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Estilo e História do Mobiliário Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Renata Guimarães Puig Revisão Textual: Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau • Contextualização; • A Europa no Final do Século XVIII; • A Diversidade do Século XIX; • Século XX; • Art Nouveau. • Conhecer o estilo Neoclássico do final do século XIX e início do XX, responsável por inúmeras mudanças na arquitetura; a Revolução Industrial, no fi nal dos anos de 1700; e a diversidade do século XIX. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau Contextualização O século XVIII foi considerado o Século das Luzes na Europa, marcado por várias inovações tecnológicas e avanços da sociedade, como a invenção da máquina a vapor e da locomotiva. Houve aumento da produção agrícola e, ao mesmo tempo, uma urbanização acelerada. Grandes pensadores contribuíram para as descobertas científicas; havia um entusiasmo causado pelo progresso. Médicos e cientistas explicaram muitos mistérios do corpo humano. Lavosier (1743-1794) contribuiu para o surgimento da Química Moderna. A energia elétrica começou a ser explicada através da pilha de Alessandro Volta (1745-1827). Grandes matemáticos e físicos, estudiosos da óptica e astronomia, criaram novos “instrumentos” de pesquisa do Universo. A Austrália foi descoberta, alterando o mapa mundi, e inventaram o navio a vapor. Os homens do Iluminismo aplicaram seus conhecimentos em outros campos do saber: filosofia, economia, política. E, a partir dessa “revolução cultural”, come- çaram a germinar as sementes de outras revoluções, que alteraram definitivamente a Europa antes do final do século XVIII. A Europa no Final do Século XVIII A Europa estava passando por profundas transformações no final do século XVIII. A Revolução Industrial (1760), que substituiu o trabalho artesanal pelo assalariado e introduziu o uso das máquinas, inicialmente na Inglaterra e posterior- mente em países como Alemanha, França, Rússia e Itália, e a Revolução Francesa (1789), que significou o fim do Absolutismo e dos privilégios da nobreza, influen- ciaram os costumes e o modo de vida. Porém, mesmo antes das revoluções, a sociedade aristocrática estava saturada do estilo exagerado do Rococó, influenciada pelas descobertas arqueológicas de Herculano e Pompeia e também dos templos de Atenas, que revelaram ao mundo do século XVIII as riquezas da arte clássica. Publicações sobre as artes da antigui- dade clássica também contribuíram para a divulgação de um novo estilo. À medida que as escavações arqueológicas avançavam, os designers acrescen- tavam motivos decorativos desses povos. A França e a Inglaterra lideraram o novo movimento. Conhecido, na França, por estilo Luís XVI e, na Inglaterra, por estilo Adam, o Neoclassicismo difundiu-se rapidamente pelo resto da Europa e pela América. Na corte francesa, o primeiro aparecimento do Neoclassicismo foi o Pavilhão de Louveciennes, construído em 1771 para Madame Du Barry, sucessora de Madame 8 9 de Pompadour. O arquiteto Ledoux projetou a construção como um templo grego cuja mobília também seguia o estilo neoclássico. Os artesãos franceses atingiram o ápice de excelência na habilidade de produzir móveis. Porém não houve a criação de novos tipos de móveis, apenas adaptação ao novo estilo. O traçado foi ficando mais sóbrio; por exemplo, as pernas das cadeiras foram perdendo as curvas do Rococó e afunilando para os pés. Algumas, com seção quadrada ou redonda, eram torneadas na parte superior e tinham pequenos ornamentos nos pés. Por volta de 1770, começaram a predominar as formas retangulares e muito simétricas; as curvas foram substituídas pelo arco ou pelo círculo. As costas das cadeiras e poltronas passaram a ser ovais ou em medalhão, às vezes talhadas com um pequeno festão floral e ramos com fita. As talhas eram delicadas e elegantes. As confortáveis bergères continuaram na moda, surgindo uma versão com o encosto em forma de gôndola de uma ponta a outra. Os sofás e camas de dia continuaram em uso. Alguns desatualizados contadores do período do reinado de Luís XIV eram desmontados e seus painéis de mosaico aproveitados em novos móveis (Fig. 1). Figura 1 – Cadeira neoclássica com motivos de vasos etruscos Fonte: Oates, 1981 Os ingleses ditavam a moda nas diversas manifestações: jardins ingleses eram copiados, vestuários e papéis de parede também. Durante o período de 1795 e 1799, a França foi governada pelos chamados Diretores, antes da ascensão de Napoleão Bonaparte. Foi um período muito curto, quatro anos apenas, para o desenvolvimento de um estilo, mas a mais famosa decoração de interior no estilo Diretório foi desenhada por Percier e Fontaine para Madame Récamier (Fig. 2), uma mulher culta, cuja sala de visitas serviu de local de encontro para os mentores do novo regime. A elegante cama de dia, inspirada num modelo grego com rolos nas extremidades, foi muito copiada e uma das peças mais populares da época; havia também a versão com costas. 9 UNIDADE Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau Figura 2 – Pintura de Madame Récamier, cama de dia, roupa e penteado inspirados em motivos clássicos Fonte: Oates, 1981 Napoleão comandou uma campanha, no Egito, contra os mamelucos e isso despertou um interesse pela ornamentação egípcia. O desenho dos móveis apre- sentou certa rudeza e falta de conforto na última década do século XVIII; desapa- receram as confortáveis cadeiras e sofás com almofadas das décadas anteriores. Os aristocratas e a realeza patrocinadora dos designers do mobiliário desapare- ceram com a Revolução Francesa e muitos foram perseguidos devido à proximi- dade com a elite. Somente após a coroação de Napoleão, em 1804, é que foram restauradas as condições para uma nova produção de móveis. Para o restante da Europa, o Neoclassicismo representou uma ruptura com a cultura francesa,que se sobressaía desde o período de Luís XIV. A segunda metade do século XVIII foi uma época próspera para a Inglaterra, onde havia uma elite enriquecida. Um arquiteto chamado Robert Adam (1728-1792) foi responsável por um estilo decorativo mais elegante e versátil, que se espalhou por todas as classes sociais. Adam estudou em Roma e pôde observar os trabalhos de artistas do passado, como Rafael, no Vaticano e nas Vilas Madama e Caprarola . Os desenhos nos murais de Herculano e Pompeia foram copiados por Adam em ornamentos mais delicados e suaves. Procurava dar um sentido de unidade a seus trabalhos, como houve no estilo Rococó, porém com leitura dos elementos clássicos , amadurecendo um estilo com características próprias. A disposição de pernas aos pares, separadas por um largo espaçamento ao centro , era uma das características do estilo Adam. Nas casas que seguiam seu estilo, não faltavam urnas e pedestais. Normalmente ficavam ao lado da mesa. O pedestal revestido de ferro servia de chapa de aquecimento, com prateleiras e suporte para o aquecedor. As urnas eram para guardar talheres ou depósito de água com tampa de chumbo , para conservar a água potável ou para lavagem de copos e talheres. O aparador de hoje derivou desse conjunto de urnas e pedestais. Os refrigera- dores de vinho e garrafeiras projetados por Adam eram revestidos de zinco para conservar o gelo recolhido no inverno e conservado em poços profundos. Tinham uma forma oval, copiada dos sarcófagos egípcios com estrias e patas de leão. 10 11 Ainda sob a influência de Adam, outros designers chamados Sheraton e Hepplewhite aplicavam a arte do folheado, do embutido e da marchetaria. Os pai- néis, portas de cômodas e contadores eram decorados com desenhos em tons coloridos, em medalhões ovais ou circulares (Figuras. 3, 4 e 5). Figura 3 – Sofá de Hepplewhite (1787) Fonte: Oates, 1981 Figura 4 – Aparador de Sheraton (1793) Fonte: Oates, 1981 Figura 5 – Espelho, mesa e pedestal de Adam (1772) Fonte: Oates, 1981 11 UNIDADE Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau Após a Guerra da Independência nos Estados Unidos, a importação de mó- veis da Europa foi restabelecida e o mobiliário Hepplewhite foi muito copiado pelos marceneiros. Desenhos simples e despretensiosos, sem a pesada carga de deco ração que caracterizava os tempos anteriores, adaptavam-se perfeita- mente aos hábitos da nova república e aos homens do governo para as edifi- cações neoclássicas. A Diversidade do Século XIX O cenário do século XIX era de muitas transformações, tanto sociais como tecnológicas. Havia uma burguesia em expansão que contestava a autoridade da Igreja, dos reis e dos aristocratas. A população aumentava consideravelmente e a produção de móveis artesanais era incapaz de suprir a procura do mercado. A partir do começo do século, os objetos de uso doméstico, cada vez mais, eram projetados para serem feitos em várias partes, unidos e montados por máquinas. A serra mecânica acionada pelo vapor foi criada para fabricar móveis; sua gran- de vantagem foi tornar o processo de recortes do folheado mais simples e esses móveis passaram a ter um preço mais baixo. As formas mais simples, com superfícies lisas, eram ideais para a industrialização e os artífices passaram a ser responsáveis apenas por uma parte do trabalho rea- lizado. A qualidade da produção em série foi inevitavelmente menor do que a do trabalho do artesão que dominava todas as etapas. O surgimento de um verniz preparado com goma-laca e álcool permitiu a obtenção de uma superfície brilhante de forma muito mais rápida e fácil do que os antigos polimentos com cera de abelha, terebintina ou óleo de linhaça. O Neoclassicismo continuava no início do século XIX, mas, na França, com o governo de Napoleão, passou a ser considerado um estilo oficial, que ia ao encontro de seu desejo de criar uma imagem emblemática, identificando-se com os triunfos e com os imperadores da Roma Antiga. Houve um reflorescer das artes, em especial do mobiliário, e Napoleão Bonaparte e a Imperatriz Josefina foram responsáveis por estimular o luxo, patrocinando designers e fabricantes no intuito de divulgar uma prosperidade nacional. Os arquitetos Percier e Fontaine foram contratados para transformar diversos edifícios, interpretando, com êxito, o gosto de Napoleão pelas artes de Roma antiga e criando um estilo de opulência austera, formas simples, sóbrias e geo- métricas, com linhas retas. As superfícies eram lisas e com poucos ornamentos; desapare ceram a talha e a marchetaria (Fig. 6). 12 13 Figura 6 – Costas de cadeira no estilo Federal, inspirada nos desenhos de Sheraton e Hepplewhite Fonte: Oates, 1981 Os novos motivos decorativos eram coroas de louros, águias, capacetes de guer- reiros, troféus de lanças, copiados de objetos gregos e romanos. Muitas vezes a letra “N” aparecia rodeada por uma coroa de louros e um cisne, ou abelhas e colmeias, símbolos da família de Napoleão (Fig. 7). Figura 7 – Trono de Napoleão de Percier e Fontaine. O “N” foi retirado quando o império caiu Fonte: Oates, 1981 Os móveis de Jacob-Desmalter decoraram palácios imperiais sintetizando o chamado estilo Império. Os móveis dessa época foram concebidos como parte da decoração geral, completando harmoniosamente a arquitetura dos edifícios. A peça mais utilizada era a cômoda, que, muitas vezes, possuía duas portas que ocultavam as gavetas, e a chiffonière, tipo de cômoda com mais gavetas. A secrétaire (Fig. 8), uma escrivaninha para senhoras, era também um móvel de prestígio. As mesas redondas eram cópias de modelos antigos. 13 UNIDADE Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau Figura 8 – Secretária neoclássica Fonte: Oates, 1981 A cama (Fig. 9) passou a ser colocada de forma longitudinal à parede e tomou várias formas, como, por exemplo, com duas extremidades com rolos na mesma altura, apenas com uma cabeceira; por cima, fixava-se uma cúpula ou baldaquino em forma de tenda com cortinas e símbolos militares, como flechas e lanças. Figura 9 – Cama (1785) Fonte: Oates, 1981 A cadeira em forma de gôndola foi muito popular no período; tinha braços e costas que combinavam em curva para baixo na direção do assento. Napoleão reintroduziu o uso do banco na corte, e as cadeiras de braços eram destinadas a ele, à imperatriz e à sua mãe. Na Inglaterra, o tom mais sóbrio ao classicismo foi notado no trabalho do arqui- teto Henry Holland, orientado pela produção de Percier e Fontaine na França. Outra personalidade importante na Inglaterra foi Thomas Hope, um banqueiro colecionador de antiguidades e admirador do estilo francês. Adquiriu uma coleção de vasos gregos, bronzes e bustos, redecorando sua casa para receber esses objetos com móveis desenhados por ele próprio. Seus desenhos influenciaram a publicação, 14 15 em 1808, do livro A collection of designs for household furniture and interior decoration (Coleção de desenhos para mobiliário de habitação e deco ração de interiores) de autoria de George Smith. Esse livro passou a ser considerado como a representação do estilo clássico da Regência, apropriado para as novas residências surgidas em muitas regiões da Inglaterra. Houve também o reaparecimento do estilo Gótico, baseado nos romances de Walter Scott, cuja casa escocesa Abbotsford foi projetada à maneira medieval em 1816. Algumas cadeiras desse estilo ficaram conhecidas como cadeiras Abbotsford. O sofá grego registrado nas pinturas de vasos antigos foi copiado, assim como a mesa de sofá, tornando-se corrente no estilo Império. As mesas de jantar eram circulares com suporte em pedestal. Utilizavam as madeiras escuras e brilhantes, como o mogno e o pau-rosa, e também as decora- tivas, como pau-zebra e amboína. Os embutidos na madeira ficaram muito caros e o latão substituiu-os muito bem como elemento decorativo. O estilo Império espalhou-se por quasetoda a Europa, seguindo o rastro das conquistas de Napoleão. Na América, houve uma mistura dos estilos francês e inglês. Derivado do estilo Império, surgiu, na Áustria e em alguns estados alemães, o mobiliário denominado estilo Biedermeier, de características mais informais e sim- ples, preferindo o conforto em vez do luxo. As salas mais informais possuíam um sofá com costas altas, mesa redonda com poucas cadeiras, espelhos simples e o piano como principal guarnição da sala de visitas. Com a ausência de formalismo, usavam flores, biombos e objetos diversos. Substituíram as ferragens em bronze pelas madeiras mais claras, como a macieira , cerejeira e vidoeiro. A maioria dos países europeus produzia suas versões do mobiliário Biedermeier (Fig. 10), surgindo também algumas releituras de períodos passados, como o Neogótico, na Alemanha e na França, e o Rococó, na Áustria. Figura 10 – Sofá alemão estilo Biedermeier (1835) Fonte: Oates, 1981 O mobiliário criado durante o século XIX possuía vários estilos e referências. Eram os chamados neo: neoclássico, neobarroco, neorrococó, que adotavam estilos passados, com uma interpretação particular ligada mais ao momento inicial da industrialização do que às origens dos estilos (Fig. 11). 15 UNIDADE Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau Também recebeu a denominação de Ecletismo, porque as referências de estilos eram muitas e as formas como eram aplicadas aos móveis eram diversas. Figura 11 – Cadeira de carvalho Abbotsford neogótica (1840) Fonte: Oates, 1981 Durante o século XIX, as máquinas possibilitaram alguns experimentos com materiais alternativos, como o ferro, o fio de arame, papier-mâché, mármore e chifre. Era um caminho paralelo à produção tradicional, mas abriu caminhos para os estilos desenvolvidos no século XX. Michel Thonet, nascido em 1796, em Boppard, inventou novos processos de curvar armações em faia, com o auxílio do vapor, e foi responsável por produzir um mobiliário elegante e atemporal. Também inventou máquinas para produção desse processo em série. No início, Thonet produzia móveis seguindo o estilo Biedermeier, mas, após 1830, começou a desenvolver um estilo próprio, baseado na sua técnica de uti- lizar finas ripas de madeiras, coladas umas às outras, que podiam ser curvadas. Seu primeiro mobiliário experimental foi de madeira contraplacada mais simples e folheada por fora com madeira de qualidade. Em 1841, sua técnica foi patenteada na Inglaterra, França e Bélgica, fundando, em 1849, uma fábrica com seu nome em Viena, Áustria. Mais tarde desenvolveu a madeira dobrada. Essa nova técnica permitiu que Thonet produzisse, em série, um mobiliário leve e de baixo custo. Sua peça mais famosa foi a cadeira número 14 (Fig. 12), que podia ser transportada em partes e montada no local do seu destino com para- fusos. Foi largamente difundida no século XIX, copiada até os dias de hoje. Outra cadeira famosa de Thonet foi a cadeira de balanço, copiada da América. O mobi- liário de Thonet não estava presente apenas nos palácios, mas também nas casas de campo, nos cafés, hotéis, comércios, salões de música, etc. 16 17 Figura 12 – Cadeira Thonet nº 14 e seus componentes Fonte: Oates, 1981 Em 1874, foi registrada uma patente de cadeira com apenas três peças nos Estados Unidos. Ela era montada com um espaldar contínuo com o assento e perna da frente. A segunda parte reforçava o espaldar e continuava para baixo formando a perna de trás e, por último, uma travessa entre as duas pernas. Esse mobiliário contraplacado foi aperfeiçoado após a cadeira de modilhão de Alvar Aalto em 1930. Importantes inovações na indústria siderúrgica foram responsáveis por experi- mentos em metal, com novos processos de fundição. Os móveis de ferro, incial- mente, eram usados em edifícios públicos e salões de entrada de casas e hotéis, em forma de bancos de jardim e cadeiras. A primeira patente de uma cama de ferro foi registrada em 1849. Inicialmente, as construções de ferro com barras metálicas ou varões para apoio do colchão eram imperfeitas. Em 1856, o aumento da produção do aço possibilitou camas mais elaboradas com tubos de ferro e latão. Nas duas últimas décadas do século XIX, já havia catálogos de ornamentos em bronze para móveis metálicos. As camas metálicas, além de terem um custo menor, eram mais higiênicas, pois não permitiam infestação de insetos. Foram realizados alguns experimentos em papel machê, como mesinhas e cadeiras leves, mas, como não possuíam resistência suficiente, foram logo abandonados. No início do século XIX, os tecidos passaram a ter mais importância na deco- ração de interiores; os tecidos pintados foram substituídos por cortinados natu- rais. As janelas compridas, que, nesse período, quase alcançavam o chão, tinham cortinas suspensas, cruzadas e franzidas com grandes pregas e com a parte supe- rior bem elaborada e enrolada num varão (Fig. 13). 17 UNIDADE Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau Figura 13 – Janela com cortinados Fonte: Oates, 1981 Outra inovação foi o surgimento do estofado em molas por volta de 1822. Os estofados mudaram o aspecto das salas de visita na Europa e na América. Montados em uma base de madeira, tinham tiras de tecido, crina de cavalo e algodão em ramas para produzirem almofadas que se adaptavam ao sentar. A Grande Exposição de Londres, em 1851, sediada no Palácio de Cristal, funcionou como um mostruário da indústria britânica e afirmação do seu poder. Quanto aos móveis expostos, um júri relatou que eram sobrecarregados com elementos decorativos desnecessários, o que dificultava o custo da produção, e acrescentou que deveria ser adotado um processo mais simples. Os reformistas do período tentavam afastar o gosto do público pela decoração elaborada. William Morris fundou, por volta de 1860, uma empresa que era um tipo de cooperativa de artistas. Sua intenção era produzir artigos de uso doméstico de forma artística, porém pouco dispendiosa. Seus móveis pintados, tapeçarias e vitrais foram bem recebidos e inspiraram um grande número de artesãos a iniciarem pequenas indústrias artesanais. A contribuição de William Morris, no domínio do estilismo, foi a retomada do respeito ao artista que trabalhava com as próprias mãos. Em 1888, com o intuito de organizar exposições seletivas, surgiu a ideia de fundar a Sociedade de Exposi- ções de Artes e Ofícios, para mostrar não só os trabalhos dos estilistas ao público, mas também as ideias do movimento. A escolha ideal do nome para esse movimento reformista foi Arts and Crafts (artes e ofícios). O movimento estético surgido na Inglaterra na segunda metade do século XIX defendia o ar- tesanato criativo como alternativa à mecanização e à produção em massa e pregava o fim da distinção entre o artesão e o artista. Opôs-se aos avanços da indústria e pretendia imprimir em móveis e objetos o traço do artesão-artista, que, mais tarde, seria conhecido como designer. Ex pl or 18 19 O Arts and Crafts durou, relativamente, pouco tempo, mas influenciou o movi- mento francês seguinte, denominado Art Nouveau, considerado por historiadores como uma das raízes do modernismo no design gráfico, desenho industrial e arqui- tetura do século XX. Móveis com dispositivos mecânicos que permitiam ajustar a posição foram projetados não por marceneiros ou estofadores, mas por engenheiros que paten- teavam suas criações. O móvel de patente era mais comum nos Estados Unidos, onde foram registra- das milhares de patentes no final do século XIX. Na virada do século, as classes médias e baixas, que viviam em áreas pequenas, interessaram-se pelos móveis compactos com dupla função. O sofá-cama ou armário-cama e outras invenções eram móveis funcionais e divertidos. Além da diversidade de materiais, das inovações tecnológicas, o comportamento também foi responsável por mudanças no mobiliário. A postura influenciouo desenho dos móveis; uma postura mais descontraída, de repouso, que variava entre o sentar e o deitar, proporcionava soluções construtivas. O mobiliário compacto, criativo e sem ornamentos foi o precursor da funcionalidade moderna que veremos no século XX a seguir. Século XX Movimentos reformistas, Arts and Crafts, Art Nouveau e outras correntes precederam o modernismo O movimento Arts & Crafts foi uma importante influência para o surgimento da escola Bauhaus, que, assim como os ingleses do século XIX, acreditava que o ensino e a produção do design deveriam ser estruturados em pequenas comunidades de artesãos-artistas, sob a orientação de um ou mais mestres. A Bauhaus desejava uma produção de objetos feitos por artistas e para todos, nos quais a assinatura do artesão teria um valor simbólico fundamental. Dessa maneira, a Bauhaus herdou a reação gerada pelo movimento de William Morris contra a produtividade anônima dos objetos da Revolução Industrial. Na América, Chicago foi um dos mais importantes centros do movimento Arts and Crafts. Foi responsável pela inspiração da Prairie School de arquitetura, uma combinação natural do exterior com o interior e um estilo de linhas retas e geométricas, somados ao respeito por materiais naturais e ao interesse pela arte do oriente. 19 UNIDADE Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau Frank Lloyd Wright (Fig. 14) desenhou um mobiliário para as casas que projetava como parte integrante delas. Do mesmo modo como suas construções se harmo- nizavam com o ambiente externo, o mobiliário que projetava era simples e podia ser adaptado à produção por máquinas. Wright aceitava a máquina, como registrado num manifesto publicado por ele em 1901, The art and craft of the machine (A arte e o ofício da máquina), no qual escreveu que a máquina veio para ficar. Figura 14 – Cadeira desenhada por Frank Lloyd Wright (1904) Fonte: Oates, 1981 Art Nouveau Na Alemanha chamou-se Jugendstil. Na Inglaterra chamou-se Liberty Style, devido a uma loja de objetos de arte. Na Itália chamou-se Stile Liberty. O nome Art Nouveau advém da Maison de l’Art Nouveau, loja de móveis, tapeçaria e objetos de arte do colecionador e comerciante Samuel Bing. Importantes arquitetos do final do século XIX e início do século XX, como Hector Guimard, Victor Horta, August Endell, Joseph Hoffmann, entre outros, aderiram ao estilo e divulgaram-no por meio de sua obra. Originário das artes gráficas e industriais, o Art Nouveau foi um movimento de inspiração romântica que se opunha ao classicismo acadêmico e ao ecletismo, dominantes na arquitetura do século XIX. Suas formas tinham profunda ligação com a pintura simbolista e os artistas pré- -rafaelistas, como Dante Rosseti e Edward Burne-Jones. Uma das mais marcantes características gráficas do estilo foi o seu aporte tipográfico inconfundível, unindo letra e imagem por meio de uma profusão de linhas curvas naturais. Essa combi- nação foi utilizada em capas de livros, anúncios, cartazes etc. O movimento Art Nouveau propunha-se a ser um estilo total, expressando-se em diferentes escalas de design – arquitetura, design de interiores e artes decora- tivas, incluindo joalharia, mobiliário, têxteis, prata, utensílios domésticos e objetos de iluminação. De acordo com a sua filosofia, a arte deveria ser um modo de vida. 20 21 Figura 15 – Cadeira Art Nouveau Fonte: Oates, 1981 Muitos historiadores e críticos tendem a registrar o início do Art Nouveau no movimento Arts and Crafts, por volta dos anos 1880, na Inglaterra. O desenho de Arthur Mackmurdo para a capa do livro sobre as igrejas, de Christopher Wren, publicado em 1883, alguns desenhos florais planos em tapeçarias e trabalhos em ferro fundido, assinados por filiados ao movimento inglês de artesanato, são apon- tados como marcos iniciais. Importante! O termo Art Nouveau dava nome a um estabelecimento comercial em Paris, aberto em 1895 por Samuel Bing e que se tornou um centro de arte. O movimento difundiu-se rapidamente na Europa e na América. Mas foi na Bélgica, país industrial altamente de- senvolvido, que a Art Nouveau atingiu a mais completa expressão. Havia uma atmosfera estimulante para as artes em Bruxelas, e Victor Horta destacou-se como um dos maiores exemplos (Fig. 16). Importante! Figura 16 – Móveis desenhados por Victor Horta Fonte: Oates, 1981 Na Escócia, particularmente em Glasgow, despontou o nome de Charles Rennie Mackintosh e sua obra canônica, a Escola de Artes de Glasgow (Fig. 17). 21 UNIDADE Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau Figura 17 – Cadeira de espaldar alto, última fase do estilo de Mackintosh Fonte: Oates, 1981 Outros nomes são do pintor e ilustrador Walter Crane e Arthur Lasenby Liberty, que emprestou o nome ao movimento na Inglaterra (Liberty Stile) através de sua loja de tapeçaria e objetos, na Regent Street, Londres, a Liberty & Co. Esse vasto e agitado universo artístico presente na produção de móveis no final do século XIX e início do século XX foi responsável pelas bases do movimento moderno que veremos na próxima unidade (Fig. 18). Figura 18 – Guarda-fogo de Emile Gallé Fonte: Oates, 1981 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Metropolitan Museum of Art https://goo.gl/2ewtXN Leitura Furniture Styles https://goo.gl/9FQXpN Armchair (fauteuil) from Louis XVI’s Salon des Jeux at Saint Cloud, 1788 https://goo.gl/1u1vEc Coin cabinet, ca. 1809-19 https://goo.gl/d11N6c 23 UNIDADE Neoclassicismo, Historicismo Revivalista, Ecletismo, Arts and Crafts e Art Nouveau Referências BARBOSA, M. I. História de estilos e decoração. São Paulo: Editora Metalivros, 2011. (Ebook) DESIGN MUSEUM. Como criar uma cadeira. São Paulo: Editora Gutenberg, 2011. (Ebook) DENIS, R. C. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blucher, 2010. (Ebook) MONTENEGRO, R. Guia da história do mobiliário. São Paulo: Presença, 1995. (Ebook) MOUTINHO, S. O.; LONDRES, R.; PRADO, R. B. Dicionário de artes decora- tivas e decoração de interiores. São Paulo: Lexikon, 2011. OATES, Phyllis Bennet. História do mobiliário ocidental. Lisboa: Presença, 1991. 24
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