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GESTÃO DE COMPETÊNCIAS Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Katia Denise Moreira CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. M838g Moreira, Katia Denise Gestão de competências. / Katia Denise Moreira – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 155 p.; il. ISBN 978-85-53158-10-2 1.Gestão de competências – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 658.3125 Katia Denise Moreira Doutoranda em Administração na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestra Profissional em Administração Universitária pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestão de Pessoas e Processos pela Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis (CESUSC). Graduada em Letras - Secretariado Executivo em Inglês pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Assessora do Gabinete da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisadora em Administração, Gestão Universitária e em Secretariado. Avaliadora de artigos de revistas e eventos nacionais. Autora de vários trabalhos científicos relacionados às áreas de Gestão de Pessoas, Gestão Universitária e Secretariado Executivo (10 premiados), aprovados em eventos nacionais e internacionais e também, em periódicos. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Institucional: Pesquisa e Prática em Gestão e Secretariado (UFSC) - Link CNPq: http://dgp.cnpq.br/dgp/ espelhogrupo/1695587511457220. Membro da Associação Nacional de Pesquisa em Secretariado (ABPSEC). Sumário APRESENTAÇÃO ....................................................................07 CAPÍTULO 1 Considerações Gerais Sobre Competências ....................09 CAPÍTULO 2 A Competência e as Organizações ......................................39 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 Gestão por Competências ....................................................69 O Empowerment, a Liderança e a Gestão por Competências ....................................................................... 111 A Gestão de Pessoas e as Diferentes Gerações ............137 APRESENTAÇÃO Caro estudante, a partir do teorizado neste livro você irá conhecer uma forma contemporânea de gerir as organizações, a Gestão de Competências. A fim de estruturar os estudos, este livro foi dividido em cinco capítulos, os quais buscam a associação entre teoria e prática, por meio da execução de exercícios e de textos que trazem realidades organizacionais sobre o tema. Assim, no primeiro capítulo, Considerações Gerais sobre Competências, busca-se trazer elementos sobre a concepção da competência, a partir de suas origens e conceito. Trata-se também, das principais correntes teóricas da competência e como ela é discutida no contexto brasileiro. Também, discutem-se as dimensões do fenômeno, expressas pela tríade conhecimento, habilidades e atitudes e, ainda, a tipologia da competência. No segundo capítulo, A Competência e as Organizações, explora-se a competência como fenômeno que se aproxima dos aspectos de gerência de pessoal nas empresas e, também, as core competences ou competências essenciais ou competências organizacionais, que, alinhadas aos aspectos de pessoal, de recurso e de resultados, constituem elementos de construção das estratégias organizacionais. O terceiro capítulo traz ponderações sobre a gestão por competências, incluindo concepções que a identifiquem como uma metodologia para administrar pessoas nas organizações, de forma diferenciada. Em outras palavras, considerando o indivíduo como elemento-chave no ambiente organizacional. O empowerment, um fenômeno contemporâneo, também conhecido como “empoderamento”, que tem sido utilizado como um instrumento de gestão de pessoas, associado à questão das competências é o tema apresentado no quarto capítulo. No quinto capítulo, trata-se de um conteúdo que, a princípio, pode ser considerado simples, mas que, no entanto, é complexo, visto que envolve o gerenciamento de três diferentes gerações, X, Y e Z, as quais têm características diversas e que convivem em um mesmo espaço organizacional. Ressalta-se que a Gestão de competências é um tema que ganhou destaque nos últimos anos, no meio organizacional. Apesar do desafio, algumas organizações têm, hoje, a gestão por competências como uma realidade gerencial, seja no setor público ou privado. Ademais, muito teóricos e pesquisadores têm discutido e publicado sobre o tema, ou seja, no mínimo, trata-se de um assunto instigante, que levará você, caro estudante, a reflexões sobre o complexo universo da gestão de pessoas. Bons Estudos! CAPÍTULO 1 Considerações Gerais Sobre Competências A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender a concepção do fenômeno competência. � Conhecer as correntes teóricas que direcionam os estudos sobre competências. � Compreender a tipologia e dimensões da competência. � Refletir analítica e logicamente sobre o fenômeno da competência. 10 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS 11 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 Contextualização A competência, segundo Küller e Rodrigo (2013), é uma palavra polissêmica, visto a variabilidade de significância que ela pode assumir em diferentes contextos e campos do conhecimento. Neste caso, vamos adotar a concepção para os estudos organizacionais, nos quais o fenômeno da competência associa-se ao indivíduo e à organização como um todo. Em outras palavras, competências organizacionais e competências individuais dos profissionais. Neste Capítulo, é importante que o estudante compreenda que a competência é, contemporaneamente, um fenômeno de destaque no meio organizacional. Muito se tem publicado sobre o assunto e, inclusive, a gestão por competências é, hoje, uma realidade em algumas organizações, sejam elas públicas ou privadas, conforme será demonstrado em momento oportuno. Sobre isso, Fleury e Fleury (2001a) explicam que a competência entrou na pauta acadêmica nos últimos anos e as discussões a associam à sua inserção no nível pessoal (competência do indivíduo), organizacional (core competences) e de países (sistemas educacionais e formação de competências). Diante de tal realidade e para fins de conhecimento sobre o fenômeno, esse primeiro Capítulo pretende fazer com que você compreenda a concepção da competência, a partir de suas origens e conceito. Conheça as três principais correntes teóricas da competência e como ela é discutida no contexto brasileiro. Entenda a tipologia da competência e suas dimensões expressas pelo conhecimento, habilidades e atitudes e, por fim, que você seja capaz de refletir sobre o conteúdo com base nas leituras indicadas. Antes, porém, apresenta-se “três pistas falsas” sobre a competência, que segundo Perrenoud (1999), são aceitáveis naquilo que se refere à noção de competência, todavia, não acrescentam muito para a compreensão dos problemas que envolvem o fenômeno. Assim, segundo o autor, a competência, por vezes, é assimilada a um simples objetivo de aprendizado, fato que sugere, erroneamente, que cada aquisição escolar verificável é uma competência.Em outras palavras, não significa ser competente a aprovação em disciplinas escolares/acadêmicas. Outra pista falsa, segundo Perrenoud (1999), é a oposição existente entre a noção de competência e desempenho. O desempenho é um indicador relativamente confiável da competência, medido indiretamente. O desempenho é um dos resultados da competência, ou seja, ele ocorre quando o indivíduo usa do conhecimento, da prática e da vontade para desenvolver determinada atividade. Não há ação sem esses fundamentos. 12 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS A terceira pista falsa de Perrenoud (1999, p. 20) “[...] considera a competência como uma faculdade genérica, uma potencialidade de qualquer mente humana”. Contudo, de acordo com o autor, as potencialidades só são transformadas em competências efetivas por intermédio do aprendizado, que não se realiza da mesma maneira em cada ser humano. Para Perrenoud (1999), a competência é uma aquisição a partir de aprendizados construídos e não uma virtualidade da espécie. Nessa direção, no decorrer do estudo deste primeiro capítulo vamos compreender que a competência é uma construção com três elementos basilares – o conhecimento, a habilidade e a atitude; ou seja, os aprendizados de que fala Perrenoud (1999) são os saberes que o sujeito internaliza a partir da teoria e da prática, que lhe fornecem a possibilidade de fazer com que uma atividade seja desenvolvida, e a isso se soma o aprendizado sobre o próprio comportamento do indivíduo, relacionado à vontade, a motivação em realizar algo. Étienne e Lerouge (1997) dizem que a construção de uma competência está associada ao equilíbrio entre o trabalho isolado e seus diversos elementos, além da integração desses com uma situação de operacionalização. Quando da discussão sobre as dimensões da competência, veremos que os três elementos essenciais da competência: Conhecimento, Habilidade e Atitude (CHA), irão tratar exatamente dessa conexão, isto é, o sujeito que tem o conhecimento sobre o desenvolvimento de algo o associa às técnicas e procedimentos para tanto e a vontade de colocar isso em prática, isto é, de uma situação isolada e seus elementos, para a operacionalização dessa conjuntura. Destaca-se que esse capítulo introdutório sobre as concepções da competência é base para o desenvolvimento de toda a disciplina e, sendo assim, é essencial a compreensão do todo a ser tratado. Bons estudos! Origem da Competência No que se refere ao caráter etimológico da palavra, Lopez-Herrerías (2002) explica que a competência tem origem no latim, por meio da aglutinação de duas matizes: do infinitivo cum-petere, com – indagar/questionar – que significa saber e saber fazer habilmente (aspecto competente da competência) e o segundo cum- petitum, com – competir – que se refere a saber ser com superação. No campo histórico, a competência é um termo medieval que surge primeiramente associado à linguagem jurídica. Em fins da Idade Média, a 13 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 expressão competência origina-se do campo jurídico e tem como significado a ação de julgar alguém ou algo. Tempos depois, já no final do século XVIII, a significância da palavra adentra o campo do conhecimento e da experiência, a partir dos estudos de Chomsky (1995), que introduz a competência nos campos da fala e da linguagem, relacionando-a ao desempenho discursivo. Avram Noam Chomsky é um linguista, filósofo e cientista cognitivo norte-americano, professor do Massachusetts Institute of Technology. Conhecido como o “pai da linguística moderna”, desenvolveu uma teoria revolucionária no campo da linguística. É um dos principais nomes da transformational-generative gramar, um sistema de análise linguística, que desafia aquilo que se tinha como tradicional na década de 1990. Sua obra principal é Syntactic Structures (1957), um resumo de sua tese. No entanto, a competência não se limita a esses dois planos, o jurídico e o da linguagem, expande-se para o campo da administração/organizações e se encaixa naquela que era a escola dominante no início dos anos 1900 – a Clássica. A Teoria Clássica da administração caracterizava-se pela ênfase na estrutura e nos processos organizacionais; elementos estes essenciais que as empresas deveriam possuir para serem eficientes. O objetivo de ambas as linhas teóricas era semelhante: a busca pela eficiência das empresas. As origens da Abordagem Clássica da Administração podem ser notadas de acordo com as consequências geradas pela Revolução Industrial, e, por isso, podem ser resumidas em dois fatos preponderantes: - O crescimento acelerado e desorganizado das empresas de uma forma geral, que impactou em um aumento da dimensão das empresas no período da Segunda Revolução Industrial e, consequentemente, conduziu a substituição das teorias de caráter global. 14 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS - A necessidade de aumentar a eficiência e a competência das empresas, visando a obtenção da melhor produtividade possível dos seus recursos, fazendo face à concorrência e à competição que já eram notadas no ambiente empresarial. A ocorrência desses fatores impactou, de maneira incisiva, na divisão do trabalho entre os que pensam e os que executam, mas também revolucionou o panorama industrial no início do século; momento aquele que continha as características que inspiravam o estabelecimento de uma ciência da administração, a saber: tamanhos diferentes de empresas, variedade de empresas, problemas relativos ao baixo rendimento da maquinaria utilizada, [qualificação de pessoal] e assim por diante. Fonte: Bonome (2009, p. 43). Observa-se que na administração clássica o foco é a estrutura organizacional e como ela pode garantir a efetividade dos serviços e, consequentemente, o lucro. Nessa direção, as organizações começam a se preocupar com a necessidade de haver indivíduos capacitados para o desempenho eficiente das atividades. A partir dessa conjuntura, McClellan (1973) introduz a competência no campo de avaliação de pessoas, no ambiente de trabalho. No desenvolvimento de seu trabalho McClelland (1973) realiza testes, no sentido de fazer compreender que a competência está associada à capacidade que o indivíduo tem de executar certa atividade. Em outras palavras, quanto mais aumenta a competência, mais apto está o indivíduo de realizar a tarefa. David Clarence McClelland foi um psicólogo norte-americano. Conhecido por seu trabalho no campo da motivação, mais especificamente na teoria sobre “necessidade de realização” das pessoas. Iniciou as reflexões sobre competências entre psicólogos e administradores nos Estados Unidos a partir do estudo Testing for Competence rather than intelligence em 1973, que reconheceu a competência e a motivação como elementos capazes de alcançar o sucesso na realização das tarefas. Para aprofundar seus estudos você pode ler o texto de McClelland (1973) que está disponível em: <http://citeseerx.ist.psu.edu/ viewdoc/download?doi=10.1.1.315.7091&rep=rep1&type=pdf> 15 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 Introduzida a nova concepção da competência por McClelland (1973), outros teóricos iniciam estudos na mesma linha de significância e vão complementando o iniciado pelo psicólogo, por exemplo, Boyatzis (1982), Le Boterf (1999), Zarifian (1996), entre outros. Destaca-se que para Le Boterf (1973) o profissional competente não age apenas com pertinência diante de uma determinada situação, uma vez que a competência exige a compreensão de sobre o que se trata e como se faz. Vale destacar que os trabalhos desenvolvidos pelos teóricos citados originam a gestão por competências, que será tratada no Capítulo 3. Na Figura 1, há um resumo sobre a evolução do termo competência. Figura 1 – Origens da competência Idade Média Surgimento Idade Contemporânea (Final do Século XVIII) Ampliação do Termo Idade Contemporânea • Competênciaassociada à área jurídica. Indivíduo ou Instituição apto a julgar. • Competência associada à capacidade do indivíduo em comunicar, pronunciar-se sobre um determinado assunto. • Competência - qualificar o indivíduo capaz de realizar determinado trabalho e Gestão por Competência. Fonte: Adaptado de Isambert-Jamati (1997); Perrenoud (1999); Le Boterf (1999) e Dolz e Ollagnier (2002). Pode-se dizer, então, que a competência não é um fenômeno recente, pelo contrário, nasce em tempos medievais e vem sendo, com o passar dos anos, reavaliada e introduzida em outros campos, com novos conceitos. Na esfera organizacional, o termo chega em decorrência das mudanças sociais e econômicas, principalmente, pela condição que o mercado de trabalho começa a impor sobre a necessidade de qualificação dos indivíduos. Deluiz (2017, p. n.p) faz considerações interessantes sobre esse processo: Ao acirrar a competição intercapitalista, o processo de globalização obrigou as empresas a buscar estratégias para obter ganhos de produtividade através da racionalização dos processos produtivos que podem ser visualizados pelo uso da microeletrônica e da flexibilidade dos processos de trabalho e de produção, implicando uma generalizada potenciação da capacidade produtiva da força de trabalho. O processo 16 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS de "acumulação flexível" gera o fenômeno paradoxal, de ampliação do trabalho precarizado e informal e da emergência de um trabalho revalorizado, no qual o trabalhador multiqualificado, polivalente, deve exercer, na automação, funções muito mais abstratas e intelectuais, implicando cada vez menos trabalho manual e cada vez mais a manipulação simbólica. É, também, exigido deste trabalhador, capacidade de diagnóstico, de solução de problemas, capacidade de tomar decisões, de intervir no processo de trabalho, de trabalhar em equipe, auto-organizar-se e enfrentar situações em constantes mudanças. O texto de Deluiz (2017): A globalização econômica e os desafios à formação profissional é muito interessante. Sugiro como leitura complementar, inclusive poderá ajudá-lo a responder os exercícios do capítulo. Está disponível em: <file:///C:/Users/ USUARIO/Downloads/500-948-1-SM.pdf> Nessa seção, foi possível compreender que a historicidade do termo competência envolve mudanças de paradigmas, ou seja, do jurídico, para o da linguística até chegar nas organizações. Importante observar que as origens da competência são tratadas sobre duas correntes teóricas, a americana e a francesa, as quais serão apresentadas mais adiante. Atividades de Estudos: 1) Para Reflexão: qual sua opinião sobre a competência nascer no campo jurídico, passar pelo da linguística e chegar às organizações? Trata-se apenas de uma quebra de paradigma ou de um processo de evolução? Por quê? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 17 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 2) Para melhor compreensão da origem da competência nas organizações, faça conexões com momentos históricos, por exemplo, a Escola Clássica da administração e o surgimento da competência no meio organizacional e, ainda, com o advento da globalização, que trouxe mudanças significativas para o mercado de trabalho. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Conceito de Competência A competência no senso comum é um fenômeno que remete a um sujeito ser qualificado para o desenvolvimento de alguma tarefa (FLEURY; FLEURY, 2001a). O contrário, ou seja, a incompetência, ainda segundo os autores, não é um conceito atribuído apenas à negação desta qualificação, mas também um teor pejorativo e depreciativo. “Chega mesmo a sinalizar que a pessoa se encontra ou se encontrará brevemente marginalizada dos circuitos de trabalho e de reconhecimento social” (FLEURY; FLEURY, 2001a, p. 183). É importante saber que o conceito da competência, tal qual foi apresentado nas origens do fenômeno, está ancorado em duas grandes correntes principais, a americana e a francesa, as quais serão discutidas nesta seção. Todavia, para fins de conhecimento, será tratado também de conceitualizações apresentadas por autores espanhóis e brasileiros. Assim, destaca-se que a corrente norte-americana tende para um conceito com base no “estoque” de qualificação, enquanto a francesa questiona a qualificação no processo de formação de um profissional. Fleury e Fleury (2001a, p.185) explicam, nesse sentido, que: [...] enquanto prevaleceu o modelo taylorista e fordista de organização do trabalho e de definição das estratégias empresariais, o conceito de qualificação propiciava o referencial necessário para se trabalhar a relação profissional indivíduo- organização. A qualificação é usualmente definida pelos requisitos associados à posição, ou ao cargo, ou pelos saberes ou estoque de conhecimentos da pessoa, os quais podem ser classificados e certificados pelo sistema educacional. 18 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS No entanto, essa visão tecnicista americana provocou certa inquietude dos teóricos franceses, que, a partir de uma base mais humanista, entendem que para haver esse “estoque” de qualificação é preciso que o indivíduo tenha conhecimento e, ainda, motivação para o desempenho da tarefa. Assim, Insatisfeitos com o descompasso que se observava entre as necessidades do mundo do trabalho (principalmente da indústria), procuravam aproximar o ensino das necessidades reais das empresas, visando a aumentar a capacitação dos trabalhadores e suas chances de se empregarem. Buscava-se estabelecer a relação entre competências e os saberes – o saber agir – no referencial do diploma e do emprego (FLEURY; FLEURY, 2001a, p. 186). É importante destacar que apesar das manifestações francesas sobre a corrente norte-americana, não se observa uma contrariedade incisiva entre elas, inclusive Zarifian (2001, p. 56) argumenta que “A competência não é uma negação da qualificação. Pelo contrário, nas condições de uma produção moderna, representa o pleno reconhecimento do valor da qualificação”. Em outras palavras, a corrente francesa busca uma aproximação com os saberes que o indivíduo adquire durante sua formação, fato que relaciona a competência com a aprendizagem. Nesse sentido, ressalta-se que a qualificação está frequentemente associada à posição, ao cargo ou aos conhecimentos dos indivíduos, cuja certificação pode ser classificada e fornecida pelo sistema educacional (FLEURY; FLEURY, 2001b). A competência, por sua vez, alcança horizontes mais amplos, pois permite ao indivíduo agir com iniciativa, visto que ele é capaz de compreender e dominar aquilo que se propõe a fazer, sendo ele, inclusive, o responsável e o reconhecido pela realização da tarefa (ZARIFIAN, 1996). A competência está, então, associada à qualificação teórica e empírica do indivíduo para realizar uma tarefa, somada ao saber como e a vontade de fazê-la. Outra colocação importante sobre a competência é a de Küller e Rodrigo (2014), quando explicam que o fenômeno está ligado a um desempenho potencialmente criativo e renovado. Os autores complementam a afirmativa ao relatarem que “Para isso, é necessária a reflexão constante sobre o trabalho a desenvolver ou o trabalho desenvolvido. A concepção do trabalho, a criatividade, o planejamento e a autonomia no fazer são características fundamentais do que entendemos por competência” (KÜLLER; RODRIGO, 2014, p. 65). 19 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 Se você quiser conhecermais sobre a competência, existem bons livros sobre o assunto. DUTRA, J. S. Competências: conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa moderna. São Paulo: Atlas, 2007. PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999. ZARIFIAN, P. Objetivo competência: por uma nova lógica. São Paulo: Atlas, 2001. ZARIFIAN, P. O modelo da competência: trajetória histórica, desafios atuais e propostas. São Paulo: SENAC, 2003. Assim, na sequência, o quadro apresenta uma série de definições de competência, as quais estão estruturadas naquilo que está se discutindo, ou seja, a qualificação teórica associada à prática e a iniciativa para desenvolver determinada tarefa. Outros elementos relacionados a esses três elementos básicos são: aprendizagem, comportamento, desempenho, efetividade, formação e resultado. Quadro 1 – Conceitos de competência AUTOR CONCEITOS DE COMPETÊNCIA McClelland (1973) Norte-americano A competência está associada à capacidade/desempenho superior do sujeito em executar certa atividade ou em agir em determinada situação. Boyatzis (1982) Norte-americano Capacidade ou habilidade. Um conjunto de comportamentos rel- acionados, porém diferentes, organizados em torno de uma con- strução chamada “intenção”. Le Boterf (1994) Francês É a soma de conhecimento, saber fazer (habilidade) e saber ser (atitude) em um contexto determinado. Zarifian (1996) Francês Competência é a de um indivíduo (e não a qualificação de um em- prego) e se manifesta e é avaliada quando de sua utilização em situação profissional. É a tomar iniciativa e o assumir responsab- ilidade diante de situações profissionais com as quais se depara. Perrenoud (1999) Francês É uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles. Durand (2000) Francês É um acumulado resultante do fluxo contínuo de aprendizagem, consequência da fusão entre três elementos: conhecimento, habi- lidades e atitudes. 20 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS López-Herreríaz (2002) Espanhol São como processos complexos que as pessoas põem em ação-at- uação-criação para resolver problemas e realizar atividades, bus- cando a construção e a transformação da realidade para a qual se integram o saber ser, o saber conhecer e o saber desempenho, considerando cada contexto. Alles (2005) Espanhol No sentido de o sujeito buscar atividades de aprendizado e desen- volver o conhecimento, as habilidades e a atitude no decorrer desse processo. Tabón (2006) Espanhol É um processo complexo de desempenho, que se processa com ex- periência em certos contextos, integrando diferentes conhecimentos (saber ser, saber-fazer, saber conhecer e viver), para atividades e/ou resolver problemas com um sentimento de desafio, motivação, flexi- bilidade, criatividade, compreensão e empreendedorismo, dentro de uma perspectiva de transformação, de metacognitividade, de melhoria contínua e compromisso ético, com o objetivo de contribuir para com: o desenvolvimento pessoal, a construção e fortalecimento sociais, a busca contínua de desenvolvimento econômico e de negócios sus- tentável e o cuidado e proteção do meio ambiente e espécies vivas. Fleury & Fleury (2001) Brasileiros É um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades, que ag- reguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo. Dutra (2002) Brasileiro Podem ser entendidas, por um lado, como um conjunto de conhec- imentos, habilidades e atitudes necessários para a pessoa exercer seu trabalho, e de outro, como a entrega da pessoa para a orga- nização. Fonte: Adaptado de McClleland (1973), Boyatzis (1982), Le Boterf (1994), Zarifian (1996), Perrenoud (1999), Durand (2000), Lopez-Herrerías (2002), Alles (2005), Tobón (2006), Fleury e Fleury (2001a), Dutra (2002). Relevante lembrar de que a competência tem caráter polissêmico, fato que a faz transitar por diversas áreas do conhecimento. Quando se discute a origem do fenômeno tal fato pode ser explicado, no entanto, é preciso deixar claro que, a partir dos conceitos apresentados, o foco deste Capítulo é a competência na área organizacional. Atividades de Estudos: 1) Você consegue distinguir nos conceitos apresentados a questão discutida no texto sobre o “estoque” de qualificação e a qualificação associada aos saberes? Faça esse exercício com os conceitos norte-americanos e franceses. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 21 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 2) Agora, avançando um pouco nos estudos, tente fazer o mesmo exercício com os conceitos espanhóis e brasileiros, qual das duas concepções prevalece? O “estoque” de qualificação ou a qualificação associada aos saberes? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) Você concorda que os conceitos norte-americano e francês se complementam? Por quê? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Correntes Teóricas da Competência Conforme já estamos discutindo, a competência provém de duas grandes correntes teóricas principais, a norte-americana e a francesa. A primeira também, de acordo com o que já tratamos, envolve um conjunto de qualidades que o indivíduo possui para executar um trabalho, em um nível mais especializado. Para Dutra (2002, p. 127), os teóricos norte-americanos desenvolvem seus trabalhos a partir da concepção de que a competência é “[...] o conjunto de qualificações (underlying characteristics) que permite que uma pessoa tenha performance superior em um trabalho ou situação”. Principais autores da corrente norte-americana: McClelland (1973), Boyatizis (1982), Prahalad e Hamel (1990), Spencer e Spencer (1993) e Parry (1996). 22 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS Já a corrente francesa, que inclui, além de teóricos franceses, os ingleses, direciona seus estudos para a competência como a ação de colocar em prática aquilo que o indivíduo sabe sobre determinado contexto. De acordo com Dutra (2002), na corrente francesa a competência ocorre apenas quando a atuação do indivíduo é embasada no saber ser e saber mobilizar o conhecimento para a concretização da ação. Principais autores da corrente francesa: Elliot Jacques (1990), Le Boterf (1994), Zarifian (1996), Durand (2000) e os ingleses Rowbotton e Billis (1987). Importante observar que os franceses não deixam de tratar do desempenho do indivíduo, ou seja, a corrente francesa não está em contradição com a norte- americana, pelo contrário, a complementa, trazendo a questão da aprendizagem e do conhecimento para a concepção do termo. Recentemente, vem despontando a corrente espanhola, que se direciona para a corrente norte-americana. Para os espanhóis, a competência é um comportamento do indivíduo que possibilita a ele o alcance do êxito em uma determinada atividade que ele se propõe a executar. Principais autores da corrente espanhola: López-Herreríaz (2002), Montenegro (2003), Alles (2005), Tabón (2006) e Gómez (2007). Em termos de contexto brasileiro vamos observar que há um misto entre aquilo que trata a corrente norte-americana e a francesa. Dutra (2002, p. 128) comenta que a tendência entre os teóricos brasileiros é a concepção da “[...] competência comosomatória dessas duas linhas [norte-americana e francesa], ou seja, como a entrega e as características da pessoa que podem ajudá-la [na realização da tarefa]”. 23 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 Principais autores da corrente brasileira: Fleury, Fleury (2001), Dutra (2002), Freitas (2002), Freitas e Brandão (2005). Para melhor compreensão, a seguir, três características de cada corrente: Quadro 2 – Características das correntes teóricas da competência CORRENTE CARACTERÍSTICAS Norte-americana • Visão tecnicista. • Foco na competência como um estoque de qualificações, que credencia a pessoa a exercer determinado trabalho. • Competência como diferencial competitivo das organizações. Francesa • Visão comportamental. • Associa a competência não a um conjunto de qualificações do indivíduo, mas, sim, às realizações da pessoa num determinado contexto, ou, seja, aquilo que ela produz ou realiza no trabalho. • Desempenho do sujeito. Espanhola • Derivação da linha norte-americana. • Competência como um comportamento que possibilita o êxito de um sujeito em determinada atividade ou função. Brasileira • Versão híbrida das correntes norte-americana e francesa. Fonte: Adaptado de Küller e Rodrigo (2013), Dalmau (2015) e Silva (2016). Nos anos 1960, a formação científica e tecnológica era extremamente “tecnicista” e “cientifizante”. Se, desde o início do século, esse tecnicismo aparece no mundo do trabalho em concepções como o taylorismo ou o fordismo, na formação científica e tecnológica em nível superior manifesta-se no distanciamento das humanidades. Em outras palavras, a pedagogia da sociedade industrial privilegiou uma formação fragmentada, distante de uma visão humanista, que permitisse algum tipo de olhar transversal crítico sobre a sociedade. Essa formação fragmentada para o trabalho ecoou também na formação científica. Diferentemente do cientista do século XIX, por exemplo, que costumava ser também um humanista – conhecedor de literatura, filosofia, música, artes, línguas estrangeiras, enfim, com um olhar atento para a cultura, e não apenas para a natureza –, na maioria das vezes, o cientista típico do século XX é um “especialista” que não teve espaço em seu currículo para essa formação humanista e “generalista” (CONDÉ, 2015, p. 393). 24 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS Interessante apresentar também aquilo que Condé (2015) traz a partir de Rossi (1995) e Zilsel (2000) sobre esse debate – tecnicismo x humanismo – que reproduziu o conflito entre “o saber e o pensar” e do “saber fazer”. O autor explica ainda que no final do século XVI, a conciliação entre esses dois extemos resultou na construção da ciência moderna e na transformação da técnica em tecnologia, gerando a sociedade do conhecimento. Conhecer as correntes teóricas da competência, alinhadas ao contexto histórico em que foram estruturadas, é base para o entendimento da concepção da matéria, como também para o desenvolvimento de toda a disciplina. Além disso, ao distinguir as quatro vertentes da competência, você pode compreender a posição adotada no seu local de trabalho ou qual é a tendência a ser seguida, em qualquer outro ambiente organizacional. Atividades de Estudos: 1) Anteriormente apresentamos características diferentes para as correntes, principalmente, entre a norte-americana e a francesa. No entanto, todas têm um ponto comum, você consegue distingui-lo? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Associando os textos sobre a origem e conceito da competência, reflita sobre a característica mais tecnicista da corrente norte-americana e mais comportamental da corrente francesa. As questões históricas também podem ser incluídas nessa reflexão. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 25 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 3) Qual a sua opinião sobre a corrente brasileira ser uma versão híbrida da corrente norte-americana e da francesa? Estamos “em cima do muro” ou há a compreensão de que elas podem ser complementares? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Dimensões da Competência Após discutirmos a origem, conceitos e correntes teóricas da competência, podemos agora tratar de suas dimensões. As dimensões da competência são geralmente conhecidas pela sigla CHA, que representa os três eixos da competência – Conhecimento, Habilidades e Atitudes. É importante saber que as três dimensões da competência foram apresentadas por Guy Le Boterf (1996). Para o autor, a primeira dimensão envolve o conhecimento, o saber fazer, as capacidades cognitivas; a segunda, como que impulsionada pela primeira, diz respeito à ação e os resultados desse ato e a terceira é a reflexividade das anteriores. Guy Le Boterf é francês, doutor em humanidades e em sociologia. Seu trabalho no campo das competências é notório mundialmente. Criador da metodologia “Acting and interacting with situational skills” para organizações que pretendem a melhoria de seus sistemas de desenvolvimento de competências e profissionalização. Durand (2000), em complemento aos estudos de Le Boterf (1994), explica que a competência é uma resultante do fluxo contínuo da aprendizagem, que acontece como consequência de três eixos principais – o conhecimento, a habilidade e a atitude. A Figura 2 ilustra o idealizado pelo teórico. 26 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS Figura 2 – Dimensões da competência Conhecimentos AtitudesHabilidades COMPETÊNCIA Fonte: Adaptado de Durand (2000). Desmembrando a Figura 2, traz-se na sequência concepções de conhecimento, habilidade e atitude, para fins de compreensão desses três fenômenos. Assim, o conhecimento, para Davis e Botkin (1994) e Davenport e Prusak (1998), deriva da informação, que provém de um conjunto de dados originados a partir de uma série de fatos ou eventos isolados, que vão se agregando, constituindo significância. Nessa direção, o conhecimento é um conjunto de informações internalizadas pelo indivíduo, a partir de um esquema cognitivo, que causam impacto naquilo que se refere ao comportamento. Para Durand (2000), o conhecimento diz respeito ao conjunto de informações incorporadas pelo indivíduo, que lhe permite a compreensão sobre o espaço em que está inserido. Ainda segundo o autor, são as experiências acumuladas ao longo da vida do indivíduo, as quais geram saberes. No desenvolvimento de seus estudos, McClelland (1973) considerou a habilidade como uma causa do desempenho, ou seja, esse fenômeno combinado à vontade do indivíduo e ainda, com fatores situacionais favoráveis, alicerçam o comportamento da pessoa na execução de alguma atividade. Vale dizer que autores de teorias instrucionais como Bloom, Krathwohl e Bertram (1979) e Gagné et al. (1988) classificaram as habilidades em: a) intelectuais – processos mentais de organização e reorganização de informações e b) motoras ou manipulativas – exigem coordenação neuromuscular. Para Durand (2000), a habilidade está ligada à capacidade do indivíduo em fazer uso produtivo do conhecimento. Em outras palavras, é utilizar o conhecimento no desenvolvimento de alguma tarefa. A atitude é o fenômeno relacionado à motivação do indivíduo, ou seja, está associada ao desejo ou à satisfação pessoal da pessoa, na realização daatividade 27 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 (SANSONE, 1986). Durand (2000) diz que a atitude se refere a aspectos sociais e afetivos, relacionados ao desenvolvimento da tarefa. Para Brandão e Borges- Andrade (2007), é uma propriedade disposicional da pessoa, já que dispõe o indivíduo a se comportar de maneira específica. Destaca-se que muitos teóricos tratam das dimensões da competência, principalmente os da corrente francesa, que focam na importância do “saber”, como base do “fazer”. Nessa direção, a Figura 3 traz uma síntese daquilo que são as dimensões da competência. Figura 3 – Descrição das dimensões da competência • É conjunto de informações estruturadas, assimilidas e integradas em estruturas que permitem tanto o indivíduo quanto a empresa a realizarem suas atividades. CONHECIMENTO Saber o porquê Saber quem Saber o que • Relaciona-se com a capacidade de agir, na prática, em direção ao alcance de objetivos predefinidos. As habilidades não excluem o conhecimento, que se manifesta dentro do empírico e, pelo menos em parte, do tácito. HABILIDADE Destreza Técnica Tecnologias Saber como fazer • A questão do comportamento, da identidade e do desejo é essencial para que um sujeito ou uma organização queira fazer qualquer coisa (objetivos). Esta dimensão é uma escolha, pois um sujeito ou uma organização motivado(a)/determinad(o) é mais competente de outro(a) com os mesmos conhecimentos e habilidades. ATITUDE Comportamento Identidade Vontade Determinação Querer fazer Fonte: Adaptado de Durand (2000). Ainda sobre as dimensões da competência, há o entendimento de que elas funcionam como um mecanismo. Todos os elementos precisam ser desenvolvidos e funcionar como uma engrenagem, se um deles apresentar problemas ou não existir, não há competência. Nessa direção, Harackiewitz, Sansone e Manderlink (1985) apresentaram estudo em que demonstram que o conhecimento é fator que afeta de forma positiva não só a realização da tarefa, mas também o interesse sobre ela. Sansone (1986), na mesma linha, explicou que o conhecimento do indivíduo sobre os padrões de competência exigidos no ambiente de trabalho afetava a percepção deles sobre a própria competência e a disposição para 28 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS demonstrar que as tinham. Para Brandão e Guimarães (2001, p. 10), as dimensões da competência [...] são interdependentes na medida em que, para a exposição de uma habilidade, se presume que o indivíduo conheça princípios e técnicas específicos. Da mesma forma, a adoção de um comportamento no trabalho exige da pessoa, não raras vezes, a detenção não apenas de conhecimentos, mas também de habilidades e atitudes apropriadas (BRANDÃO; GUIMARÃES 2001, p. 10). Durand (2000) associa essa interdependência, ou mecanismo sincronizado, ou engrenagem a um processo de alquimia e o intitula L’alchimie de la competence (A alquimia da competência). O autor usa uma metáfora, que associa os alquimistas da Idade Média, que buscavam a conversão de metal em ouro, aos gestores organizacionais contemporâneos, que pretendem transformar recursos em desempenho/resultados/lucro. Vistas as dimensões da competência, a subseção que segue trata, mais especificamente, sobre a tipologia. Caso você tenha interesse em conhecer o texto de Durand (2000): L’alchimie de la competence, ele está disponível na versão em francês, em: <http://www.cairn.info/revue-francaise-de-gestion- 2006-1-page-261.htm> ou também, na versão em inglês, em: The Alchemy of Competence, disponível em: <https://www.researchgate. net/profile/Thomas_Durand3/publication/265663969_The_Alchemy_ of_Competence/links/551bc8230cf2fe6cbf75e825.pdf> Atividades de Estudos: 1) A partir do seu entendimento sobre as dimensões da competência, você concorda que elas devem funcionar como um mecanismo sincronizado? Por quê? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 29 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 2) Faça uma associação entre as dimensões da competência e a corrente teórica francesa. Por que são tão próximas? Quais características da corrente teórica francesa a aproximam das dimensões da competência? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Tipologia da Competência Assim como existem diferentes vertentes teóricas da competência, há também variedade na sua tipificação. Dividida de forma mais ampla, há a competência organizacional e a individual. A primeira, será tratada no segundo Capítulo desta disciplina. A segunda, será tratada a seguir. Zarifian (2001) explica que o encontro de vários sujeitos em um ambiente de trabalho, formando uma equipe ou uma rede de trabalho, faz surgir a competência coletiva, que não trata apenas da soma de competências desses sujeitos, mas sim, de uma interação social da equipe ou do grupo. Sobre a competência individual, Fleury e Fleury (2001b) comentam que: A competência individual encontra seus limites, mas não sua negação no nível dos saberes alcançados pela sociedade, ou pela profissão do indivíduo, numa época determinada. As competências são sempre contextualizadas. Os conhecimentos [...] não adquirem status de competência a não ser que sejam comunicados e utilizados. A rede de conhecimento em que se insere o indivíduo é fundamental para que a comunicação seja eficiente e gere a competência. A noção de competência aparece assim associada a verbos como: saber agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber engajar-se, assumir responsabilidades, ter visão estratégica. A competência individual, como o próprio nome demonstra, é aquela em que a própria pessoa desenvolve e, conforme apontaram Fleury e Fleury (2001b), ela se limita ao nível de conhecimento que o sujeito tem sobre determinado assunto, sobre a sua habilidade em realizar uma tarefa e sobre a vontade de realizá-la. Sobre a tipologia da competência, Pires et al. (2009) explicam que ela é variada porque depende de outros elementos de base, por exemplo, a abordagem teórica adotada ou da finalidade prática que se pretende inferir a competência. No quadro a seguir são apresentadas algumas dessas tipologias. 30 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS Quadro 3 – Tipologia da competência TEORIA TEÓRICO (S) TIPOLOGIAS DA COMPETÊNCIA Em razão da natureza do pa- pel ocupacional desempenhado pelas pessoas. CEITIL (2006) Técnicas: conhecimentos tácitos e explícitos do su- jeito, que serão utilizados no desenvolver de sua ativ- idade organizacional. Comportamentais: maneira pela qual o sujeito irá utilizar suas competências técnicas. Em razão da singularidade. NISEMBAUM (2000) Básicas: atributos necessários ao funcionamento da organização, mas não distintivos em relação à con- corrência. Essenciais: atributos de caráter distintivo entre uma empresa e outra. Em razão da relevância ao longo do tempo. SPARROW e BOGNANNO (1994) Emergentes: grau de importância tende a crescer no futuro. Declinantes: grau de importância tende a diminuir no futuro. Estáveis: permanecem relevantes ao longo do tempo. Transitórias: importantes apenas em momentos críticos, de crises e transições. Em razão das estratégias da organização. ALLES (2006) Competências Cardinais: todos na organização de- vem possuí-las. Competências Específicas: alguns grupos específi- cos na organização, como um corte vertical por áreas e outro horizontal por funções. Fonte: Adaptado de Sparrow e Bognanno (1994), Nisembaum (2000), Ceitil (2006)e Alles (2006). Sobre o quadro, vale destacar, brevemente, a questão dos conhecimentos tácito e explícito, tratados por Ceitil (2006), visto que são conceitos importantes e fazem parte da dinâmica de criação do conhecimento no ambiente organizacional. Dessa maneira, as principais características de cada tipo de conhecimento, segundo Takeuchi e Nonaka (2008), são: a) tácito: é subjetivo, provém da experiência (corpo); é simultâneo (aqui e agora) e é análogo (prática) e b): explícito: é objetivo, provém da racionalidade (mente); é sequencial (lá e então) e é digital (teoria). Acredita-se que os demais elementos da tipologia da competência são autoexplicativos e, sendo assim, não necessitam definições específicas. Seguindo na questão da tipologia da competência, é importante compreender que o ora discutido é apresentado em um sentido de reciprocidade, ou seja, a competência individual é direcionada para o organizacional, que direciona competências para o individual, conforme ilustra a seguir: 31 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 Figura 4 - Direcionamento das competências individuais nas organizações Competências Individuais Competências Organizacionais Fonte: Adaptado de Zarifian (2001). No entanto, sobre tal aspecto Zarifian (2001, p. 121) expõe que: [...] a mobilização das competências de um indivíduo não pode ser imposta ou prescrita. Não se obriga um indivíduo a ser competente, nem mesmo a tornar-se competente, o que a empresa pode fazer é requerer competências, criar condições favoráveis a seu desenvolvimento e validá-las. Nessa direção, autores como Zarifian (2001), Dutra (2002), Ceitil (2006), entre outros, consideram que mesmo que o indivíduo seja competente, cabe a ele a decisão sobre o nível de entrega da competência à organização. Assim, motivar o sujeito para a aplicação total de sua competência ou até mesmo desenvolver competência é, ao mesmo tempo, uma condição e um efeito da gestão por competência (ZARIFIAN, 2001), tema a ser tratado no Capítulo 3. Todavia, acredita-se que ações para “inserir” o sujeito na organização, por exemplo, fazer com que ele conheça o planejamento estratégico e, assim, compreenda seu papel e sua importância no ambiente organizacional, são atos que incentivam o comprometimento e, nesse sentido, fomentam o desempenho individual do sujeito. Ainda sobre o direcionamento de reciprocidade da competência – indivíduo – organização, Fleury e Fleury (2001b) esquematizam de forma interessante essa relação, cuja representação está seguir: 32 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS Figura 5 – Competências como fonte de valor para o indivíduo e para a organização saber agir saber mobilizar saber transferir saber aprender saber se engajar ter visão estratégica assumir responsabilidades social econômico Indivíduo Organização Conhecimentos Habilidades Atitudes Agregar Valor Fonte: Fleury e Fleury (2001b, p. 188). A interpretação da figura sugere que o indivíduo, por meio de suas competências (conhecimento + habilidades + atitudes), gera ações, que por sua vez resultam em valores sociais e econômicos. O primeiro retorna para ele, fortalecendo a competência utilizada na atividade, ou ainda, pode significar o desenvolvimento de outras competências; e o segundo, valor econômico, se reflete nos ganhos para a organização. Fleury e Fleury (2001b) apresentam também uma ação para cada dimensão individual, que vai fazer com que o fluxo – gerar valor social e valor econômico tenha resultados efetivos. Quadro 4 – Dimensões da competência individuais para ações no ambiente organizacional DIMENSÃO ELEMENTOS PARA FORMULAÇÃO DA AÇÃO Saber agir. Saber o que e por que faz. Saber julgar, escolher, decidir. Saber mobilizar recursos. Criar sinergia e mobilizar recursos e competências. Saber comunicar. Compreender, trabalhar, transmitir informações, conhecimentos. Saber aprender. Trabalhar o conhecimento e a experiência, rever modelos mentais; saber desenvolver-se. Saber engajar-se e comprometer-se. Saber empreender, assumir riscos. Comprometer-se. Saber assumir Responsabilidades. Ser responsável, assumindo os riscos e consequências de suas ações e sendo por isso reconhecido. Ter visão estratégica. Conhecer e entender o negócio da organização, o seu am- biente, identificando oportunidades e alternativas. Fonte: Adaptado de Fleury e Fleury (2001a). 33 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 Vale lembrar que não há uma tipologia mais correta que outra, visto que há diferentes tipos de instituições e, consequentemente, de ambientes organizacionais. Assim, cabe a cada organização determinar a aplicação daquela que melhor lhe convier. No entanto, o desafio maior das organizações talvez esteja no questionamento de Zarifian (2001): como criar condições, favoráveis, para que os sujeitos se motivem para desenvolver competências? No próximo Capítulo será discutido sobre as competências nas organizações. A leitura do texto de Afonso Fleury e Maria Tereza Leme Fleury - Construindo o conceito de competência ajudará você na compreensão deste capítulo introdutório, e está disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rac/v5nspe/v5nspea10.pdf>. Atividades de Estudos: 1) A partir da Figura 4, como a competência individual agrega valores para a organização? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Para reflexão: tente responder à pergunta de Zarifian (2001): como criar condições, favoráveis, para que os sujeitos se motivem para desenvolver competências? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 34 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS 3) Imagine um ambiente organizacional, descreva-o de forma resumida e imagine um setor, um indivíduo ou um grupo de indivíduos. Depois, tente definir competências necessárias para esse ambiente de acordo com a tipologia. Exemplo: Organização: escola Setor: secretaria Tarefa: realização de matrícula. Sujeito: secretário/assistente Administrativo/etc. Tipologia: competências em razão da natureza do papel ocupacional desempenhado pelas pessoas. Competências técnicas: conhecer os procedimentos para a realização da matrícula, saber operacionalizá-los. (conhecimento + habilidade) Comportamentais: efetividade no atendimento ao cliente (responsabilidade, simpatia, cordialidade, organização etc.) ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Este primeiro Capítulo buscou apresentar os elementos basilares para o entendimento da disciplina. Ou seja, é preciso que inicialmente seja compreendida a concepção do fenômeno para continuidade dos estudos. Assim, em um primeiro momento, foi apresentada a historicidade da competência, a fim de que você compreendesse qual a origem desse fenômeno e como ele se insere no mundo contemporâneo. Na sequência, foi apresentado o conceito da competência já alicerçado pela sua história. As correntes teóricas complementam a concepção da competência, no sentido de direcionamento para o estudante. Em outras palavras, a partir das correntesteóricas da competência é possível a interpretação sobre qual é ou será o posicionamento da organização, em relação à gestão por competências. É importante, nesse momento, reconhecer se as correntes são contrárias ou complementares. Essa é uma discussão bastante interessante. 35 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 As dimensões da competência são elementos conhecidos nas ciências da administração, no entanto é preciso reconhecê-los e defini-los. O Conhecimento, Habilidade e Atitude (CHA) são elementos basilares da competência e a não existência de um deles representa a não existência do fenômeno. Aqui há outro ponto interessante para reflexão, a afirmativa de que esses elementos são indissociáveis e devem funcionar como um mecanismo sincronizado é verdadeira ou não? Por fim, a tipologia da competência, que pode ser individual ou organizacional (com ênfase para a primeira, visto que a segunda será tratada no Capítulo 2), traz ao estudante o conhecimento sobre como o sujeito pode manifestar suas competências. Vale lembrar que tais elementos auxiliam também na gestão por competências. Como estudante na modalidade à distância, sugere-se a execução dos exercícios propostos, os quais não têm respostas objetivas. Os questionamentos buscam a reflexão sobre a teoria, inclusive a associação entre o que está se teorizando e o contexto histórico em que se insere. Sugere-se que os textos indicados como leitura complementar sejam lidos, como forma de auxílio nas reflexões analíticas sobre o fenômeno da competência. Como outras possibilidades de estudo, sugere-se também as leituras dos artigos inseridos nas referências, com os links de acesso você pode encontrá-los facilmente. No próximo Capítulo, será abordada a competência nas organizações. Primeiramente, com uma contextualização sobre as competências relacionadas a esse ambiente específico e depois trataremos do conceito de competências organizacionais. Para tanto, é preciso, reforçando o já dito, que este primeiro Capítulo seja bem compreendido. Referências ALLES, M. A. Desempeño por competencias: evaluación de 360º. Buenos Aires: Granica, 2005. ______. Desarrollo del talento humano: basado en competencias. Buenos Aires: Granica, 2006. BANOME, J. B. V. Teoria geral da administração. Curitiba: IESDE Brasil S. A., 2009. BLOOM, B. S; KRATHWOHL, D. R; BERTRAM B. M. 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DURAND, T. Forms of Incompetence. In: SANCHEZ, R.; HEENE, A. Theory development for competent-based management. Greenwich, CT: JAI Press, 2000. v. 6(A). 37 Considerações Gerais Sobre Competências Capítulo 1 ______ The alchemy of competence. Strategic Flexibility. New York: Wiley, 1998. p. 303-330. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/ Thomas_Durand3/publication/265663969_The_Alchemy_of_Competence/ links/551bc8230cf2fe6cbf75e825.pdf> Acesso em: 10 jan. 2017. _____, T. L'alchimie de la compétence. Revue française de gestion, n. 1, 2000. p. 261-292. Disponível em: <http://www.cairn.info/revue-francaise-de-gestion- 2006-1-page-261.htm>. Acesso em: 10 jan. 2017. ÉTINENNE, R.; LEROUGE, A. Enseigner em collège et em lyccé. Repères pour um nuveaus métier. Paris, Armand Colin. 1997. FLEURY, A. FLEURY, M. Construindo o conceito de competência. Revista de Administração Contemporânea. Edição Especial, 2001a. p. 183-196. 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CAPÍTULO 2 A Competência e as Organizações A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender que o fenômeno da competência não é apenas individual, mas estende-se também para as organizações. � Compreender o conceito de competências organizacionais. � Compreender a importância das competências organizacionais para o contexto organizacional. � Identificar as competências organizacionais. � Fazer análises que permitam relacionar os tipos organizacionais, ambiente organizacional e competências organizacionais. 40 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS 41 A Competência e as Organizações Capítulo 2 Contextualização No capítulo anterior, foi possível compreender os elementos basilares da competência, os quais trouxeram a compreensão de que a competência é um fenômeno nascido nos tempos medievais e que chega à contemporaneidade associada a vários campos do conhecimento, entre eles o organizacional. Ao se inserir nos estudos da administração, a competência foi associada ao paradigma da época, ou seja, de uma estrutura organizada para a efetividade dos serviços que visionava resultados e, nesse sentido, a concepção de competência foi relacionada à necessidade de haver indivíduos capacitados para o desempenho das atividades organizacionais. Surge então, a partir dos estudos norte-americanos, a noção de competência relacionada à qualificação, isto é, associada à capacidade do indivíduo para realizar uma determinada tarefa (MCCLELLAND, 1973). Todavia, para os teóricos franceses a questão da habilidade não seria suficiente para a construção da competência, nessa direção, questionaram sobre a necessidade de haver conhecimento e, ainda, motivação do indivíduo para o desempenho da tarefa. No entanto, é preciso compreender que “a competência não é uma negação da qualificação. Pelo contrário, nas condições de uma produção moderna, representa o pleno reconhecimento do valor da qualificação” (ZARIFIAN, 2001, p. 56). O autor lembra ainda que: Durante vários anos, e ainda hoje, tendemos a opor “qualificação” a “competência”. Atualmente, os atores sociais têm ido além dessa oposição: hoje, todas as organizações sindicais, no plano confederativo, admitem que é necessário abordar e negociar a questão da competência, associando-a, todavia, ao tema de qualificação (ZARIFIAN, 2003, p. 35). É importante lembrar que a competência é, de acordo com Parry (1996), um conjunto que envolve conhecimentos, habilidades e atitudes, que influenciam o indivíduo tanto em termos pessoais quanto profissionais, e que pode ser desenvolvida por meio de treinamento. Ressalta-se que vários são os conceitos de competência e, nesse sentido, esta disciplina não foca apenas em um autor para tratar da conceitualização, mas na idealização das linhas teóricas que compreendem o fenômeno como uma estrutura que funciona a partir de três dimensões – o Conhecimento – a Habilidade e a Atitude. É importante dizer ainda que competência não significa apenas colocar em prática o conhecimento, é preciso que essa ação aconteça em um determinado contexto, e nessa direção, conforme já discutido no Capítulo 1, tem-se explorado a competência no ambiente organizacional, local em que as competências individuais são associadas 42 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS às organizacionais. Dutra (2002, p. 23) diz que “as pessoas, ao desenvolverem sua capacidade individual, transferem para a organização seu aprendizado, capacitando a organização para enfrentar novos desafios”. Diante de tal circunstância, as organizações contemporâneas caminham na direção da adoção de uma gestão orientada por competências, que para Brandão e Guimarães (2001) tem como proposição direcionar os recursos organizacionais nos diferentes níveis estruturais – individual, grupal e organizacional – para planejar, captar, desenvolver e avaliar por competências. No mesmo sentido, Zarifian (2001) lembra que a competência do coletivo depende do individual, porém não em um sentido puramente maquinal de complementariedade, mas naquilo que se refere ao valor individual das atitudes tomadas diante dos eventos dos casos que exigem tratamento do serviço a produzir, visto que elas concorrem para o sucesso da ação coletiva. Assim, neste capítulo trataremos da competência no ambiente organizacional, no sentido de competências individuais-organizacionais, por meio de uma síntese sobre o que significam organizações. É importante, antes de falar sobre competências nas organizações, relembrar o conceito de organização, os tipos de organizações e de que forma é estruturado um ambiente organizacional. Na sequência, será introduzida a competência nas organizações. É importante dizer que este é um fenômeno intimamente ligado aos aspectos de gerência de pessoal das empresas, no entanto existem as core competences ou competências essenciais, que associadas aos aspectos de pessoal, de recurso e de resultados esperados, fomentam a construção das estratégias organizacionais. Bons estudos! As Organizações As organizações, no transcorrer da história, vêm passando por diversas transformações em função das mudanças sociais, políticas e econômicas que ocorrem constantemente. Fischer (1992) explica que as transições organizacionais não se limitam à estrutura, produtos ou mercados de foco, mas principalmente aos padrões comportamentais, culturais, políticos e de relação interna e externa. Ainda segundo a autora, não se tratam de mudanças episódicas, mas de um processo contínuo na vida das organizações. A teoria de Robbins (2001) sobre a transformação nas organizações por meio de causas como a globalização, as revoluções tecnológicas As organizações, no transcorrer da história, vêm passando por diversas transformações em função das mudanças sociais, políticas e econômicas que ocorrem constantemente. 43 A Competência e as Organizações Capítulo 2 (computação, telecomunicações e informação), o crescimento de alguns setores de trabalho e declínio de outros, a diversidade cultural, as mudanças nas expectativas da sociedade, o aumento do espírito empreendedor e clientes mais inconstantes e exigentes é muito interessante. Conheça as características de uma organização antes e depois das mudanças apontadas por Robbins (2001), as quais são apresentadas pelo autor em um quadro comparativo entre a velha e a nova organização: Quadro 5 – A organização em transformação VELHA ORGANIZAÇÃO NOVA ORGANIZAÇÃO • Fronteiras nacionais limitam a competição. • As fronteiras nacionais são quase insignificantes na definição dos limites de operação de uma organização. • Empregos estáveis. • Cargos temporários. • Mão de obra relativamente homogênea. • Mão de obra diversificada. • A qualidade é uma reflexão tardia. • O aprimoramento contínuo e a satisfação do cliente são essenciais. • As grandes corporações fornecem segurança no emprego. • As grandes corporações estão reduzindo drasticamente o número de funcionários. • Se não quebrou, não conserte. • Redesenhe todos os processos. • Disperse os riscos pela participação em múltiplos negócios. • Concentre-seem competências centrais. • A hierarquia proporciona eficiência e controle. • Desmantele a hierarquia para aumentar a flexibilidade. • Jornadas de trabalho definidas, como das 9 às 18h. • Os expedientes não possuem nenhum limite de tempo. • O trabalho é definido pelos cargos. • O trabalho é definido em termos das tarefas a serem realizadas. • Os gerentes tomam decisões sozinhos. • Os funcionários participam das decisões. • A tomada de decisão é motivada pelo utilitarismo. • Os critérios de decisão são ampliados para incluir direitos e justiça. Fonte: Robbins (2001, p. 11). 44 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS Vale lembrar que a questão da “modificação” nas organizações foi discutida por Etzioni (1978, p. 332), quando o autor constatou que “como as organizações são unidades sociais planificadas, orientadas para metas específicas sob liderança relativamente racional e autoconsciente, representam, provavelmente, maior inclinação para a mudança de qualquer outra unidade social”, ou seja, se há alteração do contexto em que a organização está inserida, a mudança é uma consequência de fato. Conforme podemos observar, compreender organizações é algo complexo, visto que envolve toda uma estrutura que sofre transformações frequentes e, ainda, nesse cenário, estão envolvidas pessoas que tornam o processo um pouco mais intrincado. Assim, vamos tratar primeiro de retomar temas sobre o conceito de organizações, tipos de estrutura, aspectos formais e informais, para depois inserir a competência nas organizações e mais adiante a gestão por competências, momento em que discutiremos a gestão de pessoas nas organizações. Conceito de Organização na Perspectiva da Administração O conceito de organização, tal qual o de competência, é amplo e engloba vários campos do conhecimento. Desta maneira, seguindo o foco desta disciplina, vamos tratar da concepção que envolve os estudos das ciências da administração. Vamos primeiro tentar entender que as organizações existem para oferecer bens e serviços para a sociedade (COELHO, 2004). O autor lembra que em tempos antigos os produtos alimentícios e roupas eram produzidos pela própria “casa”, para seus moradores, e o excedente era trocado entre vizinhos ou nas praças. Outros povos, como os fenícios, focaram nas trocas e assim estimularam a produção de bens para a venda, expandindo o comércio, que mais tarde originou as organizações e hoje se expandem e ganham complexidade. Uma organização é um sistema que, a partir do trabalho dos indivíduos, transforma recursos em produtos e/ou serviços. Sobre tal afirmativa, Etzioni (1978, p. 13) explica que: As organizações [que são complexas] representam um dos elementos mais importantes no contexto social das sociedades modernas. Em geral, os cidadãos das sociedades modernas nascem em hospitais, são educados em escola, trabalham em uma ou outra organização e, de acordo com sua participação em atividades político-religiosas, também com frequência ocupam lugares nas organizações [...]. As organizações existem para oferecer bens e serviços para a sociedade (COELHO, 2004). 45 A Competência e as Organizações Capítulo 2 Assim, as organizações existem para atender, por meio de seus produtos/serviços, às necessidades e aos desejos dos indivíduos, ou ainda, segundo Daft (2003), para reunir recursos para alcançar metas e resultados desejados; produzir bens e serviços com eficiência; fomentar a inovação; utilizar tecnologia moderna de fabricação, adaptar-se a um ambiente, influenciá-lo e transformá-lo; criar valor para o proprietário e clientes internos e externos e acomodar os constantes desafios da diversidade, da ética e da motivação e coordenação dos colaboradores. Compreendido o porquê de uma organização, trataremos o conceito a partir de leituras mais clássicas, para depois chegarmos a teorias mais contemporâneas sobre o termo. Assim, para March e Simon (1978, p. 70), [...] uma organização é um sistema de comportamentos sociais inter-relacionados de um número de pessoas, que denominaremos participantes da organização. Cada participante e cada grupo de participantes recebem da organização estímulos, em troca dos quais dão contribuições à mesma. Cada participante continuará a sua participação em uma organização enquanto os estímulos que lhe sejam oferecidos forem tão grandes, ou maiores (medidos em termos de valores atribuídos pelo participante e em termos das alternativas que lhe estejam abertas) do que as contribuições que dele forem solicitadas. As contribuições proporcionadas pelos diferentes grupos de participantes são a fonte da qual a organização retira os estímulos oferecidos aos participantes. Portanto, uma organização é “solvente” – e continuará existindo – enquanto as contribuições forem suficientes para proporcionar estímulos em proporção suficientemente grande para poderem motivar as contribuições. Selznick (1978, p. 30) conceitua organização como “um sistema de atividades ou forças conscientemente coordenadas, entre duas ou mais pessoas”. Para Etzioni (1978), a organização é uma unidade social, cujos objetivos têm várias funções, entre elas, ser fonte de legitimidade, que justifica suas próprias atividades; definir padrões para avaliar sua eficiência e rendimento, constituir uma unidade de medida para verificar sua produtividade. O entendimento é de que uma organização é uma unidade social que busca o alcance de seus objetivos, estruturada para tanto. Maximiano (2000) entende que a organização é um conjunto de recursos utilizados para realizar algum tipo de objetivo(s). Já Robbins (2001, p. 31) considera que “uma organização é um conjunto sistemático de duas ou mais pessoas que cumprem papéis formais e compartilham um propósito comum”. Daft (2003) diz que se trata de entidades sociais dirigidas por metas, desenhadas como um sistema de atividades deliberadamente estruturadas e coordenadas, ligadas ao ambiente externo, e Drucker (2005) declara tratar-se de um grupo humano de especialistas que trabalham juntos em uma atividade com fins comuns. As organizações existem para atender, por meio de seus produtos/ serviços, às necessidades e aos desejos dos indivíduos. 46 GESTÃO DE COMPETÊNCIAS Além do conceito, é importante saber também que as organizações podem ser caracterizadas por elementos que lhes concedem tal nomenclatura, nesse sentido, Caravantes (2000) diz serem componentes estruturantes da concepção de uma organização aqueles dispostos no quadro a seguir: Quadro 6 – Elementos característicos de uma organização ELEMENTOS DE CARACTERIZAÇÃO DESCRIÇÃO Tamanho/Porte A organização, geralmente, tem dimensões amplas. Formalização O porte grande de uma organização torna necessário o estabelecimento de controles e nor- mas que orientam a condução dos trabalhos (Dire- trizes, Políticas, Estatutos, Regimentos). Racionalidade Em uma organização há a necessidade de definição sobre cargos e atividades. É preciso uma descrição sobre “quem faz o quê”. Hierarquia Em uma organização há diferentes níveis de auto- ridade e responsabilidade. Quanto maior a escala hierárquica, maior a autoridade e, consequente- mente, as responsabilidades do sujeito. Especialização Agrupamento de atividades exercidas pelo in-divíduo ou pela organização. Fonte: Adaptado de Caravantes (2000). Outra visão sobre as características de uma organização é a de Robbins (2001), que as resume em três características básicas, definindo a organização como uma entidade com propósitos distintos, na qual se inserem pessoas que se organizam em uma estrutura sistemática. Dessa maneira, o autor expõe que: A primeira é que cada uma tem um propósito distinto, normalmente expresso em termos de meta ou conjunto de metas. A segunda é que cada uma é composta de pessoas. A terceira é que todas as organizações desenvolvem uma estrutura sistemática, que define papéis formais e limita o