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69 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Unidade III Nesta unidade, vamos analisar o membro inferior, abordando o complexo articular do quadril, joelho, tornozelo e pé. A articulação do quadril é de suma importância pelo seu papel na locomoção e, em conjunto com as outras articulações do membro inferior, como joelho, tornozelo e pé, é essencial no suporte de peso. Aqui, também veremos a inspeção, a palpação, a perimetria, os testes especiais e a avaliação da força muscular. 5 COMPLEXO ARTICULAR DO QUADRIL 5.1 Descrição A articulação do quadril é uma das mais importantes do corpo devido ao seu papel na locomoção. É a segunda maior articulação de suporte de peso do corpo, após a articulação do joelho. É uma articulação sinovial de bola e soquete formada entre os ossos do fêmur e da pelve (VOLPON, 2016). As funções da articulação do quadril são cruciais para a independência funcional do indivíduo (BIRRELL et al., 2000), e, quando temos alguma disfunção nessa articulação, ocorrem alguns sintomas, principalmente dor, nas regiões demarcadas na figura adiante, além de alterações na amplitude de movimento (ADM) e na marcha (VOLPON, 2016). O quadril pode ser um desafio ao avaliador, pois, diferentemente de outras articulações, a articulação não é prontamente palpável, e deve-se realizar diversos testes e manobras provocativas para identificar alterações intra-articulares ou extra-articulares (HOPPENFELD, 1987). Figura 51 – Regiões para avaliação: (A) crista ilíaca; (B) tuberosidade isquiática; (C) espinha ilíaca anterossuperior; (D) tubérculo púbico; (E) 1/3 proximal da coxa Os distúrbios da articulação do quadril frequentemente não são detectados, levando ao desenvolvimento de distúrbios secundários. Com uma abordagem cuidadosa e com técnicas de exame metódico, a maioria dos problemas nas articulações do quadril pode ser detectada, e uma estratégia de 70 Unidade III tratamento adequada pode ser implementada com base em um diagnóstico preciso. Também pode ser estabelecido um prognóstico (BYRD, 2007). Uma parte muito importante da avaliação é a história do paciente. Quando falamos de quadril, existe uma série de distúrbios que podem resultar em determinadas disfunções. A história pode ser igualmente variada quanto ao início, à duração e à gravidade dos sintomas. Comumente, a história de um evento traumático significativo é um bom indicador prognóstico de um problema potencialmente corrigível; já o início insidioso dos sintomas é um indicador de mau prognóstico e sugere doença degenerativa subjacente ou alguma predisposição à lesão. Porém, mesmo sob essas circunstâncias, é necessário ser cauteloso, pois a suscetibilidade subjacente da articulação ao dano pode existir, e, novamente, um prognóstico pode ser incerto (BYRD; JONES, 2004). Muitas vezes, a causa pode ser multifatorial, incluindo idade, rigidez do esporte e morfologia das articulações. A estratégia de gerenciamento também pode ter muitos aspectos a serem abordados. Talvez nem todos os fatores possam ser identificados ou corrigidos, mas a avaliação deve ser completa. Itens para o questionário de triagem clínica: • idade; • sexo; • queixa principal do paciente; • histórico de doença infantil no quadril; • histórico de hipermobilidade ou hipomobilidade; • esporte ou atividade; • tempo de prática esportiva; • histórico de traumas, câncer; • dor aguda na região da virilha? • a dor melhora ao descansar em uma posição confortável? Anormalidades ósseas, frouxidão ligamentar local ou global, distúrbios do tecido conectivo e natureza da atividade física do paciente são fatores de risco para a patologia da articulação do quadril (ENSEKI et al., 2014). Entre os sintomas no quadril, o mais comum é a dor, e a localização da dor pode nos dizer sobre qual patologia pensar, como no esquema da figura seguir (BYRD, 2007): 71 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Figura 52 – Mapa da dor: (A) compartimento posterior; (B) compartimento lateral; (C) compartimento anterior; (D) compartimento medial Pensando no exame do quadril doloroso, temos um estudo (BYRD; JONES, 2004) que demonstrou que a avaliação clínica pode ser confiável em até 98% na detecção da presença de um problema intra-articular. No entanto, o exame da região do quadril pode ser bastante complexo devido à patologia coexistente – por exemplo, uma disfunção secundária ou achados coincidentes. Entre os atletas, pode ocorrer uma incidência significativa de patologia do quadril e pubalgia atlética concomitante (BYRD, 2007). Podemos dividir a dor do paciente em dor intra-articular e extra-articular. Na dor intra-articular, o paciente pode referir o sinal do C, muito comum em pacientes com síndrome do impacto femoroacetabular, ou apontar o dedo na região da virilha. O paciente também pode ter alguns testes especiais positivos, descritos adiante, como o leg roll, além do teste de Fadir (FERNANDEZ et al. 2014). A articulação do quadril recebe inervação dos ramos de L2 a S1 do plexo lombossacral, predominantemente L3. Consequentemente, os sintomas do quadril podem ser encaminhados ao dermátomo de L3, explicando a presença de sintomas referidos na região da coxa anterior e medial, irradiando distalmente ao nível do joelho. A patologia intracapsular do quadril quase sempre tem um componente de dor anterior no quadril. Uma sensação de desconforto lateral profundo ou dor posterior pode estar presente, mas, geralmente, apenas em conjunto com um componente anterior predominante (BYRD, 2007). Figura 53 – Sinais clínicos informados por pacientes com dor intra-articular: (A) sinal trocantérico do C; (B) sinal de triangulação; (C) sinal de ponto Já nas dores extra-articulares, os pacientes irão referir dores entre as regiões laterais, representando a região abdutora e as regiões de inserção tendíneas no trocânter maior. As trocanterites vêm acompanhadas de outros sintomas, como a dificuldade de dormir sobre o lado acometido. A região 72 Unidade III medial pode ser representada pelos adutores, pelas tendinites, pelas lesões musculares ou pubalgias. Na região posterior, quando a dor é maior na região glútea profunda, podemos suspeitar de síndrome do piriforme e utilizar testes especiais para a confirmação. Para dor na região do ísquio, podemos pensar em impacto isquiofemoral. Dor na região posterior ou anterior da coxa pode indicar lesão muscular, de acordo com a história do paciente. Na dor extra-articular, a palpação é a grande aliada para identificar os pontos dolorosos, mas, para isso, é importante rever a anatomia. O local da dor, somado à história e à queixa do paciente, vai direcionar o terapeuta ao tratamento. Indicam um problema mecânico do quadril (BYRD, 2007): • piora de sintomas com o aumento de atividades; • piora ao realizar movimentos de torção, rotação e mudança de direção; • dor ao se levantar da posição sentada; • dificuldade em subir e descer escadas; • sintomas ao entrar/sair de um automóvel; • dispareunia; • dificuldade em amarrar sapatos e colocar meias. 5.2 Exame físico Inspeção A inspeção se inicia assim que o paciente entra na sala de atendimento. É importante avaliar como ele anda e se existe alguma variação na marcha, pois, como dito, alterações no quadril comumente levam a alterações na marcha (BYRD; JONES, 2004). Também é importante avaliar se visualmente existe alguma discrepância de membros (nos casos em que existem doenças do desenvolvimento pré-existentes, artroses severas ou algum trauma ortopédico na região de quadril). Se houver a suspeita de discrepância de membros, devem ser realizadas as medidas de comprimento de membros, como veremos neste tópico (MAGEE, 2010). A região a ser examinada deverá estar descoberta, respeitando-se o pudor do paciente (shorts), para observar possíveis cicatrizes e/ou aderências, alterações musculares (hipotrofias, hipertrofias), assimetrias e alterações posturais (HOPPENFELD, 1987). Na inspeção, a parte mais importante são a postura e a marcha. A posturado paciente é observada tanto na posição de pé quanto na posição sentada. Qualquer manobra de imobilização ou proteção ao quadril pode ser observada; por exemplo, parar com flexão do quadril envolvido e, concomitantemente, o joelho ipsilateral é comum. 73 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Figura 54 – Postura antálgica É necessário avaliar: • inclinação pélvica (inclinação anterior, neutra ou posterior); • postura sayback; • hipotrofias musculares; • cicatrizes e aderências; • presença de claudicação; • suspeita de discrepância de membro. Palpação A palpação normalmente não é reveladora em relação a áreas específicas de desconforto associadas a uma fonte intra-articular de sintomas do quadril. O avaliador deve estar familiarizado com a anatomia topográfica e profunda, a fim de correlacionar as estruturas que estão sendo palpadas. Um estudo da anatomia faz a diferença quando falamos dessa parte (MAGEE, 2010). 74 Unidade III A palpação é realizada para identificar possíveis pontos dolorosos (pontos gatilhos) na musculatura que podem estar ativos ou latentes, regiões de edemas, deformidades ósseas, alterações do tônus e do trofismo da musculatura (BYRD, 2007). A palpação no quadril é utilizada mais para avaliar outras fontes potenciais de dor no quadril do que a própria articulação. É importante ser sistemático, apalpar a coluna lombar, as articulações sacroilíacas, o ísquio, a crista ilíaca, o aspecto lateral do trocânter maior e a bursa trocantérica, os ventres musculares e até mesmo a sínfise púbica. Cada um deles pode suscitar informações sobre uma fonte potencial de sintomas do quadril (MAGEE, 2010). Figura 55 – Palpação de região de quadril Figura 56 – Regiões para palpação de região de quadril: (a) espinha ilíaca ântero-superior; (b) crista ilíaca; (c) trocânter maior; (d) sínfise púbica; (e) tuberosidade isquiática; (f) nervo ciático; (g) ligamento inguinal; (h) espinha ilíaca posterossuperior; (i) pulso da artéria femoral São importantes os seguintes pontos anatômicos de referência: • espinha ilíaca ântero-superior; • crista ilíaca; • espinha ilíaca posterossuperior; • trocânter maior. 75 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA • sínfise púbica; • tuberosidade isquiática; • nervo ciático; • ligamento inguinal. Vamos conhecer, a seguir, os pontos importantes para a palpação. Vista anterior: Figura 57 – Regiões para palpação na vista anterior do quadril: (a) reto femoral; (b) sartório; (c) tensor da fáscia lata; (d) adutor magnus; (e) iliopsoas Vista lateral: Figura 58 – Regiões para palpação na vista lateral do quadril: a) trocânter maior; (b) glúteo médio; (c) tensor da fáscia lata 76 Unidade III Vista posterior: Figura 59 – Regiões para palpação vista posterior: (a) glúteo máximo; (b) piriforme; (c) bíceps femoral; (d) semitendíneo; (e) semimembranaceo; (f) adutor magno Vista medial: Figura 60 – Regiões para palpação na região medial: (a) adutor longo; (b) pectíneo; (c) grácil; (d) reto femoral; (e) sartório Observação Para quantificar a evolução do paciente e identificar alterações funcionais, qualidade de vida e dor, existem métodos de avaliação clínica traduzidos para a língua portuguesa mais empregados nas doenças degenerativas do quadril: Western Ontario and McMasters Universities 77 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Osteoarthritis Index (Womac); Índice Algofuncional de Lequesne e Harris Hip Score). Esses são métodos voltados para pacientes portadores de osteoartrose moderada a grave, que apresentam grande limitação da capacidade física (OLIVEIRA et al., 2014). Mobilidade articular A redução da amplitude costuma ser um bom indicador da extensão da doença e da resposta ao tratamento; por isso, deve ser avaliada tanto ativamente (solicitando que o paciente faça os movimentos) quanto passivamente. A amplitude de movimento pode ser mensurada através do goniômetro manual. Na tabela a seguir, temos as amplitudes normais de cada movimento e como deve ser mensurado (MARQUES, 2003). Tabela 1 – Valores em graus dos movimentos da articulação do quadril normal Articulação Movimento Graus de movimentos Quadril Flexão 0 – 125 Extensão 0 – 10 Adução 0 – 15 Abdução 0 – 45 Rotação medial 0 – 45 Rotação lateral 0 – 45 Fonte: Marques (2003, p. 70). Vejamos cada um dos movimentos: • Flexão: consiste em levar a coxa em direção anterior, de encontro ao abdome. • Abdução: consiste em afastar o membro inferior da linha média. • Adução: consiste em cruzar a linha média com o membro inferior. • Extensão: é feita com o paciente em decúbito ventral, elevando-se a coxa da superfície da mesa de exame, mantendo o joelho levemente fletido. • Rotação interna: paciente em sedestação – realizar rotação interna da coxa. O teste pode ser feito com o quadril em posição neutra e o paciente deitado. • Rotação externa: paciente em sedestação – realizar rotação externa da coxa. O teste pode ser feito com o quadril em posição neutra e o paciente deitado. 78 Unidade III (A) (D) (B) (E) (C) (F) Figura 61 – Avaliação da mobilidade articular: (A) flexão; (B) rotação interna; (C) rotação externa; (D) abdução; (E) adução; (F) extensão Discrepância de membros A diferença de comprimento entre os membros inferiores é uma situação relativamente comum na clínica ortopédica diária. Na prática, o que mais se utiliza nessas avaliações são as mensurações com fitas métricas. O método clínico direto mede a distância (usando uma fita métrica) entre dois pontos anatômicos enquanto o paciente se mantém deitado em decúbito dorsal. Alguns autores descobriram que a medida direta – pela média da distância de duas medidas de fita entre a espinha ilíaca ântero-superior e o maléolo medial, que é a medida real do membro – tem validade e confiabilidade aceitáveis quando usada como ferramenta de triagem para avaliar discrepância de membros, com uma estimativa de erro de ± 8,6 mm. Além disso, medidas repetidas pelo mesmo examinador conflitam em 12% no diagnóstico do lado com o membro mais curto (NEELLY; WALLMANN; BACKUS, 2013). Embora existam métodos seguramente mais fidedignos para a medição dos membros, como as muitas variações radiográficas ou tomográficas, muitas vezes, esses não estão disponíveis nos serviços ou são de custo elevado. Outro teste clínico que pode ser usado é o teste de discrepância anatômica já citado. Os membros devem ser medidos da espinha ilíaca anterossuperior até o maléolo medial. Discrepâncias significativas no comprimento dos membros (maiores que 1,5 cm) podem estar associadas a uma variedade de condições crônicas. 79 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Figura 62 – Avaliação da discrepância dos membros Perimetria A circunferência da coxa não é uma medida muito precisa, mas pode refletir condições crônicas e atrofia muscular (BYRD, 2007). A circunferência da coxa deve ser medida em uma posição fixa, tanto para a consistência da medida dos membros afetados e não afetados quanto para a consistência das medidas nos exames subsequentes. Uma fita métrica deve ser colocada na região da espinha ilíaca anterossuperior em direção ao centro da patela. Uma distância selecionada abaixo da espinha ilíaca anterossuperior é marcada (tipicamente 18 cm). A circunferência da coxa é registrada nessa posição fixa (BYRD, 2005). (B)(A) (C) Figura 63 – Avaliação da perimetria 5.3 Avaliação da força muscular Se houver suspeita de lesão em um grupo muscular específico, a contração resistida deve reproduzir sintomas localizados. A amplitude de movimento ativa e a amplitude de movimento ativa resistida também podem reproduzir sintomas no músculo (BYRD, 2007). 80 Unidade III Também é possível usar um teste muscular manual, que pode ser considerado um subjetivo (BOHANNON, 1995), além de outros métodos manuais de avaliação com o dinamômetro e da avaliação isocinética, mas, na clínica, o teste muscular manual pode ser empregado. O teste muscular manual constitui uma tentativa de determinara capacidade de o indivíduo contrair um músculo ou um grupo muscular voluntariamente. Duas posições de teste são: gravidade minimizada (GM) e contra a gravidade (AG). O método de Kendall testa os músculos isometricamente (KENDALL, 1995). Seguimos o posicionamento em decúbito ventral para extensão, decúbito lateral para adutor, perna inferior, e abdutor, perna superior. Em decúbito dorsal, testamos os flexores de quadril; existe ainda a possibilidade de se realizar sentado na beirada da maca. As rotações podem ser testadas em decúbito ventral contra a resistência do terapeuta (MAGEE, 2010). A) B) C) Figura 64 – Avaliação da força muscular Quadro 5 – Classificação de força muscular Graus de força muscular Descrição 5: Normal Mobilidade completa contra a resistência acentuada e contra a ação da gravidade. 4: Boa Mobilidade integral contra a ação da gravidade e de certo grau de resistência. 3: Regular Movimentos de amplitude normal contra a ação da gravidade. 2: Fraca Mobilidade em todos os sentidos normais, com eliminação da gravidade. 1: Resquício Sinais de discreta contratilidade, sem movimento articular. 0: Sem atividade Não se observam sinais de contração muscular. Fonte: Kendall e McCreary (2005, p. 113). Observação Podemos avaliar a dor no quadril em indivíduos jovens e fisicamente ativos através do questionário de avaliação do quadril Hip Outcome Score ou I-hot 33 (OLIVEIRA et al., 2014). 81 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA 5.4 Testes especiais Os testes especiais incluem manobras usadas para definir outras fontes de sintomas, bem como aquelas usadas para definir sintomas localizados no quadril (BYRD, 2007). Os testes especiais são para fins confirmatórios de uma hipótese diagnóstica; não devem ser usados somente para formar um diagnóstico. Os resultados desses testes são utilizados em conjunto com outros achados clínicos da avaliação para conduzir o avaliador. Ambos os lados devem ser testados para fins de comparação. Durante a avaliação, somente os testes que o examinador considera necessários devem ser realizados. Quando um teste é positivo, ele sugere que exista um problema. Entretanto, quando o teste é negativo, ele não necessariamente descarta a existência de um problema (MAGEE, 2010). Sinal de Trendelenburg O sinal de Trendelenburg indica fraqueza do músculo glúteo médio durante a sustentação de peso unilateral. Essa posição produz forte contração do glúteo médio, que é poderosamente ajudado pelo glúteo mínimo e pelo TFL, com o objetivo de manter a pelve estabilizada (horizontal). Durante a marcha, quando o peso do corpo é sustentado pelo pé direito, os abdutores do quadril direito contraem-se isométrica e excentricamente para impedir o lado esquerdo da pelve de ficar puxado para baixo. O avaliador deve ficar atrás do paciente. É solicitado ao paciente que se posicione de pé em um só membro por cerca de 30 segundos, sem segurar em nada. É observado se a pelve permanece nivelada. Caso permaneça nivelada, o resultado do teste é negativo. Um sinal de Trendelenburg positivo é indicado se, durante a sustentação de peso unilateral, a pelve pender em direção ao membro não sustentado. Testa-se a musculatura abdutora do membro apoiado. Uma série de disfunções pode produzir esse sinal; essas incluem paralisia do nervo glúteo superior, hérnia de disco lombar, fraqueza do glúteo médio e degeneração avançada do quadril (MAGEE, 2010). (A) (B) (C) Figura 65 – Sinal de Trendelenburg Teste de Fadir O teste de rotação interna da flexão-adução serve para avaliar a possível presença de patologia intra-articular. O médico movimenta passivamente a perna do paciente posicionado em decúbito dorsal 82 Unidade III para, aproximadamente, 90° da flexão do quadril e do joelho. A perna é, então, aduzida passivamente e girada internamente, com sobrepressão para ambos os movimentos. A reprodução da dor na virilha é concordante com o sintoma do paciente. Figura 66 – Teste de Fadir Teste de Patrick/Fabere O teste de Fabere significa flexão, abdução e rotação externa. É um teste de triagem para disfunção em muitos lugares, mas principalmente da articulação sacroilíaca. Também para disfunções do quadril ou espasmo do iliopsoas. O paciente fica em decúbito dorsal, e o fisioterapeuta coloca o pé do membro testado no topo do joelho da perna oposta, formando um 4 com o membro do paciente. O avaliador abaixa lentamente a perna testada em abdução, na direção da mesa de exame. Um teste positivo resulta em dor e/ou perda de movimento quando comparado com o lado não envolvido. O teste é negativo quando o joelho do membro inferior testado abaixa até a mesa de exame. Quando positivo, o teste indica que pode haver comprometimento da articulação do quadril, espasmo do iliopsoas ou comprometimento da articulação sacrilíaca. Quando o teste é positivo, o membro do paciente pode não ter mobilidade para que o joelho encoste na mesa de avaliação, e o paciente pode referir dor na região sacrilíaca ou na região inguinal. Outro nome para esse teste é teste de Jansen (MAGEE, 2010). Fazer o paciente demonstrar a localização da dor com esse teste ajuda na sua interpretação. Figura 67 – Teste de Patrick/Fabere 83 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Teste log roll O teste log roll é mais específico para a patologia do quadril. Com o paciente em decúbito dorsal, realizando suavemente a rotação da coxa internamente e externamente, move-se a superfície articular da cabeça femoral em relação ao acetábulo, mas não estressa nenhuma das estruturas extra-articulares circundantes (BYRD, 2007). (A) (B) Figura 68 – Teste log roll Teste de Thomas O teste de Thomas original foi projetado para testar a flexibilidade do complexo do iliopsoas. O teste original envolve o posicionamento do paciente em dorsal, com um joelho flexionado abraçado junto ao corpo, no ponto onde a coluna lombar começa a flexionar. O avaliador observa se a coxa do membro contralateral mantém o contato com a superfície da mesa. Se a coxa estiver erguida da superfície da maca, o teste é positivo. O resultado positivo indica redução da flexibilidade dos músculos reto femoral, iliopsoas ou ambos (MAGEE, 2010). Figura 69 – Teste de Thomas Teste de Ober O teste de Ober é usado para avaliar a rigidez do trato iliotibial e do tensor da fáscia lata. O paciente é colocado na posição de decúbito lateral, com o quadril do lado superior a ser testado. É realizada uma leve flexão e abdução, com o joelho da perna testada flexionado. O teste é considerado positivo quando a perna não consegue abaixar (MAGEE, 2010). 84 Unidade III (A) (B) Figura 70 – Teste de Ober Teste do músculo piriforme O teste Fair é um teste sensível e específico para detecção de irritação do nervo ciático pelo piriforme. Fair significa flexão, adução e rotação interna. Também é conhecido como teste piriforme. Pode existir a compressão do nervo isquiático pelo músculo piriforme. Assim, o paciente é posicionado em decúbito lateral, com o quadril testado virado para o lado de cima. Passivamente, deve-se mover o quadril do paciente em flexão (90 graus), adução e rotação interna. O examinador estabiliza o quadril e aplica uma pressão para baixo no joelho para girar internamente e aduzir o quadril, colocando o piriforme em um trecho que comprime o nervo ciático. Um teste positivo ocorre quando a dor é produzida na área ciática/glútea (KIRSCHNER; FOYE; COLE, 2009). Figura 71 – Avaliação do músculo piriforme Teste de discrepância anatômica O teste de discrepância anatômica foi criado para triar ou confirmar a discrepância de membros e é realizado com o paciente deitado em decúbito dorsal. Com os membros inferiores estendidos, o terapeuta mede das espinhas ilíacas anteroinferiores até o maléolo medial (medida real) e do umbigo até o maléolo medial (medida aparente). O teste é positivo se houver uma diferença nas medidas dos membros inferiores (MMII). Até 1,5 cm não é considerado patológico para os pacientes (MAGEE,2010). 85 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA (A) (B) Figura 72 – Teste de discrepância anatômica; A) Medida aparente da cicatriz umbilical ao maléolo medial; B) Medida real da espinha ilíaca anterossuperior até o maléolo medial Saiba mais Para complementar seu estudo, sugerimos o site da Sociedade Brasileira de Quadril (SBQ), que possui diversas informações de patologias, processos cirúrgicos e reabilitação da articulação do quadril: https://www.sbquadril.org.br/ Observação Os testes funcionais são realizados com o objetivo de avaliar o equilíbrio, o controle motor e a força muscular. São testes clínicos voltados para o indivíduo que quer começar uma atividade física ou está retornando após ter sofrido alguma lesão e gostaria de saber como está sua capacidade muscular de membros inferiores. Os testes podem ser aplicados desde em atletas até idosos. Para os atletas ou adultos jovens, os mais utilizados para avaliar o controle neuromuscular do quadril e das estruturas musculares circundantes são o teste de agachamento unipodal e o teste step-down. O agachamento profundo e o hop test também podem ser utilizados. Para os demais indivíduos, podemos utilizar os testes funcionais, como o teste de caminhada de 6 minutos, o teste de sentar e levantar da cadeira em 30 segundos e o timed up and go (POWERS, 2010). 6 COMPLEXO ARTICULAR DO JOELHO 6.1 Descrição Caracterizada como uma articulação do tipo gínglimo ou dobradiça, a articulação do joelho possui extrema importância funcional e dinâmica nas nossas atividades diárias. 86 Unidade III Podemos considerar, em sua consistência, a interação dinâmica entre os compartimentos ósseos do fêmur distal e da tíbia proximal, formando a articulação tibiofemoral, bem como a conexão entre a tróclea do fêmur e a face articular da patela, que formará a articulação patelofemoral. Funcionalmente, é possível dizer que a articulação do joelho trabalha em dois planos, permitindo os movimentos de flexão, extensão, rotação medial e rotação lateral. Porém, estudos biomecânicos acabam nos mostrando o momento adutor e abdutor do joelho, proporcionando, assim, o famoso e prontamente discutido varo e valgo do joelho, respectivamente. Devido às suas peculiaridades anatômicas, faz-se necessário um entendimento mais apurado da articulação do joelho, sendo suas estruturas passivas e ativas, e de como elas se comportam durante as atividades funcionais e, consequentemente, em situações patológicas. Dessa forma, neste tópico, iremos discutir maneiras de identificação das estruturas do joelho e como avaliá-las passivamente e da forma ativa, a fim de formular um raciocínio clínico e, posteriormente, o tratamento fisioterapêutico. Anamnese Para dar a direção inicial da avaliação, a anamnese é de extrema importância durante o processo avaliativo. Devemos estar atentos às diversas condições que nosso paciente pode apresentar e sugestionar no início de um raciocínio clínico. Devemos iniciar pela coleta da história pregressa e atual, atentando-nos a possíveis mecanismos de traumas, ao período de manifestação dolorosa e, principalmente, a como tais sintomas se exacerbam ou melhoram. No quadro a seguir, podemos identificar alguns pontos relevantes que devem ser questionados durante o processo avaliativo: Quadro 6 – Variáveis e características na anamnese Variável Características Dados gerais e antropométricos Idade, sexo, altura, peso HMPA Início dos sintomas Mecanismo de trauma Limitações funcionais Características dolorosas Intensidade e local Características específicas Períodos de manifestações Atividades provocativas Atividade física/esportiva e laboral Especificidade Intensidade Afastamento? 87 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA 6.1.1 Exame físico Inspeção e observação Como toda e qualquer avaliação física fisioterapêutica, devemos iniciar pela inspeção da articulação envolvida. Dessa forma, vale salientar a atenção do fisioterapeuta para verificar características importantes, como as estruturas anatômicas em si e, posteriormente, outras características que possam estar fora do contexto anatômico considerado normal. Em um sentido mais amplo e generalizado, devemos começar a inspecionar possíveis alterações de coloração, hematomas, edema e até mesmo aspectos cicatriciais (se forem presentes), verificando junto a isso o trofismo muscular e as demais características anatômicas. Figura 73 – Vista anterior e posterior do joelho Pressupondo a condição clínica na qual o paciente se encontra, podemos dividir a inspeção em alguns pontos, sendo executada com o paciente em diferentes posicionamentos. Pode ser iniciada em decúbito dorsal, vistoriando a região anterior e as extremidades do joelho (compartimento medial e lateral), e, depois, em decúbito ventral, a fim de verificar toda a região posterior da articulação em destaque. A) B) Figura 74 – Vista lateral e medial 88 Unidade III O mesmo pode ser realizado com o paciente em ortostatismo, verificando tanto a região anterior e posterior quanto a lateral e medial do joelho, locais onde algumas estruturas devem ser inspecionadas com maior atenção. Palpação Considerada uma das etapas iniciais do processo avaliativo, a palpação se torna de extrema importância para nos conduzir a um diagnóstico cinético funcional e facilitar o início do entendimento clínico em questão. A condução dessa etapa ocorre sequencialmente. O terapeuta pode iniciar sua palpação pelo ponto ou trajeto doloroso e, em seguida, ir para áreas adjacentes. Entretanto, iremos sugestionar uma sequência lógica pensando nas características morfológicas e anatômicas da articulação. Dessa forma, é possível iniciar o procedimento pelas estruturas ósseas e seus respectivos acidentes anatômicos, que são ilustrados na figura a seguir: A – Fêmur distal (lateral e medial) B – Planalto tibial (lateral e medial) C – Polo inferior e superior da patela D – Linha articular do joelho E – Tuberosidade da tíbia F – Margem medial e lateral da patela A A C C F F BB DD E Figura 75 – Estruturas anatômicas Em relação aos tecidos moles, devemos levar em consideração as circunstâncias dolorosas que tal articulação está apresentando, pois a palpação pode ser um tanto quanto provocativa e irritativa, acentuando, assim, o quadro sintomatológico. A figura a seguir representa as estruturas que podem ser averiguadas: 89 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Vista posterior A – Tendão do bíceps femoral B – Fossa poplítea C – Flexores de joelho E – Músculo gastrocnêmio Vista anterior A – Tendão quadricipital B – Ligamento colateral tibial C – Ligamentos patelofemorais E – Tendão patelar F – Ligamento colateral fibular G – Tendões da pata de ganso H – Quadríceps A) B) Figura 76 – Estruturas anatômicas No que se refere à movimentação passiva, articular e amplitude de movimento, vamos verificar a qualidade osteocinemática e artrocinemática da articulação do joelho, bem como a quantificação de seus movimentos em graus. Essa é uma etapa crucial da avaliação, pois a constatação de restrições articulares pode sugestionar causas de alterações na dinâmica do movimento do joelho, levando à parte da formação do raciocínio clínico. Movimentação passiva • Flexão de joelho: o paciente pode estar deitado em decúbito dorsal com o quadril flexionado em 90º, e o terapeuta se posiciona ao lado do segmento a ser testado. Em seguida, com uma mão, é necessário segurar firmemente a região anterior do fêmur e, com a outra mão, segurar a região distal da tíbia. Posteriormente, o terapeuta flexiona o joelho do paciente de maneira lenta e progressiva, respeitando as possíveis limitações da articulação. O movimento de flexão de joelho pode ser realizado com o paciente deitado em decúbito ventral. O terapeuta irá posicionar uma de suas mãos sobre a tuberosidade isquiática, e sua outra mão deve estar segurando a região distal da tíbia. Assim, o terapeuta deve realizar o movimento de flexão de joelho.90 Unidade III A) B) Figura 77 – Flexão passiva de joelho • Extensão de joelho: na extensão de joelho, o paciente permanece deitado em decúbito dorsal, com o terapeuta posicionado ao lado do membro a ser testado. Com uma das mãos, deve ser realizada a estabilização na região anterior do fêmur, e a outra mão se mantém na tíbia distal (um pouco acima do tornozelo). Dessa forma, o terapeuta realiza a extensão do joelho, respeitando os limites articulares. Figura 78 – Extensão de joelho • Goniometria: na goniometria, o paciente permanece em decúbito dorsal. O fulcro do goniômetro deve ser colocado sobre a linha articular do joelho, com seu braço fixo paralelo à superfície lateral do fêmur, indo em direção ao trocânter maior. O braço móvel deve estar paralelo à face lateral da fíbula, direcionando para o maléolo lateral. Em seguida, deve ser realizado de forma ativa pelo paciente o movimento de flexão de joelho, no qual sua ADM varia de 0 a 140 graus. Figura 79 – Goniometria de joelho 91 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Para verificar a extensão de joelho, existem algumas variações. O posicionamento do goniômetro se mantém como ilustrado anteriormente, mas é solicitado que o paciente realize a extensão de joelho. Lembre-se que existem variações com o paciente em ortostatismo. 6.1.2 Avaliação da força muscular A avaliação da força muscular na articulação do joelho é fundamental para detectar possíveis falhas mecânicas e delimitar a terapêutica que será utilizada. Entretanto, existem algumas formas de verificar essa condição. O ideal seria a utilização da dinamometria, seja ela manual ou isocinética; porém, devido ao custo elevado, faz-se necessário utilizar outros métodos. Uma maneira mais simples, porém subjetiva, de avaliação da força muscular é através da resistência manual que é empregada pelo terapeuta. O objetivo é detectar a capacidade que um grupo muscular tem de gerar força de forma isométrica. O grupo muscular dos extensores de joelho deve ser testado com o paciente sentado e o terapeuta ao lado do membro a ser testado, sendo que uma de suas mãos deve estar sobre a face anterior e distal da tíbia. Em seguida, é solicitado que o paciente realize a extensão de joelho, enquanto o terapeuta resiste ao movimento. Para verificar o grupo muscular dos flexores de joelho, o paciente deve permanecer em decúbito ventral, e o terapeuta, com uma de suas mãos, estabiliza a região distal de fêmur; sua outra mão fica sobre a parte mais distal e posterior da tíbia. Dessa forma, deve ser solicitado para o paciente realizar o movimento de flexão de joelho. Assim, o examinador irá resistir ao movimento. A) B) Figura 80 – Avaliação da força muscular do joelho A força empregada pelo terapeuta deve ser variada, de menores resistências até maiores. É possível verificar, dessa forma, em qual condição o grupo muscular testado se encontra. 92 Unidade III Lembrete Um ponto extremamente importante no processo avaliativo é a verificação do padrão funcional do paciente em questão, na qual podemos averiguar como ocorrem tarefas que são essenciais no dia a dia, como trocas posturais, locomoção, subida e descida de degraus, sentar e levantar, ou até mesmo atividades com maiores exigências, como corrida e saltos. 6.1.3 Testes ortopédicos Como complemento da avaliação física, os testes ortopédicos podem sugestionar possíveis lesões ou disfunções que estejam ocorrendo na articulação em questão. Listamos, a seguir, os principais testes, juntamente com sua aplicabilidade. Integridade do LCA (gaveta anterior, Lachman, pivot shift) • Gaveta anterior: o paciente permanece em decúbito dorsal com o joelho fletido a 90° para que a superfície plantar do pé fique em contato com a maca. O examinador senta-se no pé do paciente e envolve a tíbia proximal com suas mãos, de forma a palpar o planalto tibial e os tendões do grupo dos músculos isquiotibiais medial e lateralmente, com os polegares e os dedos indicadores, respectivamente. Em seguida, realiza-se uma força para anteriorizar a tíbia em relação ao fêmur. O teste é considerado positivo quando é verificado um descolamento anterior da tíbia acentuado no lado afetado, quando comparado ao lado não afetado. A) B) Figura 81 – Teste de gaveta anterior • Lachman: o paciente deverá permanecer em decúbito dorsal com o joelho fletido a 15°. O examinador estabiliza o fêmur distal com uma mão e envolve a parte posterior da tíbia proximal com a outra, realizando uma força de translação anterior da tíbia. O teste é considerado positivo quando se nota um maior deslocamento anterior da tíbia no lado afetado, quando comparado ao lado contralateral. 93 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA A) B) Figura 82 – Teste de Lachman • Pivot shift: o paciente permanece em decúbito dorsal, e o terapeuta se posiciona ao lado do membro a ser testado. Em seguida, o examinador envolve um braço ao redor da perna do paciente, fixando-o com firmeza, e flexiona o joelho a 90º, enquanto usa a palma da outra mão para girar medialmente a tíbia, causando uma subluxação efetiva do platô tibial lateral. Na sequência, o examinador estende lentamente o joelho, mantendo a rotação da tíbia. Quando o joelho do paciente atinge a extensão total, o platô tibial é realocado. O teste é considerado positivo quando é notado um clique audível ou palpável. A) B) C) Figura 83 – Teste de pivot shift 94 Unidade III Integridade do LCP e CPL (gaveta posterior, sinal de Godfrey, Lachman posterior, pivot shift reverso, dial test) • Gaveta posterior: a fim de verificar a integridade do LCP, o posicionamento do teste de gaveta posterior será similar ao do teste de gaveta anterior. Entretanto, o terapeuta irá realizar uma força para posteriorizar a tíbia em relação ao fêmur. O teste é considerado positivo quando há um deslocamento posterior maior, quando comparado ao joelho contralateral; porém, depende do grau de movimento posterior da tíbia, classificando em grau 1+ (0-5 mm), grau 2+ (6-10 mm) e grau 3+ (11 mm +). Figura 84 – Teste de gaveta posterior • Sinal de Godfrey: no sinal de Godfrey, o paciente deve estar em decúbito dorsal com o quadril e o joelho fletidos a 90º. O examinador suporta a perna sob a parte inferior da panturrilha, suspendendo a perna no ar. O teste é positivo para uma ruptura do LCP quando há posteriorização da tíbia secundária à força gravitacional. Figura 85 – Sinal de Godfrey 95 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA • Lachman posterior: com o paciente em decúbito dorsal e o joelho fletido a 20º-30º, o examinador estabiliza o fêmur distal com uma mão e envolve a parte posterior da tíbia proximal com a outra mão. Em seguida, uma força deve ser aplicada na tíbia no sentido posterior. O teste pode ser considerado positivo quando o ponto final de travamento da articulação é ausente na direção posterior em comparação com o lado contralateral, evidenciando uma maior translação para esse sentido. Figura 86 – Teste de Lachman posterior • Pivot shift reverso: o paciente deve estar deitado em decúbito dorsal com o joelho fletido a 70-80°, onde uma rotação externa do pé e da perna é aplicada. Em seguida, o terapeuta inclina-se ligeiramente contra o pé, transmitindo uma carga axial através da perna e uma tensão em valgo aplicada ao joelho, usando a crista ilíaca como um fulcro. À medida que o joelho se aproxima de 20° de flexão, pode-se sentir e observar o platô tibial lateral se movendo anteriormente com um deslocamento tipo jerk de uma posição de subluxação posterior e rotação externa para uma posição de redução e rotação neutra. Essa redução é indicativa de um teste positivo. A) B) Figura 87 – Pivot shift reverso 96 Unidade III • Dial test: com o objetivo de verificar a integridade do LCP e CPL do joelho, este teste possui variações de posicionamentos, que serão diferenciadas se tivermos a lesão isolada ou em conjuntos das estruturas posterolaterais do joelho. O teste pode ser feito como paciente em decúbito ventral ou dorsal, como veremos a seguir. Iremos inspecionar a rotação externa da articulação do joelho, enquanto os joelhos estão em 30° e 90° de flexão. Em decúbito ventral, o examinador flexiona os joelhos do paciente para 30° e coloca as duas mãos nos pés do paciente, colocando-as nos calcanhares. Uma força de rotação externa máxima é aplicada, e o ângulo do pé-coxa é medido e comparado com o outro lado. Os joelhos são, então, flexionados para 90°, e novamente uma força de rotação externa é aplicada e o ângulo da coxa é medido. A) B) Figura 88 – Dial test em decúbito ventral Em decúbito dorsal, como na posição anterior, os joelhos são mantidos juntos e dobrados a 30°. O examinador vira as pernas e os pés para fora e compara a quantidade de rotação externa usando o tubérculo tibial como ponto de referência. É necessário repetir o teste com os joelhos a 90°. A) B) Figura 89 – Dial test em decúbito dorsal 97 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA O teste é positivo se: a lesão isolada do CPL, quando a mais de 10° de rotação externa no joelho lesionado, apresenta-se a 30° de flexão, mas não a 90° de flexão; a instabilidade do LCP, quando a mais de 10° de rotação externa no joelho lesionado, apresenta-se a 90° de flexão, mas não a 30° de flexão; e, por fim, a lesão combinada, quando a mais de 10° de rotação externa no joelho lesionado, apresenta-se a 30° e 90° de flexão. Integridade ligamentar medial e lateral (stress em valgo e stress em varo) • Stress em valgo: o paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal e o quadril ligeiramente abduzido e estendido, de forma que a coxa esteja apoiada na superfície da mesa. O joelho é flexionado a 30° sobre a lateral da mesa, e o examinador coloca uma mão na lateral do joelho, enquanto a outra segura a parte inferior da perna. Deve-se aplicar suavemente uma força lateral à força medial no joelho, enquanto a mão no tornozelo gira a perna ligeiramente para fora. Em seguida, é necessário repetir o teste com o joelho em extensão total. Um teste é positivo quando há abertura medial excessiva e dor concordante quando comparado ao joelho não acometido. Se o teste for positivo a 30°, o LCM está implicado. Se o teste for positivo a 0°, então o LCA e/ou a cápsula articular estão implicados. A) B) Figura 90 – Stress em valgo • Stress em varo: utiliza-se o mesmo posicionamento do teste anterior, mas deve ser aplicada suavemente uma força medial à lateral no joelho, enquanto a mão no tornozelo gira a perna ligeiramente. Também deve ser repetido o teste com o joelho em extensão total. Um teste é positivo quando há abertura medial excessiva e dor concordante quando comparado ao joelho não acometido. Se o teste for positivo a 30°, o LCL está implicado. Se o teste for positivo a 0°, então o CPL e/ou a cápsula articular estão implicados. 98 Unidade III A) B) Figura 91 – Stress em varo Testes meniscais • Apley de compressão e Apley de distração: com o paciente em decúbito ventral, o examinador se ajoelha, colocando o joelho no tendão do paciente, e flexiona o joelho a 90°. Em seguida, deve agarrar o pé do paciente com ambas as mãos, distrair a tíbia e girá-la, observando se a dor é reproduzida ou não. Um teste positivo é indicado pela piora da dor com a rotação e é indicativo de uma torção de rotação dos tecidos moles. O examinador, então, apoia-se no pé do paciente, fornecendo uma força compressiva à tíbia, e novamente gira a tíbia. O teste é positivo para lesão do menisco quando é indicado por mais dor na compressão do que na distração. A) B) Figura 92 – Teste de Apley de compressão e de distração • McMurray: com o paciente em supino, o examinador fica ao lado do joelho a ser testado, onde agarra o calcanhar do paciente e flexiona o joelho até o final com uma mão enquanto usa o polegar e o indicador da outra mão para palpar a linha articular tibiofemoral medial e lateral. 99 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Para testar o menisco medial, o examinador rotaciona a tíbia em rotação externa, depois estende lentamente o joelho. Já para testar o menisco lateral, o examinador reflete o joelho, mas agora gira internamente a tíbia do paciente e lentamente estende o joelho. Um teste positivo é tradicionalmente indicado por um clique audível ou palpável. A) B) Figura 93 – Teste de McMurray Testes femoropatelares • Sinal de Clarke: o paciente é posicionado em decúbito dorsal com os dois joelhos apoiados em uma almofada. Em seguida, o examinador coloca a mão na borda superior da patela e aplica uma pressão no sentido distal enquanto o paciente está relaxado. Posteriormente, é solicitado ao paciente para contrair o quadríceps. O teste é considerado positivo quando há reprodução dos sintomas e dor. Figura 94 – Sinal de Clarke • Teste de flutuação: o paciente é posicionado em decúbito dorsal, e o terapeuta permanece ao lado do membro a ser testado. Uma de suas mãos deve acoplar a patela no sentido inferior com os dedos indicador e médio e superior com o polegar. Com sua outra mão, deve realizar uma pressão 100 Unidade III craniocaudal na patela. O teste é considerado positivo quando há uma depressão da patela nesse sentido, indicando excesso de edema. Figura 95 – Teste de flutuação • Apreensão para subluxação patelar: o paciente permanece em decúbito dorsal, e o terapeuta deve ficar ao lado do membro que será avaliado. Em seguida, com seus dedos polegares posicionados na margem medial da patela, deve realizar uma força para lateralizá-la. O teste é considerado positivo quando o paciente responde com uma contração do quadríceps. Figura 96 – Teste de apreensão para subluxação patelar • Apreensão de Fairbanks: o paciente é posicionado em decúbito dorsal com um joelho relaxado flexionado passivamente a 30° sobre o lado da mesa de exame, com o pé apoiado no examinador. Posteriormente, o terapeuta pressiona os dois polegares na margem medial da patela, realizando uma força lateral. O teste é considerado positivo quando o paciente mostra sinais de apreensão (resiste à força lateral e tenta estender o joelho) ou a dor é reproduzida. 101 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Figura 97 – Teste de apreensão de Fairbanks Lembrete A quantificação da melhora clínica do paciente é fundamental para progredirmos ou repensarmos nossas condutas terapêuticas. Dessa forma, a utilização de escalas e questionários pode ser uma grande aliada no complemento avaliativo, no qual devemos verificar questões funcionais, dolorosas, qualidade de vida e até mesmo aspectos psicossociais. Saiba mais Para complemento do estudo, sugerimos o site do Dr. Robert LaPrade, que possui diversas informações de patologias, processos cirúrgicos e reabilitação da articulação do joelho: https://drrobertlaprademd.com/ 6.2 Complexo articular do tornozelo e pé 6.2.1 Descrição Os principais motivos para o paciente procurar auxílio do fisioterapeuta relacionado ao pé e tornozelo são: dor, edema, deformidade, rigidez, instabilidade e/ou marcha fora do padrão normal. Um bom exame clínico pode complementar a história e ajudar o fisioterapeuta a fazer o diagnóstico preciso do problema do paciente. 102 Unidade III 6.2.2 Exame físico O exame físico deve ser iniciado a partir do primeiro contato visual com o paciente, no qual é possível observar sua marcha, a utilização de algum dispositivo auxiliar de caminhada e as dificuldades em exercer a tarefa. Para que o exame físico ocorra, é necessário que o paciente exponha ambos os membros inferiores do joelho para baixo, no mínimo, possibilitando uma avaliação completa e detalhada. Inspeção estática • Anterior: o examinador deve solicitar ao paciente que fique em pé, com as pernas levemente afastadas, a fim de obter uma boa comparação entre os pés. Inicialmente, deve-se observar o alinhamento geral do pé e tornozelo, analisando possíveis rotações do segmento e do comprimento aproximado das pernas. Em seguida, deve começar a inspeçãode distal para proximal, observando a presença de deformidade nos dedos, especialmente hálux valgo (desvio medial do primeiro metatarso e lateral da falange proximal de distal do hálux), deformidades nos dedos menores e bunionette (protuberância na cabeça do quinto metatarso). As principais deformidades dos dedos menores são definidas no quadro a seguir: Quadro 7 – Deformidades dos dedos menores Nome Deformidade Dedo em malho Flexão da articulação interfalangeana distal (AID). Dedo em martelo Extensão da articulação metatarsofalangeana (MTF) e AID e flexão da articulação interfalangeana proximal (AIP). Dedo em garra Flexão da AIP e AID. Durante a inspeção, é essencial identificar a presença de úlceras ou calosidades sobre as articulações, além de analisar as deformidades das unhas, que podem estar relacionadas às deformidades dos dedos. Em seguida, deve-se analisar o estado da pele, observando a presença de cicatriz, edema, varicosidades e eritema. • Lateral-medial: o fisioterapeuta analisa o pé medialmente e identifica a presença ou ausência do arco longitudinal medial (ALM) (arco formado de posterior para anterior do pé com convexidade dorsal). A ausência do ALM é definida como pé plano, e a excessiva convexidade dorsal é definida como pé cavo. Um ALM baixo pode ser congênito ou estar associado a trauma, disfunção do tendão tibial posterior, artrite reumatoide ou contração do tendão calcâneo. A análise do ALM deve ser feita com e sem a descarga de peso. Um paciente que tenha um pé plano flexível parecerá ter um arco normal ou quase normal sem descarga de peso, mas terá uma perda substancial da altura do ALM quando estiver com descarga de peso. O pé cavo pode ser idiopático ou associado a doença congênita ou neurológica. 103 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA A observação no plano frontal também permite identificar de forma mais precisa as deformidades dos dedos menores, tornando importante a análise. • Posterior: deve-se analisar a presença de edema na região do tendão calcâneo e observar se existe diferença na massa muscular do tríceps sural. É necessário observar, também, a quantidade de dedos visíveis na vista posterior. Em um pé normal, poderão ser vistos somente o quarto e o quinto dedos olhando de trás. Se for possível a visualização de mais dedos, esse sinal é chamado de sinal de excesso de dedos, o que pode indicar um aumento do ângulo do calcanhar valgo. O pé plano é a causa mais frequente de sinal de excesso de dedos bilaterais; porém, se o sinal for presente somente em um dos lados, o paciente pode apresentar uma disfunção do tendão do tibial posterior. Essa é a oportunidade ideal para visualizar o paciente caminhar com o intuito de avaliar o padrão de marcha. Inspeção dinâmica • Marcha: o fisioterapeuta deve permitir que o paciente utilize o dispositivo auxiliar de marcha, caso faço uso do mesmo. Em seguida, deve pedir ao paciente para andar de acordo com sua marcha normal e observar o caminhar pela frente, pelas costas e pelos lados, analisando os movimentos do quadril, do joelho, do tornozelo e do pé, e identificando alterações nas fases da marcha, no comprimento do passo, na cadência e na posição antálgica. É necessário analisar se ocorre a queda do pé na fase de contato inicial; isso pode ocorrer por fraqueza do músculo tibial anterior (por exemplo, por paralisia do nervo fibular), mas a queda pode ser compensada pela ação do extensor longo do hálux e extensor longo dos dedos para realizar a dorsiflexão do tornozelo. Pacientes com rigidez articular do tornozelo adotam um padrão de marcha em rotação lateral do pé, compensando a falta de dorsiflexão do tornozelo. Durante a avaliação, pode ser difícil identificar alterações relevantes na marcha do paciente. Deve-se solicitar ao paciente para andar mais rápido, pois isso faz com que anormalidades sutis na marcha se tornem mais aberrantes. A marcha antálgica pode ocorrer em qualquer condição de dor no membro inferior, sendo a fase de apoio mais curta no lado afetado, resultando em menor comprimento da passada no lado não envolvido e, em geral, diminuindo a velocidade de caminhada. Em seguida, é preciso solicitar ao paciente para andar na ponta dos pés; depois, nos calcanhares, nas bordas internas e, finalmente, nas bordas externas dos pés. Andar sobre os calcanhares é uma forma de avaliar a força dos dorsiflexores, especialmente do tibial anterior. A fraqueza dos dorsiflexores é uma suspeita de comprometimento do nervo fibular 104 Unidade III (L4, L5) ou radiculopatia L4. A marcha na ponta dos pés é um teste para avaliar a força dos flexores plantares. A incapacidade de realizar essa marcha pode representar fraqueza dos flexores plantares, suspeita de lesão do tendão calcâneo e/ou disfunção do nervo ciático ou tibial. Andar sobre a borda interna do pé testa a força dos eversores do pé, principalmente dos músculos fibulares e do nervo fibular superficial, mas é raramente solicitado devido à relativa dificuldade para a maioria dos pacientes. Por fim, caminhar sobre a borda lateral do pé testa a força de inversão, que é a função primária do músculo tibial posterior e do nervo tibial. Durante a avaliação da marcha, é essencial analisar a fase e a subdivisão da fase em que ocorre a dor do paciente, podendo se relacionar com alterações biomecânicas envolvidas, como o aumento da pronação ou supinação, a diminuição da extensão do hálux etc. • Tibial posterior: em ortostatismo bipodal, o calcanhar adota uma posição em valgo pequena. Para testarmos a integridade do tendão do tibial posterior, é importante solicitarmos ao paciente que realize o movimento de flexão plantar na posição de ortostatismo (elevar o calcanhar, ficando na ponta dos pés). O que se deve observar é o movimento de varo do calcâneo, devido à tração do músculo tibial posterior, que é um poderoso flexor e inversor do retropé. Assim como o músculo ativa para elevar o calcanhar, o tendão intacto puxará o retropé em varo. A realização do teste em apoio bipodal pode mascarar o resultado, devido ao fato de a perna assintomática compensar a perna sintomática. Portanto, torna-se relevante a realização do teste em apoio unipodal. Outra compensação que pode mascarar o teste é a ação do flexor longo do hálux e do flexor longo dos dedos, compensando a ação do tibial posterior fraco. Porém, como esses músculos possuem um ventre muscular pequeno, a fadiga é rápida; portanto, é importante solicitar ao paciente que realize diversas repetições de flexão plantar, excluindo as compensações. Palpação óssea Figura 98 – Palpação do maléolo medial 105 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar a grande saliência na região medial do tornozelo, conhecida como maléolo medial, e explorar as extremidades. Figura 99 – Palpação do maléolo lateral • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar a grande saliência na região lateral do tornozelo, conhecida como maléolo lateral, e explorar as extremidades. Figura 100 – Palpação do osso navicular • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar o maléolo medial. 106 Unidade III — Deslizar o polegar no sentido distal e anterior, em direção ao arco longitudinal medial. — Será perceptível uma saliência medial e arredondada. Lembrete O osso tálus é o único osso que não possui inserção muscular. Figura 101 – Palpação do osso calcâneo • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Com o polegar e a extremidade dos outros dedos, identificar o calcanhar e palpar o amplo e arredondado calcâneo. Figura 102 – Palpação dos ossos cuneiformes 107 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar o navicular. — Na região do dorso do pé, deslizar o polegar no sentido distal e lateral. Figura 103 – Palpação do osso cuboide • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar a face lateral do calcâneo. — Deslizar o polegar distal e anterior sobre o osso cuboide.Figura 104 – Palpação da base do quinto metatarso 108 Unidade III • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar a margem lateral do pé sobre o quinto metatarso. — Deslizar o polegar para proximal até identificar uma saliência pontiaguda na base do quinto metatarso. Figura 105 – Palpação do tubérculo medial do calcâneo • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar a superfície plantar do calcâneo. — Deslizar o polegar no sentido distal e medial; será possível sentir o tubérculo medial do calcâneo. Figura 106 – Palpação da cabeça dos metatarsos 109 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar a região distal dos metatarsos. — Realizar uma flexão ampla dos dedos; a cabeça dos metatarsos ficará proeminente dorsalmente. Figura 107 – Palpação dos ossos sesamoides • Posição do paciente: decúbito dorsal com hálux estendido. — Identificar a extremidade distal do primeiro metatarso. — Palpar os pequenos e arredondados sesamoides, imediatamente proximal à articulação metatarsofalangeana. Palpação de tecidos moles Figura 108 – Tibial anterior 110 Unidade III • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar a margem anterior da tíbia e, com o polegar, deslizar para lateral. Palpar o ventre muscular no sentido distal, em direção à base do primeiro metatarso. — Realizar uma resistência contrária a uma dorsiflexão ativa para assegurar a identificação correta do músculo. Figura 109 – Extensor longo dos dedos • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Deslizar o polegar no sentido lateral sobre o tibial anterior até o ventre do músculo extensor longo dos dedos. — Opor resistência durante a extensão do segundo ao quinto dedo para a identificação correta do músculo. Figura 110 – Extensor longo do hálux 111 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Deslizar o polegar no sentido lateral sobre o tibial anterior até o ventre do músculo extensor longo dos dedos. O extensor longo do hálux está localizado profundamente entre o tibial anterior e o extensor longo dos dedos. — Opor resistência à extensão do hálux para melhor identificação. Figura 111 – Fibular longo • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar a face lateral da cabeça da fíbula e palpar distalmente sobre o ventre do fibular longo. — Palpar o tendão posterior ao maléolo lateral. — Realizar uma resistência à eversão do pé para assegurar a identificação correta. Figura 112 – Fibular curto 112 Unidade III • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar a face posterior do maléolo lateral e palpar o tendão do fibular longo e curto. — O tendão do fibular curto é mais anterior. Palpar o mesmo até a tuberosidade do quinto metatarso. O ventre muscular fica profundo ao fibular longo, dificultando sua palpação. A resistência contra a eversão facilita a precisão da palpação. Figura 113 – Fibular terceiro • Posição do paciente: decúbito dorsal. — Identificar a margem anterior do maléolo lateral, deslizar o polegar para medial e identificar as fibras do fibular terceiro. — Palpar até sua inserção na face dorsal da base do quinto metatarso. — Opor resistência à eversão associada à dorsiflexão para a identificação correta. Figura 114 – Gastrocnêmio 113 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA • Posição do paciente: decúbito ventral. — Identificar a massa muscular distal à fossa poplítea. — Deslizar a mão para lateral e medial para palpar ambas as cabeças do gastrocnêmio. — Opor resistência à flexão plantar para a correta identificação. Figura 115 – Sóleo • Posição do paciente: decúbito ventral com joelho flexionado. — Identificar a cabeça medial e lateral do gastrocnêmio. — Deslizar a mão no sentido distal e palpar o músculo sóleo. Sua palpação pode ser realizada profundamente sobre o músculo gastrocnêmio também. Figura 116 – Tibial posterior 114 Unidade III Posição do paciente: decúbito ventral com joelho flexionado. — Identificar a margem medial da tíbia e deslizar os dedos para posterior. — Opor resistência de flexão plantar associada à inversão para a identificação precisa. Observação Para verificar a necessidade de um exame de imagem, como o raio-X, na suspeita de uma fratura do tornozelo e do pé, é necessária a aplicação dos critérios de Ottawa Ankle Rules, que consistem na palpação de algumas estruturas ósseas, como o aspecto anterior do maléolo medial e lateral e o tálus anterior. Goniometria Figura 117 – Dorsiflexão e flexão plantar • Posição do paciente: decúbito dorsal. — O eixo do goniômetro deve estar posicionado sobre o maléolo lateral. O braço fixo do goniômetro fica alinhado à fíbula, e o braço móvel alinhado ao quinto metatarso (MARTIN; MCPOIL, 2005). 115 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Figura 118 – Inversão e eversão • Posição do paciente: decúbito ventral com pés para fora da maca. — O eixo do goniômetro deve estar posicionado na altura da articulação tibiotársica. O braço fixo fica alinhado à face posterior da tíbia, e o braço móvel deve ser colocado na linha posterior e central do calcâneo (ELVERU; ROTHSTEIN; LAMB, 1988). Perimetria Figura 119 – Figura em 8 do tornozelo 116 Unidade III • Marcar com uma caneta os seguintes pontos de referência: tuberosidade do navicular, base do quinto metatarso e ponta distal do maléolo medial e lateral. • Utilizando uma fita métrica: colocar o zero da fita no ponto médio entre o tendão do tibial anterior e o maléolo lateral; direcionar a fita à tuberosidade do navicular; passar a fita pela região plantar até a base do quinto metatarso; cruzar a fita sobre o tendão do tibial anterior; passar sobre o ponto distal do maléolo medial; passar a fita sobre o tendão calcâneo em direção ao maléolo lateral; passar distalmente sobre a ponta do maléolo lateral; terminar a medição no início da fita. • Deve haver a comparação com o lado contralateral (ESTERSON, 1979). 6.2.3 Avaliação de força muscular Figura 120 – Tibial anterior O paciente realiza uma força para dorsiflexão associada à inversão do pé, e o terapeuta aplica uma força no sentido oposto: flexão plantar e eversão (KENDALL, 2007). Figura 121 – Tibial posterior 117 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA O paciente realiza uma força para flexão plantar associada à inversão do pé, e o terapeuta aplica uma força no sentido de dorsiflexão e eversão (KENDALL, 2007). Figura 122 – Fibular longo e fibular curto O paciente realiza uma força para eversão do pé com flexão plantar, e o terapeuta promove uma resistência em direção à dorsiflexão e inversão (KENDALL, 2007). Figura 123 – Gastrocnêmios Com o joelho estendido, o terapeuta aplica uma resistência sobre a parte posterior do calcâneo em direção distal, e o paciente realiza a força para flexão plantar (KENDALL, 2007). 118 Unidade III Figura 124 – Sóleo Com o joelho flexionado, o terapeuta aplica uma resistência sobre a parte posterior do calcâneo em direção distal, e o paciente realiza a força para flexão plantar (KENDALL, 2007). Figura 125 – Extensor longo e curto dos dedos O paciente realiza a extensão do segundo ao quinto dedo, e o terapeuta realiza uma força para flexão dos dedos (KENDALL, 2007). 119 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Figura 126 – Flexor longo dos dedos O paciente realiza a flexão das falanges distais, e o terapeuta realiza uma força para extensão das falanges distais (KENDALL, 2007). Figura 127 – Flexor curtos dos dedos O paciente realiza a flexão das falanges médias, e o terapeuta realiza uma força para extensão das falanges médias (KENDALL, 2007). Figura 128 – Teste de resistência do tríceps sural 120 Unidade III Com a ponta dos dedos das mãos apoiada sobre a parede para promover equilíbrio, o paciente se mantém em apoio unipodal e, em seguida, realiza a flexão plantar. O paciente deve realizar o máximo de repetições que conseguir, e o terapeuta contabilizará a quantidade de repetições realizadas. O teste deve ser interrompidocaso o paciente não consiga manter a mesma altura de elevação do calcanhar, mas deve ser avisado que está perdendo a altura. Deve haver a comparação com o lado contralateral (MÖLLER et al., 2005). Movimentos ativos e passivos São movimentos ativos e passivos, de acordo com Magee (2005): • flexão plantar; • dorsiflexão; • supinação; • pronação; • extensão dos dedos; • flexão dos dedos. Figura 129 – Movimentos ativos sem descarga de peso 121 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Figura 130 – Movimentos ativos com descarga de peso Os movimentos passivos devem ser realizados sem sustentação de peso, e o terapeuta é quem deve realizar os movimentos, não o paciente (LANDEROS; FROST; HIGGINS, 1968). Figura 131 – Gaveta anterior do tornozelo 122 Unidade III • Com uma das mãos, o terapeuta deve segurar a parte posterior do calcanhar e, com a outra mão, a região anterior da tíbia. • Tracionar o calcanhar para anterior e empurrar a tíbia para posterior. O teste é positivo quando apresenta um movimento excessivo se comparado ao outro lado, representando lesão do ligamento talofibular anterior. Figura 132 – Gaveta posterior do tornozelo • Com uma das mãos, segurar a parte anterior do tálus e, com a outra mão, a região posterior da tíbia. • Empurrar o tálus para posterior e a tíbia para anterior. O teste é positivo quando apresenta um movimento excessivo se comparado ao outro lado, representando lesão do ligamento talofibular posterior (LANDEROS; FROST; HIGGINS, 1968). Figura 133 – Teste de Thompson 123 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA • Com o paciente deitado em decúbito ventral com os pés para fora da maca, o examinador realiza uma compressão no tríceps sural. • Quando realizada a compressão, o pé deve realizar a flexão plantar. Caso a flexão plantar não ocorra, o teste é considerado positivo para ruptura do tendão calcâneo (THOMPSON, 1962). Figura 134 – Sinal de Holman • O paciente é posicionado em decúbito dorsal com o joelho levemente flexionado. • O avaliador realiza uma dorsiflexão forçada no tornozelo do paciente. O teste é positivo para trombose venosa profunda se houver dor poplítea e na panturrilha (COOK; HEGEDUS, 2013). Figura 135 – Teste de estresse em inversão 124 Unidade III • O joelho do paciente deve ser flexionado a 90°. Com uma mão, o terapeuta estabiliza a região da tíbia distal no aspecto medial; com a outra mão, segura o calcâneo e realiza o movimento de inversão. O teste é positivo quando há excesso de movimento e/ou dor lateral (ALAZZAWI et. al., 2017). Figura 136 – Teste de estresse em eversão • O joelho do paciente deve ser flexionado a 90°. Com uma mão, o terapeuta estabiliza a região da tíbia distal no aspecto lateral; com a outra mão, segura o calcâneo e realiza o movimento de eversão. O teste é positivo quando há excesso de movimento e/ou dor medial (ALAZZAWI et. al., 2017). Resumo Nesta unidade, vimos como avaliar um quadril com alterações mecânicas e com sintomatologia de dor. A avaliação é um instrumento fundamental para definir o tratamento ideal no campo de atuação da reabilitação. Lidamos com músculos, ligamentos, tendões, ossos, mas não podemos esquecer os desfechos importantes, como a função do paciente, que engloba sua capacidade de locomoção, autocuidado (trocar de roupa, tomar banho etc.), alterações na rotina (ser capaz ou não de trabalhar, por exemplo), nas atividades de lazer e na parte social. Alterações no quadril podem levar a alterações na qualidade de vida do paciente. Para avaliar, é essencial conhecer a história pregressa e atual, o início dos sintomas e os fatores de melhoria e piora, assim como identificar os locais de dor de acordo com a anatomia através da palpação. 125 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Incluem-se também no exame físico a avaliação da força muscular e a amplitude de movimento, pois são alguns dos sinais de alterações mais comuns apresentados. Para avaliar a força, podemos utilizar a classificação de força muscular de Kendall; para a mobilidade, pode-se usar a goniometria. Também é importante verificar se o paciente possui discrepância de membros. A fim de descartar ou guiar um diagnóstico, podemos utilizar os testes especiais, como o Fadir, o Fabere, o log roll e o sinal de Trendelenburg. E, para completar e conhecer mais sobre a funcionalidade do paciente, podemos utilizar alguns questionários e algumas escalas, além de testes funcionais. Considerada uma articulação do tipo gínglimo ou dobradiça, a articulação do joelho é composta pela interação entre tíbia proximal e fêmur distal (articulação tibiofemoral) e tróclea do fêmur com a face articular da patela (articulação femoropatelar). Quanto às suas características funcionais, podemos considerar no plano sagital os movimentos de flexão e extensão, mas também pequenas rotações (interna e externa), bem como valgo e varo. Devido à sua importância funcional e motora, a avaliação do joelho se torna essencial para a prática fisioterapêutica, na qual devemos levar em consideração diversas características. A formação de um raciocínio clínico é imprescindível para um fisioterapeuta, e seu processo avaliativo se inicia com a anamnese, coletando e compreendendo detalhes que possam passar despercebidos. Posteriormente, devemos realizar o exame físico, averiguando características peculiares através da inspeção e palpação de estruturas ósseas e tecidos moles, progredindo para a movimentação passiva e ativa do joelho, até chegarmos à verificação da amplitude de movimento pela goniometria. Para dar sequência ao processo avaliativo, é preciso verificar o grau de força muscular, que é o direcionamento inicial para formularmos uma possível conduta terapêutica. Somada a tais fatores, a realização de testes ortopédicos nos auxilia a sugestionar possíveis patologias ou alterações locais na articulação do joelho, variando entre testes ligamentares, meniscais ou condrais. Também procuramos demonstrar nesta unidade a abordagem do fisioterapeuta durante uma avaliação da articulação de todo o complexo de tornozelo e pé, incluindo os aspectos relevantes durante um exame físico, a 126 Unidade III análise das deformidades dos artelhos e todas as considerações anatômicas nas respectivas vistas lateral, anterior, posterior e medial. Além disso, vimos como funcionam todos os testes especiais, a avaliação de força muscular e a palpação minuciosa das referências anatômicas. Enfatizamos quais são os principais motivos que levam o paciente a procurar auxílio do especialista relacionado ao pé e ao tornozelo. Através de um bom exame clínico, o paciente pode complementar a história e ajudar o fisioterapeuta a fazer o diagnóstico preciso do problema apresentado. Exercícios Questão 1. (Instituto AOCP 2017) Para observar mais claramente a tabaqueira anatômica, o fisioterapeuta solicita ao paciente que estenda o polegar ativamente. Nesse caso, nota-se que: A) Com o punho em posição anatômica, na palpação proximal, localiza-se o processo estiloide da ulna na face medial. Ao mover-se medialmente sobre a ulna, o fisioterapeuta chega ao tubérculo radial. Ainda com o punho em posição anatômica, o processo estiloide do rádio é palpado na face lateral. B) Com o punho em posição anatômica, na palpação proximal, localiza-se o processo estiloide do rádio na face lateral. Ao mover-se medialmente sobre o rádio, o fisioterapeuta chega ao tubérculo radial. Ainda com o punho em posição anatômica, o processo estiloide da ulna é palpado na face medial. C) Com o punho fletido, na palpação proximal, localiza-se o processo estiloide do rádio na face medial. Ao mover-se lateralmente sobre o rádio, o fisioterapeuta chega ao tubérculo radial. Ainda com o punho em flexão, o processo estiloide da ulna é palpado na face lateral. D) Com o punho em extensão, na palpação proximal, localiza-se o processo estiloide da ulna na face lateral. Ao mover-se lateralmente sobre a ulna, o fisioterapeuta chega ao tubérculoradial. Ainda com o punho em extensão, o processo estiloide do rádio é palpado na face medial. E) Com o punho em posição anatômica, na palpação distal, localiza-se o processo estiloide da ulna na face lateral. Ao mover-se lateralmente sobre o rádio, o fisioterapeuta chega ao tubérculo radial. Ainda com o punho em posição anatômica, o processo estiloide da ulna é palpado na face medial. Resposta correta: alternativa B. Análise da questão A tabaqueira anatômica apresenta-se como uma depressão, observável na face lateral do dorso da mão quando o polegar está em extensão. 127 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Quadro 8 Limites Medial: tendão do músculo extensor longo do polegar. Lateral: tendão do músculo extensor curto do polegar e tendão do músculo abdutor longo do polegar. Base: processo (apófise) estiloide do rádio. Assoalho: escafoide, trapézio, base do primeiro osso metacarpiano. Disponível em: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/tabaqueira-anatomica. Acesso em: 1 out. 2019. Questão 2. (FCC 2009) Doença de Perthes ou Legg-Calvé-Perthes é uma necrose idiopática juvenil da cabeça do fêmur. Há um infarto seguido por um colapso, uma fragmentação da cabeça do fêmur e, por fim, uma cicatrização gradual. As crianças com doença de Perthes tendem a desenvolver uma postura em flexão e adução de quadril. Nesses quadros, o programa de exercícios, além de encorajar o quadril a remodelar como uma articulação congruente, deverá focar o ganho de força e a manutenção da amplitude de: A) Rotação medial e lateral de quadril. B) Flexão e adução de quadril. C) Rotação lateral e flexão de quadril. D) Adução e rotação medial de quadril. E) Abdução e extensão do quadril. Resposta correta: alternativa E. Análise da questão Especialmente a abdução de quadril aumenta a congruência articular, melhorando a biomecânica do quadril e, por conseguinte, diminuindo as complicações da doença. Além disso, a extensão de quadril é fundamental para a manutenção funcional da marcha, da corrida, do salto etc. O plano sagital deve ser priorizado do ponto de vista funcional.
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