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HISTÓRIA PROFESSOR RAFAEL HISTÓRIA DO PARÁ A região do vale amazônico, pelo Tratado de Tordesilhas (1494), era de posse da Coroa espanhola. Assim sendo, a foz do rio Amazonas foi descoberta por Vicente Yáñez Pinzón, um navegador espanhol que a alcançou em fevereiro de 1500. Seu primo, Diego de Lepe, também alcançou a foz do rio Amazonas, em abril do mesmo ano. Os portugueses, com a finalidade de consolidar a região como território português, fundaram o Forte do Presépio, na então chamada Santa Maria de Belém do Grão-Pará. A construção foi a primeira do modelo na Amazônia, e também a mais significativa no território amazônico até 1660. O interesse dos portugueses pela região fez com que o território do Pará fosse integrado à capitania do Maranhão e, posteriormente, separado em uma capitania própria, chamada de Grão-Pará. A criação dessa capitania culminou no aumento do povoamento da região, em especial, por meio das margens dos rios. O processo de povoamento local foi marcado pelo intenso embate entre os povos nativos, os índios e os exploradores. O início da exploração do território paraense foi caracterizado pelo importante levantamento geográfico e biológico da região, concretizado por diversos naturalistas europeus, que catalogavam as espécies ainda desconhecidas da Amazônia. Esse processo de exploração também culminou no aumento do interesse de Portugal pelos bens naturais da região. O extrativismo da borracha e da madeira, por exemplo, foram os principais motores econômicos do estado até o início do século XX. Posteriormente, novas atividades econômicas foram implementadas, como a coleta de castanha, a produção de cacau e a pecuária extensiva. Apesar da construção do Forte, a ocupação do território foi desde cedo marcada por incursões de Neerlandeses e Ingleses em busca de especiarias. Daí a necessidade dos portugueses de fortificar a área. Mercado de Ferro na Baía do Guajará - Belém (PA) Em 1541, Gonzalo Pizarro e Francisco de Orellana, também espanhóis, partiram de Quito, no atual Equador, e atravessaram a cordilheira dos Andes, explorando o curso do rio até o Oceano Atlântico, onde atualmente encontra-se Belém. A viagem durou de 1540 a 1542 e seus relatos foram concebidos pelo frei dominicano Gaspar de Carvajal. Ainda no século XVI, os espanhóis realizaram outra expedição similar à de Orellana. Pedro de Ursua também navegou o Amazonas, partindo do Peru, em busca do lendário Eldorado (1559- 1561). O navegador foi assassinado durante a viagem, e a expedição passou a ser comandada por Lopo de Aguirre, que chegou ao oceano em 1561. Como resultado dessa jornada, a colonização espanhola na região acabou sendo adiada, pois os espanhóis mostraram-se cientes das dificuldades de conquistar tão vasto espaço. Pará e parte do Maranhão em Carta de Albernaz de 1640 No século XVII, a região, integrada à capitania do Maranhão, conheceu a prosperidade com a lavoura e a pecuária. No ano de 1616 é criada a Capitania do Grão-Pará, pertencente ao https://www.pa.gov.br/midias/2018/grandes/up_55_para-albernaz.jpg Estado Colonial Português do Maranhão. Em 1751, com a expansão para o oeste, cria-se o Estado Colonial Português do Grão-Pará, que além da Capitania do Grão Pará abrigará também a Capitania de São José do Rio Negro (hoje o estado do Amazonas). Em 1821, a Revolução Constitucionalista do Porto (Portugal) foi apoiada pelos paraenses, mas o levante acabou reprimido. Em 1823, o Pará decidiu unir-se ao Brasil independente, do qual estivera separado no período colonial, reportando-se diretamente a Lisboa. No entanto, as lutas políticas continuaram. A mais importante delas, a Cabanagem (1835), chegou a decretar a independência da província do Pará. Este foi, juntamente com a Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, o único levante do período regencial onde o poder foi tomado, sendo que a Cabanagem foi a única revolta liderada pelas camadas populares. Belém, anos 1910 A economia cresceu rapidamente no século XIX e início do século XX com a exploração da borracha, pela extração do látex, época esta que ficou conhecida como Belle Époque, marcada pelos traços artísticos da Art Nouveau. Nesse período a Amazônia experimentou dois ciclos econômicos distintos com a exploração da mesma borracha. Estes dois ciclos (principalmente o primeiro) deram não só a Belém, mas também a Manaus (Amazonas), um momento áureo no que diz respeito à urbanização e embelezamento destas cidades. A construção do Teatro da Paz (Belém) e do Teatro Amazonas (Manaus) são exemplos da riqueza que esse período marcou na história da Amazônia. Mangueiras cobrindo a Avenida Independência - Belém (PA) O então intendente Antônio Lemos foi o principal personagem da transformação urbanística que Belém sofreu, onde chegou a ser conhecida como Paris n'América (como referência à influência da urbanização que Paris sofrera na época, que serviu de inspiração para Antônio Lemos). Nesse período, por exemplo, o centro da cidade foi intensamente arborizado por mangueiras trazidas da Índia. Daí o apelido que até hoje estas árvores (já centenárias) dão à capital paraense. Com o declínio dos dois ciclos da borracha, veio uma angustiante estagnação, da qual o Pará só saiu na década de 1960, com o desenvolvimento de atividades agrícolas no sul do Estado. A partir da década de 1960, mas principalmente na década de 1970, o crescimento foi acelerando com a exploração de minérios (principalmente na região sudeste do estado), como o ferro na Serra dos Carajás e do ouro em Serra Pelada. Na segunda metade do século XX, houve um intenso investimento estatal na região Norte do Brasil, em razão de interesses políticos e econômicos estatais. No caso do Pará, foram criadas colônias de povoamento, assim como grandes investimentos na área agrícola, por meio da criação bovina e do plantio de monoculturas. A mineração, iniciada em meados de 1970, também foi um dos principais motores de povoamento do território paraense, com destaque para as regiões de serra dos Carajás e Serra Pelada. Além disso, foram realizados novos projetos de infraestrutura, como a criação da rodovia Belém–Brasília, que ligava a capital estatual https://www.pa.gov.br/midias/2018/grandes/up_55_lossy-page1-1920px-belem_pa.tif.jpg https://www.pa.gov.br/midias/2018/grandes/up_55_image_4.jpg paraense à nova capital federal do Brasil. Dessa maneira, o estado do Pará se consolidou como um importante centro econômico e político da região Norte do Brasil. Ciclo da Borracha O Ciclo da Borracha corresponde ao período da história brasileira em que a extração e comercialização de látex para produção da borracha foram atividades basilares da economia. De fato, ocorreram na região central da floresta amazônica, entre os anos de 1879 e 1912, revigorando-se por pouco tempo entre 1942 e 1945. Neste período, conhecido como “Belle Époque Amazônica” que vai de 1890 a 1920, cidades como Manaus, Porto Velho e Belém, tornaram- se as capitais brasileiras mais desenvolvidas, com eletricidade, sistema de água encanada e esgotos, museus e cinemas, construídos sob influência europeia. Contudo, os dois períodos de “ciclos da borracha” acabaram de maneira repentina, o que se agravou pela falta de políticas públicas para desenvolvimento da região. Principais Causas e Consequências A demanda provocada pela Revolução Industrial, fez da borracha natural um produto super valorizado, especialmente após o advento do processo de vulcanização, um tratamento industrial que elimina as impurezas da coagulação, tornando a borracha um bom material para ser utilizado em pneus de automóveis, motocicletas e bicicletas, bem como na fabricação de correias, mangueiras, solas de sapatos, etc. Extração do Látex Nesse período, cerca de 40% de toda a exportação brasileira era proveniente da Amazônia, paga em libra esterlina(£), a moeda do Reino Unido. Como consequência deste “boom”, muitas vilas e povoados ribeirinhos surgiram e as cidades que já existiam prosperaram e cresceram, desenvolvendo desde infraestruturas básicas, como escolas e hospitais, até as mais suntuosas, como hotéis de luxo e teatros. Além do desenvolvimento socioeconômico, centenas de milhares de trabalhadores, sobretudo do nordeste, migraram para a região, resolvendo em partes o problema de povoamento. Contexto Histórico Em 1495, Cristóvão Colombo já anunciava a borracha brasileira; contudo, a economia regional da colônia para Amazônia ficou restrita ao extrativismo das “Drogas do Sertão”. Somente em 1743, quando o naturalista francês Charles Marie la Condamine descreveu o processo de extração e fabricação da goma de látex é que a borracha despertou interesses comerciais. Portanto, em 1763, químicos franceses descobrem como dissolver borracha com terebintina e éter e, em 1770, Joseph Priestley cria a borracha para apagar grafite. A partir do início do século XIX, a exploração da borracha já era uma realidade: em 1803, na cidade de Paris, era fundada a primeira fábrica de produtos de borracha; em 1823, o inglês Thomas Hancock cria o elástico e, em 1839, Charles Goodyear desenvolve o processo de vulcanização, tornando o látex um material viável para utilização industrial. Primeiro Ciclo da Borracha Em 1877, mais de 70 mil sementes de seringueiras do Pará são contrabandeadas para Inglaterra, num escandaloso caso de biopirataria. Este fato marca o início deste primeiro ciclo. Em 1903, o governo brasileiro, em negociação com o governo boliviano, adquire oficialmente o controle do Estado do Acre, mediante o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas, da entrega de territórios do Mato Grosso e da construção de uma ferrovia para escoar os produtos da Amazônia. Assim, as obras para construção da ferrovia tiveram início em 1907 e foram concluídas em 1912, resolvendo o problema de navegação do rio Mamoré, com mais de vinte cachoeiras. Contudo, a estrada de ferro Madeira-Mamoré entrou em decadência na década de 1930 e foi desativada em 1972. Em 1910, tem início a concorrência da Hevea brasiliensis plantada na Ásia, utilizando aquelas sementes contrabandeadas décadas antes e produzindo a custos muito inferiores aos da mata nativa no Brasil. Isso provoca uma queda brusca no preço do látex, tornando impossível a exploração comercial da borracha amazônica. Com isso, a fabricação de borracha brasileira entra em crise, paralisando a economia nas regiões produtoras. Belle Époque Amazônica Belle Époque (bela época em francês) começou no final do século XIX (1871) e durou até a eclosão da primeira guerra mundial em 1914 foi considerada uma era de ouro da beleza, inovação e paz entre os países europeus e suas influências se espalharam pelo mundo chegando até a Amazônia. Na Amazônia, a belle époque deu-se por conta do boom provocado pela riqueza proveniente da extração do látex (Borracha) extraído da árvore havea brasiliensis, e o período entre 1870 e 1913, foi uma época sem igual para Belém e Manaus, os centros da economia da borracha. Após a queda do império e a implantação da república, os ideais positivistas, modernizantes e progressistas do novo regime não demoraram a chegar à região, uma vez que com a implantação do federalismo os Estados ganharam autonomia para recolhimento e aplicação dos impostos, o que possibilitou às elites locais avançarem ainda mais no seu projeto de civilização europeia em plena região amazônica. A economia da borracha e o sistema de aviamento Para a consolidação do novo ciclo econômico, várias mudanças se fizeram necessárias. Primeiramente precisava-se de mão de obra para extrair o látex, na época abundante na floresta amazônica, e para suprir a falta de trabalhadores, buscou-se no exterior e sobretudo no Nordeste, onde a população passava uma das piores secas da história. Criou-se o sistema de aviamento, que consistia na contratação de trabalhadores no Nordeste e em seu translado para a Amazônia. Chegando à região, os mesmos eram submetidos a um sistema de escravidão, pois chegavam já endividados por conta das passagens, e ainda pior, só poderiam vender a borracha e comprar produtos de sua necessidade no barracão do seringalista ou coronéis da borracha (donos de seringais) o que obrigava os seringueiros (trabalhadores da borracha) a ficarem eternamente em débito e presos ao seringal. Nas cidades: O luxo e a opulência (Moda européia entre as damas da elite seringalista - Belém 1916) Na floresta: Miséria, semi-escravidão (Seringueiros extraindo o látex da seringueira) Os centros da economia da borracha eram Belém e Manaus, onde vinha toda a borracha produzida nos seringais, as cidades serviam de entrepostos comerciais para compra e venda do látex, uma vez que na época a Amazônia detinha o monopólio do produto, já que não existia havea brasiliensis em nenhum outro lugar do mundo. Enquanto a moeda brasileira era o Réis, na Amazônia a moeda da borracha era a Libra Esterlina da Grã-Bretanha, uma vez que era a moeda mais valorizada da época e os britânicos eram os principais compradores, e na Europa a borracha era utilizada na indústria automotiva, na fabricação de bolsas, sapatos e diversos outros produtos, o que mostra a importância que o látex da Amazônia tinha para a economia mundial. Reurbanização de Belém e Manaus Interior do Teatro Amazonas - Manaus Teatro da Paz - Belém O boom provocado pela riqueza advinda da extração da borracha e as custas da escravização de milhares de seringueiros, trouxe para as principais cidades da Amazônia milhares de imigrantes europeus e de outras regiões do Brasil, que vieram sobretudo para lucrar com o pujante ciclo econômico, com isso a nova elite aristocrática-seringalista da região traçou um projeto de civilização europeia, importando além de produtos de luxo, a arquitetura, bem como os costumes e tradições puramente europeias para a Amazônia. Dentro deste contexto era necessário reurbanizar os centros da economia gomífera, e Paris serviu de modelo neste período, um espelho de civilização que não deveria ser apenas imitado e sim copiado em todos os seus aspectos. Criando uma certa dicotomia, pois se por um lado havia uma forte dependência econômica da Inglaterra, por outro havia uma forte ligação com a França. Dentro deste contexto, duas personalidades foram igualmente significativas para este processo de reurbanização: Antônio Lemos em Belém e Eduardo Ribeiro em Manaus. Belém "A Paris N'América" Planta da Cidade de Belém - 1904 Intendente Antônio Lemos Antônio Lemos, maranhense, implantou em Belém uma rígida administração objetivando modernizar, sanear e embelezar a capital paraense, aos moldes de Paris, para isso criou um código de postura que pretendia fazer a população adotar hábitos mais europeus, para isso construiu grandes boulevards, arborizou ruas, construiu monumentos, implantou o primeiro sistema de iluminação elétrica do país, construiu calçadas de mármore, praças e bosques, implantou e expandiu o primeiro sistema de bondes elétricos do Brasil, além de estimular as construção de palácios e palacetes em estilo neoclássico e art noveau, assim como da adoção de uma rígida política de cobrança de impostos e de controle dos gastos públicos, também mantinha os principais locais públicos em constante vigilância, afim de garantir a proteção da elite seringalista. Manaus "A Paris Tropical" Planta da Cidade Manaus em 1914 Intendente Eduardo Ribeiro Eduardo Ribeiro, maranhense, transformou Manaus de uma vila em cidade em poucos anos, durante sua gestão foi criado o primeiro plano diretor urbano de Manaus, além da implantação do primeiro sistema de água e esgoto, sistema de telégrafo, bondese iluminação elétrica, além do Teatro Amazonas, Palácio do governo, Palácio da Justiça e o Porto Flutuante todo construído em ferro importado da Inglaterra, durante sua gestão também houve uma austera política de aumento da cobrança e bem como da arrecadação de impostos, durante sua gestão que Manaus passou a ser conhecida como a "Paris dos trópicos". A quebra da economia da borracha O monopólio da borracha fazia com que os seringalistas da Amazônia cobrassem altíssimos preços pelo produto, entretanto no início do século XX, os britânicos, maiores compradores, passaram a traficar milhares de mudas de havea brasiliensis para suas colônias na Malásia, uma região tropical com um clima muito semelhante ao da região amazônica. As mudas traficadas passaram a crescer em menos tempo, e eram plantadas em série, coisa que era impossível de se fazer na Amazônia na época, por conta das pragas. Logo os custos e o tempo de produção eram mais baixos e a qualidade mais elevada do que a borracha produzida na Amazônia, assim, os britânicos não tinham mais que pagar impostos, uma vez que estavam agora produzindo borracha em suas próprias colônias. O ano de 1913 foi marcado pelo início da exportação da borracha produzida na Malásia e o início do crise da economia gomífera na Amazônia, que em 1912 registrou a maior exportação da história e chegou a ser o segundo maior produto de exportação brasileira. O rápido declínio fez desmoronar não apenas um ciclo econômico, mas uma sociedade inteira. Sem atenção do governo federal para a crise, e sem haver como competir com o látex malasiano, os velhos e rudimentares seringais da Amazônia quebraram, e depois de décadas de absoluta ostentação, não havia nada que os governos locais pudessem fazer. Ao longo de décadas, os centros econômicos da região investiram muito mais em embelezamento das cidades ao invés de industrias ou outras atividades econômicas. Era tarde demais, a Amazônia estava quebrada, e permaneceria em um estado de abandono pelas seis décadas seguintes. Abaixo, algumas construções do período da belle époque: Belém Mercado de Ferro do Ver-o-peso Palacete Bolonha Coreto de Ferro - Praça Batista Campos Teatro da Paz - 1878 Loja Paris N'América O SEGUNDO CICLO – 1942/1945 A Amazônia viveria outra vez o ciclo da borracha durante a Segunda Guerra Mundial, embora por pouco tempo. Como forças japonesas dominaram militarmente o Pacífico Sul nos primeiros meses de 1942 e invadiram também a Malásia, o controle dos seringais passou a estar nas mãos dos nipônicos, o que culminou na queda de 97% da produção da borracha asiática. Isto resultaria na implantação de mais alguns elementos, inclusive de infraestrutura, apenas em Belém, desta vez por parte dos Estados Unidos. A exemplo disso, temos o Banco de Crédito da Borracha, atual Banco da Amazônia; o Grande Hotel, luxuoso hotel construído em Belém em apenas 3 anos, onde hoje é o Hilton Hotel; o aeroporto de Belém; a base aérea de Belém; entre outros. A BATALHA DA BORRACHA Com o alistamento de nordestinos, Getúlio Vargas minimizou o problema da seca do nordeste e ao mesmo tempo deu novo ânimo na colonização da Amazônia. Na ânsia de encontrar um caminho que resolvesse esse impasse e, mesmo, para suprir as Forças Aliadas da borracha então necessária para o material bélico, o governo brasileiro fez um acordo com o governo dos Estados Unidos (Acordos de Washington), que desencadeou uma operação em larga escala de extração de látex na Amazônia – operação que ficou conhecida como a Batalha da Borracha. Como os seringais estavam abandonados e não mais de 35 mil trabalhadores permaneciam na região, o grande desafio de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, era aumentar a produção anual de látex de 18 mil para 45 mil toneladas, como previa o acordo. Para isso seria necessária a força braçal de 100 mil homens. O alistamento compulsório em 1943 era feito pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA), com sede no nordeste, em Fortaleza, criado pelo então Estado Novo. A escolha do nordeste como sede deveu-se essencialmente como resposta a uma seca devastadora na região e à crise sem precedentes que os camponeses da região enfrentavam. Além do SEMTA, foram criados pelo governo nesta época, visando a dar suporte à Batalha da borracha, a Superintendência para o Abastecimento do Vale da Amazônia (Sava), o Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp) e o Serviço de Navegação da Amazônia e de Administração do Porto do Pará (Snapp). Criou- se ainda a instituição chamada Banco de Crédito da Borracha, que seria transformada, em 1950, no Banco de Crédito da Amazônia. O órgão internacional Rubber Development Corporation (RDC), financiado com capital dos industriais estadunidenses, custeava as despesas do deslocamento dos migrantes (conhecidos à época como brabos). O governo dos Estados Unidos pagava ao governo brasileiro cem dólares por cada trabalhador entregue na Amazônia. O governo dos Estados Unidos pagava ao governo brasileiro cem dólares por cada trabalhador entregue na Amazônia. Milhares de trabalhadores de várias regiões do Brasil foram compulsoriamente levados à escravidão por dívida e à morte por doenças para as quais não possuíam imunidade. Só do nordeste foram para a Amazônia 54 mil trabalhadores, sendo 30 mil deles apenas do Ceará. Esses novos seringueiros receberam a alcunha de Soldados da Borracha, numa alusão clara de que o papel do seringueiro em suprir as fábricas nos EUA com borracha era tão importante quanto o de combater o regime nazista com armas. Seringueiro Manaus tinha, em 1849, cinco mil habitantes, e, em meio século, cresceu para 70 mil. Novamente a região experimentou a sensação de riqueza e de pujança. O dinheiro voltou a circular em Manaus, em Belém, em cidades e povoados vizinhos e a economia regional fortaleceu-se. CAMINHO SEM VOLTA Mosquito, elemento transmissor da malária e da febre amarela, doenças que causaram muitas mortes aos seringueiros. Entretanto, para muitos trabalhadores, este foi um caminho sem volta. Cerca de 30 mil seringueiros morreram abandonados na Amazônia, depois de terem exaurido suas forças extraindo o ouro branco. Morriam de malária, febre amarela, hepatite e atacados por animais como onças, serpentes e escorpiões. O governo brasileiro também não cumpriu a promessa de reconduzir os Soldados da Borracha de volta à sua terra no final da guerra, reconhecidos como heróis e com aposentadoria equiparada à dos militares. Calcula-se que conseguiram voltar ao seu local de origem (a duras penas e por seus próprios meios) cerca de seis mil homens. Mas quando chegavam tornavam-se escravos por dívida dos coronéis seringueiros e morriam em consequência das doenças, da fome ou assassinados quando resistiam lembrando as regras do contrato com o governo. DECADÊNCIA DO CICLO DA BORRACHA Em 1876, quando o ciclo da borracha ainda iniciava sua fase de progressiva expansão, uma medida decisiva, que no futuro próximo aniquilaria a economia do Estado, tinha sido levada a cabo: o contrabando de sementes de seringueira para a Inglaterra e, daí, para suas colônias na Ásia, onde seriam cultivadas. Tal empresa foi concebida e realizada pelo botânico inglês, Sir Henry Wickham, que embarcou clandestinamente cerca de 70 mil sementes para a Inglaterra, onde foram cultivadas experimentalmente em estufa. Dentre essas, vingaram 7.000 mudas, as quais foram transportadas para o Ceilão e, posteriormente, para a Malásia, Samatra, Bornéu e outras colônias britânicas e holandesas, nas quais se desenvolveram, passando a produzir uma seringa de maior qualidade e menor custo, o que provocou a queda dos preços da borracha e fez que o quase monopólio da borracha pelo Brasil desmoronasse. Em 1900, as colônias britânicasda Ásia disputaram o mercado com uma modesta oferta: apenas 4 toneladas. Porém suas exportações cresceram abruptamente e, em 1913, a produção asiática já superava a produção brasileira. A partir de então, a produção de seringa brasileira passou a despencar vertiginosamente, sobretudo face à queda dos preços da borracha no mercado internacional, que inviabilizava cada mais a atividade extrativa na região amazônica em seu custo. Porém, na Ásia, uma borracha de boa qualidade era produzida em grandes quantidades e a um custo bem mais baixo, o que levou o capital estrangeiro, ligado ao comércio e a distribuição do produto brasileiro a abandonar o vale do Amazonas, visando seguros lucros no Oriente. Por essa época, a Ásia já abastecia o mercado internacional com cerca de 700.000 mil toneladas de goma, passando a dominar inteiramente o mercado da borracha mundial. Os planos e projetos de valorização e defesa da borracha brasileira no mercado internacional não passaram de tímidas e fracassadas iniciativas de um governo central totalmente apático e sempre tardio no que se refere à Região Norte. Ao governo central interessava os impostos arrecadados com a atividade gomífera. Suas atenções voltavam-se quase que exclusivamente ao Sul do país e à proteção do café, conforme denunciou o deputado amazonense Luciano Pereira a mencionar em seu discurso, em 1912, na Câmara dos deputados. É por motivos iguais a este que se diz ter sido, até hoje, a União mãe para o Sul e madrasta para o Norte. A queda do Ciclo da Borracha Quando a borracha da Malásia tornou proibitivo o preço da borracha da Amazônia no mercado mundial, a economia regional estagnou. Devido à gravidade da crise, e à falta de visão empresarial e governamental, que resultou na ausência de alternativas para o desenvolvimento regional. Estagnaram também as cidades. Da vila de Santo Antonio do Madeira, que chegou a contar com uma pequena linha de bonde e jornal semanal ao tempo em que se iniciava Porto Velho, resta hoje uma única construção. A sobrevivência de Porto Velho está associada às melhores condições de salubridade da área onde foi construída, da facilidade de acesso pelo rio durante o ano todo, do seu porto, da necessidade que a ferrovia sentia de exercer maior controle sobre os operários para garantir o bom andamento das obras, construindo para tanto residências em sua área de concessão, e, até mesmo, de uma certa forma, ao bairro onde moravam principalmente os barbadianos trazidos para a construção. Desenvolvendo-se sobre uma pequena colina ao sul da cidade, ainda em área da ferrovia, surgiu o bairro denominado originalmente de Barbadoes Town (ou Barbedian Town), embora posteriormente se tenha tornado mais conhecido como o Alto do Bode. O núcleo urbano que então existia em torno das instalações da EFMM, inclusive e com muito significado, o Alto do Bode, serviu de justificativa para a consolidação de Porto Velho como a capital do Território Federal do Guaporé, em 1943. Essa pequena colina foi arrasada no final dos anos 60, e o Alto do Bode desapareceu. Ao longo do período que vai de 1925 a 1960, o centro urbano adquiriu feições definitivas. O sistema viário de bom traçado e o sistema de esgotos da região central são heranças dos previdentes pioneiros; os prédios públicos, o bairro Caiarí, etc…, são provas de que, mesmo em meio à grandes dificuldades, é possível construir e avançar. Somente com a erupção da segunda guerra mundial, e a criação dos territórios federais em 1943, ocorreu novo e rápido ciclo de progresso regional. Esse surto decorreu das necessidades de borracha das forças aliadas, que haviam perdido os seringais malaios na guerra do Pacífico, e produziu o denominado segundo ciclo da borracha. Finda a guerra, novamente a economia regional baseada na borracha, e dirigida com imprevidência e incapacidade empreendedora, entrou em paralisia.
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