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Território e Circulação Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Vivian Fiori Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos Formas de Transporte Terrestre • O Transporte no Brasil e no Mundo • As Políticas de Transportes no Brasil • Siglas das Empresas Concessionárias • A Malha Ferroviária no Brasil • A Malha Rodoviária no Brasil • O Transporte Dutoviário no Brasil · Apresentar as características do transporte terrestre – ferroviário, rodoviário e dutoviário no Brasil; · Analisar as políticas de transporte no Brasil. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta unidade, discutiremos as formas de transporte terrestre, dando ênfase ao transporte de mercadorias por rodovias, ferrovias e pelo siste- ma dutoviário. Para atingirmos nossos objetivos, saliento a importância da leitura porme- norizada dos textos da disciplina, assim como empenho na realização das atividades propostas para esta unidade. Bons estudos! ORIENTAÇÕES Formas de Transporte Terrestre UNIDADE Formas de Transporte Terrestre Contextualização Leia atentamente o texto a seguir: O momento atual da periodização do sistema ferroviário brasileiro, iniciado em 1996, teve como evento principal a concessão a empresas privadas das malhas ferroviárias, antes pertencentes à Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e à Ferrovia Paulista (FEPASA). A desestatização teve como desdobramentos a “desregulação”, que significou a eliminação total ou parcial de regras restritivas ao mercado e às atividades econômicas, e a “privatização”, termo genérico empregado para designar a transferência de empresas de propriedade do Estado e atividades por ele exercidas para o setor privado. É o início, então, de uma nova regulação. O processo de privatização no Brasil não foi realizado de forma espontânea e independente pelos governos. A obediência ao Consenso de Washington resume um conjunto de práticas impostas pelas instituições financeiras internacionais aos países periféricos. Além disso, os programas de desestatização abriram novos mercados a empresas transnacionais de serviços e aos grandes bancos. Para o estudo do espaço geográfico, o fato talvez mais significativo do processo de privatização é que o ordenamento e uso do território, com relação às infra-estruturas de transporte, passam a ser definidos, em grande parte, pelo setor privado, com todas as suas implicações, como o uso seletivo dos sistemas de engenharia, a busca pela competitividade a qualquer custo e a produção e o agravamento das desigualdades sociais e espaciais. O objetivo da privatização foi dar início a um processo de ruptura de estruturas anteriores para que o sistema ferroviário fosse “revalorizado” e passasse a atender às novas realidades do momento atual e das empresas. Fonte: Trecho literal extraído de VENCOVSKY Vitor Pires; CASTILLO, Ricardo. Sistema ferroviário pós-privatização e fluidez corporativa: o movimento de produtos agrícolas no território brasileiro. GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 21, 2007, p. 122. Os autores apresentam a visão sobre um período recente do Brasil com as políticas de privatização do sistema de infraestruturas do território brasileiro. Leia o material teórico da disciplina a partir do qual irá aprofundar seus conhecimentos sobre políticas de transporte no Brasil. Nesta unidade, vamos tratar do transporte terrestre no Brasil, mas também va- mos compará-los a outros modais de transportes no território brasileiro e no mundo. 6 7 O Transporte no Brasil e no Mundo As características dos modais do transporte no Brasil e no mundo variam bastante conforme as condições naturais, as situações de desenvolvimento de infraestrutura e as opções políticas de transporte adotadas pelos países, além de variarem ao longo da história, considerando-se os avanços tecnológicos aos quais os transportes foram sendo submetidos. No período colonialista, a opção pelo modal aquaviário, tanto marítimo quanto fluvial, se fazia pela maior facilidade de transportar pessoas e produtos por estes transportes já que dependem mais da natureza e das possibilidades de ter ou não vias navegáveis. No final do século XIX e início do século XX, tanto nas ex-colônias americanas como nas novas colônias na África e Ásia, os empreendedores e colonizadores europeus buscaram implementar, em algumas de suas colônias, infraestrutura de transporte baseada no transporte terrestre de ferrovias para explorarem os minerais e demais produções destes países, cujos produtos iam diretamente aos portos para serem exportados. A Inglaterra foi o principal país que incentivou tal construção, tendo realizado muito dos projetos desenvolvidos em vários países, incluindo-se aí algumas ferrovias no Brasil. Ferrovias-Porto na África Grande parte da rede ferroviária africana foi construída pelos europeus, ao longo do século XX, com vistas a permitir o transporte de tropas como forma de garantir a assimilação política das populações locais e também para impedir a expansão colonial das outras potências europeias sobre suas respectivas áreas de infl uência. No contexto das independências foi um bem público estratégico das lideranças africanas ao propiciar uma maior integração nacional. Conforme dados da década de 1990, a África dispõe de 93.000 km de rede ferroviária, o equivalente a uma fraca densidade de 2,8 km de vias férreas para 1.000 km² (contra 60 na Europa). Em termos de distribuição espacial, boa parte da rede está concentrada na África do Norte e Austral e dispõe de menos cobertura na África Central e Ocidental. Como exemplo das assimetrias, mencionam-se a inexistência da rede em dezessete países não litorâneos e a concentração de um quarto de toda a rede ferroviária continental na África do Sul (SADC, 2012). Problemas do legado colonial ainda persistem. A maior parte dos caminhos de ferro africanos são constituídos de linhas isoladas únicas – entre o interior e as áreas costeiras – uma vez que foram construídos para a exploração de recursos. Além disso, a adoção de diferentes padrões, procedimentos operacionais e carris ferroviários múltiplos também difi cultam uma maior integração da rede. [...] possível perceber que o traçado das linhas férreas africanas foi concebido para ligar uma zona produtora de recursos naturais e agrícolas a um porto marítimo. Essa característica confere o caráter de extraversão das economias africanas, voltadas para exportação. Fonte: Trecho literal extraído de: PENHA, Eli Alves. Geopolítica e logística de transportes na África Subsaariana. Revista Tensões Mundiais/World Tensions (online), v.7, n.13, 2011, p. 266. Fonte: https://goo.gl/ICUfDo Ex pl or 7 UNIDADE Formas de Transporte Terrestre Quando se compara o modal de transporte no Brasil, com outros países de grandes dimensões territoriais, verifica-se que houve a definição político-territorial no Brasil pelo transporte rodoviário, o que mostra uma contradição em relação à lógica de custo-benefício para o transporte de mercadorias e também a inoperância para transportar pessoas nas grandes cidades, já que o transporte de massa – ferroviário e metroviário seria o mais adequado para transportar passageiros. Com o processo de globalização cada vez mais acentuado o transporte multi- modal ganha força, num cenário no qual a maioria das mercadorias circula pelo transporte marítimo e, na parte terrestre, as ferrovias e rodovias servem para trans- portar inúmeros produtos – sobretudo os das commodities agrícolas e minerais, assim como diversos produtos por contêineres. A seguir, vamos delinear algumas características das políticas de transportes mais recentes no Brasil. As Políticas de Transportes no Brasil O processo de modernização acelerada da infraestrutura de transportes, no Brasil, passou pela priorização do modal rodoviário, por conta de sua maior facilidade de implantação, além da pressão da crescente indústria automobilística mundial por novos mercados. Isso ocasionou, ao longo do tempo, começandoa partir da metade do século XX, uma alta concentração do transporte de cargas e passageiros no modal rodoviário, já que as rodovias dominam o tráfego de passageiros e de mercadorias no Brasil. Concomitantemente, a falta de investimento em outros modais, como portos e ferrovias, levou a um sucateamento da estrutura de transporte do país, fato que se destacou mais notoriamente a partir da década de 1980. O chamado “Custo Brasil”, relacionado ao quanto se gasta para produzir uma determinada quantidade de bens, reflete esta perda de competitividade do setor produtivo. Há um componente fundamental relacionado ao custo do frete rodoviário, que gera deseconomias de escala, levando as empresas a buscarem formas de reduzir seus custos de produção. Estes custos são agravados pela crise do chamado “Estado Desenvolvimentista”, que dominou o cenário nos governos Vargas e Juscelino Kubitschek e, mais recentemente, durante os governos da Ditadura Militar. A capacidade do Estado de prover ações estruturantes levou a um questionamento da capacidade deste de arcar com a infraestrutura de transporte no país. A partir da década de 1990, iniciou-se um processo de desmonte deste modelo estatal, para outro de moldes neoliberais. A liberalização da economia, no governo Collor (1990-1992), marcou um período de quebras de empresas, falências, aquisições por companhias estrangeiras, e também por uma entrada maciça de empresas estrangeiras, aumentando a competitividade interna. 8 9 Criou-se uma Política Nacional de Desestatização, que visava privatizar empresas administradoras de bens e serviços vinculados, entre outros setores, também ao setor de transportes. Entre estas medidas consideradas neoliberais, encontra-se a Lei de Modernização dos Portos, de 1993, bem como as estatizações de grandes malhas ferroviárias, como a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e a Ferrovias Paulistas S.A. (FEPASA). O fato é que as ferrovias nunca se constituíram numa rede nacional, sobretudo por conta do tamanho das diferentes bitolas. Bitolas: Uma característica importante da linha férrea é a bitola que tem como defi nição a distância entre os trilhos de uma ferrovia. No Brasil, existem 3 tipos de bitola: larga (1,60m), métrica (1,00m) e a mista. Destaca-se que grande parte da malha ferroviária do Brasil está concentrada nas regiões sul e sudeste com predominância para o transporte de cargas. Fonte: MME, Disponível em: http://goo.gl/Y98S1w Ex pl or Ocorreu um rearranjo das figuras políticas e institucionais ligadas ao setor de transporte. Ao mesmo tempo, as empresas já instaladas, e também as novas, passaram a utilizar-se de novas estratégias para definir sua localização no território. No período anterior, da acumulação fordista, era privilegiada a formação de parques industriais, em que grandes indústrias formavam aglomerados com pequenas e médias outras que eram suas fornecedoras. Agora, neste novo estágio, a busca por vantagens locacionais, associada à otimização da utilização das estruturas de transporte dentro dos arranjos produtivos, permitiu a relocalização das unidades industriais de forma mais flexível, ajustada às questões relacionadas ao custo e benefício de se produzir em um determinado lugar. Isso propiciou, entre outras coisas, uma competição entre os lugares para atrair estes investimentos. Estados e municípios passaram a oferecer vantagens àqueles que se interessasse em investir em seus territórios, por meio de benesses, como a distribuição de terrenos, a suspensão ou isenção da cobrança de impostos e taxas, ocasionando o que Santos e Silveira (2001) chamam de “guerra de lugares”. O cenário político e institucional criou as condições para a incorporação, dentro da matriz de transporte brasileira, de diversos conceitos técnico- logísticos já implementados em outras partes do mundo. A noção de intermodalidade torna-se relevante, trazendo a possibilidade de utilização do melhor modal de acordo com a necessidade premente das empresas. Os custos são reduzidos em escala, por meio de uma racionalização dos fluxos, orientados de acordo com as demandas de produção – circulação – consumo das mercadorias. Essa racionalidade nova permite otimizar a utilização da infraestrutura existente, prolongando sua vida útil, isto num contexto no qual o Estado brasileiro havia reduzido a sua capacidade de investimento, o que impedia a construção de novas obras como rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. 9 UNIDADE Formas de Transporte Terrestre Cabe lembrar que a crise da dívida externa, na década de 1980, efetivamente levou a um sucateamento das malhas rodoviária e ferroviária, por falta de investimento em manutenção e modernização. Segundo Barat (2011), o cenário dos anos 1990 em relação aos transportes no Brasil era: • Deterioração das infraestruturas e desmoronamento do Estado Desenvolvi- mentista dos governos JK e dos governos militares, crise fiscal e pouca capa- cidade de investimentos; • Em 1995, a Lei Federal de n. 8.987/95 abre a iniciativa privada a concessão de serviços públicos; • A Lei n. 9.277/96 delegou a exploração de rodovias federais, para alguns estados, num processo de descentralização; • Houve algumas mudanças normativas que permitiram consórcios privados ou parceria público-privada para investimentos, concessões e exploração dos meios de transporte. Conforme mostra o mapa (fig.1), as ferrovias na região centro-sul do Brasil são principalmente das concessões para diversas empresas. Figura 1 – Rede Ferrovia do Centro-Sul do Brasil Fonte: ANTT, 2016 10 11 Siglas das Empresas Concessionárias • ALLMN - América Latina Logística Malha Norte S.A.; • ALLMO - América Latina Logística Malha Oeste S.A.; • ALLMP - América Latina Logística Malha Paulista S.A.; • ALLMS - América Latina Logística Malha Sul S.A.; • EFC - Estrada de Ferro Carajás - VALE S.A.; • EFVM - Estrada de Ferro Vitória a Minas - VALE S.A.; • FCA - Ferrovia Centro Atlântica S.A.; • FNS - Ferrovia Norte Sul - VALEC S.A.; • FERROESTE - Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A.; • FTC - Ferrovia Tereza Cristina S.A.; • FTL S/A – Ferrovia Transnordestina Logística S.A.; • MRS Logística S.A. A questão sobre as concessões é polêmica: de um lado, há aqueles que apoiam tais concessões dizendo que esta política neoliberal é benéfica ao país, pois ajuda a desenvolver a infraestrutura e torna-se suporte para os meios de transportes e, outros, que afirmam que tais concessões só interessam aos grandes atores hegemônicos e não favorecem o uso da maior parte da população e mesmo os pequenos empreendedores. A pesquisadora Mirlei Pereira (2009) corrobora esta concepção de que tais inovações nos meios de transporte servem apenas a alguns, diz ela: A crescente modernização dos sistemas de transporte nas últimas décadas é voltada em particular às atividades muito específicas da produção realizada pelos macroatores da economia, enquanto que as formas menos capitalizadas de trabalho são muito dependentes de técnicas e sistemas de transporte de idade técnica anterior, no mais das vezes considerados obsoletos, “atrasados”. Em última análise, podemos concluir que a natureza dos sistemas de transporte no período atual aparece, especialmente nos países pobres, ainda muito ligada às demandas de um trabalho voltado sobretudo à economia e ação hegemônicas. No entanto, quando tomamos o espaço geográfico em sua totalidade (que por essência é o espaço de todos), novos usos e novas territorialidades emergem tanto do emprego das novas e modernas redes de transporte, como também da criatividade e das necessidades daqueles que dispõem de poucos recursos para percorrê-lo (PEREIRA, 2009, p. 124) 11 UNIDADE Formas de Transporte Terrestre Cabe lembrar que sem o arcabouço das normas e leis não seriam possíveis tais mudanças do ponto de vista das infraestruturas. Por isso, não podemos separar nunca a dimensão econômica da política para compreendermos o espaço geográfico. Muitas vezes, osdiscursos que lemos ou ouvimos na mídia apoiando parcerias público-privadas dão a impressão que tais infraestruturas serão usadas por boa parte da população e pelos seus diversos segmentos sociais, mas, em geral, trata-se de um uso corporativo realizado pelas grandes empresas, sobretudo do agronegócio e das empresas de mineração, ou seja, das commodities agrominerais. Então, cabe indagar: alguma empresa vai se interessar apoiar, financiar, ou fazer a gestão de um modal de transporte que não seja lucrativo? E os que não são lucrativos não devem existir? Como explica a autora: Um terceiro exemplo pode ser tomado no caso das chamadas Parcerias Público-Privado, em que agentes econômicos planejam e instalam novas infraestruturas, com o respaldo do direito de exploração, tornando facilitados os fluxos hegemônicos das exportações, permitindo um avanço do uso corporativo do território. Grande parte das novas redes de infra- estrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, etc.), tanto as que se encontram em implantação quanto as que constam dos planos plurianuais de investimentos da União e dos governos estaduais, estão sendo realizadas a partir de parcerias entre o capital público e o privado, ou seja, orientadas por um planejamento muito mais comprometido em atender às demandas da produção estratégica do que os interesses da sociedade como um todo. (PEREIRA, 2009, p. 126) No estado de São Paulo, por exemplo, onde há trechos mais lucrativos, as rodovias foram concedidas à iniciativa privada, a partir da qual se pagam vários pedágios na mesma via, ou seja, o uso da rodovia vira uma mercadoria, trata-se do consumo do espaço. Apesar da estabilização econômica trazida pelo Plano Real, em 1994, e do crescimento econômico contínuo a partir de 2002, a capacidade de investimento do Estado Nacional reduziu-se, por conta de diversos fatores, como a existência de entraves burocráticos e a malversação do dinheiro público. A experiência tem mostrado que muitas empreiteiras trocam benefícios com polí- ticos que os apoiam e as obras vão sendo adiadas indefinidamente, ampliando o cus- to da obra. Trata-se de uma cultura que atrasa o desenvolvimento do país e que vem se tornando comum em todas as esferas de governo federal, estadual ou municipal. 12 13 Por isso, é importante que os professores de Geografia, enquanto cidadãos, ampliem a visão que os educandos têm sobre o entendimento das relações entre os atores sociais na existência do espaço geográfico. A Malha Ferroviária no Brasil Considerando-se as questões já apontadas em relação às políticas públicas de transporte no Brasil, vamos delinear as características do transporte ferroviário. Em países de grandes dimensões, este é o modal mais utilizado para transpor- tar mercadorias, sobretudo, minerais e grãos, em espaço terrestre. É uma forma de transporte mais adequada para grandes volumes, principalmente em gran- des distâncias. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), os produtos mais comuns transportados por este modal são: produtos siderúrgicos, grãos, minério de ferro, cimento e cal, adubos e fertilizantes, derivados de petróleo, calcário, carvão mineral e contêineres. Tais ferrovias operadas por empresas concessionárias privadas e pela Valec (empresa pública do governo federal, que opera a ferrovia Norte-Sul, entre outros trechos), transportam principalmente produtos agrícolas e minerais. Como afirmam os pesquisadores: Grande parte dos investimentos no setor ferroviário tem como objetivo promover uma fluidez corporativa, exemplificada pelo escoamento da soja produzida nos fronts agrícolas do Cerrado e destinada aos portos exportadores. Essas regiões produtoras distinguem-se pelos vetores de modernização, geralmente seletivos e excludentes, e por estarem distantes dos portos exportadores, exigindo do Estado novos sistemas de engenharia para tornar a soja competitiva nos mercados internacionais. Estes verdadeiros corredores de exportação, reeditados sob nova matriz regulatória, mostram-se vantajosos para o movimento de produtos de grande volume e baixo valor agregado, ao mesmo tempo em que enrijecem o território e podem comprometer seus usos futuros (VENCOVSKY; CASTILLO, 2007, p. 120). No Governo Lula (2003-2011), houve apoio para investimentos em novos trechos de ferrovias como a Norte-Sul e a também da construção da Transnordestina – esta última que visa interligar os portos de Pecém, no Ceará, ao Porto de Suape em Pernambuco, ambos portos considerados modernos no Brasil e também um trecho no Piauí, conforme mostra fig. 2. 13 UNIDADE Formas de Transporte Terrestre Figura 2 – Ferrovia Transnordestina Fonte: www.pac.gov.br Já a Ferrovia Norte-Sul tem como intuito integrar as áreas produtoras do agronegócio, principalmente da soja, com circulação principalmente do produto vinda das regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil. Tal ferrovia iniciou-se ainda no Governo Sarney, em 1987, num momento no qual a soja já se instalará em boa parte do Centro-Oeste brasileiro. Esta forma de agricultura globalizada modernizada tem alto grau de uso de insumos, máquinas e crédito para a produção, grande produtividade e relação com as novas formas de transporte e logística. O que é logística? Segundo o geógrafo Ricardo Castillo: [...] um conjunto de competências materiais (infraestruturas e equipa- mentos relacionados ao transporte, ao armazenamento, à distribuição, à montagem de produtos industriais, aos recintos alfandegários etc.) e operacionais (conhecimento especializado detido por prestadores de ser- viços ou por operadores logísticos), que, reunidas em um subespaço, con- ferem fluidez e competividade aos agentes econômicos e aos circuitos espaciais produtivos. Trata-se da versão atual da circulação corporativa. (CASTILLO, 2011, p. 341) Há certa especialização nas ferrovias do Brasil, a Estrada de Ferro Carajás, por exemplo, é operada pela Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD), ligando a região da Serra dos Carajás, no Pará, ao Terminal de Uso Privado (TUP) de 14 15 Ponta Madeira, em Itaqui, no Maranhão. Trata-se praticamente de uma exceção no Brasil, pois esta ferrovia além de transportar carga, principalmente de minério de ferro, também transporta passageiros. Existem também projetos da construção da ferrovia Leste-Oeste que deve passar por polos de produção agrícola do Oeste da Bahia e também minerais, indo até Ilhéus. Assim, como pelos acordos existentes entre os países da América do Sul, chamado de Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), há propostas de um corredor bioceânico compreende uma ferrovia que irá interligar o Acre ao Rio de Janeiro, passando pelo Peru em direção ao Oceano Atlântico. A Malha Rodoviária no Brasil No Brasil, domina o transporte rodoviário tanto para passageiros quanto para transporte de mercadorias. Observando-se o mapa (figura 3) verifica-se que a maior densidade de rodovias tem relação com as maiores regiões de ocupação no Brasil, a Região Concentrada (Sudeste-Sul), o litoral do Nordeste e as que interligam Brasília a outras regiões brasileiras. Figura 3 – Malha Rodoviária do Brasil Fonte: ANTT, 2014 15 UNIDADE Formas de Transporte Terrestre A metrópole paulistana e a macrometrópole paulista tem alta densidade de rodovias, que interligam diversas regiões industriais e de serviços destas centrali- dades brasileiras. Na região Sudeste, a maior parte das rodovias é asfaltada, algumas dessas rodovias possuem vias duplas, principalmente em São Paulo e no seu entorno. Já no Nordeste é mais densa na região litorânea, onde há maior ocupação, densidade populacional, urbanização e atividade turística. No Centro-Oeste, é mais rarefeita em algumas porções e mais densas em torno de Brasília e das capitais dos estados da região. Trata-se de uma irracionalidade transportar mercadorias em longo curso por meio de rodovias, mas esta foi a opção política do Brasil, o que ocasiona problemasdo ponto de vista da logística dos transportes de mercadorias, bem como problemas ambientais por conta da poluição do ar. O Transporte Dutoviário no Brasil O transporte dutoviário é aquele que leva por dutos (tubulações) gases e fluidos, como petróleo, álcool, gás, entre outros. Os dutos devem ser construídos conforme norma de segurança definidas internacionalmente podendo ser terrestres – aparentes ou subterrâneos – e os aquáticos, mais comumente submarinhos. São conhecidos pelos nomes dos tipos de produtos que transportam: gasodutos (gás natural), minerodutos (alguns produtos como sal gema, minério de ferro etc.), oleodutos (gasolina, diesel, querosene e nafta) e polidutos (com variados produtos, entre eles vinho, suco de laranja etc.). Trata-se, em princípio, de uma forma de transporte eficaz, já que pode simplificar a carga e descarga do produto, diminuir os custos de transporte, mas também podem ocorrer acidentes ambientais se tais dutos forem rompidos. No Brasil, ainda existem poucos trechos deste sistema quanto comparados às rodovias e às ferrovias. No governo Lula houve ampliação das redes dutoviárias no Brasil, com novos trechos caso do gasoduto Cabiunas-Vitória (303 km), o gasoduto Campinas-Rio de Janeiro: trecho Taubaté-Japeri (255 km) e o gasoduto Catu- Carmópolis: trecho Catu-Itaporanga (196 km). Segundo o Ministério de Minas e Energia: Em 2009, foram concluídos mais de 500 km de gasodutos de transporte, elevando a malha de gasodutos para 7.699 km. Destacam-se o gasoduto Japeri-Reduc, com entrada em operação em maio, e o Paulínia-Jacutinga, em novembro. O primeiro permite que o gás boliviano chegue ao mercado fluminense e o segundo garante o suprimento de gás à região sul de Minas Gerais. (MME, 2009, s/p) 16 17 Figura 4: Trechos do Sistema de Gasodutos no Brasil Fonte: www.abegas.org.br Um dos mais importantes gasodutos do Brasil é o Brasil-Bolívia, que traz gás natural para o Brasil. Este sistema conhecido como GASBOL percorre de Santa Cruz de La Sierra (Bolívia), Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (vide fig. 4). Trata-se de um gasoduto cujas tubulações (dutos) ficam principalmente enterrados a uma profundidade média de um metro, trazendo gás natural da Bolívia para o Brasil. Finalizando esta unidade, verificamos que as políticas de transporte brasileiras privilegiaram o modal rodoviário como principal forma de transporte de mercadorias e, após os anos 1990, as ferrovias vêm sendo ampliadas mediante a política de concessões a operações de empresas privadas 17 UNIDADE Formas de Transporte Terrestre Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos O que é ANTT https://youtu.be/zN39e_-TOZQ Sites Ministério dos Transportes http://www.transportes.gov.br/ Leitura A implantação do Ferroanel de São Paulo: implicações para o sistema logístico do Estado de São Paulo ILARIO, C. G.; CASTILLO, R. A. A implantação do Ferroanel de São Paulo: implicações para o sistema logístico do Estado de São Paulo. In: XVI Congresso Interno de Iniciação Científica da UNICAMP, 2008. http://goo.gl/ZCPKpG Ferrovia e logística do agronegócio globalizado: avaliação das políticas públicas e privadas do sistema ferroviário brasileiro VENCOVSKY, V. P. Ferrovia e logística do agronegócio globalizado: avaliação das políticas públicas e privadas do sistema ferroviário brasileiro. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP, 2011. http://goo.gl/ZCPKpG 18 19 Referências BARAT, Josef. Infraestruturas de logística e transporte: análise e perspectivas. In: SILVEIRA, Márcio R. (org.). Circulação, transportes e logística: diferentes perspectivas. São Paulo: Ed. Outras Expressões, 2011, p. 217-246. CASTILLO, Ricardo Abid. Agricultura globalizada e logística nos cerrados brasileiros. In: SILVEIRA, Márcio R. (org.). Circulação, transportes e logística: diferentes perspectivas. São Paulo: Ed. Outras Expressões, 2011, p. 331-354. PEREIRA, Mirlei Fachini Vicente. Redes, sistemas de transportes e as novas dinâmicas do território no período atual: notas sobre o caso brasileiro. Sociedade & Natureza, Uberlândia, 21 (1), ABR. 2009, p. 121-129. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000. VASCONCELLOS, Eduardo Alcântara de. Políticas de transporte no Brasil: a construção da mobilidade excludente. Barueri: Manole, 2012. (e-book). VENCOVSKY Vitor Pires; CASTILLO, Ricardo. Sistema ferroviário pós- privatização e fluidez corporativa: o movimento de produtos agrícolas no território brasileiro. GEOUSP – Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 21, 2007, p. 119-134. 19
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