Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2019 Química Orgânica ii Profª. Clarice Fedosse Zornio Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Profª. Clarice Fedosse Zornio Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: Z88q Zornio, Clarice Fedosse Química orgânica II. / Clarice Fedosse Zornio. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 218 p.; il. ISBN 978-85-515-0253-2 1.Química orgânica – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 547 III apresentaçãO Prezado acadêmico, no Livro de Química Orgânica I você foi apresentado ao mundo da química orgânica e pôde compreender um pouco do porquê da sua importância dentro da grande área da ciência que é a química. Agora, neste Livro de Química Orgânica II, é o momento de aprofundar ainda mais os seus conhecimentos. O estudo da química é, por si só, fundamental para que possamos compreender as leis da natureza, tendo a química orgânica um papel importante sobre isso, uma vez que ela estuda os compostos de carbono. Como você já sabe, a vida na Terra é baseada no carbono. Assim, estudar a química orgânica é ter uma maior compreensão da vida. Desse modo, na Unidade 1, iniciaremos os estudos acerca dos haletos de alquila, compostos caracterizados por possuírem ao menos uma ligação entre um átomo de carbono e um átomo de halogênio. Diferentemente dos hidrocarbonetos (estudados em Química Orgânica I), os haletos de alquila são compostos polares e, assim, apresentam uma reatividade química bastante dependente dessa polaridade, reagindo, portanto, por meio de reações de substituição ou de eliminação nucleofílica. Por isso, ainda na Unidade 1 estudaremos os fatores que regem tais reações químicas. Na Unidade 2, ampliaremos os estudos sobre os compostos aromáticos. Em Química Orgânica I estudamos a estrutura desses compostos, mas nada foi dito sobre a sua reatividade. Por isso, agora vamos estudar as especificidades observadas para os aromáticos em relação ao modo como eles reagem. Na Unidade 3, vamos estudar mais alguns grupos funcionais orgânicos, focando naqueles caracterizados por apresentarem um grupo carbonila. Desse modo, iremos estudar a estrutura, principais propriedades e algumas reações específicas observadas para as cetonas, os aldeídos, os ácidos carboxílicos (e seus derivados) e as amidas. Antes de iniciarmos os nossos estudos, gostaria de ressaltar que o estudo da química orgânica (assim como o de qualquer outra área) não deve ser realizado com o único intuito de conseguir notas para passar, você deve estudar para ampliar o seu conhecimento, e, com isso, ampliar a sua visão de mundo. Aprender é uma empreitada para desenvolvimento pessoal e isso, por si só, irá lhe trazer benefícios. Assim, vamos continuar nossos estudos em química orgânica. Clarice Fedosse Zornio IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS ................................................................. 1 TÓPICO 1 – HALETOS DE ALQUILA ................................................................................................ 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 ESTRUTURA E PROPRIEDADES DOS HALETOS DE ALQUILA ........................................... 4 3 REGRAS DE NOMENCLATURA DOS HALETOS DE ALQUILA ............................................ 9 4 SÍNTESE DOS HALETOS DE ALQUILA ........................................................................................ 12 4.1 HALOGENAÇÃO RADICALAR DE ALCANOS....................................................................... 14 4.2 REAÇÃO A PARTIR DE ÁLCOOIS .............................................................................................. 16 5 REAGENTES DE GRIGNARD .......................................................................................................... 18 6 CONSIDERAÇÕES SOBRE OXIDAÇÃO E REDUÇÃO EM QUÍMICA ORGÂNICA ......... 19 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 24 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 25 TÓPICO 2 – REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA E ELIMINAÇÕES ................. 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27 2 REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA........................................................................ 27 2.1 REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA BIMOLECULAR (SN2) ............................ 30 2.1.1 Fatores que afetam as reações SN2 ........................................................................................ 32 2.2 REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA UNIMOLECULAR (SN1)......................... 37 2.2.1 Fatores que afetam as reações SN1 ........................................................................................ 40 3 REAÇÕES DE ELIMINAÇÃO ............................................................................................................ 42 3.1 REAÇÕES DE ELIMINAÇÃO BIMOLECULAR (E2) ................................................................ 43 3.2 REAÇÕES DE ELIMINAÇÃO UNIMOLECULAR (E1) ............................................................ 44 4 CONSIDERAÇÕES SOBRE REAÇÕES DE COMPETIÇÃO ...................................................... 45 4.1 REAÇÕES DE COMPETIÇÃO SN2/E2 .......................................................................................... 46 4.2 REAÇÕES DE COMPETIÇÃO SN1/E1 .......................................................................................... 47 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 49 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 51 TÓPICO 3 – ÉTERES E EPÓXIDOS ..................................................................................................... 53 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................53 2 ÉTERES ................................................................................................................................................... 54 2.1 ESTRUTURA E PROPRIEDADES DOS ÉTERES ........................................................................ 57 2.2 REGRAS DE NOMENCLATURA DOS ÉTERES ........................................................................ 60 2.3 SÍNTESE DE ÉTERES ...................................................................................................................... 63 2.4 REAÇÕES DE ÉTERES .................................................................................................................... 65 2.4.1 Clivagem de éteres catalisada por ácidos ............................................................................ 65 2.4.2 Rearranjo de Claisen ............................................................................................................... 68 3 EPÓXIDOS ............................................................................................................................................. 69 3.1 SÍNTESE DE EPÓXIDOS ................................................................................................................ 71 3.2 REAÇÕES DE EPÓXIDOS .............................................................................................................. 71 3.3 ÉTERES COROA .............................................................................................................................. 75 sumáriO VIII LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................77 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................80 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................81 UNIDADE 2 – ÁLCOOIS E FENÓIS..................................................................................................83 TÓPICO 1 – ÁLCOOIS E FENÓIS .....................................................................................................85 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................85 2 ÁLCOOIS E FENÓIS ..........................................................................................................................86 2.1 ESTRUTURA E PROPRIEDADES DOS ÁLCOOIS E FENÓIS ...............................................88 2.2 REGRAS DE NOMENCLATURA DE ÁLCOOIS E FENÓIS ...................................................94 2.3 SÍNTESE DE ÁLCOOIS E FENÓIS..............................................................................................99 2.3.1 Síntese de álcoois ..................................................................................................................99 2.3.2 Síntese de fenóis ....................................................................................................................105 2.4 REAÇÕES DE ÁLCOOIS E FENÓIS ...........................................................................................107 2.4.1 Reações de álcoois.................................................................................................................107 2.4.2 Reações de fenóis ..................................................................................................................113 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................114 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................115 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................116 TÓPICO 2 – REAÇÕES DE COMPOSTOS AROMÁTICOS .......................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 REAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO AROMÁTICA ELETROFÍLICA ............................................119 2.1 EFEITO DOS SUBSTITUINTES NAS REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO ELETROFÍLICA AROMÁTICA ...................................................................................................126 2.1.1 Grupos ativadores ou desativadores dos anéis aromáticos............................................129 3 REAÇÕES DE OXIDAÇÃO E REDUÇÃO DE COMPOSTOS AROMÁTICOS ....................135 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................137 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................138 TÓPICO 3 – AMINAS ...........................................................................................................................139 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................139 2 AMINAS ...............................................................................................................................................139 2.1 ESTRUTURA E PROPRIEDADES DE AMINAS .......................................................................141 2.2 REGRAS DE NOMENCLATURA PARA AMINAS ..................................................................142 2.3 SÍNTESE DE AMINAS ..................................................................................................................144 2.3.1 A partir de haletos de alquila ..............................................................................................144 2.3.2 Aminação redutiva de aldeídos e cetonas .........................................................................145 2.3.3 Rearranjo de Hofmann .........................................................................................................146 2.4 REAÇÕES DE AMINAS................................................................................................................147 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................148 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................151 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................152 UNIDADE 3 – COMPOSTOS CARBONÍLICOS ............................................................................153 TÓPICO 1 – ALDEÍDOS E CETONAS ..............................................................................................155 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................155 2 COMPOSTOS CARBONÍLICOS ....................................................................................................155 3 ALDEÍDOS E CETONAS ..................................................................................................................158 IX 3.1 ESTRUTURA E PROPRIEDADES DE ALDEÍDOS E CETONAS ...........................................160 3.2 REGRAS DE NOMENCLATURA DE ALDEÍDOS E CETONAS ...........................................162 3.3 SÍNTESE DE ALDEÍDOS E CETONAS ......................................................................................165 3.3.1 SÍNTESE DE ALDEÍDOS .....................................................................................................165 3.3.2 Síntese de cetonas .................................................................................................................168 3.4 REAÇÕES DE ALDEÍDOS E CETONAS ....................................................................................169RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................174 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................175 TÓPICO 2 – ÁCIDOS CARBOXÍLICOS E DERIVADOS DE ÁCIDOS CARBOXÍLICOS ....177 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................177 2 ÁCIDOS CARBOXÍLICOS ...............................................................................................................177 2.1 ESTRUTURA E PROPRIEDADES DE ÁCIDOS CARBOXÍLICOS .........................................179 2.2 REGRAS DE NOMENCLATURA DE ÁCIDOS CARBOXÍLICOS .........................................181 2.3 SÍNTESE DE ÁCIDOS CARBOXÍLICOS ....................................................................................182 2.4 REAÇÕES DE ÁCIDOS CARBOXÍLICOS .................................................................................184 3 DERIVADOS DE ÁCIDOS CARBOXÍLICOS ..............................................................................185 3.1 HALETOS DE ÁCIDOS ................................................................................................................188 3.2 ANIDRIDROS ÁCIDOS ................................................................................................................191 3.3 ÉSTERES ..........................................................................................................................................194 3.4 AMIDAS ..........................................................................................................................................196 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................199 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................203 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................205 TÓPICO 3 – REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO ALFA À CARBONILA E REAÇÕES DE CONDENSAÇÃO CARBONÍLICA ......................................................................207 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................207 2 REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO ALFA À CARBONILA ............................................................207 3 REAÇÕES DE CONDENSAÇÃO CARBONÍLICA .....................................................................213 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................215 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................216 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................217 X 1 UNIDADE 1 HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender os conceitos fundamentais que regem a química dos haletos de alquila; • saber como nomear corretamente os haletos de alquila; • saber os principais modos como os haletos de alquila são preparados; • entender como se processam as reações de substituição nucleofílica (SN2 e SN1) e de eliminação (E1 e E2) dos haletos de alquila; • compreender os fatores que influenciam as reações de substituição nucleofílica e de eliminação; • saber identificar se a reação química irá se processar por meio da substituição nucleofílica (SN2 ou SN1) ou de eliminação (E1 ou E2); • entender os conceitos fundamentais que regem a química dos éteres e epóxidos; • saber como nomear corretamente os éteres e epóxidos; • compreender as reações dos éteres e epóxidos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – HALETOS DE ALQUILA TÓPICO 2 – REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA E ELIMINAÇÕES TÓPICO 3 – ÉTERES E EPÓXIDOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 HALETOS DE ALQUILA 1 INTRODUÇÃO Os haletos de alquila (também denominados haloalcanos) são caracterizados por apresentarem um halogênio (ou seja, um átomo de flúor, cloro, bromo ou iodo) ligado a um carbono com hibridização sp3. Como que se o halogênio estivesse substituindo um átomo de hidrogênio de um alcano. Sua fórmula genérica é R–X (lembre-se do que você estudou em Química Orgânica I, que geralmente utilizamos a letra R para fazer referência a uma cadeia carbônica qualquer e que a letra X corresponde a um átomo de halogênio qualquer). Já foram identificados na natureza diversos haletos de alquila, principalmente em processos de síntese de organismos marinhos, como algas, esponjas e corais, que os utilizam como sistema de defesa. Isso porque muitos das haletos de alquila são potencialmente tóxicos e apresentam gosto ruim. Por exemplo, a alga vermelha produz um haleto de alquila contendo átomos de cloro e de enxofre que, por ter um gosto extremamente desagradável, age como um sistema de defesa contra o ataque de predadores. No entanto, uma espécie de molusco, a lebre do mar, consegue se alimentar das algas vermelhas e, além disso, por meio dos seus processos metabólicos é capaz de converter esse composto halogenado em um outro, de estrutura semelhante, utilizando-o também como defesa (isso é essencial para a lebre do oceano, porque esse molusco não tem nenhum tipo de concha protetora). Vale dizer ainda que nas algas vermelhas é encontrado outro haleto de alquila, o Plocameno B, um composto que possui atividade inseticida. Além disso, também já foram isolados compostos com potencial para serem estudados pela indústria farmacêutica, como a epibatidina, um forte analgésico isolado da pele dos sapos equatorianos. Além disso, os haletos de alquila são bastante utilizados em síntese, tanto a nível industrial, quanto laboratorial, como solventes orgânicos ou reagentes. No entanto, como mencionado, os haletos de alquila tendem a ser tóxicos, o que fez com que alguns produtos utilizados anteriormente fossem proibidos, como é o caso dos clorofluorcarbonos (CFCs, dentre os mais comuns, o triclorofluormetano e o dicloro-difluormetano), antes utilizados como gás refrigerante e em sprays, mas hoje proibidos devido à associação com a degradação da camada de ozônio. Outro exemplo é o diclorodifeniltricloroetano (DDT), conhecido por ser o primeiro UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 4 pesticida moderno, sendo largamente utilizado a partir da Segunda Guerra Mundial para o combate a mosquitos vetores de doenças, como malária e dengue. Porém, desde 2009 é proibido no Brasil, assim como em diversos outros países. O clorofórmio não é propriamente proibido, pois é muito utilizado como solvente, no entanto, é interessante saber que durante o século XIX ele era bastante utilizado como anestésico. Na figura a seguir são mostradas as estruturas desses compostos. FIGURA 1 – ESTRUTURA DE ALGUNS HALETOS DE ALQUILA FONTE: A autora 2 ESTRUTURA E PROPRIEDADES DOS HALETOS DE ALQUILA Como mencionado, os haletos de alquila são caracterizados por apresentarem ao menos uma ligação C–X, desse modo, diferentemente dos hidrocarbonetos, eles são moléculas polares. Isso acontece porque os halogênios são átomos eletronegativos, fazendo com que a ligação C–X seja polar, com a carga parcial positiva (δ+) concentrada no átomo de carbono, e a carga parcial negativa (δ-) sobre o halogênio. Pelo que estudamos em Química Orgânica I,a eletronegatividade é uma propriedade intrínseca de cada elemento químico, sendo definida como a tendência relativa de um átomo em atrair para si o par de elétrons compartilhados em uma TÓPICO 1 | HALETOS DE ALQUILA 5 ligação covalente. Além do mais, a eletronegatividade é uma propriedade periódica, tendendo a crescer da esquerda para a direita ao longo de um período devido ao aumento da carga nuclear, ou seja, um aumento da carga positiva do núcleo pode atrair mais efetivamente os elétrons negativos; e a decrescer de cima para baixo ao longo de um grupo como consequência do aumento do raio atômico, o que leva a um afastamento da camada de valência do núcleo, havendo menor interação entre o núcleo e esses elétrons. Na Figura 1 é mostrado um recorte da tabela periódica, no qual são destacados as eletronegatividades relativas e os raios atômicos dos átomos de carbono e dos halogênios. De fato, entre todos os elementos químicos, o átomo de flúor é o de maior eletronegatividade (pela escala arbitrária ele tem eletronegatividade igual a 4,0), seguido pelo átomo de cloro (eletronegatividade igual a 3,0) e pelo átomo de bromo (eletronegatividade igual a 2,8); já o átomo de iodo (eletronegatividade igual a 2,5) tem uma eletronegatividade semelhante a outros elementos, como o enxofre e o próprio carbono. Vale salientar que a tendência do aumento da eletronegatividade, à medida que subimos em uma família, relaciona-se intimamente com a tendência do raio atômico diminuir nesse mesmo sentido, uma vez que quanto menor o raio atômico, maior a força com que o núcleo atrai a eletrosfera e maior a eletronegatividade do elemento químico. Para entender isso é preciso que tenhamos em mente que o raio atômico característico de um elemento químico é consequência do seu número atômico (simbolizado por Z e que indica o número de prótons presente no núcleo desse elemento químico e, consequentemente, o seu número de elétrons). Assim, para a família do halogênio, temos que o átomo de flúor tem um número atômico Z=9, ou seja, ele possui nove elétrons na sua estratosfera distribuídos entre os orbitais atômicos das camadas de energia n igual a 1 e 2. Assim, à medida que descemos na família, o número de elétrons dos elementos químicos aumenta e, consequentemente, eles passam a ser acomodados em camadas de energia mais externas. Portanto, os elétrons do átomo de cloro (Z=17) ocupam as camadas de energia 1, 2 e 3, os de bromo (Z=35) as camadas 1, 2, 3 e 4 e os de iodo (Z=53) as camadas 1, 2, 3, 4 e 5. Assim, quanto maior o número da camada, mais energética ela é e mais distante do núcleo ela está, o que faz com que a força de atração entre o núcleo e os elétrons presentes nas camadas mais externas diminua consideravelmente. Assim, no átomo de flúor a atração entre o núcleo e os elétrons acomodados entre as camadas 1 e 2 é relativamente forte, fazendo com que seu raio atômico seja relativamente pequeno (você pode entender melhor isso pensando que essa forte atração entre núcleo e os elétrons age como que encolhendo o volume ocupado pela nuvem eletrônica e, como já estudado, o volume do átomo é definido pelo volume da nuvem eletrônica). Já para o cloro, que possui os seus elétrons acomodados nas camadas 1, 2 e 3, a atração entre o núcleo e os elétrons acaba sendo mais fraca (principalmente entre os elétrons acomodados na camada 3), o que leva a um raio atômico maior do que o de flúor. Assim, o átomo de bromo tem um raio atômico um pouco maior e a tendência se intensifica em direção ao átomo de iodo. UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 6 FIGURA 2 – ELETRONEGATIVIDADE E RAIO ATÔMICO DOS HALOGÊNIOS N 3,0 Si 1,8 Ge 1,8 Sn 1,8 Pb P 2,1 As 2,0 Sb 1,9 Bi S 2,5 Se 2,4 Te 2,1 Pe O 3,5 C 2,5 17161514 F 4,0 Δ1 CI 3,0 Br 2,8 R ai o at ôm ic o El et ro ne ga tiv id ad e I 2,5 FONTE: A autora Para relembrar os conceitos referentes ao orbital molecular, à distribuição eletrônica dos elementos químicos e às camadas energéticas, releia o Tópico 1 da Unidade 1 do livro de Química Orgânica I. NOTA As consequências diretas da eletronegatividade e do tamanho do raio atômico dos halogênios nos haletos de alquila são em relação ao comprimento e força de ligação da ligação C–X. Assim, como observado na Tabela 1, quanto mais eletronegativo e menor o raio atômico do halogênio, menor o comprimento de ligação e maior a força de ligação. Se compararmos esses parâmetros para o fluormetano e o iodometano, podemos perceber que o simples fato de substituirmos o átomo de iodo pelo de flúor faz com que o comprimento da ligação seja bem menor e que a força de ligação quase dobre. TÓPICO 1 | HALETOS DE ALQUILA 7 TABELA 1 – COMPARAÇÃO DO COMPRIMENTO E FORÇA DE LIGAÇÃO DOS HALETOS DE ALQUILA MAIS SIMPLES Haleto de alquila Eletronegativida-de relativa do X Raio atômico do X Comprimento da ligação C–X Força da ligação C–X Fluormetano (CH3F) F = 4,0 F = 42 pm 139 pm 452 kJ/mol Clorometano (CH3Cl) Cl = 3,0 Cl = 79 pm 178 pm 351 kJ/mol Bromometano (CH3Br) Br = 2,8 Br = 94 pm 193 pm 293 kJ/mol Iodometano (CH3I) I = 2,5 I = 115 pm 214 pm 234 kJ/mol FONTE: McMurry (2012a, p. 314) Outro fator importante a se considerar é quanto à polaridade dessas moléculas. Devido à maior eletronegatividade do átomo de flúor, a ligação C–F é a mais polar, fazendo com que a densidade de elétrons sobre o flúor seja consideravelmente alta. Isso é comprovado pelo potencial eletroestático do fluormetano, que indica uma região de avermelhada bastante intenso sobre o átomo de flúor e uma região azulada sobre o átomo de carbono e as ligações C–H. Para o clorometano também observamos o mesmo perfil, apesar da região avermelhada aparecer com uma menor intensidade. Já para o bromometano percebemos que a região sobre o átomo de bromo se torna alaranjada, o que indica uma menor densidade eletrônica sobre esse átomo, em consequência da menor eletronegatividade do bromo. Para o iodometano vemos que a região em torno do átomo de iodo é amarelada, o que é indicativo de uma densidade eletrônica menor e mais distribuída entre a ligação C–I, o que de fato era esperado em decorrência da similaridade entre as eletronegatividades dos átomos de iodo e carbono. Assim, de acordo com essas informações, percebemos que a polaridade das ligações C–X tende a aumentar à medida que a eletronegatividade do X aumenta, crescendo no seguinte sentido: C–I < C–Br < C–Cl < C–F. UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 8 FIGURA 3 – MAPAS DE POTENCIAL ELETROESTÁTICO PARA OS HALETOS DE ALQUILA MAIS SIMPLES FONTE: A autora Como estudamos na disciplina de Química Orgânica I, os mapas de potencial eletroestático são modelos que mostram o perfil da distribuição da densidade de carga na molécula. Seguindo o mesmo princípio dos símbolos δ- e δ+, as cores em um mapa de potencial eletroestático indicam a polaridade de uma molécula de acordo com a seguinte escala: vermelho (regiões mais ricas em elétrons) < laranja < amarelo < verde < azul (regiões mais pobres em elétrons). IMPORTANT E Os haletos de alquila tendem a possuir pontos de ebulição levemente mais elevados do que os alcanos homólogos, devido justamente à polaridade da ligação C–X, que permite que as moléculas interajam por forças dipolo- dipolo. Vale salientar que o ponto de ebulição dos haletos de alquila aumenta em decorrência do aumento da massa molar, seja pelo aumento do número de carbonos na cadeia ou pelo aumento da massa molar do próprio halogênio, assim, para uma série homóloga, o ponto de ebulição dos compostos aumenta na seguinte ordem: haleto de flúor < haleto de cloro < haleto de bromo < haleto de iodo. Repare na Tabela 2, que mostra os pontos de ebulição de alguns haletos de alquila, essa tendência. TÓPICO 1 | HALETOS DE ALQUILA 9 TABELA 2 – PONTOS DE EBULIÇÃO PARA ALGUNS HALETOS DE ALQUILA Haletode alquila X = F X = Cl X = Br X = I CH3X -78 °C -24 °C 4 °C 42 °C CH3CH2X -38 °C 12 °C 38 °C 72 °C CH3CH2CH2X -3 °C 47 °C 71 °C 102 °C CH3CH2CH2CH2X 32 °C 78 °C 102 °C 130 °C FONTE: Adaptado de McMurry (2012a, p.314) É importante saber também que, apesar dos haletos de alquila serem polares, eles são insolúveis em água, uma vez que não conseguem formar ligações de hidrogênio com as moléculas de água. No entanto, eles são solúveis na maioria dos solventes orgânicos. 3 REGRAS DE NOMENCLATURA DOS HALETOS DE ALQUILA Como mencionado, os haletos de alquila também são chamados de haloalcanos, eles podem ser vistos como alcanos substituídos, ou seja, ao menos um átomo de hidrogênio do alcano foi substituído por um átomo de halogênio, originando o haleto de alquila. Assim, a nomenclatura dos haletos de alquila é realizada do mesmo modo como vimos para os alcanos, apenas tratando o halogênio como um substituinte da cadeia carbônica principal. De tal modo, para relembrar, existem quatro etapas principais: • Etapa 1: identificar a cadeia principal: a cadeia principal é definida pela cadeia de carbono mais longa e que contém as ligações duplas ou triplas, se houver. Também é importante se atentar que, se na molécula for possível identificar duas cadeias diferentes, mas de mesmo comprimento, devemos determinar aquela com maior número de ramificações (ou seja, de substituintes) como a principal. FIGURA 4 – IDENTIFICAÇÃO DA CADEIA PRINCIPAL: CADEIA COM MAIOR NÚMERO DE RAMIFICAÇÕES Identificação da cadeia principal: cadeia com maior número de ramificações ERRADO: há apenas um substituinte CERTO: existem dois grupos substituintes 1 1 2 2 3 34 45 56 6 CH3CHCHCH2CH 2CH 3 CH3CHCHCH2CH 2CH 3 CH 2CH 3 CH 2CH 3 CH 3 CH 3 FONTE: A autora UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 10 • Etapa 2: enumerar os átomos presentes na cadeia principal a) Para enumerar os átomos da cadeia principal, devemos começar pelo átomo de carbono presente na extremidade da cadeia que esteja mais próximo a uma ramifi cação, independentemente da natureza desse substituinte, ou seja, não importa se o substituinte é um grupo alquila ou um halogênio, devemos iniciar a numeração apenas considerando onde aparece o primeiro substituinte. FIGURA 5 – ENUMERAÇÃO DOS ÁTOMOS PRESENTES NA CADEIA PRINCIPAL Enumeração dos átomos da cadeia principal: iniciar pelo carbono que esteja mais próximo do primeiro substituinte Não há prioridade entre os grupos substituintes CERTO: o primeiro substituinte é encontrado no carbono 2 1 2 3 4 5 6 7 CH3CHCH2CHCHCH 2CH 3 CH 3 CH 3 Br ERRADO: desse modo o primeiro grupo substituinte só é encontrado no carbono 3 3456 CH 3 127 CH3CHCH2CHCHCH 2CH 3 CH 3 Br FONTE: A autora b) Caso existam ramifi cações presentes a uma mesma distância dos átomos da extremidade, devemos começar a enumerar pela extremidade mais próxima de uma segunda ramifi cação. • Etapa 3: identifi car e enumerar os substituintes a) Devemos identifi car os números dos carbonos da cadeia principal nos quais cada um dos substituintes está ligado, de modo que possamos localizar esse substituinte. b) Se houver dois substituintes ligados a um mesmo carbono da cadeia principal, esses substituintes serão identifi cados pelo mesmo número. Ambos os localizadores devem ser designados no nome da molécula. • Etapa 4: escrever o nome do composto em uma única palavra a) Devemos nomear o composto seguindo a ordem: localizador – prefi xo – cadeia principal – sufi xo. Lembre-se de que os localizadores são usados para indicar a localização dos substituintes, ou seja, os átomos de carbono ao qual um substituinte está ligado; e o prefi xo indica o nome do substituinte. Para separar TÓPICO 1 | HALETOS DE ALQUILA 11 FONTE: A autora diferentes localizadores, devemos utilizar vírgulas, e para separar os diferentes prefixos devemos usar hifens. É importante indicar pelos prefixos di-, tri-, tetra- etc. se houver mais de um substituinte igual na cadeia e deve-se sempre prezar pela ordem alfabética dos substituintes, colocando-os nessa ordem. A cadeia principal é nomeada de acordo com o número de átomos com que ela é formada e o sufixo indica o grupo funcional (no caso dos haletos de alquila, como eles são entendidos como alcanos substituídos, utiliza-se o sufixo -ano referente aos alcanos). FIGURA 6 – IDENTIFICAÇÃO E ENUMERAÇÃO DOS SUBSTITUINTES E ESCRITA DO NOME DO COMPOSTO b) Caso a cadeia principal possa ser numerada por ambas as extremidades, devemos começar a numerar os carbonos dessa cadeia pela extremidade mais próxima ao substituinte, seja ele um halogênio ou um grupo alquila, que tenha prioridade alfabética. UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 12 FIGURA 7 – CASO ESPECIAL EM QUE HÁ PRIORIDADE ALFABÉTICA DOS SUBSTITUINTES Caso especial: só há prioridade entre os grupos substituinte quando a cadeia puder ser numerada a partir de ambas as extremidades; assim, prioriza-se a numeração da cadeia de acordo com a ordem alfabética dos substituintes CERTO: os carbonos da cadeia principal são identifi cados a partir da ordem alfabética do nome dos substituintes, assim o bromo tem prioridade sobre o metila 1234567 CH3CHCH2CH2CH 2CHCH 3 CH 3 Br ERRADO: desse modo não se observa a prioridade da ordem alfabética do grupo substituinte 5-Bromo-2-metilheptano 2- Bromo-6-metilheptano 5432 CH 3 761 Br CH3CHCH2CH2CH 2CHCH 3 FONTE: A autora 4 SÍNTESE DOS HALETOS DE ALQUILA Na verdade, se voltarmos ao livro da disciplina de Química Orgânica I, veremos que já estudamos a síntese dos haletos de alquila por meio da halidrifi cação (a reação entre um alceno ou um alcino com um ácido halogenado) ou da halogenação (reação entre um alceno ou um alcino com o Br2 ou o Cl2 para a formação de 1,2-dialetos ou tetrahaletos, respectivamente). Para relembrar, são mostrados nas fi guras a seguir os mecanismos de reação de halidrifi cação do propeno pelo ácido bromídrico e de halogenação do propino com o Cl2, respectivamente (lembre-se de que os alcinos reagem em etapas, já que possuem duas ligações π devido à ligação tripla C≡C). FIGURA 8 – MECANISMO DE REAÇÃO DE HALIDRIFICAÇÃO DO PROPENO COM O ÁCIDO CLORÍDRICO FONTE: A autora TÓPICO 1 | HALETOS DE ALQUILA 13 FONTE: A autora FIGURA 9 – MECANISMO DE REAÇÃO DE HALOGENAÇÃO DO PROPINO COM O CLORO Tanto a halidrificação quanto a halogenação de alcenos e alcinos ocorrem via mecanismo de adição, no qual os elétrons π da ligação dupla C=C ou tripla C≡C agem como nucleófilos e os átomos de halogênio agem como eletrófilos. No entanto, além dessas reações, os haletos de alquila podem ser preparados a partir de outras reações químicas envolvendo outros tipos de reagentes, como veremos a seguir. Volte às Unidades 2 e 3 do Livro de Química Orgânica I para relembrar com mais detalhes as reações dos alcenos e alcinos. UNI UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 14 4.1 HALOGENAÇÃO RADICALAR DE ALCANOS Vimos no Livro de Química Orgânica I que os alcanos são compostos pouco reativos, devido, principalmente, ao seu caráter de composto saturado. No entanto, isso não significa que eles não reagem de jeito nenhum. De fato, os alcanos podem reagir com halogênios, como exemplificado na figura a seguir, que mostra a reação do metano com o Br2. FIGURA 10 – MECANISMO DE HALOGENAÇÃO DO METANO COM O ÁCIDO BROMÍDRICO FONTE: A autora TÓPICO 1 | HALETOS DE ALQUILA 15 FONTE: A autora A reação mostrada na figura ocorre via um mecanismo radicalar de substituição, uma vez que um dos hidrogênios do alcano é substituído por um átomo de halogênio. Vale lembrar que um mecanismo de reação radicalar ocorre em três etapas: a iniciação, a propagação e a terminação. Assim, a iniciação da reação entre o metano e o Br2 se dá com a quebra homolítica da ligação Br–Br, ou seja,há uma quebra simétrica na ligação, ficando um elétron da ligação para cada fragmento, geralmente devido à incidência de luz ultravioleta, gerando os dois radicais bromo (Br•). Esses radicais, por serem extremamente reativos, em uma primeira etapa de propagação, reagem prontamente com a molécula de metano, retirando um átomo de hidrogênio e formando uma molécula de ácido bromídrico, e criando um radical metila (CH3•). Como uma segunda etapa da propagação, esse radical metila reage com uma molécula de Br2, formando o bromometano e um novo radical bromo. Assim, esse radical bromo é utilizado em uma nova primeira etapa da iniciação, que gera um novo radical metila ao reagir com uma molécula de metano, levando à formação de uma nova molécula de bromometano e um radical bromo. Essa etapa é sucessiva e ocorre em um ciclo repetitivo até atingir a etapa de terminação. Como indicado na figura anterior, a terminação ocorre quando dois radicais se chocam para formar um produto estável, como a reação entre dois radicais metila para a formação do etano, a reação entre dois radicais bromo para a formação do Br2 e/ou a reação entre um radical metila e um radical bromo para a formação do ácido bromídrico. Desse modo, além do produto desejado – o bromometano –, outros subprodutos são obtidos. Na verdade, a halogenação radicalar de alcanos é uma reação muito difícil de controlar, assim, além da formação de um haleto de alquila monossubstituído (ou seja, apenas um átomo de hidrogênio é substituído por um halogênio), se houver Br2 suficiente, a reação pode ser processar substituindo os outros hidrogênios, gerando como produtos uma mistura contendo o bromometano, o dibromometano, o tribromometano e até mesmo o tetrabromometano. FIGURA 11 – CONTINUAÇÃO DA REAÇÃO DE HALOGENAÇÃO DE ALCANOS Desse modo, a halogenação de alcanos não é um método muito eficiente para a preparação de haletos de alquila. UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 16 4.2 REAÇÃO A PARTIR DE ÁLCOOIS O modo mais utilizado para a preparação de haletos de alquila é a partir da reação com álcoois, na qual o grupo hidroxila é substituído por um átomo de halogênio. Veremos essas reações com mais detalhes no Tópico 2, mas no momento é interessante saber que os métodos mais usuais para a preparação de haletos de alquila envolvem a reação de álcoois terciários com o HCl, HBr ou HI. Isso ocorre porque os álcoois terciários são mais reativos que os álcoois secundários e muito mais que os primários. FIGURA 12 – REATIVIDADE RELATIVA DOS ÁLCOOIS FONTE: A autora Assim, um simples borbulhamento dos ácidos de haletos em um álcool terciário produz rapidamente o haleto de alquila e água. No entanto, os álcoois primários e secundários, por serem menos reativos, reagem muito lentamente e demandam temperaturas mais elevadas do que as utilizadas para as reações com os álcoois terciários. Além disso, esses compostos são mais sensíveis aos ácidos de haletos, que são consideravelmente fortes, podendo facilmente se degradar. Desse modo, as estratégias para a preparação de haletos de alquila a partir de álcoois primários e secundários utilizam o cloreto de tionila (SOCl2, gerando um cloreto de alquila) ou o tribrometo de fósforo (PBr3, gerando um brometo de alquila), que proporcionam condições reacionais mais brandas. EXEMPLO Como você prepararia haletos de alquila a partir dos seguintes álcoois (dê os nomes dos haletos formados): A) HO CH3CH3 B) HO CH3 a) O primeiro aspecto a se considerar é que, como mencionado, os haletos de alquila são formados a partir dos álcoois por um mecanismo de substituição, no qual o grupo hidroxila é substituído por um átomo de halogênio. Desse a) b) TÓPICO 1 | HALETOS DE ALQUILA 17 modo, analisando a molécula da alternativa A, já podemos prever o local que o halogênio irá ocupar (no lugar do grupo OH). O segundo passo é verificar se esse álcool é primário, secundário ou terciário. O modo de fazer isso é observar em que tipo de carbono o grupo hidroxila está ligado. Pela análise da molécula, percebemos que nesse caso o grupo hidroxila está ligado a um carbono terciário (uma vez que esse carbono está ligado a três outros átomos de carbono), o que torna, portanto, esse álcool terciário. Por fim, como mencionado, os álcoois terciários reagem facilmente com ácidos de haleto (HX) para a formação de haletos de alquila, assim, uma reação possível seria a seguinte: HO CH3CH3 + HCl Cl CH3CH3 + H2O Outra opção seria considerar a reação com o HBr ou o HI, o que originaria o brometo ou o iodeto de alquila, respectivamente. A questão pede ainda que nomeemos esse haleto de alquila. Assim, de acordo com as regras da IUPAC, verificamos que a cadeia carbônica é saturada e formada por seis carbonos (sendo denominada como “hexano”) e há três substituintes, dois grupos metila e um halogênio. Pelas regras, devemos iniciar a numeração dos carbonos da cadeia carbônica pela extremidade mais próxima da primeira ramificação, assim, um grupo metila e o halogênio estão ligados ao carbono de número 2, enquanto que o outro grupo metila está ligado ao carbono de número 4. Assim, temos que esse haleto de alquila é o 2-cloro-2,4- dimetilhexano (nos casos dos haletos obtidos a partir da reação com o HBr e o HI, seus nomes sistemáticos seriam 2-bromo-2,4-dimetilhexano e 2-iodo-2,4- dimetilhexano, respectivamente). b) Para a resolução da questão B, faremos do mesmo modo que a questão A. Primeiramente, identificamos que o halogênio, após a reação, vai ocupar o lugar da hidroxila. Além disso, podemos verificar que a hidroxila do álcool está ligada a um carbono primário (que está ligado a apenas um outro átomo de carbono), o que faz com que esse álcool seja primário. Assim, para os álcoois primários temos que eles reagem com o cloreto de tionila (SOCl2) ou com o tribrometo de fósforo (PBr3), gerando como produtos: HO CH3 + SOCl2 Cl CH3 + SO2 + HCl HO CH3 + PBrBr Br CH3 + H3PO3 UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 18 De acordo com as regras de nomenclatura, podemos definir que a cadeia carbônica é denominada de “hexano” (pois tem seis carbonos), há dois substituintes (um halogênio e um grupo metila, sendo que se inicia a numeração da cadeia pela extremidade mais perto do primeiro substituinte, que, no caso, é o halogênio). Assim, o haleto de alquila obtido a partir da reação com o cloreto de tionila é denominado de 1-cloro-5-metilhexano, e o obtido a partir do tribrometo de fósforo é o 1-bromo-5-metilhexano. 5 REAGENTES DE GRIGNARD Um uso bastante interessante dos haletos de alquila é que eles são materiais de partida para a obtenção dos chamados reagentes de Grignard. A formação dos reagentes de Grignard se dá pela reação entre um haleto de alquila com o magnésio metálico (conduzida em solução de éter ou de tetrahidrofurano – THF), fazendo com que o átomo de magnésio seja inserido entre os átomos de carbono e de halogênio, gerando, assim, um composto de fórmula geral R-MgX. Existem diversas possibilidades de produção dos reagentes de Grignard, pois haletos de alquila com as mais diferentes cadeias carbônicas podem reagir para a formação desses compostos. Além disso, a reatividade dos haletos de alquila primários, secundários e terciários é semelhante, e os cloretos, brometos e iodetos de alquila também formam facilmente esses compostos (no entanto, os fluoretos de alquila não reagem bem com o magnésio). Na figura a seguir são mostrados alguns exemplos de reagentes de Grignard (e as respectivas reações que lhes dão origem). FIGURA 13 – EXEMPLOS DE REAGENTES DE GRIGNARD FONTE: A autora Os reagentes de Grignard agem como nucleófilos fortes em reações de substituição e são de suma importância para a química orgânica, pois por meio deles é possível produzir uma infinidade de compostos, das mais diferentes funções orgânicas. Assim, veremosno decorrer desse livro algumas reações envolvendo os reagentes de Grignard. TÓPICO 1 | HALETOS DE ALQUILA 19 Vale dizer que, justamente por apresentar uma ligação entre o carbono e um átomo metálico (o magnésio), os reagentes de Grignard são classificados como compostos organometálicos. Os reagentes de Grignard foram descobertos por François Auguste Victor Grignard (químico francês, 1871-1935) em 1900, tendo recebido o Prêmio Nobel de Química em 1912 por este trabalho. 6 CONSIDERAÇÕES SOBRE OXIDAÇÃO E REDUÇÃO EM QUÍMICA ORGÂNICA É interessante saber que os conceitos de oxidação e de redução diferem um pouco quando estamos tratando das químicas inorgânica e orgânica. Assim, em química inorgânica, na qual são tratados essencialmente os assuntos referentes a íons, uma oxidação é caracterizada pela perda de elétrons de um determinado átomo, enquanto que uma redução é o ganho de elétrons. Em química orgânica, de outro modo, tratamos basicamente de moléculas (uma vez que os compostos orgânicos são formados por ligações covalentes), então, quando falamos em reações de oxidação estamos nos referindo à perda da densidade eletrônica de um determinado átomo de carbono após uma reação química. Ao contrário, as reações de redução são aquelas em que existiu um aumento na densidade eletrônica sobre um átomo de carbono. O que caracteriza essa perda (oxidação) ou esse ganho (redução) de densidade eletrônica? Temos que pensar que quando estamos tratando de moléculas orgânicas e, portanto, ligações covalentes, devemos sempre analisar a diferença de eletronegatividade entre os átomos que estão formando essas ligações. Assim, podemos entender que ocorre uma oxidação, ou seja, uma diminuição da densidade eletrônica sobre o átomo de carbono, quando uma ligação formada entre o carbono e um átomo menos eletronegativo se quebra (como a quebra de uma ligação C–H), para formar uma nova ligação entre esse átomo de carbono e um átomo mais eletronegativo (como a formação de ligações C–O, C–N, C–X); isso porque, antes o carbono, por ser o átomo mais eletronegativo, atraía para si o par de elétrons da ligação, a partir do momento em que essa ligação C–H se quebra e forma uma ligação C–X, por exemplo, o halogênio passa a ser o elemento mais eletronegativo da ligação, atraindo para si os elétrons e diminuindo a densidade eletrônica sobre o átomo de carbono. Por outro lado, uma reação de redução ocorre quando uma ligação C–O, C–N ou C–X se quebra, formando uma ligação C–H (em outras palavras, uma ligação em que o carbono é o elemento menos eletronegativo se quebra, formando uma nova ligação em que ele é o elemento mais eletronegativo, o que leva a um aumento na sua densidade eletrônica). Na Figura 14 é mostrado um exemplo de uma reação de oxidação, que é a reação de halogenação do metano pelo Cl2. Perceba que uma ligação C–H do metano é quebrada para a formação de uma ligação C–Cl, o que faz com que o carbono, antes tendo uma carga parcial negativa, δ-, pois estava ligado ao átomo de hidrogênio menos eletronegativo, passa a ter uma carga parcial positiva δ+, UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 20 quando se liga ao halogênio mais eletronegativo. Já na Figura 15 é mostrado um exemplo de uma reação de redução, que é a reação inversa da mostrada na Figura 14, ou seja, a reação do clorometano para a formação do metano. Agora, com a quebra da ligação C–X, o carbono passa de uma carga parcial positiva, δ+, para uma carga parcial negativa, δ-, devido à formação da ligação C–H. É interessante saber que a reação mostrada na Figura 15 é um exemplo de uma reação de produção de alcanos a partir de haletos de alquila. Esse tipo de reação se processa em duas etapas: a primeira é a formação do reagente de Grignard, pela reação do clorometano com o magnésio metálico em éter (por isso a indicação “1. Mg, éter” na Figura 15), e a segunda é a reação desse reagente de Grignard com um ácido fraco (indicação “2. Meio ácido”) para a formação do metano. FIGURA 14 – REAÇÃO DE OXIDAÇÃO DO METANO PARA A FORMAÇÃO DO CLOROMETANO FONTE: A autora FONTE: A autora FIGURA 15 – REAÇÃO DE REDUÇÃO DO CLOROMETANO PARA A FORMAÇÃO DO METANO Podemos ainda ter reações que não são nem de oxidação, nem de redução. Na figura a seguir temos a reação de halogenação do eteno com o Br2 para a formação do 1,2-dibromoetano. Analisando a equação química, percebemos que se trata claramente de uma reação de oxidação, uma vez que duas ligações C–H foram quebradas para a formação de duas novas ligações C–Br. Nessa mesma figura também temos um exemplo de hidrogenação do eteno, e vemos que essa reação é classificada como uma reação de redução porque duas novas ligações C–H foram formadas para a obtenção do etano. No entanto, para a reação de halidrificação do eteno com o ácido bromídrico vemos que o produto, o bromoetano, tem uma nova ligação C–H (que sozinha indicaria uma redução), mas também uma nova ligação C–Br (que sozinha indicaria uma oxidação). Assim, essa reação não é classificada nem como de oxidação, nem como de redução, pois é como a formação de uma ligação C–H e de uma ligação C–Br. TÓPICO 1 | HALETOS DE ALQUILA 21 FONTE: A autora FIGURA 16 – REAÇÃO DE HALOGENAÇÃO DO ETENO COM O Br 2 Reação de oxidação Reação de redução + + + C C C C C C H2 HBr Br2 Br Br Br H HH H H HH H H HH HH HH H H H H HH HH HH HH C = C C = C C = CNão é um reação de oxidação e nem de redução Eteno Eteno Eteno EtenoHidrogênio BromoetanoÁcido bromídrico Reação de halogenação: Reação de hidrogenação: Reação de halidrificação: Equação química: C2H4 + Br2 C2H4Br2 Equação química: C2H4 + H2 C2H6 Equação química: C2H4 + HBr C2H5Br 1,2-DibromoetanoBromo EXEMPLOS 1. Determine o nível de oxidação dos seguintes compostos: CH3CH CH2 CH3CHCH3 OH CH3CCH3 O CH3CH2CH3 Propeno 2-Propanol PropanonaPropano UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 22 Para responder essa questão é importante saber que moléculas formadas pelo mesmo número de átomos de carbono podem ser comparadas em relação ao grau de oxidação (ou seja, quão menor é a densidade eletrônica dos átomos de carbono em relação a esses compostos). A forma de determinar o grau de oxidação de uma molécula é analisar o seu número de ligações C–H e de ligações C–O, C–N ou C–X, subtraindo 1 ponto para cada ligação C–H e somando 1 ponto para cada ligação C–O, C–N ou C–X. Assim, para o propano temos oito ligações C–H, o que nos dá um grau de oxidação de -8; para o propeno temos seis ligações C–H, resultando em um grau de oxidação de -6; para o 2-propanol temos sete ligações C–H, que contribuem com um valor de -7, mas temos também uma ligação C–O, que contribui com +1, assim, o grau de oxidação do 2-propanol é -6; para a propanona temos seis ligações C–H e uma ligação C=O (em casos em que temos ligações duplas, é como se considerássemos duas ligações, então uma ligação C=O seria como duas ligações C–O, o que contribui com um valor de +2 no grau de oxidação), resultando em um grau de oxidação de -4. Desse modo, temos que o grau de oxidação cresce na seguinte ordem: propeno < propano = 2-propanol < propanona. 2. Determine se a reação é de oxidação, redução ou nenhuma das duas: CH3CH2CHCH3 Br 1. Mg, éter 2. Meio ácido CH3CH2CH2CH3 A) CH3CH2CH2CH2OH CH3CH2CH2CH B) CrO3 O a) Analisando a reação, percebemos que há a quebra de uma ligação C–Br no reagente para a formação de uma nova ligação C–H no produto. Assim, podemos concluir que essa reação é uma reação de redução, pois o átomo de carbono da ligação C–Br do reagente, antes com uma densidade eletrônica mais baixa devido à ligação com um átomo mais eletronegativo, sofreu um aumento na sua densidade eletrônica no produto, devido à ligação com o átomo de hidrogênio menos eletronegativo. Outro modo de responder essa questãoé analisar o grau de oxidação do reagente e do produto (podemos fazer isso, pois ambos os compostos possuem quatro carbonos). Assim, o reagente apresenta nove ligações C–H, contribuindo com um valor de -9, assim como uma ligação C–Br, que contribui com um valor de +1, resultando em um grau de oxidação de -8. Já o produto a) b) TÓPICO 1 | HALETOS DE ALQUILA 23 contém dez ligações C–H, o que nos diz que seu grau de oxidação é -10. Assim, vemos que do reagente para o produto o grau de oxidação diminuiu (indo de -8 para -10), o que indica que houve uma reação de redução. b) Primeiramente, é interessante saber que essa reação indica que se formou um aldeído a partir de um álcool. Assim, para sabermos se se trata de uma reação de oxidação ou redução ou nenhuma das duas, devemos analisar e comparar os graus de oxidação do reagente e do produto. O álcool (reagente) possui nove ligações C–H, contribuindo com um valor de -9, e uma ligação C–O, o que contribui com um valor de +1; assim, o grau de oxidação do reagente é de -8. Já o aldeído (produto) possui oito ligações C–H, contribuindo com um valor de -8, e uma ligação C–O, o que contribui com um valor de +1; assim, o grau de oxidação do produto é de -7. Dessa forma, temos que o grau de oxidação aumentou (indo de -8 no reagente para -7 no produto), indicando que a reação de formação de um aldeído a partir de um álcool é uma reação de oxidação. 24 Neste tópico, você aprendeu que: • Os haletos de alquila são compostos que contêm um átomo de halogênio ligado a um carbono com hibridização sp3, sendo, portanto, moléculas polares. • Os haletos de alquila podem ser preparados por meio de reações de adição a alcenos e alcinos, como a halidrificação e halogenação. • Os haletos de alquila também podem ser preparados pela reação de halogenação radicalar de alcanos, no entanto, essa reação não é muito utilizada, pois produz uma mistura de haletos mono, di, tri e tetrassubstituídos. • O modo mais utilizado para a preparação de haletos de alquila é a partir da reação de álcoois com o HCl, HBr ou HI, na qual o grupo hidroxila é substituído por um átomo de halogênio. • Os haletos de alquila reagem com o magnésio metálico (utilizando éteres como solventes) para a formação dos Reagentes de Grignard, que são reagentes importantes para uma grande quantidade de reações em química orgânica. • Em química orgânica, uma reação de oxidação é aquela que leva a uma diminuição da densidade eletrônica sobre o átomo de carbono, que pode se dar pela formação de uma ligação entre o carbono e um átomo mais eletronegativo ou pela quebra de uma ligação entre o carbono e o hidrogênio. • Em química orgânica, uma reação de redução é aquela que leva a um aumento da densidade eletrônica sobre o átomo de carbono, que pode se dar pela formação de uma ligação entre o carbono e um hidrogênio ou pela quebra de uma ligação entre o carbono e um átomo mais eletronegativo. • Podemos identificar se a reação é de oxidação, redução ou nenhuma das duas e classificar moléculas de massa molar semelhante, de acordo com seus graus de oxidação. RESUMO DO TÓPICO 1 25 1 Indique o nome dos seguintes compostos, de acordo com as regras da IUPAC: 2 Represente as estruturas dos seguintes compostos: a) 1,1-dibromo-4-isopropilciclohexano b) 3-bromo-3-etilpentano c) 3-iodo-2,2,4,4-tetrametilpentano d) Clorobenzeno 3 A partir de quais reagentes seria possível obter os seguintes compostos? A) B) CH3CCH3 I CH3 CH3CHCH2CHCH3 Br CH3 4 Determine a ordem crescente em relação ao grau de oxidação para os seguintes grupos de compostos: FONTE: MCMURRY, John. Reações dos haletos de alquila: substituições nucleofílicas e eliminações, 2012. a) b) AUTOATIVIDADE O Br b) b) a) a) c) d) e) f) 26 27 TÓPICO 2 REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA E ELIMINAÇÕES UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Em Química Orgânica I estudamos a química dos hidrocarbonetos (alcanos, alcenos e alcinos). Vimos que as reações químicas dos compostos insaturados, ou seja, dos alcenos e dos alcinos, se processam, principalmente, por mecanismos de adição, enquanto que os compostos saturados (os alcanos) são pouco reativos. Além da falta de ligações duplas ou triplas, essa baixa reatividade dos alcanos ocorre porque essa classe de moléculas, por ser formada apenas por átomos de carbono e de hidrogênio, é apolar. De outro modo, os compostos pertencentes aos outros grupos funcionais orgânicos seguem outras tendências. Por exemplo, moléculas orgânicas que têm um átomo ou grupo de átomos eletronegativo ligado a um carbono com hibridização sp3 (em outras palavras, moléculas polares com ligações simples) não sofrem reações de adição, mas sim reações de substituição ou de eliminação. Por agora, vamos estudar essas reações de substituição nucleofílica e de eliminação com foco na química dos haletos de alquila. 2 REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA Em 1896, Paul Walden (químico alemão, 1863-1957), estudando enantiômeros e suas reações, descobriu que o par de enantiômeros do ácido málico (ou seja, o (–)-ácido málico e o (+)-ácido málico) poderiam se interconverter um no outro por meio de reações de substituição. Por exemplo, quando o (–)-ácido málico era colocado para reagir com o pentacloreto de fósforo, o produto da reação era o (+)-ácido clorosuccínico, que, por sua vez, ao reagir com o óxido de prata I, originava o (+)-ácido málico. A série de reações que dá origem ao (+)-ácido málico a partir do (–)-ácido málico está descrita na figura a seguir (atente-se que Walden observou a mesma tendência partindo do (+)-ácido málico, ou seja, o produto final dessas reações era o (–)-ácido málico). UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 28 FIGURA 17 – INTERCONVERSÃO DO (–)-ÁCIDO MÁLICO NO (+)-ÁCIDO MÁLICO + + (-) - ácido málico (+) - ácido clorosuccínico (+) - ácido málico(+) - ácido clorosuccínico OHCI CI Ag2O PCI5 HOCCH2CHCOH HOCCH2CHCOHHOCCH2CHCOH OH HOCCH2CHCOH O O O OO O O O FONTE: A autora Analisando a figura, observamos que para haver a interconversão entre o (–)-ácido málico e o (+)-ácido málico as etapas da reação envolviam a substituição de um nucleófilo por outro. Na primeira etapa (formação do (+)-ácido clorosuccínio) há a substituição da hidroxila, OH-, pelo cloreto, Cl-; enquanto que na segunda etapa (formação do (–)-ácido málico) há a substituição do cloreto pela hidroxila. Devido a essas características, reações como essa foram denominadas de reações de substituição nucleofílica. Lembre-se do que estudamos na disciplina de Química Orgânica I, um par de enantiômeros corresponde a um par de isômeros, que são imagens especulares um dos outros, não sendo, portanto, sobreponíveis. Além disso, a ocorrência dos enantiômeros está ligada à presença de ao menos um carbono assimétrico (ou seja, um átomo de carbono ligado a quatro grupos distintos) na molécula. Lembre-se também de que um nucleófilo é caracterizado por ser uma espécie rica em elétrons, enquanto que um eletrófilo é uma espécie pobre em elétrons. ATENCAO TÓPICO 2 | REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA E ELIMINAÇÕES 29 FONTE: A autora De fato, a descoberta de Walden foi muito importante para os avanços do entendimento da química orgânica, principalmente no que se refere aos mecanismos de reação das moléculas, pois incitou os químicos a buscarem respostas que explicassem como os enantiômeros poderiam se interconverter um no outro. Assim, na década de 1920, Joseph Kenyon (químico inglês, 1885-1961) começou a investigar os mecanismos de interconversão entre os enantiômeros do 1-fenil-2-propanol – Kenyon resolveu estudar moléculas mais simples do que o ácido maleico para evitar complicações que dificultassem o entendimento do mecanismo de reação. Nos seus experimentos, Kenyon verificou que a reação entre o 1-fenil-2-propanol e o cloro-tosilato fazia também com que houvesse a inversão de configuração no carbonoassimétrico, o que possibilitava que partindo do (+)1-fenil-2-propanol, se chegaria ao (-)1-fenil-2-propanol, como esquematizado na figura a seguir. FIGURA 18 – INVERSÃO DA CONFIGURAÇÃO DO CARBONO ASSIMÉTRICO DO 1-FENIL-2-PROPANOL Além disso, Kenyon pôde constatar que para que houvesse a inversão de configuração do carbono assimétrico, a reação se processava em etapas que envolviam a substituição de nucleófilos. Tal descoberta foi de extrema importância para a química orgânica, pois a partir daí os estudos envolvendo os mecanismos de reação se intensificaram, já que se percebeu que muitos dos compostos orgânicos reagiam por meio de reações de substituição nucleofílica. De fato, moléculas orgânicas que têm ou um átomo ou um grupo de átomos eletronegativo ligado a um carbono com hibridização sp3 podem sofrer reações de substituição, nas quais essa fração mais eletronegativa é substituída por um outro átomo (ou grupo). Vale dizer que o grupo que foi substituído é chamado de grupo de saída (na figura a seguir o grupo substituído é identificado pela letra Y e o grupo substituinte, o nucleófilo, é identificado por Nu-). UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 30 FIGURA 19 – ESQUEMA GENÉRICO PARA UMA REAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA FONTE: A autora FONTE: A autora A fim de estudar as reações de substituição nucleofílica, neste tópico vamos focar nas reações envolvendo os haletos de alquila, uma vez que os halogênios são considerados bons grupos de saída e reagem facilmente por mecanismos de substituição nucleofílica. Estudaremos as reações típicas dos outros grupos funcionais nos subtópicos dedicados a eles. 2.1 REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA BIMOLECULAR (S N 2) Como os haletos de alquila possuem o átomo de hidrogênio eletronegativo, logo percebeu-se que os haletos primários e secundários reagiam seguindo uma cinética de reação de segunda ordem. Isso significa que a velocidade das reações de substituição nucleofílica dos haletos de alquila é dependente das concentrações de ambos os reagentes. Por exemplo, se analisarmos a reação entre o bromometano e o íon hidróxido para a formação do metanol e do brometo, veremos que (a uma dada temperatura) se dobrarmos a concentração do bromometano a velocidade da reação dobrará; e, do mesmo modo, se dobrarmos a concentração do OH- a velocidade também dobrará. Assim, uma reação de cinética de segunda ordem é proporcional à concentração de ambos os reagentes, podendo ser escrita como na figura a seguir (o símbolo α é usado para indicar relação de proporcionalidade). FIGURA 20 – RELAÇÃO DA VELOCIDADE DA REAÇÃO ENTRE O BROMOETANO E O ÍON HIDRÓXIDO TÓPICO 2 | REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA E ELIMINAÇÕES 31 FONTE: A autora Repare que o bromo é o grupo de saída e o íon hidróxido o nucleófilo que o substitui para a formação dos produtos. Em química, geralmente, quando queremos indicar que estamos falando da concentração de um determinado composto, colocamos a fórmula desse composto entre colchetes. Assim, como identificado na figura anterior, [CH 3 Br] e [OH-] significa que estamos falando da concentração do bromometano e do íon hidróxido, respectivamente. NOTA De acordo com a determinação de que a reação entre o bromometano e o íon hidróxido apresentava cinética de segunda ordem, Edward Hughes (químico galês, 1906-1963) propôs que essa reação se processava via um mecanismo de substituição nucleofílica bimolecular (SN2). Tal mecanismo é chamado de bimolecular porque tanto o substrato (denominação dada para a molécula contendo o grupo de saída, no caso, o bromometano), quanto o nucleófilo participam da etapa mais lenta da cinética da reação, ou seja, da etapa em que se mede a velocidade da reação. Assim, uma reação que segue o mecanismo SN2 ocorre em uma única etapa, com o nucleófilo atacando o carbono ligado ao grupo de saída e liberando o grupo de saída, não havendo, portanto, a formação de um intermediário, mas apenas de um estado de transição. Na figura a seguir podemos observar o mecanismo de reação SN2 da formação do metanol por meio da reação entre o bromometano e o íon hidróxido. FIGURA 21 – MECANISMO DE REAÇÃO S N 2 PARA FORMAÇÃO DO METANOL UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 32 Dissemos anteriormente que é típica de uma reação SN2 a formação de um estado de transição e não de um intermediário. O que isso quer dizer? Qual a diferença entre um intermediário e um estado de transição? Quando estudamos as reações de adição dos hidrocarbonetos, vimos que elas se processavam com a formação de um intermediário, os carbocátions, que são espécies químicas relativamente estáveis e que têm um certo tempo de vida durante o curso da reação, mas elas, por serem ainda menos estáveis que o produto, logo se convertem nos produtos (em outras palavras, um intermediário é espécie formada durante uma reação, mas que não é o produto final dessa reação). Já um estado de transição é o estado de mais alta energia de uma reação química, sendo caracterizado por apresentar uma configuração transitória em que uma reação está se quebrando e está se formando uma nova reação (como você pode observar na figura acima, tanto a ligação que está sendo quebrada, C–Br, quanto a que está sendo formada, C–O, são indicadas por uma seta tracejada). Um estado de transição não forma uma espécie relativamente estável como um intermediário e é indicado pelo símbolo ‡. Voltando ao mecanismo da reação mostrada na figura acima, podemos perceber que a reação se inicia com o ataque do nucleófilo (OH-) ao átomo de carbono ligado ao grupo de saída (Br) na direção oposta à ligação C–Br. Com isso há formação do estado intermediário, o qual é caracterizado pela formação parcial da nova ligação C–O e pelo rompimento parcial da ligação C–Br, levando, por fim, à formação do produto. Assim, o mecanismo de reação SN2 mostra o porquê da configuração da molécula ser invertida, que é devido ao ataque do nucleófilo na posição contrária à ligação do carbono com o grupo de saída (pode- se dizer que o ataque do nucleófilo ocorre dessa maneira, pois é como que se essa posição fosse a mais favorável, pois não há interferência do grupo de saída, uma vez que ele age como que bloqueando o ataque do nucleófilo). Além disso, vemos que ambos os reagentes participam do estado de transição, o que explica a cinética de segunda ordem. 2.1.1 Fatores que afetam as reações S N 2 Investigando diversas reações SN2, logo se percebeu que elas se processavam de modos diferentes, sendo, por exemplo, algumas mais rápidas que outras e umas com maior rendimento que outras. Desse modo, ficou claro que existem fatores que interferem no modo com que as reações ocorrem, sendo esses: a natureza do substrato, a natureza do grupo de saída, a natureza do nucleófilo e o tipo de solvente utilizado no meio reacional. Substrato Como o nucleófilo ataca o carbono na direção oposta à ligação com o halogênio, podemos inferir que a presença de grupos volumosos ligados a esse carbono torna o ataque mais difícil, fazendo com que a velocidade da reação seja menor. Portanto, o principal efeito do substrato é em relação ao seu tamanho, ou seja, ao seu efeito estérico. Os efeitos estéricos são os efeitos causados pelo volume TÓPICO 2 | REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA E ELIMINAÇÕES 33 ocupado pelos diferentes grupos de uma molécula. Além do mais, quando o efeito estérico é tanto que leva à diminuição da reatividade de um composto, ele é denominado como impedimento estérico. Desse modo, se compararmos a reatividade relativa dos haletos de alquila, veremos que os haletos primários são mais relativos, seguidos pelos secundários e pelos terciários. Na realidade, o impedimento estérico ao ataque do nucleófilo nos haletos terciários é tanto que eles não reagem via um mecanismo SN2. Na figura a seguir são mostradas as reatividades relativasde haletos de bromo para a reação SN2. FIGURA 22 – REATIVIDADE RELATIVA DOS DIFERENTES HALETOS DE ALQUILA FONTE: Adaptado de McMurry (2012b, p. 346) Analisando a figura, vemos que os haletos de metila são substancialmente mais reativos nas reações SN2, devido, justamente, ao pequeno tamanho dos átomos de hidrogênio que não impedem a aproximação e o ataque do nucleófilo ao carbono. A presença de uma ou duas ramificações já é capaz de induzir uma diminuição na velocidade da reação, pois agora os grupos substituintes são maiores e mais volumosos, o que dificulta o ataque nucleofílico; no entanto, o nucleófilo ainda pode se aproximar e, assim, haletos primários e secundários também reagem via mecanismo SN2. Porém, os haletos terciários possuem grupos substituintes que impedem completamente o ataque do nucleófilo, não reagindo (como mencionado). Vale observar que a figura acima traz ainda uma nova informação. Na verdade, a reatividade dos substratos não depende apenas se o carbono a ser atacado é primário, secundário ou terciário, mas também do tamanho dos grupos substituintes. O carbono a ser atacado pelo nucleófilo no haleto de neopentila, por exemplo, é um carbono primário, no entanto, ele está ligado a um grupo isobutílico, bastante volumoso, o que aumenta o impedimento estérico e faz com que a reatividade desse composto seja bastante baixa. Assim, para determinar se a reação SN2 pode se processar é preciso analisar o impedimento estérico do carbono a ser atacado pelo nucleófilo. UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 34 Nucleófilo Quando estudamos em Química Orgânica I os fundamentos que regem os mecanismos de reação, vimos que um nucleófilo é definido como um bom doador de elétrons, podendo ser um ânion, um átomo com ao menos um par de elétrons isolados, uma molécula com uma ligação dupla ou um átomo muito eletronegativo ligado a um outro átomo pouco eletronegativo, ou seja, espécies que possuem um par de elétrons disponíveis para o ataque sobre um eletrófilo. Assim, com base nisso, podemos perceber que existe uma grande quantidade de espécies químicas que podem agir como nucleófilo em uma reação SN2. Na tabela a seguir são mostrados alguns nucleófilos usados em reações SN2 juntamente com o bromometano. TABELA 3 – NUCLEÓFILOS USADOS EM REAÇÕES S N 2 COM O BROMOMETANO (Equação química genérica: Nu + CH3Br → CH3Nu + Br-) Nucleófilo Produto Nucleófilo Produto CH3S- Metanotiolato CH3SCH3 Dimetilsulfeto CH3O- Metóxido CH3OCH3 Éter dimetílico HS- Hidrossulfeto CH3SH Metanotiol OH- Hidróxido CH3OH Metanol N≡C- Cianeto CH3C≡N Acetonitrila Cl- Cloreto CH3Cl Clorometano N+=N+=N- Azida CH3N3 Azidometano CH3CO2- Acetato CH3CO2CH3 Acetato de metila I- Iodeto CH3I Iodometano H- Hidreto CH4 Metano FONTE: Adaptado de McMurry (2012b, p. 346) Todas as reações mostradas na tabela podem ocorrer, no entanto, algumas ocorrem mais facilmente, ou seja, com maior velocidade do que as outras. Isso está, portanto, relacionado à natureza do nucleófilo, o que indica que existem nucleófilos melhores do que outros. No entanto, a definição geral do que é um bom ou um mau nucleófilo não é tão simples, pois a nucleofilicidade dele, ou seja, a afinidade do nucleófilo pelo átomo de carbono que vai ser atacado, depende de outros fatores além da natureza do próprio nucleófilo, como a natureza do substrato, a concentração dos reagentes e o solvente utilizado em uma dada reação. Assim, para se determinar a reatividade relativa entre diferentes nucleófilos é preciso, por exemplo, definir alguns parâmetros (como o solvente e a concentração dos reagentes) e mudar apenas o tipo de nucleófilo de uma reação. Isso já foi feito para a reação do bromometano com diversos nucleófilos utilizando o metanol como solvente. TÓPICO 2 | REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA E ELIMINAÇÕES 35 FIGURA 23 – REATIVIDADE RELATIVA DOS NUCLEÓFILOS PARA A REAÇÃO COM O BROMOMETANO CONDUZIDA EM METANOL FONTE: Adaptado de McMurry (2012b, p. 346) De acordo com a figura acima, o hidrossulfeto e o cianeto são os melhores nucleófilos para essa reação, enquanto que a água é considerada um mau nucleófilo. No entanto, esse padrão é específico da reação do bromometano com esses nucleófilos em meio de metanol e não deve ser expandido para toda e qualquer reação, mas algumas tendências são observadas: 1) basicamente, pode-se dizer que um aumento da basicidade do nucleófilo (ou seja, a facilidade com que uma substância compartilha seu par de elétrons livres com um próton), assim, o hidróxido geralmente é melhor nucleófilo que o acetato, que é melhor nucleófilo que a água; 2) outro aspecto é que, para uma mesma coluna da Tabela Periódica, a nucleofilicidade cresce de cima para baixo, assim, o hidrossulfeto é um melhor nucleófilo do que o hidróxido, e o iodeto é mais reativo que o brometo, que é, por sua vez, mais reativo que o cloreto; 3) os nucleófilos carregados negativamente são mais reativos que os neutros. Grupo de saída A influência do grupo de saída é entendida se voltarmos à Figura 20 (que trata do mecanismo SN2 da formação do metanol pela reação entre o bromometano e o hidróxido) e identificarmos que o grupo de saída (o bromo), devido à quebra da ligação com o carbono, sai da molécula com uma carga negativa (gerando o brometo). Assim, os melhores grupos de saída são justamente aqueles que conseguem estabilizar melhor essa carga negativa. Essa habilidade em estabilizar a carga negativa está intimamente relacionada com a basicidade do grupo de saída. Assim, quanto mais fraca for uma base, melhor grupo de saída ela é. Isso acontece porque as bases fracas são conhecidas por compartilhar fracamente seu par de elétrons com outros átomos. Desse modo, a ligação entre uma base fraca e o átomo de carbono do substrato não é tão forte e pode ser rompida mais facilmente que uma ligação entre o carbono e uma base forte, o que aumenta a velocidade da reação SN2. Na figura a seguir é mostrada a reatividade relativa dos principais grupos de saída. UNIDADE 1 | HALETOS DE ALQUILA, REAÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO E DE ELIMINAÇÃO E ÉTERES E EPÓXIDOS 36 FIGURA 24 – REATIVIDADE RELATIVA DOS GRUPOS DE SAÍDA FONTE: Adaptado de McMurry (2012c, p. 349) De acordo com a figura, vemos que os íons hidróxido, amino, alcóxido e fluoreto possuem reatividade muito baixa, justamente por serem bases fortes, ou seja, que possuem uma tendência muito forte em compartilhar seus pares de elétrons isolados). Assim, esses íons são péssimos grupos de saída, não podendo ser deslocados por nucleófilos. Isso nos indica, ainda, que grupos funcionais como R–OH (álcoois), R–NH3 (aminas), R–O–R (éteres) e R–F não sofrem reação SN2. Com relação aos haletos, vemos que o iodeto é o melhor grupo de saída, seguido pelo brometo e depois pelo cloreto (o fluoreto, como dito, não é considerado um bom grupo de saída). Assim, percebemos que íons maiores, como é o caso do iodeto, são capazes de estabilizar melhor a carga negativa, o que lhe confere um caráter de base fraca e de um ótimo grupo de saída. Solvente A natureza do solvente deve ser considerada quando se analisa uma reação SN2, pois o solvente pode interagir com o nucleófilo, diminuindo sua capacidade de atacar o substrato, diminuindo, portanto, a velocidade da reação. Esse é o caso dos solventes próticos, ou seja, solventes que contêm em sua estrutura grupos –OH ou –NH, como os álcoois e as aminas. Tais solventes não são considerados bons solventes para as reações SN2, pois eles podem interagir fortemente com o nucleófilo por ligações de hidrogênio, solvatando-o e diminuindo sua liberdade para atacar o substrato, o que leva, consequentemente, a uma diminuição da velocidade da reação. Por outro lado, os solventes apróticos polares (solventes que têm caráter polar, mas não possuem grupos–OH ou –NH em sua estrutura) são considerados os melhores solventes para as reações SN2. Isso porque eles
Compartilhar