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Brasília-DF. Criação, Nutrição e MaNejo de aves Poedeiras Elaboração Julyana Machado da Silva Martins e Raiana Almeida Noleto Mendonça Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS .................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 PRINCIPAIS RAÇAS COMERCIAIS ............................................................................................ 12 CAPÍTULO 2 PRINCIPAIS LINHAGENS (MARCAS) COMERCIAIS ..................................................................... 16 UNIDADE II SISTEMAS DE CRIAÇÃO ....................................................................................................................... 25 CAPÍTULO 1 SISTEMA DE CRIAÇÃO CONVENCIONAL (GAIOLAS) ................................................................ 26 CAPÍTULO 2 SISTEMAS DE CRIAÇÃO ALTERNATIVOS .................................................................................... 30 UNIDADE III INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS ........................................................................................................... 37 CAPÍTULO 1 DETALHES BÁSICOS DAS INSTALAÇÕES .................................................................................... 38 CAPÍTULO 2 CLIMATIZAÇÃO DAS INSTALAÇÕES.......................................................................................... 47 CAPÍTULO 3 EQUIPAMENTOS ...................................................................................................................... 62 UNIDADE IV CRIAÇÃO E MANEJO NAS FASES DE CRIA, RECRIA E POSTURA ............................................................. 76 CAPÍTULO 1 MANEJO NO PREPARO DO AVIÁRIO ANTES DO ALOJAMENTO E NO ALOJAMENTO DAS PINTAINHAS ............................................................................................................................ 76 CAPÍTULO 2 MANEJO NAS FASES DE CRIA E DE RECRIA (7 A 17 SEMANAS) .............................................. 86 CAPÍTULO 3 MANEJO NA FASE DE POSTURA (18 A 80 SEMANAS) .............................................................. 119 UNIDADE V EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E ENERGÉTICAS E MANEJO ALIMENTAR .................................................... 133 CAPÍTULO 1 NUTRIENTES E ENERGIA ......................................................................................................... 133 CAPÍTULO 2 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E ENERGÉTICAS POR FASES ........................................................ 155 CAPÍTULO 3 MANEJO ALIMENTAR E QUALIDADE DOS ALIMENTOS/RAÇÕES ............................................... 170 UNIDADE VI MANEJO DOS OVOS ......................................................................................................................... 178 CAPÍTULO 1 COLETA DOS OVOS ............................................................................................................. 179 CAPÍTULO 2 PROCESSAMENTO DOS OVOS .............................................................................................. 182 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 188 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução A avicultura industrial brasileira é um dos mais importantes e sólidos setores do agronegócio, caracterizado por apresentar uma evolução contínua nas diversas fases da cadeia produtiva, colocando o Brasil em posição de destaque no cenário mundial. Levantamentos realizados pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA, 2018) mostram que a produção de ovos no Brasil totalizou cerca de 39,923 bilhões de unidades em 2017, com um aumento de 1,9% em relação ao ano anterior, ocupando o sétimo lugar na produção mundial, atrás da China, Estados Unidos, Índia, Japão, México e Rússia. As exportações ao longo de 2017 atingiram 6.045 toneladas e receita de US$8.791mil, representando apenas cerca de 1% do total que é produzido no país. Já a produção de carne de frango totalizou 13,05 milhões de toneladas em 2017, sendo o Brasil o segundo maior produtor, atrás apenas dos Estados Unidos. As exportações ao longo do mesmo ano atingiram cerca de 4.320 milhões de toneladas, consolidando o Brasil como maior exportador mundial de carne de frango. Além disso, apesar de ter registrado um aumento de quase 23% desde 2010, o consumo per capita de ovos no Brasil está abaixo da média mundial. Atualmente, os brasileiros consomem cerca de 192 unidades de ovos por ano. A média mundial é de 230 unidades de ovos, mas, em vários países, como China, Dinamarca e México, o consumo ultrapassa300 ovos por pessoa. Por outro lado, o consumo per capita de carne de frango no Brasil em 2017 foi de 42,07 kg, com um consumo superior à média mundial de 11,90 kg por habitante (ABPA, 2018). Esses dados demonstram que a avicultura de postura comercial do Brasil não apresenta o mesmo dinamismo e produtividade que a avicultura de corte, porém, tem capacidade para aumentar a produtividade e, consequentemente, a oferta para os mercados interno e externo, garantindo maior competitividade e lucratividade. Para isso, os sistemas de produção de avicultura de postura devem utilizar cada vez mais as inovações tecnológicas em genética, alimentação, manejo, sanidade e instalações; planejamento e conhecimento dos índices zootécnicos; cuidados e processamentos dos ovos, bem como, a difusão e transferência de conhecimento. Com base nesse cenário e sabendo que a avicultura de postura apresenta potencial técnico para maior produtividade e competitividade, o objetivo deste material é discutir e elucidar os principais pontos para produção intensiva e econômica de poedeiras comerciais, contribuindo para a capacitação de profissionais da área 9 e, consequentemente, para a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos para crescimento da produção. Objetivos » Apresentar as principais raças e linhagens utilizadas para a produção de ovos, bem como suas principais características. » Apresentar e caracterizar os sistemas de criação de poedeiras. » Caracterizar e demonstrar a importância e influência das instalações e equipamentos na produção de poedeiras. » Demonstrar e caracterizar o manejo das poedeiras desde a fase de cria até a produção. » Apresentar as exigências nutricionais das poedeiras em cada fase da criação, bem como a sua importância para o sucesso da atividade. » Caracterizar o manejo alimentar na criação de poedeiras comerciais. » Apresentar e discutir a importância do adequado manejo dos ovos. 10 11 UNIDADE I RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS Mundialmente existe mais de 300 raças puras e linhagens de galinhas domésticas (Gallus gallus domesticus). A raça consiste no conjunto de indivíduos que apresentam características físicas ou biológicas semelhantes transmitidas geneticamente de geração em geração, são diferenciadas pelo tamanho e conformação do corpo. Para diferenciar a variedade de uma mesma raça é observada a cor da plumagem, cor dos ovos, e tipo de crista. Ao longo dos anos as raças de galinhas poedeiras foram sendo aprimoradas, dando origem às linhagens ou raças hibridas que são aquelas formadas a partir do cruzamento entre as raças ou variedades diferentes, ou seja, são produtos oriundos de um programa de melhoramento genético de uma empresa do ramo de genética. Com o melhoramento genético, as poedeiras passaram a apresentar características importantes para a produção de ovos, principalmente, quando se trata de criação em grande escala. As linhagens comerciais de postura apresentam produção média de 330 ovos até 80 semanas de idade, ovos com peso médio de 60g e conversão alimentar de 1,4k g por dúzia de ovos. É importante salientar, que no mercado existe um grande número de raças e linhagens comerciais que podem ser leves (produtoras de ovos brancos) ou semipesadas (produtoras de ovos vermelhos). A escolha da raça ou linhagem é um dos principais fatores quando se pensa em produzir ovos comerciais, sendo importante para o sucesso do empreendimento. 12 CAPÍTULO 1 Principais raças comerciais De acordo com a classificação da American Poultry Association Standard of Perfection, as aves podem ser classificadas conforme a sua origem geográfica, sendo as quatro classes de maior importância econômica: americana, inglesa, mediterrânea e asiática (LOPES, 2011). 1.1. Raças Americanas As raças americanas são originárias dos Estados Unidos, e apresentam como características a pele amarela, brincos e ovos vermelhos, porte médio e canelas sem a presença de penas. As principais raças americanas são: Rhode Island Red, New Hampshire, Plymouth Rock e Wyadotte. 1.1.1. Rhode Island Red Essa é uma raça de dupla aptidão (produtora de ovos e carne). É considerada uma excelente produtora de ovos de casca marrom, com produção média de 200-280 ovos/ano. Apresenta como principais características: plumagem de cor vermelha com algumas pretas na cauda, pescoço e asas, corpo na forma de um bloco alongado e crista serrilhada de tamanho médio, além disso, são consideradas aves bastante resistentes. A raça Rhode Island Red é atualmente bastante utilizada por geneticistas para a formação de linhagens comerciais de postura para a produção de grande quantidade de ovos com casca marrom. 1.1.2. New Hampshire Originária da raça Rhode Island Red, é considerada uma ave de dupla aptidão (produção de carne e ovos), no entanto, devido a sua precocidade e ovos grandes, foi utilizada por muitos anos para a produção de frangos de corte. São excelentes produtoras de ovos de casca marrom, cerca de 220 por ano. As suas principais características físicas são: plumagem vermelho clara, crista serrilhada e pele amarelada. 13 RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS │ UNIDADE I 1.1.3. Plymouth Rock É considerada a raça mais antiga que existe. Entre as suas variedades branca, amarela, prata, entre outras, a barrada é a mais difundida no Brasil, conhecida popularmente como carijó. Raça de dupla aptidão, com produção de cerca de 180 a 280 ovos de casca marrom por ano. Suas principais características físicas são: corpo delgado, pele amarela e crista simples. As fêmeas da variedade barrada apresentam manchas brancas pequenas e menos irregulares na cabeça, normalmente, com penugem e canelas mais escuras do que o macho. Atualmente, a raça Plymouth Rock é utilizada como linha fêmea nos cruzamentos com galos Rhode Island Red para produzir pintos de postura autosexados. 1.1.4. Wyadotte Considerada boa produtora de carne e ovos de casca marrom. Em virtude do pequeno tamanho do ovo e baixa eclodibilidade não foi utilizada para a produção das linhagens atuais. Suas principais características físicas são: pele amarelada e plumagem prateada, branca, amarela e preta. 1.2. Raças inglesas São raças originárias da Inglaterra, a grande maioria possui a pele branca, os brincos vermelhos e produzem ovos de tamanho médio ou grande com casca marrom. As principais raças inglesas são: Cornish, Orpington, Sussex, Australorp e Dorking. Entretanto, aqui será tratado somente das raças inglesas Orpington, Sussex e Australorp por serem galinhas de dupla aptidão (carne e ovos), algumas mais voltadas para a produção de ovos. A Cornish e a Dorking, são raças voltadas, principalmente, para a produção de carne. 1.2.1. Orpington É uma raça utilizada tanto para a produção de carne quanto de ovos. Tem a capacidade de produzir cerca de 160 ovos de casca marrom por ano. Suas principais características físicas são: plumagem nas cores preta, branca amarelada e azulada, pele amarelada e crista serrilhada. 14 UNIDADE I │ RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS 1.2.2. Sussex Raça de dupla aptidão (tanto para corte quanto para postura) produz em média 180 ovos de casca marrom no primeiro ciclo de produção. Suas principais características são: crista serrilhada, pele branca e plumagem que pode ser branca com partes preto- esverdeadas no pescoço e cauda, amarela ou preta com pintas brancas. 1.2.3. Australorp Apesar de ser classificada como inglesa, foi desenvolvida na Austrália a partir de um plantel de Black Orpington inglesa, assim, o seu nome é a abreviatura de Australian Black Orpington. É uma ave de dupla aptidão, considerada uma excelente produtora de ovos, em média 200 por ano, de casca marrom. Suas principais características físicas são: crista serrilhada e plumagem e canelas negras com alguns reflexos de verde e roxo, também podem ser encontradas nas cores branca e azulada. 1.3. Raças mediterrâneas São raças originárias de países mediterrâneos, com característicastípicas como: pele amarelada, brincos brancos, porte pequeno e cristas relativamente grandes. As principais raças mediterrâneas são: Leghorn, Ancona e Minorca, com destaque para a Leghorn. 1.3.1. Leghorn A Leghorn é uma raça que apresenta elevada capacidade de produção de ovos de qualidade de casca branca. Em média são produzidos 200 ovos por ciclo de postura. Por ser uma raça de porte pequeno, necessita de menor quantidade de ração para a sua mantença e produção. A Leghorn é a principal raça utilizada para a produção das linhagens comerciais de ovos de casca branca. Suas principais características físicas são: porte pequeno, crista serrilhada ou lisa dobrada para a esquerda, pele amarelada, plumagem que pode ser marrom claro ou escuro, branca, amarela, preta, prata, vermelha, preta com rabo vermelho, azulada e dourada; sendo a Leghorn de plumagem branca a mais difundida. 1.3.2. Ancona É uma raça destinada à produção de ovos de casca branca ou creme, produz em média 180 ovos no primeiro ciclo de postura. Suas principais características físicas 15 RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS │ UNIDADE I são: crista serrilhada, plumagem escura com manchas brancas, pode ser de estatura grande ou pequena. 1.3.3. Minorca É uma raça leve com aptidão para produção de ovos de casca branca, cerca de 170 por ano. Características físicas: pele branca, crista serrilhada e plumagem nas cores branca, preta, amarela e preta e branca. 1.4. Raças asiáticas São raças originárias da Ásia, apresentam porte grande, brincos vermelhos, pele amarelada (exceto a Langshan) e canelas cobertas por penas. Apresentam baixa produção de ovos de casca marrom. Foram importantes para a produção das raças inglesas e americanas. Atualmente são tidas, principalmente, como ornamentais. As principais raças asiáticas são: Brahma, Cochin, Phoenix e Langshan. Com o passar dos séculos, com o aparecimento dos híbridos comerciais, as raças puras foram deixando de ser tão importantes para os avicultores que praticam a moderna avicultura industrial. FIGUEIREDO, E. A. P.; SCHMIDT, G. S.; LEDUR, M. C.; ÁVILA, V. S. Raças e linhagens de galinhas para criações comerciais e alternativas no Brasil. Concórdia, SC: EMBRAPA, 2003. 8p. (EMBRAPA. Circular Técnica, 347). Disponível em: <https:// ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/85732/1/DCOT-347.pdf>. Acesso em: dezembro de 2018. 16 CAPÍTULO 2 Principais linhagens (marcas) comerciais As linhagens de postura disponíveis no mercado foram desenvolvidas para incrementar a produção de ovos e reduzir os custos. Assim, características importantes de cada raça foram sendo melhoradas ao longo dos anos, enquanto, as indesejáveis foram sendo eliminadas. Em poedeiras, o melhoramento genético foi mais voltado para o ganho de massa de ovo por ave e a precocidade, relacionada ao desenvolvimento do trato reprodutivo da ave, para que o início da postura começasse o mais cedo possível. Com o passar do tempo, com a formação das linhagens com essas características já desenvolvidas, outros objetivos de melhoramento foram surgindo como o aumento da longevidade das aves, qualidade interna do ovo, comportamento das aves (redução do canibalismo, bicagem de penas e agressividade), entre outros (ALBINO et al., 2017). As raças Leghorn e Rod Island Red foram as principais raças utilizadas para a formação das linhagens modernas. O cruzamento entre a raça White Leghorn foi o responsável pelo desenvolvimento da maioria das linhagens leves produtoras de ovos de casca branca e a linha macho de Rod Island Red com a linha fêmea de Plymouth Rock White, Plymouth Rock Barrada e White Wyandotte formaram a maioria das linhagens de ovos de casca marrom ou vermelho, que normalmente são aves semipesadas. A produção das linhagens comerciais ocorre da seguinte forma: as raças puras dão origem às bisavós, o cruzamento das bisavós dentro da linha pura origina as linhas de machos e as linhas de fêmeas que são chamadas de avós; do acasalamento de avós nascem as matrizes, ou seja, o cruzamento entre o avô paterno (galo A) e a avó paterna (galinha B) dará origem à matriz macho AB, e o acasalamento do avô materno (galo C) com a avó materna (galinha D), originará a matriz fêmea CD; e o cruzamento entre a matriz macho (AB) e a matriz fêmea (CD) dará origem às pintainhas de postura híbridas ABCD (Figura 1). 17 RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS │ UNIDADE I Figura 1. Esquema de criação das linhagens. Geração Linha Macho Linha Fêmea Linhas Puras Linha A Linha B Linha C Linha D Bisavós Avós Matrizes Híbrido Comercial A A B B A B C C D D C D ABCD CD AB Fonte: Autoria própria. 2.1. Principais linhagens comerciais de galinhas de postura de ovos brancos e ovos vermelhos Ovos Brancos Ovos Marrons Hy-Line W-36 Hy-Line Brown Lohmann LSL Lohmann Brown Dekalb White Dekalb Brown Hissex White Hissex Brown Isa White Isa Brown Babcock White Babcock Brown Bovans White Bovans Brown Shaver White Shaver Brown No momento da escolha da raça ou linhagem, o produtor deve analisar criteriosamente a que melhor se adequa aos seus objetivos e ao sistema de criação que deseja implantar. A seguir estão apresentadas algumas características que devem estar presentes nas linhagens de poedeiras comerciais: » baixa mortalidade; » alta porcentagem de ovos grandes; 18 UNIDADE I │ RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS » alta capacidade de pigmentação da gema; » alta taxa de postura, capacidade para produzir mais de 240 ovos por ano; » resistência a doenças; » maturidade sexual precoce; » alta qualidade interna dos ovos; » boa conversão alimentar (kg/dúzia e kg/kg). 2.1.1. Hy-Line W-36 e Hy-Line Brown A Hy-Line W-36 tem uma boa habitabilidade e é uma excelente produtora de ovos de alta qualidade com casca resistente, baixo consumo de ração. É considerada a linhagem com mais baixo custo do mercado e pode gerar um máximo de lucro para o produtor. A Hy-Line Brown produz mais de 320 ovos em 74 semanas e tem longos períodos de produção, cerca de 90%. Produzem ovos grandes no início da postura e apresentam consumo de ração moderado. Algumas características das linhagens Hy-line W-36 e Hay-line Brown na fase de postura são apresentadas no Quadro 1. Quadro 1. Características das linhagens Hy-line W-36 e Hy-line Brown. Aves e ovos Branco Marrom Produção de ovos no pico de produção (%) 95 – 96 95 – 96 Produção de ovos/ave até 90 semanas de idade 407 407 – 420 Consumo de ração (g/ave/dia) 98 g 106 – 112 Conversão alimentar (kg/kg) (90 semanas) 1,97 1,98 Peso médio final (kg) (90 semanas) 1,55 - 1,59 1,9 - 2,0 Peso médio do ovo (g) (46 semanas) 62,5 64,3 Idade a 50% de produção (dias) 140 140 Massa de ovos por ave alojada (kg) (90 semanas) 25,1 25,5 Viabilidade (%) (90 semanas) 93,2 92 Fonte: Hy-Line W-36 (2016); Hy-Line Brow (2016). HY-LINE W-36. Guia de manejo Hy-line W-36. 2016. Disponível em: <http:// hyline.tempsite.ws/hyline/download/36_COM_POR.pdf>. Acesso em: dezembro de 2018. HY-LINE BROWN. Guia de manejo Hy-line Brown. 2018. Disponível em: <https:// www.hyline.com/userdocs/pages/BRN_COM_POR.pdf>. Acesso em: dezembro de 2018. 19 RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS │ UNIDADE I 2.1.2. Lohmann LSL-LITE e Lohmann Brown-LITE As linhagens Lohmann LSL e Brown apresentam maturidade sexual adequada, elevada produção no pico de postura, persistência produtiva alta e ovos de qualidade. Algumas características das linhagens Lohmann LSL e Lohmann Brown na fase de postura são apresentadas no Quadro 2. Quadro 2. Características das linhagens Lohmann LSL e Lohmann Brown. Aves e ovos Branco Marrom Produção de ovos no pico de produção (%) 93–96 93-95 Produção de ovos/ave até 90 semanas de idade 422,2 362–367 Consumo de ração (g/ave/dia) 105–110 110–120 Conversão alimentar (kg/kg) (90 semanas) 2,0–2,1 2,0–2,1 Peso médio final (kg) 1,7 2,01 Peso médio do ovo (g) (46 semanas) 62,4 64,0 Idade a 50% de produção(dias) 140–150 140–150 Massa de ovos por ave alojada (kg) (90 semanas) 26,09 26,09 Viabilidade (%) (90 semanas) 92–93 90–92 Fonte: Lohmann LSL-LITE (2017); Lohmann Brown-LITE (2017). LOHMANN LSL-LITE. Guia de manejo Lohmann LSL-LITE. Disponível em: <https://ltz.com.br/guia-manejo>. Acesso em: dezembro de 2018. LOHMANN BROWN-LITE. Guia de manejo Lohmann Brown-LITE. Disponível em: <https://ltz.com.br/guia-manejo>. Acesso em: dezembro de 2018. 2.1.3. Dekalb White e Dekalb Brown A linhagem Dekalb White é considerada adaptável, dócil e de fácil manejo, com ciclos de produção prologados. A linhagem Dekalb Brown produz ovos de casca marrom escuro, com alta qualidade de casca (resistente), alta produtividade e persistência de postura. Algumas características dessas duas linhagens na fase de postura são apresentadas no Quadro 3. 20 UNIDADE I │ RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS Quadro 3. Características das linhagens Dekalb White e Dekalb Brown. Aves e ovos Branco Marrom Produção de ovos no pico de produção (%) 96 96 Produção de ovos/ave até 90 semanas de idade 427 418 Consumo de ração (g/ave/dia) 109 112 Conversão alimentar (kg/kg) (90 semanas) 2,02 2,13 Peso médio final (kg) 1,7 2,0 Peso médio do ovo (g) (46 semanas) 62,4 63,3 Idade a 50% de produção (dias) 141 143 Massa de ovos por ave alojada (kg) (90 semanas) 26,7 26,2 Viabilidade (%) (90 semanas) 90 94 Fonte: Dekalb White (2009); Dekalb Brown (2009). DEKALB WHITE. Dekalb White cs product guide cage. 2009. Disponível em: <https://www.dekalb-poultry.com/en/product/dekalb-white/>. Acesso em: dezembro de 2018. DEKALB BROWN. Dekalb Brown guia do produto em gaiola comercial. 2009. Disponível em: <https://www.dekalb-poultry.com/pt-br/products-pt-br/dekalb- brown-pt-br/>. Acesso em: dezembro de 2018. 2.1.4. Hissex White e Hissex Brown A linhagem Hisex White é uma poedeira de alta produtividade com excelente persistência da postura, alta qualidade dos ovos (ovos médios e grandes com casca resistente) e excelente eficiência alimentar. A Hissex Brown é uma ave que produz ovos de casca marrom escuro e resistente, além de apresentar excelente persistência de postura e alta produção de ovos. Algumas características dessas duas linhagens na fase de postura são apresentadas no Quadro 4. Quadro 4. Características das linhagens Hisex White e Hissex Brown. Aves e ovos Branco Marrom Produção de ovos no pico de produção (%) 96 96 Produção de ovos/ave até 90 semanas de idade 425 422 Consumo de ração (g/ave/dia) 112 112 Conversão alimentar (kg/kg) (90 semanas) 2,01 2,11 Peso médio final (kg) 1,7 2,0 Peso médio do ovo (g) (46 semanas) 62,1 63,3 Idade a 50% de produção (dias) 143 143 Massa de ovos por ave alojada (kg) (90 semanas) 26,4 26,4 Viabilidade (%) (90 semanas) 94 94 Fonte: Hissex White ; Hissex Brown . 21 RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS │ UNIDADE I HISSEX WHITE. Hissex White guia do produto em gaiola comercial. Disponível em: <https://www.hisex.com/pt-br/products-pt-br/hisex-white-pt-br/>. Acesso em: dezembro de 2018. HISSEX BROWN. Hissex Brown guia do produto em gaiola comercial. Disponível em: <https://www.hisex.com/pt-br/products-pt-br/hisex-brown-pt- br/>. Acesso em: dezembro de 2018. 2.1.5. Isa White e Isa Brown A poedeira Isa White é considerada uma ave com elevada produção de ovos com alta qualidade interna e casca dos ovos resistentes. É uma linhagem de poedeira que se adapta aos mais diversos climas. A Isa Brown é considerada a melhor poedeira de ovos marrons, apresenta alta produção e excelente persistência da produção de ovos. É uma ave que se adapta a diferentes climas, sistemas de manejo e de criação, apresenta boa conversão alimentar, com elevada produção de ovos e excelente persistência da produção. Algumas características dessas duas linhagens na fase de postura são apresentadas no Quadro 5. Quadro 5. Características das linhagens Isa White e Isa White. Aves e ovos Branco Marrom Produção de ovos no pico de produção (%) 96 96 Produção de ovos/ave até 90 semanas de idade 429 420 Consumo de ração (g/ave/dia) 112 111 Conversão alimentar (kg/kg) (90 semanas) 2,07 2,10 Peso médio final (kg) 1,7 2,0 Peso médio do ovo (g) (46 semanas) 63,0 63,6 Idade a 50% de produção (dias) 141 144 Massa de ovos por ave alojada (kg) (90 semanas) 27,0 26,4 Viabilidade (%) (90 semanas) 95 94 Fonte: Isa White ; Isa Brown . ISA WHITE. Isa White cs product guide cage. Disponível em: <https://www.isa- poultry.com/en/product/isa-white/>. Acesso em: dezembro de 2018. ISA BROWN. Isa Brown cs product guide cage. Disponível em: <https://www. isa-poultry.com/en/product/isa-brown/>. Acesso em: dezembro de 2018. 22 UNIDADE I │ RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS 2.1.6. Babcock White e Babcock Brown A Babcock White é uma poedeira que se adapta muito bem tanto ao frio quanto ao calor extremos, produz grande número de ovos grandes de qualidade interna e externa e apresenta alta viabilidade. A poedeira Babcock Brown é uma grande produtora de ovos grandes e mantém alta viabilidade. É uma poedeira que se adapta a diversos climas e sistema de manejo diferente, além disso, apresenta ciclo de postura longo. Algumas características dessas duas linhagens na fase de postura são apresentadas no Quadro 6. Quadro 6. Características das linhagens Babcock White e Babcock Brown. Aves e ovos Branco Marrom Produção de ovos no pico de produção (%) 96 96 Produção de ovos/ave até 90 semanas de idade 429 417 Consumo de ração (g/ave/dia) 113 114 Conversão alimentar (kg/kg) (90 semanas) 2,08 2,13 Peso médio final (kg) 1,7 2,02 Peso médio do ovo (g) (46 semanas) 62,9 63,8 Idade a 50% de produção (dias) 141 144 Massa de ovos por ave alojada (kg) (90 semanas) 27,0 26,6 Viabilidade (%) (90 semanas) 95 94 Fonte: Babcock White ; Babcock Brown. BABCOCK WHITE. Babcock White cs cage product guide. Disponível em: <https://www.babcock-poultry.com/en/product/white/>. Acesso em: dezembro de 2018. BABCOCK BROWN. Babcock Brown cs cage product guide. Disponível em: <https://www.babcock-poultry.com/en/product/babcock-brown/>. Acesso em: dezembro de 2018. 2.1.7. Bovans White e Bovans Brown A Bovans White apresenta boa habitabil idade, excelente persistência na postura, produz ovos com curva de peso uniforme e cascas muito resistentes. Além disso, é uma ave de fáci l manejo para qualquer nível de peso de ovo desejado tanto para ovos de mesa quanto para mercados destinados ao processamento. 23 RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS │ UNIDADE I A Bovans Brown é uma poedeira resistente e estável, consegue produzir em ambientes e manejos diferentes. Algumas características dessas duas linhagens na fase de postura são apresentadas no Quadro 7. Quadro 7. Características das linhagens Bovans White e Bovans Brown. Aves e ovos Branco Marrom Produção de ovos no pico de produção (%) 96 96 Produção de ovos/ave até 90 semanas de idade 426 418 Consumo de ração (g/ave/dia) 108 114 Conversão alimentar (kg/kg) (90 semanas) 2,03 2,15 Peso médio final (kg) 1,7 2,0 Peso médio do ovo (g) (46 semanas) 61,9 63,7 Idade a 50% de produção (dias) 143 143 Massa de ovos por ave alojada (kg) (90 semanas) 26,4 26,5 Viabilidade (%) (90 semanas) 94 95 FONTE: Bovans White ; Bovans Brown. BOVANS WHITE. Bovans White guia do produto em gaiola comercial. Disponível em: <https://www.bovans.com/pt-br/bovans-white-and-bovans- brown-layers-pt-br/bovans-white-pt-br/>. Acesso em: dezembro de 2018. BOVANS BROWN. Bovans Brown cs product guide cage. Disponível em: <https://www.bovans.com/en/product/bovans-brown/>. Acesso em: dezembro de 2018. 2.1.8. Shaver White e Shaver Brown A poedeira Shaver White produz elevado número de ovos de qualidade, podendo ser direcionado tanto para ovos de mesa, quanto para processamento. Além disso, apresenta baixo consumo de ração. Adapta-se bem a ambientes, manejos e sistemas de criação diferentes. Tem ciclos longos, com ótima persistência de postura. A linhagem Shaver Browné uma poedeira de ovos vermelhos (marrom), produz número elevado de ovos, com qualidade interna e casca resistente. Apresenta baixo consumo de ração com alta taxa de postura no pico de produção e persistência da produção. 24 UNIDADE I │ RAÇAS E LINHAGENS DE POEDEIRAS Quadro 8. Características das linhagens Shaver White e Shaver Brown. Aves e ovos Branco Marrom Produção de ovos no pico de produção (%) 96 96 Produção de ovos/ave até 90 semanas de idade 423 416 Consumo de ração (g/ave/dia) 104 112 Conversão alimentar (kg/kg) (90 semanas) 1,99 2,12 Peso médio final (kg) 1,68 1,95 Peso médio do ovo (g) (46 semanas) 62,0 62,9 Idade a 50% de produção (dias) 141 145 Massa de ovos por ave alojada (kg) (90 semanas) 26,1 25,8 Viabilidade (%) (90 semanas) 94 94 Fonte: Shaver White; Shaver Brown. SHAVER WHITE. Shaver White cs product guide cage. Disponível em: <https:// www.shaver-poultry.com/en/product/shaver-white/>. Acesso em: dezembro de 2018. SHAVER BROWN. Shaver Brown cs product guide cage. Disponível em: <https:// www.shaver-poultry.com/en/product/shaver-brown/>. Acesso em: dezembro de 2018. Conforme visto nos capítulos 1 e 2, existe uma grande variedade de raças e linhagens disponíveis no mercado, cada uma com suas características individuais. Atualmente, as raças puras estão mais voltadas para o desenvolvimento das linhagens melhoradas, selecionadas para maior produção, maior precocidade etc., possibilitando maior produtividade e maior lucratividade para o empreendimento. Além disso, as raças puras ainda podem ser vistas em pequenas criações, caipiras ou agroecológicas, por exemplo, produzida por agricultores familiares. As linhagens ou as grandes marcas comerciais são utilizadas na avicultura industrial, em que a produção ocorre em larga escala, para atender o número de ovos que o mercado exige, seja para ovos de mesa ou para a sua industrialização. Enfim, é importante que no momento em que se decide implantar um sistema de produção, sejam definidos, qual o objetivo do negócio, sistema de criação que será adotado e, por fim, a linhagem ou raça a ser criada para a produção de ovos, que melhor se adeque à realidade do produtor. 25 UNIDADE IISISTEMAS DE CRIAÇÃO A criação de poedeiras no Brasil com fins lucrativos veio sendo desenvolvida ao longo dos anos, no início da colonização do país, em meados de 1532 quando foram trazidas as primeiras galinhas. Elas eram criadas de maneira rústica, sem nenhuma tecnologia ou controle da nutrição, produção e sanidade. A partir do século XX, o sistema de criação extensivo começou a ser praticado pelas famílias, como forma de subsistência, para consumo próprio sendo o excedente vendido no mercado local. A partir de 1930 iniciou-se a produção comercial, a avicultura passou a ser vista como uma atividade para a obtenção de lucro. Entretanto, as aves ainda eram criadas soltas, sem nenhum controle da produção, os ovos eram postos em ninhos naturais e as raças pouco melhoradas e com baixo rendimento de ovos. Em 1937, os imigrantes japoneses importaram matrizes do Japão, que foram utilizadas pela Cooperativa Central Agrícola Sul-Brasil, fundada por eles (ABPA, 2011). Ainda nessa década os imigrantes japoneses começaram a criar aves em cativeiro, os galpões eram rústicos, sem planejamento e as aves tinham acesso à parte externa e áreas de pasto. A produção avícola industrial foi introduzida no Brasil aos poucos entre as décadas de 1950 e 1960, com a modernização das técnicas de produção, cuidados com a nutrição e sanidade avícola, sendo consolidada com a importação de linhagens dos Estados Unidos, na década de 60, quando o sistema de criação passou a ser intensificado. De acordo com a ABPA (2011), nessa época havia grande produção de ovos e os maiores produtores brasileiros possuíam núcleos com aproximadamente 200 mil poedeiras. A partir daí o sistema de criação passou a ser cada vez mais intensivo. Com a intensificação da produção de ovos, as galinhas poedeiras passaram a ser criadas em gaiolas, facilitando a coleta de ovos, manejo e limpeza das instalações. O sistema de criação em gaiolas é conhecido como sistema de criação convencional e pode ser realizado em gaiola convencional ou vertical, a diferença está no seu tipo. Nesses sistemas, a densidade de alojamento é alta, com espaço nas gaiolas entre 350cm² a 450cm² por ave. Essas condições de criação trouxeram ganhos econômicos e sociais, pois a produção de ovos em larga escala permitiu que a população de baixa renda tivesse acesso à proteína animal com baixo custo. Entretanto, nos últimos anos esse sistema passou a ser alvo de críticas, quanto ao bem-estar animal, pois as gaiolas, aliada a 26 altas densidades, limitam o comportamento natural das aves, assim, novos sistemas de criação alternativos têm despertado o interesse de consumidores preocupados com o bem-estar das poedeiras. Existe grande tendência mundial, de que no futuro as aves não sejam mais criadas em sistema de criação convencional com alta densidade, seguindo a mesma linha do mercado europeu que determinou que a partir de 2012 a criação de poedeiras em gaiolas seja proibida. CAPÍTULO 1 Sistema de criação convencional (gaiolas) O sistema de criação convencional diz respeito ao uso de gaiolas para a criação das aves. Essa prática surgiu inicialmente para permitir a avaliação individual da produção de ovos e descarte das aves improdutivas. Com o passar do tempo, mais aves foram sendo alojadas por gaiola, permanecendo essa prática até os dias de hoje em todo o mundo, exceto em países em que já existem leis que proíbem o uso de gaiolas na produção de poedeiras. No Brasil, cerca de 95% da produção de ovos para consumo ainda ocorre predominantemente em gaiolas. Por muito tempo as gaiolas convencionais mais utilizadas foram as com medidas 0,45 m de largura x 0,40 de altura x 1,00 m de comprimento, dividida em compartimentos de 0,25 m, com capacidade para o alojamento de oito aves, duas por compartimento, dispostas em fileiras sobrepostas de forma piramidal (Figura 2). Figura 2. Criação de poedeiras em gaiola convencional. Fonte: Riquena (2016). 27 SISTEMAS DE CRIAÇÃO │ UNIDADE II Mais recentemente, a criação de poedeiras pode também ser realizada em gaiolas verticais, disposta em fileira com até oito andares, totalmente automatizadas. Além do arraçoamento, os ovos e excretas são coletados automaticamente (Figura 3). As gaiolas verticais não substituíram as convencionais, ainda existem criações nessas gaiolas, as mais modernas com arraçoamento e coleta de ovos também automáticos. Figura 3. Criação de poedeiras em gaiola vertical. Fonte: Arquivo pessoal (2014). A definição do sistema de criação a ser adotado também é importante quando se trata das fases de criação das galinhas, pois cada uma dependerá de técnicas de manejo, nutrição e condições ambientais diferentes. A criação de poedeiras é dividida em três fases distintas: » 1ª fase: cria ou inicial – é o período de criação que vai de uma até seis semanas de idade; » 2ª fase: recria – corresponde ao período de sete a 17 semanas de idade; » 3ª fase: produção – é o período que vai de 18 a 80 semanas, podendo se estender de 90 até 120 semanas se for realizada muda forçada. A cria e a recria são consideradas as fases de maior importância na criação de poedeiras, pois qualquer falha no manejo nessas fases poderá comprometer a futura poedeira. Assim, em função das diferenças de manejo nas idades, principalmente a inicial, em que as pintainhas necessitam de um ambiente mais aquecido, e levando em consideração que os galpões de poedeiras brasileiros na sua grande maioria são abertos, podem ser considerados dois sistemas de criação dentro do sistema convencional. Primeiro sistema: a fase inicial ocorre no piso. 28 UNIDADE II │ SISTEMAS DE CRIAÇÃO » cria: as aves são criadas até os 42 dias em piso com cama; » recria: no final da 6ª semana as aves são transferidasdo galpão de cria para as gaiolas de recria; » postura: as aves são transferidas a partir da 15ª ou 16ª semana de idade das gaiolas de recria para as gaiolas de postura. Segundo sistema: toda a criação ocorre em gaiolas. » cria: as pintainhas são criadas em baterias de 1 a 42 dias de idade; » recria: no final da 6ª semana de idade as aves são transferidas para as gaiolas de recria; » postura: as galinhas são transferidas das gaiolas de recria para as de postura a partir da 15ª ou 16ª semanas de idade. É importante enfatizar que atualmente, já existem sistemas de criação em que as aves são mantidas desde a fase de cria até a recria na mesma gaiola, só sendo transferidas para as gaiolas de postura. A criação de poedeiras em gaiolas permitiu o alojamento de um número maior de aves, com menor custo com instalações e equipamentos por ave, além de não utilizar a cama, que consiste em custo a mais para o sistema de produção. Além disso, existem muitas outras vantagens como: » facilidade da retirada das excretas, diminuindo os problemas com a produção de amônia, formada a partir da decomposição dos dejetos; » melhora do controle de parasitas nas instalações; a própria facilidade da retirada do esterco já favorece essa redução, além de uma maior facilidade de limpeza do galpão durante a criação, pois as gaiolas são feitas em arame e são suspensas, mantendo as aves separadas de suas excretas; » facilidade de controle da distribuição de alimentos, aplicação de medicamentos e vacinas; » facilidade de manejo, pelo maior nível de automação da alimentação e remoção das excretas, melhorando a sanidade e a ambiência no galpão; 29 SISTEMAS DE CRIAÇÃO │ UNIDADE II » melhor controle da produção; » melhora do estado sanitário das aves; » vantagens econômicas, pela menor necessidade de mão de obra e gasto com ração, resultando na redução dos gastos. As desvantagens desse tipo de sistema incluem o desconforto das aves, devido ao piso das gaiolas ser de arame, o que pode causar problemas nos pés, comprometer o empenamento, pela abrasão do corpo da ave com o piso, também pode causar fragilidade óssea, em função da movimentação deficiente, devido à falta de espaço nas gaiolas, além de algumas práticas adotadas nesse tipo de sistema, como alta densidade que difere em relação aos países. No Brasil, por exemplo, para a criação de poedeiras em gaiolas é preconizada uma área de aproximadamente 350 a 450 cm²/ave, nos Estados Unidos e países asiáticos é de no máximo 400 cm²/ave e na Noruega 700 cm²/ave (SILVA; SILVA, 2012). Apesar da falta de espaço para as aves desempenharem o seu comportamento normal ser o ponto mais associado à falta de bem-estar para poedeiras, outras práticas de manejo adotadas no sistema de criação convencional como a debicagem e a muda forçada (serão abordados na unidade IV Criação e Manejo nas Fases de Cria, Recria e Postura) também são bastante criticadas. Todos esses fatores e, principalmente, a densidade de alojamento que impede as galinhas de realizarem o seu comportamento natural têm gerado discussão a respeito do bem-estar das poedeiras criadas nesse tipo de sistema. Assim, os sistemas alternativos de criação de poedeiras surgiram da necessidade de proporcionar bem-estar às aves sem prejudicar a produção. Eles buscam atender, principalmente, às necessidades de comportamento natural, por meio do fornecimento de mais espaço e equipamentos para o enriquecimento ambiental. 30 CAPÍTULO 2 Sistemas de criação alternativos 2.1. Entendo o bem-estar animal Os sistemas de criação alternativos surgiram da necessidade de adequar o sistema de criação das poedeiras com o bem-estar animal. O bem-estar animal é algo que está constantemente em discussão. Os consumidores estão cada dia mais exigentes e as iniciativas das redes sociais, meio de comunicação e organizações não governamentais para que o ambiente de criação intensivo seja modificado têm influenciado a população e também os órgãos públicos. O bem-estar animal refere-se às sensações do indivíduo em relação às condições do ambiente em que é mantido, deve-se partir do princípio de que os animais são seres vivos e necessitam de ambientes em que possam expressar todo o seu potencial genético e comportamental. Partindo dessa premissa, o bem-estar animal pode ser definido com base nas cinco liberdades criadas pelo Farm Animal Welfare Council em 1979 e devem servir como base para a elaboração de programa de bem-estar animal nas unidades de criação. As cinco liberdades referentes ao bem-estar animal são: 1. liberdade fisiológica: os animais devem ser livres de fome e sede, ou seja, devem ter livre acesso a uma alimentação de qualidade que atenda suas necessidades fisiológicas e a água fresca e potável; 2. liberdade ambiental: os animais devem ser livres de desconforto, serem criados em ambientes adaptados se for o caso e confortáveis, para que sejam protegidos contra os efeitos do tempo e incômodos físicos; 3. liberdade psicológica: os animais devem ser livres de medo e ansiedade, devem ser manejados por pessoas especializadas, que não causem estresse aos animais. 4. liberdade sanitária: os animais devem ser livres de dor, sofrimento e doenças, o ambiente em que os animais são criados deve ser manejado para promover a saúde, medidas profiláticas devem ser preconizadas e atendimento veterinário sempre que for necessário. 31 SISTEMAS DE CRIAÇÃO │ UNIDADE II 5. liberdade comportamental: os animais devem ser livres para expressar o seu comportamento normal, natural. Assim, deve ser oferecido espaço suficiente e instalações adequadas a cada espécie. Nesse contexto, a produção de poedeiras comerciais em sistemas convencionais em gaiolas vem sendo, ao longo dos anos, criticada, pois fere a liberdade comportamental das aves. Por estarem em espaço reduzido e alta densidade, as aves não conseguem abrir e esticar as asas e se alongar, além de não poderem realizar outras atividades características da espécie, como se empoleirar e ciscar. Além disso, o manejo de debicagem severa coloca em risco a uma das cinco liberdades a de serem livres de dor e sofrimento. Esses questionamentos do comprometimento do bem-estar em criações de poedeiras levou a União Europeia a criar a Diretiva 1999/74/CE, que trata de normas mínimas de criação de galinhas poedeiras. Essa diretiva estabeleceu que o espaço mínimo para cada ave na gaiola fosse de no mínimo 550 cm² nas gaiolas convencionais e 750 cm²/ave em gaiolas enriquecidas com poleiros, ninhos e caixa de areia, para que as aves realizem o banho de areia, comportamento natural das aves. Além disso, essa diretiva estabeleceu que o uso de gaiolas para a criação de poedeiras fosse totalmente banida a partir de 2012. A decisão da União Europeia, aliada às exigências da população e também de consumidores de grandes redes mundiais varejistas – como é o caso do Burger King, McDonald’s, entre outros, que decidiram que a partir de 2025 só trabalharão com ovos produzidos livres de gaiola – tem influenciado muitos outros países produtores de ovos. No Brasil a União Brasileira de Avicultura, preocupada com o bem-estar de poedeiras, produziu em 2008 um protocolo de bem-estar para aves poedeiras que pode ser seguido pelo produtor. Para o bem-estar das poedeiras, a densidade de alojamento deve permitir que as aves se movimentem, com espaço para que possam se deitar ao mesmo tempo sem que fiquem amontoadas. Deve também permitir espaço suficiente para que as aves tenham acesso livre a água e ração. Assim, as recomendações para o sistema de criação em gaiolas estabelecido no protocolo de bem-estar para poedeiras, produzido pela União Brasileira de Avicultura em 2008 são: » Espaço nas gaiolas: com base em uma gaiola de 45 x 50 = 2250 cm²: › 375 cm²/ave (leves). › 450 cm²/ave (semipesadas). 32 UNIDADE II │ SISTEMAS DE CRIAÇÃO » Proporção de comedouro e bebedouro: › comedouro tipo calha: superiora 10 cm/ave; › bebedouro nipple: 1 para 6 aves. » Inclinação do piso da gaiola: › superior a 8º ou 13%. UNIÃO BRASILEIRA DE AVICULTURA (UBA). Protocolo de bem-estar para aves poedeiras. São Paulo, 2008. 23p. Disponível em: <http://abpa-br.com.br/setores/ avicultura/publicacoes/publicacoes-tecnicas>. Acesso em: dezembro de 2018. 2.2. Sistema de criação em gaiolas enriquecidas A utilização de gaiolas enriquecidas surgiu com o objetivo de associar as vantagens econômicas e de manejo da criação em gaiolas com melhores condições de bem-estar das poedeiras. O enriquecimento das gaiolas é caracterizado pelo uso de ninhos, poleiros, lixas para o desgaste das unhas das galinhas, além de uma área para o banho de areia e espaço suficiente para que todas as aves possam se alimentar simultaneamente sem competição (Figura 4). As lixas de unhas são importantes para reduzir o comprimento das unhas, para diminuir o enroscamento delas no arame da gaiola, e devem ser instaladas na base das gaiolas paralelas aos comedouros. Com relação à densidade, a União Europeia, por meio da Diretiva 1999/74/CE estabelece que o espaço para cada ave em gaiolas enriquecidas seja de 750 cm². Figura 4. Exemplos de gaiola enriquecida (vista frontal). Bebedouro nipple https://netorg993 387- my.sharepoint.co m/personal/esouz a_ltz_com_br/Do cuments/Site/GUI A%20DE%20MA NEJO%20LSL%2 0LITE%20- %202017.05.pdf? slrid=964db69e- 7016-7000-c05e- 97a8eeb150b4 Corda de polipropileno https://netorg993387- my.sharepoint.com/pers onal/esouza_ltz_com_br /Documents/Site/GUIA% 20DE%20MANEJO%20 LSL%20LITE%20- %202017.05.pdf?slrid=9 64db69e-7016-7000- c05e-97a8eeb150b4 Caixa de areia https://netorg9 93387- my.sharepoint. com/personal/ esouza_ltz_co m_br/Docume nts/Site/GUIA %20DE%20M ANEJO%20LS L%20LITE%2 0- %202017.05.p df?slrid=964db 69e-7016- 7000-c05e- 97a8eeb150b 4 Comedouro https://netor g993387- my.sharepoi nt.com/pers onal/esouza _ltz_com_br /Documents /Site/GUIA %20DE%20 MANEJO% 20LSL%20L ITE%20- %202017.0 5.pdf?slrid= 964db69e- 7016-7000- c05e- 97a8eeb15 0b4 Ninho https ://net org9 9338 7- my.s hare point .com /pers onal/ esou za_lt z_co m_br /Doc ume nts/S ite/G UIA %20 DE% 20M ANE JO% 20LS L%2 0LIT E%2 0- %20 2017 .05.p df?sl rid=9 Poleiro 90cm https://netorg 993387- my.sharepoi nt.com/perso nal/esouza_l tz_com_br/D ocuments/Sit e/GUIA%20 DE%20MAN EJO%20LSL %20LITE%2 0- %202017.05 .pdf?slrid=96 4db69e- 7016-7000- c05e- 97a8eeb150 b4 Caixa de areia https://netorg9 93387- my.sharepoint. com/personal/ esouza_ltz_co m_br/Docume nts/Site/GUIA %20DE%20M ANEJO%20LS L%20LITE%2 0- %202017.05.p df?slrid=964db 69e-7016- 7000-c05e- 97a8eeb150b 4 Bebedouro https://netor g993387- my.sharepoi nt.com/pers onal/esouza _ltz_com_br /Documents /Site/GUIA %20DE%20 MANEJO% 20LSL%20L ITE%20- %202017.0 5.pdf?slrid= 964db69e- 7016-7000- c05e- 97a8eeb15 0b4 Ninho-150 cm²/ave Fonte: Matur et al. (2015); Roll et al. (2008). 33 SISTEMAS DE CRIAÇÃO │ UNIDADE II Os principais benefícios do sistema de criação em gaiolas enriquecidas são a maior movimentação das aves, o que favorece o fortalecimento da musculatura e ossos. Além disso, pode reduzir a hierarquia social, pois as aves ficam mais tempo interagindo com o ambiente. As gaiolas enriquecidas proporcionam maior bem-estar para as poedeiras e não comprometem a produção de ovos, sendo a produção semelhante às observadas em gaiolas convencionais. Foi observado em países europeus que o enriquecimento das gaiolas não foi o suficiente para resolver todos os problemas relacionados ao bem-estar das poedeiras, pois não é possível observar o comportamento das aves de forragear e o banho de areia é limitado. Além disso, como não é permitida a debicagem das galinhas nesse tipo de sistema, têm sido observados problemas com bicagem entre as galinhas e nos ovos (ALBINO et al., 2017). ROLL, V. F. B.; LEVRNOLL, G. A. M.; BRIZLL R. C. Rearing system and behavioural adaptation of laying hens to furnished cages. Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.7, pp. 1997-2003, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cr/v38n7/ a31v38n7.pdf>. Acesso em: janeiro 2019. ROLL, V. F. B.; LEVRINO, G. A. M.; BRIZ, R. C.; BUIL, T. Ethological parameters and performance of Hy Line W-98 and ISA Brown hens when housed in furnished cages. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.60, n.3, pp. 749-754, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abmvz/ v60n3/33.pdf>. Acesso em: 20 de janeiro de 2019. MENG, F.; CHEN, D.; LI, X.; LI, J.; BAO, J. Effects of large or small furnished cages on performance, welfare and egg quality of laying hens. Animal Production Science, v. 55, 793–798, 2015. Disponível em: effectsoflargeordcagesonperformancewelfareandeggqualityoflayinghens%20 (1).pdf. Acesso em: 20 de janeiro de 2019. LI, X.; CHEN, D.; MENG, F.; SU, Y.; WANG, L.; ZHANG, R.; LI, J.; BAO, J. Exterior egg quality as affected by enrichment resources layout in furnished laying-hen cages. Asian-Australas Journal Animal Science. v. 30, N. 10, pp. 1495-1499, 2017. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5582336/pdf/ ajas-30-10-1495.pdf>. Acesso em: 20 de janeiro de 2019. WIDOWSKI, T. M.; Caston, L. J.; Hunniford,M. E.; Cooley, Torrey, L. S. Effect of space allowance and cage size on laying hens housed in furnished cages, Part I: Performance and well-being. Poultry Science, Champaign, v. 96, pp. 3805– 3815, 2017. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ PMC5850468/pdf/pex197.pdf>. Acesso em: 20 de janeiro de 2019. 34 UNIDADE II │ SISTEMAS DE CRIAÇÃO 2.3. Sistema de criação sobre cama e em piso (Cage free) O sistema de criação em piso com cama (Figura 5) se assemelha ao de frangos de corte. Como as aves são criadas em espaços maiores, fora de gaiolas, há a possibilidade de desenvolverem o seu comportamento natural com maior facilidade. Entretanto, se a densidade de alojamento não for respeitada não haverá espaço suficiente para as aves se movimentarem. É importante que o espaço de cada ave seja respeitado, assim como a quantidade e acessibilidade de bebedouros e comedouros, para que não ocorra competição. Figura 5. Poedeiras criadas no piso com cama. Fonte: Certified Humane Brasil (2017). No sistema de criação em piso com cama é necessário que sejam disponibilizados ninhos em quantidades suficientes e, para a escolha do tamanho, levar em consideração a linhagem a ser alojada. Também devem ser disponibilizados para as aves poleiros, distribuídos de forma adequada, de modo que as excretas das aves que estão no nível superior do poleiro não caiam sobre as aves nos níveis inferiores. Para o bem-estar das poedeiras no sistema de criação em piso com cama, as seguintes recomendações devem ser seguidas (Quadro 9). Quadro 9. Recomendações para sistemas de criação em piso com cama. Densidade 10 aves/m2 (brancas) e 8 aves /m2 (vermelhas) Comedouros Comedouro tipo calha: 8 cm/ave branca e 10 cm/ave vermelha Comedouro tubular: 1 para 20 aves Bebedouros Bebedouro pendular: 1 para 50 aves Bebedouro nipple: 1 para 8 aves Ninhos 1 boca para cada 4 aves Poleiros 15 cm de espaço para cada ave Fonte: UBA (2008). 35 SISTEMAS DE CRIAÇÃO │ UNIDADE II As recomendações para a criação de poedeiras em sistema de criação em piso ou piso com cama determinada pela União Europeia pela Diretiva 1999/74/CE são apresentadas no Quadro 10. Quadro 10. Recomendações para sistema de criação em piso e piso com cama. Densidade Máxima de 9 aves/m² Comedouros Lineares: 10 cm/ave Circulares: mínimo de 40 cm/ave Bebedouros Contínuos: 2,5 cm/ave Circulares: 1 cm/ave Nipple: 1 para 10 aves Ninhos Simples: 1 para 7 aves Coletivos: 1m²/120 aves Poleiros 15 cm/ave Distância horizontal entre os poleiros não deve ser inferior a 30 cm Distânciahorizontal entre o poleiro e a parede de no mínimo 20 cm Cama Área mínima de 250 cm²/ave Fonte: Diretiva 199/74/CE (1999). No momento da definição da densidade e espaçamento dos equipamentos, o manual da linhagem escolhida para o sistema de criação, seja em gaiolas seja em piso, deve ser consultado e as recomendações descritas nos manuais devem ser levadas em consideração. Em sistema de criação em piso (cama), é necessário fornecimento da cama. A cama é importante para oferecer isolamento térmico entre a ave e o piso, reduzir o atrito da ave com o piso e a absorção da umidade das excretas, proporcionando um ambiente confortável para as galinhas. O material utilizado para a cama deve ser de boa procedência, sem a presença de materiais estranhos e/ou contaminantes, além disso, é importante que seja confortável, devendo permanecer seca e limpa para melhor higiene do aviário e das aves. O sistema de criação em piso é assim chamado por possuir além do nível da cama mais níveis de piso perfurado (pisos sobrepostos), esse sistema favorece o aproveitamento vertical do galpão (Figura 6). A quantidade de níveis não deve ser superior a quatro e o espaço entre os níveis deve ser de no mínimo 45 cm. A disposição dos níveis deve ser de forma que as excretas não possam atingir os pisos inferiores (Diretiva 1999/74/CE). Existem no mercado diversos modelos de pisos sobrepostos. 36 UNIDADE II │ SISTEMAS DE CRIAÇÃO Figura 6. Exemplo de um sistema de criação em piso sobreposto. Fonte: ISA. Disponível em: <https://www.isa-poultry.com/pt-br/products-pt-br/isa-brown-pt-br/isa-brown-alternative-systems-pt- br/>. Acesso em: 20 de janeiro de 2019. No sistema de criação em pisos dispostos em níveis também devem ser disponibilizados poleiros, ninhos, cama, bebedouros e comedouros em quantidade e espaço suficientes para as poedeiras, seguindo as mesmas recomendações descritas no Quadro 10. A desvantagem da utilização do sistema de criação em piso com cama e/ou em níveis é que a qualidade do ar pode ficar comprometida, devido à grande quantidade de excreta no ambiente, resultando em maior concentração de amônia no ar, que, aliado à maior quantidade de poeira pode afetar a saúde das aves (ALBINO et al., 2017). O uso de equipamentos para controle do ambiente é de extrema importância para esse sistema de criação para que o ar seja constantemente renovado. Além disso, há a possibilidade das aves botarem os ovos na cama, o que pode acarretar na contaminação deles devido ao contato dos ovos com as excretas das aves na cama. 2.4. Sistema de criação ao ar livre (Free Range) O sistema de criação ao ar livre é semelhante ao sistema em piso, a diferença é que as poedeiras têm acesso a piquetes para pastejo. Para isso, é necessário que o galpão tenha várias portinhas que devem ser abertas no período do dia para que as aves acessem a área de pastagem (Figura 7). A densidade na área de pastejo não deve ultrapassar nove galinhas poedeiras por m² (Diretiva 1999/74/CE). Figura 7. Poedeiras criadas em sistema free range. Fonte: Certified Humane Brasil. Disponível em: <https://certifiedhumanebrasil.org/empresas-certificadas/avicola-tala/>. Acesso em: 20 de janeiro de 2019. 37 UNIDADE IIIINSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS Ao longo dos anos, os criadores de poedeiras comerciais vêm intensificando suas técnicas de manejo, controle sanitário, eficiência da mão de obra e, consequentemente, do desempenho das aves. Nesse sentido, as instalações são apontadas como um dos fatores de grande importância para que a eficiência produtiva possa ser alcançada. As instalações compreendem um conjunto de edificações que além de permitir a otimização do manejo, sanidade e utilização de equipamentos, devem ser construídas com características construtivas capazes de minimizar os efeitos adversos do clima sobre as aves, proporcionando-lhes conforto térmico. Assim, no planejamento do projeto de uma instalação para poedeiras alguns aspectos fundamentais, como: localização geográfica, orientação, dimensionamento, cobertura, área circundante, sombreamento das edificações, disponibilidade de água e de energia, condições topográficas e principalmente condições climáticas (temperatura, amplitude térmica, umidade relativa do ar e velocidade do vento) devem ser levados em consideração. Os equipamentos utilizados na criação de poedeiras irão complementar as instalações, e são importantes para atender às necessidades fisiológicas e de manejo das aves. Considerando que o Brasil é um país de clima tropical, é importante que se atente prioritariamente aos problemas inerentes ao estresse por calor. No entanto, é necessário ficar atento às condições de inverno e de amplitude térmica de algumas regiões do país, que influenciam o conforto térmico dos animais (TINÔCO, 2011). 38 CAPÍTULO 1 Detalhes básicos das instalações 1. Localização A localização dos aviários é um dos fatores mais importantes para o sucesso do empreendimento, deve ser pensada para reduzir a carga térmica de radiação sobre os animais. A carga térmica radiante compreende a radiação total recebida por um corpo de todo o espaço circundante, o seu excesso pode causar estresse térmico nas aves e, consequentemente, redução da produção, peso e qualidade da casca e clara do ovo. O local adequado para a implantação das instalações deve ser escolhido de modo que se possa aproveitar ao máximo as vantagens da circulação natural de ar, bem como evitar sua obstrução por outras construções ou barreiras naturais ou artificiais. Preferencialmente, as instalações devem ser construídas em locais com clima seco, não sendo inferior a 40% de umidade, temperado, com temperaturas mais amenas e sem grandes variações da amplitude térmica e com boa ventilação natural. É importante levar em consideração a presença de ventos indesejáveis dominantes, pois podem causar desconforto para as aves, principalmente, na época de inverno; barreiras naturais adequadamente distribuídas são uma estratégia que pode minimizar esse problema. O isolamento sanitário das instalações é fundamental para evitar a entrada de doenças na granja. As barreiras naturais como as matas nativas ou reflorestamento são importantes para o isolamento do aviário. Além disso, as distâncias entre os galpões e os núcleos de produção, limites periféricos e rodovias onde eles estão inseridos devem ser levados em consideração para evitar a contaminação cruzada (Tabela 1). Tabela 1. Distâncias mínimas entre granjas e outros estabelecimentos determinadas pela Instrução Normativa no 4/1998 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), para melhor isolamento das instalações avícolas. Itens Distâncias preconizadas Distância entre a granja e estabelecimento avícola de reprodução 3 km Distância entre galpões e limites periféricos da propriedade 200 m Distância entre os galpões e estrada vicinal e rodovias 500 m Distância entre núcleos de diferentes idades 500 m Distância entre recria e produção 500 m Fonte: MAPA (2007). 39 INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS │ UNIDADE III O terreno onde serão instaladas as edificações também deve ser levado em consideração no momento do planejamento do projeto das instalações. Terrenos de baixada devem ser evitados, pois geralmente apresentam alta umidade, pouca ventilação e insolação inadequada. Escolha terrenos com boa drenagem com inclinação suave (2% a 5%), para facilitar o escoamento de águas servidas e pluviais (TINÔCO, 2001). Terrenos descampados ou muito acidentados devem ser evitados. Os terrenos descampados dificultam o controle da temperatura e ventos no interior do galpão e o isolamento sanitário da granja; e os acidentados, além de dificultar o manejo, oneram o custo de implantação, pois nesse caso é necessário grande movimentação de terra para tornar o local de construção do aviário menos inclinado. E, por fim, água e energia elétrica também podem influenciar a escolha do local para a implantação deuma instalação avícola. O local deve ter disponibilidade de água em abundância, fácil captação e de qualidade para o consumo das aves e limpeza das instalações. No caso de água captada de mananciais é obrigatório o seu tratamento antes de ser fornecida para as aves. A água para dessedentação das aves deve ser potável, ou seja, fresca, limpa e livre de micro-organismos patogênicos. A energia elétrica é indispensável para a criação de poedeiras, pois permite a realização de um bom programa de luz para maior produção de ovos, além de ser importante para o acionamento de equipamentos como comedouros, bebedouros e sistemas de aquecimento e refrigeração, e, em caso de galpões automatizados e climatizados, misturador de ração, moinho de milho e câmara fria para armazenamento dos ovos. Importância da água para poedeiras: Em galinha de postura adulta a água representa cerca de 60% do seu peso corporal e constitui 65% do peso do ovo. A restrição de água resulta na queda do consumo de alimento e, consequentemente, do desempenho das aves. No momento do planejamento das instalações deve ser previsto o fornecimento de água à vontade para as aves. Poedeiras em jejum hídrico por um período de 24h apresentam queda de 24% a 30% da postura. 2. Orientação do galpão Levando em consideração que o Brasil é um país de clima tropical, os galpões devem ser construídos com o seu eixo longitudinal orientado no sentido leste-oeste (Figura 8). Dessa forma, no verão haverá menor incidência de radiação solar no interior do galpão, pois o sol nos períodos mais quentes irá 40 UNIDADE III │ INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS incidir ao longo do dia sobre a cumeeira do aviário, já no período de inverno permite uma maior insolação na face norte do galpão. Na criação animal essa orientação é universal, visando reduzir a carga térmica radiante recebida pelo aviário, evitando o sobreaquecimento do galpão, e consequentemente, proporciona melhor conforto térmico. Figura 8. Esquema do deslocamento do sol ao longo do dia em um galpão orientado no sentido leste-oeste. Oeste Leste Fonte: Autoria própria. Caso não seja possível construir os aviários na orientação indicada, o que pode ocorrer em terrenos acidentados, em que eles tenham que ser dispostos no sentido norte-sul, é necessário que sejam plantadas árvores nas fachadas leste e oeste, proporcionando sombreamento natural e permitindo a entrada da radiação solar dentro dos galpões nas primeiras horas da manhã e últimas da tarde, o que pode ser desejável em regiões de invernos rigorosos (TINÔCO, 2001). 3. Aspectos construtivos 3.1. Largura, pé direito, comprimento e mureta do galpão No planejamento do projeto do galpão, a definição da largura está condicionada ao clima da região onde será implantada a granja e ao projeto de disposição das fileiras de gaiolas de postura, bem como ao espaço disponível para o corredor de circulação e disposição dos ninhos e densidade de alojamento, no caso de galinhas de postura criadas no piso. Normalmente, são recomendadas larguras de até 8,00 a 10,00m em clima quente e 10,00 a 14,00 m em clima quente e seco. 41 INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS │ UNIDADE III Em sistema de criação em gaiolas, é necessária à construção de corredores entre as fileiras de gaiolas, para que seja possível a realização do manejo das aves. Em geral, adota-se o espaçamento de no mínimo 1,00 m entre as fileiras. A altura do pé direto também está condicionada ao projeto de organização das gaiolas, pois existem no mercado gaiolas que podem ser dispostas em arranjo piramidal ou vertical com três a seis andares. Além disso, o pé-direito influencia diretamente a ventilação natural e a intensidade de radiação solar que atinge o interior do galpão. É a altura do pé direito que irá manter as aves distantes do calor proveniente do telhado e do bolsão de ar quente que se forma dentro das instalações, proporcionando um microclima mais ameno. Nesse sentido, o pé direito que será adotado deverá levar em consideração todos esses fatores para que a ventilação natural dentro das instalações não seja comprometida, consequentemente, o conforto térmico das aves. A adoção do pé direto também pode variar em função da largura adotada, quanto mais largo o galpão, maior deverá ser sua altura. Para aves criadas em clima tropical, seguem algumas recomendações de pé- direito (Tabela 2). Tabela 2. Altura do pé direito em relação à largura do galpão Largura (m) Pé direito (m) Até 8,00 2,80 8,00 a 9,00 3,15 9,00 a 10,00 3,50 10,00 a 12,00 4,20 12,00 a 14,00 4,90 Fonte: Tinôco (1995). Com relação ao comprimento, ele não deve ser superior a 140 m, permitindo otimizar os equipamentos e evitar problemas de manejo. Em galpão de poedeiras criadas no piso, é necessário o uso de muretas de 30 a 50 cm, com o objetivo de evitar a entrada de água da chuva no interior da instalação e desperdício do material de cama para fora do aviário. A seguir é apresentado um exemplo de dimensionamento de um galpão para 4.500 aves de postura: Esse exemplo é para um sistema de criação em gaiolas convencionais medindo (0,40m de largura x 0,40m de altura x 1,00m de comprimento) com capacidade de alojar oito aves por gaiola, dispostas em quatro fileiras de forma piramidal com corredor central de 1,0 m (Figura 9). 42 UNIDADE III │ INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS Resolução: 1 metro de gaiola --------- 8 aves X --------- 4.500 aves X = 562,5 metros de gaiola 562,5 / 4 fileiras = 141 metros de comprimento e 3 metros de largura. Figura 9. Galpão de postura com quatrofileiras de gaiolas. Fonte: Autoria própria. 3.2. Cobertura Em locais de clima quente, a principal causa de desconforto térmico em animais é o ganho de calor produzido pela absorção da radiação solar que incide nas superfícies dos aviários. Nesse sentido, a escolha do tipo de cobertura que será utilizada é um dos fatores mais importantes no momento do planejamento do projeto arquitetônico da instalação, pois é sobre o telhado que a radiação solar irá incidir com maior intensidade e pode alterar o ambiente térmico dentro das instalações. A cobertura do galpão auxilia na promoção de um ambiente satisfatório à produção, reduz a carga térmica radiante recebida pelo animal, permitindo maior conforto térmico, além, é claro, de proteger contra a chuva. 43 INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS │ UNIDADE III Vários são os materiais disponíveis para serem utilizados como cobertura. É importante que a escolha seja baseada em função do clima. Em regiões em que o clima é quente, recomenda-se a utilização de cobertura em que o material proporcione maior isolamento térmico. Um bom material para cobertura deve apresentar alta refletividade solar associada à alta emissividade térmica na parte superior e baixa absortividade solar associada à baixa emissividade térmica na parte interior. Os telhados com qualidade térmica mais utilizados na avicultura industrial são: » telha termo-acústica ou sanduíche: é aquela constituída por isopor entre duas lâminas de alumínio, considerada muito eficiente, porém, mais onerosa; » telha de cimento amianto: apesar de apresentar baixa qualidade térmica, sua eficiência pode ser melhorada quando pintada de branco na parte externa; » telhado de barro ou cerâmica: é considerado melhor termicamente do que o amianto. Ainda podem ser utilizados como cobertura para aviários: » telhado de sapé: é considerado um bom isolante térmico. No entanto, é bastante susceptível à proliferação de pragas e ao ataque de fogo. Embora seja uma ótima opção para evitar que a carga térmica radiante interfira no ambiente interno do galpão, existe a preocupação em relação ao aspecto sanitário. Esse tipo de cobertura ainda pode ser encontrado em criações alternativas de aves, como por exemplo, frangos e galinhas caipiras; » telhado de madeirite: é constituído por madeira compensada com 6mm de espessura, ondulada e revestida com lâmina de alumínio. Apresenta bomcomportamento térmico, sendo, entretanto, um material caro. Telhados de chapa de zinco ou alumínio simples devem ser evitados, pois, além de provocarem barulho para as aves no período de chuva, oxidam com o tempo. A chapa de zinco é a que apresenta o pior comportamento térmico. Apesar de quando nova ser efetiva na redução da carga térmica radiante, perde sua efetividade em um curto período de tempo, comparado à telha de alumínio. Além da escolha do material para a cobertura dos aviários, existem alguns artifícios que podem ser adotados para reduzir os efeitos adversos da radiação solar sobre as instalações e, consequentemente, melhorar o ambiente térmico no seu interior, tais como: 44 UNIDADE III │ INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS » pintura da face superior e inferior da cobertura: a pintura reflexiva na face externa da cobertura dos galpões é considerada um artifício para reduzir a carga térmica radiante sobre o galpão. Pintar a superfície externa da cobertura na cor branca é algo simples e eficiente na redução da temperatura interna do galpão, pois a cor branca tem alta refletividade solar. De acordo com Sarmento et al. (2005), essa prática pode reduzir em até 9 °C a temperatura nos horários mais quentes do dia. A pintura branca da face exterior da cobertura do galpão para que proporcione melhores resultados deve ser combinada com a pintura preta na face inferior, pois essa cor apresenta maior absortividade e menor refletividade, tornando a carga térmica de radiação sobre as aves menor. Essa técnica tem a vantagem de ser eficiente, simples, fácil de ser adotada e de baixo custo; » uso de forros sob a cobertura: o forro irá atuar como uma segunda barreira física contra a radiação solar. Ele permite que uma camada de ar móvel entre o forro e a cobertura seja formada, reduzindo a transferência de calor para o interior do galpão. O material utilizado para o forro pode ser de fibra de vidro insuflada, manta de vidro, plástico (lona), celulose insuflada, espuma de poliuretano, vinil entre outros. » uso de aspersão de água sobre o telhado: a aspersão de água sobre o telhado nas horas mais quente do dia pode ser uma alternativa para a redução da carga térmica radiante para o interior do galpão. Nesse processo, a água incide sobre o telhado, e ao ser evaporada carreia parte do calor da parte externa do telhado. Para evitar desperdício de água e umedecimento dos arredores do galpão podem ser instaladas calhas no beiral para que a água seja recolhida, possibilitando o seu reaproveitamento. 3.3. Beiral O beiral é importante para evitar a entrada de chuva e raios solares no interior do galpão. De maneira geral, a recomendação é de 1,0 a 2,5 m de largura, varia de acordo com o pé direito, deve estar presente nas faces norte e sul do telhado. 3.4. Lanternim O lanternin é uma abertura que fica na parte superior da cobertura, o seu objetivo é proporcionar constante renovação de ar dentro do galpão, pelo processo de 45 INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS │ UNIDADE III termossifão, propiciando um ambiente mais confortável para as aves. Quando utilizado, o lanternin deve ser construído de forma adequada, em duas águas, disposto longitudinalmente em toda a extensão do telhado, nas aberturas devem ser utilizadas telas para evitar a entrada de pássaros. A abertura deve ser de no mínimo 10% da largura do aviário, com sobreposição de telhados com afastamento de 5% da largura do aviário. Para evitar a entrada de chuva no galpão, as extremidades do lanternim devem ser construídas no máximo a 5 cm acima da abertura do telhado (Figura 10) (ABREU e ABREU, 2000ª). Ao adotar essas recomendações de abertura do lanternim, um galpão de 10m de largura, por exemplo, terá a abertura horizontal do lanternim de 1m e o espaço entre os telhados (lanternim e galpão) será de 50cm. Figura 10. Esquema para determinação das dimensões do lanternim. Fonte: Abreu e Abreu (2000a). Quanto maior a inclinação do telhado maior será a velocidade do ar sobre a cumeeira, uma inclinação entre 20º e 30º é adequada para melhorar as condições térmicas dentro do galpão. É importante enfatizar que mesmo que o galpão não tenha lanternim, o telhado deverá ser mais inclinado, assim o calor produzido no interior do galpão será armazenado mais distante dos animais. Quanto maior for a inclinação do telhado, maior será o volume do ar do ático. Ático é o volume que se forma entre o forro e o talhado, funcionando como isolamento térmico que evita que o calor de fora penetre dentro do galpão (FERREIRA, 2015). ABREU, P. G.; ABREU, V. M. N. Lanternim: função e construção. Concordia, SC: EMBRAPA, 2000. 2p. (EMBRAPA. Instrução Técnica para o avicultor). Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPSA/15608/1/itav015. pdf>. Acesso em: 20 de janeiro de 2019. 46 UNIDADE III │ INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS 3.5. Piso O piso deve ser preferencialmente de concreto, pois permite uma melhor higienização e desinfecção. Em alguns casos, chão de terra batida pode ser utilizado, não sendo o mais recomendado, uma vez que os excrementos das aves podem contaminar o solo, além de ser de mais difícil limpeza. 3.6. Proteção contra insolação A carga térmica radiante que incide sobre o galpão durante o dia, principalmente no verão, influencia na sua temperatura interna e contribui com o desconforto térmico das aves. Nesse sentido, o uso de sombreamento que pode ser natural ou artificial é importante para reduzir os efeitos da insolação propiciando conforto térmico. O sombreamento natural pode ser realizado por vegetação, como árvores reduzindo os efeitos da insolação, proporcionando um microclima ameno dentro das instalações. Devem ser plantadas árvores na face norte e oeste do aviário, sendo importante evitar árvores que possam diminuir a ventilação natural no interior do galpão. As árvores podem ser consideradas o melhor tipo de sombreamento, uma vez que a vegetação é capaz de transformar a energia solar em energia latente, por meio da fotossíntese, assim, a incidência de insolação durante o dia é reduzida (BAÊTA e SOUZA, 2010). O sombreamento artificial pode ser empregado por meio do aumento do beiral ou do uso de telas (sombrite). Além do sombreamento, é importante que a área circundante que delimita o galpão seja coberta por grama, com o intuito de reduzir a luz refletida e atenuar o calor que penetra nele, pois a vegetação utiliza parte da radiação solar para realização do processo de fotossíntese, e, dessa forma, menos calor será refletido no galpão. A espécie de grama a ser utilizada deverá ser de crescimento rápido e que proporcione boa cobertura ao solo, deve ser aparada constantemente, evitando assim, a proliferação de insetos e que se torne uma barreira para a ventilação natural. Em regiões com inverno mais intenso, as árvores utilizadas para o sombreamento dos aviários devem ser caducifólias. Dessa forma, durante o período de inverno, as folhas caem permitindo o aquecimento da cobertura e, no verão, a copa das árvores volta a ser compacta, proporcionando sombra e, consequentemente, diminuindo a carga térmica radiante para o interior do galpão. Em regiões que não há grandes variações de temperatura durante as estações do ano, as árvores não precisam ser caducifólias. 47 CAPÍTULO 2 Climatização das instalações 1. Relação da ave com o ambiente térmico O ambiente térmico é constituído pela temperatura, umidade relativa do ar, ventilação e radiação solar, fatores que afetam diretamente a função vital das aves, que é a manutenção da sua homeotermia. As aves são animais homeotérmicos, ou seja, conseguem manter a temperatura corporal constante, sem grandes variações, independente da temperatura que se encontra o ambiente no qual estão inseridas, desde que os limites da zona de termoneutralidade sejam respeitados. Assim, uma ave adulta vivendo em um ambiente com ampla variação de temperatura externa mantém a sua temperatura corporal
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