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Recurso em sentido estrito e apelação Recurso em sentido estrito 1. Conceito O recurso em sentido estrito (RESE) é a forma de impugnação de uma decisão judicial proferida ao longo do processo. Melhor explicando, trata-se de uma forma de atacar decisões interlocutórias expressamente previstas no art. 581 do CPP, sendo certo que, uma vez interposto o recurso, a lei faculta ao próprio juiz recorrido o reexame da questão recorrida (art. 589, CPP) antes que a mesma seja submetida a reapreciação na segunda instância. Portanto, a título de exemplo, imaginemos que um juiz não receba a denúncia oferecida pelo órgão do Ministério Público, poderá o promotor de justiça em exercício naquele juízo impugnar a referida decisão, com fundamento no art. 581, inciso I do CPP. Uma vez interposto o recurso em sentido estrito, poderá a juiz, após a resposta da parte recorrida, reformar ou manter a decisão atacada (art. 589, CPP)1. 2. Cabimento Passemos agora à análise dos casos em que o recurso em sentido estrito é cabível e adequado para impugnar a decisão interlocutória. Certo é que as decisões que comportam o manejo do recurso em análise estão expressamente previstas em lei, na maioria dos casos, nos incisos do art. 581 do CPP, sem prejuízo de outras previsões legais, como é o caso do cabimento do RESE no art. 294, § único da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro). Destacamos, contudo, que nem todas as hipóteses previstas no art. 581 do CPP são atualmente passíveis de impugnação por meio de RESE. Isso porque a Lei de Execuções Penais (Lei 7.210/84) revogou tacitamente os casos em que era cabível o recurso em sentido estrito em sede de execução penal. Assim, a partir da publicação da Lei 7.210/84, os casos que se referem às decisões no âmbito da execução da pena na Vara de Execuções Penais são de competência do juiz da execução, e são desafiáveis por meio do recurso de agravo em execução (art. 197 da Lei 7.210/84). 3. Decisões previstas no art. 581 do CPP que não mais comportam o manejo do recurso em sentido estrito 1 Trata-se do juízo de retratação que será estudado no item 5.3.6 deste capítulo. Reforçamos que, via de regra, as decisões que comportam recurso em sentido estrito estão previstas no rol do art. 581 do Código de Processo Penal. Contudo, neste tópico do estudo, examinaremos os casos que estão elencados no referido dispositivo legal que não mais comportam o RESE, em razão da publicação da Lei de Execuções Penais, que levou a competência para a apreciação dos referidos casos para o juiz da execução. Em apertada síntese são as decisões tomadas enquanto o apenado está cumprindo a pena que foi imposta em sede de sentença condenatória. Assim, o juiz da execução, a título de exemplo, decidirá sobre incidentes como remição de pena por trabalho ou estudo, progressão de regime, livramento condicional, unificação de penas etc. Como podemos observar, não mais comportarão recurso em sentido estrito: a) no caso do inciso XI, que prevê o cabimento de RESE para a decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena (sursis). A decisão que concede ou denega o sursis (art. 77, CP) pode ser prolatada em 2 hipóteses: (I) na sentença penal condenatória; ou (II) no bojo da fase de execução penal. No primeiro caso a sentença deverá ser impugnada por meio de recurso de apelação (art. 593, §4º, CPP) e não o recurso em sentido estrito; ao passo que no segundo caso o recurso cabível será o de agravo em execução (art. 197, Lei de Execuções Penais), na medida em que a decisão é prolatada pelo juiz da execução. Por fim, a decisão que revoga o sursis será sempre impugnada por meio de agravo em execução2. b) no caso do inciso XII, que prevê o RESE para a decisão que conceder, negar ou revogar livramento condicional, como a decisão a respeito do pleito ou da revogação de livramento condicional (direito público e subjetivo do apenado, desde que preenchidos os requisitos para a sua concessão, de antecipar a liberdade antes do término da pena privativa de liberdade)3 está no âmbito da execução penal, a competência será do juiz da execução, e o recurso cabível será o agravo em execução (art. 197, Lei 7.210/84); c) no inciso XVII, que prevê como forma de impugnação o RESE para a decisão sobre a unificação de penas, por se tratar de decisão no âmbito da execução da pena privativa de liberdade, a competência será do juiz da execução penal. A unificação das penas ocorre quando o apenado é condenado por 2 ou mais crimes e é necessário somar as penas, a fim de possibilitar o cálculo das frações 2 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 1015. 3 ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução penal: teoria crítica. São Paulo: Saraiva, 2016, p.385. necessárias para a obtenção de direitos como, por exemplo, a progressão de regime e o livramento condicional. Portanto, será cabível agravo em execução penal (art. 197, Lei 7.210/84); d) no inciso XIX, que faz previsão de RESE para a decisão que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado a sentença penal condenatória, por se tratar de decisão no âmbito da execução da pena privativa de liberdade, a competência será do juiz da execução penal. Desta forma, será cabível agravo em execução penal (art. 197, Lei 7.210/84); e) na hipótese do inciso XX, que prevê o cabimento de RESE para a decisão que impuser medida de segurança por transgressão de outra, a competência será do juiz da execução penal. Lembramos que a medida de segurança é aplicável àquele que comete injusto penal e tem a sua culpabilidade afastada na forma do art. 26 do Código Penal (inimputabilidade por doença mental). Por conseguinte, será adequado o agravo em execução penal (art. 197, Lei 7.210/84); f) no inciso XXI, que prevê o RESE para a decisão que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774; a decisão também é de competência do juiz da execução penal, será cabível agravo em execução penal (art. 197, Lei 7.210/84); g) na decisão do inciso XXII, que revogar a medida de segurança; a competência também será do juiz da execução penal. Portanto cabível agravo em execução penal (art. 197, Lei 7.210/84); h) nos casos do inciso XXIII, a decisão que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação, repetimos o comentário acima, sendo possível cabível agravo em execução penal (art. 197, Lei 7.210/84); i) por fim, no inciso XXIV, na decisão que converter a multa em detenção ou em prisão simples, a competência mais uma vez será do juiz da execução penal. No que tange a esta hipótese, é importante recordar que o art. 51 do CP determinou não ser mais possível a conversão de multa em pena privativa de liberdade. Ainda assim, caso esta decisão seja tomada será cabível o agravo em execução penal (art. 197, Lei 7.210/84). 4. Decisões desafiáveis por recurso em sentido estrito Conforme o disposto no art. 581 do CPP, caberá recurso em sentido estrito das seguintes decisões: ➢ Inciso I - que não receber a denúncia ou a queixa http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art774 Conforme a disposição legal, caberá recurso em sentido estrito da decisão que rejeitar a denúncia ou queixa nas hipóteses do art. 395 do CPP, já estudadas no capítulo I. Contudo, a decisão que recebe a petição inicial (denúncia ou queixa) é inadequado o RESE, somente sendo possível para a defesa a impetração de habeas corpus4. ➢ Inciso II - que concluir pela incompetência do juízo Quando o juiz se considerar incompetente para processar e julgar o processo, caberá RESE com fundamento neste inciso. Contudo, quando esta decisão for tomada nos autos de uma exceção de incompetência caberá recurso em sentido estrito com fundamento no inciso III do presente artigo. Caberá, igualmente,o RESE no caso das decisões de desclassificação própria proferidas pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, uma vez que conclui também pela incompetência do juízo. Em outras palavras, quando o juiz presidente concluir, na primeira fase do procedimento do júri, que não se trata de um crime doloso contra vida, também estará concluindo que é incompetente para o julgamento da causa e será cabível RESE para atacar esta decisão. ➢ Inciso III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição No caso das decisões de exceção de incompetência, ilegitimidade da parte, litispendência e coisa julgada será cabível o RESE (art. 95, CPP). ➢ Inciso IV – que pronunciar o réu Trata-se de uma decisão interlocutória mista não terminativa, que ocorre na primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri quando juiz presidente estiver convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação do acusado nos crimes dolosos contra a vida. Uma vez pronunciado o acusado, este será submetido a julgamento em plenário (segunda fase do procedimento do júri) por um conselho de sentença composto por jurados leigos. Com essa decisão inicia-se a segunda fase do Tribunal do Júri. ➢ Inciso V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante Nos casos em que o interesse recursal diga respeito a acusação, são casos de interposição de RESE: (I) concessão de liberdade provisória com arbitramento de fiança; (II) concessão de liberdade provisória sem fiança; (III) indeferimento de pedido de prisão preventiva (art. 312, CPP); e (IV) decisão que relaxa a prisão ilegal. 4 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 1105., p. 1010. Destaque-se que caberá interposição de RESE pela defesa nos seguintes casos: (I) indeferimento de pedido de liberdade provisória com arbitramento de fiança; (II) indeferimento de liberdade provisória sem arbitramento de fiança; (III) negativa de reconhecimento de pedido de relaxamento de prisão. Importante salientar que, inobstante o Código de Processo Penal indique o cabimento de interposição de RESE pela defesa nos casos acima indicados, evidentemente será mais interessante a impetração de habeas corpus, uma vez que em todas as hipóteses indicadas pelo inciso V, há evidente prejuízo ao direito fundamental à liberdade de locomoção, além da ação constitucional ter prioridade de tramitação. Inciso VI - (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008) ➢ Inciso VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor Uma vez concedida a fiança, o afiançado terá a obrigação de comparecer ao juízo periodicamente ou quando intimado. Se o afiançado desatender a estas determinações impostas pelo magistrado, a fiança será considerada como quebrada. Neste sentido, o art. 341 do CPP determina que a fiança será considerada como quebrada quando o afiançado, regularmente intimado para ato do processo: (I) deixar de comparecer, sem motivo justo; (II) se deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do processo; (III) quando descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança (art. 319, CPP); (IV) resistir injustificadamente a ordem judicial; ou, por fim, (V) quando praticar nova infração penal dolosa. ➢ Inciso VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade O art. 107 do Código Penal prevê um rol exemplificativo de causas de extinção da punibilidade. Em outras palavras, não se trata de rol taxativo, devendo ser incluídas em sua interpretação o decurso do prazo do sursis, da suspensão condicional do processo e do livramento condicional5. A decisão que decreta a extinção da punibilidade é uma decisão declaratória de extinção da punibilidade, e, em regra, esta hipótese será de recurso manejado pela acusação, pois não há para a defesa nenhum gravame que legitime a sua interposição6. Cumpre observar que caso a decisão que decrete a extinção da punibilidade seja prolatada no bojo da fase de execução penal, como a decisão será proferida pelo juízo da Vara de Execuções Penais (VEP), o recurso cabível será o agravo em execução (art. 197, CP). 5 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1710. 6 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 1105., p. 1014. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11689.htm#art4 ➢ Inciso IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade Na medida em que, normalmente, é a defesa que faz o pedido de reconhecimento de extinção da punibilidade, este recurso é por ela (defesa técnica) interposto. No caso do inciso IX estamos diante da situação oposta à do inciso VIII e, portanto, tudo o que foi falado sobre causas extintivas da punibilidade pode ser aproveitado pelo leitor. Em termos de prática penal, será mais interessante neste caso para a defesa a impetração de HC. ➢ Inciso X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus Este inciso deverá ter a interpretação restrita a hipótese do pedido de habeas corpus ser impetrado perante o juiz de primeira instância, normalmente em caso em que o delegado de polícia figura como autoridade coatora, sem excluirmos outras hipóteses possíveis. Caso seja concedido o writ o legitimado ativo será o Ministério Público. Já se o remádio constitucional for indeferido, poderá a defesa interpor RESE com fulcro no inciso em exame. Forçoso reconhecer que a hipótese de se recorrer em sentido estrito da decisão que denega o HC é bem remota, uma vez que normalmente o que é feito pela defesa técnica é impetrar novo habeas corpus, desta vez para o órgão de segundo grau tendo como fundamento o ato coator proferido pelo juiz. Inciso XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008) Inciso XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional (revogado tacitamente pela Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84) ➢ Inciso XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte Em que pese o dispositivo afirmar que é cabível o RESE na decisão que anula o processo da instrução, o termo deve ser interpretado de forma ampla, ou seja, diante da anulação do processo, mesmo que antes da fase instrutória, o recurso adequado será este. Devemos destacar que a utilização do RESE é residual nos casos em que a decisão judicial anular o processo, vale dizer, sua interposição somente será possível se a decisão que anulou o processo não for em sede de sentença, hipótese em que será adequada a interposição de apelação7. Em outras palavras, se na sentença o juiz anular o processo, no todo ou em parte, o recurso cabível será a apelação e não o RESE. 7 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1714. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11689.htm#art4 Destaque-se, por fim, que na prática a defesa também poderá, dependendo do caso, impetrar habeas corpus nestes casos. ➢ Inciso XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir; No julgamento dos crimes dolosos contra a vida, que são de competência do Tribunal do Júri, a lista geral que decorre do alistamento dos jurados (arts. 425 e 426, CPP) é publicada pela imprensa oficial até o dia 10 de outubro de cada ano. Trata-se de recurso que pode ser interposto por qualquer um do povo (art. 426, §1º, CPP) dentro da lógica democrática do Júri. Neste sentido, da decisão que incluir ou excluir jurado da lista geral caberá a interposição de RESE (art. 586, § único, CPP), excepcionalmente no prazo de 20 dias,contado da publicação da lista dos jurados8. ➢ Inciso XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta; Neste caso, estamos diante da hipótese em que o juiz de primeira instância prolatou uma sentença da qual uma das partes recorreu através de uma apelação. Caso o juízo a quo venha a denegar a admissibilidade deste (p.ex. se a considerou intempestiva ou declarou o recorrente como parte ilegítima) será cabível a interposição de RESE. Outra hipótese, neste caso, é a do juiz julgar deserta a apelação. Neste caso, com a edição da Lei 12.403/11 que revogou o antigo art. 595 do CPP, a deserção ficou restrita a falta de pagamento das custas recursais (preparo)9. Advertimos que, em regra, o recurso para impugnar decisões que denegam interposição de recurso no direito processual brasileiro é a carta testemunhável (art. 639, CPP)10 e, consequentemente, no caso de denegação de apelação será cabível o RESE. ➢ Inciso XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial; As questões prejudiciais estão previstas nos arts. 92 e 93 do CPP. Deve ser esclarecido que não cabe ao juiz da causa decidir sobre elas, mas apenas verificar o nível de prejudicialidade que elas têm em relação a decisão a ser proferida no processo criminal. Somente decidirá sobre a suspensão do feito até que elas sejam resolvidas na esfera cível11. O exemplo que podemos citar é o caso de alguém estar sendo processado por crime de bigamia (art. 235, CP) e a defesa do acusado argui como tese 8 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 1105., p. 1014. 9 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 1105., p. 1016. 10 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1714. 11 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 1105., p. 1018. de defesa a nulidade do primeiro casamento12. Como a questão relativa à analise da (in)validade do matrimônio anterior só pode ser resolvida por um juiz cível, o juízo criminal deverá suspender o processo crime até que a controvérsia cível seja resolvida. Assim, o RESE terá como objetivo impugnar a decisão do juiz que determinou a suspensão do processo na hipótese em análise. Inciso XVII - que decidir sobre a unificação de penas (revogado tacitamente pela Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84) ➢ Inciso XVIII - que decidir o incidente de falsidade O incidente de falsidade está previsto nos arts. 145/148 do CPP. Sendo arguida a falsidade de algum documento que esteja nos autos, o magistrado determinará a autuação da impugnação em apartado, sendo certo que poderá reconhecer a falsidade determinando o seu desentranhamento dos autos; ou não acolher o pedido decidindo pela manutenção do documento nos autos. Desta decisão caberá a interposição de RESE. Inciso XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado (revogado tacitamente pela Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84) Inciso XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra (revogado tacitamente pela Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84) Inciso XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774 (revogado tacitamente pela Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84) Inciso XXII - que revogar a medida de segurança (revogado tacitamente pela Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84) Inciso XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação (revogado tacitamente pela Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84) Inciso XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples (revogado tacitamente pela Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84) 5.3.5. Prazos O art. 586 do CPP determina que o recurso em sentido estrito deve observar o prazo de 5 dias para a sua interposição, sendo este o momento no juízo de admissibilidade para o magistrado aferir a tempestividade ou não do recurso. Este prazo deverá ser contado a partir da intimação da decisão, na forma das súmulas 310 e 710 do STF. 12 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1716. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art774 Contudo, o RESE se desenvolve em 2 momentos, sendo o primeiro para a interposição, como acima exposto, e o segundo para a apresentação das razões recursais com o prazo de 5 dias (art. 588, CPP). Portanto, esquematizando os prazos para fins didáticos, teremos: ➢ 5 dias para interposição (art. 586, CPP), sendo este o momento para ser aferida a tempestividade do mesmo; ➢ 2 dias para a juntada das razões e contrarrazões recursais (art. 588, CPP), sendo certo que a inobservância deste prazo não terá o condão de caracterizar a intempestividade da impugnação. Lembramos ao leitor a exceção prevista no inciso XIV do art. 581 do CPP que traz o prazo de 20 dias para recorrer da decisão que incluir/excluir jurado da lista geral nos julgamentos de crimes dolosos contra a vida no Tribunal do Júri. 6. Competência e juízo de retratação O RESE será interposto perante o juiz de primeira instância que prolatou algumas das decisões previstas no art. 581, CPP, já examinadas anteriormente. Neste sentido, a petição de interposição deverá ser endereçada a este juízo, ou seja, o juízo de primeiro grau. Recebido o recurso pelo magistrado, e juntadas as razões recursais pelo recorrente, segundo o art. 589 do CPP, com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz que poderá reformar a sua decisão atacada pelo RESE, sendo a hipótese de reforma da própria decisão denominada como juízo de retratação. Se assim não proceder, mantendo a decisão, o juízo ad quem (TJ – Justiça Estadual ou TRF- Justiça Federal) analisará o objeto recursal. 7. Efeitos recursais O recurso em sentido estrito, como já dito, permite que o juiz a quo reexaminar a própria decisão (juízo de retratação) e caso assim proceda estaremos diante do chamado efeito regressivo. Caso mantenha a sua decisão, o recurso será encaminhado ao tribunal ad quem, caso em que terá efeito devolutivo. No que tange ao efeito suspensivo do RESE (art. 584, CPP) uma vez admitido o recurso, suspendem-se os efeitos da decisão que: (I) decretar a perda da fiança; (II) denegar a apelação; (III) julgar deserta a apelação; e (IV) no caso de desclassificação de crime doloso contra a vida (art. 419, CPP) para outro de competência do juízo singular. É controvertida na literatura processual penal o efeito decorrente da interposição de RESE contra a decisão de pronúncia. Isso porque, o CPP afirma literalmente que, neste caso, o recurso suspenderá apenas o julgamento (art. 584, § 2º). Neste sentido, Eugênio Pacelli13 afirma que o processo será suspenso, “já que a preparação para o julgamento em plenário depende da preclusão da pronúncia”. Portanto, acertadamente, conclui-se que há efeito suspensivo neste caso14. 8. Processamento O RESE será interposto no prazo de 5 dias (art. 586, CPP) e será remetido ao tribunal nos próprios autos nos casos do art. 583 do CPP, ou por instrumento com as cópias indicadas pelas partes e aquelas obrigatórias indicadas no art. 587, § único do CPP. O recorrente não é obrigado a apresentar as razões recursais no ato da interposição, podendo juntá-las conforme o art. 588 do mesmo diploma legal. Não há exigência de apresentação das razões para o conhecimento do recurso15. Por fim, antes da remessa ao tribunal, existe a possibilidade do juiz exercer o juízo de retratação, como já comentado anteriormente. Apelação 1. Conceito A apelação é o recurso por excelência no processo penal que autoriza um órgão jurisdicional de grau superior a revisar -de forma crítica - toda matéria, de fato ou de direito, relativaao julgamento realizado em primeiro grau16. 2. Características Trata-se de recurso amplo, uma vez que devolve toda a matéria do processo ao tribunal ad quem que procederá o reexame da matéria de fato e de direito. 13 OLIVEIRA, Eugenio Pacelli de. Curso de processo penal. 19. Ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 984. 14 No mesmo sentido LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, 1020; e LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1720. Em sentido contrário, contra a sistemática de garantias da Constituição de 1988 que determina a melhor interpretação favor rei, Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 25. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p.795. 15 OLIVEIRA, Eugenio Pacelli de. Curso de processo penal. 19. Ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 984. 16 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, 1025. Além disso, pode-se afirmar que é um recurso residual posto que somente poderá ser interposta se não existir expressa previsão de cabimento de recurso em sentido estrito para o caso. Cumpre observar que a apelação terá prioridade sobre o RESE. Vale dizer, se a lei fizer previsão de forma expressa sobre o cabimento de recurso em sentido estrito em relação a uma parte da decisão atacada, e o recorrente impugnar outros pontos da sentença, o recurso cabível será a apelação, ainda que esta questione em algum ponto matéria prevista nos incisos do art. 581 do CPP. 3. Forma A apelação poderá ser interposta por petição ou por termo nos autos (art. 587, CPP). Diferente do RESE, que normalmente é interposto por meio de instrumento, a apelação criminal é remetida ao tribunal nos próprios autos do processo. Em razão disso, diante da possibilidade de extravio dos autos originais, quando a apelação for interposta em alguma comarca do interior, deverá o escrivão tirar traslado das principais peças do processo17 (art. 603, CPP). 4. Prazos O art. 593 do CPP determina que a apelação deverá ser interposta no prazo de 5 dias, sendo certo que protocolado o recurso os autos irão para apreciação do magistrado que procederá o juízo de admissibilidade. Este prazo deverá ser contado a partir da intimação da decisão, na forma das súmulas 310 e 710 do STF. Cumpre observar que, caso denegada a apelação, por exemplo, por ser intempestiva ou por ilegitimidade do recorrente, será cabível o recurso em sentido estrito, com fundamento no art. 581, inciso XV, do CPP. Sendo o juízo de admissibilidade da apelação positivo, o recurso será recebido e o juiz notificará as partes para a apresentação das razões e contrarrazões recursais no prazo de 8 dias, conforme o disposto no art. 600 do CPP. Esse prazo somente começará a correr após a notificação do recorrente para apresentá-las18. Deve ser frisado que a apelação se desenvolve em 2 momentos, sendo o primeiro para a interposição, quando se verifica a tempestividade recursal como acima exposto, e o segundo para a apresentação das razões recursais com o prazo de 8 dias (art. 600, CPP). Existe diferença no âmbito dos juizados especiais criminais, caso em 17 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1734. 18 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1735. que a apelação deverá ser interposta no prazo de 10 dias, através de petição escrita na qual constarão a impugnação da decisão juntamente com as razões do recorrente (art. 82, Lei 9.099/95). Portanto, esquematizando os prazos para fins didáticos, teremos: ➢ 5 dias para interposição (art. 593, CPP); ➢ 8 dias para a juntada das razões e contrarrazões recursais (art. 600, CPP). Caso este prazo não seja observado, não se caracterizará a intempestividade do recurso, mas sim, mera irregularidade; 10 dias para a interposição (juntamente com as razões) no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (art. 82, Lei 9.099/95). 5. Processamento e efeitos recursais Interposta a apelação nos prazos acima indicados, terão o apelante e o apelado o prazo de 8 dias para a apresentação das razões e contrarrazões recursais, sendo certo que acusação e defesa poderão retirar os autos do cartório para uma melhor análise do processo. O primeiro efeito da apelação é o devolutivo, uma vez que o recurso devolve a instância superior o conhecimento da matéria impugnada. Frise-se que o efeito devolutivo é amplo no caso de apelação, podendo o tribunal, inclusive, absolver o acusado, ainda que a apelação tenha sido manejada somente pela acusação, já que estamos diante de matéria de ordem pública diretamente ligada ao direito fundamental a liberdade. Contudo, na apelação interposta exclusivamente pela defesa estará vedada a reformatio in pejus, ou seja, proibida a reforma para piorar a situação do acusado apelante. Por sua vez o efeito extensivo (art. 580, CPP) determina que, em caso de concurso de agentes, quando a decisão decorrente da apelação vier a beneficiar um dos recorrentes, necessariamente beneficiará os outros agentes, na parte que lhes for comum. No que tange ao efeito suspensivo da apelação dependerá da modalidade da sentença prolatada, segundo Renato Brasileiro de Lima19. O autor explica que: ➢ Na sentença absolutória própria: a apelação da sentença absolutória não impedirá que o acusado seja posto imediatamente em liberdade (art. 596, CPP). Assim, essa modalidade de sentença acarreta a 19 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1737. imediata soltura do acusado e, portanto, a apelação da sentença absolutória própria não é dotada de efeito suspensivo. ➢ Na sentença absolutória imprópria: nesta espécie de decisão, o juiz determina a aplicação de medida de segurança para o acusado inimputável por doença mental. É certo que a execução dessa medida depende do trânsito em julgado da sentença (art. 171, Lei 7.210/84), e considerando-se que a apelação da sentença absolutória imprópria retarda a ocorrência da coisa julgada, consequentemente, fica impedida a execução da medida de segurança. Portanto, neste caso, a apelação possui efeito suspensivo. ➢ Na sentença condenatória: segundo o art. 597 do CPP, a apelação de sentença condenatória terá efeito suspensivo, salvo nos casos de: (I) aplicação provisória de interdições de direito e de medidas de segurança; e (II) no caso de suspensão condicional da pena. Ressalte- se que se o acusado estiver respondendo ao processo preso preventivamente, caberá ao juiz analisar a persistência ou não dos motivos autorizadores da prisão preventiva para mantê-lo ou não preso. 6. Hipóteses de cabimento apelação Os casos de cabimento da apelação não estão previstos exclusivamente no art. 593 do CPP. Reforçando esta ideia, o art. 416 do mesmo diploma determina que também caberá o recurso em análise nas decisões de absolvição sumária, assim também como na decisão de impronúncia. Por fim, a Lei 9.099/95, também faz previsão de apelação das decisões proferidas nos juizados especiais criminais, em seu art. 82. Nos ateremos a análise das hipóteses de cabimento previstas nos incisos do art. 593 do CPP. Assim, caberá apelação: I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular O primeiro caso de cabimento de apelação criminal (art. 593, inciso I, CPP) diz respeito às hipóteses de sentenças definitivas, sejam elas condenatórias ou absolutórias prolatadas pelo juízo singular. As sentenças absolutórias são proferidas pelo juiz que julga improcedente a pretensão acusatória constante na denúncia ou queixa, com fundamento no art. 386 do CPP. Já as sentenças condenatórias julgam procedente o pedido formulado pela acusação (art. 387, CPP). Ressaltamosque também será cabível apelação nas hipóteses de absolvição sumária, constantes nos incisos I, II, e III do art. 397 do CPP. Contudo, devemos estar atentos para a hipótese do art. 397, inciso IV que prevê absolvição sumária com fundamento em causa extintiva da punibilidade, uma vez que essa decisão tem natureza declaratória e não absolutória (súmula 18 do STJ), e deverá ser enfrentada por meio de RESE (art. 581, inciso VIII, CPP), como já estudado anteriormente. II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior No caso do art. 593, inciso II do CPP, “abre-se uma cláusula geral da apelação, fazendo com que os casos previstos de recurso em sentido estrito sejam taxativos, e aquilo que lá não estiver previsto, encontra abrigo neste inciso II do art. 593”20. Quando o CPP se refere aos “casos não previstos no Capítulo anterior” (que versa sobre recurso em sentido estrito), chega-se à conclusão que a apelação somente será cabível contra decisões definitivas ou com força de definitivas, se estas não puderem ser atacadas por meio de RESE. As decisões definitivas (art. 593, inciso II, CPP) são chamadas de decisões definitivas latu sensu: encerram a relação processual com julgamento de mérito, mas não se classificam como sentenças dos arts. 386 e 387 do CPP. Portanto, se for proferida uma decisão definitiva da qual não caiba RESE, o recurso adequado será a apelação (art. 593, inciso II, CPP)21. Podem ser citadas, a título de exemplo, de decisões definitivas ou com força de definitivas proferidas pelo juiz singular, desafiáveis por meio de apelação (art. 593, inciso II, CPP)22: ➢ Decisão que reconhece a perempção; ➢ impronúncia; ➢ decisões referentes às medidas assecuratórias, como p.ex. sequestro de bens, decisão que julga pedido de restituição de bens etc 7. Apelação nos julgamentos do Tribunal do Júri Os casos previstos no art. 593, inciso III, do CPP são somente de apelações referentes às decisões proferidas pelo Tribunal do Júri, sendo certo que estas impugnações são consideradas como verdadeiras exceções, uma vez que estas são revestidas de soberania popular (art. 5º, inciso XXXVIII, da CRFB/88). São hipóteses chamadas de apelação de fundamentação vinculada e passamos agora à análise de 20 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, 1028. 21 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1726. 22 LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, 1029. cada uma delas. Assim, também caberá apelação, conforme o art. 593, inciso III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia Inicialmente advertimos que o dispositivo legal menciona a hipótese de nulidade posterior a pronúncia e, portanto, se a nulidade for anterior a mesma, estaremos diante de uma decisão que poderá ser impugnada mediante recurso em sentido estrito (art. 581, inciso IV, CPP). No que tange às nulidades posteriores a decisão de pronúncia, podemos citar como exemplo a inexistência do número mínimo de 15 jurados (art. 463, CPP); a referência, durante os debates em plenário, ao uso de algemas do acusado como argumento de autoridade (art.478, inciso I, CPP); a referência, durante os debates em plenário, ao silêncio do acusado, como argumento de autoridade (art.478, inciso II, CPP); a quebra da incomunicabilidade dos jurados; os casos em que o réu é considerado como indefeso no julgamento em plenário etc. b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados O disposto na alínea ‘b’ refere-se a 2 hipóteses: (I) o primeiro caso trata de uma sentença que, embora esteja em conformidade com a decisão do conselho de sentença, viola o texto legal. O exemplo é o da sentença que, em conformidade com a decisão condenatória dos jurados, impõe ao acusado o cumprimento de 12 anos de reclusão em regime integralmente fechado pela prática de homicídio qualificado, em manifesta afronta ao disposto no art. 2º da Lei 8.072/90, que determina que no caso de crimes hediondos e equiparados o regime será o inicialmente fechado23; (II) a segunda hipótese ocorrerá quando houver desconformidade entre o que os jurados decidiram e o conteúdo da sentença. Assim, se os jurados reconheceram a prática de crime de homicídio simples, não pode a sentença condenar o acusado por crime de feminicídio, ainda que praticado contra mulher. Trata-se, portanto, de um error in judicando que poderá ser corrigido pelo tribunal, sem a necessidade de se proceder a um novo julgamento (art. 593, § 1º, CPP). c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança 23 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1729. Esta apelação será cabível quando houver equívoco do magistrado na dosimetria da pena, uma vez que a injustiça decorrerá da inapropriada individualização da pena ou da aplicação de medida de segurança. Seria o caso de um acusado primário, de bons antecedentes, com a circunstâncias judiciais do art. 59 do CP amplamente favoráveis, ter a sua pena-base fixada – desproporcionalmente - acima do mínimo legal, levando em consideração a gravidade em abstrato do crime praticado. Neste caso, se o tribunal der provimento a apelação, deverá retificar a dosimetria da pena ou a aplicação da medida de segurança (art. 593, §2º, CPP). d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. Na última possibilidade de apelação das decisões do Tribunal do Júri, a primeira questão a ser enfrentada é: ➢ o que seria uma decisão manifestamente contrária a prova dos autos? Seria a decisão que não encontra apoio em nenhuma prova, ou seja, está manifestamente em desconformidade com o conjunto probatório. Assim, imaginemos que em um processo por crime doloso contra a vida (homicídio simples – art. 121, CP) tenha sido oportunamente juntado aos autos um laudo pericial que reconheça que o acusado, à época dos fatos, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Além disso, no julgamento em plenário, as testemunhas confirmaram que o acusado já foi visto vagando pelado pelas ruas da cidade, falando e gesticulando sozinho. Caso os jurados decidam por condenar o acusado, por entenderem que o mesmo era inteiramente capaz de compreender o caráter ilícito dos fatos, estaremos diante de uma prova manifestamente contrária a prova dos autos, sendo perfeitamente manejável essa apelação por parte da defesa. Diferente disso, seria o caso de 2 testemunhas reconhecerem o acusado como autor das facadas que mataram a vítima, e 2 outras testemunhas afirmarem que o acusado agiu em legítima defesa, e os jurados absolverem o réu. Neste caso não estaremos diante de uma hipótese de decisão manifestamente contrária a prova dos autos. Em outras palavras, se existirem 2 versões, ambas amparadas por provas dos autos, tendo os jurados optados por uma delas, será inviável esta modalidade de apelação para o Ministério Público. Modelo de Recurso em sentido estrito EXCELENTÍSSIMO SR. JUIZ PRESIDENTE DO ___ TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA ______________ Processo nº___________________ ALBERTO SILVA, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da carteira de identidade nº_______ expedida pelo ______, inscrito no CPF sob o nº_______, residente e domiciliado na _____________, vem, respeitosamente a presença de Vossa Excelência, irresignado com a decisão de pronúncia de fls.____, por meio do advogado que a esta subscreve (procuração anexa), interpor, tempestivamente RECURSOEM SENTIDO ESTRITO com fundamento no art. 581, inciso IV do CPP e art. 5º, incisos LIV e LV da CRFB/88, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos. Caso Vossa Excelência entenda por manter a decisão de pronúncia, e não exerça o JUÍZO DE RETRATAÇÃO (art. 589, CPP), requer seja o presente recurso, após o contraditório recursal, devidamente processado e remetido ao Egrégio Tribunal de Justiça. Termos em que, Pede deferimento. Local, data. Advogado, OAB/__ nº _______. (continua a peça na próxima página com as razões recursais) RAZÕES RECURSAIS Egrégio Tribunal, Colenda Câmara, Processo nº ____________________ Recorrente : ALBERTO SILVA Recorrido: Ministério Público Origem: ____ Tribunal do Júri – Da Comarca de ________- UF I- SÍNTESE DOS FATOS: O Recorrente foi pronunciado, às fls.____, pelo crime previsto no art. 125 do Código Penal. Isso porque, no dia 10 de agosto de 2019 o Acusado teria, em tese, oferecido carona para a suposta ofendida (sua colega de trabalho e vizinha), sensibilizado com a condição de gestante desta. Naquela ocasião, o Acusado teria imprimido velocidade excessiva em seu veículo, deixando de observar o seu dever objetivo de cuidado, e de forma imprudente, ao fazer uma curva acabou por colidir frontalmente com um poste. Certo é que a colisão não causou nenhuma lesão corporal na ofendida que foi atendida no Hospital Getúlio Vargas, conforme o laudo pericial de fls.____. Contudo, a equipe médica constatou que o processo de gestação da mesma havia sido interrompido, com a consequente morte do feto. Estes são os fatos. II- DA INCOMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI Segundo a Constituição de 1988, em seu art. 5º, inciso XXXVIII, é reconhecida a instituição do Tribunal do Júri que tem competência para julgar os crimes dolosos contra a vida. Neste sentido, em interpretação contrária à disposição constitucional, o Tribunal do Júri não é competente para processar e julgar crimes que não sejam: (I) dolosos e, (II) contra vida. É o que ocorre no presente caso. Em outras palavras, o Recorrente responde a processo crime, perante o juízo a quo em razão de ter provocado um aborto de forma culposa na suposta ofendida. Sendo a conduta proveniente de inobservância do dever objetivo de cuidado do Imputado, não está presente o requisito essencial para determinar a competência do Júri para processar e julgar o presente caso. Com efeito, caso estivéssemos diante de um crime, este não se caracterizaria como doloso e, portanto, é absolutamente incompetente o Tribunal do Júri para processar e julgar o presente caso. III- DA ATIPICIDADE DA CONDUTA Em linhas gerais, o princípio da reserva legal, verdadeira garantia de um Estado Constitucional e Democrático de Direito, prevê que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, segundo o art. 1º do Código Penal e art. 5º, inciso XXXIX, da CRFB/88. Como se pode observar, no presente caso, o Recorrente teria, em tese, provocado o aborto da Ofendida em decorrência de um acidente de trânsito, quando teria agido de forma imprudente, e sem observar o seu dever objetivo de cuidado. Melhor explicando, o Acusado, ora Recorrente, foi pronunciado pelo crime do art. 125 do CP, que prevê o crime de aborto provocado por terceiro sem o consentimento da vítima, hipótese que somente está prevista no Código Penal na modalidade dolosa. Sendo a conduta do Recorrente decorrente de culpa, não poderá responder pelo crime supracitado pela simples razão de haver previsão legal de modalidade culposa e, portanto, a conduta é manifestamente atípica. IV- DA AUSÊNCIA DE DOLO EVENTUAL Além disso, deve ser ressaltado, que o recorrente não pode responder pelo art. 125 do CP, na forma de dolo eventual, uma vez que não estão presentes os requisitos para a caracterização do mesmo. Assim, podemos afirmar que há dolo eventual quando o agente não quer diretamente produzir o resultado, mas assume o risco de produzi-lo, e se este resultado acontecer, pouco importa, uma vez que o mesmo é indiferente para o agente. Não foi o que aconteceu no presente caso, não sendo possível afirmar que o Recorrente agiu de forma indiferente a produção do resultado (morte do feto). Muito pelo contrário, o Recorrente ofereceu carona para a Ofendida pelo fato estar sensibilizado com a sua condição de gestante, o que descaracteriza a possibilidade de dolo eventual. Assim sendo, repita-se, a conduta é manifestamente atípica. IV- DO PEDIDO Diante do exposto requer a Vossas Excelências a despronúncia do Recorrente com o consequente reconhecimento da atipicidade da conduta, devendo o mesmo ser absolvido, na forma do art. 415, inciso III do CPP, em razão do fato não constituir infração penal. Termos em que, Pede deferimento. Local, data. Advogado, OAB/__ nº _______. Modelo de apelação criminal EXCELENTÍSSIMO SR. JUIZ PRESIDENTE DO ____ TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA __________________ Processo nº___________________ JOÃO GARGARELA DOS SANTOS, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem, respeitosamente a presença de Vossa Excelência, inconformado com a sentença de fls.____, por meio do advogado que a esta subscreve (procuração anexa), interpor, tempestivamente APELAÇÃO com fundamento no art. 593, inciso III, alínea ‘a’ do CPP e art. 5º, incisos LIV e LV da CRFB/88, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos. Requer seja o presente recurso recebido e, após o contraditório recursal, devidamente remetido ao Egrégio Tribunal de Justiça. Termos em que, Pede deferimento. Local, data. Advogado, OAB/__ nº _______. (continua a peça na próxima página com as razões recursais) RAZÕES RECURSAIS Egrégio Tribunal, Colenda Câmara, Processo nº ____________________ Recorrente: JOÃO GARGARELA DOS SANTOS Recorrido: Ministério Público Origem: ____ Tribunal do Júri – Da Comarca de ________- UF I- SÍNTESE DOS FATOS: O Recorrente foi pronunciado pelo e submetido a julgamento em plenário como incurso nas penas do art. 121, §2º, incisos II, IV e VI, do Código Penal. No julgamento em plenário, foi prestado compromisso pelos jurados, com de praxe, na forma do art. 473 do CPP, e o juiz presidente realizou a oitiva das testemunhas e, por fim, o acusado foi interrogado, tendo o mesmo narrado que sua conduta teria sido praticada para repelir injusta agressão que estava sendo praticada contra ele pela vítima. O Ministério Público sustentou a acusação, e a defesa suscitou tese de legítima defesa, tudo na forma dos artigos 476 e 477, do CPP. Ocorre que em sede de réplica, dada a palavra ao ilustre membro do Parquet, o mesmo aduziu “que se o réu fosse mesmo inocente, o juiz- presidente não teria determinado o uso de algemas em Plenário de Julgamento. Assim, a determinação do uso de algemas do acusado era um forte indício da personalidade perversa voltada para o crime, além da sua periculosidade social acentuada”. Em seguida, a defesa ofereceu tréplica fazendo consignar em ata os argumentos da réplica do Ministério Público. Por fim, o Acusado foi condenado, na forma do art. 492, I do CPP, como incurso nas penas do art.121, §2º, II e VI do CP, a pena privativa de liberdade de 15 anos de reclusão, a ser cumprida em regime inicialmente fechado. Estes são os fatos. II- DA NULIDADE ABOLUTA DO JULGAMENTO EM PLENÁRIO Como foi acima narrado, durante os debates em plenário, o Ministério Público violou disposição expressa do Código de Processo Penal ao fazer referência a determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que prejudicou a plenitude de defesa do acusado. Isso porque o art. 478, inciso I do CPP, prevê categoricamente queficará caracterizada a nulidade do julgamento caso as partes, durante os debates, façam referência ao uso de algemas como argumento de autoridade. Segundo a doutrina, argumento de autoridade é (...) uma falácia lógica que apela para a palavra de alguma autoridade a fim de validar o argumento. Este raciocínio é absurdo, visto que a conclusão se baseia exclusivamente na credibilidade do autor da proposição e não nas razões que ele tenha apresentado para sustenta-la. (LIMA, Renato Brasileiro. Manual de processo penal. Volume único. 5. Ed. Salvador: 2018, Editora Jus Podium, p. 1413.) É forçoso reconhecer que a Constituição assegura aos presos o respeito a integridade física e moral (art. 5º, inciso XLIX), o que leva a conclusão lógica que o uso de algemas deve ser evitado diante da evidente possibilidade de caracterizar prejuízo ao acusado durante o seu julgamento. Como os jurados são leigos e desprovidos de conhecimento técnico poderão ser facilmente influenciados pelo argumento de autoridade para condenar o Acusado. Neste sentido, o Supremo Tribunal federal já decidiu, com e edição de súmula vinculante nº 11 que Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. Evidentemente, a determinação do uso de algemas interfere no ânimo dos jurados leigos durante os julgamentos do Júri, razão pela qual a reforma promovida pela Lei 11.689/08 passou a prever que o uso deste argumento caracteriza a nulidade do julgamento. Assim sendo, ocorreu nulidade absoluta do julgamento da 2ª fase do procedimento do Tribunal do Júri. III- DO PEDIDO Diante de todo o exposto, requer a Vossas Excelências, o reconhecimento da nulidade absoluta no julgamento em plenário com a determinação para a realização de novo julgamento, em razão da violação ao disposto no art. 478, I, do CPP. Termos em que, Pede deferimento. Local, data. Advogado, OAB/__ nº _______.