, por exemplo, aos arts. 335 do CC, 164 do Código Tributário Nacional (CTN) ou, ainda, da legislação esparsa, como a previsão do art. 58, II, da Lei nº 8.245/1991 (Lei de Locações). Consignação extrajudicial A consignação em pagamento pode ser extrajudicial, realizada em estabelecimento bancário oficial, onde houver, regulada nos parágrafos do art. 539, ou em juízo. Judicialmente, é passível de consignação a quantia ou coisa devida (art. 539, caput, do CPC). Extrajudicialmente, porém, o legislador prevê, no § 1º do art. 539, a consignação apenas de dinheiro. Nesse ponto, é importante destacar que a impossibilidade de consignação de coisa no banco é, na verdade, fática. Por exemplo, como seria possível consignar em um banco sacas de café? Provavelmente, não haveria espaço no banco para receber e armazenar essas sacas. Se as prestações forem sucessivas, o art. 541 do CPC prevê que, iniciado o procedimento, a consignação poderá ocorrer em até cinco dias, contados da data do respectivo vencimento. Atividade discursiva É possível fazer diretamente a consignação em pagamento em qualquer situação? da quantia ou da coisa devida, sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito. Da mesma forma, tratando-se do procedimento especial da ação monitória, caso não seja juntada na petição inicial prova escrita suficiente, há a previsão sobre a possibilidade de emenda da petição inicial para o procedimento comum, conforme previsto no art. 700, § 5º, do CPC. Digite sua resposta aqui Exibir Solução Nos termos do art. 335 do CC, a mora do credor abrange a recusa injustificada do credor em receber, e a inércia, ausência, desconhecimento ou inacessibilidade do credor. Por sua vez, o risco de pagamento ineficaz pode ser: Recusa do credor em fornecer a quitação. Dúvida quanto à pessoa do credor. Litigiosidade em torno da prestação entre terceiros. Falta de quem representa legalmente o credor incapaz, desconhecido, ausente ou que resida em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil. Competência Segundo os arts. 540 do CPC e 337 e 341, ambos do CC, o foro competente para o ajuizamento da ação de consignação é o do local do pagamento, que pode ser o do domicílio do devedor, se a dívida for quesível, ou o do domicílio do credor, se a dívida for portável. Já caso o local designado para pagamento tenha se tornado inacessível ou perigoso (art. 335, III, do CC), a competência poderá ser livremente escolhida pelo devedor, desde que não haja prejuízo para o credor. Legitimidade Existem dois tipos de legitimidade: Legitimidade ativa A legitimidade ativa, conforme previsto no art. 539 do CPC, além do devedor, alcança também o terceiro juridicamente interessado na extinção da dívida e o terceiro não interessado que aja em nome e à conta do devedor. Legitimidade passiva Quanto à legitimidade passiva, de acordo com o art. 547 do CPC, quem tem legitimidade passiva é o credor que se recusou a receber o pagamento ou que se absteve de tomar as providências necessárias à sua concretização, por força dos arts. 336 e 308 a 312 do CC. Na legitimidade passiva, se houver mais de um credor e eles forem solidários, estaremos diante da hipótese do art. 267 do CC, segundo a qual qualquer deles pode exigir do devedor a prestação por inteiro. Então, todos eles têm legitimidade para responder à consignação, restando, assim, configurado caso de litisconsórcio passivo facultativo, podendo o autor mover a ação contra apenas um deles ou contra todos. Porém, em caso de dúvida quanto ao credor legítimo,têm legitimidade para ser réus todos os pretensos credores, nos termos do art. 895 do CPC, em litisconsórcio passivo eventual. Nesse último caso, se ao devedor não for possível identificar todos os pretensos credores, haverá lugar para a citação por edital. Aspectos do procedimento O procedimento extrajudicial está descrito nos parágrafos do art. 539 e não é exigência para o ingresso em juízo. Porém, caso o devedor procure a consignação extrajudicial e haja a recusa do credor, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, poderá ser proposta, dentro de um mês, a ação de consignação, instruindo-se a inicial com a prova do depósito e da recusa. O procedimento judicial, em caso de dúvida da pessoa do credor, está contemplado especificamente nos arts. 547 e 548 do CPC. Nas demais hipóteses, aplica-se apenas o disposto nos arts. 542 a 546. A petição inicial da ação de consignação em pagamento, além de todos os requisitos gerais do art. 319 do CPC, deve conter os requisitos específicos do art. 542 do CPC. O réu será citado para levantar o depósito ou contestar, e as matérias de contestação, além das matérias do art. 337 do CPC, estão dispostas no art. 544 do CPC. No caso de alegação de insuficiência de depósito, abre-se ao autor a possibilidade de complementação, conforme o art. 545 do CPC. Ações possessórias A professora Larissa Pochmann discorre sobre as principais questões relativas às ações possessórias. As ações possessórias visam a proteger o poder sobre a coisa (posse), sem debater a questão da propriedade. O que se denomina ações possessórias no CPC engloba: A ação de reintegração de posse Em caso de esbulho. A ação de manutenção de posse Em caso de turbação. O interdito proibitório Em caso de ameaça. Fungibilidade A posse é dinâmica e pode haver facilmente alteração. Por exemplo, uma pessoa que hoje está sendo ameaçada, amanhã pode perder a posse, sendo esbulhada. Nesse contexto, o CPC, no art. 554, consagra o princípio da fungibilidade entre as ações. O ajuizamento de uma demanda possessória não impede o juiz de conceder medida diferente da postulada, mas que se revele adequada à proteção da posse no caso concreto, desde que os requisitos para essa concessão estejam provados nos autos. \ Competência A competência dependerá da ação: Se a ação versar sobre coisas móveis A comeptência será o foro do domicílio do réu (art. 46 do CPC). Se a ação versar sobre bens imóveis A competência será do foro da situação da coisa litigiosa (art. 47, § 2º, do CPC). Legitimidade A legitimidade ativa será de quem é possuidor. Já o réu será aquele que realiza o ato de moléstia ao ato do autor, sendo aquele que ameaça, turba ou esbulha a posse alheia. Caso seja um grupo e o autor desconheça todos os integrantes, poderá pedir a citação do líder do grupo, com o acréscimo da citação dos demais integrantes do grupo por edital, conforme o art. 554, § 1º, do CPC. Posse de força nova O procedimento especial das ações possessórias somente é aplicável às ações de força nova, cabendo às ações de força velha observar o procedimento comum. Consequentemente, eventual liminar deve observar os requisitos da tutela provisória. E o que são força nova e força velha? O conceito de força velha e força nova é contemplado no art. 558 do CPC, com o lapso temporal de até um ano e um dia. Dentro desse período, será força nova, observando o procedimento especial das possessórias. Após, força velha, observando o procedimento comum. As ações possessórias permitem a discussão apenas de posse, sendo vedada a discussão de propriedade. Nesse sentido, inclusive, é a disposição do art. 1210, § 2º, do CC. Já o art. 557 do CPC vai além e procura impedir o ajuizamento de ações petitórias que debatam a propriedade, na pendência da ação possessória. Porém, a doutrina (SILVA; LAMY, 2017, p. 230) costuma comentar que essa restrição não se sustenta, devendo ser desconsiderado o fundamento de eventual alegação de propriedade durante uma possessória. Se viesse a ser ajuizada uma ação petitória em que as partes fossem autor e réu da possessória, a ação petitória ficaria suspensa até o término da discussão possessória. A ação petitória apenas não ficará suspensa em se tratando de usucapião especial urbana, conforme previsto no art. 11 da Lei nº 10.257/2001. No procedimento especial da possessória, os pedidos que podem ser cumulados pelo autor em sua petição inicial na discussão de posse são previstos no art. 555 do CPC. Por sua vez, o art. 556 do CPC versa sobre a contestação e sobre a própria natureza dúplice das possessórias. Proposta uma ação, o réu pode defender-se por meio de contestação, mas também pode deduzir pretensão em face do autor, sendo a delimitação dos pedidos que possam ser formulados pelo réu em face do autor dentro da pretensão possessória prevista nesse art. 556. O procedimento previsto para as ações de reintegração e manutenção de posse está descrito nos arts. 560 a 566 do CPC. Na inicial, o autor deve demonstrar: I – a sua posse; II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; Os pedidos devem observar a disposição no art. 555 do CPC. No procedimento especial, conforme disposto no art. 562 do CPC, estando em ordem a petição inicial, há a apreciação da medida liminar inaudita altera pars, excepcionada apenas na previsão do art. 562, parágrafo único, do CPC, que, caso deferida, nos termos do art. 563, será deferido mandado de manutenção ou de reintegração, seguindo-se com a citação do réu para oferecimento de defesa, nos termos do art. 564 do CPC. O legislador dispõe que, para além da regulamentação dos arts. 560 a 654 do CPC, aplica-se o procedimento comum (art. 565). Destaca-se, porém, que o litígio pela terra é uma questão importante no país e envolve alta conflituosidade. Versando a questão sobre um litígio coletivo sobre a posse, mesmo sendo posse de força velha, antes de ser apreciada a medida liminar, será designada audiência de mediação, a realizar-se em até 30 dias, conforme disposto nos parágrafos do art. 565 do CPC. Por sua vez, em caso de ameaça, o procedimento do interdito proibitório vem tratado nos arts. 567 e 568 do CPC, objetivando que o réu cesse a ameaça em relação à posse. Caso a ameaça se torne um esbulho ou uma turbação, segue-se o procedimento descrito nos arts. 560 a 566 do CPC para as ações de reintegração de posse e de manutenção de posse. III – a data da turbação ou do esbulho; IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. Embargos de terceiro O procedimento contemplado nos arts. 674 a 681 do CPC tem como finalidade a obtenção da tutela jurisdicional por um terceiro, que será denominado embargante, diante da contrição ou ameaça de constrição em seu bem em processo no qual não é parte. Ou seja, alguém que não é parte em um processo tem determinado, nesse processo de que não participa, uma constrição ou ameaça de constrição ao bem. Legitimidade Dessa conceituação, já se pode constatar que o legitimado ativo para os embargos de terceiro é daquele que tem uma ameaça ou uma efetiva constrição de seu bem realizada em processo no qual não é parte, conforme disposto no art. 674 do CPC. Em outras palavras, aquele que não era parte, isto é, não participava em contraditório, mas sofreu uma constrição ou ameaça de constrição a seu bem. É importante destacar que ele não precisa ser necessariamente o proprietário do bem, podendo ser, conforme disposto no § 1º, o possuidor ou o fiduciário. O § 2º acrescenta ainda que podem ser autores dos embargos: (I) O cônjuge ou companheiro, que defende bens referentes à sua meação, salvo quando se tratar de penhora de bem indivisível, quando o art. 843 do CPC já ressalva que a cota-parte do cônjuge alheio ao processo recairá sobre o produto da alienação do bem. ( ) Por sua vez, o réu será aquele a quem o ato de constrição aproveita e também seu adversário no processo do qual aquele ato se origina, quandofor sua a indicação do bem para constrição judicial. Existirá, nesse caso em que houver a indicação do bem para constrição judicial, um litisconsórcio passivo necessário, conforme disposto no art. 677, § 4º, do CPC. Prazo O prazo para oferecimento dos embargos de terceiro está contemplado no art. 675 do CPC. Tratando- se de constrição ou ameaça de constrição praticada em processo de conhecimento, os embargos podem ser apresentados em qualquer momento, enquanto não transitada em julgado a sentença. No cumprimento de sentença ou no processo de execução, os embargos podem ser oferecidos até cinco dias após a adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta. (II) O adquirente de bem cuja constrição decorra do reconhecimento de fraude à execução, instituto esse contemplado pelo art. 792 do CPC. (III) Quem sofre ou está na iminência de sofrer constrição judicial por força de desconsideração da personalidade jurídica, sem que tenha feito parte do incidente regulado nos arts. 133 a 137 do CPC. (IV) O credor com garantia real para obstar a expropriação do bem sobre o qual recai seu direito real de garantia, caso não tenha sido intimado dos atos expropriatórios, como previsto no art. 889 do CPC. Nesse momento, cabe ressalvar apenas que, em se tratando da oportunidade de manifestação do terceiro que adquiriu o bem para que seja apreciada a alegação de fraude à execução, o art. 792, § 4º do CPC prevê que o prazo de apresentação de embargos de terceiro será de 15 dias. Competência Os embargos de terceiro serão distribuídos por dependência ao juízo que ordenou a constrição e autuados em apartado, conforme previsto no art. 676 do CPC. Na petição inicial, o embargante fará a prova sumária de sua posse ou de seu domínio e da qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol de testemunhas, conforme previsto no art. 677 do CPC. \ Aspectos do procedimento É cabível o pedido de tutela provisória nos embargos. Se o magistrado considerar suficientemente demonstrado o domínio ou a posse, poderá determinar a suspensão das medidas constritivas sobre o bem objeto dos embargos e determinar a manutenção ou a reintegração provisória da posse, conforme o art. 678 do CPC. Para que seja decidida a referida tutela, a prova da posse, será designada audiência preliminar pelo juiz. Ainda em relação à tutela provisória, se o requerente não for economicamente hipossuficiente, o Código, no art. 678, parágrafo único, contempla a possibilidade de o juiz, à luz do caso concreto, condicionar a ordem de manutenção ou de reintegração provisória de posse à prestação de caução pelo requerente. Estando a petição inicial em ordem, o juiz determinará a citação, que será por meio de advogado constituído nos autos, ou, não existindo este, será realizada pessoalmente (art. 677, § 3º, do CPC). O prazo para oferecimento de defesa é de 15 dias, conforme o art. 679 do CPC, e o art. 680 delimita o que poderá ser alegado como matéria de defesa quando se tratar de credor com garantia real. Consequentemente, como destaca Cassio Scarpinella Bueno (2021, p. 532), nos demais casos, a matéria de defesa acabará ficando sobre a correção do ato constritivo. O procedimento será decidido por sentença, e, caso seja julgado procedente o pedido, conforme o art. 681, o ato de constrição judicial indevido será cancelado. As verbas de sucumbência observarão as regras gerais. Ações de família O procedimento especial previsto nos arts. 694 a 699 do CPC aplica-se aos procedimentos contenciosos, isto é, quando há lide, de separação, de divórcio, de reconhecimento ou extinção de união estável, guarda, visitação e filiação. A Emenda Constitucional nº 66/2010 alterou a redação do art. 226, § 6º, da Constituição Federal de 1988 (CF/1988), para estabelecer que o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. A redação anterior dizia que o casamento civil podia ser dissolvido pelo divórcio após prévia separação judicial por mais de um ano ou se comprovada separação de fato por mais de dois anos. Restou, assim, a controvérsia se a separação permaneceria em nosso ordenamento. O tema, inclusive, teve sua repercussão geral reconhecida no Recurso Extraordinário nº 1.167.478. O procedimento aqui estudado não se aplicará às ações de alimentos ou em que haja interesse de criança e de adolescente, que são reguladas por leis próprias, as Leis nº 5.478/1968 e nº 8.069/1990. Art. 694 do CPC Destaca a relevância da busca do diálogo para a construção de uma solução mais adequada no direito de família, em consonância também com o art. 3º, § 3º, do CPC, havendo a autorização legal de suspensão do processo enquanto há a tentativa de solução consensual. Art. 695 do CPC Inicia a disciplina do procedimento especial. Recebida a petição inicial e após a apreciação de tutela provisória, se houver requerimento, o réu será citado para comparecer à audiência de conciliação, para a facilitação do diálogo e na tentativa de construção de uma solução adequada ao conflito, como preceitua o art. 696. Não havendo acordo, segue-se com a observância dos atos processuais praticados no procedimento comum, com a defesa do réu, conforme disposto no art. 697. A intervenção do Ministério Público na condição de fiscal da ordem jurídica está disposta no art. 698 do CPC e ocorrerá sempre que houver interesse de incapaz, caso em que deverá ser ouvido previamente à homologação de acordo, e quando houver vítima de violência doméstica e familiar. Caso a ação de família possa envolver alegação de abuso ou alienação parental, o art. 699 do CPC preceitua que deverá haver a presença de especialista no depoimento do incapaz. Divórcio e separação consensuais, extinção consensual de união estável e alteração do regime de bens do matrimônio Aqui, há, na verdade, dois procedimentos de jurisdição voluntária: um referente ao divórcio e separação consensuais, bem como extinção consensual de união estável; e outro referente à alteração de regime de bens do matrimônio. Em relação ao primeiro, no diploma processual, o legislador optou por contemplar tanto a separação quanto o divórcio, e faz bem ao equiparar o procedimento de término do casamento ao de extinção da união estável, conforme já sinaliza o art. 732 do CPC. O procedimento pode ser realizado de forma extrajudicial, tal como indica o art. 733, com a lavratura de escritura pública. Atividade discursiva Vamos pensar: um casal deseja se divorciar com um filho menor decorrente do matrimônio. O divórcio é consensual. É possível realizar o procedimento extrajudicialmente? Digite sua resposta aqui Exibir Solução Em juízo, para que o procedimento seja consensual, a petição inicial deve contemplar: (I) As disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns. (II) As disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges. (III) O d l ti à d d filh i i d i it Para indicar que o procedimento é consensual, ambos os cônjuges ou companheiros devem assinar a petição inicial e podem estar acompanhados por um único advogado, ou cada um estar acompanhado por um advogado. O segundo procedimento é de alteração consensual do regime de bens, previsto no art. 734 do CPC. A alteração do regime de bens do casamento, observados os requisitos legais, poderá ser requerida, motivadamente, em petição assinada por ambos os cônjuges, na qual serão expostas as razões que justificam a alteração, ressalvados os direitos de terceiros. Recebendo a petição inicial, o juiz determinará a intimação do Ministério Público e a publicação de edital que divulgue a pretendida alteração de bens, somente podendo decidir depois de decorrido o prazo de 30 dias da publicação do edital. Caso haja a alteração do regime de bens do casamento, com o trânsito em julgado, serão expedidos mandados de averbação aos cartórios de Registro Civil e de Imóveis e, caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ao Registro Público de Empresas Mercantise Atividades Afins. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! Ação de consignação em pagamento O acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas. (IV) O valor da contribuição para criar e educar os filhos. Para que o procedimento seja consensual, todos os itens devem ser contemplados, podendo apenas a partilha dos bens ser feita posteriormente, de forma litigiosa. Módulo 1 - Vem que eu te explico! Embargos de terceiro (cabimento) Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (Fadesp – 2017 – Câmara de Capanema (PA) – Procurador Jurídico) Sabe-se que as ações possessórias estão dentro do estudo dos procedimentos especiais. Nessas ações, o ponto central de análise do julgador está na avaliação sobre se a posse adquirida é justa ou injusta, caracterizada em seu nascedouro por clandestinidade, violência ou precariedade. Sobre as ações possessórias, é correto afirmar que: A O réu pode, em sede de contestação, pedir a proteção possessória e a indenização por perdas e danos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor. B A ação de manutenção de posse seguirá o procedimento comum, quando intentada dentro de ano e dia da turbação. C A ação de reintegração de posse é cabível, por lei, quando o possuidor simplesmente sofrer turbação em sua posse. D A decisão concessiva da liminar na ação possessória, quando o processo for regulado pelo rito especial, exige o requisito do perigo de dano irreversível ou de difícil reparação para sua concessão. E As ações possessórias observam o procedimento comum. Parabéns! A alternativa A está correta. A alternativa A reflete a previsão do art. 544 do CPC e demonstra não só a delimitação dos temas da inicial como a da contestação. Questão 2 (Itame – 2020 – Câmara de Caldazinha (GO) – Advogado) Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. Para efeitos da lei, considera-se terceiro: A Quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, que tenha sido parte no incidente. B O credor sem garantia para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia caso tenha sido intimado nos termos legais dos atos expropriatórios garantia, caso tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos. C O adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução. D O devedor que figura no processo de execução como executado. E O réu em uma ação possessória. Parabéns! A alternativa C está correta. A alternativa correta é a letra C, conforme disposto no art. 674, § 2º, II, do CPC, que prevê que o autor do procedimento especial dos embargos de terceiro será aquele que não figura como parte no processo do qual partiu a constrição ou ameaça de constrição a bem. 2 - Ação de alimentos e ações locatícias Ao fim do módulo, você será capaz de analisar o procedimento das ações locatícias e de alimentos. Ação de alimentos O art. 693, parágrafo único, do CPC exclui expressamente a aplicação do procedimento das ações de família à ação de alimentos. Assim, em princípio, pareceria aplicável exclusivamente a previsão da Lei nº 5.478/1968 (Lei de Alimentos). Porém, o CPC de 2015 tratou dos alimentos em diversos momentos: (I) O cumprimento da sentença ou decisão que fixa alimentos definitivos ou provisórios (arts. 528 a 533 do CPC). (II) A execução de alimentos estabelecidos em título executivo extrajudicial (arts. 911 a 913 do CPC). (III) O art. 1.072, V, do CPC revogou os arts. 16, 17 e 18 da Lei de Alimentos, que tratam do procedimento executivo. A petição inicial da ação de alimentos, além dos requisitos gerais do art. 319 do CPC, observa o disposto nos arts. 2º e 3º da Lei nº 5.478/1968. A petição inicial deve ser acompanhada de procuração, e, apesar da redação do art. 2º, § 3º, da Lei de Alimentos, é necessário que a parte tenha sua capacidade postulatória suprida por advogado ou defensor. Ao despachar a inicial, a tutela poderá ser apreciada inaudita altera pars, com a fixação de alimentos provisórios, que, se não forem pagos, estarão sujeitos ao cumprimento provisório, conforme disposto no art. 531, § 1º, do CPC. O réu será, então, citado para uma audiência, observando-se as formas de citação previstas no CPC. Os arts. 6º a 10 da Lei de Alimentos tratam de uma única audiência, de conciliação, instrução e julgamento. Porém, até mesmo em consonância com os procedimentos previstos no CPC, mais adequada é a designação audiência de mediação ou conciliação, que pode desdobrar-se em várias sessões. Não sendo obtida solução consensual, inicia-se o prazo de contestação, com oportuna designação de audiência instrutória. Esse desdobramento não vem em prejuízo do credor, pois já ocorreu a fixação de alimentos provisórios em sede liminar. Não há, na Lei de Alimentos, previsão de serem apresentadas alegações finais escritas, mas somente orais (art. 11 da lei), até porque é imposta renovação da proposta de conciliação (art. 11, parágrafo único, da lei). No entanto, havendo consenso entre as partes, com a vênia do juiz, é possível sua concessão, pelo prazo sucessivo de 15 dias (art. 364, § 2º, do CPC), para autor e réu. Existindo partes incapazes, dispõe o Ministério Público de igual prazo (arts. 178 e 698 do CPC). É possível também a estipulação de calendário para a prática dos atos processuais (art. 191 do CPC). Em qualquer dessas hipóteses, resta descabido designar nova audiência para a renovação da proposta de acordo. Proferida a sentença, julgado procedente o pedido, a apelação não terá efeito suspensivo, conforme previsto no art. 1.012, § 1º, II, do CPC e no art. 14 da Lei nº 5.478/1968. Assim, mesmo que seja interposto recurso de apelação, os alimentos fixados ou confirmados na sentença permanecem exigíveis, sendo a única ressalva se for concedido efeito suspensivo pelo magistrado. Alimentos gravídicos Tratando-se de alimentos gravídicos, desde a concepção do bebê até seu nascimento, o tema é regulado pela Lei nº 11.804/2008. Segundo o art. 2º da lei, o valor fixado deve ser suficiente para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto. Estão também incluídas as despesas referentes à alimentação especial, à assistência médica e psicológica, aos exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes. Por sua vez, tratando-se de alimento gravídico, o art. 7º prevê que o prazo para resposta do réu será de cinco dias. Aplica-se, no mais, o procedimento previsto na legislação processual civil, conforme o art. 11 da Lei de Alimentos Gravídicos. Execução de alimentos Ademais, caso não sejam pagos os alimentos, os valores ficarão sujeitos ao cumprimento de sentença. O tema tem tratamento nos arts. 528 a 533 do CPC. O procedimento prevê a possibilidade de desconto em folha, conforme o art. 529 do CPC. Prisão civil Além disso, é contemplada a possibilidade de prisão civil, mas, ao contrário do que se pode pensar, ela não se aplica sempre. Sua hipótese é restrita ao caso do art. 528, § 7º, do CPC e ao da Súmula nº 309 do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Então, somente nessa hipótese será cabível a previsão civil. Nos demais casos, os alimentos seguirão o procedimento de quantia certa. Ações locatícias A professora Larissa Pochmann discorre sobre os aspectos gerais das ações locatícias, assim como sobre a ação de despejo. Estão referidas na Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/1991)as ações de despejo, de consignação em pagamento de aluguel, revisional de aluguel e renovatória de locação. Vejamos suas características gerais: (I) Não se suspenderão durante as férias forenses, conforme regulado pelo art. 215, III, do CPC c/c art. 58, I, da Lei nº 8.245/1991. Cumpre, porém, aqui ressaltar que o STJ já decidiu que a interpretação do art. 58, I, da Lei nº 8.245/1991 deve ser restritiva, restando suspenso o prazo recursal durante as férias forenses (STJ, REsp. nº 1.414.092/PR, rel. min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª Turma, DJ 1/3/2016). Ação de despejo A especialização do procedimento da ação de despejo encontra-se na fase inicial, nos aspectos de purga da mora nos casos de falta de pagamento e desocupação liminar, e na fase executiva, que se concentra na notificação do réu e dos ocupantes do imóvel para que o desocupem no prazo fixado, sob pena de despejo (art. 63 da Lei do Inquilinato). (II) Têm como foro competente o da situação do imóvel, salvo a estipulação de foro de eleição (art. 58, II, Lei nº 8.245/1991). (III) Devem apresentar como valor da causa o correspondente a 12 meses de aluguel à época do ajuizamento da ação, conforme disposto no art. 58, III, da Lei do Inquilinato. A referida previsão, que acabou por trazer também para as ações de despejo, revisional e renovatória do enunciado da Súmula nº 449 do Supremo Tribunal Federal (STF). A exceção, prevista no próprio art. 58, III, da Lei do Inquilinato refere-se à ação de despejo em decorrência de extinção do contrato de trabalho, se a ocupação do imóvel pelo locatário for relacionada com seu emprego, quando o valor da causa será de três salários vigentes à época do ajuizamento. (IV) A apelação não tem efeito suspensivo previsto em lei, conforme disposto no art. 58, V, da Lei do Inquilinato. Evitando impedir a retomada do imóvel locado por longo tempo, eventual necessidade de efeito suspensivo deverá ser analisada pelo julgador, a partir da disposição do art. 1.012, § 4º, do CPC. A petição inicial deve vir instruída com o contrato de locação, e, tratando-se de ação fundada nos arts. 9º, IV, 47, IV, ou 53, II, da Lei nº 8.245/1991, a petição inicial deve ser instruída também com prova da propriedade. Liminar A liminar da ação de despejo não depende da comprovação da presença dos requisitos do art. 300 do CPC, sendo sua hipótese uma das previstas no art. 59, § 1º, da Lei nº 8.245/1991. Quando se tratar de liminar em virtude de falta de pagamento de aluguel, poderá haver a purga da mora, no prazo de 15 dias, a contar da desocupação voluntária (art. 59, § 3º, da lei). Na liminar, primeiro haverá a intimação para desocupar o imóvel em 15 dias (art. 59, § 1º, da lei), e somente depois haverá a desocupação forçada (art. 65 da lei). Apreciada a liminar, o réu será citado para contestar, observando-se o procedimento comum. O desfecho poderá ser abreviado, caso o locatário concorde com a desocupação do imóvel postulada pelo locador (art. 61 da Lei do Inquilinato). A concordância do réu levará ao pedido de despejo, com a fixação de um prazo de seis meses para a desocupação, a contar da desocupação, e a responsabilização do réu pelas custas e honorários. A isenção do réu ao pagamento de custas e honorários apenas ocorrerá nas locações residenciais, nas seguintes hipóteses: Primeira hipótese Denúncia vazia nas locações prorrogadas por prazo determinado, conforme previsto no art. 46, § 2º, da Lei do Inquilinato. Segunda hipótese Para uso próprio do locador, de seu cônjuge ou companheiro, ou para uso residencial de ascendente ou descendente (art. 47, III, da lei). Terceira hipótese Para demolição e edificação ou realização de obra que aumente a área construída (art. 47, IV, da lei). Nota-se, portanto, que a manifestação de aquiescência do locatário não precisa ser por escrito, podendo ocorrer a concordância tácita para aplicação da sistemática do art. 61 da Lei de Locações. Denúncia cheia versus denúncia vazia Tratando-se de denúncia vazia, a discussão ficará limitada às questões processuais (THEODORO JR., 2020, p. 845), enquanto, na denúncia cheia, a instrução da causa consiste na coleta de elementos de prova que demonstrem o enquadramento nas hipóteses legais. No despejo, primeiro se dará um prazo para desocupação voluntária do bem (art. 65 da Lei nº 8.245/1991), que constará no próprio mandado de despejo (art. 63 da lei). Após o prazo, sem que haja a desocupação, proceder-se-á ao despejo, com emprego de força policial e arrombamento, se necessário (art. 65, caput, da Lei nº 8.245/1991). O despejo é ato executivo, decorrente da sentença. Atenção! Ainda sobre o despejo, é importante pontuar quando ele ocorre por falta de pagamento. O descumprimento do dever de pagar aluguel cria para o locador o direito de rescindir a locação, recuperando a posse do bem. Não obstante haja controvérsia sobre a cobrança de aluguel e encargos a partir do procedimento das ações locatícias, Humberto Theodoro Jr. (2020, p. 848) destaca que o procedimento da ação de despejo poderia ser cumulado com o de cobrança de aluguel, conforme disposto no art. 62, I, da Lei nº 8.245/1991. Após ser ajuizada a ação de despejo por falta de pagamento, oportuniza-se ao inquilino a purga da mora, bastando que o locatário ou o fiador efetuem o depósito do valor atualizado do débito, independentemente de prévia autorização judicial, no prazo de 15 dias para contestação (art. 62, II, da Lei nº 8.245/1991). Após o depósito, o autor tem a oportunidade de manifestação. Porém, é importante destacar que esse procedimento de purga da mora, conforme disposto no art. 62, parágrafo único, da lei não é admitido se o locatário já houver utilizado essa faculdade nos 24 meses imediatamente anteriores à propositura da ação, referente ao mesmo contrato de locação. Caso não seja admitida a purga da mora ou o réu simplesmente não a faça, há a possibilidade de contestar o pedido. Pode-se indagar: Então, ou purga a mora ou contesta? É possível que purgue a mora, conteste ou faça ambos, pois se admitem, de forma concomitante, a purga da mora em relação a valores incontroversos e a contestação de valores controvertidos, o que não impediria o despejo, caso os valores não depositados fossem reconhecidos como devidos (STJ, REsp. nº 201.237/RJ, rel. min. Fernando Gonçalves, 6ª Turma, DJ 19/8/1999). Quando o despejo for por falta de pagamento, haverá o procedimento de despejo e um procedimento de quantia certa para a percepção dos aluguéis e acessórios da locação. Ação de consignação de aluguel e acessórios da locação A Lei nº 8.245/1991 prevê a utilização do procedimento da consignação, caso o locador se recuse a receber os débitos da locação. O procedimento da consignação em pagamento está previsto nos arts. 539 a 549 do CPC, mas a Lei do Inquilinato, além de aplicar de forma complementar as disposições do Código no que não forem incompatíveis com suas próprias disposições, previu ainda um procedimento para o caso de obrigações locatícias, inclusive com um depósito sui generis de aluguéis pelos inquilinos para moradias coletivas multifamiliares que sejam declaradas pelo poder público como em condições precárias. Esse depósito não tem previsão no CPC e somente pode ser levantado após a regularização do imóvel (art. 24, § 1º, da lei). Aquele que deve pagar os encargos da locação tem legitimidade para a consignação, bem como o fiador ou o sublocatário. O réu será o próprio locador. A consignatória pressupõe a mora do credor ou a impossibilidade de pagamento direto, e o procedimento tem como fonte complementar o disposto para a ação de consignação em pagamento nos arts. 539 a 549 do CPC. Aspectos procedimentais A petição inicial deve indicar os aluguéis, quais são os acessórios da locação e os respectivos valores, conforme previsto no art. 67, I, da Lei nº 8.245/1991. Estando a petição inicial em ordem, o autor será intimado para, no prazo de 24 horas, efetuar o depósito, sob pena de extinçãodo processo sem resolução do mérito (art. 67, II, da lei). O depósito das prestações que vencerem poderá ser feito no curso do processo, até a sentença, observando-se os respectivos vencimentos, conforme o art. 67, III, da lei. As matérias de contestação estão previstas no art. 67, V, da lei, podendo-se versar sobre: Ter sido justa a recusa; Não ter sido o depósito integral; Não ter havido recusa ou mora em receber a quantia devida; Não ter sido efetuado o depósito no prazo ou no lugar do pagamento. Se a alegação for de que o depósito não é integral Aplica-se o disposto no art. 67, VII, da lei, isto é, o autor poderá complementar o depósito inicial no prazo de cinco dias, contados da ciência do oferecimento da resposta; haverá acréscimo de 10% sobre o valor da diferença. Se ocorrer a complementação do depósito O juiz declarará quitadas as obrigações, elidindo a rescisão da locação, mas imporá ao autor- reconvindo a responsabilidade pelas custas e honorários advocatícios de 20% sobre o valor dos depósitos. O art. 67, VI, da Lei do Inquilinato prevê também o cabimento da reconvenção, podendo-se nela postular: O despejo. A cobrança dos valores objeto da consignatória ou da diferença do depósito inicial, na hipótese de ter sido alegado não ser o mesmo integral. O art. 67, parágrafo único da lei, permite o levantamento das importâncias depositadas sobre as quais não haja controvérsia, aplicável tanto ao depósito inicial quanto aos supervenientes, no curso da consignatória. Ação revisional de aluguel Os contratos de aluguel estão sujeitos à ação revisional, para que o valor seja reajustado ao mercado, conforme prevê o art. 19 da lei. A revisão se realizará nos termos dos arts. 68 a 70, desde que haja prazo de três anos, decorridos do contrato ou do acordo de locação anterior. Tanto o locador quanto o locatário podem iniciar o procedimento, sendo uma ação dúplice, em que cada um dos interessados pode assumir qualquer das posições da relação processual. O art. 68 dispõe que o procedimento seria o sumário, que não mais persiste no CPC. Assim, as causas ajuizadas a partir da vigência do CPC de 2015 deverão observar o procedimento comum. Aspectos procedimentais A petição inicial deve indicar o valor do aluguel cuja fixação é pretendida (art. 68, I, da lei), indicando- se também qual seria o preço que se considera compatível com o mercado. Ao despachar a petição inicial, o juiz poderá apreciar o pedido de fixação de aluguel provisório (art. 68, II), independentemente de perícia, a partir dos elementos dos autos. O próprio art. 68, II, da Lei do Inquilinato traz parâmetros para o arbitramento judicial liminar: Se a ação for ajuizada pelo locador Para majorar o valor do aluguel, o aluguel provisório não poderá superar 80% do valor pretendido para revisão. Se a ação for ajuizada pelo locatário Para reduzir o aluguel, o aluguel provisório não poderá ser 80% inferior ao valor do aluguel vigente. Haverá audiência de conciliação ou de mediação, mas, mesmo antes da audiência, o réu poderá requerer a revisão do aluguel provisório fixado, indicando os elementos para tanto (art. 68, III, da lei). O prazo para defesa somente começará a contar após frustrada a tentativa de solução consensual na audiência de conciliação ou de mediação. Na contestação, conforme previsto no art. 68, IV, poderá haver contraproposta, se houver discordância quanto ao valor pretendido. Será incentivada a tentativa de solução consensual. O juiz tentará a conciliação e, não sendo possível, será relevante a realização da prova pericial, que não será designada nos casos em que a revelia produza seus efeitos, ou se a controvérsia girar em torno apenas da prova documental já produzida. O valor do aluguel fixado retroage à data da citação, mas a exigibilidade das diferenças ocorrerá apenas a partir do trânsito em julgado (art. 69 da Lei nº 8.245/1991). O recurso contra sentença da revisional não tem efeito suspensivo, entrando imediatamente em vigor o valor de aluguel que houver sido fixado. O valor fixado na revisional de aluguel terá seu cumprimento nos próprios autos. Atenção! Se o pedido for julgado improcedente, o autor responderá pelos danos causados ao réu, caso haja aluguel provisório. Para a sucumbência, o STJ tem considerado o valor do aluguel para o qual se pleiteia a fixação (sobre o tema: STJ, REsp. nº 1.193.926/RS, rel. min. Antonio Carlos Ferreira, 4ª Turma, DJ 11/5/2016). Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! Ação de alimentos Módulo 2 - Vem que eu te explico! Ação revisional de aluguel Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (OAB – 2015 – XVII Exame de Ordem – Adaptada) Em ação de alimentos promovida por Yolanda em face de Aurélio, o juiz determinou que Aurélio deveria arcar, na condição de futuro pai, com os valores devidos à gestante durante a gravidez, destinados a cobrir as despesas adicionais decorrentes da gestação, fixando para tal a quantia “x”. A legislação atinente ao tema dá a Aurélio a possibilidade de defesa. Assinale a opção correta sobre o procedimento. A Além dos alimentos gravídicos, o juiz designará a data para a realização da audiência, sendo considerado o termo a quo para o curso do prazo de cinco dias para a defesa do réu. B O réu deverá ser informado da fixação dos alimentos gravídicos, de modo que o prazo de cinco dias será contado a partir da juntada do mandado de citação devidamente cumprido. C O momento para apresentação da defesa do réu, nesse caso, será a audiência de instrução e julgamento, que terá a data determinada na decisão que fixa os alimentos provisórios. D O prazo de 15 dias para o oferecimento de defesa terá início no dia da juntada do mandado que fixou e determinou o pagamento de alimentos gravídicos. E Não será cabível a fixação de alimentos no caso. Parabéns! A alternativa B está correta. A alternativa B é a única que reflete a previsão processual dos alimentos gravídicos, contemplada no art. 7º da Lei nº 11.804/2008. Aplica-se, no mais, o procedimento previsto na legislação processual civil, conforme o art. 11 da Lei de Alimentos Gravídicos. Questão 2 (TJDFT – 2008 – Juiz Substituto – Adaptada) Em ação de consignação de aluguel e acessórios da locação, regulada pela Lei nº 8.245/1991, o réu: A Somente pode contestar, sendo-lhe vedado reconvir. B Pode contestar e reconvir para pedir o despejo e a cobrança dos valores objeto da consignatória ou da diferença do depósito inicial, se alegar não ser o mesmo integral. C Pode contestar e reconvir apenas para a cobrança dos valores objeto da consignatória ou da diferença do depósito inicial, se alegar não ser o mesmo integral, não lhe sendo lícito reconvir para pedir o despejo, que requer ação autônoma. D Pode levantar, a qualquer momento, as importâncias depositadas, mesmo sobre elas pendendo controvérsia. E Não há matéria de defesa elencada na legislação para defesa do réu. Parabéns! A alternativa B está correta. A alternativa B contempla a previsão do art. 67, VI, da Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/1991). Na ação que objetivar o pagamento dos aluguéis e acessórios da locação mediante consignação, 3 - Juizados especiais Ao fim do módulo, você será capaz de reconhecer o procedimento dos juizados especiais e suas peculiaridades diante do procedimento comum. Princípios informadores A Lei nº 9.099/1995 dispõe, em seu art. 2º, sobre princípios informadores dos juizados especiais, que não se limitam aos juizados especiais em âmbito estadual, aplicando-se a todo o sistema dos juizados especiais. Esses princípios são: será observado o seguinte: além de contestar, o réu poderá, em reconvenção, pedir o despejo e a cobrança dos valores objeto da consignatória ou da diferença do depósito inicial, na hipótese de ter sido alegado não ser o mesmo integral. Oralidade SimplicidadeInformalidade Economia processual Celeridade O procedimento dos juizados especiais é eminentemente oral, minimizando a burocracia. Inclusive, o art. 14 da lei citada prevê que o pedido pode ser formulado por escrito ou oralmente, quando será reduzido a termo. Por sua vez, o art. 30 também prevê que a defesa poderá ser oral ou escrita. Outro princípio é a simplicidade, para aproximar o cidadão da tutela jurisdicional. O procedimento dos juizados especiais objetiva facilitar essa compreensão, instituindo procedimento simplificado e facilmente assimilável às partes, em que se dispensam maiores formalidades e se impedem certos incidentes do procedimento tradicional. A disposição legislativa dos juizados prevê, em seu art. 10, que não cabe intervenção de terceiros, vindo o CPC ressalvar, em seu art. 1.062, apenas o incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Ademais, o art. 31 da Lei nº 9.099/1995 prevê que não cabe reconvenção. A informalidade também é outra marca dos juizados especiais para tornar menos burocrático e mais rápido o processo. A figura do juiz leigo, que não se confunde com a do juiz togado, este último aprovado no concurso de provas e títulos do tribunal, aproxima o Poder Judiciário da população. Ademais, o art. 13 da Lei nº 9.099/1995 prevê que os atos processuais serão válidos, se atingirem sua finalidade. Os princípios da economia processual e da celeridade contribuem para a efetividade do processo, inclusive com um procedimento que tem menor quantidade de atos processuais em comparação com o procedimento comum. Inclusive, em muitos juizados, não havendo a conciliação, na sequência já se realiza a audiência de instrução e julgamento. Os juizados especiais têm forte estímulo à conciliação e à transação, tentando, a todo momento, a solução consensual entre as partes. Juizados especiais cíveis (Lei nº 9.099/1995) A professora Larissa Pochmann discorre sobre as principais características dos juizados especiais cíveis. Competência Os juizados especiais cíveis são competentes para as causas de menor complexidade. E o que seriam essas causas de menor complexidade? Na doutrina, existe posicionamento de que a menor complexidade para fins de competência dos juizados especiais estaria relacionada com a desnecessidade de perícia (ROCHA, 2020). Por sua vez, também há o posicionamento, inclusive agasalhado pelos tribunais, de que as causas de menor complexidade seriam aquelas listadas nos incisos do art. 3º da Lei nº 9.099/1995. Assim, a competência dos juizados especiais contemplaria as hipóteses ali previstas. Já o Fórum Nacional dos Juizados Especiais (Fonaje), reunião dos juízes togados para a discussão de temas inerentes aos juizados, com a elaboração de enunciados não vinculantes, prevê, no Enunciado nº 54, que a menor complexidade é em relação ao objeto da perícia, ao que precisaria ser analisado, e não à mera exigência da perícia. Exemplo Uma perícia grafotécnica, de aferição de uma letra de uma pessoa, não seria complexa como uma perícia ambiental ou de engenharia para que a causa tramitasse nos juizados especiais. Em relação aos incisos do art. 3º, é importante destacar que os juizados especiais cíveis são uma faculdade do autor (Enunciado nº 1 do Fonaje: “O exercício do direito de ação no Juizado Especial Cível é facultativo para o autor”). O art. 3º, I, da Lei nº 9.099/1995 prevê a competência dos juizados especiais para causas cujo valor seja de até 40 salários mínimos. Chama-se “teto” dos juizados especiais. Sendo a causa de competência do juizado especial, ele será competente para o cumprimento do próprio julgado, conforme o art. 3º, I, da Lei nº 9.099/1995. Ademais, o juizado também será competente para a execução de títulos executivos extrajudiciais de até 40 salários mínimos, conforme o art. 3º, § 1º, II, da lei. Alguns questionamentos podem surgir: Questão 1 Quero ajuizar uma ação cujo valor da causa é de até 40 salários-mínimos. Preciso ajuizar no juizado especial? Digite sua resposta aqui Exibir Solução Questão 2 Se, quando ajuizei a ação, o valor da causa era de até 40 salários-mínimos, mas depois, em virtude de juros, correção monetária e multa, o valor a ser percebido superar 40 salários, o cumprimento deverá ser realizado no juizado especial? Digite sua resposta aqui Exibir Solução Questão 3 Os juizados são competentes para processar e julgar procedimentos especiais? Digite sua resposta aqui Exibir Solução Os juizados especiais são também competentes para as causas enumeradas no art. 275, II, do CPC (art. 3º, II, da Lei nº 9.099/1995), aí se referindo ao procedimento sumário do CPC de 1973. O CPC de 2015 tratou do tema no art. 1.063, mantendo a competência dos juizados especiais para as casas que, no CPC de 1973, tramitariam no procedimento sumário. O art. 3º, § 2º, da Lei nº 9.099/1995 trata das causas excluídas da competência dos juizados especiais. Partes e terceiros O art. 8º da Lei nº 9.099/1995 dispõe, em seu caput, sobre quem não poderá ser parte no juizado especial, em rol taxativo. Assim, somente não podem figurar como partes nos juizados especiais os previstos no caput. Relembrando Nesse caso, se Pedrinho, ainda que devidamente representado por sua genitora, for ajuizar ação em face da empresa XYZ, ainda que o valor da causa seja de até 40 salários-mínimos, não deverá tramitar no juizado especial. Por sua vez, os que constam no § 1º, que podem figurar como partes, são em um rol exemplificativo. Por exemplo, o condomínio e o espólio ali não estão previstos, podem ser partes, conforme preceituado nos Enunciados nº 9 do Fonaje, para o condomínio, e nº 148, para o espólio, desde que não haja interesse de incapaz. É admissível o litisconsórcio, mas o art. 10 da Lei nº 9.099/1995 veda as modalidades de intervenção de terceiros. Porém, ele se referia às modalidades de intervenção de terceiros do CPC de 1973. No CPC de 2015, algumas outras modalidades foram previstas como modalidade de intervenção de terceiros, vindo o art. 1.062 do CPC a ressalvar como cabimento de modalidade de intervenção de terceiros do incidente de desconsideração, consolidado no Enunciado nº 60 do Fonaje. Assistência por advogado e custas O art. 9º da Lei nº 9.099/1995 prevê que, nas causas cujo valor seja superior a 20 salários-mínimos, é necessário a assistência por advogado. Até 20 salários, a parte pode estar acompanhada ou não por advogado, mas por ocasião da interposição de recurso deve estar acompanhada. No juizado especial, conforme prevê o art. 55 da Lei nº 9.099/1995, até a prolação da sentença não serão cobradas custas, nem serão fixados honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de má-fé. Por sua vez, havendo a interposição de recurso, o recorrente, vencido, pagará as custas e os honorários de advogado, que serão fixados entre 10% e 20% do valor de condenação, ou, não havendo condenação, do valor corrigido da causa. A execução é regulada no art. 55, parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995. Procedimento O art. 12-A da Lei nº 9.099/1995 dispõe que, nos juizados especiais, tal como já era contemplado no CPC, os prazos serão contados em dias úteis. O procedimento se inicia com o ajuizamento da ação, dispondo o art. 14 que o pedido poderá formulado por escrito ou de forma oral, e, se formulado oralmente, será reduzido a termo na secretaria do juizado. É admissível a cumulação de pedidos, desde que se respeitem os limites da competência do juizado especial, e o pedido formulado pode ser genérico, conforme o art. 14, § 2º, desde que até a sentença seja possível determiná-lo, pois a lei veda a sentença genérica (art. 38, parágrafo único). O réu será citado, conforme previsto no art. 18, sendo vedada a citação por edital, conforme o art. 18, § 2º. Haverá audiência de conciliação, que, nos termos do art. 22, § 2º, da Lei nº 9.099/1995, pode ser realizada por meio eletrônico. A ausência do réu na audiência de conciliação, ou até mesmo na audiênciade instrução e julgamento, significará revelia, conforme o art. 20 da Lei nº 9.099/1995. Ausente o réu na audiência de conciliação, será proferida sentença, nos termos do art. 23. A demanda, no juizado especial, terá sua instrução realizada pelo juiz leigo, que, segundo o art. 7º, é auxiliar da justiça, recrutado entre advogados com mais de cinco anos de experiência. Na prática de muitos juizados, a contestação deve ser protocolada nos autos até o dia anterior à audiência de conciliação, sendo disponibilizada para a parte autora se manifestar, quando não há acordo. Porém, o Enunciado nº 10 do Fonaje prevê que a contestação poderá ser oferecida até a audiência de instrução e julgamento. Em sua resposta, conforme preceituado nos arts. 30 e 31 da Lei nº 9.099/1995, o réu poderá oferecer contestação, reunindo toda a matéria de defesa, ou alegação de impedimento ou suspeição. Não será cabível reconvenção, mas o réu poderá formular pedido em face do autor, desde que o pedido formulado observe a competência dos juizados especiais. Na audiência de instrução e julgamento, tratada nos arts. 27 a 29, serão ouvidas as partes, produzida a prova oral, e, em seguida, se não for possível proferir sentença em audiência, os autos serão conclusos para sentença. As provas estão tratadas nos arts. 32 a 37, destacando-se, em relação à prova testemunhal, que a Lei nº 9.099/1995 limita o número de testemunhas. Ao contrário do CPC, que prevê, no art. 357, § 7º, no máximo 10 testemunhas, são três por fato no art. 34 da Lei nº 9.099/1995. Após o término da instrução, o juiz leigo elaborará um projeto de sentença, que precisará ser homologado pelo juiz togado, conforme o art. 40. A sentença deverá ser líquida, e, em prol da economia e da celeridade, o art. 38 prevê a dispensa do relatório. Não se dispensa a fundamentação, mas, em prol da oralidade, a fundamentação poderá ser oral, conforme o Enunciado nº 46 do Fonaje. Recursos, uniformização de jurisprudência e execução As decisões interlocutórias proferidas nos juizados previstos na Lei nº 9.099/1995 são passíveis da oposição de embargos de declaração, que, nos termos dos arts. 48 e 50 da referida lei, além de cabíveis nas mesmas hipóteses delineadas pelo CPC, também interrompem o prazo recursal. A impugnação será feita por ocasião da recorribilidade da sentença, já tendo o STF decidido no RE nº 576.847/BA pelo não cabimento do mandado de segurança contra as decisões interlocutórias, justamente pela possibilidade de realizar sua impugnação após a prolação da sentença. A sentença será passível da oposição de embargos de declaração, observadas as disposições dos arts. 48 e 50 da Lei nº 9.099/1995, e da interposição de recurso inominado, que, nos termos dos arts. 42 e 43, não tem efeito suspensivo previsto em lei e tem o prazo de 10 dias úteis. O recurso inominado será decidido pela turma recursal dos juizados especiais, composta de juízes togados, de carreira. E, no julgamento da turma recursal, caso vislumbrada uma das hipóteses legais de omissão, obscuridade, contradição ou erro material, será possível a oposição de embargos de declaração, ou, caso se enquadre nas hipóteses previstas no art. 102, III, da CF/1988, a interposição de recurso extraordinário. Saiba mais A Lei nº 9.099/1995 não contemplou a uniformização de jurisprudência, tal como previsto para os juizados federais e da Fazenda Pública, vindo o STF, no julgamento do RE nº 571.572/BA, reconhecer a relevância dessa uniformização. De acordo com a Resolução nº 12/2009, art. 1º, seriam processadas no STJ “as reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, suas súmulas ou orientações decorrentes do julgamento de recursos especiais”. No entanto, após o advento do CPC de 2015, a Resolução nº 12/2009 foi revogada e substituída pela Resolução nº 03/2016, que, em seu art. 1º, restringiu o cabimento da reclamação dirigida a essa corte na hipótese de decisão de turma recursal estadual (ou do Distrito Federal) que contrariar jurisprudência do STJ consolidada em: a) incidente de assunção de competência; b) incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR); c) julgamento de recurso especial repetitivo; d) enunciados das súmulas do STJ; e e) precedentes do STJ. A execução está prevista nos arts. 52 e 53 da Lei nº 9.099/1995, e, de acordo com o Enunciado nº 97 do Fonaje, aplica-se a multa prevista no CPC para o cumprimento de sentença, quando se trata de título executivo judicial. Conforme ainda o Enunciado nº 142, tratando-se de título judicial, o prazo para oferecimento de embargos será de 15 dias e fluirá da intimação da penhora. Juizados especiais federais Considerando-se o microssistema dos juizados especiais, destacam-se disposições peculiares do juizado federal, aplicando-se, no que não for incompatível, a previsão da Lei nº 9.099/1995, referente aos juizados especiais. A competência dos juizados especiais federais está prevista no art. 3º da Lei nº 10.259/2001, sendo eles competentes para processar e julgar causas de até 60 salários-mínimos. Essa competência é absoluta, conforme previsto no art. 3º, § 3º, da Lei nº 10.259/2001. Estão excluídas da competência dos juizados as causas previstas no art. 3º, § 1º, da Lei nº 10.259/2001. Quem pode ser parte está previsto no art. 6º da Lei nº 10.259/2001, e, em caso de litisconsórcio entre a Fazenda Pública Federal, Estadual e Municipal, resta assentada a competência dos juizados federais. A restrição do art. 8º, caput, da Lei nº 9.099/1995 não se aplica ao juizado federal. Assim, um incapaz, devidamente representado por sua genitora, poderá ajuizar ação em juizado federal, caso o valor de sua causa seja de até 60 salários mínimos. Nos juizados federais, não há prazo em dobro, conforme o art. 9º. Destaca-se ainda que o art. 5º da Lei nº 10.259/2001 prevê a recorribilidade das decisões que versem sobre tutela provisória. A Lei nº 10.259/2001 previu, em seu art. 14, o procedimento de uniformização de jurisprudência. Este será aplicável para uniformização de interpretação de lei federal, quando houver divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por turmas recursais na interpretação da lei. O referido procedimento não será aplicável quando a divergência versar sobre questão de direito processual. A execução está prevista nos arts. 16 e 17 da Lei nº 10.259/2001, e, tratando-se de quantia certa em face da Fazenda Pública, o pagamento será feito por precatório ou por Requisição de Pequeno Valor (RPV). Juizados da Fazenda Pública A Lei nº 12.153/2009 forma o microssistema dos juizados especiais, dispondo sobre o juizado da Fazenda Pública, em estrutura similar à da Lei nº 10.259/2001. A competência dos juizados especiais federais está prevista no art. 2º da Lei nº 12.153/2009, sendo eles competentes para processar e julgar causas de até 60 salários-mínimos. Essa competência é absoluta, conforme previsto no art. 2º, § 4º, da Lei nº 12.153/2009. Estão excluídas da competência dos juizados as causas previstas no art. 2º, § 1º, da Lei nº 12.153/2009. Quem pode ser parte está previsto no art. 5º da Lei nº 12.153/2009, sendo rés a Fazenda Pública Estadual e Municipal. A restrição do art. 8º, caput, da Lei nº 9.099/1995 também não se aplica ao juizado federal. Não há prazo em dobro para a Fazenda Pública, conforme o art. 7º. Destaca-se ainda que o art. 4º da Lei nº 12.153/2009 prevê a recorribilidade das decisões que versem sobre tutela provisória. A Lei nº 12.153/2009 previu, em seus arts. 18 e 19, o procedimento de uniformização de jurisprudência. Este será aplicável para uniformização de interpretação de lei federal, quando houver divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por turmas recursais na interpretação da lei. O referido procedimento não será aplicável quando a divergência versar sobre questão de direito processual. A execuçãoestá prevista nos arts. 12 e 13 da Lei nº 12.153/2009, e, tratando-se de quantia certa em face da Fazenda Pública, o pagamento será feito por precatório ou por Requisição de Pequeno Valor (RPV). Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 - Vem que eu te explico! Recursos, uniformização de jurisprudência e execução Módulo 3 - Vem que eu te explico! Juizados especiais federais Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (MPE/AL – 2012 – Adaptada) No que concerne aos aspectos processuais dos juizados especiais cíveis previstos na Lei nº 9.099/1995, é correto afirmar que: A Têm competência absoluta para o julgamento de causas de até 40 salários- mínimos. B Os incapazes podem ser partes no processo, se estiverem representados pelos pais ou tutores. C Serão admitidas a denunciação da lide e a assistência. D Tratando-se de pedidos cumulativos, a soma poderá ultrapassar o limite de 40 salários-mínimos. E Não se fará citação por edital, ainda que o réu se encontre em local incerto e não sabido. Parabéns! A alternativa E está correta. A alternativa E está correta, em virtude da previsão do art. 18, § 2º, da Lei nº 9.099/1995, que veda a citação por edital. Questão 2 (PC/BA – Escrivão – 2018) Com relação à competência do juizado especial federal prevista na Lei nº 10.259/2001 (juizados especiais cíveis e criminais no âmbito da Justiça Federal), é correto afirmar que: A Compete processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de 40 salários-mínimos, bem como executar suas sentenças. B Incluem-se na competência as causas sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais. C No foro onde estiver instalada vara do juizado especial, sua competência é relativa. Considerações finais Procedimentos especiais têm um iter diferenciado do procedimento comum, em função do direito material tratado. Esse procedimento diferenciado envolve modificações, como a explicitação dos requisitos materiais e processuais para que o procedimento possa ser adotado, a delimitação do tema da inicial e da contestação e a ampliação ou redução de prazos. Os procedimentos especiais estão previstos no CPC, nos arts. 539 a 770, e também na legislação esparsa. Esses procedimentos podem ser ainda de legislação contenciosa, quando há a lide e partes, ou de jurisdição voluntária, quando não há lide e trata-se de interessados. D Incluem-se na competência as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis. E Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, a soma de 12 parcelas não poderá exceder o valor de 60 salários-mínimos. Parabéns! A alternativa E está correta. A alternativa E é a única que, de acordo com o art. 3º, § 2º, da Lei nº 10.259/2001, está correta, pois esse dispositivo legal prevê que, quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de competência do juizado especial, a soma de 12 parcelas não poderá exceder o valor de 60 salários-mínimos. Procedimentos especiais de jurisdição contenciosa Agora, com a palavra a professora Larissa Pochmann, doutora em Direito Processual Civil, para apresentar algumas questões práticas sobre o conteúdo estudado. Vamos ouvir! Referências BUENO, C. S. Manual de Direito Processual Civil. 7. ed. São Paulo, SP: Saraiva, 2021. MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Curso de processo civil. 6. ed. São Paulo, SP: RT, 2020. PINHO, H. D. B. Manual de Direito Processual Civil contemporâneo. 3. ed. São Paulo, SP: Saraiva, 2021. ROCHA, F. B. Manual dos juizados especiais cíveis estaduais: teoria e prática. Rio de Janeiro, RJ: Atlas, 2020. E-book. SILVA, R. A. da; LAMY, E. Comentários ao CPC: artigos 539 a 673. São Paulo, SP: RT, 2017. THEODORO JR., H. Curso de processo civil. 55. ed. São Paulo, SP: Forense, 2020. v. II. Explore + Para saber mais sobre os juizados especiais cíveis, vá ao canal da Advocacia-Geral da União no YouTube, AGU Explica, e assista ao vídeo sobre o tema. Se quiser expandir seus conhecimentos sobre turbação, esbulho e ameaça, também no canal da Advocacia-Geral da União no YouTube, AGU Explica, há vídeo sobre o assunto. Para entender com detalhes os procedimentos especiais no CPC de 2015, busque o canal da Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais (OAB/MG) no YouTube e veja o vídeo O novo CPC – procedimentos especiais no novo CPC, de Gustavo Chalfun. Ainda sobre os procedimentos especiais, procure na internet e leia o artigo Novas reflexões em torno da teoria geral dos procedimentos especiais, de Heitor Vitor Mendonça Sica. Ele está no site GENJurídico.com.br. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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