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INTRODUÇÃO AO SNC A maioria dos fármacos que afeta o sistema nervoso central (SNC) atua alterando algum passo do processo de neurotransmissão. Os fármacos que afetam o SNC podem agir de modo pré-sináptico, influenciando a produção, o armazenamento ou o término da ação dos neurotransmissores; entretanto, outros podem ativar ou bloquear os receptores póssinápticos. Neurotransmissão no SNC Sob vários pontos de vista, a função básica dos neurônios no SNC é semelhante à do sistema nervoso autônomo. Por exemplo, a transmissão da informação tanto no SNC como na periferia envolve a liberação de neurotransmissores que se difundem através do espaço sináptico para unirem-se a receptores específicos no neurônio pós-sináptico. Em ambos os sistemas, o reconhecimento do neurotransmissor pelo receptor de membrana no neurônio pós-sináptico desencadeia alterações intracelulares. Existem algumas diferenças importantes entre os neurônios do sistema nervoso autônomo periférico e os do SNC. A rede neuronal do SNC é muito mais complexa do que a do sistema nervoso autônomo, e o número de sinapses no SNC é muito maior. Diferentemente do sistema nervoso autônomo periférico, o SNC contém circuitos de neurônios inibitórios eficientes que estão constantemente ativos, modulando a velocidade de transmissão neuronal. Além disso, o SNC comunica-se através de mais de 10 (talvez até 50) diferentes neurotransmissores. Em contraste, o sistema autônomo usa apenas dois neurotransmissores primários, a acetilcolina e a noradrenalina. Potenciais Sinápticos No SNC, os receptores na maioria das sinapses estão acoplados a canais iônicos, ou seja, a ligação do neurotransmissor com os receptores da membrana pós-sináptica ocasiona abertura rápida, posto que transitória, dos canais iônicos. Os canais abertos franqueiam a passagem dos íons do lado externo e interno da membrana celular, a favor dos seus gradientes de concentração. A conseqüente alteração da composição iônica através da membrana neuronal muda o potencial pós-sináptico, produzindo despolarização ou hiperpolarização da membrana pós-sináptica, dependendo de quais íons se movem e da direção do seu movimento. → Vias excitatórias Os neurotransmissores podem classificar-se como excitatórios ou inibitórios, dependendo da natureza do efeito que provocam. A estimulação de neurônios excitatórios provoca um movimento iônico que resulta em despolarização da membrana pós-sináptica. Estes potenciais pós-sinápticos excitatórios (PPSE) são gerados pelo seguinte: 1. A estimulação de um neurônio excitatório causa liberação de moléculas de um neurotransmissor, tal como noradrenalina ou acetilcolina, que se liga a receptores localizados na membrana da célula pós-sináptica. Isso redunda em aumento transitório na permeabilidade aos íons sódio (Na + ); 2. O influxo de Na + provoca certa despolarização ou potencial pós-sináptico excitatório (PPSE); 3. Se o número de fibras excitatórias estimuladas aumenta e mais neurotransmissor excitatório é liberado, fazendo com que a despolarização PPSE da célula pós-sináptica ultrapasse um limiar, é gerado um potencial de ação tudo-ou-nada. → Vias inibitórias A estimulação de neurônios inibitórios causa movimento de íons que resulta em hiperpolarização da membrana pós-sináptica. Estes potenciais pós-sinápticos inibitórios (PPSI) são gerados pelo seguinte: 1. A estimulação de neurônios inibitórios libera moléculas de neurotransmissor, tais como o ácido y-aminobutírico (GABA) ou glicina, o qual se liga a receptores na membrana da célula pós-sináptica. Isso redunda em aumento transitório na permeabilidade a certos íons específicos, como potássio e cloreto; 2. O influxo de cloreto (CI-) e o efluxo de potássio (K + ) causam certa hiperpolarização ou potencial pós-sináptico inibitório (PPSI) que desloca o potencial pós- sináptico para uma posição mais distante do seu limiar de deflagração, diminuindo a gênese de potenciais de ação. → Efeitos combinados de PPSE e PPSI A maioria dos neurônios no SNC recebe aferências tanto de PPSE como de PPSI. Assim, embora vários neurotransmissores diferentes possam agir sobre o mesmo neurônio, cada um se liga ao seu próprio receptor específico. O efeito geral resultante deve-se à soma dos efeitos individuais dos vários neurotransmissores sobre o neurônio. Os neurotransmissores não estão distribuídos uniformemente pelo SNC, localizando-se em grupos específicos de neurônios cujos axônios podem fazer sinapse em regiões específicas do cérebro. Deste modo, muitos tratos neuronais parecem estar codificados quimicamente, e este fato pode oferecer maior oportunidade para a modulação seletiva de certas vias neuronais. INTRODUÇÃO A PSICOFARMACOLOGIA Os transtornos mentais, em geral, foram considerados pela Medicina somente no século XIX. Em 1892, a obra de Kraepelin "Sobre as influências de alguns medicamentos em determinados fenômenos psíquicos elementares" lança o nome "farmacopsicologia" e apresenta os estudos sobre a morfina, chá, álcool, cloraldeído e paraldeído (Oliveira, 1994). Somente na década de 50 surge a conhecida psicofarmacologia, com um antipsicótico chamado clorpromazina. Daí para frente surgiram os ansiolíticos, antidepressivos, estabilizadores de humor, hipnóticos, estimulantes e outros. Até hoje, as pesquisas e as evoluções de maior repercussão na área psiquiátrica baseiam-se, direta ou indiretamente, na psicofarrnacologia.' Inclusive, em 1917, o psiquiatra Julius Von Wagner - Jauregg ganhou o Prêmio Nobel com a introdução da toxina da malária para tratar a sífilis (Kaplan et al., 1997). Alguns psicotrópicos são usados demasiadamente, por vezes, sem uma devida indicação e controle médico, como é o caso dos hipnóticos e os ansiolíticos, popularmente conhecidos como soníferos e calmantes, respectivamente. A máxima de que "a propaganda é a alma do negócio" não deveria ser tão verdadeira na relação médico-indústria farmacêutica, a fim de inibir, assim, profissionais de lançarem mão dos psicofármacos frente a situações nas quais o alívio da própria ansiedade em prescrevê- los seria a prioridade, substituindo tal conduta por um encaminhamento a quem de devido. O preconceito em relação aos transtornos mentais, aos psicofárrnacos e aos profissionais especialistas da área é, por vezes, mais exacerbado entre os próprios colegas da saúde, o que pode inviabilizar um encaminhamento claro e desprovido de estigmas, assim como um tratamento interdisciplinar adequado. A prática da psicofarmacologia clínica exige habilitação e capacitação de diagnosticador e psicoterapeuta (Kaplan et al., 1997), além de conhecimento da farmacodinâmica, farmacocinética, posologia, tempo de uso, efeitos colaterais, interações medicamentosas e contra-indicações da droga selecionada, embasados na história de vida do paciente, seu estado geral e planejamento do tratamento. O paciente e a família devem estar cientes de todos estes aspectos e propósitos. Nos países mais desenvolvidos há a exigência de um consentimento formal para o uso de alguns psicotrópicos, tamanha é a importância da administração destes produtos. A cada ano, novos psicofármacos são lançados no mercado. Mais recentemente, houve o lançamento dos genéricos. Aumentam o número de farmácias de manipulação. Com tanta evolução e transformações, a população geral busca, por vezes,o mais barato economicamente, o que não significa o de mais qualidade, levando-se em conta que um medicamento deve ter bem controlada a sua bioequivalência e biodisponibilidade, conceitos não divulgados entre o público leigo. PRESCRIÇÕES E MEDICAÇÕES Até chegar às farmácias, o remédio levou cerca de 10 anos para percorrer estas etapas até que ele esteja pronto para o consumo. Como se vê é uma pesquisa com bastante cuidados, porém sujeitas a lacunas quanto a interações medicamentosas, que costumam ser as questões mais espinhosas para o médico, na prescrição, pela enorme quantidade de interações possíveis, sem contar as desconhecidas. Muito preocupantes, são possíveis efeitos teratogênicos na gravidez e também as conseqüências de seu uso em mulheres no período de lactação, e no Brasil geralmente os dados são quase sempre muito escassos para estas novas drogas. Pode também não haver insuficiente estudo de seus efeitos em patologias específicas, bem como seus efeitos em crianças ou idosos. Mais freqüentemente estas respostas só são conhecidas depois que a medicação já está em uso há muitos anos, como se vê com fármacos pertencentes a outras classes, recentemente tivemos um caso bem típico que foi a retirada do consagrado Vioxx® produzido pela Merck e que ocupava o 8º lugar no ranking dos mais vendidos no mundo. Mas a questão não se encerra por aqui. Na verdade começa uma nova caminhada. Uso Clínico do Medicamento Deve-se lembrar que a terapêutica não é somente uma farmacologia. Não devemos nos limitar a farmacocinética, isto é à dinâmica da absorção da droga, sua distribuição no organismo e sua eliminação, nem tampouco à farmacodinâmica, que é o estudo dos mecanismos de ação da droga e a relação entre sua concentração e os efeitos alcançados. Apesar de estarem sendo cada vez mais enfatizados os aspectos biológicos do comportamento, e com razão, pois o psiquismo repousa sobre uma base biológica, não se deve esquecer que o homem é constituído de seu corpo e de sua mente, cada qual influenciando e sendo influenciado pelo outro. E isto se dá em um meio ambiente, cujo efeito não pode ser descartado, meio este que não é apenas natural, geográfico, mas também histórico e cultural. O PACIENTE E O USO DE MECICAMENTOS Os pacientes, principalmente os portadores de doenças crônicas, fazem uso de uma polifarmacologia. Doenças como depressão, diabetes, cardiopatias, artroses e outras, isoladas ou mesmo associadas, requerem vários medicamentos para seu controle, alguns destes inevitáveis. Pacientes idosos, com mais de 65 anos, consomem em média 3,5 medicamentos (TIMIRAS, 1997). A indústria farmacêutica, muitas vezes lança no mercado, apresentações medicamentosas de difícil uso e manuseio pelo paciente, como por exemplo, frasco de xarope de boca larga, comprimidos ou cápsulas difícil de destacar das cartelas ou mesmo de tamanho exagerados, dificultando a deglutição. Outro fator que dificulta o uso de medicações é o número de unidades por embalagem. Certos medicamentos de uso contínuo são produzidos comercialmente com caixas de vinte, quatorze e outras quantias de comprimidos, cápsulas ou drágeas, quando o correto seria que as apresentações fossem em número de trinta ou seus múltiplos, pois nossos pacientes recebem seus pagamentos uma vez ao mês. Quando compram um medicamento de uso contínuo com apresentação de vinte unidades, poderão ocorrer duas situações: o paciente ficará os dez dias restantes sem usar a medicação, com prejuízo ao seu tratamento, ou terá que adquirir duas caixas, o que poderá desestruturar seu orçamento. Existem vários perfis de pacientes como consumidores de medicamentos. Um deles, o hipocondríaco, que consome o prescrito e o não prescrito, ingere tudo que se compra em farmácia. O médico deve tomar cuidado, por exemplo, ao prescrever um medicamento para tempo restrito. Quando se administra um medicamento analgésico e antitérmico para um quadro álgido, ou mesmo um ansiolítico, para uma crise de ansiedade aguda e o paciente continuar tomando a medicação, mesmo após a dor ter sido debelada ou a crise de ansiedade já controlada, isso poderá ocasionar toxicidade ou dependência. Outros pacientes são aqueles que, na frente do médico, se comprometem a seguir a prescrição, mas quando chegam em casa nem mesmo os medicamentos adquirem. Para estes a persuasão sobre a importância do uso correto da medicação se faz necessária. Temos outro grupo de pacientes, que iniciam o tratamento, sentem melhoras e o interrompem. Neste grupo temos que mostrar que com a interrupção do tratamento há comprometimento da eficácia terapêutica. Finalmente, outro grupo procura um amigo médico, ou mesmo outra consulta, para certificar-se que a prescrição foi correta e tendo este aval inicia o tratamento. Os pacientes devem receber informações sobre os efeitos adversos da medicação. O ser humano sempre teme diante do desconhecido. Um paciente, ao ingerir medicamento que provoca xerostomia, isto é sensação de boca seca, ao ser orientado pelo seu médico que esta medicação pode provocar tal reação, não se assustará diante do referido efeito. Pelo contrário, se não for avisado sobre tal fenômeno, poderá interromper o tratamento. Muitas vezes, medicamentos provocam efeitos adversos em grupos diferentes de pessoas, como certos antidepressivos podem provocar sonolência em uns e insônia em outros. Os pacientes que nunca fizeram uso de medicação deste tipo deverão ser avisados para aceitarem melhor a terapêutica e não interromperem o tratamento. Para pacientes com baixo grau de escolaridade ou analfabetos, símbolos como sol, lua ou um prato para identificar, respectivamente, o dia, a noite e as refeições são bastante importantes. O uso de medicamentos é a forma terapêutica mais usada. O mesmo, quando prescrito com segurança, indicação precisa e bem usado pelo paciente, poderá aliviar a dor, o sofrimento e salvar vidas. Quando não são observados estes itens poderemos ter malefícios como desperdícios, efeitos colaterais indesejáveis e mesmo ser levados à morte. ♦ FÁRMACOS ANSIOLÍTICOS E HIPNÓTICOS Introdução A ansiedade é um desagradável estado de tensão, apreensão ou inquietude - temor que parece originar-se de alguma fonte desconhecida. Entre os distúrbios mentais mais freqüentes estão aqueles envolvendo ansiedade. Os sintomas da ansiedade grave assemelham-se aos do pânico (como taquicardia, sudorese, tremores, palpitações) e envolvem ativação do simpático. Episódios de ansiedade moderada são experiências comuns do cotidiano e não requerem tratamento. Entretanto, os sintomas da ansiedade debilitante, crônica, grave, podem ser tratados com fármacos ansiolíticos (por vezes denominados tranqüilizantes menores), acompanhados ou não de alguma forma de terapia psicológica ou comportamental. Como todos os fármacos ansiolíticos também causam certa sedação, em geral os mesmos são clinicamente úteis como agentes duplos, ansiolíticos e hipnóticos (indutores de sono). ANSIOLÍTICOS BENZODIAZEPÍNICOS DISPONÍVEIS NO BRASIL Nome Químico ALPRAZOLAM BROMAZEPAM BUSPIRONA** CLOBAZAM CLONAZEPAM CLORDIAZEPÓXIDO CLOXAZOLAM* DIAZEPAM LORAZEPAM* Nome Comercial Apraz, Frontal, Tranquinal Brozepax, Deptran, Lexotam, Nervium, Novazepam, Somalium, Sulpam Ansienon, Ansitec, Bromopirim , Brozepax, Buspanil, Buspar Frizium, Urbanil Rivotril PsicosedimElum, Olcadil Ansilive, Calmociteno, Diazepam, Diazepan, Kiatriun, Noam, Somaplus, Valium Lorium, Lorax, Mesmerin *- ansiolíticos usados também como hipnóticos devido a grande sonolência e sedação. **- considerado ansiolítico não-benzodiazepínico → Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos são os fármacos ansiolíticos mais amplamente empregados, tendo substituído os barbitúricos e o meprobamato para o tratamento da ansiedade, pois são mais eficazes e mais seguros. Atualmente, há cerca de 20 derivados benzodiazepínicos disponíveis. • Mecanismo de ação A ligação do ácido γ-aminobutírico (GABA) a seu receptor na membrana celular provoca abertura de um canal de cloreto, que culmina em aumento da condutância ao cloreto. O influxo de íons cloreto causa discreta hiperpolarização, a qual afasta o potencial de membrana pós-sináptico de seu limiar de excitabilidade e, assim, inibe a formação de potenciais de ação. Os benzodiazepínicos ligam-se a sítios específicos, de alta afinidade, localizados na membrana celular, que são distintos, porém adjacentes ao receptor de GABA. Os receptores para benzodiazepínicos são encontrados somente no sistema nervoso central (SNC), e sua localização corresponde à dos neurônios GABA. A ligação de benzodiazepínicos aumenta a afinidade dos receptores de GABA com este neurotransmissor, ocasionando abertura mais freqüente dos canais de cloreto adjacentes. Este fato, por sua vez, acarreta aumento da hiperpolarização e posterior inibição da despolarização do neurônio. [Nota: Os benzodiazepínicos e o GABA aumentam mutuamente a afinidade de seus sítios de ligação e na realidade não aumentam o número total de sítios ligantes.] Os efeitos clínicos dos vários benzodiazepínicos correlacionam-se bem com a afinidade de união de cada fármaco pelo complexo receptor GABA-canal de cloreto. Antagonistas da • Flumazenil Benzodiazepina • Aminobarbital • Fenobarbital Resumos dos Barbituratos • Pentobarbital Fármacos Ansiolíticos • Secobarbital e Hipnóticos • Tiopental • Anti-histamínicos Sedativos Não- • Hidrato de Cloral Barbituratos • Etanol • Ações Os benzodiazepínicos não possuem atividade antipsicótica nem qualquer ação analgésica, nem afetam o sistema nervoso autônomo. Em maior ou menor grau, todos os benzodiazepínicos apresentam os seguintes efeitos: 1. Redução da ansiedade: Em doses baixas, os benzodiazepínicos são ansiolíticos. A redução da ansiedade provavelmente deve-se à inibição seletiva de circuitos neuronais no sistema límbico cerebral; 2. Efeitos sedativos e hipnóticos: Todos os benzodiazepínicos usados como ansiolíticos apresentam alguma atividade sedativa. Em doses mais altas, certos benzodiazepínicos produzem hipnose (sono artificialmente produzido); 3. Anticonvulsivante: Alguns benzodiazepínicos têm atividade anticonvulsivante e são usados no tratamento da epilepsia e de outros distúrbios convulsivos; 4. Relaxamento muscular: Os benzodiazepínicos reduzem a espasticidade do músculo esquelético, provavelmente aumentando a inibição pré-sináptica na medula espinal. • Usos terapêuticos Os benzodiazepínicos entre si apresentam pequenas diferenças quanto às propriedades ansiolíticas, anticonvulsivantes e sedativas. Entretanto, a duração de ação varia bastante no grupo e, com freqüência, as considerações farmacocinéticas são item de importância na escolha do fármaco. 1. Distúrbios ansiosos: Os benzodiazepínicos são úteis no tratamento da ansiedade que está associada a algumas formas de depressão e esquizofrenia. Estes fármacos não devem ser usados para o alívio do estresse normal da vida diária, e sim reservados para a ansiedade grave e contínua, em que seriam usados apenas por períodos de tempo curtos, em virtude do potencial de causar dependência. Os agentes de ação mais prolongada, como o diazepam, são em geral preferidos para pacientes ansiosos em que pode ser necessário estender o tratamento por períodos mais longos. Os efeitos ansiolíticos dos benzodiazepínicos estão menos sujeitos à tolerância do que os efeitos sedativo e hipnótico. Quanto às síndromes de pânico, o alprazolam é eficaz para tratamentos de curto ou longo prazo, embora possa causar reações de abstinência em cerca de 30% dos pacientes. 2. Distúrbios musculares: O diazepam é útil no tratamento de espasmos da musculatura esquelética - tais como os que ocorrem na distensão muscular - e no tratamento da espasticidade de doenças neurodegenerativas, como a esclerose múltipla e a paralisia cerebral. 3. Convulsões: O clonazepam é útil no tratamento crônico da epilepsia, enquanto o diazepam é o fármaco de eleição para a interrupção das convulsões da epilepsia grande mal e do mal de estado epiléptico. O clordiazepóxido, o clorazepato, o diazepam e o oxazepam são úteis no tratamento agudo da síndrome de abstinência do álcool. 4. Distúrbios de sono: Nem todos os benzodiazepínicos são úteis como agentes hipnóticos, embora todos apresentem efeitos sedativos ou calmantes. Os três benzodiazepínicos mais freqüentemente prescritos para distúrbios do sono são o flurazepam, de longa ação, o temazepam, de ação intermediária, e o triazolam, de curta duração de ação. - Flurazepam: Este benzodiazepínico de longa duração de ação reduz tanto o tempo de indução de sono como o número de despertares noturnos, além de aumentar a duração do sono. O flurazepam tem longa duração de ação e provoca pouca insônia rebote. Com a continuação do uso, o fármaco mostra eficácia durante até 4 semanas. O flurazepam e seus metabólitos ativos têm meia-vida de aproximadamente 85 horas, o que pode acarretar sedação diurna e acúmulo do fármaco. - Temazepam: Este fármaco é útil para pacientes que despertam com grande freqüência. Entretanto, o efeito sedativo máximo ocorre 2 a 3 horas após a administração oral, podendo ser ministrada algumas horas antes de deitar. - Triazolam: Por ter duração de ação relativamente curta, este benzodiazepínico é usado para induzir o sono em pacientes com insônia recorrente. Enquanto o temazepam é útil no controle da insônia causada pela incapacidade de manutenção do sono, o triazolam é eficaz no tratamento de indivíduos que têm dificuldade de conciliar o sono. É comum desenvolver-se tolerância dentro de poucos dias e em geral a retirada do fármaco provoca insônia rebote, levando o paciente a procurar nova prescrição. Assim, o melhor uso deste fármaco é de forma intermitente e não diária. Em geral, os hipnóticos devem ser prescritos somente por períodos de tempo limitados, usualmente menos que 2 a 4 semanas. • Dependência Podem se desenvolver dependência física e psíquica a benzodiazepínicos, se houver uso de altas doses durante períodos prolongados. A interrupção abrupta da administração provoca síndrome de abstinência, com confusão, ansiedade, agitação, inquietação, insônia e tensão. Em virtude das prolongadas meias-vidas de alguns benzodiazepínicos, os sintomas da abstinência podem demorar alguns dias para manifestar-se, após interrupção do tratamento. Os benzodiazepínicos com curta meia- vida de eliminação, como o triazolam, causam reações de abstinências mais severas e abruptas do que com os fármacos de eliminação lenta, como o flurazepam. OUTROS AGENTES ANSIOLÍTICOS E HIPNÓTICOS → Zolpidem Embora o hipnótico zolpidem não seja um benzodiazepínico, agenuma subfamília de receptores para benzodiazepínicos. O zolpidem não tem propriedades anticonvulsivantes ou miorrelaxantes. Não provoca efeitos de abstinência, ocasiona mínima insônia rebote e pequena ou nenhuma tolerância com o uso prolongado. O zolpidem é absorvido rapidamente no trato gastrintestinal, tem rápido início de efeito e curta meia-vida de eliminação (cerca de 3 horas). Os efeitos adversos do zolpidem compreendem pesadelos, agitação, cefaléia, desconforto gastrintestinal, tontura e sonolência diurna. Embora o zolpidem tenha vantagens potenciais sobre os benzodiazepínicos, a experiência clínica com este fármaco ainda é pequena. → Buspirona A buspirona é útil no tratamento de distúrbios ansiosos gerais e sua eficácia é comparável à dos benzodiazepínicos. As ações da buspirona parecem ser mediadas por receptores serotoninérgicos 5HT1A, embora outros receptores possam ser envolvidos, pois a buspirona exibe certa afinidade com receptores dopaminérgicos DA2 e serotoninérgicos 5-HT2. Seu mecanismo de ação, portanto, é distinto do mecanismo dos benzodiazepínicos. Além disso, a buspirona não possui as propriedades anticonvulsivantes e miorrelaxantes dos benzodiazepínicos e provoca apenas ligeira sedação. A freqüência de efeitos adversos é baixa, sendo os mais comuns cefaléia, tontura, nervosismo e confusão mental. A sedação e as disfunções psicomotora e cognitiva são mínimas, sendo improvável a dependência. A buspirona tem como desvantagem o lento início de ação. → Hidroxizina A hidroxizina é um anti-histamínico com atividade antiemética. Tem baixa tendência a provocar hábito, sendo útil em pacientes com ansiedade que têm histórico de abuso de drogas. É também usada freqüentemente para produzir sedação antes de intervenções odontológicas ou cirúrgicas. ANTAGONISTA DE BENZODIAZEPÍNICOS O flumazenil é um antagonista de receptores de GABA que pode rapidamente reverter os efeitos dos benzodiazepínicos. O fármaco está disponível unicamente para administração I.V. O início dos efeitos é rápido, porém a duração é curta, com meia-vida de cerca de 1 hora. Podem ser necessárias administrações freqüentes, de modo a manter a reversão dos efeitos de um benzodiazepínico de longa duração de ação. A adminstração de flumazenil pode precipitar síndrome de abstinência em pacientes dependentes ou causar convulsões no caso de o benzodiazepínico estar sendo usado para controlar quadro convulsivo. Os efeitos adversos usuais são confusão, náuseas, vômitos e agitação. BARBITÚRICOS No passado, os barbitúricos formavam a base do tratamento usado para sedar o paciente ou para induzir e manter o sono. Na atualidade, foram amplamente substituídos pelos benzodiazepínicos, principalmente em razão de os barbitúricos causarem tolerância e dependência, induzirem enzimas metabolizadoras de fármacos e provocarem graves sintomas de abstinência. O aspecto mais grave é poderem causar coma em doses tóxicas. Certos barbitúricos, como o tiopental, de duração de ação ultracurta, ainda são usados para a indução anestésica. • Mecanismo de ação Acredita-se que os barbitúricos interferem no transporte de sódio e potássio através da membrana, acarretando inibição do sistema ativador reticular mesencefálico. Em todas as áreas do SNC, a transmissão polissináptica é inibida. Os barbitúricos também potenciam a ação do GABA quanto à entrada de cloreto no neurônio, apesar de não se ligarem ao receptor de benzodiazepínico. • Efeitos Os barbitúricos são classificados de acordo com sua duração de ação. Por exemplo, o tiopental, que age em questão de segundos e tem duração de ação cerca de 30 minutos, é usado para a indução intravenosa de anestesia. O fenobarbital, ao contrário, cuja duração de ação é maior que 24 horas, é útil no tratamento anticonvulsivo. O pentobarbital, o secobarbital e o amobarbital são barbitúricos de ação curta, eficazes como agentes sedativos e hipnóticos (mas não como ansiolíticos). 1. Depressão do SNC: Em doses baixas, os barbitúricos produzem sedação (efeito "calmante", reduzindo a excitação). Em doses mais altas, causam hipnose, seguida de anestesia (perda da sensibilidade), para finalmente culminar em coma e morte. Assim, todos os graus de depressão do SNC são possíveis na dependência da dose. Os barbitúricos não elevam o limiar de sensibilidade dolorosa, não apresentando propriedades analgésicas e podendo até mesmo exacerbar a sensação de dor. 2. Depressão respiratória: Os barbitúricos suprimem a resposta hipóxica e quimiorreceptora ao CO2. A superdosagem provoca depressão respiratória e morte. 3. Indução enzimática: Os barbitúricos induzem as enzimas microssômicas P-450 no fígado. Assim, a administração crônica desses fármacos causa diminuição dos efeitos de muitos medicamentos cuja redução de concentração depende de metabolismo pelo sistema P-450. • Usos terapêuticos 1. Anestesia: A seleção de um barbitúrico é grandemente influenciada pela duração de ação desejada. Os barbitúricos de ação ultracurta, como o tiopental, são usados IV para induzir anestesia. 2. Anticonvulsivante: O fenobarbital é usado no controle, em longo prazo, de convulsões tônico-clônicas, do estado de mal epiléptico e da eclâmpsia. O fenobarbital tem sido encarado como fármaco de escolha no tratamento de crianças pequenas com convulsões febris recorrentes. Entretanto, nas crianças o fenobarbital pode dificultar o desempenho cognitivo, devendo, então, ser usado com cautela. O fenobarbital tem atividade anticonvulsivante específica, distinta da atividade depressora inespecífica do SNC. 3. Ansiedade: Os barbitúricos têm sido usados como sedativos menores para o alívio da ansiedade, da tensão nervosa e da insônia. A maioria deles foi substituída pelos benzodiazepínicos. • Efeitos adversos 1. SNC: Os barbitúricos causam sonolência, dificuldade de concentração e desânimo; 2. Ressaca: Doses hipnóticas de barbitúricos produzem sensação de cansaço logo após o despertar. Essa "ressaca" farmacológica causa incapacidade de agir normalmente durante muitas horas após o despertar. Podem ocorrer náuseas e confusão; 3. Precauções: Como visto antes, os barbitúricos induzem o sistema P-450, reduzindo o efeito de fármacos que sejam metabolizados por essas enzimas hepáticas. Os barbitúricos aumentam a síntese de porfirinas, sendo contra-indicados em pacientes com porfiria intermitente aguda; 4. Dependência: A suspensão abrupta de barbitúricos pode causar tremores, ansiedade, fraqueza, inquietação, náuseas e vômitos, convulsões, delírio e parada cardíaca. A síndrome de abstinência de barbitúricos é muito mais grave do que a de opiáceos e pode ser fatal; 5. Intoxicação: Durante muitas décadas a intoxicação barbitúrica tem sido a primeira causa de morte por superdosagem farmacológica. A grave depressão respiratória associa-se com a depressão cardiovascular central, resultando em condição semelhante ao choque, com movimentos respiratórios superficiais e infreqüentes. O tratamento compreende respiração assistida e lavagem gástrica se o fármaco foi ingerido recentemente. Pode ser necessária hemodiálise se a quantidade ingerida tiver sido muito grande. A eliminação do fenobarbital é normalmente acelerada pela alcalinização da urina. SEDATIVOS NÃO-BARBITÚRICOS → Hidrato de cloral O hidrato de cloral é derivado triclorado do aldeído acético, que é convertido no organismo a tricloroetanol. O fármaco é eficazsedativo e hipnótico, induzindo o sono, que dura em torno de 6 horas, em cerca de 30 minutos. O hidrato de cloral é irritante do trato gastrintestinal, causando desconforto epigástrico. Também produz sensação de "gosto ruim" na boca. → Anti-histamínicos Anti-histamínicos de venda livre com propriedades sedativas, tais como a defenidramina e a doxilamina, são eficazes no tratamento de formas menores de insônia. Entretanto, estes fármacos não atuam a não ser na forma mais suave de insônia situacional. Além disso, apresentam numerosos efeitos adversos, o que os torna menos úteis do que os benzodiazepínicos. Os anti-histamínicos sedativos são comercializados na forma de vários produtos de venda livre (sem necessidade de prescrição). → Etanol O etanol tem efeitos ansiolíticos e sedativos, porém seu potencial tóxico sobrepuja os benefícios. É um depressor do SNC, produzindo sedação e então hipnose com o aumento da dose. A curva dose-resposta do etanol é suave, a sedação ocorrendo numa ampla faixa de doses. O álcool tem efeito sinérgico com muitos outros agentes sedativos e pode ocasionar grave depressão do SNC com anti-histamínicos ou barbitúricos. 1. Dissulfiram: O etanol é metabolizado primariamente no fígado, em primeiro lugar pela álcool-desidrogenase, dando origem ao acetaldeído, e depois pela aldeído-desidrogenase para originar acetato. O dissulfiram bloqueia a oxidação do acetaldeído a ácido acético, inibindo a aldeído-desidrogenase. O resultado é acúmulo de acetaldeído no sangue, provocando fogachos, taquicardia, hiperventilação e náuseas. O dissulfiram tem sido usado por pacientes seriamente desejosos de terminar com o vício da bebida. Induz-se, assim, resposta aversiva condicionada, de tal modo que o paciente abstém-se do álcool para evitar os desagradáveis efeitos do acúmulo de acetaldeído induzido pelo dissulfiram.
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