Buscar

como conhecer as ideias a reminiscencia e o inatismo do conhecimento

Prévia do material em texto

A teoria da reminiscência de Platão 
Para Platão, conhecer é rememorar. Nós já nascemos com o conhecimento das formas, as quais contemplamos
antes de nascer. No entanto, tal conhecimento foi esquecido quando adentramos no corpo, de forma que o
esforço �losó�co de busca do conhecimento é um modo de relembrar aquilo que esquecemos. O Mito de Éris,
trazido no �nal da República, nos mostra como nos tornamos ignorantes, como esquecemos das puras formas.  
Por conta disso, o conhecimento, para Platão, é considerado uma reminiscência ou anamnese (em termos
técnicos). Trata-se de despertar o conhecimento latente que temos dentro de nós. E como isso se passa? Através
da maiêutica e da dialética.  
Sabemos que as ideias ou formas, na concepção de Platão, são essências transcendentes, separadas do mundo
sensível em um mundo das ideias. Trata-se de puras de�nições, eternas e imutáveis, que são responsáveis pelo
nosso mundo tal como se apresenta aos nossos sentidos, em sua inconstância e variação. As ideias são a
realidade última ao passo que a nossa realidade sensível é apenas uma sombra. Mas, para Platão, como podemos
conhecê-las? Nesta webaula, compreenderemos isso. 
Tese do inatismo do conhecimento 
Platão defende a tese do inatismo do conhecimento. Inatismo, em epistemologia, é a tese de que o conhecimento
não é adquirido, mas inato, ou seja, já nascemos sabendo. Diferentemente de uma abordagem empirista, por
exemplo, segundo a qual o conhecimento é adquirido ao longo da vida, através da experiência sensível, para
Platão, o conhecimento vem de dentro de nós. 
O mito narra a história de um pastor, Éris, que, após morrer em batalha, retorna dos mundos dos mortos e
conta o que lá observou. Trata-se de uma narrativa muito rica e complexa, mas, para nossos propósitos,
basta sublinhar o seguinte elemento: as almas, após terem escolhido, na medida das suas possibilidades, os
seus respectivos destinos na próxima vida, são obrigadas a beber das águas do Rio Lethe (esquecimento, em
grego). Os mais sábios bebem menos, ao passo que os ignorantes bebem por demais. A partir destas águas é
que nós nos esquecemos, ao encarnar, das formas que contemplamos quando desencarnados. Quando
encarnamos, aquilo que víamos claramente se torna obscuro, opaco. Nós esquecemos das ideias quando
ganhamos um corpo, mas elas permanecem adormecidas na alma (CHAUÍ, 2000, p. 86) . 
Maiêutica 
Maiêutica é o “parto”, ou seja, Sócrates “paria” ideias em seus interlocutores através do questionamento. Esse
movimento é, agora, identi�cado ao movimento de rememoração. Através do questionamento, o conhecimento
inato pode ser lembrado, rememorado. O trabalho do �lósofo é precisamente este: fazer o conhecimento
esquecido voltar à luz.  
História da Filoso�ia Antiga II  
Como conhecer as ideias? A reminiscência e o inatismo do conhecimento 
Você sabia que seu material didático é interativo e multimídia? Isso signi�ca que você pode interagir com o conteúdo de diversas formas, a
qualquer hora e lugar. Na versão impressa, porém, alguns conteúdos interativos �cam desabilitados. Por essa razão, �que atento: sempre
que possível, opte pela versão digital. Bons estudos! 
No Mênon, Sócrates (o personagem) nos dá um exemplo do seu método de rememoração. Ele propõe um
problema matemático ao jovem escravo de Mênon. O escravo não teve nenhum estudo prévio de geometria
e �loso�a, portanto é completamente ignorante nestes assuntos. Sócrates propõe ao jovem que construa um
quadrado com o dobro da área de um quadrado previamente desenhado pelo �lósofo. O escravo procede
alargando o lado do quadrado, o que acaba produzindo um retângulo. A partir do retângulo, prolonga
novamente um dos lados, e acaba chegando a um quadrado oito vezes maior (e não duas vezes) que o
antecedente. Por �m, a partir das indagações de Sócrates, o escravo acaba por deduzir que pode construir o
quadrado requerido, a partir da diagonal do primeiro quadrado (MARCONDES, 2007) . Assim, ele acaba por
construir um quadrado com o dobro da área do primeiro. Sócrates, neste percurso, não ensinou diretamente
o jovem a construí-lo. Não se dirigiu a ele ao modo de “veja, se você �zer isso e isso chegará à resposta
correta”. A dedução do escravo se deu, a partir, exclusivamente, do questionamento socrático. A conclusão
correta se deu por intermédio da simples indagação e não da apresentação direta da solução.  
Uma vez que o jovem não tinha estudado geometria antes, como ele pôde chegar ao resultado? A resposta
platônica é, precisamente, a reminiscência. O conhecimento já estava latente dentro do jovem, bastando ser
rememorado. Nesta narrativa, temos Sócrates “parindo” um conhecimento que estava adormecido no jovem
escravo. Antes de encarnar em seu corpo, a alma do jovem contemplou as formas e, após, o questionamento
de Sócrates conseguiu relembrar o que as águas do Rio Lethe o haviam feito esquecer. 
Dialética e ascensão racional 
A dialética é o processo de rememoração em sua mais alta faceta. Trata-se do embate discursivo entre teses
opostas como método para ascensão de um conhecimento falho e mutável para um eterno e perfeito (as formas
ou ideias). Essa ascensão tem etapas que correspondem a uma atitude mental e ao seu referente real. Em Platão,
segundo Marcondes (2007, p. 66), os tipos de conhecimento, do mais instável ao eterno, são: 
Eikasia (mundo sensível) 
Eikasia: visão das coisas como se apresentam à experiência irre�etida do senso comum. 
Exemplo: conhecimento de um pedaço de pau na água, distorcido pelo re�exo. 
Pistis (mundo sensível) 
Pistis: conhecimento dos objetos naturais.  
Exemplo: ciências naturais: zoologia, física, química. 
Dianoia (mundo inteligível)
Dianoia: conhecimento dos objetos matemáticos pelo geômetra. 
Exemplo: Teorema de Pitágoras, Teorema de Euler. 
Noesis (mundo inteligível) 
Noesis: conhecimento das formas pelo dialético. 
Exemplo: a justiça em si, a beleza em si, a virtude em si. 
Pesquise mais
Saiba mais
A paixão, para Platão, também se diz da Teoria das Formas. Para o �lósofo, nós amamos quando vemos na
pessoa amada algo da pura forma da beleza que nos faz rememorá-la. A visão da pessoa amada –
necessariamente sensível – nos leva, como em uma “carruagem alada”, à lembrança da pura beleza que
vimos antes de encarnamos. Por isso, a experiência de se apaixonar é um “choque” ou uma surpresa. Algo do
suprassensível se revela no sensível por meio da paixão (KAHN, 2006) . 
Podemos ver como, no percurso da eikasia à noesis, vai-se gradativamente abandonando os sentidos em direção
a um conhecimento puramente abstrato e racional. Neste sentido, Platão é, sem dúvida, um racionalista: a razão é
priorizada em relação à sensibilidade, sendo todo conhecimento adquirido por meio dos sentidos um
conhecimento inferior. A rememoração das formas é um procedimento racional de ascensão do campo sensível
para o campo inteligível.  
Para visualizar o vídeo, acesse seu material digital.

Continue navegando