Buscar

Trabalho - TUTELA PROCESSUAL DO MEIO AMBIENTE

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CURSO DE DIREITO
ALUNOS: ANA CLÁUDIA LESSA DOS SANTOS; BELLA MAYANA NASCIMENTO
BARRETO DA SILVA; CAIO VINÍCIUS COSTA NERI SANTOS; LUCAS DE JESUS
CUNHA; PEDRO DANIEL SANTOS DA CRUZ; RAFAELA NUNES DA CUNHA;
RAYANE DE JESUS ROCHA; RONALD CLEITON SOUZA DA CRUZ;
TUTELA PROCESSUAL DO MEIO AMBIENTE
ARACAJU - SE
2022
SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO……………………………………………………………………...………02
1. UM BREVE HISTÓRICO: DIREITOS COLETIVOS E DIREITO AMBIENTAL...03
2. INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL………………..04
2.1. Microssistema Processual Coletivo……………………………………………………...04
2.2. Ação civil pública………………………………………………………………………..04
2.2.1. Inquérito Civil………………………………………………………………………….05
2.2.2. Tutela de urgência……………………………………………………………………...06
2.2.3. Efeitos da coisa julgada…………………………………………………………..……06
2.2.4. Despesas processuais………………………………………………………………..…08
2.2.5. Desistência…………………………………………………………………………..…08
2.3. Ação Civil Pública e Mandado de Segurança……………………………………………08
2.4. Ação Popular…………………………………………………………………………..…09
2.5. Mandado de injunção…………………………………………………………………….09
3. A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE PELA CONVENÇÃO DE DIREITOS
HUMANOS…………………………………………………………………………………..11
CONCLUSÃO……………………………………………………………………………….12
REFERÊNCIAS...…………………………………………………………………………...13
1
INTRODUÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, dispõe em seu art. 225 que
o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito de todos. Além disso, deixa claro
nesse dispositivo que o meio ambiente é, de certo, essencial à sadia qualidade de vida.
Cumpre destacar, portanto, que nos primórdios do desenvolvimento do Brasil, a
exploração de recursos naturais era, incontestavelmente, uma atividade desregrada e que
interessava naquele momento a atividade por si mesmo e o retorno que isso traria para quem
usufruía de tais bens, pouco importando o que poderia advir de tal prática.
Assim, é de suma importância se ater para o contexto histórico que leva o sistema
jurídico e a mudança de pensamento dos envolvidos na relação homem-natureza, a prezar por
um meio ambiente ecologicamente equilibrado e que, para tanto, fez-se necessário a
positivação de normas e princípios que firmassem as tutelas processuais do meio ambiente.
Além disso, é importante trazer à baila os instrumentos que, a partir das normas
constitucionais e infraconstitucionais, são utilizados para dar efetividade às tutelas, reduzindo
assim o impacto que o desenvolvimento do país e a exploração dos recursos naturais trazem
para a vida coletiva nacional e global, como um todo.
A partir disso, tem-se no sistema jurídico brasileiro que a preservação do meio
ambiente e, concomitantemente, o cuidado e zelo, é dever solidário, devendo, portanto, todos
os cidadãos zelar pela qualidade do meio ambiente, juntamente com o Poder Público.
Destaque-se que este último desempenha também um papel de proteção através da tutela do
meio ambiente e as formas que ele deve exercer essa tutela.
Ressalte-se, outrossim, que o ordenamento jurídico pátrio dispõe da responsabilidade
penal, civil e administrativa àqueles que praticam atos que lesionam o meio ambiente e a
própria Constituição Federal explicita que essa lesividade atinge a todos, coletivamente.
Desse modo, vale pontuar que festejada é a CF/88 pelo impacto e transformações
significativas e profundas que causou quando da matéria do Direito Ambiental, estimando a
proteção e preservação dos recursos naturais em meio à realidade crítica do meio ambiente.
2
1. UM BREVE HISTÓRICO: DIREITOS COLETIVOS E DIREITO
AMBIENTAL
Quando se trata de definir o exato momento em que os direitos coletivos entraram no
ordenamento jurídico, parte majoritária da doutrina concorda que tal momento remonta ao
ano de 1965, com o advento da Lei de Ação Popular, tendo em vista que, nesse tipo de Ação,
o autor pleiteia a resolução a resolução de um conflito que envolve, ao mesmo tempo, direito
subjetivo e direito da coletividade.
Em seguida, tomou forma no nosso ordenamento jurídico a Lei de Política Nacional
do Meio Ambiente (Lei 6938/1981). Lei essa que tornou-se um importante marco do início do
tratamento de importância que a ciência ambiental passaria a ter.
Por sua vez, a Constituição de 1988, além de reafirmar a tutela dos direitos
individuais, adicionou ao seu rol de proteção os direitos coletivos.
Quanto ao direito a um meio ambiente sadio, foi por meio do artigo de número 225
que a Constituição de 1988 lhe deu proteção jurídica e tornou o meio ambiente um direito
coletivo, reconhecendo-o como um item essencial à qualidade de vida e que necessita ser
defendido e preservado.
Assim, o Direito Ambiental propriamente dito veio a tomar eficácia normativa após o
advento da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente.
Desde então temos no ordenamento jurídico brasileiro o meio ambiente estabelecido como
um bem comum de uso coletivo.
3
2. INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
O meio ambiente equilibrado e sadio, por ser item essencial à vida, deve ser um bem
protegido por todos os indivíduos. Há recursos naturais que, caso submetidos a abuso, podem
ser impossíveis de se recuperar. Portanto, a simples expectativa de dano ao meio ambiente
deve mobilizar o Poder Público no sentido de protegê-lo e, caso não seja possível, restaurá-lo.
Deste modo, existe uma gama de instrumentos processuais disponíveis para prevenir abusos
ao meio ambiente, recuperá-lo quando possível e punir os responsáveis.
2.1. Microssistema Processual Coletivo
É sabido que, caso um direito seja violado, é por meio do direito processual que se irá
buscar o bem jurídico tutelado. É dever do Direito Processual Civil oferecer ao jurisdicionado
as técnicas ideais para que se alcance o direito material, principalmente quando o direito a ser
tutelado é o meio ambiente e todos os recursos que provêm dele.
Após o estabelecimento do CPC/2015, o Direito Ambiental ganhou mais um meio
processual para a resolução de lides específicas. Entretanto, antes mesmo do Código Civil de
2015, o processo civil ambiental era trabalhado quase que exclusivamente pelo microssistema
processual coletivo. O microssistema processual coletivo, por sua vez, é um conjunto de
diplomas legais que suprem a ausência de um código específico, pois tratam de direitos
difusos e coletivos. Incluem-se nesse conjunto a Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85),
a Lei da Ação Popular(Lei nº 4.717/65), a Lei de Mandado de Segurança (Lei nº 12.016/09) e
o Código de Defesa do Consumidor (CDC), entre outros. Alguns dos mais importantes desses
instrumentos legais serão tratados em momento posterior.
2.2. Ação civil pública
A Ação Civil Pública (ACP) trata-se de remédio processual de suma importância
dentro do ordenamento jurídico brasileiro atual. Tal ato processual visa a proteção
jurisdicional de interesses coletivos e é considerado por muitos juristas como a técnica
processual que mais oferece vantagens à tutela jurisdicional do meio ambiente. A ACP tem
sua origem intrinsecamente ligada à questão ambiental, tendo em vista que o projeto de lei
que levou à sua criação - com a implementação da lei n. 7.347/85 - surgiu a partir da criação
da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.
“Ação Civil Pública é o instrumento processual adequado para reprimir ou impedir danos ao meio
ambiente, ao consumidor (lei nº 8.078/90, arts. 91 a 100), a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico e a qualquer outro interesse difuso ou coletivo'' (art. 1°, Lei 7.347/85).
4
A ação Civil pública se trata de um remédio processual usado no ordenamento jurídico
brasileiro, tendo o objetivo de sanar vícios de interesses coletivos.
A lei de ação civil pública é um diploma processual e procedimental e que deve ser
usada como ferramenta quando houver repreensões de direitos coletivos. Além disso, possui
aplicação subsidiária, ou seja, sempre quando houver a necessidadede proteger os interesses
da tutela de um direito que precise de tratamento específico, deverá a ação civil pública ser
usada para tanto.
O artigo 5º da LACP dispõe algumas características para determinar a legitimidade
dos entes para atuar em ações civil públicas, qual seja:
“Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I — o Ministério Público; II
— a Defensoria Pública; III — a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV — a autarquia,
empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V — a associação que, concomitantemente: a)
esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.”
Apenas entes de direitos coletivos podem ajuizar uma ACP em prol dos interesses coletivos.
Além disso, o artigo 2º da lei 7.347/85 dispõe sobre quem possui competência para
ajuizar uma ação civil pública, in verbis:
“Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo
terá competência funcional para processar e julgar a causa. Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a
jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o
mesmo objeto.”
Ou seja, o juiz irá apreciar a demanda porque está mais próximo dos fatos ocorridos.
Importante dizer que, a ação civil pública não engloba a responsabilidade objetiva,
não sendo necessário que se comprove dolo ou culpa do agente, somente comprovação do
dano ao meio ambiente. Importante frisar também que a ação pode ser formulado a proposta,
em casos de lesão, por exemplo, pugnar o pedido de liminar, com base no artigo 12 da lei nº
7.437/85 (“Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em
decisão sujeita a agravo.”) na petição inicial, sendo concedida ou não pelo juiz, importante
destacar também que esta decisão está sujeita ao recurso de agravo.
2.2.1. Inquérito Civil
Em relação à produção de provas, o uso do inquérito civil é um meio bastante
utilizado e está previsto no art. 8, § 1º, LACP, e pode ser instaurado somente pelo Ministério
Público.
O inquérito é uma ferramenta administrativa que visa encontrar elementos que provem
a necessidade da propositura da ação. Sua natureza jurídica possui o aspecto procedimental,
ou seja, não possui o fim em si mesmo, é apenas um aparato para obter respostas.
5
Seu objeto é estabelecer e limitar os fatos, com o fim de investigar e confirmar a
necessidade de instaurar uma ação civil pública.
2.2.2. Tutela de urgência
A tutela de urgência está prevista no Código de Processo Civil entre os artigos 294 e
310 do código processual, e se trata de um pedido realizado ao juiz com o objetivo de analisar
um assunto, em que há provas que evidenciam a veracidade do direito e a existência de perigo
ou dano ao resultado dentro de uma demanda judicial.
As tutelas podem ser de caráter cautelar ou antecipatório, sendo a primeira busca assegurar
um direito da parte, possibilitando que a mesma possa procurar o direito; e a segunda, acelerar
os efeitos da sentença, propiciando ao autor da ação os seus direitos antes do fim do processo.
A lei nº 7.347/85, atribui as duas espécies de tutela de urgência, sendo tratada nos artigos
4º e 12:
“Art. 4º Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao
meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico (VETADO). (...).” “Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem
justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”
Além de aplicar o artigo 294, CPC, alinhando conforme a necessidade das tutelas.
Importante dizer que, poderá haver a suspensão da eficácia da liminar, mediante
decisão do Presidente do Tribunal de Justiça (art. 12, §1º, lei º 7.347/85), mediante
requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e com o objetivo de evitar
grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública.
A suspensão pode ser aplicada durante a execução da sentença, enquanto estiver no
prazo para interposição de recursos. A suspensão da liminar não possui natureza recursal, ou
seja, não se sujeita a prazos, não possui o poder de reformar ou anular decisões e também não
devolve a questão decidida à apreciação do Tribunal de Justiça, que não analisa seu acerto ou
desacerto, mas apenas se há possibilidade de lesão à ordem pública.
2.2.3. Efeitos da coisa julgada
A coisa julgada, segundo o direito romano, significa um ato julgado, essa expressão,
portanto, possuía um caráter materialista, de forma que, era necessário indicar um objeto para
julgamento. O pensamento atual é diferente, sendo a coisa julgada um fato que será julgado e,
após, não poderá ser discutido em determinadas competências.
De acordo com a redação no texto original da lei 7.347/85, em seu artigo 16, in verbis: A sentença civil
fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for
6
julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra
ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
Então, pro fato de a sentença possuir efeito erga omnes, os seus efeitos atingem a todos,
inclusive àqueles que não estão cadastrados como partes, isso é uma das consequências da
ação penal pública. Outra questão importante é que em sentenças improcedentes em razão de
deficiência de provas, ela é chamada de coisa julgada secundum eventum probationis, que
dita, caso não haja a produção de provas, não haverá a formação da coisa julgada material, e
em consequência, a sentença será improcedente.
Importante destacar que a coisa julgada sofreu algumas mudanças com o advento do
Código de Defesa do Consumidor (CDC), ele ampliou o rol que disciplina a coisa julgada. É
o que se extrai do artigo 103, CDC, o qual irá estabelecer diversas regras para a
regulamentação do interesse coletivo:
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que
qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese
do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de
provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art.
81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores,
na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais
dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem
intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de
julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas
individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus
sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.
Em relação ao estudo em demandas de interesses difusos, a coisa julgada produzirá
efeitos erga omnes, então, qualquer pessoa poderá ser submetida a sentença produzida pelo
PoderJudiciário, entretanto, não poderá discutir os efeitos na mesma competência. Em
relação a ações que tutelam o direito coletivo, também chamado de stricto sensu, a coisa
julgada produzirá efeitos Ultra partes, ou seja, o efeito ultrapassará as partes, será
consequência para grupos e classes. Importante destacar que, em casos de improcedência em
razão de insuficiência de provas, os legitimados poderiam ingressar novamente com uma
demanda, desde que encontrem elementos que comprovem a veracidade dos fatos. Em relação
a ações civis públicas que tutelam interesses individuais homogêneos, são direitos híbridos
porque possuem característica de direitos coletivos. A coisa julgada secundum eventum
probationis foi desenvolvida para sanar lacunas relativas a insuficiência de provas em
7
demandas de interesses coletivos, sendo possível ser ajuizada outras vezes, desde que seja
pelo seu legitimado comprove a veracidade dos fatos com novas provas
2.2.4. Despesas processuais
As despesas processuais possuem os seguintes gêneros: custas, emolumentos, diárias
de testemunhas e honorários de perito. O artigo 84, CPC ainda acrescenta às custas dos atos
do processo, incluindo indenização de viagem, a remuneração do assistente técnico, diária de
testemunhas etc.
No sistema processual, ainda há a possibilidade de antecipar os pagamentos das
despesas a depender dos atos que acontecem nos processos, esses que podem ser praticados
de ofício ou por requerimento do Ministério Público, sendo o adiantamento incumbência do
autor. Ao final do processo, a parte vencida é obrigada a pagar os adiantamentos feitos, assim
como os honorários advocatícios.
2.2.5. Desistência
Primeiro, é necessário que o réu esteja necessariamente citado e tenha transcorrido o
prazo determinado para sua manifestação ou seja acostado aos autos requerimento para que
seja configurado a desistência, como está definido no artigo 267, CPC. Então, considerando
também que as ações civis públicas são ajuizadas em prol da coletividade, se faz necessário
intimar o Ministério Público ou outro ente com legitimidade ativa para concordar ou não com
o pedido de desistência.
2.3. Ação Civil Pública e Mandado de Segurança
A ACP está solidificada na lei nº 7.717/65, possui natureza condenatória e reparatório,
sendo possível pleitear a invalidação de um ato ou contrato administrativo que possua caráter
ilegítimo, ilegal ilícito e lesivo ao patrimônio público. A ACP possui um prazo de até 5 anos,
seguindo o rito ordinário, sendo possível produzir provas. Além disso, possui competência no
local onde ocorreu o dano e, por isso, não existe competência para realizar remessa para outro
foro.
Em relação ao mandado de segurança, este está legitimado na Lei 12.016/2009, assim
como na Constituição 1988 no artigo 5º, LXIX e LXX, quais sejam:
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por
"habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;
8
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação
no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
O mandado de segurança possui natureza de remédio constitucional, entretanto,
diferenciando da ação popular, segue o rito sumário, havendo a possibilidade de usufruir do
habeas corpus. Possui natureza residual e também não há a possibilidade de produção de
provas.
Além disso, o mandado de segurança coletivo possui um prazo máximo de 120 dias.
Também detém a chamada prerrogativa de função, ou seja, leva em conta a autoridade
coatora. Por fim, a sua tutela de urgência possui caráter liminar/cautelar, por isso, seu objeto
será apenas os direitos individuais homogêneos e coletivos.
2.4. Ação Popular
A ação popular possui base na lei 4.717/65, assim como no artigo 5º, LXXIII, CF/88,
in verbis:
“LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;”
A Ação popular busca pleitear o direito comum de todos, o coletivo, e não o direito
individual, é realizada mediante o rito ordinário e a legitimidade ativa é conferida ao cidadão,
devendo este ser brasileiro nato ou naturalizado e estar permitido a exercer os seus direitos
políticos.
A Ação popular possui natureza condenatória, possuindo a capacidade de pleitear a
invalidação de um contrato ou ato lesivo ao patrimônio público de caráter ambiental, histórico
e cultural.
2.5. Mandado de injunção
O mandado de injunção é uma ação constitucional que está prevista no artigo 5º,
LXXI, CF/88. Para haver a sua legitimidade é necessário haver a cumulação de dois
requisitos: a omissão legislativa e o impedimento do exercício regular de uma garantia
constitucional, como a liberdade, por exemplo, ou uma cerceação de uma prerrogativa
relacionada a cidadania, nacionalidade. O sujeito titular do direito subjetivo é aquele que
possui legitimidade ativa para ajuizar a ação.
Importante ressaltar que lacuna jurídica é diferente de mandado de injunção. A lacuna
é formada diante da inexistência de uma norma jurídica regulamentada para sanar
9
determinada situação. O mandado de injunção é usado quando existe uma norma, mas a sua
efetividade está comprometida.
Ainda deve ser dito que quem possui competência para julgar o mandado de injunção
é a Corte Suprema (art. 102, i, q, CF) quando for necessário o exercício direto de alguma
dessas entidades: Presidente da República, Congresso Nacional, Câmaras dos Deputados, do
Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da
União, de um dos Tribunais Superiores.
10
3. A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE PELA CONVENÇÃO DE
DIREITOS HUMANOS
A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), regida pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos, é um tratado entre países americanos. A convenção
instituiu o Sistema Interamericano de Direitos Humanos que é, até os dias atuais, uma das
bases de proteção dos Direitos Humanos.
Qualquer pessoa pode apresentar denúncia contra os Estados membros da Organização
dos Estados Americanos (OEA), especificando qual direito foi violado e apresentando sua
petição à Corte. Após a denúncia, a Corte analisa a denúncia por meio de um relatório de
mérito e busca solucionar a lide através da autocomposição. Caso não haja conciliação entre
as partes ou se o Estado denunciado não adotar medidas remediadoras, o caso será finalmente
submetido à corte para o enfrentamento do devido processo legal.
Desde 1998, quando reconheceu a jurisdição da Corte Americana de Direitos
Humanos, o Brasil passou a poder ser processado e julgado em processo instaurado pelo
Sistema. Até os dias atuais, são 11 os casos que constam na corte contra o país, dentre os
quais 10 transitam em julgado.
Para a Corte, o direito ao meio ambiente tem aparecido como um direito acessório que
deriva de outras garantias fundamentais, como o direito à vida (art. 4º do tratado da
Convenção) e à propriedade (art. 21). Até o presente momento, a única decisão que abordou a
questão ambiental sem relação direta com povos indígenas e quilombolas, deu-se no caso de
Claude Reyes, do Chile, mas acabou não tratando da proteção ambiental em si, apenas do
direito à informação a respeito de quais seriam os possíveis impactos ambientais que um
empreendimento local viria a causar.
A título de exemplificação, podemos citar o caso 12.569, peticionado em 2022, em
que comunidades quilombolas situadas em Alcântara (MA) acusam a RepúblicaFederativa do
Brasil de afetar a propriedade coletiva de mais de 150 quilombolas devido à desapropriação
de suas terras, à falta de emissão de títulos de propriedade e à construção de uma base aérea
em suas terras sem consulta ou aviso prévio.
11
CONCLUSÃO
O advento da Constituição Federal de 1988 marcou profundamente a visão jurídica do
meio ambiente, dando a esta matéria a devida atenção que há tempos foi, indubitavelmente,
escanteada.
Assim, com a evolução do próprio Direito Ambiental, os instrumentos processuais
para a proteção do meio ambiente encontram-se reguladas de maneira tal a evitar danos
irreversíveis ao ambiente, utilizando-se, então, do microssistema processual coletivo, a
exemplo da Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), a Lei da Ação Popular (Lei nº
4.717/65), a Lei de Mandado de Segurança (Lei nº 12.016/09) e o Código de Defesa do
Consumidor (CDC), estes com o intuito de operacionalizar a efetiva preservação do meio
ambiente.
Vale ressaltar, portanto, que apesar dos grandes avanços no próprio ordenamento
jurídico e da criação de normas, bem como a produção de pensamento e correntes doutrinárias
acerca das formas de proteção do meio ambiente, ainda resta um longo caminho para que os
abusos da exploração, desmatamento e degradação da natureza possam ser sanados.
12
REFERÊNCIAS
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988;
Livro - SARLET, Ingo e FENSTERSEIFER. CURSO DE DIREITO AMBIENTAL 2021;
Livro - ABELHA, Marcelo. DIREITO AMBIENTAL ESQUEMATIZADO 2021;
PLASTINO, Luisa Mozetic. As decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre
o Brasil. Nexo Políticas Públicas, 12 de agosto de 2021. Democracia. Disponível em:
https://pp.nexojornal.com.br/linha-do-tempo/2021/As-decis%C3%B5es-da-Corte-Interameric
ana-de-Direitos-Humanos-sobre-o-Brasil;
Organização dos Estados Americanos (OEA), Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH), Sobre a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Casos na Corte. Disponível
em: https://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/demandas.asp;
Comunidades Quilombolas de Alcântara, Brasil. Caso 12.569, Relatório Nº 189/20. Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, OEA/SER.L/V/II.176, Doc. 202. 14 de junho de 2020.
Disponível em: https://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/corte/2022/BR_12.569_PT.PDF;
Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Assinada na Conferência Especializada
Interamericana sobre Direitos Humanos, San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969.
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Disponível em:
https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm;
BOTELHO, Tiago Resende. A Proteção Jurídica do Meio Ambiente no Brasil e a Eficácia dos
Instrumentos Processuais. Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, Faculdade de
Direito, Programa de Pós Graduação em Direito Agroambiental, Nível Mestrado. Cuiabá -
MT, dezembro de 2011. Disponível em:
https://ri.ufmt.br/bitstream/1/1695/1/DISS_2011_Tiago%20Resende%20Botelho.pdf;
13
https://pp.nexojornal.com.br/linha-do-tempo/2021/As-decis%C3%B5es-da-Corte-Interamericana-de-Direitos-Humanos-sobre-o-Brasil
https://pp.nexojornal.com.br/linha-do-tempo/2021/As-decis%C3%B5es-da-Corte-Interamericana-de-Direitos-Humanos-sobre-o-Brasil
https://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/demandas.asp
https://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/corte/2022/BR_12.569_PT.PDF
https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm
https://ri.ufmt.br/bitstream/1/1695/1/DISS_2011_Tiago%20Resende%20Botelho.pdf

Continue navegando