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HISTORIA DO CRISTIANISMO-AULA 3-Igrejas orientais e surgimento do islã

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Disciplina: História do cristianismo
Aula 3: Igrejas orientais e surgimento do islã
Apresentação
Há muito tempo, a região do Oriente Médio tem sido palco de conflitos militares que
opõem grupos religiosos de origem judaica, cristã e muçulmana.
Entretanto, não são só as divergências religiosas que explicam esses conflitos. Afinal,
as questões políticas e o controle econômico sobre regiões ricas em minérios e em
bacias hidrográficas também estão no cerne desses confrontos.
Mas, sem dúvida, as discordâncias religiosas justificam, ideologicamente, os embates
que ampliam os índices de mortalidade nesses territórios.
Nesta aula, entenderemos como as diferenças religiosas foram sendo construídas
entre o mundo ocidental católico e o mundo oriental bizantino e muçulmano, e como
se tornaram tão sólidas que justificam até hoje duelos bélicos e teológicos.
Para isso, procuraremos compreender como a divisão política do Império Romano
(em ocidental e oriental), ocorrida no século V, promoveu uma reconfiguração
cultural. O resultado foi a elaboração de princípios religiosos diversos, que
culminaram na estruturação de novas formas de religiosidade no Oriente, com a
constituição da Igreja Bizantina e do islamismo.
Objetivos
Explicar o processo de formação do cristianismo oriental;
Analisar a constituição do mundo islâmico;
Identificar os princípios teológicos do islamismo.
Império Bizantino
Como já estudamos, no século IV, o Império Romano foi dividido pelo
imperador Teodósio em duas zonas administrativas. Dessa forma, consolidou-
se por meio de uma divisão política, uma diferenciação cultural que o império
não conseguiu equalizar.
Mesmo com toda a pressão dos romanos para tornar o latim a língua oficial do
império, isso não surtiu efeito, e o grego continuou a ser o idioma mais falado
no Oriente. O Império Bizantino era, pois, grego.
O uso do grego como língua oficial e a adoção do
cristianismo como religião oficial eram os
fatores que garantiam a coesão e a identidade
de uma população marcada pela diversidade
étnica e cultural.
O Império Romano Oriental não sofreu pressão dos germânicos em suas
fronteiras. A divisão proposta por Teodósio elevava a cidade de Constantinopla
– junto com Roma – ao status de sede do império. Essa separação visava,
sobretudo, garantir aos romanos a posse do maior número de terras orientais,
já que o Ocidente caía sem tréguas nas mãos dos germânicos.
Originalmente, a cidade de Constantinopla era uma colônia fundada pelos
gregos com o nome de Bizâncio e ocupava um lugar central na rota da seda
que ligava o Mediterrâneo às terras do Extremo Oriente. Foi justamente seu
potencial econômico que atraiu a atenção dos romanos.
Devido a sua posição geográfica – protegida pelo Estreito de Bósforo e, ao
mesmo tempo, próxima ao Mediterrâneo –, o Império Bizantino não foi alvo
das invasões germânicas, e sim considerado seguro para abrigar a morada do
imperador: representante máximo do Estado.
O Império Bizantino foi construído sobre as bases territoriais do Império
Romano Oriental, ocupando as seguintes regiões:
1
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Grécia
Egito
Síria-Palestina
Mesopotâmia
Ásia Menor
 Mapa do Império Bizantino | Disponível em: <https://goo.gl/MS81vS
<https://goo.gl/MS81vS> >. Acesso em: 22 mar. 2018.
Graças às pressões que sofreram em suas fronteiras – geradas tanto pela
expansão muçulmana, com início no século VIII, quanto pelos conflitos
constantes com o Império Persa –, os territórios do Império Bizantino foram
continuamente reduzidos durante os 10 séculos de sua existência (V a XV).
Para entendermos a estrutura religiosa desse império, é necessário
analisarmos sua estrutura política, pois ambas estão totalmente entrelaçadas.
História política do Império
Romano
Tradicionalmente, a história política do Império Romano pode ser dividida em
três períodos:
https://goo.gl/MS81vS
Alto Império (séculos IV a VII)
Período em que a identidade cultural do Império Bizantino estava sendo
definida.
Apesar da tradição latina e do desejo do imperador Justiniano (527-565
d.C.) de resgatar o controle dos territórios que haviam sido subtraídos
dos romanos, o Império Bizantino ainda era entendido como uma
continuidade do Império Romano.
Médio Império (séculos VII a XIII)
Durante este período, o território bizantino foi alvo de invasões
promovidas por persas e por muçulmanos em suas fronteiras.
Para isso, os imperadores investiram na(o):
Reforma do exército;
Busca de alianças com os cristãos ocidentais para instaurar medidas
defensivas – como foi o caso das Cruzadas;
Lançamento de missões evangelizadoras – direcionadas,
principalmente, aos povos eslavos que guardavam a fronteira a
oeste do Império Bizantino.
Baixo Império (séculos XIII a XV)
Ao longo deste período, os bizantinos perderam grande parte de seus
territórios, os quais foram caindo gradativamente nas mãos dos
muçulmanos, que também ocuparam o Império Persa.
As perdas territoriais promoveram a concentração das terras restantes
nas mãos da aristocracia fundiária. Os lucros imperiais adquiridos com
comércio de Constantinopla foram radicalmente reduzidos, desde a IV
Cruzada, quando as cidades italianas passaram a controlar a rota
mediterrânica que partia de Bizâncio e abastecia boa parte do Ocidente.
Figuras importantes da Igreja
Bizantina
Imperador
Em todos os períodos da história política muçulmana, a figura do
imperador era constante e sustentava a estrutura do império.
O imperador bizantino funcionava como uma espécie de vice-rei: sua
figura era formada a partir da tradição jurídica romana e da cultura
política helenística, em que os líderes políticos tinham atributos divinos.
Como o Império Bizantino era cristão, seu imperador não era entendido
como um ser divino, mas sim como o representante máximo da vontade
divina na Terra. Disso resultou a noção de que, acima do imperador, não
havia nenhuma autoridade além da soberania do próprio Deus.
Logo, no Império Bizantino, o imperador era, além de representante
político, o líder da Igreja Bizantina (Igreja Ortodoxa).
A religiosidade era muito intensa no cotidiano dos habitantes do império,
que:
Participavam dos ritos tradicionais e oficiais da Igreja;
Eram fortemente influenciados pela cultura helenística;
Desenvolviam formas próprias e populares de religião.
A Igreja buscava, de certa forma, controlar essa religiosidade popular
para que não se tornasse eco de pensamentos e de costumes heréticos.
Patriarca
Apesar de ser o chefe da Igreja, o imperador delegava ao patriarca a
função de liderá-la. Este era escolhido diretamente pelo imperador, e não
havia obrigatoriedade de que fosse parte do corpo clerical.
O patriarca era considerado o supremo juiz nas questões religiosas, e
suas decisões davam origem a uma jurisprudência que deveria ser levada
em conta por seus sucessores.
Além disso, o patriarca também podia auxiliar o imperador nas questões
de governo, desempenhando um papel muito importante em momentos
críticos, como no período das Regências, quando o herdeiro – menor de
idade – devia ser tutelado por um conselho do qual o patriarca
obrigatoriamente tinha de fazer parte.
Assim como o imperador, o patriarca era necessário para assegurar o
bem-estar do povo bizantino. A hierarquia da Igreja Bizantina tinha,
então, em seu topo o imperador seguido do patriarca.
 Patriarca Fócio | Disponível em:
<https://goo.gl/1mLk5n
<https://goo.gl/1mLk5n> >. Acesso em: 22
mar. 2018.
https://goo.gl/1mLk5n
Clero secular
Abaixo do imperador estavam os bispos e os arcebispos, que cuidavam
da vida espiritual dos fiéis juntamente com os párocos , formando o
corpo clerical secular.
Os bispos controlavam uma grande quantidade de recursos adquiridos
por meio de:
Impostos cobrados sobre a exploração das terras da Igreja;
Doações recebidas;
Cobrança dos dízimos etc.
Eram figuras distantes dos fiéis, e muitos haviam sido monges,
principalmente a partir do século XII.
Os padres, os párocos, os diáconos, os subdiáconose outras figuras
componentes do clero secular eram os que lidavam mais diretamente
com as demandas religiosas da população.
Como a Igreja Bizantina não condenava o casamento de seus membros –
com exceção dos bispos –, muitos clérigos viviam nas terras da Igreja
junto com sua família, dedicando-se a angariar recursos por formas:
Lícitas – como era o caso do trabalho artesanal;
Ilícitas – pela prática da usura , por exemplo.
A proximidade do clero secular com o povo e o desenvolvimento de
práticas imorais e ilícitas comprometiam sua popularidade, na medida em
que esse grupo não era entendido pela população como portador de uma
pureza espiritual, mais reconhecida nos monges.
Monges
Os monges se tornaram peças fundamentais na religião bizantina. Suas
orações mantinham a ligação do povo bizantino com Deus e garantiam as
bênçãos. Além disso, funcionavam como propagadores da fé cristã,
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principalmente entre as tribos eslavas, ampliando a ação do império e da
Igreja Ortodoxa no leste europeu.
A importância que os monges ganharam na Igreja Ortodoxa lhes valeu,
por um lado, o reconhecimento do Estado, que os entendia como seus
principais agentes e da população, enriquecendo-os com territórios e
doações de diversos tipos, e, por outro, um forte senso de autonomia em
relação à hierarquia religiosa.
Outra fonte de enriquecimento dos monges era a canalização dos
recursos advindos da produção e da venda de relíquias. Cada monastério
estimulava a prática da peregrinação a seus santuários e produzia
objetos sagrados atribuídos aos santos para vendê-los aos fiéis, que os
entendiam como portadores de uma parcela de poder espiritual.
Acreditava-se que o portador de uma relíquia, a qual dirigisse suas
orações, alcançaria mais rapidamente a proteção e a bênção divina.
Portanto, os monastérios passaram a concentrar tanta riqueza que
despertaram a cobiça dos bispos, arcebispos e imperadores.
Rituais religiosos bizantinos
Geralmente, a convivência da Igreja Bizantina com a religiosidade popular
ocorria sem problemas e era, muitas vezes, estimulada.
Como nos alertam Franco Júnior e Andrade (1995), os bizantinos dedicavam
atenção especial à questão da graça divina e da relação direta que os homens
poderiam travar com Deus, o que motivava seus fiéis a buscarem práticas
religiosas que favorecessem sua comunicação com o divino.
Por isto, as festas religiosas, as relíquias e as peregrinações alcançavam
sucesso entre eles: eram instrumentos para o desenvolvimento de uma
espiritualidade não só coletiva, mas marcadamente individual.
Eles também buscavam exercer essa espiritualidade adaptando rituais pagãos
comuns na cultura helenística, como a adivinhação e os sortilégios . Tais
práticas foram condenadas pela Igreja Ortodoxa por meio da suspensão do
direito do fiel de participar de rituais religiosos por cinco anos e até mesmo
pela pena de morte, mas não conseguiram ser extintas pela Igreja.
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Alguns elementos que também caracterizavam
os rituais religiosos bizantinos eram o luxo e a
profusão dos cânticos.
Desfrutando de uma atmosfera etérea (espiritual) e incomum nos templos
religiosos, os fiéis sentiam-se retirados do cenário de sua vida cotidiana e
reconheciam os monastérios, as igrejas, os relicários , as capelas etc. como
espaços em que os efeitos do sagrado podiam, de fato, inebriar seus sentidos.
Discussões teológicas
Graças à forte influência da cultura helenística, uma série de tendências
dogmáticas coexistia na Igreja Bizantina sem ameaçar sua integridade, mas
gerando conflitos intensos que deixavam surpresos os bispos ocidentais –
portadores de um espírito mais prático e de um cristianismo com raízes
filosóficas menos profundas.
As divergências religiosas entre o cristianismo ocidental e o oriental
suscitaram a convocação de sete concílios ecumênicos, reunindo
representantes de todas as Igrejas Cristãs.
Como pano de fundo desse debate estava o jogo de poder que se estabeleceu
entre a Igreja Católica, liderada pelo Papa, e a Igreja Ortodoxa, cujo chefe era
o imperador – com a coliderança do patriarca –, que havia suplantado a
autoridade de sés orientais mais antigas, como Alexandria, Antioquia e
Jerusalém.
Cada discussão teológica – principalmente
aquelas que implicavam a condenação de
práticas heréticas – acabava tornando-se um
conflito político.
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Dois grandes embates teológicos podem ser identificados com essa natureza:
Monofisismo
O monofisismo era uma heresia, nascida em Alexandria, que,
praticamente, negava o caráter humano de Cristo.
Em uma reação a essa postura teológica, o patriarca de Constantinopla
(Nestório) desenvolveu o nestorianismo. Essa doutrina teológica
acreditava que Jesus era portador de duas naturezas:
Humana – que se manifestava em suas ações cotidianas;
Divina – que se revelava em seus atos em nome de Deus.
Tanto a crença monofisita quanto o nestorianismo foram condenados pelo
Concílio de Calcedônia em 451.
O imperador Zenão construiu uma fórmula conciliatória – conhecida como
henótico – que não foi aceita pelas sés do Egito e da Síria, as quais
mantiveram seus dogmas. O Papa aproveitou-se dessa discussão para
excomungar Nestório, provocando o primeiro cisma (desacordo) de
vários entre as Igrejas Romana e Bizantina.
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 Nestório | Disponível em:
<https://goo.gl/Fzd3HT
<https://goo.gl/Fzd3HT> >. Acesso em: 22
mar. 2018.
Questão das Investiduras (Questão Iconoclasta)
Outro ponto crítico nas relações entre as Igrejas Bizantina e Romana foi
a Questão Iconoclasta.
O crescente poder e prestígio dos mosteiros bizantinos foi entendido
como uma ameaça pelo imperador Leão III, que condenou a adoração de
imagens pintadas ou esculturas da Virgem, do Cristo e dos santos. Com
essa medida, o imperador pretendia diminuir o prestígio e a autonomia
dos monastérios, que lucravam com as relíquias vendidas, bem como
reforçar sua liderança na Igreja e o prestígio do clero secular. A decisão
do imperador gerou uma série de embates em Bizâncio, principalmente
nas regiões fronteiriças, nas quais o prestígio dos monastérios era muito
mais intenso do que o reconhecimento do próprio império.
De acordo com relatos do período, o funcionário encarregado pelo
imperador de destruir a imagem do Cristo pendurada na frente do palácio
imperial foi linchado pela população. Para manter a decisão, Leão III
usou a força militar de seu exército, composto, em grande parte, por
soldados da Ásia Menor que professavam uma tendência religiosa mais
puritana.
https://goo.gl/Fzd3HT
 Imperador Leão III | Disponível em:
<https://goo.gl/jLX2nb
<https://goo.gl/jLX2nb> >. Acesso em: 22
mar. 2018.
A Questão Iconoclasta mergulhou o Império Bizantino em uma guerra
civil e foi muito aproveitada pelo papado, que havia sido excluído do
Concílio de Hieria (754).
Nessa reunião, o iconoclastismo foi oficialmente reconhecido, e os seus,
combatidos com afinco – em especial os monges –, o que foi usado para
condenar o imperador romano e iniciar um novo cisma entre as igrejas.
Esse movimento continuou a gerar problemas na Igreja Bizantina,
envolvendo patriarcas e imperadores ao longo de alguns reinados.
Somente em 843, o poder imperial restabeleceu o culto às imagens por
meio de um sínodo .
Todo o desgaste gerado pela Questão Iconoclasta teve como
consequência o enfraquecimento do poder imperial frente à Igreja
Bizantina, já que os imperadores não conseguiram fazer valer seu ponto
de vista doutrinário, e ampliou a distância da Igreja Bizantina em relação
à Romana.
Tal distanciamento foi consolidado por novos cismas que culminaram no
definitivo, ocorrido em 1054, quando o Papa Leão IX e o patriarca Miguel
I Cerulário se autoexcomungaram.8
https://goo.gl/jLX2nb
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Igrejas Orientais
Observando a história da Igreja Bizantina, podemos entender que a luta para
estabelecer uma dogmática cristã única foi travada ao longo de toda a Idade
Média e nunca alcançada, nem mesmo nos tempos contemporâneos.
Os cismas e as condenações por heresia no Oriente geraram as:
1
Igrejas Ortodoxas da Europa Oriental e da Ásia
Famosas por seus ícones de Jesus, de Maria e dos santos.
2
Igrejas Ortodoxas Orientais
Que incluem a Igreja Armênia, a Igreja Copta, e as Igrejas da Síria e da
Etiópia, as quais mantêm o monofisismo como base dogmática.
 Nossa Senhora do Perpétuo Socorro |
Disponível em: <https://goo.gl/C8uYVX
<https://goo.gl/C8uYVX> >. Acesso em: 22
mar. 2018.
 Cristo, a divina sabedoria | Disponível em:
<https://goo.gl/nADYgK
<https://goo.gl/nADYgK> >. Acesso em: 22
mar. 2018.
https://goo.gl/C8uYVX
https://goo.gl/nADYgK
 Milagre dos pães e peixes | Disponível em:
<https://goo.gl/cVTv8S
<https://goo.gl/cVTv8S> >. Acesso em: 22
mar. 2018.
Com a ocupação de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453, a Igreja
Bizantina, assim como as demais igrejas orientais, teve de conviver com a
pressão da expansão muçulmana na região, mas existe até hoje.

Leitura
Atualmente, as lideranças das Igrejas Católica e Ortodoxa Russa buscam
uma aproximação.
Para saber mais sobre o assunto, leia a reportagem Papa e patriarca da
Igreja Ortodoxa fazem reunião histórica nesta sexta
<http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/02/papa-e-
patriarca-da-igreja-ortodoxa-fazem-reuniao-historica-nesta-
sexta.html> .
https://goo.gl/cVTv8S
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/02/papa-e-patriarca-da-igreja-ortodoxa-fazem-reuniao-historica-nesta-sexta.html
Expansão muçulmana
O islamismo surgiu no século VII, na Península Arábica, e foi criado por
Maomé, que baseava sua concepção religiosa na crença de um só Deus: Alá.
Maomé entendia-se como o último profeta, a última chance de redenção
enviada ao povo árabe – escolhido por Alá como seu povo.

Comentário
A ideia de um povo árabe unificado foi elaborada pelo próprio profeta.
Afinal, como nos alerta Lewis (1996), no século VII, a Península Arábica
não formava uma unidade política. Esta só foi construída por meio da
pregação religiosa e da ação política de Maomé.
Durante a Antiguidade, uma rota comercial muito ativa atravessava a
Península Arábica, ligando o Extremo Oriente ao Mediterrâneo, mas havia
perdido grande parte de sua importância econômica graças às novas rotas
abertas, nos séculos IV e V, que cruzavam o Egito, o Mar Vermelho e o Vale do
Eufrates.
A cidade de Meca continuava a ser o centro comercial mais produtivo da
Península Arábica, que se beneficiava pela peregrinação. Afinal,
tradicionalmente, a cidade abrigava a caaba: pedra negra que todo árabe
tinha de tocar, como parte de um ritual religioso, para saudar as divindades
em que seus ancestrais também acreditavam.
 Maomé colocando a pedra negra em seu lugar
definitivo (Gravura de 1315) | Disponível em:
<https://goo.gl/YCGPzS
<https://goo.gl/YCGPzS> >. Acesso em: 22
mar. 2018.

[...] a unidade social é constituída pelo grupo, e não
pelos indivíduos.
É o senso de autodefesa advindo da necessidade de sobreviver no deserto que
mantém a coesão entre os membros da tribo.
De acordo com Eliade (2011), a religião da Arábia Central não sofreu forte
influência da cultura religiosa judaico-cristã, conservando as estruturas do
politeísmo semítico, no qual as entidades adoradas habitavam lugares
específicos: árvores, fontes e, principalmente, pedras sagradas.
Além dessas entidades, havia deuses que se sobrepunham aos cultos
particulares dos grupos tribais. Os três deuses mais importantes eram Manat,
Uzza e Allat, que se submetiam a uma divindade superior – normalmente
denominada Alá.
Não havia um corpo clerical nessas religiões tribais. O Deus da tribo era
representado por uma pedra ou por outro objeto transportado em uma tenda
vermelha que acompanhava a tribo para onde fosse, aos cuidados do sheik, o
qual desfrutava de certo prestígio e liderava os rituais religiosos.
https://goo.gl/YCGPzS

Saiba mais
Como você pode imaginar, vivendo em uma região tão inóspita como o
norte da Península Arábica, as tribos da região tinham de garantir laços
fortes de identidade entre seus membros e condições de sobrevivência
adequadas para todos.
Por isso, atribuía-se o papel social de liderança aos chefes tribais, que
reuniam em torno de si uma vasta parentela pela qual eram totalmente
responsáveis.
Entre os chefes das principais famílias da tribo era escolhido o sayyid ou
sheikh: líder político encarregado de arbitrar as questões que surgiam
entre os chefes das famílias – estes sim incumbidos de aplicar a justiça
(existente somente no âmbito dos costumes) e de impor obrigações a
seus parentes.
Geralmente, os sheiks pertenciam a uma mesma família e eram
escolhidos pelo conselho de anciãos da tribo (majlis), que também os
ajudava a governar.
A região sul da Península Arábica despertou logo o interesse de Alexandre, o
Grande, e, depois, dos romanos, motivados em utilizar a região como ponte
de ligação com as rotas comerciais indianas. Nela, havia várias comunidades
cristãs. Ao contrário da região centro-norte, no sul da península, o regime
político era monárquico, baseado na sucessão hereditária, mas o poder dos
reis não tinha um caráter divino e, na maioria das vezes, era limitado por um
conselho.
Os povos do sul eram politeístas, e os templos não eram somente centros de
práticas religiosas, mas também de riquezas econômicas, administradas pelos
sacerdotes. Afinal, um terço dos frutos das colheitas, que seria dedicado aos
deuses, era levado para esses locais.
Como você percebeu, Maomé teve de enfrentar um grande desafio para
pregar sua mensagem religiosa e torná-la legítima para os habitantes da
Península Arábica, que, apesar de terem elementos em comum, guardavam
entre si interesses e referências culturais diferenciados.
Vamos conhecer, a seguir, um pouco mais a vida
do profeta Maomé e identificar como iniciou a
pregação do islamismo.
Trajetória do profeta Maomé
De acordo com a tradição muçulmana, Maomé nasceu entre 570 e 580. Ele
era membro da família dos Banu Hashim, que não chegava a pertencer à
oligarquia dominante, mas era tradicional em Meca.
O profeta, que era órfão, foi criado pelo avô. Livrou-se da pobreza somente ao
casar-se com a viúva Khadija e passou a assumir os negócios da esposa,
conduzindo suas caravanas.
Como comerciante, Maomé deslocava-se constantemente pela Arábia, e
mantinha contato com as comunidades judaicas e cristãs espalhadas pela
região.
Estima-se, também, que o profeta tenha sofrido a influência de um grupo
religioso chamado hanifes, que se mostrava descontente com a idolatria do
povo e que procurava formas mais puras de religiosidade, mas sem se ligar ao
cristianismo nem ao judaísmo.
Por volta de seus 40 anos, Maomé alegou ter recebido sua revelação
espiritual, quando foi conclamado em um sonho pelo anjo Gabriel a pregar
aos árabes a mensagem salvadora de Alá.
 Maomé recebendo a visita do anjo Gabriel
(Ilustração de um livro afegão de 1425) | Disponível
em: <https://goo.gl/YCGPzS
<https://goo.gl/YCGPzS> >. Acesso em: 22
mar. 2018.
O profeta iniciou, então, sua pregação baseando-se, inicialmente, em duas
noções:
1
O papel criador que Alá exerceu sobre a humanidade.
2
A iminência do juízo final e da ressurreição dos mortos.
https://goo.gl/YCGPzS
Eliade (2011) considera que, ao proclamar que não havia outro Deus além de
Alá, inicialmente, Maomé não pretendia fundar uma nova religião para o povo
árabe, mas sim lançar as bases de uma crença monoteísta centrada na figura
de Alá.
A pregação de Maomé não agradou, a princípio, seus compatriotas, já que,
aos seus olhos, representava o desrespeito às divindades e a perda de
privilégios – principalmente aqueles dominados pelas tribos coraixitas, que
controlavam a peregrinação à Meca.
Apesar daoposição de alguns grupos, a pregação do profeta alcançou sucesso
entre os membros das tribos beduínas, mas sua posição e a postura de seus
seguidores se tornaram insuportáveis em Meca.
Diante disso, Maomé migrou com alguns fiéis para a cidade de Yatrib ou
Medina, na qual havia uma forte comunidade judaica de quem o Profeta
esperava conseguir apoio. Foi seguido por vários beduínos que, cansados das
longas guerras internas que os consumiam, viam no profeta a possibilidade de
garantir uma liderança única, funcionando como um árbitro nas disputas
tribais.

Saiba mais
A sobrevivência das tribos beduínas era assegurada pela criação de
rebanhos, e pela pilhagem de aldeias vizinhas e de caravanas que
atravessavam a Arábia. Os oásis eram uma exceção a tal regra.
Nessas ilhas de produtividade agrícola, foram formadas pequenas
comunidades sedentárias, lideradas pela família mais influente do oásis,
que, por vezes, estendia-se sobre os oásis vizinhos.
Meca foi o principal centro urbano constituído na região centro-norte da
Península Arábica. Com o fortalecimento das famílias dominantes, a
figura dos sheiks foi perdendo força, e a cidade passou a ser controlada
por um conselho chamado Mala, formado pelos membros mais velhos
das tribos.
A hégira, ocorrida em 622, é a data fundamental da religião islâmica, a ponto
de representar o primeiro ano do calendário muçulmano, pois simboliza a
migração do profeta para Medina. Lá, Maomé assumiu a responsabilidade de
construir as bases dogmáticas e políticas de sua religião.
Nesse momento, começou a surgir, de fato, o
islamismo.
 Maomé em Medina | Disponível em:
<https://goo.gl/YCGPzS
<https://goo.gl/YCGPzS> >. Acesso em: 22
mar. 2018.
Umma: primeiro passo para o
islamismo
Enquanto esteve em Medina, Maomé organizou a comunidade dos fiéis: a
umma, que representou o primeiro passo para a construção da concepção
teocrática de poder que vigora no islamismo até hoje.
Tratava-se de uma espécie de tribo que tinha Maomé como sheik e seus fiéis
como membros subordinados não somente à autoridade política do profeta,
mas também à religiosa.
Em relação aos estrangeiros, os costumes, as obrigações e os privilégios das
tribos foram mantidos na umma. Entretanto, no interior da comunidade
islâmica, todos os direitos e as disputas estavam submetidos à autoridade do
https://goo.gl/YCGPzS
profeta. Assim, a umma possuía uma dupla função: religiosa e política.
Maomé buscou sistematizar os rituais que deveriam ser cumpridos pelos que
professavam o islã, inspirando-se, claramente, nos ritos do judaísmo , na
tentativa de aproximar-se das comunidades judaicas da região e de ganhar
seu apoio.
Um exemplo disso foi quando determinou que as preces diárias dos
muçulmanos deviam ser realizadas com os fiéis voltados para Jerusalém.
No entanto, as tentativas de assimilação das práticas religiosas judaicas não
surtiram o efeito desejado pelo profeta, pois os judeus se recusaram a adotar
os preceitos da religião islâmica. Diante disso, Maomé rompeu com as
comunidades judaicas e estabeleceu que as preces dos fiéis deviam ser
voltadas para Meca.
O crescente apoio das tribos beduínas ao profeta e o amplo poder militar de
que passou a gozar não tornavam mais possível aos coraixitas ignorar o
potencial de liderança de Maomé.
Após atacar Meca, o profeta firmou um contrato de paz com a cidade, que
garantia aos muçulmanos o direito de continuar fazendo sua peregrinação
para tocar na caaba. Em 630, Meca foi definitivamente conquistada pelas
tropas muçulmanas.
Maomé dedicou boa parte de seu tempo a ditar os princípios religiosos que
foram reunidos no Corão. São alguns deles:
1. A negação da divindade de Cristo e de seu papel
redentor quanto à humanidade
Isto é compreensível. Afinal, se Cristo fosse entendido como o filho de
Deus, Maomé estaria em uma condição de subordinação em relação a
Ele.
2. A construção das bases da nação muçulmana
apoiadas na comunidade de umma
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Esta comunidade transcendeu os critérios raciais e garantiu a identidade
dos fiéis somente pela crença religiosa.
3. A luta contra os infiéis
A energia utilizada pelas tribos em suas guerras internas passou a ser
direcionada à luta contra os infiéis que se recusavam a participar da
umma e a professar o islã.
Pilares do islã
O islã baseava-se em cinco pilares da fé. São eles:
1
1º pilar: Shalat
Culto ou prece canônica, realizada cinco vezes ao longo do dia. Este pilar é o
mais importante.
2
2º pilar: Zakat
Prática da caridade por meio da doação de esmolas aos necessitados.
3
3º pilar: Sawn
Jejum que purifica o corpo para libertar o espírito a viver experiências mais
profundas. Deve ser realizado da aurora ao crepúsculo durante todo o mês do
Ramadã .
4
4º pilar: Hajj
Peregrinação que deve ser feita por todos os fiéis até Meca para realizar suas
orações na mesquita, onde o profeta colocou a caaba. Por um lado, isso
significou a preservação de uma prática religiosa tradicional, mas revestida de
um sentido monoteísta. Por outro, não rompeu com os privilégios econômicos
e religiosos desfrutados pela aristocracia de Meca.
5
5º pilar: Shahâdat
Profissão de fé: Não há senão um Deus, e Maomé é seu mensageiro. Esta é a
expressão máxima da identidade de um fiel muçulmano.

Saiba mais
Além do Corão, os ensinamentos de Maomé transmitidos oralmente e
reunidos nos hadith se tornaram as fontes primordiais da doutrina
islâmica, que, até hoje, direcionam a vida religiosa de milhares de fiéis.
Bases da religião islâmica
Maomé morreu em 632, deixando uma religião com bases muito mais
estruturadas do que aquelas que havia proposto substituir. Além disso,
construiu um Estado organizado e com forte poder bélico que lhe permitiu
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dominar a Arábia e, mesmo com sua morte, expandir o domínio para outras
regiões mediterrânicas.
O profeta não indicou um sucessor, o que gerou um clima de instabilidade no
islã. Após disputas, Abu Bakr – sogro de Maomé – foi oficialmente declarado
seu substituto, não sem a oposição daqueles que defendiam que o líder da
umma deveria ser Ali – primo e genro do profeta.
Criou-se, então, uma divisão de cunho religioso
e político que, até agora, permanece no mundo
muçulmano e da qual você, com certeza, já
ouviu falar. Os partidários de Ali ficaram
conhecidos como xiitas, e aqueles que se
opuseram a ele foram denominados sunitas.
Além da questão política, um detalhe religioso alimenta, até hoje, esses
grupos. Os xiitas entendem que somente o Corão pode ser considerado
expressão máxima da mensagem do profeta. Já os sunitas reconhecem as
sunnas como escritos sagrados que contêm os ensinamentos dos profetas.
Então, após a morte de Maomé, o islã passou a ser liderado por califas . Os
quatro primeiros – de Abu Bakr a Ali – são conhecidos pelos muçulmanos
como os rashidun ou corretamente guiados.
Com a morte de Ali – o último califa –, o califado passou a ser ocupado por
Muawiya: membro de uma das famílias mais importantes de Meca, que ficou
no poder entre 661 e 680.
O califado omíada não representou somente uma mudança no governo do
islã, mas também propiciou a expansão das terras islâmicas por meio do
Magreb, estabelecendo suas bases em Kairuan , a partir de onde
alcançaram a costa atlântica do Marrocos, no fim do século VII, e chegaram à
Espanha.
Além disso, esse califado garantiu a expansão das tropas muçulmanas até o
noroeste da Índia, lançando as bases para a construção do Império
Muçulmano.
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Os omíadas transferiram a capital do mundo muçulmano para Damasco,
buscando assegurar a centralidade do império.
Também incorporaram alguns elementos culturais dos povos dominados,
abrindo mão das formas de governocomuns àquelas dos chefes tribais árabes
e assimilando aspectos próprios dos soberanos do Oriente Próximo, de quem
herdaram as práticas administrativas que passaram a utilizar.
Para ampliar sua força militar, investiram na formação de um exército regular
do qual saíram os líderes que ganharam maior notoriedade na comunidade,
ampliando as disputas com as tradicionais famílias de Meca e Medina.
Os omíadas ainda investiram na difusão da língua árabe como oficial no
Império Muçulmano, e os preceitos do islã foram difundidos por toda a
população, que podia manter sua religião caso pagasse um imposto
específico, como os judeus faziam.
Levando em conta que os não conversos (mawali) não gozavam de alguns
direitos comuns àqueles que professavam o islã, o número de fiéis aumentava
consideravelmente.
Ao disseminar uma língua e uma religião comum, os omíadas lançaram as
bases para a consolidação de um Império Muçulmano integrado. Os conflitos
entre eles e as tribos árabes originaram a disputa que levou a casa de Abas –
criada por um dos tios do profeta – a vencer a luta contra os omíadas e a
ascender ao califado.
Os abássidas estenderam ainda mais os domínios muçulmanos para o leste,
avançando sobre as terras dos Impérios Persa e Bizantino.
Para consolidar suas conquistas na região, deslocaram a capital do Império
Muçulmano para Bagdá, no atual Iraque, e buscaram se aliar aos mawali
persas para fazer deles uma base de apoio a seu poder.
Os abássidas criaram, então, o cargo de vizir para auxiliar a administração
regional do califado e ampliar a representação do poder central nas
províncias. Esse cargo passou a ser ocupado por aliados persas.
Assim, eles se tornaram cada vez mais dependentes do apoio de seus aliados
persas para manter o controle do Império Muçulmano, que se arruinou por
suas mãos.
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Mesmo com a liderança de Almazor – que se tornou um dos califas mais
populares, graças às histórias de As mil e uma noites –, os abássidas não
tiveram um domínio político tão longo.
Na prática, ficaram no poder somente por três
séculos, mas seu califado é considerado a era de
ouro da história muçulmana. Bagdá tornou-se
um dos centros artísticos, filosóficos e culturais
mais importantes do Oriente.
A existência do califado abássida não significava que uma unidade política
existisse, de fato, no mundo muçulmano.
A política abássida de expansão das fronteiras do império e ampliação do
poder dos vizires e emires permitiu a formação de dinastias locais, tais
como os:

Safáridas
No Irã Oriental (867-1495)

Samânidas
No Curasão (819-1005)

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Aglábidas
Na Tunísia (800-909)

Tulúnidas
No Egito (868-905)
Logo, desde o século XI, o domínio abássida no mundo muçulmano era
precário e mais aparente do que efetivo.
Os descendentes dos omíadas se instalaram na Península Ibérica, no século
VIII, e formaram ali um dos califados mais ricos, cultural e economicamente,
do mundo islâmico: Al Andalus, do qual trataremos novamente em outra aula.
Já no norte da África, os fatímidas criaram um califado forte e rebelde ao
controle dos abássidas, que, praticamente, perderam o domínio das terras
conquistadas no Ocidente, tentando, ainda, manter-se no Oriente. Os
abássidas foram vencidos definitivamente em 1258, quando os mongóis
saquearam Bagdá.
Aqueles que sobreviveram aos ataques se
refugiaram no Egito mameluco e continuaram a
alegar a autoridade religiosa sobre o mundo
muçulmano até 1519, quando o Império
Otomano transferiu todo o poder para sua
capital (Constantinopla).
Cristianismo X Islamismo
Quando falamos em mundo muçulmano ou mesmo em Império Muçulmano,
estamos tratando de várias entidades políticas e tendências religiosas
coexistentes.
No entanto, como nos lembra Hourani (1994), o idioma árabe e a religião
garantiam a integridade cultural do mundo islâmico, permitindo sua
sobrevivência, apesar da diversidade que o caracterizava.
Não há como entendermos a história do cristianismo
ocidental sem relacioná-la à história do islamismo e de
outras tendências religiosas cristãs. Afinal, como vimos na
primeira aula, a religião é um produto cultural constituído
a partir de referências políticas, econômicas e sociais de
determinada sociedade e de certo contexto histórico.
Dessa forma, só é possível compreendermos o impacto gerado pelo
cristianismo no Ocidente, bem como as práticas e os ritos desenvolvidos por
ele para fazer-se necessário entre seus fiéis, comparando-o com outras
religiões e outros grupos a que se opôs ou nos quais se inspirou.
Atividades
1. As estruturas políticas foram fundamentais na configuração da Igreja
Bizantina, que se caracterizou pela:
 a) Falta do clero regular.
 b) Submissão ao papado.
 c) Liderança exercida pelo imperador.
 d) Ausência do culto às relíquias e aos santos.
 e) Inexistência de cobrança dos dízimos aos fiéis.
2. A religião monoteísta que se originou na Península Arábica, no século
VII, foi:
 a) Budismo.
 b) Judaísmo.
 c) Hinduísmo.
 d) Islamismo.
 e) Cristianismo.
3. A heresia que indispôs as Igrejas Bizantina e Romana, promovendo o
primeiro cisma entre essas duas instituições, foi:
 a) Monofisismo.
 b) Gnosticismo.
 c) Monarquismo.
 d) Neoplatonismo.
 e) Questão Iconoclasta.
Notas
Bizantino
Termo que possui uma conotação étnica e civilizacional, referindo-se aos indivíduos
que falavam o grego (FRANCO JÚNIOR; ANDRADE, 1995).
Párocos
Padres responsáveis por uma paróquia; vigários, padres-curas. Fonte: Dicionário
eletrônico Houaiss da língua portuguesa.
Usura
Empréstimo de dinheiro a juros superiores à taxa legal; agiotagem. Fonte: Dicionário
eletrônico Houaiss da língua portuguesa.
Sortilégios
Atos de magia praticado por feiticeiro; feitiços, malefícios, bruxarias. Fonte:
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa.
Relicários
1
2
3
4
5
Lugares próprios para guardar relíquias. Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da
língua portuguesa.
Sés
Igrejas principais de uma diocese, onde fica o trono do bispo; igrejas episcopais ou
arquiepiscopais. Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa.
Henótico
Éditos publicados com o fim de reconciliar católicos e eutiquianos, e restabelecer a
unidade de crença da Igreja. Fonte: Dicionário online Caldas Aulete.
Sínodo
Assembleia regular de párocos convocada pelo bispo. Fonte: Dicionário eletrônico
Houaiss da língua portuguesa.
Judaísmo
Preces;
Esmolas;
Peregrinações;
Jejuns.
Ramadã
Nono mês, de 30 dias, do calendário islâmico, durante o qual os muçulmanos devem
jejuar do levantar ao pôr do sol. Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da língua
portuguesa.
Hadith
Ditos do profeta.
Sunnas
Escritos dos discípulos de Maomé que registram os atos do profeta em vida.
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Califas
Chefes políticos que, a princípio, não tinham nenhum poder religioso, mas que viram
sua autoridade aumentar pelo poderio militar demonstrado ao expandirem o islã para
as regiões da Síria e do Iraque, disputando os territórios com a Pérsia e com o
Império Bizantino.
Kairuan
Antiga província da África e atual Tunísia.
Vizir
Governador ou ministro nomeado por soberano de um reino muçulmano. Fonte:
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa.
Emires
Título dos governantes de certas tribos ou províncias muçulmanas. Fonte: Dicionário
eletrônico Houaiss da língua portuguesa.
Referências
ELIADE, M. História das crenças religiosas – de Maomé à Idade das Reformas. Rio
de Janeiro: Zahar, 2011.
FERRIL, A. A queda do Império Romano – a explicação militar. Rio de Janeiro:
Zahar, 1986.
FRANCO JÚNIOR, H.; ANDRADE, R. de O. O Império Bizantino. São Paulo:
Brasiliense, 1995.
GEARY, P. O mito das nações – a invenção do nacionalismo. São Paulo: Conrad,
2005.
GIBBON, E. Declínio e queda do Império Romano. São Paulo: Companhia das
Letras, 2005.
HOURANI, A. Uma história dos povos árabes. São Paulo: Companhia das Letras,
1994.
13
14
15
16
JOHNSON,P. História do cristianismo. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
LEWIS, B. Os árabes na história. Lisboa: Estampa, 1996.
MARTIN, T. Roma Antiga – de Rômulo a Justiniano. Porto Alegre: L&PM, 2014.
RUNCIMAN, S. A civilização bizantina. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
______. A teocracia bizantina. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
______. A queda de Constantinopla – 1453. Tradução de Laura Rumchinsky. Rio
de Janeiro: Imago, 2002.
Próximos Passos
Cruzadas;
Reforma eclesiástica do século XII.
Explore Mais
Para saber mais sobre a religião islâmica, suas origens e seus princípios, assista ao
documentário A história do islamismo <https://www.youtube.com/watch?
v=TJX_R_5EoRk> .
https://www.youtube.com/watch?v=TJX_R_5EoRk

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