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PÂNCREAS Liliane Risseto Joaquim ANATOMIA O pâncreas é uma glândula retroperitoneal, localizada próxima ao duodeno e dividida em cabeça, corpo e cauda O suprimento arterial é realizado pela artéria esplênica e pelas artérias pancreático-duodenais superior e inferior O sangue venoso drena na veia porta hepática o fígado é o principal órgão-alvo dos efeitos fisiológicos dos hormônios pancreáticos e é exposto às maiores concentrações desses hormônios A porção exócrina corresponde a mais de 95% da massa pancreática; as células são agrupadas em lóbulos (ácinos) e sintetizam enzimas digestivas em sua forma inativa amilases, proteases, lipases; responsáveis pela digestão no intestino delgado A porção endócrina (ilhotas de Langerhans – interior dos ácinos) secreta os hormônios insulina e glucagon homeostasia glicêmica; além de outros hormônios (amilina, somatostina e polipeptídeo pancreático) α 20% das células endócrinas, secretam glucagon β maior parte da massa total de células endócrinas, secretam principalmente insulina δ secretam somatostina Células PP secretam polipeptídeo pancreático Os nervos parassimpáticos, simpáticos e sensitivos inervam as ilhotas pancreáticas; os respectivos neurotransmissores e neuropeptídios liberados de suas terminações nervosas exercem efeitos reguladores importantes sobre a liberação hormonal pelo pâncreas endócrino Ativação do nervo vago estimula a liberação de insulina, glucagon, somatostina e polipeptídeo pancreático Estimulação nervosa simpática inibe a secreção de insulina basal e estimula a secreção de glucagon e do polipeptídeo pancreático FISIOLOGIA INSULINA – síntese, liberação e degradação A insulina é um hormônio proteico produzido pelas células β das ilhotas de Langerhans Responsável por manter os níveis da glicose abaixo dos limites aceitáveis e, além de interferir no metabolismo dos carboidratos, também está presente no de lipídeos e proteínas Segue o mesmo mecanismo de síntese de outras proteínas mas não é capaz de ser sintetizada na forma ativa Pré-próinsulina sofre modificação no RE pró-insulina (possui uma cadeia alfa, uma beta e o peptídeo C que faz a conexão entre as cadeias) a insulina é processada por endopeptidases específicas, que clivam o peptídeo C forma madura da insulina acondicionados em grânulos secretores no aparelho de Golgi A insulina é secretada quando as células β são estimuladas, em padrão bifásico – primeiro do reservatório de liberação rápida reservatório de armazenamento A insulina circula na forma livre, com meia-vida de 3-8 minutos e é degradada predominantemente pelo fígado, mas ocorre degradação adicional nos rins e nos tecidos-alvo O peptídeo C é importante no monitoramento da diabetes = diferentemente da insulina, não é prontamente degradado no fígado meia-vida longa liberação é utilizada como índice de capacidade secretora do pâncreas Regulação da liberação A célula β atua como integrador neuroendócrino (responde a alterações nos níveis plasmáticos de substratos energéticos – glicose e aminoácidos, hormônios – insulina e neurotransmissores – acetilcolina), aumentando ou diminuindo a liberação de insulina A glicose é o principal estímulo para a liberação pelas células β e, também, exerce efeito permissivo para os outros moduladores da secreção de insulina Glicose penetra célula β pelo GLUT 2 fosforilação pela glicoquinase formação de ATP aumento dos níveis intracelulares de ATP e ADP inibição dos canais de K+ e do efluxo despolarização da membrana, ativação e influxo de Ca²+ exocitose dos grânulos secretores de insulina e liberação do hormônio no espaço extracelular e na circulação Outros fatores que amplificam a liberação da insulina em resposta à glicose: acetilcolina, colecistocinina, peptídeo gastrointestinal e o GLP-1 Liberação bifásica: 1° ocorre a liberação de grânulos de insulina pré-formados; 2° ocorre a liberação mais sustentada da insulina sintetizada (uma hora ou +) A liberação durante o dia é pulsátil e rítmica e aumenta após refeição devido a elevação dos níveis de glicose e aminoácidos Efeitos fisiológicos da insulina Imediatos (segundos) modulação do transporte de íons e de glicose na célula Precoces (minutos) regulação da atividade enzimática metabólica Moderados (minutos a horas) modulação da síntese das enzimas Tardios (horas a dias) efeitos sobre o crescimento e a diferenciação celular De modo geral, nos órgãos-alvo, os efeitos são anabólicos, promovendo a síntese de carboidratos, lipídeos e proteínas Efeitos da insulina nos órgãos-alvo Deficiência de insulina leva ao acúmulo de glicose no sangue, diminuição do armazenamento de gordura e perda de proteínas consequente balanço nitrogenado negativo que reflete em catabolismo muscular GLUCAGON É um hormônio proteico secretado pelas células α das ilhotas de Langerhans Importante para a homeostasia da glicose efeitos antagonistas sobre a ação da insulina Sintetizado em pró-glucagon glucacon no pâncreas e GLP-1 nas células intestinais (incretina – produzida em resposta à concentração elevada de glicose no lúmen intestinal) Regulação da liberação Liberação inibida pela hiperglicemia e estimulada pela hipoglicemia. Os níveis elevados de aminoácidos após uma refeição rica em AA e a epinefrina também estimulam a liberação, a somatostina inibe Efeitos fisiológicos O fígado é seu principal tecido-alvo O principal efeito fisiológico consiste em aumentar as concentrações plasmáticas de glicose, estimulando a produção hepática da glicose pela gliconeogênese e pela degradação do glicogênio (ações que neutralizam os efeitos da insulina) SOMATOsTINA Hormônio peptídico produzido pelas células δ do pâncreas Liberação estimulada por refeições ricas em gorduras, carboidratos e proteínas, sendo inibida pela insulina Exerce um efeito inibitório generalizado em praticamente todas as funções gastrintestinais e pancreáticas exócrinas e endócrinas Supressão da liberação de insulina e glucagon POLIPEPTÍDEO PANCREÁTICO Hormônio peptídico produzido nas células PP de tipo endócrino das ilhotas pancreáticas, liberado na circulação após ingestão de alimentos, exercício e estimulação vagal Seus efeitos consistem em inibição da secreção pancreática exócrina, contração da vesícula biliar, modulação da secreção de ácido gástrico e motilidade gastrintestinal Importante papel na regulação do comportamento alimentar AMILINA Hormônio peptídico sintetizado como pequeno precursor que sofre modificação pós-tradução, é armazenado em grânulos beta e liberado com a insulina e o peptídeo C As concentrações plasmáticas aumentam após refeição ou infusão de glicose Parece atuar com a insulina na regulação das concentrações plasmáticas de glicose, na supressão da secreção pós-prandial de glucagon e na diminuição da velocidade de esvaziamento gástrico A amilina circulante está aumentada na obesidade, HAS e no diabetes gestacional; baixa ou ausente no DM1 Principal componente do amiloide das ilhotas pancreáticas, encontrado na maioria dos pacientes com DM2 não dependente de insulina, e acredita-se que possa contribuir para a destruição das células β do pâncreas DIABETES MELLITUS Representa um grupo de doenças metabólicas com etiologias diversas, caracterizado por hiperglicemia, que resulta de uma secreção deficiente de insulina pelas células β, resistência periférica à ação da insulina ou ambas A longo prazo, a hiperglicemia associa-se a lesões em vários órgãos, principalmente nos olhos, rins, coração, nervos e vasos sanguíneos Também está relacionado com outras doenças, como HAS, dislipidemia, alteração da função endotelial, aumento dos riscos cardio e cerebrovascular e DAP Os 2 principais tipos são DM tipo 1 (10%) e DM tipo 2 (90%) DIABETES MELLITUS O DM1 geralmente surge na infância / adolescência, enquanto o DM2 surge na vida adulta Sintomas como poliúria, polidipsia e polifagia estão presentes em quase 100% dos casos de DM1, enquanto os pacientes comDM2 são oligossintomáticos ou assintomáticos Quando se descobre o DM1 na vida adulta, geralmente, os sintomas clássicos não estão presentes DM1 Deficiência absoluta de insulina por destruição autoimune ou idiopática das células β Cetoacidose diabética pode ser a manifestação inicial em até 1/3 dos pacientes adultos e 2/3 das crianças quanto menor a idade maior é o risco Dividida em tipo 1 A e tipo 1 B PATOGÊNESE Destruição autoimune das células β. Processo supostamente desencadeado devido a agressão das células β por fatores ambientais (infecções virais em indivíduos suscetíveis) Polimorfismos no complexo antígeno leucocitário humano (HLA) do cromossomo 6 = principais responsáveis geneticamente (5% dos indivíduos desenvolvem importância de fatores não genéticos) Principais autoanticorpos identificados como marcadores de destruição autoimune da célula β antiilhotas e antiinsulina Fatores ambientais, infecciosos (enterovírus) e nutricionais – os mecanismos relacionados a tais etiologias ainda é incerto PATOGÊNESE O tipo idiopático (1B) não possui alterações no complexo HLA. A maioria dos pacientes são de descendência asiática e africana DM 2 Desordem heretogênea, de etiologia complexa, associada a uma alteração na secreção de insulina e na sua ação (resistência) Resulta de influencias genéticas e ambientais e surge habitualmente após os 40 anos Componente genético – risco familiar chega a 40% quando ambos os pais são diabéticos A obesidade, dietas hipercalóricas e sedentarismo são frequentes e agravam a resistência à insulina FR – sobrepeso/obesidade, pré-diabetes, historia de doença cardiovascular, colesterol HDL < 35 e/ou triglicérides > 250, raça/etnia de alto risco (negros, hispânicos), SOP, > 45 anos, DMG prévio ou macrossomia fetal, tabagismo, fármacos hiperglicemiantes PATOGÊNESE Envolve a resistência tecidual à ação da insulina, principalmente no fígado, no tecido musculoesquelético e no tecido adiposo Outros defeitos fisiopatológicos comuns são a deficiência do hormônio intestinal GLP-1 e a secreção excessiva ou desregulada de glucagon, que colaboram para a hiperglicemia QUADRO CLÍNICO DM1 – sintomas clássicos de DM = poliúria, polidpsia, polifagia e perda ponderal; tendência à cetoacidose; início súbito DM2 – inicio insidioso e assintomático. Os pacientes tipicamente apresentam um conjunto de alterações metabólicas Cerca de 60-90% apresentam obesidade ou acúmulo de gordura visceral e pelo menos 80% apresentam o diagnóstico de síndrome metabólica Não apresentam tendência a cetoacidose como no DM1, mas podem desenvolver essa complicação em situações de grande estresse (IAM) DIAGNÓSTICO O diagnóstico de DM deve ser estabelecido pela identificação de hiperglicemia Glicemia plasmática de jejum Teste de tolerância oral à glicose (TOTG) Hemoglobina glicada (A1c) Em algumas situações, é recomendado rastreamento em pacientes assintomáticos DM1 – dosagem no peptídeo C (< 0,6) Recomenda-se HbA1c < 7 para todos os indivíduos com diabetes, desde que sem hipoglicemias graves e frequentes Idosos com DM, função cognitiva e status funcional preservados e ou comorbidades não limitantes HbA1c = 7-7,5% Em idosos com DM e status funcional comprometido, síndrome de fragilidade, presença de comorbidades que limitem a expectativa de vida ou alteração cognitiva = meta de HbA1c < 8,5% TRATAMENTO Terapia nutricional, exercícios físicos e medicamentos DM1 Insulinoterapia – terapia basal-bolus = múltiplas aplicações diárias ou com bomba de infusão 50% - componente basal e 50% componente prandial (rápida ou ultrarrápida) Basal – manter os objetivos glicêmicos no período entre as refeições Prandial - cobrir os carboidratos das refeições e corrigir glicemias elevadas Necessidades calculadas pelo peso corporal 0,4 U/kg/dia a 1,0 U/kg/dia TRATAMENTO DM 2 Terapia nutricional, atividade física, controle de peso e medicamentos As opções de tratamento farmacológico precisam ser individualizadas, de acordo com as características clinicas do paciente, considerando o risco de hipoglicemia, a tolerabilidade, os efeitos adversos e o custo Recomenda-se iniciar em monoterapia com metformina nos pacientes não gestantes e sem doença cardiovascular ou renal agente de 1° escolha no tratamento de DM2 (eficácia, segurança, baixa incidência de hipoglicemia e baixo custo) A dose deverá ser reduzida pela metade quando a taxa de filtração glomerular estimada estiver entre 30-45 mL/min/1,73m² e o tratamento deverá ser interrompido se TFG abaixo de 30 devido ao risco de acidose lática PRÉ-DIABETES Níveis de glicose relativamente elevados mas não o suficiente para classificar-se como diabetes Condição de elevado risco para desenvolvimento de DM2 Cerca de 25% dos pacientes progridem para DM2, 50% permanecem pré-diabéticos e 25% revertem para a normalidade PRÉ-DIABETES FR – historia familiar de DM2, presença de sobrepeso e obesidade, síndrome metabólica, presença prévia de doença cardiovascular, historia de DM gestacional, uso crônico de drogas antipsicóticas e valores elevados de HbA1c acima de 6% e glicemia de jejum = ou > 110 mg/dL Prevenção = PRÉ-DIABETES DIAGNÓSTICO PRÉ-DIABETES O tratamento se inicia com MEV – controle da ingesta calórica e realização de exercícios físicos DIABETES GESTACIONAL Hiperglicemia detectada pela 1° vez na gestação, não se considerando gravidade ou evolução Diagnosticada no fim do 2° ou inicio do 3° trimestre gestacional Na primeira consulta pré-natal de gestantes sem conhecimento do diagnóstico prévio de DM é recomendado solicitar uma glicemia plasmática de jejum, com o objetivo de detectar diabetes não detectada ou DMG precoce Gestantes com DMG têm risco aumentado para complicações obstétricas e aparecimento de DM2 e HAS após o parto DIABETES GESTACIONAL DIABETES GESTACIONAL FISIOPATOLOGIA Aumento da resistência à insulina devido ao hormônio lactogênio placentário alterações no metabolismo da glicose em mulheres predispostas DIABETES GESTACIONAL DIABETES GESTACIONAL DIAGNÓSTICO Recomendada a investigação diagnóstica entre a 24° e 28° semana de gestação, por meio de um teste oral de tolerância à glicose, com glicose plasmática em jejum, 1 e 2 horas após a ingestão de 75g de glicose anidra DIABETES GESTACIONAL TRATAMENTO Orientação nutricional adequada e individualizada; atividade física na ausência de contraindicações obstétricas É recomendado o inicio da terapia farmacológica na mulher com DMG quando 2 ou + medidas de glicemia avaliadas após 7 a 14 dias de terapia não farmacológica estiverem acima da meta Insulina medicação de 1° linha por sua eficácia e segurança durante a gravidez e pelo fato de o tamanho da sua molécula limitar a passagem placentária do fármaco Metformina opção de tratamento por ter eficácia e segurança semelhantes às da insulina, mas apresenta passagem placentária e frequentemente necessita de suplementação insulínica para alcançar o controle glicêmico adequado HIPOGLICEMIA EM ADULTOS NÃO DIABETICOS Tríade de Whipple = níveis glicêmicos baixos (< 55mg/dL) + sintomas compatíveis com hipoglicemia + melhora dos sintomas pós administração de glicose FISIOPATOLOGIA O defeito nos mecanismos que mantem o nível sérico de glicose gera a hipoglicemia que, por consequência, gera: Diminuição da insulina, secreção de glucagon e aumento da produção de glicose Resposta simpática adrenérgica, aumento da adrenalina Aumento da noradrenalina (palpitação, tremor) e acetilcolina (sudorese, fome) HIPOGLICEMIA EM ADULTOS NÃO DIABETICOS CLÍNICA Paciente com sintomas neuroglicopênicos (acontecem devido a redução da disponibilidade de glicose para o SN) Tontura Escurecimento visual Cefaleia Confusão mental Lentidão de raciocínio e movimentos Irritabilidade Distúrbios do comportamento Convulsão Torpor Coma HIPOGLICEMIA EM ADULTOS NÃO DIABETICOS Sintomas adrenérgicos (iniciam quando a glicemia entra em 50-55mg/dL devido à ativação do SNA libera adrenalina visando aumentar a glicemia) Sudorese Tremores Taquicardia Palpitações Ansiedade Náuseas Fome Parestesias Os sintomas adrenérgicos e neuroglicopênicos podem aparecer ao mesmo tempo, sem ordem especifica, variando entre os indivíduos HIPOGLICEMIA EM ADULTOS NÃO DIABETICOS CLASSIFICAÇÃO Em indivíduos doentes ou em uso de medicamentos, causada por situações como sepse e deficiências hormonais Em indivíduos aparentemente saudáveis, causada por situações de hiperinsulinismo endógeno como insulinoma HIPOGLICEMIA EM ADULTOS NÃO DIABETICOS DIAGNÓSTICO Confirmar se há hipoglicemia por meio da Tríade de Whipple Testes diagnósticos Hipoinsulinemicas – albumina, coagulograma, ureia, creatinina, GH, cortisol Hiperinsulinemicas – dosar insulina e peptídeo C quando glicose < 55 mg/dl HIPOGLICEMIA EM ADULTOS NÃO DIABETICOS TRATAMENTO Dependendo da etiologia, consiste em suspensão do fármaco indutor da hipoglicemia, mudanças alimentares e tratamento medicamentoso Se sem sintomas neuroglicopênicos que contraindicam – tratamento deve ser feito com 15 a 20g de glicose por via oral, preferencialmente na forma líquida, por ser de mais rápida absorção Objetiva controlar os níveis de glicose no sangue, diminuir os sintomas e tratar a doença de base REFERÊNCIAS Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretriz 2022. Vilar, Lucio. Endocrinologia Clínica. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo GEN, 2020 Molina, Patricia E. Fisiologia Endócrina. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Grupo A, 2021. Bandeira, Francisco. Protocolos Clínicos em Endocrinologia e Diabetes. Disponível em: Minha Biblioteca, (4th edição). Grupo GEN, 2021. MedCel. Endocrinologia, 2021. OBRIGADA
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