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564672676-Ebook-Direito-Previdenciario

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Prévia do material em texto

Coordenação: 
Alexandre Torres Petry 
Tiago Beck Kidricki 
 Luís Paulo Petersen Andreazza 
Ricardo Ferreira Breier 
 Rosângela Maria Herzer dos Santos 
 
 
 
 
 
Direito previdenciário: a nova previdência 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre, 
2021 
 
Copyright © 2021 by Ordem dos Advogados do Brasil 
Todos os direitos reservados 
 
Coordenação: 
Alexandre Torres Petry 
Tiago Beck Kidricki 
Luís Paulo Petersen Andreazza 
Ricardo Ferreira Breier 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10ª/1517 
 
 
 
A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos 
assinados, são de responsabilidade dos seus autores. 
 
 
Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul 
Rua Washington Luiz, 1110 –Centro Histórico 
 CEP 90010-460 - Porto Alegre/RS 
 
 
D635 
Direito previdenciário: a nova previdência/. Alexandre Torres Petry,Tiago 
Beck Kidricki...[et.al] (Coordenadores). Porto Alegre: OABRS. 2021. 
320p. 
ISBN: 978-65-88371-12-1 
1. Direito 2. Previdência I. Título 
CDU 34:368.4 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL 
DIRETORIA/GESTÃO 2019/2021 
 
Presidente: Felipe Santa Cruz 
Vice-Presidente: Luiz Viana Queiroz 
Secretário-Geral: José Alberto Simonetti 
Secretário-Geral Adjunto: Ary Raghiant Neto 
 Diretor Tesoureiro: José Augusto Araújo de Noronha 
 
ESCOLA NACIONAL DE ADVOCACIA – ENA 
 
Diretor-Geral: Ronnie Preuss Duarte 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL 
 
Presidente: Ricardo Ferreira Breier 
Vice-Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Secretária-Geral: Regina Adylles Endler Guimarães 
Secretária-Geral Adjunta: Fabiana Azevedo da Cunha Barth 
Tesoureiro: André Luis Sonntag 
 
ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA 
 
Diretora-Geral: Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Vice-Diretor: Darci Guimarães Ribeiro 
Diretora Administrativa-Financeira: Graziela Cardoso Vanin 
Diretora de Cursos Permanentes: Fernanda Corrêa Osório, Maria Cláudia Felten 
Diretor de Cursos Especiais: Ricardo Hermany 
Diretor de Cursos Não Presenciais: Eduardo Lemos Barbosa 
Diretora de Atividades Culturais: Cristiane da Costa Nery 
Diretor da Revista Eletrônica da ESA: Alexandre Torres Petry 
 
CONSELHO PEDAGÓGICO 
 
Alexandre Lima Wunderlich 
Paulo Antonio Caliendo Velloso da Silveira 
Jaqueline Mielke Silva 
Vera Maria Jacob de Fradera 
 
 
CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS 
 
Presidente: Pedro Zanette Alfonsin 
Vice-Presidente: Mariana Melara Reis 
Secretária-Geral: Neusa Maria Rolim Bastos 
Secretária-Geral Adjunta: Claridê Chitolina Taffarel 
Tesoureiro: Gustavo Juchem 
 
TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA 
 
Presidente: Cesar Souza 
Vice-Presidente: Gabriel Lopes Moreira 
 
CORREGEDORIA 
 
Corregedora: Maria Helena Camargo Dornelles 
Corregedores Adjuntos 
 Maria Ercília Hostyn Gralha, 
Josana Rosolen Rivoli, 
Regina Pereira Soares 
 
OABPrev 
 
Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Diretora Administrativa: Claudia Regina de Souza Bueno 
Diretor Financeiro: Ricardo Ehrensperger Ramos 
Diretor de Benefícios: Luiz Augusto Gonçalves de Gonçalves 
 
COOABCred-RS 
 
Presidente: Jorge Fernando Estevão Maciel 
Vice-Presidente: Márcia Isabel Heinen 
 
 
 
 
7 
 
SUMÁRIO 
 
PREFÁCIO - Tiago Beck Kidricki ...................................................................................... 10 
APRESENTAÇÃO- Luís Paulo Petersen Andreazza .......................................................... 12 
 O CONTROLE JUDICIAL DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 103/2019: UMA 
ANÁLISE A PARTIR DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL- 
Alberto Luiz Hanemann Bastos e Erick Kiyoshi Nakamura ....................................... 14 
O GÊNERO NEUTRO E O DIREITO PREVIDENCIÁRIO - Amanda Michelle Faria 
Araújo Mapa e Gisele Fernandes Machado .................................................................... 34 
O NÃO RECONHECIMENTO DE EFEITOS PREVIDENCIÁRIOS ÀS FAMÍLIAS 
SIMULTÂNEAS – CONCUBINATO E PENSÃO POR MORTE NO STF - Ana Cristina 
Alves de Paula, Daniel Damasio Borges e Thiago Giovani Romero ............................. 49 
A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DAS ENTIDADES BENEFICENTES DE ASSISTÊNCIA 
SOCIAL - Diana Samara Ervedosa Moraes ................................................................... 65 
TEMA 709 (STF): A CONTINUIDADE DO TRABALHO EM ATIVIDADE ESPECIAL 
APÓS APOSENTADORIA E SUA ADEQUAÇÃO CONSTITUCIONAL - Eduardo 
Vinhas Fagundes ................................................................................................................ 80 
IDADE MÍNIMA PARA CONTAGEM DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO NAS 
MODALIDADES DE APOSENTADORIA RURAL - Francieli da Silva Colombo e 
Luciane Bittencourt Fagundes ....................................................................................... 90 
O PROCESSO ADMINISTRATIVO PREVIDENCIÁRIO E A HERMENÊUTICA SOBRE 
A IDENTIDADE DE GÊNERO: AS ILEGALIDADES EM FACE DA DECISÃO DA ADI 
4275/DF - Heloísa Helena Silva Pancotti e Renato Bernardi . ..................................... 112 
O RECONHECIMENTO DA ATIVIDADE ESPECIAL DO TRABALHO DOS AGENTES 
SOCIOEDUCADORES DA FUNDAÇÃO DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO 
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL COMO REQUISITO PARA AQUISIÇÃO AO 
DIREITO DA APOSENTARIA ESPECIAL, NO CONTEXTO DA REFORMA DA 
PREVIDÊNCIA DE 2019 - Jair Silveira Cordeiro ....................................................... 127 
8 
 
PREVIDÊNCIA SOCIAL RURAL COMO POLÍTICA PÚBLICA: OMISSÃO POSITIVA 
DA EMENDA CONSTITUCIONAL N º 103/2019 EM RELAÇÃO AOS SEGURADOS 
ESPECIAIS - Laressa Bentes da Silva e Jefferson Carvalho Galvão......... ................. 147 
A RELEVÂNCIA DO RECONHECIMENTO DO CARÁTER ACIDENTÁRIO DO 
BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA POR INCAPACIDADE PERMANENTE APÓS A 
REFORMA DA PREVIDÊNCIA (EC 103/2019) - Luís Paulo Petersen Andreazza....... 
 ........................................................................................................................................... 166 
OS RISCOS INCERTOS DA UTILIZAÇÃO DOS NANOMATERIAIS 
MANUFATURADOS NO AMBIENTE LABORAL E A PROTEÇÃO 
PREVIDENCIÁRIA À SÁUDE DO TRABALHADOR- Mariana Petry ...................... 180 
PROCESSO ADMINISTRATIVO PREVIDENCIÁRIO: O PRÉVIO REQUERIMENTO 
ADMINISTRATIVO E INTERESSE EM AGIR COMO CONDIÇÃO PARA A 
PROPOSITURA DE AÇÃO JUDICIAL CONTRA O INSS. Pablo Rubens Herlinger dos 
Santos ................................................................................................................................ 194 
REFORMA DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO E SEUS IMPACTOS 
SOCIOECONÔMICOS NO PÓS PANDEMIA - Pedro José de Sousa Santos ............ 209 
LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO-TRABALHISTA: A RESPONSABILIDADE 
INDENIZATÓRIA EM FACE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA 
HUMANA - Ramiro Rodrigues Vargas ........................................................................ 222 
A (IN)OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO- Rosmeri de 
Almeida ............................................................................................................................. 245 
O ARTIGO 40 §, 4º, DA CF 88, SUAS ALTERAÇÕES POR MEIO DE EMENDAS 
CONSTITUCIONAIS E A APOSENTADORIA ESPECIAL DO SERVIDOR PÚBLICO - 
Rosmeri de Almeida ........................................................................................................ 258 
A CRIANÇA E O ADOLESCENTE SOB GUARDA NO ROL DE DEPENDENTES 
PREVIDENCIÁRIOS A PARTIR DO JULGAMENTO DAS ADIS 4878/DF E 5083/DF - 
Silvia Resmini Grantham ................................................................................................ 274 
9 
 
O ALCANCE DA PENSÃO DE MORTE DEVIDO A REFORMA DA PREVIDÊNCIA: 
UMA ABORDAGEM FRENTE A REDUÇÃO DA RENDA MENSAL DO BENEFÍCIO - 
Suelem da Costa Silva .....................................................................................................291 
O RISCO DE RETROCESSO SOCIAL NO USO DA AUTOCOMPOSIÇÃO NAS AÇÕES 
PREVIDENCIÁRIAS - Suelen Isabel Estevam da Silva .............................................. 305 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
PREFÁCIO 
 
É com alegria que recebemos o convite para prefaciar a presente coletânea de artigos 
desenvolvida por estudiosos do Direito Previdenciário, obra desenvolvida pela Escola 
Superior de Advocacia da OAB/RS, em parceria com a Comissão de Seguridade Social da 
OABRS e Grupo de Estudos de Direito Previdenciário da ESA/OABRS. Finalizando, assim, 
o triênio 2019-2021 da nossa ordem gaúcha, com mais uma parceria entre a ESA e CSS, 
união que marcou diversos cursos e eventos com grande adesão nesses três anos. 
Nesse contexto, é de ser feito um agradecimento e, mais do que isso, um 
reconhecimento aos nomes de Ricardo Breier, Presidente da OAB/RS, que tantas conquistas 
possibilitou para a Seguridade Social em sua gestão, e de Rosângela Herzer dos Santos, 
Diretora-Geral da ESA, por ter colocado o Direito Previdenciário como área de destaque da 
Escola Superior de Advocacia. No mais, importante destacar a participação dos colegas Luís 
Paulo Petersen Andreazza e Alexandre Torres Petry, que com seu esmero e 
comprometimento possibilitaram a edição deste livro, além de realizarem um trabalho 
primoroso nas suas funções vinculadas à ESA. 
A temática que propusemos, Nova Previdência, termo surgido a partir da EC 103/19, 
também possui, além da importância científica e teórica, estreita relação com a atividade da 
Comissão de Seguridade Social no último triênio. A CSS participou intensa e ativamente 
dos debates sobre o texto, tendo apresentado, através de parlamentares ou mesmo 
diretamente em encontros com os relatores na Câmara e Senado, modificações para corrigir 
distorções ou melhorar a sistemática previdenciária nacional, tendo obtido aceitação em 
diversos de seus pleitos. 
De outro lado, também foi promovido, pela OAB/RS, através da Comissão de 
Seguridade Social, dezenas de audiências públicas em 2019 para aproximar a população da 
realidade das modificações, bem como promover um debate democrático a respeito do tema. 
Aquele foi um momento de intensa atividade da nossa comissão, até então uma comissão 
especial, hoje elevada ao nível de comissão permanente dentro da OAB/RS. 
Portanto, a ordem gaúcha ajudou, no episódio da reforma, a moldar um pouco da 
história do Brasil. E, de outro lado, passados mais de dois anos das modificações, o país 
começa a adaptar-se às alterações trazidas, surgindo calorosos debates sobre vários pontos 
desse novo sistema de seguridade, muitos abordados nos artigos que apreciaremos na 
presente obra. 
A coletânea está deveras interessante há riqueza de conteúdo. Atrelado ao escopo 
geral de reflexão sobre as relações previdenciárias e assistenciais, a obra recorta faixas desse 
complexo ramo do direito para desenvolver os raciocínios específicos, possibilitando, assim, 
aprofundamento de conteúdos. 
Aproveitamos a oportunidade para também agradecer a todos os membros da 
Comissão de Seguridade Social pela confiança e pelo trabalho nesse triênio, bem como aos 
11 
 
colegas do Grupo de Estudos e todos os integrantes da nossa ESA/OABRS, por toda a 
parceria desenvolvida, coroada, nesse momento, com a presente obra. 
Convidamos, então, a uma profícua e prazerosa leitura! 
Tiago Beck Kidricki 
Presidente da Comissão de Seguridade Social da OAB/RS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
APRESENTAÇÃO 
 
A promulgação da Emenda Constitucional nº 103/2019 trouxe expressivas 
modificações na legislação previdenciária a partir da alteração do sistema de previdência 
social com o estabelecimento de regras de transição e com disposições transitórias. Nesse 
sentido, considerando que o direito deve acompanhar as mudanças sociais, a reforma da 
previdência gera debates, reflexões e estudos. 
 Diante do cenário de recentes alterações legislativas e de temas atuais, a Escola 
Superior de Advocacia (ESA), em conjunto com a Comissão Especial de Seguridade Social 
(CESS) da OAB/RS e o Grupo de Estudos de Direito Previdenciário da ESA-OAB/RS, 
organizou o presente E-book intitulado “Direito Previdenciário: a nova Previdência”, sob a 
coordenação de Alexandre Torres Petry, Diretor da Revista Eletrônica da ESA; Tiago Beck 
Kidricki, Presidente da Comissão de Seguridade Social (CSS) da OAB/RS; Luís Paulo 
Petersen Andreazza, moderador do Grupo de Estudos de Direito Previdenciário da ESA-
OAB/RS; Ricardo Ferreira Breier, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - 
Seccional do Rio Grande do Sul; e Rosângela Maria Herzer dos Santos, Diretora-Geral da 
Escola Superior de Advocacia (ESA). 
 A obra é composta por artigos que abordam temas atuais a partir de interpretações 
sobre o controle judicial da Emenda Constitucional nº 103/2019 à luz das posições 
externadas pelo Supremo Tribunal Federal; da análise da importância da Seguridade Social, 
especialmente no que se refere à Assistência Social e o papel das entidades beneficentes de 
assistência social que são contempladas com imunidade tributária; e da análise dos impactos 
socioeconômicos da reforma previdenciária pós pandemia. 
 A questão de gênero, uma pauta importante no direito previdenciário, também é 
objeto de artigos, inclusive, com uma abordagem sobre o processo administrativo 
previdenciário; as repercussões jurídicas do instituto do concubinato são dissertadas em 
relação ao benefício previdenciário de pensão por morte; assim como são apresentadas 
reflexões sobre a inclusão da criança e do adolescente sob guarda no rol de dependentes 
previdenciários. 
 A atividade especial, o ambiente de trabalho e o benefício de aposentadoria especial 
- inclusive o do servidor público - são temas tratados a partir da aplicação das normas 
constitucionais e dos entendimentos jurisprudenciais; além disso, os benefícios 
previdenciários por incapacidade foram objeto de análise em relação a relevância do 
reconhecimento do caráter acidentário após a reforma previdenciária; e também, o 
interpretações sobre o limbo jurídico previdenciário e trabalhista do segurado do Regime 
Geral de Previdência Social foi apresentado através de análise doutrinária e jurisprudencial. 
 Os segurados especiais e as regras para a concessão de benefício de aposentadoria 
contemplaram estudos sobre a idade mínima do tempo de contribuição para fins de 
aposentadoria rural e a comprovação do tempo de atividade rural, que permitem maior 
clareza e segurança jurídica para o segurado especial. 
13 
 
 Importantes temas que contemplam a obra também se referem ao processo 
administrativo, a partir de um estudo jurisprudencial e da identificação das situações em que 
há a necessidade do prévio requerimento administrativo em matéria previdenciária no 
Regime Geral de Previdência Social. E também do estudo da alteração da legislação 
previdenciária que estabeleceu uma nova base de cálculo para o benefício de pensão por 
morte, sob o fundamento de equilíbrio das contas da Previdência Social; bem como de 
interpretações sobre a autocomposição nas ações judiciais previdenciárias em relação ao 
risco de retrocesso social referente a efetiva proteção do direito do segurado. 
 A obra “Direito Previdenciário: a nova Previdência” permitirá aos seus leitores a 
realização de reflexões sobre diversos temas atuais do direito previdenciário e as suas 
implicações futuras, as quais são pertinentes à advocacia, a comunidade acadêmica e à 
sociedade. 
Boa leitura! 
 
Luís Paulo Petersen Andreazza 
Coordenador do grupo de estudos de Direito Previdenciário 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
O CONTROLE JUDICIAL DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 103/2019: 
UMA ANÁLISE A PARTIR DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO 
TRIBUNAL FEDERAL 
 
Alberto Luiz Hanemann Bastos (autor)1Erick Kiyoshi Nakamura (coautor) 2 
 
Resumo: O artigo disserta sobre o controle judicial da Emenda Constitucional no 103/2019, 
levando em consideração as posições externadas pelo Supremo Tribunal Federal no 
reconhecimento da inconstitucionalidade de disposições de Emendas Constitucionais, 
competência não prevista expressamente no texto constitucional. Apresenta como o Tribunal 
previu, por construção jurisprudencial feita desde 1991, a sua competência para promover o 
controle judicial de Emendas à Constituição quando vislumbrada violação de cláusulas 
pétreas. Mostra a extensão interpretativa que o Tribunal tem conferido ao artigo 60, § 4º, IV, 
da Constituição, traçando um panorama sobre a atuação do Tribunal no julgamento da 
Emenda Constitucional nº 20/98 na ADI nº 1.946-MC/DF. Por fim, aponta os motivos pelos 
quais o direito à Previdência Social é contemplado pela cláusula pétrea do inciso citado e, 
com base nessa premissa, indica prognósticos para um possível controle judicial da Emenda 
no 103/19, a partir da análise da (in)constitucionalidade da instituição de idade mínima para 
a aposentadoria especial. 
 
Palavras-chave: Emendas Constitucionais; Reforma Previdenciária; Emenda 
Constitucional no 103/19; cláusulas pétreas. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O impulso de preservação da vida humana está intimamente associado ao 
reconhecimento de seu caráter precário. De acordo com as consagradas meditações de Judith 
Butler, reconhecer que uma vida é digna de proteção significa admitir a existência de um 
corpo que necessita de recursos básicos para a sua sobrevivência, o que implica assumir o 
compromisso coletivo de prover-lhe as condições para a amenização das precariedades que 
o permeiam.3 
 
1 Mestrando em Direitos Humanos e Democracia pela Universidade Federal do Paraná. Pós-graduando em 
Processo Civil pelo Instituto Romeu Felipe Bacellar. Advogado inscrito na OAB/PR sob o no 103.161. E-mail: 
alberto.bastos.1997@gmail.com. 
2 Mestrando em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com bolsa CAPES/PROEX. 
Bacharel em Direito pela UFPR. Pesquisador do Núcleo de Investigações Constitucionais da UFPR. E-mail: 
erick.k.nakamura@gmail.com. 
3 “Afirmar que uma vida pode ser lesada, por exemplo, ou que pode ser perdida, destruída ou sistematicamente 
negligenciada até a morte é sublinhar não somente a finitude de uma vida (o fato de que a morte é certa), mas 
também sua precariedade (porque a vida requer que várias condições sociais e econômicas sejam atendidas 
para ser mantida como vida)” (BUTLER, 2018, p. 31). 
15 
 
Nesse contexto, certamente a Previdência Social figura como um elemento 
indispensável para a outorga das condições necessárias à atenuação da precariedade da vida 
humana. A par das especificidades de cada ordenamento jurídico, os diversos sistemas de 
Seguridade Social adotados ao redor do globo têm, em sua essência, o objetivo de resguardar 
a população dos riscos socialmente produzidos (MOORE, 2011, p. 7-8). Em razão da 
precarização do trabalho, das desigualdades sociais, do crescente índice de desemprego e de 
diversos outros fenômenos do mundo pós-moderno, inúmeras pessoas são arremessadas em 
cenários nos quais não ostentam condições para que as suas precariedades sejam amainadas 
de maneira autônoma.4 
Quando acometidos por uma moléstia, os trabalhadores e as trabalhadoras carecem 
da saúde necessária para galgar a sua remuneração mensal. Quando atingem a idade 
avançada, as pessoas não possuem o vigor físico necessário para perpetuarem o exercício da 
profissão. E, quando um dos membros mantenedores do núcleo familiar vem à óbito, os 
pares remanescentes não conseguem arcar com as suas despesas usuais. 
Em suma, os benefícios previdenciários são prestações pecuniárias que visam fazer 
frente aos riscos sociais que causam óbices para os indivíduos que trabalham ou auferem 
rendimentos de maneira autônoma (CASTRO; LAZZARI, 2020, p. 20). Desta forma, não há 
dúvidas de que os benefícios previdenciários consubstanciam prestações indispensáveis para 
o acesso ao mínimo existencial, eis que, sem eles, a integridade física e psicológica dos 
trabalhadores e das trabalhadoras é gradativamente consumida pelo risco social que os 
acomete. A fruição de uma vida digna é praticamente impossível sem a outorga da proteção 
previdenciária respectiva (SERAU JUNIOR, 2020, p. 192). 
No entanto, os influxos sociopolíticos do cenário brasileiro têm dado azo à 
promulgação de uma série de alterações legais e constitucionais de recorte neoliberal que, 
no intuito de instaurar uma cruzada contra o suposto “rombo da Previdência”, têm restringido 
e, por vezes, obstado completamente o acesso à Previdência Social (SERAU JUNIOR; 
PANCOTTI, 2020). 
Esse fenômeno pode ser claramente vislumbrado na promulgação da Emenda 
Constitucional no 103/19, eis que esta, valendo-se da narrativa de que se fazia necessária 
 
4 Essa constatação não está adstrita à realidade brasileira. A título exemplificativo, pode-se mencionar os 
escritos de Lawrence Thompson e Melinda Upp, os quais aquilatam que, “na medida em que os Estados Unidos 
passaram de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial, o suporte familiar intergeracional 
enfraqueceu. As profissões criadas nas cidades providenciaram novas oportunidades, mas também maiores 
riscos. O número de pessoas idosas indigentes cresceu rapidamente, excedendo, em muito, a capacidade das 
instâncias de caridade privadas” (THOMPSON; UPP, 1997, p. 3). 
16 
 
uma diminuição dos gastos suportados pelo INSS “para que o sistema não quebre”,5 
engendrou inúmeras modificações nas regras constitucionais atinentes à concessão de 
benefícios previdenciários. Todavia, o Congresso Nacional, na açodada intenção de 
restringir os gastos da Previdência Social, encartou inúmeras disposições de duvidosa 
constitucionalidade, conforme diuturnamente denunciado pela doutrina. 
Vê-se, então, um latente paradoxo. De um lado, os benefícios previdenciários se 
mostram essenciais para a consecução do mínimo-existencial, motivo pelo qual incorporam 
direitos fundamentais que devem ser implementados em sua máxima efetividade 
(CANOTILHO, 1993, p. 227). De outro, porém, visualiza-se um crescente desmantelamento 
das redes de proteção social através da promulgação de sucessivas reformas nas disposições 
constitucionais responsáveis por regulamentar a Previdência Social. 
Deste cenário, algumas incógnitas vêm a lume: o texto constitucional possibilita a 
revisão judicial de Emendas Constitucionais? Possui, em caso positivo, o Supremo Tribunal 
Federal legitimidade para, mediante o exercício do controle de constitucionalidade, minar a 
eficácia das Emendas Constitucionais que restringem ou impedem desmedidamente o acesso 
à benefícios previdenciários? Pode, desta forma, ser declarada a inconstitucionalidade de 
disposições da EC no 103/2019 que ferem o núcleo-duro do acesso à Previdência Social? 
Com o objetivo de fornecer algumas respostas a essas indagações, o presente artigo 
é dividido em quatro etapas. Na primeira delas, descreve de que modo o Supremo Tribunal 
Federal, por construção jurisprudencial feita desde 1991, previu a sua competência para 
promover o controle judicial de Emendas Constitucionais que infringem cláusulas pétreas. 
Na segunda, analisa a extensão interpretativa que a Corte tem conferido à expressão “direitos 
e garantias individuais”, inserta no artigo 60, § 4º, inciso IV, da Constituição, especialmente 
ao traçar um panorama sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal no julgamento da 
Emenda Constitucional nº 20/1998 na ADI nº 1.946-MC/DF. Na terceira, aponta possíveis 
prognósticos de controle judicial da Emenda Constitucional no 103/2019, a partir da análise 
da (in)constitucionalidade das modificações engendradas no instituto da aposentadoria 
especial. Por fim, apresenta as conclusões finais logradas ao longo do estudo. 
 
 
5 Faz-se alusãoao discurso emitido pela Presidência da República na data de 20 de fevereiro 2019, ocasião na 
qual o Chefe do Poder Executivo, após remeter o projeto de Reforma Previdenciária (PEC 6/2019) ao 
Congresso Nacional, declarou: “hoje iniciamos a criação de uma nova Previdência [...] é fundamental 
equilibrarmos as contas do país para que o sistema não quebre, como já aconteceu com alguns países e em 
alguns estados brasileiros” (https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/02/20/reforma-e-fundamental-para-
que-previdencia-nao-quebre-diz-bolsonaro-em-pronunciamento.ghtml. Acesso em: 18 jul. 2021). 
17 
 
2. O CONTROLE JUDICIAL DE EMENDAS CONSTITUCIONAIS: UMA 
CONSTRUÇÃO JURISPRUDENCIAL 
 
Dentre as competências do Supremo Tribunal Federal, insere-se, segundo o artigo 
102, inciso I, alínea a, da Constituição, o processamento e o julgamento da “ação direta de 
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual”. Vê-se que, pela 
literalidade do texto constitucional, não houve autorização constitucional expressa ao 
Supremo Tribunal Federal para promover a revisão judicial de Emendas Constitucionais, 
mas apenas de leis e de atos normativos federais e estaduais. 
Não obstante, parte da literatura defende a possibilidade de o Tribunal realizar esse 
controle de constitucionalidade por uma interpretação extensiva do artigo. Luís Roberto 
Barroso vê nele a possibilidade de controle de quaisquer “espécies normativas constantes do 
elenco do art. 59 do texto constitucional” (BARROSO, 2004, p. 129). Assim, a expressão 
“ato normativo” veiculada na alínea a do inciso I do artigo 102 da Constituição comportaria 
leitura abrangente, de modo a contemplar Emendas Constitucionais, leis complementares, 
ordinárias ou delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. 
Ainda, o controle judicial de Emendas Constitucionais é defendido por parte da 
doutrina em razão das limitações materiais que a Constituição prescreve para a sua reforma 
no artigo 60, § 4º, em especial aos direitos fundamentais. Nesse sentido, Oscar Vilhena 
Vieira defende a necessidade de que as normas violadoras de direitos fundamentais, mesmo 
quando incorporadas ao status de normas constitucionais, sejam consideradas inválidas, por 
serem essas cláusulas um “instrumento de limitação de qualquer maioria que se manifeste 
dentro do sistema político, por mais qualificada que seja” (VIEIRA, 2006, p. 49). 
A despeito das críticas doutrinárias tecidas ao controle judicial de Emendas 
Constitucionais,6 a própria Corte se diz competente para assim proceder. Após a 
promulgação da Constituição de 1988, essa hipótese foi aventada pela primeira vez na Ação 
Direta de Inconstitucionalidade nº 466/DF, de 1991 (STF, ADI 466/DF, j. 03/04/1991). A 
partir daí, o Tribunal construiu sua jurisprudência para afirmar a sua competência ao controle 
de constitucionalidade em face de Emendas Constitucionais. 
 
6 Para Conrado Hubner Mendes, por exemplo, esse modo de controle judicial pode levar a um possível 
paradoxismo, pois, nesse cenário, “para suplantar uma decisão do STF que discorde do reformador 
constitucional, somente uma ruptura ou uma convocação constituinte” (MENDES, 2008, p. 11). 
18 
 
Vários foram os fundamentos utilizados para esse desiderato, a começar pelo uso da 
teoria dos limites do poder reformador para sustentar a competência do Supremo Tribunal 
Federal para realizar o controle nas hipóteses de Emenda à Constituição.7 Nesse sentido, 
apregoou que o poder de reforma da Constituição, ao contrário do poder constituinte 
originário, não pode desrespeitar o núcleo de intangibilidade constante no artigo 60, § 4º, da 
Constituição e que, caso isso se proceda, é dever do Tribunal atuar para ceifar o vício. 
Outrossim, a Corte apoia a sua competência por se afirmar como o guardião da 
Constituição em decorrência de uma leitura do artigo 102, caput, e inciso I, alínea a, que 
alegadamente daria suporte à tese da supremacia judicial, a qual sobrepõe o Judiciário aos 
demais Poderes da República. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 830/DF, julgada 
em 14/04/1993, o Ministro Moreira Alves expressou tal pensamento ao afirmar que “na 
guarda da observância desta [da Constituição], está ele [Poder Judiciário] acima dos demais 
Poderes, não havendo, pois, que falar-se a esse respeito, em independência de Poderes” 
(STF, ADI 830/DF, j. 14/04/1993). 
Ainda, vê-se que o Supremo Tribunal Federal já se colocou como competente para 
promover a revisão judicial de Emendas Constitucionais não apenas nos casos de violação 
de cláusulas pétreas explícitas, mas também de cláusulas pétreas implícitas. 
A Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 830/DF se coloca de exemplo desse 
aspecto. Nela, o STF se pôs a analisar se a alteração da data do plebiscito previsto no artigo 
2º do ADCT, proposta pela Emenda Constitucional nº 2/1992, usurpou da competência do 
poder constituinte originário, ferindo cláusula pétrea implícita. Apesar de não ter acolhido 
tal tese, a posição majoritária do Tribunal assentou que 
 
[...] não há dúvida de que, em face do novo sistema constitucional é o STF 
competente para, em controle difuso ou concentrado, examinar a 
constitucionalidade, ou não, de emenda constitucional - no caso a nº 2, de 25 de 
agosto de 1992 - impugnada por violadora de cláusulas pétreas explícitas ou 
implícitas. (STF, ADI 830/DF, j. 14/04/1993) 
 
Portanto, vê-se que, no atual estado da arte, o Supremo Tribunal Federal, por 
construção jurisprudencial feita desde 1991, prevê a sua competência, no controle abstrato e 
no controle concreto, para promover o controle judicial de Emendas Constitucionais sempre 
 
7 Fizeram expressamente uso dessa teoria os seguintes julgados: STF, ADI 466/DF, j. 03/04/1991; STF, ADI 
830/DF, j. 14/04/1993; STF, ADI 926-MC/DF, j. 01/09/1993; STF, ADI 981-MC/PR, j. 17/12/1993; STF, ADI 
1.420-MC/DF, j. 17/05/1996; STF, 1.946/DF-MC, j. 29/04/1999; STF, ADI 1.946/DF, j. 03/04/2003; STF, 
ADI 3.105/DF, j. 18/08/2004; STF, ADI 3.128/DF, j. 18/08/2004 (Voto Min. Ellen Gracie); STF, ADI 2.356-
MC/DF, j. 25/11/2010; STF, ADI 2.362-MC/DF, j. 25/11/2010. 
19 
 
que houver violação de cláusulas pétreas, sejam elas explícitas ou implícitas ao texto 
constitucional. 
 
3. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS CONTEMPLADOS NA LEITURA DO 
ARTIGO 60, § 4º, IV, DA CONSTITUIÇÃO E A DECLARAÇÃO DE 
INCONSTITUCIONALIDADE DA APLICAÇÃO DA EMENDA 
CONSTITUCIONAL Nº 20/1998 À LICENÇA-GESTANTE 
 
Ao considerar possível o controle judicial de Emendas Constitucionais, as limitações 
materiais que a Constituição prescreve para a sua reforma no artigo 60, § 4º, tornam-se um 
elemento fundamental para a composição do raciocínio decisório empregado pela Corte. Isso 
porque, se compete ao Poder Judiciário aferir as hipóteses em que as normas de Emendas 
Constitucionais infringem cláusulas pétreas da Constituição, torna-se necessário, antes de 
mais nada, definir qual o conteúdo e a extensão das cláusulas pétreas instaladas pelo 
constituinte originário. 
Textualmente, as cláusulas pétreas dispostas nos quatro incisos do § 4º do artigo 60 
da Constituição são a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e 
periódico; a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais. Nada obstante, as 
leituras que o Tribunal conferiu à expressão do inciso IV, consistente nos “direitos e 
garantias individuais”, demonstram a indeterminabilidade do conteúdo jurídico contido na 
cláusula constitucional. 
Em primeiro lugar, ao verificar a constitucionalidade das Emendas Constitucionais, 
o Supremo expandiu, por diversas vezes, a noção contida no artigo 60, § 4º, IV, pela cláusula 
de abertura adotada no artigo 5º, § 2º da Constituição – esta, como cediço, conferiu natureza 
materialmente constitucional aos direitos e garantias implícitos na Constituição, bem como 
aos insculpidos nos tratados internacionais de direitos humanos dosquais o Brasil seja parte 
(PIOVESAN, 2016, p. 124). 
Essa leitura ampla desse inciso da Constituição pode ser claramente vislumbrada nos 
julgamentos da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 939-MC/DF (STF, ADI 939-MC, j. 
05/09/1993) e da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.685/DF (STF, ADI 3.685/DF, 
j. 22/03/2006), ocasiões em que, respectivamente, os princípios da “anterioridade tributária” 
e da “anterioridade eleitoral” foram qualificados como integrantes do grupo de direitos e 
garantias individuais que configuram limites materiais à atividade do legislador reformador. 
20 
 
Vislumbra-se, desta forma, que o Tribunal tem ido além da literalidade do artigo 60, 
§ 4º, inciso IV, da Constituição, para compreender que a expressão “direitos e garantias 
individuais” devem contemplar, na verdade, todos os direitos fundamentais e humanos. É o 
que se verifica no pensamento aventado pelo Ministro Carlos Velloso no julgamento da 
medida cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.497/DF, de acordo com o qual 
“os direitos e garantias individuais, referidos no art. 60, § 4º, IV, da Constituição, são, na 
verdade, direitos fundamentais, os denominados direitos humanos. Não são qualquer direito, 
portanto, mas direitos fundamentais, direitos humanos” (STF, ADI 1.497-MC/DF, j. 
09/10/1996). 
Apesar dessa constatação, não há entendimento unânime acerca de quais direitos 
estariam abarcados nessa cláusula pétrea, sendo possível verificar diferentes concepções nos 
votos dos Ministros e das Ministras do Supremo Tribunal Federal. 
No próprio julgamento da medida cautelar da ADI nº 1.497/DF, por exemplo, 
destacaram-se as posições dos Ministros Carlos Velloso e Sepúlveda Pertence. Para o 
Ministro Carlos Velloso, entende-se por “direitos e garantias individuais” os fundamentos, 
objetivos e princípios da República Federativa do Brasil, instaurados, respectivamente, nos 
artigos 1º, 3º e 4º da Constituição; assim como as chamadas têtes de chapitres, que consistem 
nos direitos inscritos no caput do artigo 5º; somados àqueles que, nos incisos desse 
dispositivo, constituem desdobramentos daqueles títulos (STF, ADI 1.497-MC, j. 
09/10/1996). Já para o Ministro Sepúlveda Pertence, não seria admissível que se 
estabelecessem critérios abstratos a priori para definição desse núcleo de “direitos e 
garantias individuais” (STF, ADI 1.497-MC, j. 09/10/1996). 
Nota-se, portanto, que pairam sucessivas controvérsias sobre a delimitação exata do 
alcance da expressão “direitos e garantias fundamentais”. Por se tratar de uma expressão 
aberta, dotada de um inevitável grau de equivocidade (GUASTINI, 2014, p. 62-71), é 
evidente que é passível de diferentes leituras. Alguns hermeneutas tendem a outorgar uma 
interpretação extensiva ao referido dispositivo, de modo a expandir os direitos englobados 
pelo artigo 60, § 4º, inciso IV, da Constituição; outros, ao seu turno, tendem a outorgar uma 
conotação mais restritiva ao dispositivo constitucional, inserindo nele tão somente as 
prerrogativas indispensáveis para o usufruto de uma vida digna.8 
 
8 Em certa medida, este é o debate travado pelos constitucionalistas a respeito da definição do suporte fático 
amplo ou restrito dos direitos fundamentais, conforme pode ser notado em: SILVA, 2010, p. 79-113. 
21 
 
Apesar disso, há um significativo consenso, tanto no âmbito jurisprudencial, quanto 
no âmbito doutrinário, de que os direitos fundamentais que compõem referida cláusula pétrea 
não se esgotam no rol de garantias inscrito no artigo 5º da Constituição, mas podem ser 
localizados em ambientes normativos diversos, porquanto a identificação dos direitos 
fundamentais é norteada por “um sistema aberto e flexível, receptivo a novos conteúdos e 
desenvolvimentos, integrado ao restante da ordem constitucional, além de sujeito aos 
influxos do mundo circundante” (SARLET, 2018, p. 187). 
Nessa linha hermenêutica, as garantias de cunho econômico e social, insertos no 
artigo 6º da Constituição, também são erigidas como direitos fundamentais de estatura 
idêntica àquela vislumbrada no rol do artigo 5º, razão pela qual estão sujeitas ao mesmo 
regime de aplicabilidade direta e imediata (SARLET; MARINONI; MITIDIERO, 2016, p. 
618-624). Vê-se, daí, que o constituinte determinou o cumprimento dos direitos sociais por 
meio de ações estatais de índole positiva, sem promover qualquer distinção entre os tipos de 
direitos fundamentais (civis, políticos, econômicos, sociais e culturais).9 
E o direito à Seguridade Social – subdividido nos campos da Saúde, da Previdência 
e da Assistência Social – é corolário dessas premissas, uma vez que se presta a viabilizar o 
acesso de todos ao “mínimo existencial”, isto é, às garantias indispensáveis para que os 
indivíduos tenham a possibilidade de definir os rumos da própria existência e integrar a vida 
comunitária (SARLET, 2001, p. 60). 
Ocorre que o Direito Previdenciário, em sua essência, está intimamente ligado à 
noção de risco social. Por mais acautelado que se comporte em sua vivência cotidiana, 
inevitavelmente o ser humano será acometido por algum fator de risco que o impedirá de 
lograr recursos para prover as necessidades próprias e a de seus dependentes, sejam eles a 
doença, a idade avançada, a morte de um ente familiar ou o desemprego (CASTRO; 
LAZZARI, 2020, p. 20). 
Quando acometidos por algum desses riscos sociais, a proteção da sua dignidade 
humana estará condicionada à prestação de amparo estatal que mitigue as suas 
vulnerabilidades financeiras e existenciais, vez que, sem isso, os prejuízos causados pela 
doença, pela idade avançada ou pelas demais contingências se tornarão irreversíveis. 
 
9 A propósito, a doutrina já enunciou, há muito, que não existe qualquer distinção no que diz respeito ao custo 
de manutenção desses diferentes plexos de direitos pelo Estado. Conforme a consagrada tese de Stephen 
Holmes e Cass Sunstein, todos os direitos possuem um custo, sejam eles afeitos à manutenção da liberdade, 
sejam eles ligados a garantias prestacionais. Para maiores informações: HOLMES; SUNSTEIN, 2019. 
22 
 
Basta cogitar que, em caso de acidente de trabalho repentino, cuja ocorrência culmina 
em invalidez, a sobrevivência do indivíduo está ligada à obtenção de uma renda paralela à 
remuneração oriunda do exercício da profissão. Do mesmo modo, quando um membro 
indispensável para a manutenção do núcleo familiar vem à óbito, as necessidades básicas 
dos integrantes e das integrantes remanescentes dependem da outorga de rendimentos 
capazes de suprir a ausência do de cujus. 
De situações desse jaez, despontam os benefícios previdenciários responsáveis pela 
manutenção das necessidades básicas dos indivíduos (SERAU JUNIOR, 2020, p. 22): a 
aposentadoria por invalidez ao trabalhador que é acometido por moléstia que o incapacita 
permanentemente para o exercício de suas atividades laborativas habituais (artigos 42 a 45 
da Lei nº 8.213/91); a aposentadoria por idade ao indivíduo que não ostenta mais vigor físico 
para continuar na profissão (artigos 48 a 51 da Lei nº 8.213/91); a pensão por morte aos 
dependentes do segurado que veio à óbito (artigos 74 a 78 da Lei nº 8.213/91). Sem o amparo 
da Previdência Social, o acesso ao mínimo-existencial resta completamente inviabilizado. 
Ao fim, conforme apontam José Antonio Savaris e Maria Amelia Flauzino 
Gonçalves, “é justamente a vulnerabilidade dos indivíduos em face dos riscos sociais que 
reclama a elaboração e a implementação de políticas públicas de segurança social”, pois 
essas “consubstanciam ações coordenadas de proteção dos indivíduos frente aos diferentes 
estados de necessidade, assegurando-lhes condições dignas de subsistência em meio a tais 
adversidades” (2018, p. 27). 
Os benefícios previdenciários são dotados de jusfundamentalidade material, 
consubstanciando-se em direitos subjetivos indispensáveis à tutela da dignidade da pessoa 
humana(SERAU JUNIOR, 2020, p. 190-191). Essa magnitude dos direitos da Previdência 
Social denota a sua íntima vinculação com os desígnios subjacentes à cláusula pétrea 
referente aos direitos fundamentais, pois, se se tratam de prerrogativas elementares para o 
usufruto de uma vida digna, é pouco mais que evidente que o sistema constitucional deve 
assegurar a sua perpetuação (CORREIA, 2004, p. 310-313). 
Por isso, as garantias ligadas à Previdência Social estão blindadas de alterações via 
Emenda Constitucional que desnaturem o seu desiderato de proteção da dignidade humana 
(SERAU JUNIOR, 2020, p. 58-59). É isso, pois, que se prestam a proteger os direitos e 
garantias contemplados no núcleo de intangibilidade constitucional. 
Referido entrelaçamento dos direitos sociais às cláusulas pétreas da Constituição já 
foi objeto de análise pelo Supremo Tribunal Federal, no bojo das discussões referentes ao 
23 
 
controle judicial de Emendas Constitucionais. Tem-se, como exemplo, a Ação Direta de 
Inconstitucionalidade nº 1.496/DF, cuja medida cautelar foi referendada em 29/04/1999 e, 
posteriormente, confirmada na data de 03/04/2003 (STF, ADI 1.946-MC/DF, j. 29/04/1999; 
STF, ADI 1.946/DF, j. 16/05/2003). 
No referido julgamento, o Tribunal discutia a constitucionalidade do artigo 14 da 
Emenda Constitucional no 20/1998, responsável por limitar o valor pecuniário dos benefícios 
previdenciários no importe máximo de R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) mensais. O 
dispositivo, em sua redação originária, veiculava a seguinte redação: 
 
Art. 14. O limite máximo para o valor dos benefícios do regime geral da 
previdência social de que trata o art. 201 da Constituição Federal é fixado em R$ 
1.200 (um mil e duzentos reais), devendo, a partir da data da publicação desta 
Emenda, ser reajustado de forma a preservar, em caráter permanente, seu valor 
real, atualizado perante os mesmo índices aplicados aos benefícios do regime geral 
da previdência social. 
 
O Partido Socialista Brasileiro (PSB), proponente da ação, requereu a suspensão da 
Emenda Constitucional nº 20/1998 em sede de medida cautelar. Levada à discussão, a 
controvérsia sobre a norma versou sobre a inconstitucionalidade que essa disposição causaria 
nos benefícios de salário-maternidade. 
A licença-gestante, que enseja a concessão dos benefícios de salário-maternidade, 
consoante os artigos 71 e 71-A da Lei nº 8.213/91, trata-se de uma prestação pecuniária 
ofertada pelo Estado às seguradas da Previdência Social que venham a exercitar a 
maternidade, seja pela concepção biológica, seja pela adoção. 
Uma vez submetida à condição de gestante ou obtida a guarda judicial de adoção, é 
admitido que a segurada aufira renda substitutiva do salário durante o período de 28 (vinte e 
oito) dias antes de assumir a condição efetiva de mãe, até o período de 120 (cento e vinte) 
dias após essa data. A finalidade desse benefício é a de possibilitar o afastamento temporário 
daquela que virá a ser mãe de sua atividade laborativa habitual, para que sejam criados laços 
socioafetivos com o filho. Além disso, o benefício possui um viés de proteção dos direitos 
do nascituro e/ou da criança adotada para assegurar o seu direito à convivência familiar no 
período inicial de formação da sua personalidade, em observância aos desígnios do art. 227, 
caput, da Constituição. 
Como reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da medida cautelar 
na ADI nº 1.496/DF, há intrínseca relação do salário-maternidade com o comando insculpido 
no artigo 7º, XVIII, da Constituição, segundo o qual se reconhece a “licença à gestante, sem 
prejuízo do emprego ou do salário” (STF, ADI 1.946-MC/DF, j. 29/04/1999). 
24 
 
Cotejando-se as disposições do salário-maternidade com o artigo 7º, XVIII, da 
Constituição, é possível inferir que o amparo estatal da maternidade não se restringe somente 
à mera concessão do benefício; mas engloba o fato de que, nesse período de construção de 
laços familiares, o salário auferido pela gestante ou adotante deve se manter equivalente 
àquele percebido durante o exercício regular de sua função. 
Nesse sentido, no julgamento da medida cautelar na referida ação, o Tribunal emitiu 
a seguinte interpretação sobre o artigo 14 da Emenda Constitucional no 20/1998: 
 
[...] se se entender que a Previdência Social, doravante, responderá apenas por R$ 
1.200,00 (hum mil e duzentos reais) por mês, durante a licença da gestante, e que 
o empregador responderá, sozinho, pelo restante, ficará sobremaneira, facilitada e 
estimulada a opção deste pelo trabalhador masculino ao invés da mulher 
trabalhadora. [...] 
Estará, ainda, conclamando o empregador a oferecer à mulher trabalhadora, 
quaisquer que sejam suas aptidões, salário nunca superior a R$ 1.200,00, para não 
ter que responder pela diferença. (STF, ADI 1.946/DF, j. 29/04/1999) 
 
Assim, o Tribunal conferiu interpretação conforme à Constituição ao artigo 14 da 
Emenda Constitucional no 20/1998, com eficácia ex tunc, para afastar o limite máximo de 
R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) à licença gestante. Nos termos da decisão exarada pelo 
pretório excelso, a mãe “continuará percebendo o salário que lhe vinha sendo pago pelo 
empregador, que responderá também pelo ‘quantum’ excedente a R$ 1.200,00, por mês, e o 
recuperará da Previdência Social, na conformidade da legislação vigente” (STF, ADI 
1.946/DF, j. 29/04/1999). 
Ao assim decidir, a Corte Constitucional se apoiou no fundamento de que a restrição 
do acobertamento previdenciário da maternidade acarreta violação aos direitos fundamentais 
que integram – pela visão ampla, mas indeterminada – da cláusula pétrea disposta no artigo 
60, § 4º, IV, da Constituição. 
Essa posição se aproxima com a das doutrinas de Direito Previdenciário, as quais 
enunciam que os benefícios ligados à Seguridade Social substanciam cláusulas pétreas cujos 
núcleos não poderiam ser objeto de Emenda Constitucional, inclusive em virtude da 
incidência do “princípio da vedação do retrocesso social” (SERAU JUNIOR, 2020, p. 59). 
Aproxima-se, mas não se acolhe às inteiras, porquanto o Supremo Tribunal Federal também 
tem chancelado inúmeros posicionamentos de restrição aos direitos dos segurados e das 
seguradas da Previdência Social, não raramente se valendo de argumentos de índole 
econômica e consequencialista para denegar a concessão de benefícios – a título ilustrativo, 
pode-se mencionar o recente julgamento do RE nº 1.221.446/RJ, cujo teor restringiu a 
25 
 
extensão do adicional de 25% (vinte e cinco por cento) previsto no artigo 45 da Lei nº 
8.213/91 a todas as modalidades de aposentadoria (STF, RE 1.221.446/SP, j. 21/06/2021).10 
Por isso, faz-se necessário analisar criticamente se pontos sensíveis da Emenda 
Constitucional no 103/2019 serão consideradas como violadoras dos direitos fundamentais 
sociais pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de controle de constitucionalidade. 
 
4. PROGNÓSTICOS ACERCA DA INCONSTITUCIONALIDADE DA EMENDA 
CONSTITUCIONAL Nº 103/2019: O REPRESENTATIVO EXEMPLO DA 
INSTITUIÇÃO DE IDADE MÍNIMA PARA A APOSENTADORIA ESPECIAL 
 
Em que pese a jusfundamentalidade do direito à Previdência Social, o Poder 
Legislativo, com base nas gramáticas da “reserva do possível” e na necessidade de contenção 
do suposto “rombo da Previdência”, intenta constantemente restringir as redes de proteção 
social propiciadas pelo INSS (PANCOTTI, 2020, p. 37-45). 
A EC no 103/2019 não alterou esse fluxo. De fato, o mote das mudanças engendradas 
no sistema constitucional de Previdência Social foi o de restringir, ao máximo, os benefícios 
pelo INSS, a fim de mitigar os gastos suportados pela autarquia. Nesse contexto, o equilíbrio 
atuarial dos cofres previdenciários assumiu latente protagonismo, ao passo que a dignidade 
dos trabalhadores e demais filiados ao sistema foram relegados ao segundo plano. 
Em face desse quadro de ampla restrição de direitos,cumpre ao Supremo Tribunal 
Federal, no exercício de suas incumbências de resguardo dos direitos e garantias 
componentes de cláusula pétrea, analisar criticamente as disposições emanadas pela 
Reforma Previdenciária e, quando provocado a tanto, anular as normas do legislador 
derivado que infringem o núcleo-duro das garantias ligadas à Previdência Social. 
Nessa dinâmica, a análise da (in)constitucionalidade das alterações promovidas no 
sistema constitucional previdenciário se dá com esteio no teste da proporcionalidade, o qual 
denota que devem ser tidas por constitucionais as restrições a direitos fundamentais que 
respeitem o seu conteúdo essencial (SILVA, 2010, p. 206). 
O teste da proporcionalidade se faz necessário porque certamente algumas 
adaptações na estrutura da Previdência Social tendem a ser necessárias por conta dos 
 
10 A temática foi tratada com profundidade na doutrina de José Antonio Savaris, o qual descreveu a tendência 
dos Tribunais de utilizar os princípios da precedência do custeio e do equilíbrio atuarial como uma espécie de 
“trunfo” para a denegação massiva de benefícios previdenciários. Trata-se do que o autor criativamente 
alcunhou de “argumento alakazam”. Para maiores informações: SAVARIS, 2011. 
26 
 
influxos socioeconômicos. Por exemplo, o aumento da idade mínima para aposentação tende 
a ser uma mutação aprovada pelo teste da proporcionalidade, na medida em que a majoração 
da expectativa de vida da população torna justificável restrições desse jaez no direito 
fundamental à Previdência Social. Porém, outras restrições, se demasiadamente severas, 
podem infringir o conteúdo essencial do direito fundamental à Previdência Social, 
desnaturando as regras e os princípios a ele imanentes, sem aderência aos influxos 
socioeconômicos brasileiros e às motivações constitucionalmente fundamentadas.11 
Por isso, a análise da Reforma Previdenciária pressupõe o tracejo de uma espécie de 
linha demarcatória entre as modificações que sobrevivem ao teste da proporcionalidade e 
as alterações que tendem a “subverter o sistema de Seguridade Social inaugurado em 1988, 
introduzindo mudanças radicais que o desnaturem, sobretudo afastando-o de sua raiz calcada 
no sistema de solidariedade social” (SERAU JUNIOR, 2020, p. 59). 
Com fulcro nessas premissas, inúmeros dispositivos da EC nº 103/19 devem ter a sua 
constitucionalidade discutida pelo Tribunal, por extrapolarem os limites impostos pelo art. 
60, § 4º, inciso IV, da Constituição. Dentre eles, um prognóstico de inconstitucionalidade da 
Reforma Previdenciária pode ser localizado nas novas regras referentes à aposentadoria 
especial, sobretudo na instituição de uma idade mínima para a concessão do benefício. 
Em sua essência, a aposentadoria especial se trata da jubilação precoce destinada aos 
indivíduos que, durante a sua carreira profissional, trabalharam expostos a agentes nocivos 
de natureza química, física ou biológica (CASTRO; LAZZARI, 2020, p. 594-595). A 
doutrina costuma apontar que o objetivo desse benefício é o de compensar os trabalhadores 
pela gradativa perda de sua capacidade laborativa (IBRAHIM, 2015, p. 594-595), causada 
pela exposição habitual a agentes nocivos ao longo da profissão, e, ao mesmo tempo, evitar 
que os agentes nocivos presentes no ambiente de trabalho acarretem prejuízos maiores a sua 
saúde em momento futuro (LADETHIN, 2020, p. 34-35). 
Em suma, a aposentadoria especial se presta a retirar antecipadamente o segurado do 
exercício de sua profissão, mediante exigência de requisitos mais brandos do que aqueles 
vislumbrados nas aposentações ordinárias. 
Fundada nesses aportes, o regime anterior à promulgação da Emenda Constitucional 
nº 103/2019 ditava que a concessão da aposentadoria especial pressupunha tão somente o 
 
11 Neste particular, toma-se como base as meditações de Virgílio Afonso da Silva, segundo o qual as restrições 
a direitos fundamentais, além de não violarem os seus respectivos conteúdos essenciais, devem ser 
constitucionalmente fundamentadas. Para maiores informações: SILVA, 2010, p. 167-182. 
27 
 
preenchimento de um período de 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos de 
contribuição pelo trabalhador, a depender da natureza dos agentes nocivos aos quais estava 
exposto. Tal circunstância denotava o intuito protetivo do instituto, já que a aposentadoria 
por tempo de contribuição “comum” exigia o preenchimento de 35 (trinta e cinco) anos de 
contribuição para homens e de 30 (trinta) anos de contribuição para as mulheres. Nos termos 
do artigo 57, caput, da Lei nº 8.213/91, portanto, a concessão da aposentadoria especial 
dependia tão somente da demonstração do tempo contributivo disciplinado na legislação 
previdenciária, não havendo qualquer exigência de idade mínima para aposentação. 
No entanto, com a promulgação da Reforma Previdenciária, uma nova exigência foi 
acoplada à aposentadoria especial. É que, a partir da vigência da Emenda Constitucional nº 
103/2019, além do tempo de contribuição estatuído em lei, a concessão da aposentadoria 
especial também passou a depender do preenchimento de uma idade mínima. 
De acordo com o artigo 19, § 1º, inciso I, da Emenda, a obtenção da aposentadoria 
especial depende da cumulação dos quesitos da idade e do tempo de contribuição, de modo 
que o benefício somente poderá ser concedido quando o segurado ostentar: (i) 55 (cinquenta 
e cinco) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 15 (quinze) anos de 
contribuição; (ii) 58 (cinquenta e oito) anos de idade, quando se tratar de atividade especial 
de 20 (vinte) anos de contribuição; ou (iii) 60 (sessenta) anos de idade, quando se tratar de 
atividade especial de 25 (vinte e cinco) anos de contribuição.12 
A instituição de idade mínima para aposentadoria especial se trata de uma disposição 
passível de controle de constitucionalidade, a despeito de ter sido veiculada por uma Emenda 
à Constituição. Isso porque tal medida, além de desconfigurar o escopo protetivo da 
aposentadoria especial (PANCOTTI, 2020, p. 44), fere uma série de outros direitos e 
garantias fundamentais contempladas em cláusula pétrea, a exemplo do direito à vida (art. 
5º, caput, da Constituição) e da redução dos riscos inerentes ao trabalho (art. 7º, inciso XXII, 
da Constituição). 
Como exposto, a jubilação precoce outrora propiciada pela aposentadoria especial 
visava a evitar a perpetuação da exposição do trabalhador aos agentes nocivos presentes em 
seu ambiente de trabalho, uma vez que a continuidade do exercício da profissão 
potencializaria os danos à sua integridade física. Nesse contexto, o patamar de 15 (quinze), 
 
12 Uma comparação bastante didática entre a atual regulamentação da aposentadoria especial frente ao advento 
da Emenda Constitucional nº 103/2019 em relação ao seu antigo regime pode ser localizada em: KERTZMAN, 
2020, p. 135-146. 
28 
 
20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos de tempo contributivo servia como um parâmetro de 
demarcação técnico-científica, o qual, quando extrapolado, indicaria a inserção do 
trabalhador em uma situação de risco intolerável à saúde. Conforme observa a doutrina 
previdenciária: 
 
A aposentadoria especial quando traça um limitador de tempo de exposição a 
agentes agressivos não o faz livremente. Do ponto de vista epidemiológico e até 
estatístico ao ultrapassar o limitador temporal de exposição aos agentes agressivos 
à saúde (15, 20 ou 25 anos), há uma invasão no âmbito da garantia à saúde e à vida 
do trabalhador. A limitação temporal tem caráter evidentemente protetivo. 
(VICTÓRIO, 2020, p. 152) 
 
O telos subjacente à aposentadoria especial é a de que os trabalhadores que se expõem 
a agentes nocivos durante a execução de seu ofício não podem permanecer na profissão por 
um período superior a 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, pois, se assim o 
fizerem, submeter-se-ão a uma grave situação de risco à integridadefísica.13 
No entanto, a Reforma Previdenciária não somente admite a existência de situações 
em que trabalhadores extrapolam o limite temporal de tolerância a exposição a agentes 
nocivos, como também os obriga a fazê-lo em idade avançada. É que os anos de exposição 
a agentes nocivos físicos, químicos ou biológicos e o limitador temporal consignado na 
legislação previdenciária se tornam desimportantes para a aposentação, pois a jubilação 
somente poderá ocorrer após os segurados atingirem a idade mínima de 55 (cinquenta e 
cinco), 58 (cinquenta e oito) ou 60 (sessenta) anos. 
Não é difícil conjecturar situações em que os trabalhadores serão compelidos a 
arriscar a própria vida em razão dessa nova dinâmica da aposentadoria especial. Basta trazer 
a lume o exemplo dos indivíduos que trabalham em minas subterrâneas, cuja expectativa de 
vida, em vista dos poluentes que permeiam as jazidas subterrâneas e do intenso risco do 
surgimento de neoplasias, beira os 50 (cinquenta) anos de idade.14 É lícito assumir que a 
Reforma Previdenciária esquadrinha um cenário normativo que favorece a possibilidade de 
que tais trabalhadores venham à óbito antes de galgarem a aposentadoria. 
Decerto, referidas exigências esvaziam o conteúdo essencial do direito fundamental 
à Previdência Social, não superando o teste de proporcionalidade necessário para que a 
 
13 De modo similar, André Luiz Soares indica que “os danos à saúde e/ou à integridade dos segurados que 
laboram em atividade prejudiciais não estão condicionados à idade, mas sim ao período que ficam expostos 
aos agentes nocivos, de modo que, ao extrapolar o tempo de exposição de 15, 20 e 25 anos, eleva-se 
consideravelmente a níveis inaceitáveis o risco de prejuízo à saúde ou à integridade física do trabalhador” 
(SOARES, 2021, p. 94-95). 
14 Para uma análise minuciosa dos riscos enfrentados pelos mineiros brasileiros: VERÍSSIMO; RAPHAEL; 
MEYER, 2013. 
29 
 
restrição fosse constitucionalmente fundamentada. Tem-se, portanto, que a instituição de 
idade mínima para a aposentadoria especial não se qualifica como uma restrição legítima de 
direito fundamental, mas sim uma efetiva violação ao seu conteúdo essencial (SILVA, 2010, 
p. 181). 
Esse diagnóstico denota que o artigo 19, § 1º, inciso I, da Emenda Constitucional nº 
103/2019 poderia ter a sua vigência legitimamente extirpada pelo Supremo Tribunal Federal, 
mediante o exercício de controle de constitucionalidade – de modo semelhante ao ocorrido 
no julgamento da ADI no 1.946/DF. 
Evidentemente, a alusão à exigência de idade mínima para a aposentadoria especial 
possui teor meramente exemplificativo, eis que inúmeras outras disposições da Reforma 
Previdenciária poderiam ser alvo da revisão judicial. De toda a sorte, a aferição da violação 
à cláusula pétrea insculpida no art. 60, § 4º, inciso IV, da Constituição, lida conforme a 
abertura dada por decisões anteriores do Tribunal, pressupõe o manejo do teste de 
proporcionalidade para se distinguir se há uma restrição legítima do direito fundamental à 
Previdência Social ou, alternativamente, um esvaziamento de seu conteúdo essencial. 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O presente artigo abordou os limites e as possibilidades de um possível controle 
judicial da Emenda Constitucional no 103/2019 (Reforma Previdenciária), mediante 
avaliação da interpretação que o Supremo Tribunal Federal tem outorgado em relação ao 
controle de constitucionalidade de Emendas Constitucionais e, mais especificamente, à 
interpretação dada ao artigo 60, § 4º, inciso IV, da Constituição. 
Demonstrou-se que o Tribunal, durante o regime constitucional posterior à 
promulgação da Constituição de 1988 e a despeito da ausência de autorização constitucional 
expressa, perfez uma construção jurisprudencial da tese de que se trataria de instância 
competente para efetuar o controle de Emendas Constitucionais que infringissem as 
cláusulas pétreas. Ainda, que a Corte tem conferido uma interpretação extensiva à expressão 
“direitos e garantias individuais” insculpida no inciso IV do § 4º do artigo 60 da 
Constituição, de modo a admitir que ela contempla uma variada gama de direitos 
fundamentais espraiados no texto constitucional. 
A partir de uma análise do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade no 
1.946/DF, diagnosticou-se que os direitos ligados à Previdência Social também estão 
30 
 
integrados na cláusula pétrea acima citada, eis que constituem pressupostos indispensáveis 
à proteção da dignidade humana. Por isso, concluiu-se que as medidas da Emenda 
Constitucional nº 103/19 que não superem o teste de proporcionalidade e, por conseguinte, 
que esvaziem o conteúdo essencial do direito fundamental à Previdência Social podem ser 
desafiadas em controle judicial de constitucionalidade. 
Revelar as incompatibilidades da EC nº 103/19 com os desígnios do texto 
constitucional significa, ao fim e ao cabo, recuperar as necessidades de amenização da 
precariedade à qual Butler fazia alusão. Se a Previdência Social é quesito indispensável para 
a atenuação do caráter precário da existência humana, é essencial que o Direito forneça 
mecanismos para que o acesso aos recursos essenciais de uma vida digna seja preservado. 
 
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Peluso, Tribunal Pleno, julgado em: 18/08/2004, DJ: 18/02/2005. 
 
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34 
 
O GÊNERO NEUTRO E O DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
 
Amanda Michelle Faria Araújo Mapa1 
Gisele Fernandes Machado2 
 
RESUMO: A questão de gênero é uma pauta de difícil enfrentamento. Entraves políticos, 
jurídicos e da própria sociedade, desde sempre constituem obstáculos que fizeram com que 
tão somente em 2011 o STF reconhecesse a união entre pessoas do mesmo gênero como 
família e só posteriormente o STJ reconhecesse o direito de casais homoafetivos 
consagrarem sua união afetivo-sexual pelo casamento civil. O não reconhecimento de status 
jurídico familiar, às uniões que fogem a lógica heterossexual, é oriunda de uma lógica binária 
excludente, que relega a uma situação de marginalidade a todos os sujeitos que não se 
enquadram nas normativas, heterossexual e cisgêneros. Essa marginalidade construída 
socialmente, é transportada para o âmbito do direito previdenciário, que ao reproduzir essa 
lógica binária, se transforma em um mecanismo opressor e potencializador das 
vulnerabilidades. Entretanto, com uma abordagem contra hegemônica, o TJRJ e 
posteriormente o TJSC em recentes decisões reconheceram o direito de se autodeclarar como 
portador de um gênero neutro/ não binário. O presente ensaio, tomando como marco teórico 
os conceitos de abjeção cunhados por Judith Butler, possui como objetivo analisar as 
repercussões das supracitadas decisões, levantando-se como hipótese o papel contra 
majoritário desempenhado pelos Tribunais e a capacidade da seara previdenciária de 
acompanhar a evolução jurisprudencial e societária nesse sentido. A relevância do ensaio, 
justifica-se pelo teor revolucionário da decisão, que ao reconhecer a possibilidade de auto 
declaração do gênero neutro, poderá contribuir para a mitigação de diversas situações 
desconformes à Constituição. O caminho metodológico percorrerá a análise das decisões e 
de doutrinas correlatas ao tema. 
 
Palavras chaves: Gênero neutro. Lógica binária. Abjeção. Direito previdenciário. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A questão de gênero é, de longa data, uma pauta de difícil enfrentamento no Brasil. 
Entraves políticos, jurídicos e da própria sociedade, desde sempre constituem obstáculos que 
fizeram com que tão somente em 2011 o Supremo Tribunal Federal através do julgamento 
da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4277 reconhecesse a união duradoura, pública e 
contínua entre pessoas do mesmo gênero como família e só posteriormente o Superior 
Tribunal de Justiça por meio do julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito 
 
1 Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto. Pós-graduada em Advocacia Previdenciária 
e em Direito Público. Bacharel em Direito. Advogada, OAB/MG 122.758, e-mail: amandamfa@gmail.com. 
2 Mestranda em Direito pelo PPGD-UFOP “Novos direitos e novos sujeitos”. Bolsista CAPES. Bacharel em 
Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto, OAB/MG 198.942, e-mail: giselemachado1995@gmail.com 
35 
 
Fundamental nº 132 reconhecesse o direito de casais homoafetivos consagrarem sua união 
afetivo-sexual pelo casamento civil, independente de prévia união estável. 
 Conforme aduz Paulo Iotti Vecchiatti (2020), o não-reconhecimento do status 
jurídico-familiar das uniões homoafetivas implicava em inconteste violência simbólica de 
efeitos materiais indiscutíveis, pela discriminação jurídica que perpetra e por pretender 
impor um totalitário padrão heteronormativo compulsório. 
 Padrão este baseado em uma lógicabinária excludente, onde verificam-se duas 
únicas opções: homem e mulher. Estes são os coerentes, tudo o que estiver fora disso é 
considerado anormal, incompleto, incoerente e deveria ser objeto de controle e de exclusão. 
Nesse sentido, Judith Butler (2001, p. 61) assevera que a lógica binária conduz a uma 
redução das singularidades, pois, a vida do indivíduo passa a ser regida por uma moldura, 
que reproduz um padrão de sexualidade, relegando os indivíduos que não se encaixam no 
padrão, à abjeção e a exclusão. 
Sob a ótica binária foi construída toda a conjuntura societária que vemos hoje, desde 
a distinção na primeira infância entre cores que devem ser utilizadas apenas por meninas e 
seus brinquedos que fazem conexões com atividades domésticas e cores que devem ser 
utilizadas por meninos e seus brinquedos voltados para atividades aventureiras, até a 
separação entre banheiros femininos e masculinos. Poderíamos citar uma infinidade de 
situações incorporadas à vida cotidiana de tal forma que passam imperceptíveis e se tornam 
inquestionáveis, mas que corroboram com o sistema de opressão àqueles que não se 
encaixam nos padrões impostos. 
Baseada na concepção biológica imutável do sexo, o aparato institucional desde o 
nascimento e até a velhice, faz a distinção entre os gêneros feminino e masculino. Isto 
porque, ao nascer o registro cartorário já impõe a designação do gênero e com o avançar da 
idade, o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), distingue para fins de concessão dos 
seus benefícios previdenciários homens e mulheres, já que alguns benefícios seriam 
exclusivos delas, a título exemplificativo citamos o artigo 71 da Lei nº 8.213/1991 que 
restringe o benefício do salário-maternidade apenas às seguradas pertencentes ao gênero 
feminino. 
Ocorre que o Poder Judiciário brasileiro, em recentíssima e revolucionária decisão, 
reconheceu o direito da pessoa de declarar formalmente que seu gênero é neutro. Um dos 
principais fundamentos adotados é de que a Constituição Federal de 1988 tem como pilar 
fundamental o princípio da dignidade da pessoa humana e ainda, as garantias de liberdade 
36 
 
de expressão e de autodeterminação. Assim é que, o Poder Judiciário atuou freando a 
discriminação das minorias e garantindo à todos o exercício pleno de uma vida digna. 
Logo, o registro de gênero neutro, é muito mais que uma forma de resistência, de não 
aceitação ao padrão binário, é permitir às pessoas serem o que elas são, é tirar o véu da 
invisibilidade daqueles que não se adequam nem ao gênero feminino, nem ao masculino, é 
reconhecê-los e permitirem serem o que sentem, o que são. Às vezes o óbvio deve ser dito e 
julgado: as pessoas têm direito à autodeterminação de gênero. 
Nessa toada, o presente ensaio possui como principal escopo analisar se as 
instituições supramencionadas, estão aptas a acolher os novos sujeitos que se auto 
determinam como pertencentes ao gênero neutro, bem como, garantir-lhes acesso a todos os 
direitos, livres de qualquer espécie de preconceito, opressão e discriminação. 
Adota-se como recorte específico o ramo do Direito Previdenciário, que é a seara que 
tem demonstrado historicamente maior maleabilidade e maior possibilidade de adequação à 
complexidade de projetos de vida. 
O objetivo deste ensaio consiste em contribuir para o fornecimento de uma visão 
crítica sobre as normativas binárias de gênero e seus reflexos no direito previdenciário. 
 A metodologia adotada, segundo Miracy Gustin (2015, p. 25) pertence à vertente 
jurídico-crítica que pressupõe a construção de uma teoria crítica da realidade, buscando 
conceder uma perspectiva crítica e analítica acerca dos reflexos do gênero neutro no Direito 
Previdenciário. O caminho metodológico percorrerá a análise de dispositivos pertencentes à 
Lei n.º 8.213/91, a Constituição Federal de 1988 e a julgados que viabilizaram a auto 
declaração do gênero neutro no âmbito do Direito Previdenciário, buscando-se ao final 
conceder uma visão crítica sobre estas. 
O ensaio está subdividido em quatro tópicos. O primeiro, visa demonstrar a formação 
e as repercussões da lógica binária e heternormativa de gênero, a partir do desenvolvimento 
dos conceitos de abjeção e de performatividade em Judith Butler, marco teórico da presente 
pesquisa. O segundo tópico possui como escopo o estudo da heteronormatividade e seus 
reflexos no direito previdenciário. Por fim, buscar-se-á conceituar o gênero neutro e suas 
implicações no Direito Previdenciário, tendo como pano de fundo a análise dos julgados. 
Em linhas conclusivas, aponta-se para a assertiva dos julgados que viabilizaram a 
auto declaração como pertencente ao gênero neutro no âmbito do direito previdenciário e 
sua adequação aos princípios e normas fundamentais constitucionais. 
37 
 
1. A LÓGICA BINÁRIA À LUZ DE JUDITH BUTLER 
 
Judith Butler (2017) compreende a sexualidade no contexto dos processos de 
produção da sujeição e de construção dos seres considerados inteligíveis ou ininteligíveis 
do ponto de vista do corpo, do sexo e do gênero, enquanto nos permite pensar as diversas 
formas de políticas de subjetivação que se enfrentam contra os efeitos perversos desta 
subdivisão. 
Através de sua teoria sobre a performatividade de gênero, Judith Butler (2017) 
mostrou que os corpos apresentam uma classificação por meio de performances 
socialmente reguladas por ideais normativos e estes marcos regulatórios contribuem para o 
surgimento da distinção entre os corpos inteligíveis e ininteligíveis. 
Para Judith Butler (2017, p. 17) a teoria da performatividade, é oriunda de um 
gênero que se constrói, através da reprodução de certos atos corporais tidos como 
naturalizados. Entretanto, os corpos tidos como “normais” devem operar sob o crivo da 
“consolidação do imperativo heterossexual.” (BUTLER, 1993, p.2). Gêneros inteligíveis, 
portanto, são aqueles nos quais se instituem e se mantêm relações de coerência, 
estabilidade e continuidade “entre sexo, gênero, prática sexual e desejo.” (BUTLER, 1990, 
p. 17). 
Neste contexto, os corpos tidos como “normais” são os corpos enquadrados na 
lógica binária e heterossexual de gênero, no qual, os sujeitos se identificam com as 
caracteristicas de um corpo biológico feminino ou masculino e sentem atração sexual pelo 
gênero oposto. Noutro modo, os corpos tidos como ininteligíveis e “abjetos”, são formados 
pelos sujeitos que estão à margem da cisnormatividade e da heteronormatividade e por 
não se enquadrarem à regra devem ser excluídos. 
Seguindo-se essa norma heterocisnormativa, as normas infraconstitucionais e em 
específico as normas atinentes ao direito previdenciário, foram construídas para serem 
aplicadas a sujeitos pertencentes aos padrões, entretanto, tal lógica é excludente, 
discriminatória e veda a capacidade de autodeterminação dos sujeito, e nos conduz ao 
questionamento sobre a possibilidade de “ser” fora dos padrões. 
Neste ínterim, o gênero neutro, no qual o sujeito não se sente pertencente à lógica 
binária dos marcadores masculino e feminino, surge como um ato de resistência, bem 
como, de enfrentamento das ordens que estipulam a normalização das condutas em 
detrimento de outras. 
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As instituições políticas tentam obstar o reconhecimento de novos sujeitos e o 
surgimento de qualquer pensamento crítico que vise expandir o poder dos sujeitos de 
insurgir-se contra dos padrões naturalizados como normais. Todavia, o Poder Judiciário 
ao decidir pelo reconhecimento do gênero neutro, assumiu uma postura contra hegemônica 
e atento aos preceitos constitucionais. 
No contexto do presente ensaio, o ato de se autodeterminar como pertencente ao 
gênero neutro, demonstra a uma prática de rompimento aos padrões binários, que 
subdividem os sujeitos entre os gêneros femininos e masculino. Ser neutro é um ato de 
resistência à heteronormatividade dominante, representa a ruptura com tais normativas,

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