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1 TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO APOSTILA PARA USO NA DISCIPLINA “TREINAMENTO E SELEÇÃO” UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – CURSO PSICOLOGIA SEMESTRE: 2022/1 PROFª: ELINA PIETRANI 1. INTRODUÇÃO O processo de treinamento e desenvolvimento nas organizações vem se apresentando como um importante subsistema da psicologia organizacional, juntamente com o processo de recrutamento e seleção. Considerando que o recrutamento e seleção pode nem sempre obter êxito em seu objetivo de identificar plenamente o candidato adequado à vaga, o processo de treinamento e desenvolvimento surge com o objetivo de preencher as lacunas deixadas pelo processo de seleção. Nesse sentido, o papel do treinamento e desenvolvimento seria agregar ao trabalhador condições tais que ele possa desempenhar suas atividades de forma satisfatória. Mas seria apenas esse o objetivo do treinamento e desenvolvimento: promover um melhor desempenho do trabalhador? Seria possível pensarmos o treinamento organizacional a partir de outras possibilidades também? E como lidar com as questões que envolvem atualmente o mundo do trabalho (avanços tecnológicos, globalização, mudanças no envolvimento das pessoas com o trabalho etc.)? 2. HISTÓRIA DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NAS ORGANIZAÇÕES (Melo et al, 2015; Noe, 2015; Pilati, 2006) 2.1 O processo artesanal O processo de aprendizagem no trabalho sempre esteve presente, desde que o homem existe. Assim, na pré-história, os homens já treinavam suas habilidades para a caça e a pesca e repassavam suas habilidades para as gerações seguintes, num período em que o trabalho tinha como objetivo a manutenção de sua sobrevivência. Com o processo de descobertas do homem (como o fogo, a roda etc.), o homem aperfeiçoa seu processo de produzir suas roupas, sua habitação e até a produção das ferramentas de fabricação. É o período denominado como artesanal, já que os produtos, criados apenas para sobrevivência do homem, eram confeccionados de forma manual. Nesse processo, os artesãos (ou mestres) passavam seus ensinamentos aos filhos e aos aprendizes. O artesanato, enquanto uma das mais antigas modalidades de trabalho, atravessou diversos períodos históricos, detendo características peculiares. O artesão vivia em ambiente familiar e controlava o ritmo de sua produção de acordo com suas próprias necessidades. Além disso, o artesão tinha controle sobre os meios de produção e técnicas necessárias para a realização de seu trabalho. 2 2.2 A Manufatura Gradativamente, as produções realizadas passaram a ser trocadas e, posteriormente, vendidas em pequenos comércios. Com o aumento desse comércio e as contínuas descobertas de aperfeiçoamento das ferramentas de produção, formaram-se, pelos aprendizes e mestres, as corporações de ofício, que passaram a vender sua produção para grandes comerciantes. Apesar dessa evolução do processo de produção, a manufatura ainda detinha com o produtor o saber de seu trabalho, bem como o controle sobre seu escoamento. 2.3 Revolução Industrial A partir do século XVI-XVII, em um processo gradativo, graças às novas descobertas da ciência, pela máquina a vapor, por exemplo, o trabalho de manufatura perdeu suas características, uma vez que aquele que era o grande comerciante empreendeu o processo fabril, como forma de obter o total domínio do processo de produção, e esta passou a ser industrializada. Ou seja, o processo de fabricação passou de um processo manual para um processo industrial, realizado no espaço fabril, gerando o que ficou denominado como Revolução Industrial. Os processos de fabricação eram compartimentalizados, e cada trabalhador detinha uma parte do processo sob sua responsabilidade, a qual era extremamente elementar. A partir de então, o processo de aprendizagem no trabalho passou a se dar pelo treinamento do homem na operacionalização dessas tarefas. Desse modo, o processo de treinamento visava a destreza desse trabalhador na operação de sua tarefa e nada mais. Nesse sentido, a operação da tarefa não exigia qualificação complexa, uma vez que eram atividades altamente rotineiras, mas requeria tão e somente o ajustamento do homem à tarefa e ao manuseio da máquina. Partindo do sentido da palavra “treinamento” apontada pelo dicionário, qual seja: “1. Ato de se treinarem ou adestrarem pessoas ou animais para torneios ou festas de esportes; adestramento. 2. Adestramento em qualquer ramo de atividades; destreza, treinamento, adestramento” (Ferreira, 1999, p. 195), pode-se dizer que a palavra “treinamento” era bem aplicada nesse período, relacionando-se a “modelar” o homem à sua atividade, “ajustá-lo” ao processo fabril. Surge daí o período denominado como taylorismo, com a divisão rigorosa das tarefas e a hierarquização da classe operária (aquela que fabricava) e a classe de supervisores (designada ao controle das tarefas). Taylor, um homem obstinado pelo cálculo e mensuração, observador minucioso e, sobretudo, determinado em seus propósitos, percebeu como a produtividade de uma indústria poderia ser exponencialmente ampliada com a análise, controle e padronização de métodos de trabalho, cronometricamente medidos e avaliados. O trabalhador, apesar de desapropriado de suas ferramentas, matérias-primas e local de trabalho, conseguia ainda manter a gestão do modo de produção, ou seja, determinava ele próprio o modo de fabricação (trazido pelo saber prático, familiar, transmitido de geração para geração). Dessa forma, conseguia conferir certo poder à sua produção, ao deter o saber técnico e imprimir seu próprio ritmo de trabalho, que, na concepção taylorista, estaria abaixo de uma produtividade satisfatória. Para Taylor, esse modo de trabalho investido pelo operário, era consequência de uma gestão ineficiente da direção, deixada por conta do trabalhador. Assim, na sua Administração Científica, em seu Segundo Princípio, Taylor (1911/2011, p. 40-41) determinava que a empresa deveria “Selecionar cientificamente, depois treinar, ensinar e aperfeiçoar o trabalhador. No passado, ele escolhia seu próprio trabalho e treinava a si mesmo como podia”, 3 mas tal modelo se mostraria agora insuficiente ao atingimento das metas programadas da produção. Para Malvezzi (1994), as ações de treinamento se constituíram, desde o início das organizações industriais, em um processo fundamental no campo das pessoas com o trabalho. A lógica que orientava tais ações era a de capacitar os trabalhadores para desenvolverem as tarefas prescritas pela organização do trabalho. Seja como for, o processo de treinamento se tornou um processo sistemático nas organizações a partir desse período e se intensificou com as produções em série (fordismo) (final do século XIX e início do século XX). 2.4 Século XX A partir de 1930, o treinamento começa a se tornar um processo estratégico nas organizações, uma vez que as mudanças no mundo do trabalho já despontavam. Ocorre nesse período uma demanda para estruturar cientificamente as ações de treinamento de pessoal. As indústrias se beneficiam dos conhecimentos da psicologia da época, principalmente pela psicologia comportamental, em Watson e Thorndike (Pilati, 2006). Em meados do século XX, começam a surgir críticas a esse modelo de treinamento do tipo adestramento, uma vez que, dados os eventos ocorridos nesse período (como a Segunda Grande Guerra), o homem passa a ser olhado em um processo multidimensional e compreendido em sua complexidade (Pilati, 2006). 2.5 Final do século XX - Anos 1980 Novos paradigmas do trabalho surgem a partir: - da globalização; - dos avanços tecnológicos, principalmente da comunicação; - da diversidade da força de trabalho; - Etc. A globalização não se restringe a setores específicos de negócios ou grandes empresas. Empresas que não possuem operações internacionais podem comprar ou utilizar bens produzidos em outrospaíses, contratar funcionários de outros continentes ou competir com empresas estrangeiras dentro do seu próprio país. A tecnologia, por sua vez, vem facilitando a expansão dos negócios, integrando pessoas, empresas e ... conhecimentos. A Internet permite que dados e informações estejam acessíveis e disponíveis em todo o mundo, em tempo real. Além da informação via sites eletrônicos, também o e-mail, videconferência, celular possibilitam a realização de negócios e a troca de informações em tempo real. O processo de treinamento e desenvolvimento passou a ser referenciado como um processo altamente estratégico nas organizações, tendo em vista o avanço cada vez maior e frequente das tecnologias, da expansão das fronteiras internacionais e da competitividade que tomou conta do cenário corporativo, levando à criação de novos produtos e serviços com frequência. 4 Com um foco estratégico, pensa-se agora em desenvolvimento das pessoas nas organizações, o qual passou a ser investido por um conjunto de ações planejadas e calculadas, visando atingir o objetivo de potencializar a condição das pessoas, para então potencializar a condição da empresa frente aos demais concorrentes (Noe, 2015). Estas questões promoveram mudanças no papel do treinamento e desenvolvimento dos trabalhadores. Estes, hoje, são requeridos a exercer múltiplas funções, o que requer múltiplas habilidades técnicas. Além disso, são também requeridos a investirem sua subjetividade nos processos de trabalho, através da criatividade, intuição, inovação, bem como o trabalho em equipe, entre outros. “A ênfase está no desenvolvimento da criatividade dos trabalhadores, no preparo para tomada de decisões” (Pilati, 2006, p. 161). O papel do treinamento foi ampliado de uma mera operação de máquinas para um processo de aprendizado amplo, contínuo e integral do trabalhador, envolvendo várias facetas, metodologias e tecnologias. Por estarem voltadas para ações técnicas, mas também comportamentais, a psicologia detém uma grande importância nesse modelo de treinamento atual, dadas as novas características e conteudos que ele absorveu. A palavra “treinamento” continua fazendo parte do vocabulário de muitas organizações, mas hoje o que se pensa, de fato, é uma educação continuada, ou seja, um processo constante de aprendizagem que se dá em todos os níveis hierárquicos, a partir de uma visão do homem como um ser holístico, total, que não apenas pensa, mas que tem emoções e é capaz de criar e recriar seu cenário profissional. Para Pilati (2006, p. 160), as ações de capacitação sempre tiveram como objetivo o alcance dos resultados organizacionais, por meio da qualificação da mão-de-obra, seja para a efetivação do trabalho rigorosamente prescrito (dentro da administração científica nos primórdios do século XX) seja para o desenvolvimento dos trabalhadores (após a Segunda Guerra Mundial e até os dias de hoje). É importante que o processo de treinamento e desenvolvimento esteja associado aos objetivos e metas estratégicas da organização (Noe, 2015). Ainda assim, é necessário que nós, psicólogos, pensemos o treinamento e desenvolvimento como um processo de crescimento também para as pessoas. 3. O APRENDIZADO ORGANIZACIONAL E SUAS MODALIDADES O processo de treinamento e desenvolvimento pode se dar da seguinte forma: 1) Pode ser técnico e/ou comportamental; 2) Pode ser formal e/ou informal; 3) Conhecimento explícito x conhecimento tácito. 5 1) Aprendizado técnico x aprendizado comportamental Aprendizado técnico: desenvolver habilidades técnicas ou tecnológicas necessárias aos objetivos organizacionais. Refere-se ao domínio de conhecimentos e possam aplica-los às atividades do dia-a-dia ou em projetos futuros. Aprendizado comportamental: desenvolver os aspectos comportamentais do trabalhador, necessários ao ambiente organizacional. Ex.: liderança, lidar com conflitos, lidar com diversidades etc. 2) Aprendizado formal x aprendizado informal Aprendizado formal: diz respeito aos programas, cursos e eventos desenvolvidos e organizados pela empresa. Aprendizado informal: ocorre pela iniciativa do próprio funcionário, motivado pelo seu próprio desejo de aperfeiçoamento e crescimento. Abrange interações não planejadas com colegas, pares e especialistas, trocas de e-mail, redes sociais (oferecidas pela empresa ou por terceiros). 3) Conhecimento explícito x Conhecimento tácito Conhecimento explícito: é o treinamento documentado, facilmente articulado e transferido de pessoa para pessoa. Tende a ser o foco principal do treinamento formal. Ex.: fórmulas, processos, fluxogramas, apostilas etc. Conhecimento tácito: é o conhecimento pessoal, baseado em experiências individuais, difíceis de sistematizar. Ocorre pela troca e compartilhamento com outros, pela observação e pela prática de uma atividade. As características do treinamento formal podem limitar o aprendizado tácito da pessoa. Por isso, é vital a utilização do aprendizado informal para a aquisição do conhecimento tácito. Entretanto, o treinamento informal não deve substituir o treinamento formal, uma vez que este é necessário para preparar os funcionários para suas tarefas e ajudá-los a avançar em sua carreira profissional. Por outro lado, o treinamento informal pode atuar como um complemento do aprendizado formal, à medida que ajuda os funcionários a obterem o conhecimento tácito que não é adquirido no aprendizado formal. 6 4. DIFERENÇAS ENTRE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO (Chiavenato, 2009; Noe, 2015) Treinamento: volta-se para o presente, para o cargo atual, quase sempre a nível individual, procurando desenvolver competências para desempenho imediato no cargo. Seus objetivos são mais restritos e imediatos, visando dar à pessoa elementos essenciais para o exercício de um cargo, preparando-a adequadamente. Desenvolvimento: visa ampliar, desenvolver e aperfeiçoar a pessoa para seu crescimento pessoal e profissional em determinada carreira na organização. Seus objetivos perseguem prazos mais longos. Volta-se para o futuro. Os programas de treinamento “são projetados para o curto prazo, em função de um propósito definido e específico, como operação de uma máquina ou execução de uma determinada atividade, enquanto o desenvolvimento envolve uma educação mais ampla para os propósitos genéricos e de longo prazo” (CHIAVENATO, 2009, p. 41). Mais do que nomearmos como treinamento e desenvolvimento, devemos instituir essa disciplina como “educação corporativa”. Nesse sentido, a psicologia no trabalho atuará sobre o processo de desenvolvimento das pessoas, alinhando as necessidades do contexto do trabalho e as necessidades do ser humano. Ou seja, tais programas devem enfatizar o autodesenvolvimento da pessoa, além, claro, do seu aperfeiçoamento técnico. Um programa de educação corporativa olhará a pessoa como um todo e não apenas como um fator produtivo; deve propiciar que as pessoas tenham maior consciência de seu modo de ser e como esse modo afeta sua relação profissional. 5. QUAIS OS IMPACTOS QUE O TREINAMENTO E O DESENVOLVIMENTO PODEM GERAR? • Transmissão de informação: Aumentar o conhecimento das pessoas, compartilhar ou disseminar informações. Ex.: informações sobre um produto, a empresa, novos procedimentos, etc. • Desenvolvimento de habilidades: Melhorar as habilidades e destrezas para melhor realização do cargo. Ex.: treinamento sobre como realizar determinada atividade (elaboração de um relatório, operação de uma máquina, etc.) • Desenvolvimento de atitudes: Desenvolver comportamentos mais favoráveis ao desempenho do cargo. Ex.: capacidade de liderança, comunicação, etc. • Desenvolvimento de conceitos: Desenvolver ideias e conceitos, ampliar o nível de abstração, procurando pensar em termos mais amplos e globais. 7 6. DE QUEMÉ A RESPONSABILIDADE DO TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO? Noe (2015) observa alguns aspectos da realidade corporativa a esse respeito, tais como: 1) Em empresas pequenas (até 100 funcionários), normalmente o treinamento e desenvolvimento fica a cargo do próprio fundador da empresa e até mesmo dos próprios funcionários. 2) Em empresas a partir de 100 funcionários, é frequente que alguém fique designado a exercer essa responsabilidade, geralmente uma pessoa da área denominada como Recursos Humanos. 3) Em empresas de grande porte, é comum a constituição de um setor específico para tal, denominado como Setor de desenvolvimento de pessoal ou nomenclaturas afins. Nesse caso, o setor ficará responsável por toda a concepção do treinamento (todas as suas fases). 4) Algumas empresas ainda terceirizam os seus processos de treinamento e desenvolvimento. Para Chiavenato (2009), o treinamento e o desenvolvimento é uma responsabilidade de todos na organização. Devem ser baseados na necessidade das pessoas e das gerências das áreas (função de linha) e intermediada pela área de recursos humanos (função do staff). Ou seja, os gestores devem ser preparados para assumir a responsabilidade pelo aperfeiçoamento contínuo de seus liderados, junto com eles. Em outras palavras, o conceito de treinamento e desenvolvimento está implícito na tarefa gerencial. Por outro lado, a área de recursos humanos deve promover ações que facilitem essa tarefa aos gestores ou a quem quer que seja (Chiavenato, 2009, p. 46). 7. ELABORAÇÃO DO PROCESSO DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO O processo de treinamento e desenvolvimento de pessoal inclui as seguintes etapas: Diagnóstico Desenho Levantamento das necessidades de treinamento. Diagnóstico da situação Elaboração do projeto ou programa de treinamento para atender ao levantamento de necessidades. Implementação Avaliação Execução do treinamento. Verificação dos resultados obtidos com o treinamento. O treinamento atendeu às necessidades detectadas? 8 1: O DIAGNÓSTICO DE NECESSIDADES DE TREINAMENTO O diagnóstico de necessidades é um passo fundamental para a elaboração de um novo treinamento e na revisão dos treinamentos já existentes. Trata-se de compreender as lacunas existentes na organização, nas pessoas e/ou nas tarefas, para a partir daí planejar o processo de treinamento e desenvolvimento. Assim, essa fase envolve a análise da organização, das pessoas e das tarefas. No que se refere à organização se verificará: a estratégia de negócios da empresa, seus objetivos e metas. No que se refere às pessoas, se analisará o que uma pessoa sabe e faz e o que ela deveria saber e fazer para realizar de forma adequada as responsabilidades do cargo. Em relação às tarefas, cabe verificar se o modo como uma tarefa é realizada está em harmonia ou desarmonia com um modo mais eficaz ou de melhor resultado. Nesse caso, o treinamento se voltará para o desenvolvimento de novos procedimentos de trabalho ou comportamentos, habilidades etc que levem a um modo de fazer mais satisfatório. Enfim, o diagnóstico visa compreender a lacuna existente entre as competências disponíveis e existentes em determinado momento na organização e as competências necessárias. Desse modo, se verificará quem precisa de treinamento, qual o conteúdo e o modelo de treinamento a ser aplicado. O diagnóstico de necessidades voltará os olhos para os problemas atualmente existentes na empresa e como podem ser solucionados pela via do treinamento. Ao realizar um diagnóstico, sua função é determinar se o treinamento é a solução mais apropriada para o problema detectado. O diagnóstico com fins de treinamento e desenvolvimento precisa ser elaborado de forma adequada, dentro da realidade da organização e do campo social e econômico no qual ela se encontra. Se o diagnóstico não for conduzido corretamente, uma ou mais das situações abaixo pode acontecer: ❖ O treinamento pode ser aplicado erroneamente como uma solução para um problema, que, em realidade, requeria apenas mudança de cargo, reajuste salarial, melhor comunicação de expectativas de desempenho etc. ❖ Os programas de treinamento terão conteúdo, objetivos ou métodos errados. ❖ Os funcionários serão enviados ao treinamento sem os pré-requisitos básicos para que a aprendizagem ocorra, inclusive a motivação. ❖ O treinamento não apresentará os resultados esperados. ❖ Os custos que envolvem o treinamento serão desperdiçados. 9 Quem participa do diagnóstico de necessidades? Ou seja, quem efetua o levantamento de necessidades de treinamento? Conforme vimos na primeira etapa dessa temática, o treinamento é uma responsabilidade de linha (gerências das áreas) e função do staff (recursos humanos). Portanto, cabe aos dois essa primeira etapa do processo. Ao Recursos Humanos (psicólogo organizacional), cuja área tem a responsabilidade pela organização e controle do processo de treinamento e desenvolvimento, caberá a organização e condução do levantamento de necessidades. A alta direção, os gerentes das áreas e demais funcionários devem informar as necessidades percebidas. Meios utilizados para o diagnóstico (levantamento) de necessidades de treinamento (Moraes, 2002; Noe, 2015) - entrevistas com pessoal de linha visando obter a percepção (de quem executa) dos problemas de trabalho. Podem ser estruturadas ou não, formais ou casuais, individuais ou em grupo; - entrevistas com coordenadores ou gerentes, visando obter a percepção dos possíveis problemas em sua área de atuação; - questionários, que podem recorrer a uma grande variedade de formas e perguntas (abertas e/ou fechadas, impressas ou online etc.) e permitem abranger amostras muito significativas ou até toda a população; - entrevistas de desligamento: momento em que funcionários estão deixando a organização é o momento mais apropriado para conhecer, não apenas a sua opinião sincera sobre a organização, mas também as razões que motivaram sua saída; - avaliação de desempenho, pois através da avaliação de desempenho é possível detectar como funcionários vêm executando suas tarefas e como estão executando; - reuniões que visam examinar estratégias organizacionais, objetivos organizacionais e seus desdobramentos, aquisição de novas tecnologias pela empresa, situação da empresa em relação aos concorrentes, problemas operacionais e outros assuntos administrativos; - exame de índices de RH, tais como, turnover elevado, absenteísmo, índices de acidentes de trabalho, resultados de pesquisa de clima etc.; - indicadores de desempenho organizacional, que podem dar uma indicação dos problemas de desempenho como qualidade do produto, utilização de equipamentos, atrasos na execução, reclamação dos usuários, custos de trabalho e material, desperdícios etc; - mudanças que podem intervir nos processos de trabalho tais como mudanças estruturais, culturais, tecnológicas, políticas de inovação, valores e crenças; - Observação; - Outros. 10 2: DESENHO DO PROGRAMA DE TREINAMENTO Feito o diagnóstico de necessidades de treinamento, identificadas as lacunas que precisam ser preenchidas com treinamento e não com outras ferramentas, chega a hora de se efetuar o desenho do treinamento. Nesse momento, cada necessidade identificada irá se transformar em um treinamento. Desse modo, quando falamos em desenho do programa de treinamento, estamos falando de cada treinamento de forma única. Evidentemente, isso não exclui a possibilidade de que algumas demandas sejam atendidas por um único treinamento. Mas, ainda assim, o treinamento (e seu desenho) será único. Para que as necessidades de treinamento sejam atendidas, ou seja, para queo aprendizado aconteça, é preciso que os programas incluam objetivos claros, conteúdo adequado e relevante, oportunidades de prática, linguagem adequada, ambiente favorável, entre outras condições. O desenho do programa de treinamento deve englobar: 1) Objetivos ou resultados esperados. Para que treinar? 2) Conteúdo ou assunto do treinamento. Em que treinar? 3) Pessoas que receberão o treinamento. Quem deve ser treinado? 4) Instrutor. Por quem será realizado o treinamento? 5) Local do treinamento. Onde treinar? 6) Data e/ou periodicidade do treinamento. Quando treinar? 7) Valores a serem gastos com o treinamento. Qual o custo provável do treinamento? 8) Metodologias de treinamento. Como deve ser treinado? Vejamos, a partir de agora, cada item. 1) Objetivos ou resultados esperados. Para que treinar? Os objetivos do treinamento devem estar alinhados às necessidades que geraram o treinamento. O objetivo é o propósito e o resultado esperado das atividades de treinamento, e os funcionários aprendem mais quando o compreendem. Pode haver um para cada sessão de treinamento, bem como objetivo geral para o programa. Os objetivos servem como metas do programa a serem atingidas, portanto, é preciso que os participantes entendam, aceitem e comprometam-se em atingi-los para ter resultado. Os objetivos com base no diagnóstico de necessidades de treinamento ajudam os funcionários a entenderem a razão pela qual precisam do treinamento e o que precisa ser aprendido. Eles [os objetivos] também são úteis na identificação dos tipos de resultados que devem ser medidos para avaliar a eficácia do treinamento (NOE, 2015, p. 165-166). 11 O objetivo não deve descrever desempenhos que não possam ser observados concretamente, como “compreender”, “saber” etc. O objetivo de treinamento possui três componentes, segundo Noe, (2015, p. 166) 1- Desempenho ou resultados esperados (o que se espera que o funcionário faça) 2- Critério (qualidade ou nível do desempenho) 3- Condições para sua realização (condições sob as quais se espera que o funcionário alcance o resultado desejado) Exemplo: Necessidade detectada: problema de comunicação dos gerentes com seus subordinados, mais especificamente no que se refere à dificuldade no feedback para com os liderados. Objetivo: Após o treinamento, os gerentes devem ser capazes de realizar feedback aos seus subordinados, dentro dos princípios de feedback compartilhados durante o treinamento, independente de quando ocorrer a necessidade do feedback, ou seja, em condições formais – avaliação de desempenho, por exemplo, ou condições informais – necessidade de feedback em situações do dia-a-dia. Necessidade detectada: problema de feedback do professor aos alunos, fazendo-o de modo agressivo. Objetivo: Possibilitar que o professor seja capaz de dar um feedback aos alunos, dentro dos critérios de feedback discutidos no treinamento, sempre que houver a necessidade de feedback nos treinos ou em situações afins. Conteúdo do treinamento: trabalhar o feedback respeitoso - priorizar elogios e incentivos a xingamentos; falar com voz calma; dirigir palavras de incentivo aos alunos; dar feedback objetivo, em cima de fatos e dados observáveis, e não feedback generalizados; vocabulário simples; refletir sobre as consequências de um feedback mal desenvolvido. Exemplos de verbos para objetivos 12 Exemplos de objetivos • Desenvolver uma equipe multifuncional que seja capaz de estabelecer-se em um ambiente desafiador, para produzir melhorias nos resultados. • Reduzir os defeitos nos produtos de 10% para 7%. • Listar todos os nós de um DC-3 multi-switch corretamente, sem ajuda de um manual como referência. • Utilizar o software com 100% de precisão, tendo acesso ao guia rápido de referência. 2) Conteúdo do treinamento. Em que treinar? O conteúdo do treinamento deve estar pertinente aos objetivos que se deseja atingir, ao público-alvo e à metodologia utilizada. O conteúdo deve ser cuidadosamente selecionado visando os critérios acima, caso contrário pode colocar a perder todo o processo de treinamento. É importante que, ao se desenhar o programa de treinamento, se pergunte se aquele conteúdo responde aos objetivos propostos. Da mesma forma, é necessário verificar se ele atenderá, em sua linguagem, formato, canal de comunicação, às expectativas do público participante. 3) Pessoas que receberão o treinamento. Quem deve ser treinado? O programa de treinamento deve ser planejado e elaborado visando atingir os objetivos, mas também deve ser planejado e elaborado com base nas pessoas que participarão do treinamento. Assim, é importante verificar: 1) Para quem este treinamento é direcionado? 2) Os participantes já se conhecem? 3) Os participantes conhecem a empresa? 4) Qual a quantidade de pessoas que participará do treinamento? (A quantidade de pessoas impacta na metodologia a ser utilizada, no tempo de duração do treinamento e outras questões). 5) Qual o nível instrucional dos participantes? (O conteúdo do treinamento, a metodologia a ser aplicada etc depende, muitas vezes, do grau de instrução dos participantes). 6) Idade, geração: se pessoas mais velhas, jovens, adolescentes etc – é importante porque ajuda os instrutores a criar um ambiente de aprendizagem e desenvolver materiais que correspondam às preferências do aprendiz. Se o grupo é composto por pessoas de gerações diferentes, deve-se criar um programa com metodologias e recursos variados. Deve-se promover a troca de experiências e compartilhamentos. 7) Personalidade: o programa também deve ser elaborado no modo de ser dos participantes, voltando-se para eles e não impondo metodologias inadequadas. Os participantes devem estar cientes do programa do treinamento, seu conteúdo, seus objetivos, sua necessidade, tempo de duração e outros aspectos que forem inerentes 13 ao programa, como, por exemplo, se haverá refeições por conta e custo do treinamento, horário etc. 4) Escolha do Instrutor. Por quem será realizado o treinamento? O instrutor pode ser externo (consultores independentes, empresas de consultoria, instituições acadêmicas ou especialistas na área) ou interno (funcionário da empresa, também especialista na área ou, pelo menos, que detém uma maior experiência ou conhecimento). Externos ou internos, os instrutores devem ser especialistas no assunto e ter experiência em treinamento. A empresa pode propiciar condições para que pessoas que detenham o domínio de um conhecimento ou experiência se tornem instrutores, oferecendo-lhes os recursos e – também – treinamentos para tal. Instrutor Interno – Vantagens e Desvantagens: Vantagens: ✓ Usar pessoas da casa como instrutores pode aumentar a relevância do processo de treinamento, uma vez que eles dominam o negócio da empresa e podem tornar o conteúdo diretamente aplicável às situações de trabalho. ✓ Ter os gerentes e funcionários como os próprios instrutores do treinamento pode aumentar o apoio deles ao processo de aprendizado. ✓ Menor custo de contratação. ✓ Pode ser uma experiência gratificante para gerentes e funcionários, caso sejam reconhecidos pela empresa ou a experiência de treinamento esteja vinculada ao seu processo de desenvolvimento pessoal e profissional na empresa. ✓ Outras. Desvantagens: ✓ Pessoas, pela estreita relação que mantém com os funcionários, podem não ser assertivas durante o treinamento, tornando o programa ineficaz. ✓ Ausência de comprometimento. ✓ Dificuldade em perceber aspectos inadequados na empresa ou nas pessoas participantes do programa, em função de já estar inserido na rotina da empresa. Por isso, a importância que os instrutores internos detenham o domínio do conhecimento a ser transmitido, mas tenham também características pessoais que permitam a fluidez do aprendizado.Instrutor Externo - Vantagem e desvantagens: Vantagens: ✓ Algumas vezes, o instrutor externo pode ser também uma solução eficaz, no sentido de poder perceber aspectos nos participantes (fala, comportamento, motivação etc) que o instrutor interno não perceberia; 14 ✓ Percepção diferenciada dos processos da empresa, que um instrutor interno talvez não perceberia, e, desse modo, trazer novos olhares para os processos organizacionais e para a cultura da empresa. Desvantagens: ✓ Não conhecer bem a empresa, sua cultura e seus processos; ✓ Sua contratação geralmente é acompanhada de um custo maior do que o instrutor interno. Cuidados na escolha do Instrutor Interno e/ou Externo: o Ao optar por um instrutor externo, é importante saber até que ponto o programa de treinamento será personalizado, tendo como base as necessidades da empresa ou se o instrutor oferecerá serviços de treinamento com base no que é aplicado a várias organizações indistintamente. o Deve-se checar a experiência do instrutor ou da empresa de consultoria na área do que será ministrado e em treinamento, buscar referências, solicitar uma apresentação do programa após sua elaboração pelo instrutor/empresa de consultoria etc. o O trabalho do instrutor interno/externo, desde o planejamento do treinamento até o término da execução deste, deve ser acompanhado de forma estreita por um responsável na empresa, geralmente da área de Recursos Humanos (o psicólogo responsável pelo processo de treinamento e desenvolvimento), ou o gestor da área a qual o treinamento está sendo dirigido, ou ainda alguém designado por um destes. o Deve-se solicitar a ambos – instrutor interno ou externo – a elaboração de todo o programa do treinamento antes de seu início, para fins de validação pela área de Recursos Humanos ou o gestor da área. o Ambos – instrutor interno ou externo – podem ser eficazes, desde que escolhidos adequadamente, de acordo com os objetivos do programa e do perfil do instrutor. 5) Local do treinamento. Onde treinar? O local de treinamento é o ambiente em que acontecerá o treinamento e deve abranger as seguintes características: ❖ Ser confortável e acessível. ❖ Ser silencioso, reservado e livre de interrupções. ❖ Possuir espaço suficiente para que os aprendizes movimentem-se com facilidade e tenham espaços de trabalho adequados, além de oferecer boa visibilidade para que todos vejam uns aos outros, o facilitador e qualquer exibição visual (ex.: vídeos, amostras de produtos, gráficos, slides etc.) É importante que o instrutor conheça o local de treinamento, previamente, a fim de se familiarizar com seus recursos e seu layout e, se necessário, ajustar o seu planejamento a qualquer inadequação. 15 6) Data e/ou periodicidade do treinamento. Quando treinar? O tempo de duração do treinamento, por questões óbvias, também dependerá dos objetivos do treinamento e, consequentemente, do seu conteúdo e da metodologia a ser aplicada, bem como do público-alvo que se deseja atingir. É importante ver que o tempo que algumas empresas disponibilizam os seus funcionários para treinamento nem sempre é o tempo adequado à realização deste. Cabe ao elaborador do programa/instrutor esse ajustamento, propondo a execução do treinamento em partes (dias diferentes) ou outras formas. 7) Valores a serem gastos com o treinamento. Qual o custo provável do treinamento? O custo do treinamento é geralmente um problema aos responsáveis pelo projeto do treinamento (área de Recursos Humanos), já que as organizações atualmente tendem a trabalhar com constantes redução de custos. Há algumas décadas atrás, a área de treinamento e desenvolvimento (como a área de Recursos Humanos em geral) era percebida como aquela que apenas trazia gastos para a empresa e, aparentemente, sem retorno, sem resultado. Desse modo, começou-se a buscar opções que pudesse apresentar à alta direção os resultados dos investimentos em treinamento e desenvolvimento. Portanto, com relação aos custos, vale a pena considerar no momento do planejamento do programa de treinamento que: • buscar custos baixos para o treinamento (instrutor, coffee-break, local de treinamento etc) pode significar (ou não) maiores despesas à frente, se o que se contratou não atendeu (ou atendeu) ao esperado. • ao elaborar os objetivos do treinamento é importante também já elaborar como estes serão avaliados, de forma a “casar” os custos do treinamento com os resultados obtidos pelo treinamento (sempre que possível, em números). Esse processo de comparação entre os benefícios financeiros advindos do treinamento e os custos do mesmo é denominado como a avaliação do retorno sobre investimento ou return on investment (ROI). Os custos com o treinamento podem ser diretos ou indiretos. Os custos diretos abrangem: ❑ salários e benefícios dos funcionários envolvidos diretamente no treinamento, como os funcionários participantes do treinamento, instrutores e funcionários que elaboraram o programa; ❑ Os materiais do programa; ❑ O aluguel ou compra de equipamentos ou sala de aula; ❑ Custos com deslocamentos, se necessário; ❑ Outros. 16 Os custos indiretos são aqueles que não estão diretamente relacionados à elaboração e desenvolvimento do programa e abrangem: ❑ Materiais de escritório em geral; ❑ Instalações e equipamentos e gastos relacionados; ❑ Gestão do departamento de treinamento; ❑ Salário de pessoal, salários administrativos e de pessoal de apoio; ❑ Outros. 8) Metodologias de treinamento. Como deve ser treinado? Fonte: MELO et al. Aprendizagem e desenvolvimento de pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2015. p. 86-100. O processo de aprendizagem ocorre através da elaboração e implantação de ferramentas, processos, sistemas, estruturas e culturas que facilitem a apreensão, a criação ou o compartilhamento do conhecimento. Há uma ampla variedade de metodologias educacionais que visam atender às estratégias de aprendizagem. Cada metodologia representa um caminho possível de aprendizagem. Alguns caminhos incluem outros caminhos paralelamente, outros caminhos se misturam com outros, criando uma nova possibilidade. O que importa é propiciar o processo da aprendizagem, seja ele técnico ou comportamental (*) (*) Quando nos referimos ao “treinamento comportamental”, obviamente não nos referimos como um processo de modelagem de comportamento, mas um processo de levar o participante à reflexão sobre o comportamento atual e como esse comportamento impacta nas relações de trabalho e vice-versa. Assim, a metodologia/ferramenta a ser utilizada dependerá em grande parte: 1) Do tipo de treinamento: se técnico ou comportamental. 2) Dos objetivos do treinamento. 3) Do público-alvo que se deseja atingir (os participantes). 4) Do local em que será realizado o treinamento (se grande ou pequeno, ao ar livre ou em sala, se presencial ou virtual etc.) 5) Do tempo que se dispõe para realização do programa de treinamento. 6) Outras questões. Algumas metodologias de treinamento (Melo et al, 2015): • Exposição Metodologia mais antiga e tradicional. É o “aprender pela teoria”, é um método conceitual. Os facilitadores apresentam conteúdos por meio da explanação oral, com a finalidade da transferência de informações e conhecimentos. Por parte dos ouvintes, há uma atitude passiva nesse método, o que acaba por caracterizá-la como via de mão única. Seu objetivo é frequentemente a atualização de conhecimentos como de uma lei, norma etc. • Debate O debate é uma metodologia que permite não apenas a reflexão conjunta acerca de temas apresentados em leituras, exposição, apresentação de casos etc, como também permite a integração entre os participantes, os quais podem ser de lugares ou setores 17 diferentes da empresa. Sua grande vantagem reside em promover a escuta ativa, o diálogo e a apreciação de pontosde vista diferentes. • On the job (treinamento no local de trabalho) É o treinamento essencialmente prático; é a capacitação “em serviço”, no exercício do cargo, no local de trabalho. É o aprender pela experiência, na própria situação laboral. Geralmente é instruído por um superior, pares ou um especialista na atividade. • Job rotation (ou rotação de cargos) Consiste na rotação ou rodízio planejado de um funcionário em diversas posições, o que permite uma visão sistêmica da organização. O job rotation deve ocorrer com regras claras e objetivos bem definidos para todos os envolvidos e que seja atrelado a um programa de promoção interna ou sucessão. • Demonstração A demonstração é uma metodologia de treinamento em que o indivíduo aprende vendo ou tocando. Pode ser utilizada no lançamento de um produto novo, para os funcionários, de um novo sistema operacional. • Coaching O princípio do coaching é o princípio da filosofia socrática: “todas as respostas estão dentro de você”. No coaching, por meio de estímulos e provocações do coach (orientador), o coachee (orientando) promove um trabalho de autoconhecimento, de achar suas próprias respostas para aquilo que precisa alcançar. Vale ressaltar que o coach não aconselha, mas lança mão de ferramentas para que o coachee encontre o caminho da melhor forma para ele, dentro das demandas organizacionais. O coaching ocorre pela criação da confiança entre orientador e orientando, além de utilização de meios como a prática do feedback, tarefas a serem executadas etc. • Simulação A simulação é uma técnica de desenvolvimento que consiste na “imitação” mais próxima possível da realidade do trabalho. É o ato de aprender pela imitação da realidade. São exemplos dessa metodologia: os simuladores de voo, as lojas-escola, os hotéis-escola, os restaurantes-escola, as brigadas do corpo de bombeiros etc. Pode ser online (via Internet ou Intranet) ou presencial. • Estudo de caso Trata-se da aprendizagem pela análise de casos organizacionais, de modo a estimular a capacidade crítica dos funcionários, a resolução de questões e o debate. • Dramatização (role-playing) É uma metodologia atraente quando se pretende desenvolver determinadas atitudes nas pessoas, propiciando um novo olhar sobre si mesmo, sobre o outro, sobre a situação. Regido pela ação dramática, permite a recriação de cenários organizacionais, a partir de um tema levantado no diagnóstico do treinamento, com a encenação de papeis pelos participantes e “dirigido” pelo facilitador. Ao final, é de suma importância o compartilhamento das experiências, sentimentos e reflexões vivenciados pelo ato dramático. • Oficinas de trabalho O que se denomina como oficina de trabalho refere-se a uma troca, a um compartilhamento de experiências, saberes, habilidades, em prol de um objetivo a ser cumprido. A construção coletiva de um projeto, de um programa, de um documento, 18 diretrizes organizacionais, códigos de ética etc. constitui-se como oficinas de trabalho. As oficinas podem ser mediadas ou orientadas por pessoas com domínio do tema em questão ou pelo menos suas bases. • Benchmarking O benchmarking consiste na observação dos processos e experiências vivenciadas em empresas externas ou setores internos da própria empresa, as quais são tomadas como práticas corporativas modelo e que se servem à aprendizagem e adaptação dos aprendizes. • Participação em projetos É um método de aprendizagem em que funcionários de setores variados (ou do mesmo setor) são convidados à elaboração e implementação de um projeto na organização. A aprendizagem por participação em projetos desenvolve a visão sistêmica, o compartilhamento de conhecimentos e habilidades, a criatividade, relacionamento interpessoal, entre outras competências. • Comunidades de prática ou comunidades de interesse São grupos que se reúnem voluntariamente para compartilhamento de ideias, experiências, conhecimentos, voltados para a solução de problemas e melhoria de processos, com a finalidade de ampliar conhecimentos e aprimorar competências. Pode-se chamar também de grupos de estudo. • Jogos O aprendizado baseado em jogos, pode-se dizer que reúne educação + entretenimento. Nesse sentido, trata-se de transmitir conteúdos, simular situações metaforicamente comparáveis às situações organizacionais, promover a reflexão, desenvolver a criatividade, através de jogos, que podem ser online ou atividades presenciais. • Gincana A aprendizagem através de gincanas (competição entre pessoas/grupos) é útil para o desenvolvimento do planejamento, senso de grupo, liderança etc. • TEAL (Treinamento Experimental ao Ar Livre) São atividades de aprendizagem (geralmente comportamentais) realizadas ao ar livre, e inclui desafios de superação que exigem planejamento, espírito colaborativo, liderança. • Cine pipoca Consiste na realização de sessões de cinema durante o período de trabalho, com o objetivo de despertar e refletir acerca de temáticas levantadas durante o diagnóstico de treinamento. Geralmente é seguido de um debate entre os participantes, mediado por um facilitador. • Educação à distância (EAD) Cursos realizados à distância, sem a presença de um mediador. - E-learning (realizado por meio de plataformas educacionais por meio de Internet ou Intranet) - Blended learning (ensino híbrido que inclui ensino à distância + aulas presenciais) 19 3: EXECUÇÃO DO TREINAMENTO Momento da aplicação do treinamento, conforme o planejado no desenho. O momento da aplicação do treinamento requer envolvimento de todos os que se relacionam com o treinamento: participantes, instrutores, elaboradores do projeto, pessoal de apoio, gestores. Plano de aula: é importante a elaboração de um plano de aula, contendo: objetivo e conteúdo de cada sessão do treinamento; metodologia detalhada, incluindo os passos específicos relacionados ao treinamento; materiais e equipamentos necessários para cada atividade; tempo de duração de cada atividade, como será realizada a avaliação do treinamento. O plano deve contemplar também horários dos intervalos ou outras atividades extra-aula. Aumentando a motivação dos participantes para o programa de treinamento Nem sempre o participante pode estar motivado para o programa de treinamento em questão. Segundo Noe (2015, p. 188), é importante manter uma perspectiva ampla ao elaborar o treinamento, independente de ser um programa, aula ou curso online ou presencial. Os funcionários devem ser motivados a participar de eventos de treinamento, utilizar o que aprenderam no trabalho, compartilhar conhecimentos e habilidades com terceiros e continuar adaptando e modificando o conhecimento e as habilidades adquiridas, para atender às mudanças nas necessidades do negócio e do cargo. Portanto, no que se refere à motivação dos participantes para um programa de treinamento, deve-se atentar para que esta aconteça em quatro fases: Fase pré-treinamento: Fase 1: envolver os trabalhadores no processo, desde o levantamento de necessidades de treinamento. Consciente da necessidade do treinamento (da qual ele mesmo participou), é possível haver um maior engajamento do trabalhador durante sua execução. Fase 2: buscar garantir que o ambiente (clima organizacional, alta direção, gerentes, pares etc.) apoie o processo de aprendizado. 20 Fase 3: focar na criação de um ambiente de aprendizado positivo, incluindo o planejamento das atividades que acontecerão durante o treinamento e as demais condições para que o processo seja favorável ao aprendizado do funcionário. Fase pós-treinamento Fase 4: envolve a transferência de treinamento e a aplicação do que foi aprendido pelos participantes às suas atividades, responsabilidades. Normalmente, a maior parte do esforço e atenção vai para o evento de treinamento propriamente. Contudo, o queacontece antes (a fase pré-treinamento) e depois (fase pós- treinamento) do evento de aprendizagem pode ser tão importante quanto o momento do evento. Se os participantes não estiverem motivados para o treinamento (fase 1, 2 e 3) ou se, pós- treinamento (fase 4), eles não vislumbrarem uma aplicação prática do que foi visto durante o treinamento, pode ocorrer um “esvaziamento” do próprio programa de treinamento. Algumas ações que podem colocar o treinamento em evidência, tais como: - envolvendo os funcionários no levantamento de necessidades de treinamento, de forma que eles possam visualizar a relação entre o treinamento para o qual estão sendo convidados e a necessidade que deu origem a ele; - atraindo o interesse e a motivação dos funcionários e colaborando para que eles venham para o curso com um propósito e um foco. - comunicando como o curso será relevante e útil, apontando seus objetivos ou apresentando depoimentos de pessoas que se beneficiaram com o curso. - orientando algumas tarefas de pré-treinamento como solicitar leituras dos aprendizes acerca do tema que será discutido; pedir que enviem por e-mail ou tragam para a aula problemas relacionados ao trabalho que envolvem o tema do curso; elencar questões e dúvidas acerca do tema e trazer para discussão no curso. - realizando um trabalho de sensibilização junto aos gerentes, fazendo-os ver a importância da participação de seus funcionários no treinamento, bem como conversar com os gerentes acerca de suas expectativas sobre a aplicação do conteúdo do curso no trabalho de sua área. 4: AVALIAÇÃO DO TREINAMENTO Este é o momento de verificação ou medição do treinamento, buscando compreender se a necessidade levantada no diagnóstico do treinamento e o objetivo do treinamento foi atingida. Desse modo, a avaliação do treinamento deve estar totalmente vinculada a esses parâmetros. Trata-se de uma comparação da situação atual com a situação anterior ao treinamento. 21 Normalmente, as avaliações de treinamento ocorrem somente pelas análises de custo/benefício do treinamento ou em avaliações simplificadas como a reação dos participantes ao final do treinamento. No entanto, vários estudiosos defendem a ideia de que a eficácia da capacitação deve se basear na possibilidade de o empregado aplicar em seu dia-a-dia de trabalho os conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA) apreendidos no âmbito da capacitação Kirkpatrick (apud Melo et al, 2015) afirma que avaliar significa analisar: ▪ As mudanças de comportamento decorrentes de um programa de treinamento; ▪ A verificação dos resultados havidos em consequência do treinamento; ▪ Os comentários produzidos pelos participantes ao final do programa de treinamento. Vale ressaltar que não há um modelo de avaliação completo e adequado para todas as situações. Cada modelo tem seus pontos fortes e fracos. Assim, há a necessidade de uma compreensão melhor da natureza da avaliação e de sua finalidade, bem como dos aspectos do treinamento considerados relevantes pelos participantes e pela organização. Ao se proceder à avaliação de um treinamento, é preciso atentar que este deve proporcionar resultados nos seguintes níveis: No nível da organização No nível dos recursos humanos No nível das tarefas e operações Aumento da eficácia organizacional; Redução do turnover (rotatividade de pessoal); Aumento da produtividade; Melhoria da imagem da empresa frente ao mercado e aos clientes; Redução do absenteísmo (faltas de pessoal); Melhoria na qualidade dos produtos e serviços; Melhoria do clima organizacional; Melhoria no modo de o funcionário realizar suas atividades; Redução ou otimização do fluxo de produção; Melhor relacionamento entre empresas e funcionários; Aumento das habilidades da pessoa; Redução do índice de acidentes; Etc. Aumento dos conhecimentos da pessoa; Redução no índice de manutenção de máquinas e equipamentos; Melhoria no aspecto relacional/comportamental dos funcionários; Etc. Etc. Para que a avaliação do treinamento impacte nesses diversos níveis acima, ela pode ocorrer de várias formas, entre elas: 1) Avaliação de reação: Trata-se de uma avaliação imediatamente pós-treinamento, visando verificar o nível de satisfação do participante com relação ao treinamento. Inclui avaliação: do instrutor, da metodologia de treinamento, do local de treinamento, do tempo de duração do treinamento, entre outros itens (ver modelo de avaliação de reação anexo). 22 2) Avaliação de aprendizado: verifica se o participante adquiriu novos conhecimentos, novas percepções sobre suas atitudes, adquiriu novas habilidades etc. A avaliação pode ser realizada através de questionário antes e depois do treinamento. 3) Avaliação de desempenho: avalia o impacto do treinamento no trabalho da pessoa através das novas habilidades de aprendizagem e da adoção de novas atitudes. Pode ser medido através de índices de acordo com o que se pretendia com o treinamento, através de avaliação de desempenho, bem como por observações, etc. 4) Avaliação de resultados no negócio da empresa: se diminuiu a rotatividade de pessoal, se melhorou a imagem da empresa no mercado, realizada através de pesquisa de mercado, pesquisa de satisfação do cliente etc. 5) Retorno do investimento (ROI): Significa o valor que o treinamento agregou à organização em termos do retorno sobre o investimento feito. Pode ser realizado efetuando uma análise do custo do treinamento e os resultados financeiros obtidos com sua execução. 23 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (UTILIZADAS NA APOSTILA): BOOG. Gustavo; BOOG. Magdalena. Manual de treinamento e desenvolvimento. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006 (Biblioteca Virtual da UVA). CHIAVENATO, Idalberto. Treinamento e desenvolvimento de recursos humanos: como incrementar talentos na empresa. Barueri, SP: Manole, 2009 (Biblioteca Virtual da UVA). Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa (3a. ed. rev. e ampl.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. MELO, Paulette Albéris A.; PEREIRA, Alexandre Vinicius S.; OLIVEIRA, Anderson Henrique R.; D’ELIA, Beatrice B. Aprendizagem e desenvolvimento de pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2015. NOE, Raymond. Treinamento e Desenvolvimento de pessoas: teoria e prática. Porto Alegre: AMGH, 2015. PILATI, Ronaldo. História e importância de TD&E. In: BORGES-ANDRADE, Jairo E.; ABBAD, Gardênia da Silva; MOURÃO, Luciana. Treinamento, desenvolvimento e educação em organizações e trabalho: fundamentos para a gestão de pessoas. Porto Alegre: Artmed, 2006. TAYLOR, Frederick. Princípios de administração científica. 8a. ed. São Paulo: Atlas, 2011. (Original publicado em 1911). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMPLEMENTARES: ABREU, C. C.; MELO, S. F. Entre a técnica e a téchne: possibilidades de atuação do psicólogo nas organizações. Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica, XXV(1) 83- 90. 2019. BORGES-ANDRADE, J. E.; ABBAD, G. S.; MOURÃO, L. (Orgs.). Treinamento, desenvolvimento e educação em organizações e trabalho: fundamentos para a gestão de pessoas (p. 137-158). Porto Alegre, RS: Artmed, 2006. CEZAR, T. T.; FERREIRA, L. S. A relação entre educação e trabalho: um contexto de contradições e a aproximação com a educação profissional. RIAEE –Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, 11(4), 2141-2158. 2016. Recuperado de: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/8248/6050 KOPS, L. M.; RIBEIRO, R. S. Desenvolvimento de pessoas (Série administração e negócios). Curitiba, PR: Intersaberes, 2013. PIETRANI, E.E.M.; FEIJOO, A.M.L.C. A psicologia organizacional em uma perspectiva fenomenológica-hermenêutica: a produtividade em questão. Revista Psicologia em Estudo. v. 25, e42516, 2020. Pietrani, E. E. M. Convenio sobre el desarrollo de los recursoshumanos, 1975. Revista Internacional y Comparada de Relaciones Laborales y Derecho del empleo, 7(142). Número especial de conmemoración Del Centenario de la OIT. 2019. Disponível em: http://ejcls.adapt.it/index.php/rlde_adapt/issue/view/70. https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/8248/6050 http://ejcls.adapt.it/index.php/rlde_adapt/article/view/782 http://ejcls.adapt.it/index.php/rlde_adapt/issue/view/70 24 SCORSOLINI-COMIN, F.; INOCENTE, D. F.; MIURA, I. K. Avaliação de programas de treinamento, desenvolvimento e educação no contexto organizacional: modelos e perspectivas. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho,11(1), 37-53. 2011. 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Por favor, indique seu nível de satisfação para cada um dos seguintes tópicos, assinalando no espaço apropriado. Muito obrigado pela sua ajuda. Seus conhecimentos anteriores a este evento eram: Nenhum Poucos Bons conhecimentos Dominava o assunto Objetivo do Treinamento: Atualização Adquirir novos conhecimentos sobre tecnologias Aprimorar habilidades comportamentais Outros. Quais?___________________ ASPECTOS GERAIS DO TREINAMENTO 1-MUITO BOM 2-BOM 3-REGULAR 4-FRACO Organização do treinamento (informações, recepção, etc.) Instalações e ambiente Conteúdo apresentado no curso Métodos e técnicas utilizados pelo instrutor (exercícios, dinâmicas, jogos, etc.) Qualidade dos recursos didáticos (vídeos, manual, formato das apresentações do conteúdo, etc.) Tempo de duração do treinamento Facilidade de colocação em prática dos conteúdos Oportunidade de participação do aluno no treinamento. Avaliação geral do curso Avaliação geral do instrutor COMENTÁRIOS/OBSERVAÇÕES: 27
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