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Palicourea marcgravii E a importância da "erva de rato" na Veterinária Ana Claudia Reis, Ana Luisa Silveira, Dayara Silva, Mariana de Paiva e Thais Cristina A atividade pecuária é um importante segmento da economia brasileira. Ela serve de renda para produtores de diferentes níveis tecnológicos. Conhecendo um pouco mais Caracteríticas da Palicourea marcgravii NOMES POPULARES "Cafezinho", "Erva de rato", "Café bravo", "Erva café", "vick". Faz parte da família Rubiaceae. PORTE Porte alto, podendo chegar a 3m de altura, com folhas variando de 5 a 10cm de comprimento. COLORAÇÃO As flores possuem coloração que varia do vermelho ao alaranjado. CAULE E FOLHAS Caule lenhoso com ganhos em formato cilíndrico que se quebram facilmente e são lisos. Suas folhas possuem formato de lança e são de cor verde escuro. Quando quebras exalam cheiro parecido ao Bálsamo bengué. Degradação das pastagens Esgotamento de forrageiras interessantes e infestação por plantas daninhas. A grande maioria das pastagens brasileiras apresentam algum estado de degradação, o que, por causa do esgotamento da forrageira de interesse, permite a infestação por plantas daninhas. Elas concorrem com as forrageiras em termos de luz, água, nutrientes e espaço físico. Dentre essas plantas, têm-se aquelas que, além do inconveniente dentro do ambiente, podem causar distúrbios aos animais, que são as plantas tóxicas invasoras de pastagens. Quando ingeridas, sob condições naturais, causam danos à saúde ou mesmo a morte. Algumas vezes é possível ver erro no registro de morte de rebanhos bovinos, sendo atribuídos a picadas de serpentes e doenças, quando a real causa da morte foi a ingestão de plantas tóxicas. Distribuição da Palicourea marcgravii É encontrada na maioria das regiões, com exceção da região Sul do Brasil. Se desenvolve bem em áreas com bom regime de chuvas. Prefere áreas de meia sombra, próximas a matas, capoeiras, mas também pode se desenvolver bem em pastagens abertas com alta exposição ao sol. Mortes por "erva do rato" na região Amazônica. Até a década de 1990, esta era a planta tóxica de maior prevalência na Região Centro-Oeste e ainda representa fonte significativa de intoxicação de animais em Goiás, Mato Grosso e no Distrito Federal 80% Distribuição da Palicourea marcgravii É responsável por 80% das mortes de bovinos causadas por plantas tóxicas Mecanismo de ação Monofluoroacético Seu efeito tóxico aos animais se dá devido à presença desse ácido. Ele está presente em todas as partes da planta, porém, a maior parte se encontra nas folhas e sementes. O ácido Monofluoracético é sintetizado no início do desenvolvimento da planta, e se dilui com o amadurecimento das partes vegetativas, pois suas concentrações nas folhas jovens são 5 vezes maiores do que nas maduras. Uma vez ingerido, este ácido bloqueia os processos de armazenamento de energia e respiração celular. A ingestão de 1g/kg de peso vivo é capaz de provocar a morte do animal em até 2h após o consumo. Espécies suscetíveis Bovinos Os bovinos são os mais suscetíveis à intoxicação quando comparado com os bubalinos. Relatos de casos em: Ovinos; Caprinos; Coelhos. Os ruminantes são os animais mais suscetíveis. Sintomas de intoxicação É muito difícil observar sintomas nos animais, uma vez que a morte ocorre muito rapidamente após o animal ter ingerido a planta. A morte ocorre ainda mais rapidamente quando o animal é submetido a exercícios. Foram observados animais com respiração ofegante, desequilíbrio dos membros posteriores, respiração acelerada, queda do animal, tremores musculares, realização de movimentos de pedalagem e mugidos. Uma vez o animal intoxicado, o tratamento não é efetivo devido à rápida evolução dos sintomas. Portanto, até o momento, não há antídoto para as intoxicações de “Cafézinho”. O principal fator para consumo deste tipo de planta tóxica é a escassez de forrageiras e alta palatabilidade. Tratamento Devido ao fato de provocar uma intoxicação aguda, não possui um tratamento que seja efetivo para evitar a morte do animal; portanto, a melhor maneira de se evitar a intoxicação é pela erradicação das plantas nas pastagens, principalmente em novas formações, onde o surgimento do "cafézinho" é mais provável, e mantendo os animais longe das margens de matas, onde esta erva também é bastante frequente. Assim, é a planta tóxica de maior distribuição no Brasil e responsável pela morte de animais em rebanhos criados a parto. Deve-se ter bastante atenção à presença destas plantas e realizar o controle por meio do arranquio ou com o uso de herbicidas antes da entrada dos aniamis para pastejo. A roçagem por si só não é suficiente, pois pode ocorrer a rebrota da planta. Como evitar a intoxicação dos animais Práticas de Manejo Observar se irá surgir em pastos recém formados e caso ocorra, transferir os animais para outro pasto. Práticas racionais de pastejo, de conservação de pastagem e o uso suplementar de forragem durante o período seco podem ser estratégias úteis para evitar a intoxicação. Controle Mecânico Recomenda-se arrancar, com enxadão, as plantas de cafezinho encontradas no pasto, de preferência antes do florescimento. O material deve ser recolhido, transportado para um local onde os animais não tenham acesso e queimado em seguida. Controle Químico Até o presente, não existem herbicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle de cafezinho. Caso Clínico História Dezembro de 2010 foi realizada uma visita a um sistema extensivo de criação de bovinos de corte com área total de 500 hectares, no município de Campos Lindos, Tocantins. Proprietário e funcionários relataram o histórico. O problema de "morte súbita" se intensificou no segundo semestre de 2010 com a morte de 80 bovinos e 2011 com a morte de 68 animais. Nestes anos ocorreram incêndios nos pastos da fazenda. A maioria foram encontrados mortos no campo sem sinais clínicos prévios, enquanto outros apresentaram tremores musculares, relutância em caminhar, jugulares ingurgitadas e pulso venoso positivo. Durante a visita, na área onde os animais se encontravam foi observado grande quantidade de Palicourea marcgravii e algumas com sinais de consumo. Caso Clínico Exame Clínico Foi realizado o exame clínico em dois bovinos, fêmeas, de aproximadamente 450kg e com bom estado nutricional. Os principais sinais clínicos observados foram relutância em caminhar, queda, jugular ingurgitada, pulso venoso positivo e prova de estase venosa positiva. O bovino 1 morreu 5 minutos após a queda ao solo e apresentou movimentos de pedalagem, taquicardia, FC 180 bpm com arritmia, dificuldade respiratória, FR 54 mpm, mugidos e mortes. O bovino 2 apresentou leve melhora, no entanto morreu dois dias depois. Caso Clínico Diagnóstico O diagnóstico de intoxicação por Palicourea marcgravii nos bovinos se baseou nos achados epidemiológicos, sinais clínicos e alterações patológicas encontradas. As mortes dos bovinos ocorreram de forma esporádica, e se intensificaram nos anos de 2010 e 2011 logo após ter ocorrido queimada nos pastos da fazenda. Essas plantas crescem mais rápido que outras fontes de verde. Deve-se realizar o diagnóstico diferencial em relação a outras plantas que causam "morte súbita", o que não será difícil, já que há poucas áreas onde ocorrem, simultaneamente, Palicourea marcgravii e outra planta do grupo das plantas que causam “morte súbita” e a mesma foi encontrada na fazenda com sinais de consumo. Portanto, os resultados desse trabalho comprovam que as mortes ocorridas na propriedade localizada no município de Campos Lindos, Tocantins, foram causadas pela ingestão de Palicourea marcgravii. Referências SANT’ANA, F. J. F. de; REIS JÚNIOR, J. L.; FREITAS NETO, A. P.; MOREIRA JR., C. A.; VULCANI, V. A. S.; RABELO, R. E.; TERRA,Ciência Rural, Santa Maria, v. 44, n. 5, p. 865-871, mai. 2014. SCHONS, S. V.; LOPES, T. V.; MELO, T. L. de; LIMA, J. P.; RIET-CORREA, F. Site www.embrapa.br/BARROS, M. Â. de B.; SCHILD, A. L. P. Intoxicações por plantas Ciência Rural, Santa Maria, v. 42, n. 7, p.
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