Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gestão da Inovação W B A 0 5 5 2 _ v1 .3 2/227 Gestão da Inovação Autoria: Lady Tatiana Bermúdez Rodríguez Como citar este documento: RODRÍGUEZ, Lady Tatiana Bermúdez. Gestão da Inovação. Valinhos: 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Bases conceituais da Gestão da Inovação 05 Unidade 2: Transferência tecnológica 29 Unidade 3: Informação como base de geração de conhecimento 56 Unidade 4: Inovação tecnológica 86 Unidade 5: Inteligência tecnológica 114 Unidade 6: Prospecção tecnológica e vigilância tecnológica 142 Unidade 7: Roadmaps tecnológicos 171 Unidade 8: Gestão do portfólio de projetos de inovação na empresa 202 2/227 3/227 Apresentação da Disciplina Nos últimos anos a sociedade tem tido gran- des mudanças relacionadas principalmente à globalização da economia, transformação do perfil de produção de bens e serviços e à importância cada vez mais relevante da va- riável ambiental, dos ativos intangíveis, das tecnologias da informação e comunicação (TICs) e da ciência, tecnologia e inovação. Neste sentido, passamos de uma sociedade industrial baseada em aço, ferro e tecno- logias de manufatura, para uma sociedade baseada no conhecimento e na inovação. Segundo Castells (1999) estamos viven- do num intervalo da historia caracterizado pela transformação de nossa “cultura ma- terial” para um novo paradigma tecnológi- co organizado ao redor das TICs. Este novo paradigma transforma a maneira em que trabalhamos, fazemos negócios e aprende- mos, o que necessariamente gera mudan- ças nas organizações e nas empresas. Neste contexto, a Gestão da Inovação ou também conhecida como Gestão Tecnoló- gica surge como uma resposta para afron- tar estas mudanças e para aproveitar a ci- ência, tecnologia e inovação como fatores estratégicos das organizações. Assim, a disciplina Gestão da inovação tem como objetivo geral analisar as bases con- ceituais e metodológicas da Gestão da Ino- vação como uma ferramenta integral para a tomada de decisões e para gerar vantagem competitivas nas organizações. A discipli- na está estruturada em oito (8) temáticas que se podem dividir em três componentes. O primero componente trata as bases teó- 4/227 ricas e conceituais que explicam em deta- lhe a importância da ciência, tecnologia e inovação, o direcionamento estratégico da tecnologia, transferência tecnológica e a informação como base para a geração de conhecimento. O segundo componente corresponde às principais ferramentas de gestão da ino- vação: sistemas de inteligência tecnológi- ca, benchmarking tecnológico, prospecção tecnológica e roadmaps tecnológicos para o desenho de estratégias de inovação tec- nológica. Finalmente se apresenta a importância da gestão da inovação nas empresas, a defini- ção de portfólios de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). 5/227 Unidade 1 Bases conceituais da Gestão da Inovação Objetivos 1. Compreender os conceitos de ciência e tecnologia. 2. Analisar o conceito de inovação e dos diferentes tipos de inovação. 3. Entender o conceito de Gestão Tecno- lógica e Gestão da Inovação. Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação6/227 Introdução O primeiro tema da disciplina Gestão da Inovação corresponde à compreensão das bases conceituais que permitem entender a importância da gestão da inovação nas organizações. Os principais conceitos que se analisarão são: ciência, tecnologia, ino- vação, gestão tecnológica e gestão da ino- vação. Embora não há uma definição única para estes términos, é chave distinguir suas principais características que são a base para compreender as temáticas seguin- tes da disciplina. Muitos destes conceitos fazem parte de nossa vida acadêmica, de nossos trabalhos e de nossa vida cotidiana, por exemplo na maneira em como nos co- municamos ou assistimos televisão. Ao final deste módulo se espera que o estudante di- ferencie claramente os conceitos e consiga identificar exemplos. 1. Conceito de Ciência Não há um consenso sobre o conceito de ciência, mas de maneira geral, a ciência corresponde a “um conjunto de conheci- mentos obtidos mediante a observação e o raciocínio, que estão estruturados siste- maticamente e a partir dos quais se dedu- zem princípios e leis gerais” (Real Academia Espanhola, 2017), algo bem semelhante ao que já pensava Aristóteles em meados do século 300 a.c. A ciência além da análise das ciências na- turais e físicas, também analisa a socieda- de. Segundo Kline e Rosenberg (1986), a ci- ência é “a criação, descoberta, verificação, reorganização e disseminação de conheci- mento sobre as naturezas física, biológica e social”. Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação7/227 A meta institucional da ciência é o alarga- mento dos conhecimentos científicos cer- tificados (MERTON, 1967). De acordo com Merton, os cientistas têm a obrigação de compartilhar suas descobertas em publica- ções científicas, as quais outorgam um re- conhecimento por seu trabalho científico e de pesquisa. Assim, o produto da atividade científica está representado em livros, dis- sertações, teses e artigos científicos, a par- tir dos quais a ciência e seus resultados são divulgados à comunidade científica e a so- ciedade em geral. Outro conceito que deve-se levar em con- ta em relação à ciência, é que a “ciência não é neutra”, isto significa que o desenvolvi- mento da ciência reflete o contexto social, cultural, histórico e político em que ela se insere. Neste sentido, hoje em dia mais que compreender os fenômenos do universo, há uma preocupação crescente sobre as con- sequências das descobertas científicas na sociedade. Esta preocupação foi mais evidente após a Segunda Guerra Mundial, particularmen- te com o Projeto Manhattan que reuniu um grupo importante de cientistas de diferen- tes áreas de conhecimento para desen- volver a Bomba Atômica. Embora o Proje- to Manhattan demonstrou que a partir da pesquisa básica em física, química e enge- nharia, se podem alcançar grandes desen- volvimentos em pesquisa aplicada, também criou desconfiança sobre os resultados da ciência e da tecnologia. Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação8/227 2. Conceito de Tecnologia Em termos gerais, a tecnologia é o conjunto de teorias e técnicas que permitem o apro- veitamento prático do conhecimento cien- tífico. Mas não deveria se aceitar que a tec- nologia é apenas ciência aplicada, pois em- bora a tecnologia dependa em certo grau Para saber mais O Projeto Manhattan (1943-1945) reuniu um grupo importante de cientistas de diferentes áre- as do conhecimento para desenvolver a Primeira Bomba Atômica e adiantar-se à Alemanha, que também estava realizando pesquisas sobre fissão nuclear. Foi liderado pelo físico Robert Oppenhei- mer e o General Richard Groves. Este projeto teve grandes investimentos do governo dos Estados Unidos que centralizou as atividades científicas e tecnológicas com o objeto de ganhar a II Guerra Mundial. Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação9/227 da ciência, muitas tecnologias e inovações tem-se desenvolvido sem a aplicação de conhecimentos científicos. Segundo (Gaynor, 1999), o conceito de tec- nologia pode ser entendido desde diferen- tes enfoques: produção e aplicação do co- nhecimento; meio para desenvolver uma tarefa, inclui todo o necessário para con- verter os recursos em produtos ou serviços, corpo de conhecimentos científicos e de engenharia que podem ser aplicados no de- senho de produtos ou serviços, ou na busca de novos conhecimentos; conhecimento e capacidade para produzir ou melhorar bens ou serviços, resultado da habilidade de de- senvolver e aplicar conhecimento à solução de problemas. Por sua vez, Freeman e Soete (2008), argu- mentam que “o próprio uso da palavra tec- nologia normalmente infere uma mudança nas formas como organizamos nossos co- nhecimentos sobre as técnicas produtivas”. Todas estas definições apresentam aspec- tos importantespara caracterizar a tec- nologia como conhecimento, produção de bens e serviços e solução de problemas. Uma definição que integra estes conceitos é feita por Castellanos (2011): “a tecnologia está constituída pelos meios, informação, conhecimentos e recursos necessários para o desenho, produção e comercialização de produtos (tangíveis e intangíveis) que tem uma demanda ou necessidade”. Ao igual que a ciência, se considera que a tecnologia não é neutra e está influenciada Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação10/227 pelo contexto econômico e social em que ela se desenvolve. O principal produto da tec- nologia são as patentes as quais outorgam ao inventor o monopólio para explorar as invenções que aportam uma solução técni- ca à humanidade. As patentes também po- dem ser licenciadas e comercializadas para terceiros. 3. Conceito de inovação Um dos primeiros autores que trabalhou o conceito de inovação, foi o economista Jo- seph Schumpeter (1883-1959) quem consi- derava que a força fundamental que movi- menta o sistema capitalista e o desenvolvi- mento econômico é o fenômeno tecnológi- co e o processo de inovação tecnológica. Para o economista a inovação permite des- truir desde dentro das estruturas existen- tes, criando novas combinações dos meios de produção, novas estruturas, novos pro- dutos e novas indústrias, que demandam capital humano com novas capacidades. A inovação também permite a criação de no- vos mercados, porque cria novas necessida- des. Isto é o que ele chamou de “destruição criativa”, que revoluciona completamente o sistema econômico e que é o motor funda- mental do sistema capitalista. Em seu livro “Teoria do desenvolvimento econômico” (1964), ele estabeleceu que o desenvolvimento, entendido como a reali- zação de novas combinações, apresenta as seguintes características: i) Introdução de um novo bem ou de uma nova qualidade de Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação11/227 um bem; ii) Introdução de um novo método de produção; iii) Abertura de um novo mer- cado, iv) Conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semi- manufaturados; v) Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria. O trabalho de Schumpeter foi a base para a definição de inovação estabelecida pelo Manual de Oslo (2005): “Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melho- rado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organi- zacional nas práticas de negócios, na orga- nização do local de trabalho ou nas relações externas”. Para entender melhor o conceito de inova- ção é importante fazer uma distinção com o conceito de invenção. A invenção é uma so- lução material para um problema específico e é resultado de um esforço intelectual e da capacidade de criação dos seres humanos. Para que uma invenção seja considerada uma invenção, esta deve ser comercializada e ter um mercado potencial. Assim, a inova- ção é a solução técnica e economicamente viável do problema. Neste sentido, o Manual de Oslo também salienta que para considerar que há uma inovação, ela deve ter sido implementada. Assim Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação12/227 Um produto novo ou melhorado é implementado quando introduzido no mercado. Novos processos, métodos de marketing e métodos organiza- cionais são implementados quando eles são efetivamente utilizados nas operações das empresas” (Manual de Oslo, 2005). Para saber mais O Manual de Oslo é uma publicação conjunta da Organização para cooperação e o desenvolvimento eco- nômico OECD e Eurostat. Seu objetivo principal é medir com precisão as atividades de inovação, diferen- tes das atividades de P&D e as implicações do processo de inovação na elaboração de políticas de ciência, tecnologia e inovação. Este documento é uma referência internacional para a compreensão da dinâmica de inovação nas empresas O Manual de Oslo também deu orientações para a realização da Pesquisa de Inovação do Brasil Pintec. Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação13/227 Alguns exemplos dos diferentes tipos de inovação se apresentam a seguir (Manual de Oslo, 2005, e outros): • Inovações de produtos ou serviços: GPS para equipamentos de transpor- te; câmaras fotográficas em telefones celulares; serviços bancários on-line; serviços de televisão por demanda, exemplo Netflix; plataformas de ser- viços de transporte, por exemplo Uber ou Cabify; plataformas de hospeda- gem, por exemplo Airbnb. • Inovações de processo: Impressão 3D; novos equipamentos de automação em uma linha de produção; desenhos assistidos por computador; sistema de rastreamento de bens por código de barra. • Inovações de marketing: uso de em- balagens de grande impacto visual; plataformas on-line de vendas de pro- Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação14/227 dutos, por exemplo: Amazon; sistema de franquias de comida; sistemas de fidelização de clientes frequentes. • Inovações organizacionais: trabalho colaborativo e em rede; uso de e-le- arning para capacitação; colabora- ção entre universidades, centros de pesquisa e empresas; introdução de sistemas de produção build-to-order (vendas integradas à produção). 3. Gestão Tecnológica e Gestão da Inovação A tecnologia tem sido reconhecida como uma das principais forças que afetam a con- corrência entre empresas (PORTER, 1985) e como um fator que tem um alto impacto na gestão das organizações. O avanço tec- nológico é cada vez mais importante para o sucesso das empresas, a eficiência das operações dos governos, o desempenho das economias nacionais e o bem-estar da sociedade em geral. O desenvolvimento e implementação dessas tecnologias requer a atenção não só dos avanços científicos e da engenharia, mas também dos recursos humanos, das matérias primas, das opções de financiamento, e do contexto no qual es- sas tecnologias estão sendo inseridas, por exemplo, a legislação existente ou as prefe- rências da população. A gestão tecnológica também entendida como gestão da inova- ção surge em resposta a essa necessidade, sendo sua função encontrar um equilíbrio entre essas variáveis. Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação15/227 Uma das definições comumente citada é a do reporte do U.S National Research Council, que define a gestão tecnológica e gestão da inovação como a relação entre a engenharia, a ciência e as disciplinas da gestão para direcionar o plane- jamento, desenvolvimento e implementação de capacidades tecnológicas que permitam dar forma e atingir a estratégia e os objetivos operacionais de uma organização” (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1987, pág. 9). Outras definições entendem a gestão da inovação como “o processo de integração efetiva e uti- lização da inovação, da missão estratégica, operacional e comercial de uma empresa para ga- nhar vantagens competitivas” (BADAWY, 2009, pág. 224). Ou como uma abordagem de gestão baseado na optimização da permeabilidade e plasticidade dos sistemas produtivos e empresa- riais com respeito às dinâmicas tecnológicas. Desde uma visão reativa, está estruturada ao redor da apropriação flexível e evolução tecnológica. Desde uma visão proativa, ela contribui ao surgi- mento de formas alternativas de progresso técnico (CHANARON; GRANGE, 2006, pág. 959). Essas definições nos levam a dois pontos: 1. a gestão tecnológica ou gestão da inovação está associada também com o progresso técnico; e 2. a gestão da inovação vai além da tecnologia e Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação16/227 envolve outras disciplinas e outros recursos. Com respeito a esse último ponto, é impor- tante salientar que ao envolver diferentes disciplinas e recursos, a gestão da inovação é diferente da gestão da pesquisa e o de- senvolvimento (P&D). Enquanto a gestão da P&D tem a ver mais com o processo de ge- ração de novo conhecimento e tecnologias, a gestão da inovaçãovai além da criação desse conhecimento e tecnologias, lidan- do também com sua aplicação, difusão e impacto. Assim, embora a geração das tec- nologias seja condição necessária, existem outras variáveis que jogam um papel chave, em alguns casos até mais importantes que a tecnologia em si mesma, por exemplo, as habilidades dos gerentes ou governantes para identificar novas oportunidades ou a capacidade das empresas para manipular os mercados (CASTELLANOS, 2007). Dentre as atividades envolvidas na gestão tecnológica e na gestão da inovação, desta- cam-se (CASTELLANOS, 2007) • Diagnóstico tecnológico: tem a ver com a sistematização e análise de da- dos relativos à tecnologia, produti- vidade, posicionamento da empresa, entre outros. • Estratégia de planejamento tecnoló- gico: envolve as atividades de plane- jamento estratégico da empresa, com ênfase no diagnostico tecnológico. • Aquisição de tecnologia e desenvol- vimento tecnológico interno: abrange as atividades de escolha das tecnolo- Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação17/227 gias (aquisição ou geração interna), estabelecimento de fontes de finan- ciamento, analise de custos, entre ou- tros. • Mudança técnica e inovação tecno- lógica: busca assegurar as condições para o avanço tecnológico, por exem- plo o pessoal capacitado e a infraes- trutura. • Controle e avaliação: tem a ver com a verificação periódica da estratégia, o planejamento e execução da gestão tecnológica. É importante assinalar que a gestão da ino- vação pode ser aplicada tanto no nível ma- cro, quanto no nível micro (CHANARON; GRANGE, 2006). No primeiro caso, a gestão da inovação no nível macro está associada, por exemplo, ao crescimento econômico dos países ou regiões e seu avanço para um desenvolvimento sustentável. Nesse caso, as decisões são tomadas pelos responsá- veis das políticas (policy-makers). Já no nível micro empresas, a gestão da inovação tem a ver com o que adiciona valor aos produ- tos ou os serviços que a empresa coloca no mercado. Nesse caso, as decisões estão nas mãos dos gerentes das distintas áreas da empresa. Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação18/227 Para saber mais Embora a gestão da inovação fosse estudada já desde meados do século XX, sua conformação como disciplina começou a ganhar forma apenas na década de 1980. Nessa época (1986) foi criada a força-tarefa em Gestão da Tecnologia (Task For- ce on Management of Technology), convocada pelo U.S. National Research Council, em resposta ao de- clínio na competitividade internacional da indús- tria dos Estados Unidos, que deu como resultado o relatório Management of Technology: The Hidden Competitive Advantage (1987). Esse relatório é um dos mais citados nos estudos sobre Gestão Tec- nológica e Gestão da Inovação, e pode ser acessa- do no repositório da National Academy of Sciences. Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação19/227 Glossário Inovação: “Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou signifi- cativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo mé- todo organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas rela- ções externas”. (Manual de Oslo, 2005) Invenção: é uma solução material para um problema específico e é resultado de um esforço in- telectual e da capacidade de criação dos seres humanos. Patente: titulo legal, outorgado pelo Estado, que documenta e legitima, temporariamente, o di- reito exclusivo de explorar uma invenção. Questão reflexão ? para 20/227 Levando em conta a definição dos diferentes tipos de inovação, identifique duas inovações que você usa de maneira cotidiana e analise como estas têm melhorado sua qualidade de vida. 21/227 Considerações Finais • Foram identificadas as bases conceituais da gestão da inovação: ciência, tecnologia e inovação, se lograram determinar suas principais característi- cas e diferencias entre eles. • Identificou-se que a ciência e a tecnologia têm produtos específicos que fa- zem parte do acervo do conhecimento científico e tecnológico como: livros, teses, dissertações, artigos e patentes. • Foram exploradas distintas definições de gestão da inovação, destacando que o conceito vai além da tecnologia, envolvendo outras disciplinas. As- sinalamos também que a gestão da inovação pode ser estudada tanto no nível macro, quanto no nível micro. • Descritas, sucintamente, as distintas atividades envolvidas na gestão da inovação, sendo elas: o diagnostico tecnológico, a estratégia de planeja- mento tecnológico, aquisição de tecnologia e desenvolvimento tecnológico interno. Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação22/227 Referências BADAWY, A. M. Technology management simply defined: A tweet plus two characters. Journal of Engineering and Technology Management, v. 26, n. 4, p. 219–224, 2009. CASTELLANOS, O. Gestión Tecnológica. De un enfoque tradicional a la inteligencia. Bogotá: Facultad de Ingeniería - Universidad Nacional de Colombia, 2007. v. 109. CASTELLS, M. A Sociedade em Rede, Paz e Terra, São Paulo, Cap. 1: A Revolução da Tecnologia da Informação, pp. 67-118, 1999. CHANARON, J. J.; GRANGE, T. Towards a Re-definition of technology management. The 3rd IEEE International Conference on Management Innovation and Technology. Anais...Singapore: 2006. FREEMAN, C.; SOETE, L. A economia da inovação industrial. Editora Unicamp, 2008. GAYNOR, G. Manual de gestión tecnológica, Tomo I. Mc Graw Hill Interamericana S.A, Bogotá, 1999. KLINE, S.; ROSENBERG, N. “An overview of innovation”. In: Landau, R & Rosenberg, N (eds). The positive sum strategy. National Academy of Press, Washington, DC, 1986. MERTON, R.K. Os imperativos institucionais da ciência. In: A critica da ciencia: sociología e ideología da ciência. Ed. 2. p. 37-52, 1967. Unidade 1 • Bases conceituais da Gestão da Inovação23/227 NATIONAL RESEARCH COUNCIL, U. . Management of Technology: The Hidden Competitive Ad- vantage. [s.l.] National Academies Press, 1987. OECD (2005). Manual de Oslo. Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre in- ovação. Traduzido para o português pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Disponível em: <http://www.finep.gov.br/images/apoio-e-financiamento/manualoslo.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2017. PORTER, M. Competitive Advantage. Creating and sustaining superior performance. New York: The Free Press, 1985. REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Definição de ciência. Disponível em: <http://dle.rae.es /?id=9AwuYaT>. Acesso em: 12 jul. 2017. SCHUMPETER, J. Teoria do desenvolvimento econômico. Uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo económico. In: Os economistas. Editora Nova Cultural, Ltda, 1964. http://www.finep.gov.br/images/apoio-e-financiamento/manualoslo.pdf http://dle.rae.es/?id=9AwuYaT http://dle.rae.es/?id=9AwuYaT 24/227 1. Uma das seguintes afirmações não está relacionada à tecnologia: a) A tecnologia ajuda à solução de problemas. b) A tecnologia implica a aplicação de conhecimentos científicos. c) A tecnologia é neutra. d) A tecnologia está associada à produção de bens e serviços. e) A tecnologia muda a forma de organizar o conhecimento sobre as técnicas produtivas. Questão 1 25/227 2. Um dos seguintes tópicos não é considerado inovação: a) Inovação de produtos e serviços. b) Inovação de ideias. c) Inovação de processo. d) Inovação de marketing. e) Inovação organizacional. Questão 2 26/227 3. A seguinte não é uma das atividades da gestão tecnológica: a) Aquisição de tecnologia. b) Controle e avaliação. c) Evolução tecnológica. d) Estratégia de planejamento tecnológico. e) Diagnostico tecnológico. Questão 3 27/227 4. A gestão tecnológica pode ser conceitualizada em dois níveis, quais são eles? a) Difusão e apropriação. b) Interno e superficial. c) Interno e externo. d) Macro e micro. e) Acadêmico e empresarial. Questão 4 28/227 Gabarito 1. Resposta:C. Se considera que tanto a ciência como a tecnologia não são neutras, já que estão in- fluenciadas pelo contexto social, econômi- co, político e cultural em que se inserem. 2. Resposta: B. As ideias não são consideradas como inova- ção. Estas só se convertem em inovação se são levadas ao mercado e tem uma deman- da potencial. 3. Resposta: C. A evolução tecnológica não faz parte das atividades da gestão tecnológica listadas no corpo do texto e também não é uma ati- vidade em si mesmo. 4. Resposta: D. A gestão tecnologia pode ser analisada tan- to no nível dos países ou regiões macro, quanto no nível das empresas micro. 29/227 Unidade 2 Transferência tecnológica Objetivos 1. Desenvolver o conceito de transferên- cia tecnológica e os principais agen- tes envolvidos. 2. Identificar e descrever os principais modos formais de transferência de tecnologia, fazendo ênfase na trans- ferência internacional de tecnologia. 3. Descrever os principais componentes do processo de transferência tecnoló- gica. Unidade 2 • Transferência tecnológica30/227 Introdução A transferência tecnológica é um termo cada vez mais usado no desenho de polí- ticas públicas, abundando as publicações que lidam com o assunto. Porém, não é um tema simples de ser abordado, pois vai além da aquisição ou licenciamento de tecnolo- gias, e tem impactos na geração de capa- cidades tecnológicas nas empresas e nos países. Neste módulo buscamos apresentar os principais conceitos atrelados à transfe- rência tecnológica, focando em três aspec- tos: i) os agentes envolvidos no processo de transferência tecnológica, os quais são apresentados junto com a definição do con- ceito na primeira seção; ii) os modos formais de transferência tecnológica, os quais são discutidos sucintamente na segunda seção, fazendo ênfase na transferência interna- cional de tecnologia; e iii) os componentes da transferência tecnológica, os quais são elaborados na terceira seção. 1. Definição e agentes evolvidos Poderíamos começar por definir a transfe- rência tecnológica considerando simples- mente as palavras que compõem o termo; ou seja, como o traspasso de uma tecnolo- gia de um agente para outro. Porém, não é tão simples assim. A primeira definição so- bre a qual é importante ter clareza é sobre o que significa a tecnologia, o qual já é com- plexo, pois tem tantas definições quanto usos do termo. No entanto, quando se trata de transferência tecnológica, a tecnologia é usualmente vista como uma entidade, como Unidade 2 • Transferência tecnológica31/227 uma ferramenta, e não como um campo específico da ciência ou do conhecimento, nem simplesmente como um produto ou um processo. Isto é importante, pois não é só o produto/processo o que é transferido, a transferência envolve também ao conhe- cimento, ao uso e à aplicação atrelados a essa tecnologia (BOZEMAN, 2000). Logo, a transferência tecnológica envolve os dois componentes da tecnologia: o componen- te físico (produtos, equipamentos, planos, técnicas, processos, etc.) e o componen- te informacional (know-how em gestão, marketing, produção, controle de qualida- de, etc.), pois sem esse último componente físico a tecnologia não poderia ser imple- mentada ou usada (KUMAR; KUMAR; PER- SAUD, 1999). A seguinte definição importante é a dos agentes envolvidos no processo de transfe- rência. Dizemos que a transferência tecno- lógica implicava o traspasso de uma tecno- logia (componente físico e informacional) de um agente para outro. Mas, quais são esses agentes? Em termos simples, pode- mos agrupar aos agentes envolvidos no processo de transferência tecnológica em dois grandes grupos: os produtores da tec- nologia (fonte) e os que recebem essa tec- nologia (destino). Já cada um desses grupos pode estar composto por diferentes tipos de atores. Nos produtores da tecnologia pode- mos encontrar empresas, agencias ou la- boratórios governamentais, universidades, organizações de pesquisa (públicas, priva- das, sem fins lucrativos), ou em alguns ca- Unidade 2 • Transferência tecnológica32/227 sos pode se falar até de regiões ou países. O grupo de usuários, por sua parte, inclui, entre outros, grupos de pessoas, escolas, universidades, empresas, até regiões e países (ROESSNER, 2000). Para saber mais No caso da transferência de tecnologia por canais formais é possível incluir um agente adicional, que é o encarregado de gerir o processo de transferência. Esse agente pode ser parte de um escritório pertencente à fonte da tecnologia a ser transferida ou um escritório ou agente externo. No caso das universidades, por exemplo, é usual que existam escritórios que servem de vínculo entre os geradores de conhecimento/tecnologias na universidade (fonte) e os possíveis usuários/adotantes (destino), tais como empresas, organizações governamentais, sociedade, etc. Um exemplo desse tipo de escritório, que faz a ponte entre os geradores e os usuários de tecnologia, é a Agência de Inovação da Universida- de Estadual de Campinas (Inova). Unidade 2 • Transferência tecnológica33/227 Por fim, outra definição importante é a do canal ou meio de transferência. A transfe- rência tecnológica pode ocorrer por canais formais ou canais informais. Os canais in- formais incluem as publicações, congressos, ou o intercâmbio pessoal entre atores. Já os canais formais abrangem cursos e progra- mas de capacitação e formação, a contra- tação de pessoal capacitado, o intercâmbio de equipamento especializado, os serviços de técnicos e de consultoria, a pesquisa e desenvolvimento (P&D) feita em colabora- ção/parceria, bem como a comercialização de tecnologia por vias formais (contratos, licencias, entre outros) (BOZEMAN, 2000; ZUNIGA; PAULO, 2013). Sobre esses últimos aprofundaremos na seguinte seção. 2. Modos de transferência for- mais entre paises A criação de capacidades tecnológicas tem sido reconhecida como uma das condições necessárias para avançar no processo de desenvolvimento dos países, sendo neces- sário que sejam adquiridas tanto no nível macro (país, região) quanto no nível micro (o das empresas) (COHEN; LEVINTHAL, 1990; DOSI, 1988; KIM, 2001; LALL, 1992, 2000; NELSON; WINTER, 1982). A transferência internacional de tecnologia é uma ferra- menta para a criação dessas capacidades tecnológicas. Assim, o sucesso no processo de aquisição de capacidades tecnológicas vai depender, entre outros aspectos, da es- tratégia de transferência, o qual implica a Unidade 2 • Transferência tecnológica34/227 escolha entre distintos modos de transfe- rência formais. Dentre os modos formais de transferência tecnológica, destacam-se: investimento di- reto estrangeiro (Direct foreign investment ou IDE em português), joint venture, licen- ciamento, projetos chave na mão (turnkey), compras de bens de capital, acordos de co- operação técnica, e pesquisa colaborativa. Cada um desses modos de transferência têm diferentes impactos tanto nos agen- tes fonte, como no destino, com diferentes vantagens e desvantagens para cada um deles. Focando na transferência de tecnolo- gias entre empresas, elaboram-se algumas das vantagens e desvantagem desses mo- dos, partindo da revisão da literatura rea- lizada por Kumar; Kumar; Persaud (1999) e Takahashi (2002): • Investimento estrangeiro direto: são os investimentos feitos por empresas multinacionais em países diferentes ao seu país de origem, geralmente países em desenvolvimento. Frequen- temente implica retornos mais altos para a empresa multinacional do que o licenciamento, pois pode, por exem- plo, explorar diretamente o mercado do país no qual está fazendo o inves- timento ou aproveitar as capacidades desse país. Considera-se como um dos modos de transferência mais apro- priados para transferir tecnologias novas, complexas e custosas. Dentre as vantagens para o país que “rece- be” o investimento se encontra a pos- Unidade 2 • Transferência tecnológica35/227 sibilidade de que as empresaslocais tenham conhecimento sobre tecno- logias avançadas que possam depois ser incorporadas nos seus processos produtivos. As desvantagens incluem os impactos que a concorrência da empresa multinacional pode ter sobre as empresas locais em termos de, por exemplo, a captação de pessoal capa- citado, diminuindo sua oferta ao invés de gerá-la. Também é argumentado que a empresa multinacional pode ter pouco ou nenhum impacto na criação de capacidades científicas e tecnoló- gicas locais, pois a P&D continuaria sendo feita nos países de origem. • Joint Venture: entende-se às joint-ven- tures como os acordos, provisórios ou permanentes, feitos entre duas ou mais empresas do mesmo ou de dis- tinto país para o desenvolvimento de um determinado projeto ou objetivo comum. No caso das joint-ventures entre empresas de distinto país, uma das vantagens para o país receptor é a possibilidade de ter contato com um conjunto mais amplo de fontes de fi- nanciamento e de tecnologias. Unidade 2 • Transferência tecnológica36/227 • Compra/aquisição de tecnologia: con- siste na compra de um pacote tecno- lógico, equipamento ou, ainda, uma marca completa. Neste caso, a em- presa que faz a venda perde o contro- le sobre a tecnologia que foi vendida, sendo, portanto, mais apropriada na- queles casos nos quais o fornecedor da tecnologia não tem possibilida- de de impor restrições sobre o uso da tecnologia. • Projetos chave na mão: são os casos nos quais a empresa local contrata empresas estrangeiras para a instala- ção de plantas produtivas completas. Neste caso, os fornecedores contro- lam todas as decisões técnicas, signi- ficando poucas possibilidades para a aprendizagem e treinamento de pes- soal local. Esse tipo de transferência resulta mais apropriado no caso de tecnologias maduras. • Licenciamento: são os acordos nos quais uma empresa ou organização vende uma tecnologia, seja na forma de patente, processo, know-how, etc., em troca do pagamento, seja de uma compensação financeira ou de direi- tos sobre a comercialização da tecno- logia transferida (royalties). Esse tipo de transferência é apropriado para tecnologias que são intensivas em di- reitos de propriedade intelectual (por exemplo, que podem ser protegidas com patentes). Geralmente os licen- ciantes da tecnologia buscam reter o Unidade 2 • Transferência tecnológica37/227 controle sobre o uso e proteção dos direitos da tecnologia. Os benefícios para o licenciador vão depender da sua capacidade de negociação. • Pesquisa colaborativa: o tipo de rela- ção comumente citado neste tipo de transferência é a colaboração uni- versidade-empresa. As empresas que complementam a pesquisa “feita em casa” com a pesquisa “feita fora” (por exemplo, em universidades ou centros de pesquisa públicos ou privados) têm acesso a avanços no conhecimento que muitas vezes são de difícil aqui- sição, fortalecendo assim sua base científica e tecnológica. É importante salientar que, se o objetivo é a aquisição/criação de capacidades tecno- lógicas locais, a transferência internacional de tecnologias tem que ir além da compra de médios/equipamentos ou o do licencia- mento de know-how para produção, reque- rendo também da existência de capacida- des para realizar engenharia reversa, bem como de capacidades próprias em P&D para manter ou, ainda, melhorar as tecnologias adquiridas (BELL; PAVITT, 1993). Tudo isto requer do suporte dos governos locais, os quais podem contribuir para esse objetivo de distintas formas, como por exemplo, me- diante a criação de programas de suporte a P&D, ou mediante o assessoramento à em- presas locais na aquisição de tecnologias ou na negociação de contratos de transferên- cia, entre outros. Unidade 2 • Transferência tecnológica38/227 3. Componentess Existem diversas abordagens do processo de transferência tecnológica e suas dis- tintas etapas. Porém, podem-se identifi- Para saber mais As duas principais agências que dão suporte à P&D no Brasil são o Conselho Nacional de Desen- volvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação (FINEP). Enquanto o pri- meiro foca mais nas instituições de pesquisa (por exemplo, universidades e centros de pesquisa), a FINEP inclui também às empresas, buscando em muitos casos a transferência de tecnologia entre atores, por exemplo Universidade-Empresa. Unidade 2 • Transferência tecnológica39/227 car quatro etapas ou componentes funda- mentais: i. Reconhecimento das necessidades: entende-se que uma das capacida- des organizacionais determinantes do sucesso num processo de transfe- rência tecnológica é a capacidade de reconhecer, mediante um processo sistemático e regular, as tecnologias necessárias para manter ou melhorar sua competitividade (BESSANT; RUSH, 1995), sendo então o reconhecimento das necessidades a primeira etapa do processo (MADU, 1989; TAKAHASHI, 2002). Para tanto é necessário definir as características da tecnologia em função das necessidades dos usuá- rios, das especificidades do contexto e do estado atual da tecnologia (CAS- TELLANOS, 2007). Para saber mais Nos casos nos que a transferência de tecnologia foi realmente efetiva se observam as seguintes características: existe liberdade e conhecimento para realizar modificações, se dá início à proces- sos de inovações que melhoram o rendimento e a utilidade das tecnologias adquiridas e, posterior- mente, os resultados são difundidos (CASTELLA- NOS, 2007). Cabe assinalar que existem distintos critérios para avaliar a efetividade de um proces- so de transferência tecnológica. Maiores detalhes sobre esses critérios podem ser consultados em BOZEMAN (2000). Unidade 2 • Transferência tecnológica40/227 ii. Escolha da tecnologia: a primeira me- dida nesta etapa é a identificação de possíveis fornecedores que se ajus- tem às necessidades identificadas, bem como das opções tecnológicas por eles oferecidas, sempre em fun- ção dos recursos disponíveis (DING; MOTWANI, 2001). iii. Aquisição: compreende a negociação, o qual é crucial porque é o passo no qual é definido o modo de transferên- cia (DING; MOTWANI, 2001) e se es- pecificam os termos do negócio, por exemplo o tipo de suporte ou o serviço que o provedor brindará após a imple- mentação da tecnologia, bem como o grau de liberdade que se terá sobre ela. É importante salientar que tanto o modo de transferência escolhido, quanto os termos negociados terão impacto nas organizações para que ela não termine sendo simplesmen- te uma compradora e consumidora da tecnologia. É importante também deixar espaços abertos para adicionar valor à tecnologia adquirida por médio de inovações incrementais ou geran- do novo conhecimento a partir dela; caso contrário, pode-se correr o risco de reduzir dramaticamente o poten- cial da organização, e mesmo do país, para gerar capacidades tecnológicas e vantagens competitivas (CASTELLA- NOS, 2007). Unidade 2 • Transferência tecnológica41/227 iv. Absorção. Este é o ponto do processo no qual a tecnologia é incorporada nos processos da organização e se desen- volvem as capacidades tecnológicas. Porém, atingir esse ponto não garante que a organização consiga desenvolv- er ditas capacidades, pois isto depende de aspectos tais como o controle que a organização teve sobre o proces- so de transferência, a disponibilidade de pessoal técnico e profissional e sua cultura em torno ao aprendizado ou o apoio existente por parte dos governos (KUMAR; KUMAR; PERSAUD, 1999). Unidade 2 • Transferência tecnológica42/227 Glossário Engenharia reversa: atividades que buscam analisar e copiar os produtos dos competidores. Know-how: todas as informações industriais e técnicas que subsidiam a manufatura ou pro- cessamento de produtos ou materiais. O termo pode ser usado para se referir ao conhecimento tácito que é difícil de transferir por meios escritos ou verbais. Pesquisae desenvolvimento (P&D): segundo o manual de Oslo, a P&D abrange o trabalho criativo feito numa base sistemática com o objetivo de aumentar o estoque de conhecimento, incluindo o conhecimento sobre o homem, cultura e sociedade, bem como o uso desse conhe- cimento para elaborar novas aplicações (OECD, 2005). Questão reflexão ? para 43/227 Uma empresa do setor de autopeças no Brasil precisa modificar seu processo produtivo para diminuir suas emissões de efeito estufa. Isto implica a aquisição de tecnologias novas e com alta complexidade. Quais tipos de transferência tecnológica você recomendaria para a empresa? Quais aspectos se deveriam considerar em cada casso no momento da negociação? 44/227 Considerações Finais (1/2) • Exploramos o conceito de transferência tecnológica, assinalando que ao transferir uma tecnologia são transferidos seus dois componentes, o físico (produto, planos, processo, etc.) e informacional (know-how). • Identificamos os principais agentes envolvidos no processo de transferên- cia tecnológica, sendo estes agrupados em dois grandes grupos: os agentes geradores/produtores da tecnologia (fonte) e os que recebem essa tecno- logia (destino). Identificamos um agente adicional, que é o encarregado de gerir o processo de transferência, cuja existência ou participação no pro- cesso ocorre nos casos nos quais a transferência é feita por canais formais. • Elaboramos os principais modos de transferência tecnológica formal, sen- do estes: investimento direto estrangeiro, joint-venture, licenciamento, projetos chave na mão, compras de bens de capital, acordos de cooperação técnica, e pesquisa colaborativa. 45/227 • Fizemos um recorrido pelas principais etapas do processo de transferência tecnológica, a saber: reconhecimento das necessidades, escolha da tecno- logia, aquisição e absorção. Considerações Finais (2/2) Unidade 2 • Transferência tecnológica46/227 Referências BELL, M.; PAVITT, K. Technological Accumulation and Industrial Growth: Contrast between De- veloped and Developing Countries. Industrial and Corporate Change, v. 2, n. 2, p. 157–210, 1993. BESSANT, J.; RUSH, H. Building Bridges for Innovation - the Role of Consultants in Technol- ogy-Transfer. Research Policy, v. 24, n. 1, p. 97–114, 1995. BOZEMAN, B. Technology transfer and public policy: a review of research and theory. Research Policy, v. 29, p. 627–655, 2000. CASTELLANOS, O. Gestión Tecnológica. De un enfoque tradicional a la inteligencia. Bogotá: Facultad de Ingeniería - Universidad Nacional de Colombia, 2007. v. 109. CASTELLANOS DOMÍNGUEZ, O. F. Gestión Tecnológica, De un enfoque tradicional a la inteli- gencia. Bogotá D.C.: [s.n.]. CNPQ. Programas. Disponível em: <http://cnpq.br/apresentacao-programas/>. Acesso em: 28 jul. 2017. COHEN, W.; LEVINTHAL, D. Absorptive Capacity : A New Perspective on Learning and Innovation Wesley M . Cohen ; Daniel A . Levinthal Absorptive Capacity : A New Perspective on Learning and Innovation. Science, v. 35, n. 1, p. 128–152, 1990. http://cnpq.br/apresentacao-programas Unidade 2 • Transferência tecnológica47/227 DING, J.; MOTWANI, J. Transfer of technology: a critical element in China’s privatisation process. International Journal of Technology Management, v. 21, n. 5/6, p. 453, 2001. DOSI, G. Sources , Procedures , and Microeconomic Effects of Innovation. Journal of economic literature, v. 26, n. 3, p. 1120–1171, 1988. FINEP. O que apoiamos. Disponível em: <http://www.finep.gov.br/apoio-e-financiamento-exter- na/o-que-apoiamos>. Acesso em: 28 jul. 2017. INOVA. Inova – Agência de Inovação da UNICAMP. Disponível em: <http://www.inova.unicamp. br/>. Acesso em: 28 jul. 2017. KIM, L. The Dynamics of Technological Learning in Industrialisation. International Social Science Journal, v. 53, n. 168, p. 297–308, 2001. KUMAR, V.; KUMAR, U.; PERSAUD, A. Building technological capability through importing tech- nology: the case of Indonesian manufacturing industry. The Journal of Technology Transfer, v. 24, p. 81–96, 1999. LALL, S. Technological capabilities and industrialization. World Development, v. 20, n. 2, p. 165– 186, 1992. http://www.finep.gov.br/apoio-e-financiamento-externa/o-que-apoiamos http://www.finep.gov.br/apoio-e-financiamento-externa/o-que-apoiamos http://www.inova.unicamp.br/ http://www.inova.unicamp.br/ Unidade 2 • Transferência tecnológica48/227 LALL, S. Working Paper Number 46 Skills , Competitiveness and Policy in Developing Countries. QEH Working Paper Series, n. 46, p. 1–29, 2000. MADU, C. N. Transferring technology to developing countries—Critical factors for success. Long Range Planning, v. 22, n. 4, p. 115–124, ago. 1989. NELSON, R. R.; WINTER, S. G. An evolutionary theory of economic change. Cambridge and Lon- don: [s.n.]. v. 93 OECD. Oslo manual. [s.l: s.n.]. ROESSNER, J. D. Technology transfer. In: HILL, C. (Ed.). . Science and Technology Policy in the US. A Time of Change. London: Longman, 2000. TAKAHASHI, V. Capacidades tecnológicas e transferência de tecnologia: estudo de multiplos casos na indústria farmacêutica no Brasil e no Canadá. [s.l.] Universidade de São Paulo, 2002. ZUNIGA, P.; PAULO, C. Technology Transfer By Public Research OrganizationsThe Innovation Policy Platform. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.innovationpolicyplatform.org/sites/de- fault/files/rdf_imported_documents/TechnologyTransferFromPublicResearchOrganizations.pdf>. https://www.innovationpolicyplatform.org/sites/default/files/rdf_imported_documents/TechnologyTransferFromPublicResearchOrganizations.pdf https://www.innovationpolicyplatform.org/sites/default/files/rdf_imported_documents/TechnologyTransferFromPublicResearchOrganizations.pdf 49/227 1. A transferência tecnológica envolve a transferência de dois componentes da tecnologia, quais? a) Hardware e software. b) Verbal e escrito. c) Ativo e Passivo. d) Negociado e tácito. e) Físico e Informacional. Questão 1 50/227 2. Das seguintes definições qual seria a mais apropriada para se referir à transferência tecnológica: Questão 2 a) A compra de tecnologias produzidas no exterior. b) O traspasso de uma tecnologia (componente físico e informacional) de um agente para ou- tro. c) O intercâmbio de informações entre empresas e organizações para melhorar suas capacida- des. d) A capacidade de uma empresa para adquirir ou vender tecnologias geradas no exterior. e) O processo de licenciamento de uma tecnologia. 51/227 3. O modo de transferência no qual uma empresa ou organização vende os direitos de comercialização de uma tecnologia é conhecido como: Questão 3 a) Compra direita. b) Licenciamento. c) Projetos chave na mão. d) Joint Venture. e) Royalties. 52/227 4. Das seguintes atividades qual é a de maior importância para que uma empre- sa/organização/país possa participar do processo de geração de conhecimento e inovações partindo da tecnologia adquirida, fazendo com que possa se avan- çar além do simples consumo da tecnologia: Questão 4 a) Identificação de fornecedores. b) Reconhecimento das necessidades. c) Seleção da tecnologia apropriada. d) Implementação da tecnologia. e) Definição dos termos do negócio/acordo (negociação). 53/227 5. Qual dos seguintes canais de transferência não é um canal formal: Questão 5 a) Investimento direto estrangeiro. b) Participação em congressos. c) Licenciamento. d) Compras de bens de capital. e) Pesquisa colaborativa. 54/227 Gabarito 1. Resposta: E. Na definição de transferência tecnológica se indicou que ao transferir uma tecnolo- gia se transferem seus componentes físico (produtos, equipamentos, planos, técnicas, processos, etc.) e informacional (know-how em gestão, marketing, produção, controle de qualidade, etc.). 2. Resposta: B. A definição de transferência tecnológica apresentada na opção B é a definição sim- ples de transferência discutida na primeira seção. 3. Resposta: B. O Licenciamento são os acordos nos quais uma empresa ouorganização vende uma tecnologia, seja na forma de patente, pro- cesso, know-how, etc. em troca de uma com- pensação financeira ou de direitos sobre a comercialização da tecnologia transferida. 4. Resposta: E. No processo de negociação se define o grau de liberdade que a empresa/organização vai ter sobre a tecnologia adquirida. Isto é chave para determinar se a empresa/orga- nização pode gerar conhecimento ou inovar partindo dessa tecnologia. 55/227 Gabarito 5. Resposta: B. Os congressos são um dos canais informais de transferência de tecnologia. 56/227 Unidade 3 Informação como base de geração de conhecimento Objetivos 1. Compreender o conceito de Socieda- de do Conhecimento. 2. Estabelecer as diferenças entre dados, informação, conhecimento e inteli- gência. 3. Analisar as diferentes técnicas para a quantificação da informação: Bi- bliometria, Cientometria, Informetria, Webometria e Patentometria. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento57/227 Introdução O Tema 3 intitulado “Informação como base para o conhecimento” pretende dar um pa- norama geral sobre o contexto atual em que as organizações se estão desenvolven- do, o qual é caracterizado pela importân- cia da informação e o conhecimento como base da transformação da economia e da sociedade. Neste novo contexto denomina- do como “Sociedade do Conhecimento”, as organizações devem gerir de maneira mais eficiente a informação e o conhecimento para contribuir à toma de decisões estra- tégicas que permitam estimular processos de inovação. A primeira parte do tema está dedicada a explicar o conceito de Socieda- de do Conhecimento e as características do processo de transformação entre a ve- lha e a “nova economia”. Na segunda parte é explicado o processo de transição entre os conceitos de dados, informação, conhe- cimento até chegar à inteligência. Nesta parte há uma especial ênfase sobre as dife- rencias entre conhecimento tácito e conhe- cimento explícito e os modos de conversão do conhecimento definidos por Nonaka e Takeuchi (1995): socialização, externaliza- ção, combinação e internalização. Final- mente são apresentadas as principais téc- nicas para a quantificação da informação que vão desde as mais tradicionais como a bibliometria, cientometria e patentometria, até as mais atuais que levam em conta a in- formação na internet e nos websitescomo a informetria e a webometria. O uso de estas ferramentas pelas organizações pode con- tribuir a melhorar seus processos de gestão Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento58/227 do conhecimento e assim estimular a cria- ção de bens e serviços inovadores que con- tribuam a melhorar sua competitividade no mercado. 1. Sociedade do Conhecimento O conceito acima está relacionado com fe- nômenos relacionados ao incremento no ritmo, criação, acumulação, distribuição e aproveitamento da informação e o co- nhecimento. Além disso, está relacionado como o desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), as quais têm permitido este fenómeno e têm deslocado as tecnologias de manufatura (OLIVE, 2008). Neste sentido, têm surgido grandes trans- formações da Sociedade Capitalista Indus- trial ou velha economia para a Sociedade do Conhecimento ou nova economia. No Qua- dro 1 se apresentam as principais mudan- ças nos sistemas produtivos e de trabalho. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento59/227 Quadro 1. Da Sociedade Capitalista Industrial à Sociedade do Conhecimento Da Sociedade Capitalista Industrial... ...À Sociedade do Conhecimento Trabalho em fábricas, baseado na ação (não na refle- xão) e aplicação de destrezas manuais e mecânicas. Trabalho independente ou em empresas, baseado na pesquisa e produção de conhecimentos cientí- ficos e tecnológicos, por meio da aplicação de ha- bilidades intelectuais. A riqueza das nações mensurada na produção de mer- cadorias, onde os principais fatores de competitividade eram os recursos naturais e a mão de obra. A riqueza e competitividade das nações mensura- da no nível de conhecimentos ou tecnologia que incorpora nos produtos e serviços. A mecanização dos sistemas produtivos. A informatização e automatização dos sistemas produtivos. A produção em massa de mercadorias. A produção diversificada e segmentada de merca- dorias e serviços. Âmbito de competitividade nacional e de economias fechadas Âmbito de competitividade global e de economia aberta. Companhias orientadas à produção de bens e serviços. Companhias orientadas ao serviço ao cliente. Mercado com capacidade de absorver toda a produção. Entorno altamente concorrente. Comercialização e vendas físicas. Comercialização e vendas através de meios digitais. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento60/227 Da Sociedade Capitalista Industrial... ...À Sociedade do Conhecimento Estrutura organizacional hierárquica e burocrática com muitos níveis administrativos. Estrutura organizacional em rede, onde se fomen- ta o trabalho em equipe. Meios de comunicação: papel e físicos. Meios de comunicação: eletrônicos e digitais Fonte: Baseado em: Fonide (2008); Mattos, J.R., Guimarães, L (2005); Tapscott (1997). O conhecimento sempre foi o recurso mais valioso para as organizações, entretanto, só há pou- co tempo as empresas tornaram-se conscientes da importância desse recurso nas suas áreas de atuação, e estão buscando diferentes estratégias para a criação, a aquisição, a transferência, a difusão, a apropriação e a gestão do conhecimento (REIS, 2008). Neste contexto, as empresas têm mudado a maneira de gerir em relação à sua informação e conhecimento. A informação permite obter conhecimento que é o que permite produzir novos produtos, serviços e criar novos negócios. As TICs são chaves em todo este processo de trans- formação. A partir de sua adequada utilização as empresas podem melhorar sua capacidade de resposta ao mercado e incrementar a inovação. Mas não só é a utilização de determinadas tecnologias, o verdadeiro valor agregado vêm da ca- pacidade de raciocínio e de aproveitar os dados, a informação e o conhecimento para tomar de- cisões estratégicas ao interior das organizações. Estes conceitos se explicam na seguinte seção. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento61/227 2 Importância da informação e do conhecimento No contexto atual da Sociedade do Conhe- cimento os dados, a informação e o conhe- cimento são ferramentas muito valiosas para que as organizações tomem melhores decisões. Nesta seção vão se explicar estes conceitos e como é o processo de transfor- mação de dados em inteligência. Figura 1| Pirâmide informacional Fonte: Cetisme, 2002, Paéz Urdaneta (1992), apud Castellanos et al (2011). A Figura 1 representa a Pirâmide informa- cional cujo ponto de partida é uma grande Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento62/227 quantidade de dados desestruturados que se podem transformar em informação e co- nhecimento na medida em que se agrega valor. Isto permite melhorar sua qualidade até chegar à inteligência que permite to- mar decisões estratégicas e gerar processos inovadores. Os dados são um conjunto de signos ou símbolos sem interpretação, que represen- tam eventos que ocorrem nas organizações ou em seu entorno físico. A partir dos dados é possível gerar informação na medida em que sejam validados de acordo a sua rele- vância e veracidade. Para isto, é importante verificar as fontes de informação, como fo- ram obtidos e comprovar sua relevância com a ajuda de especialistas (CASTELLANOS, 2011). Assim, a informação é um conjunto de dados processados e com valor agregado que aportam novos conhecimentos sobre um assunto ou fenômeno determinado. Assim, a partir da informação obtida dos dados, é possível gerar conhecimento va- lioso para a organização. O conhecimento é dinâmico uma vez que é criado na intera- ção social entre indivíduos e organizações. O conhecimentodeve estar num contex- to especifico, uma vez que depende de um tempo e um espaço determinado. Sem um contexto específico, é só informação, não conhecimento. (HAYEK, 1945). Oconheci- mento estrutura-se a partir de sua utilida- de. Por exemplo, Rua ABC 123 é só informa- ção, não tem significado, mas se eu coloco esta informação dentro de um contexto, se converte em conhecimento: Meu amigo Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento63/227 Carlos mora na Rua ABC 123 que fica perto da Universidade (NONAKA, TOKANA E KON- NO, 2000). Assim, o conhecimento tem um valor es- tratégico e se considera um recurso valioso para a gestão e o desenvolvimento tecnoló- gico de qualquer organização. Isto significa que o conhecimento é um meio para obter resultados (CASTELLANOS, 2007). Também é importante identificar que há dois tipos de conhecimento: conhecimento tácito e conhecimento explícito. Segundo Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento tácito é uma forma de conhecimento mui- to pessoal, difícil de formalizar e comunicar aos outros. Também consiste em destrezas informais e difíceis de definir, o que é tam- bém conhecido como know-how. Para saber mais Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi são dos aca- dêmicos japoneses vinculados com a Universida- de de Hitotsubashi. Estes dois autores escreve- ram no ano 1995 o livro “The Knowledge-creating company” que foi traduzido em português como: “Criação de conhecimento na empresa: Como as empresas japonesas geram a dinâmica da ino- vação”. Neste livro desenvolvem um modelo de criação de conhecimento organizacional e expli- cam a capacidade das empresas japonesas para criar conhecimento e sua aplicação em produtos e tecnologias de sucesso. Este livro é um dos mais reconhecidos e citados na área de administração de empresas e gestão do conhecimento no nível mundial. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento64/227 Por sua vez, o conhecimento explícito, é um conhecimento formal e sistemático que se pode compartilhar e comunicar com faci- lidade. Por exemplo, especificações de um produto ou um programa de computação. O conhecimento tácito está ligado ao conhe- cimento explicito e entre eles há um pro- cesso de interação, que pode ser dividido em quatro (4) modos de conversão do co- nhecimento: socialização, externalização, internalização e combinação (Veja Figura 2). Figura 2|. Processo de socialização, Externalização, Com- binação e Internalização do conhecimento Fonte: Nonaka, Tokana e Konno, 2000 A figura 2 representa os quatro (4) modos de conversão do conhecimento definidos por Nonaka e Takeuchi (1997): Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento65/227 • Socialização (do conhecimento tá- cito para conhecimento tácito): é o processo de adquirir conhecimen- to tácito mediante o intercambio e compartilhamento de experiências. A Socialização pode ocorrer em reuni- ões sociais informais fora do local de trabalho, onde o conhecimento táci- to: como visões de mundo, modelos mentais e confiança mútua podem ser criados e compartilhados. • Externalização (do conhecimento tá- cito para conhecimento explícito): é o processo de articular o conhecimen- to tácito em conhecimento explícito. Quando o conhecimento tácito se tor- na explícito, o conhecimento é cris- talizado, permitindo assim que seja compartilhado por outros, e torna-se a base de novos conhecimentos. Nes- te processo são usados modelos, sín- teses, metáforas ou analogias. • Combinação (do conhecimento ex- plícito para conhecimento explícito): É o processo de conversão do conhe- cimento explícito em conjuntos mais complexos e sistemáticos de conheci- mento explícito. O conhecimento ex- plícito é coletado de dentro para fora da organização e depois é combinado, editado ou processado em novo co- nhecimento. • Internalização (do conhecimento ex- plicito para o conhecimento tácito): Através da internalização, o conheci- mento explícito é criado e comparti- Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento66/227 lhado dentro da organização e con- vertido em conhecimento tácito pe- los indivíduos. Está relacionado com o conceito de “Learning by doing” ou aprender fazendo. Quando o conheci- mento é internalizado para se tornar parte da base de conhecimento táci- to dos indivíduos na forma modelos compartilhados ou know-how técni- co, torna-se um bem valioso. Este co- nhecimento tácito acumulado no ní- vel pessoal pode, em seguida, desen- cadear uma nova espiral de criação do conhecimento quando é compartilha- do com os outros indivíduos através da socialização. Finalmente, a partir de uma adequada ges- tão do conhecimento ao interior da organi- zação, podem-se tomar decisões estratégi- cas que é o que se conhece como inteligên- cia. A inteligência é um processo por meio do qual se obtém informação aplicável a um problema ou situação, que logo deve ser compreendida e assimilada para sua trans- formação em conhecimento útil e perti- nente que permita a tomada de decisões e ações concretas (CASTELLANOS, 2007). O conceito e as ferramentas da Inteligên- cia, serão analisados em detalhe no Tema 5 desta disciplina. A partir do todo o processo de gestão da informação e do conhecimento, é possível que as organizações desenvolvam novos processos e serviços inovadores, que per- mitam dar resposta rápida às necessidades do mercado, melhorando assim a sua com- petitividade. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento67/227 3. Técnincas para a quantifica- ção da informação Uma vez entendidos os conceitos de infor- mação e do conhecimento, é importan- te analisar quais são as principais técnicas para a quantificação da informação e para a análise de suas tendências. Uma adequa- da análise de tendências permite organizar, quantificar e processar a informação como um elemento útil para a criação de inova- ções. Uma das principais preocupações cien- tíficas é encontrar a maneira de medir os avanços da ciência e tecnologia através de indicadores. Segundo Merton (1977), “os indicadores fornecem uma medida válida e confiável das flutuações no ritmo de desco- bertas científicas e invenções tecnológicas, e outras expressões intelectuais e artísticas da cultura”. Assim, surgem diferentes “métricas” que permitem obter indicadores a partir da in- formação. As principais são: Bibliometria, Cientometria, Informetria, Webmetria, e Patentometria. Considera-se que a Bibliometria é a base teórica para as outras técnicas de medição. A bibliometria aplica métodos estadísticos e matemáticos para medir a informação re- lacionada aos registros bibliográficos. Seu objetivo é identificar e analisar suas carac- terísticas, tendências, impacto, agrupações ou relações e formas de comunicação de li- vros, artigos científicos,dissertações e teses. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento68/227 A Cientometria é o estudo dos aspectos quantitativos da ciência enquanto uma dis- ciplina ou atividade econômica. Faz par- te da sociologia da ciência com aplicações voltadas ao desenvolvimento de políticas científicas. Seu escopo é mais amplo, quan- Para saber mais As bases de dados de artigos e revistas científicas permitem observar a dinâmica da geração de co- nhecimento ao redor de algum processo ou pro- duto que tem sido publicado em artigos. Há mui- tas bases de dados de artigos científicos, que po- dem ser de acesso aberto como a Base de dados Scielo, ou de acesso pago como a base de dados Scopus. Todas estas bases permitem recuperar os principais artigos científicos relacionados com todas as áreas do conhecimento. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento69/227 do comparado com a Bibliometria e inclui a análise de patentes (MARICATO E NORO- NHA, 2013). Tanto a Bibliometria e a Cientometría estão relacionadas estreitamente em comparti- lham os seguintes temas de interesse: • Crescimento quantitativoda ciência e da tecnologia (número de publica- ções, livros e patentes. • Produtividade e criatividade dos pes- quisadores. • Estrutura de comunicação entre os cientistas. • Redes de colaboração entre institui- ções e pesquisadores. • Surgimento de novas áreas de pesquisa. • Envelhecimento dos campos científi- cos. • Relações entre temas e palavras-cha- ve. • Impacto das publicações por meio das citações. Por sua vez, a Informetria abrange o estudo dos aspectos quantitativos da informação registrada, independentemente do forma- to ou modo como é gerada. Considera tanto os aspectos quantitativos da comunicação informal ou falada, quanto da informação registrada. Além disso, considera as neces- sidades e usos da informação para qualquer atividade, seja proveniente de atividade in- telectual ou não (TAGUE-SUTCLIFFE, 1992). Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento70/227 Complementando a análise da informação na World Wide Web (WWW), surge a Webo- metria como o estudo de aspectos quan- titativos da construção e uso de recursos, estruturas e tecnologias da informação e comunicação na WWW a partir de indica- dores bibliométricos e informétricos (BJÖR- NEBORN E INGWERSEN, 2004). Alguns dos aspectos que analisa a webometria são: análise de conteúdo de páginas web, aná- lise da estrutura de enlaces web, análise de condutas de navegação, análise de tecnolo- gias web, como o desenho de buscadores e análise de enlaces e de citações web. Finalmente, a Patentometria é a aplicação de métodos estadísticos e matemáticos para medir informação de patentes com o Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento71/227 objetivo de identificar e analisar suas características, incluindo tendências, impacto, agrupações temáticas e desenvolvimentos crescentes ou decrescentes (CASTELLANOS, 2011). O quadro 2 resume o objeto de estudo, variáveis, métodos e objetivos das diferentes técnicas para a quantificação da informação. Quadro 2. Tipologia das técnicas para a quantificação da informação Tipologia/ Subcampo Bibliometria Cientometria Informetria Webometria Patentometria Objeto de es- tudo Livros, docu- mentos, revis- tas, artigos, autores Disciplinas, as- suntos, campos científicos e tecnológicos, patentes, teses Palavras, docu- mentos, banco de dados, co- municações in- formais Sítios na WWW (URL, tipo, do- mínio, tamanho e links) Patentes Variáveis Número de empréstimos (circulação) e de citações Como os cien- tistas se comu- nicam Medir a recupe- ração e relevân- cia Número de links que remetem ao mesmo sitio, sitações. Publicações, aparição de pa- lavras, invento- res, citações Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento72/227 Tipologia/ Subcampo Bibliometria Cientometria Informetria Webometria Patentometria Métodos Ranking, frequ- ência, distribui- ção Análise de con- juntos de cor- respondência, concorrência de termos e pala- vras-chave Modelos bo- oleanos de recuperação, linguagem de processamento, Tesauros Fator de im- pacto da Web (FIW), densi- dade dos links, estratégias de busca Classificação, frequência, dis- tribuição, aná- lise de conjunto e correspon- dencia, Objetivos Alocar recursos, pessoas, tempo, dinheiro Identificar do- mínios de inte- resse Melhorar a efi- ciência de re- cuperação da informação Avaliar o su- cesso dos sítios web, melhorar a eficiência dos motores de busca Identificar esfe- ras de interesse, focos de inova- ção, concorrên- cia, alianças. Fonte: Bufrén e Prates (2005). Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento73/227 Para saber mais O Fator de Impacto da Web (FIW) desenvolvido por Rodríguez-Gairín, (1997) e Ingwersen(1998), é a soma do número de páginas web internas e externas de um sítio dividido pelo número de páginas deste próprio sítio em um determinado momento. Vem sendo utilizado para medir o grau de atratividade e influência dos novos recursos de informação na Internet e na Web. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento74/227 Glossário Gestão do conhecimento: do inglês KM - Knowledge Management, é o nome dado ao conjunto de tecnologias e processos cujo objetivo é apoiar a criação, a transferência e a aplicação do co- nhecimento nas organizações Sitações: tradução para o português do neologismo “sitations” criado por Rousseau (1997) para designar as citações entre os sítios web. Tecnologias da informação e a comunicação TICs: são dispositivos tecnológicos (hardware e software) que permitem editar, produzir, armazenar, intercambiar e transmitir dados entre dife- rentes sistemas de informação. Estas aplicações que integram meios de informática, telecomu- nicações e redes permitem a comunicação e colaboração interpessoal (pessoa a pessoa) como a multidirecional (uno para muitos ou muitos para muitos). Estas ferramentas desempenham um papel chave na geração, difusão, gestão e aceso ao conhecimento (COBO, 2009). Tesauro: lista de palavras ou termos controlados empregados para representar conceitos ou significados semelhantes. Questão reflexão ? para 75/227 Levando em conta os conceitos apresentados sobre o conhecimento tácito e explicito e seus modos de con- versão: socialização, externalização, combinação e in- ternalização, identifique um exemplo para cada um de- les e explique como a sua implementação pode contri- buir à gestão do conhecimento mais eficiente ao interior da organização. 76/227 Considerações Finais • Foi apresentado o conceito de Sociedade do Conhecimento e foram explicadas suas principais características e o contraste com o Sociedade Industrial Capi- talista. Também se ressaltou a importância das tecnologias da informação e comunicação TICs neste novo contexto. • Foi feita uma distinção entre os conceitos de dados, informação, conhecimen- to e inteligência e como o processo de gestão do conhecimento é importante para que as organizações gerem valor agregado em seus produtos e serviços. • Também foram explicados os dois principais tipos de conhecimento: conheci- mento tácito e conhecimento explicito e seus principais modos de conversão que permitem fluxos de conhecimentos ao interior das organizações. • Finalmente se apresentaram as principais técnicas para a quantificação da in- formação: bibliometria, cientometria, informetria, webometria e patentome- tria. A aplicação destas técnicas permite que elas conhecer o estado de arte de novas tecnologias e do contexto competitivo das organizações. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento77/227 Referências BJÖRNEBORN, L.; INGWERSEN, P. Toward a basic framework for webometrics. JASIST. v. 55, n. 1, p. 1216-1227, 2004. BUFREM, L.; PRATES,Y. O saber científico registrado e as practicas de mensuração da informação. Ciência da Informação, Brasilia, v.34, n.2, p. 9-25, maio/ago, 2005. CASTELLANOS, O.; FÚQUENE, A.; RÁMIREZ, D. Análisis de tendencias: da la información hacia la innovación. Editorial Universidad Nacional de Colombia, Bogotá, 2011. CASTELLANOS, O. Gestión Tecnológica. De un enfoque tradicional a la inteligencia. Bogotá: Facultad de Ingeniería - Universidad Nacional de Colombia, 2007. v. 109. COBO, J.C. El concepto de tecnologías de la información. Benchmarking sobre las definiciones de las TIC en la Sociedad del Conocimiento. ZER Vol. 14, n. 27, p 295-318, 2009. FONIDE. Fondo de investigación y desarrollo en educación. La implementación de la Reforma Curricular en la Educación Media Técnico Profesional: Evaluación y Proyecciones.Informe fi- nal. Santiago de Chile, Ministerio de Educación, 2008. HAYEK, F.A.The use of knowledge in society.The American Economic Review 35, 519-530, 1945. INGWERSEN, P. The calculation of web impact factors. Journal of Documentation, v. 54, n. 2, p. 236-243, 1998. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento78/227 MARICATO, J.; NORONHA,D. Indicadores bibliométricos e cientométricos em CT&I: apontamen- tos históricos, metodológicos e tendencias de aplicação. In: PIUMBATO, M.C e Leta, J. Bibliomet- ria e cientometria. Reflexões teóricas de interfaces, 2013. MATTOS, J.R.; GUIMARÃES, L. Gestão da tecnologia e inovação: uma abordagem prática. São Paulo: Saraiva, 2005. MERTON, R. K La sociología de la ciencia: investigaciones teóricas y empíricas. Recopilación e introducción de Norman W. Storer. Madrid: Alianza Editorial, 1977. NONAKA, I.; TOYAMA, R.; KONNO, N. SECI, Ba and Leadership: a Unified Model of Dynamic Knowle- dge Creation. Long Range Planning 33 (2000) 5-34, 2000. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa: Como as empresas japone- sas geram a dinâmica da inovação.Rio de Janeiro, RJ : Campus, c1997. OLIVE, L. La ciência y la tecnologia en la sociedade del conocimiento: ética, política y episte- mologia.México: Fondo de Cultura Económica, 2007. REIS, D.R. Gestão da inovação tecnológica. Barueri, São Paulo: Manole, 2008. Unidade 3 • Informação como base de geração de conhecimento79/227 RODRÍGUEZ-GAIRÍN, J. M. Valorando el impacto de la información en internet: AltaVista, el “Cita- tion Index” de la red. Revista Española de Documentación Científica, v. 20, n. 2, p. 175- 181, 1997. Disponível em: <http://bd.ub.es/pub/rzgairin/altavis.htm>. Acesso em: 23 set. 2017. ROUSSEAU, Ronald. Sitations: an exploratory study. Cybermetrics, v. 1, n. 1, 1997. TAGUE-SUTCLIFFE, J. An introduction to Informetrics. Information Processing & Management. V. 28, n.1, p. 1-3, 1992. TAPSCOTT, D. La economia digital. Capitulo 2. Doce temas de la nueva economia. Editorial Mc- Graw Hill, 1997. http://bd.ub.es/pub/rzgairin/altavis.htm 80/227 1. Qual dos seguintes tópicos não corresponde a uma característica da So- ciedade do Conhecimento: a) Uso das Tecnologias da Informação e Comunicação TICs em seus processos produtivos b) Produção diversificada e segmentada. c) Economia fechada. d) Estrutura organizacional em rede. e) Meios de comunicação digitais. Questão 1 81/227 2. Qual é a principal característica que diferencia à informação do conheci- mento: a) A forma em que são coletados. b) A veracidade das fontes de informação. c) A pessoa ou organização que os gera. d) A base de dados que utiliza. e) O contexto específico no qual se desenvolvem. Questão 2 82/227 3. O processo de adquirir conhecimento tácito mediante o intercambio e com- partilhamento de experiências se denomina: a) Internalização. b) Socialização. c) Conhecimento explícito. d) Combinação. e) Externalização. Questão 3 83/227 4. Qual das seguintes técnicas é considerada como a base teórica para a quantificação da informação: a) Patentometria. b) Cientometria. c) Webometria. d) Bibliometria. e) Informetria. Questão 4 84/227 5. Qual dos seguintes tópicos não é analisado pela Webometria: a) Como os cientistas se comunicam. b) Motores de busca. c) Estratégias de busca. d) Domínios web. e) Número de links. Questão 5 85/227 Gabarito 1. Resposta: C. A Sociedade do Conhecimento se caracteri- za por inserir-se num contexto de globaliza- ção e de economia aberta e não de econo- mia fechada. 2. Resposta: E. A principal característica que diferencia à informação do conhecimento é o contexto especifico em que se desenvolve porque o contexto determina seu verdadeiro signifi- cado. 3. Resposta: B. O processo de socialização do conhecimen- to tácito para o conhecimento tácito é feito através do compartilhamento de experiên- cias que permite projetar-se no processo de raciocínio de outro individuo. 4. Resposta: D. Se considera que a bibliometria é a base te- órica das técnicas de quantificação da in- formação, a qual começou a aplicar técnicas estadísticas e matemáticas para os livros e artigos. Estas técnicas se foram ampliando para outros tipos de informação como do- cumentos na web e patentes. 5. Resposta: A. A identificação de como os cientistas se co- municam é uma das principais variáveis da cientometria. 86/227 Unidade 4 Inovação tecnológica Objetivos 1. Reforçar noções básicas associadas ao conceito de inovação tecnológica. 2. Explorar alguns dos principais mode- los usados para representar o proces- so de inovação tecnológica. 3. Conhecer sobre alguns dos manuais existentes para a medição da inova- ção. Unidade 4 • Inovação tecnológica87/227 Introdução Em ambientes de mudança constante como os observados na atualidade – nos quais a evolução das tecnologias é cada vez mais rápida e os ciclos de vida dos produtos cada vez mais curtos, a inovação tecnológica ganha mais relevância nas análises feitas sobre os sistemas econômicos. Em alguns casos, inclusive, o impacto da inovação é considerado como um fator mais impor- tante do que outras variáveis presentes nas análises convencionais. Mas, como ocorrem as inovações e como pode ser medido seu impacto? É partindo dessas perguntas que abordaremos os conteúdos deste tema. Para tanto, na primeira seção começare- mos apresentando algumas definições vin- culadas à inovação necessárias para o me- lhor entendimento do conceito, isto incluí a referência a conceitos já explorados no primeiro Tema do curso, bem como a dife- rença entre dois conceitos novos: inovações radicais e inovações incrementais. Na se- gunda seção revisaremos dois dos mode- los mais populares que têm sido propostos para o estudo do processo de inovação: o modelo linear e o modelo interativo ou sis- têmico (Chain Linked Model). Buscamos com isto obter subsídios para um melhor enten- dimento do dinamismo nos processos de inovação e a complexidade que envolve o seu estudo. Por fim, na terceira seção explo- raremos sucintamente aspectos relativos a dois dos manuais propostos por organiza- ções internacionais para medir a inovação e seu impacto: o Manual de Oslo e o Manual de Bogotá. Unidade 4 • Inovação tecnológica88/227 1. Noções básicas Nesta seção vamos a retomar alguns dos conceitos associados à inovação que já vi- mos no primeiro Tema “Bases conceituais da Gestão da Inovação” sobre os quais é preciso ter clareza para explorar os conteúdos que queremos abordar neste tema. Vamos tam- bém a apresentar outra diferença que pode nos ajudar a melhorar o entendimento do conceito de inovação: a diferença entre ino- vações incrementais e inovações radicais. Sobre as noções básicas já exploradas, lem- bremos: • Primeiro, que existem diversos tipos de inovações, pudendo ser elas de produto ou serviços, de processo, de marketing, ou organizacionais. • Segundo, que não é possível falar de inovação se não há implementação. Ou seja, o produto deve ter sido co- mercializado, ou os processos ou mé- todos de marketing e organizacionais devem ter sido efetivamente utiliza- dos. Assim, por exemplo, no caso de um produto que não tenha sido co- mercializado estaríamos falando de invenções e não de inovações. • Terceiro, que a inovação tem sido re- conhecida como a principal causa das grandes mudanças observadas na economia, sendo Joseph Schumpeter o primeiro em reconhecer esse fenô- meno (associado ao conceito de “des- truição criadora”). Unidade 4 • Inovação tecnológica89/227 Já sobre a diferença entre inovações radi- cais e incrementais podemos começar ci- tando as palavras de Joseph Schumpeter in- dicando que “as inovações radicais dão forma às grandes mudanças no mundo, enquanto que as inovações incrementais preenchem o processo continuamente ”(OECD; EUROSTAT, 2005, pág. 16). FREEMAN& PEREZ (1988) nos oferecem as seguintes definições sobre cada uma delas: • As inovações incrementais são aque- las invenções e melhoras realizadas sobre processos, produtos, métodos, artefatos ou sistemas já existentes. Tais inovações não chegam a ter efei- tos dramáticos sobre a produtividade de forma individual, mas são de gran- de importância para o melhoramen- to da eficiência no uso dos fatores de produção y, geralmente, são o
Compartilhar