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DIREITO CIVIL Professor Adroaldo Leão Souto Júnior e Professora Jessica Lourenço PESSOA NATURAL CAPACIDADE NA LETRA DO CC! Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 1) ESPÉCIES DE CAPACIDADE a) CAPACIDADE DE DIREITO É inerente ao ser humano que possui personalidade jurídica. É a aptidão genérica para ADQUIRIR direitos e contrair deveres, ou seja, de SER SUJEITO de direitos e deveres na ordem privada. Todas as pessoas têm capacidade de direito, sem distinção. b) CAPACIDADE DE EXERCÍCIO É a aptidão para EXERCER pessoalmente atos da vida civil. Em regra, adquire-se a capacidade de fato com a maioridade ou a emancipação (menor capaz). Nem todas as pessoas têm, a exemplo dos incapazes. A Teoria das incapacidades sofreu grandes alterações estruturais com a emergência do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015). 2) ESTUDO DAS INCAPACIDADES a) INCAPACIDADE ABSOLUTA NA LETRA DO CC! Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. O menor absolutamente incapaz deverá ser REPRESENTADO. NA LETRA DO CC! Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; b) INCAPACIDADE RELATIVA NA LETRA DO CC! Art. 4º. São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. O menor relativamente incapaz deverá ser ASSISTIDO. NA LETRA DO CC! Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; PERSONALIDADE CIVIL A personalidade não se esgota na possibilidade de alguém ser sujeito de direitos, relacionando-se com o próprio ser humano, sendo a consequência mais relevante do princípio da dignidade da pessoa humana. 1) INÍCIO DA PERSONALIDADE CIVIL NA LETRA DO CC! Art. 2o. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. A maior controvérsia é em relação ao nascituro. Nascituro é aquele que já foi concebido, mas ainda não nasceu. Três correntes buscam justificar a situação do nascituro TEORIA NATALISTA. A personalidade começa com o nascimento com vida, de modo que não se reconheceriam direitos ao nascituro, que teria apenas mera expectativa de direitos. Parte de uma interpretação literal da lei. TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL. Entende que o nascituro é uma “pessoa condicional”, já que a aquisição de sua personalidade depende da condição suspensiva “nascer com vida”. Os direitos do nascituro, para essa teoria, são direitos eventuais. TEORIA CONCEPCIONISTA. Sustenta que o nascituro é pessoa humana, tendo direitos resguardados pela lei. Desse modo, a personalidade jurídica da pessoa natural é adquirida desde a concepção. 2) EMANCIPAÇÃO Em regra, a incapacidade cessa com o fim da causa que a determinou ou com a aquisição da maioridade civil. A emancipação é a antecipação da capacidade de fato e não da maioridade civil, já que esta só é atingida aos 18 anos completos. O que se antecipam são alguns efeitos da maioridade civil. NA LETRA DO CC! Art. 5o. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: [Emancipação Voluntária] I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, (...) [Emancipação Judicial] I - (...) ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; [Emancipação Legal ] II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. Em síntese, a emancipação pode ser: ESPÉCIES DE EMANCIPAÇÃO Voluntária Para o menor de 16 anos completos, pode ser concedida pelos pais. Judicial Nesse caso, ouve-se o tutor e a emancipação é deferida por sentença. Legal Decorre de casos previstos em lei. Observação 1: A emancipação é irrevogável e irretratável. Ex: menor que se casa – emancipado e depois vem a se divorciar. Observação 2: A emancipação voluntária e a emancipação judicial não eximem os pais da responsabilidade civil pelos atos praticados pelos filhos emancipados, nos termos do art. 932, CC. É nesse sentido igualmente a jurisprudência do STJ. Se for emancipação legal, a responsabilidade é direta e pessoal do filho. 3) EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE CIVIL Com a morte ocorre ao fim da personalidade jurídica e, por conseguinte, uma mutação subjetiva nas relações jurídicas patrimoniais que eram mantidas pelo falecido e passam a ser titularizadas pelos seus sucessores. a) EFEITOS DA MORTE a) Extinção da personalidade e dos direitos da personalidade b) Abertura da sucessão – art. 1.784, CC c) Extinção do poder familiar – art. 1.635, I, CC d) Finda contratos personalíssimos e) Cessa obrigação alimentar f) Finda o casamento/união estável g) Extingue o usufruto b) MORTE REAL A regra no ordenamento jurídico é a morte real. É aquela em que há a declaração médica da ocorrência da morte encefálica, sendo lavrada a certidão de óbito no cartório do registro civil. O Art. 80, Lei 6.015/73 traz os detalhes sobre a certidão. c) MORTE PRESUMIDA (SEM DECRETAÇÃO DE AUSÊNCIA) Nesse caso, não há o cadáver para haver a certificação do óbito por um profissional da Medicina. Ocorre em casos em que era muito provável a morte da pessoa. Os requisitos são a prova de que a pessoa estava no local do evento catastrófico e seu posterior desaparecimento. NA LETRA DO CC! Art. 7o. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. Nesse caso, para a morte presumida exige-se o reconhecimento pelo juiz, por meio de procedimento especial de jurisdição voluntária de justificação de óbito. Art. 77, LRP - Nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte. d) COMORIÊNCIA NA LETRA DO CC! Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. Dada a falta de provas de quem morreu primeiro, o ordenamento jurídico supõe que morreram ao mesmo tempo. A comoriência traz consequências fundamentais no Direito das Sucessões, já que os comorientes não sucederam entre si. Dessa forma, conclui-se que somente haverá comoriência entre pessoas sucessíveis entre si ou que tenham estabelecido entre si uma relação jurídica de transmissão de direitos (ex: recebimento de indenizações oriundas de seguro de vida), fora isso não haveria interesse jurídico. Em síntese: Morte real É a que ocorre com o diagnóstico de cessação da vida encefálica. Morte simultânea (comoriência) Quando duas pessoasfalecem na mesma ocasião, não necessariamente no mesmo lugar, e não se puder precisar quem faleceu primeiro, serão considerados óbitos simultâneos. A consequência é que não há sucessão entre os comorientes. “Morte civil” Quando uma pessoa viva não pode mais participar do ato jurídico. Ex: herdeiro deserdado ou indigno. Morte presumida Com declaração de ausência Sem declaração de ausência No caso dos ausentes. Art. 7º, CC. COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM: 01. Ano: 2020 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado Márcia, adolescente com 17 anos de idade, sempre demonstrou uma maturidade muito superior à sua faixa etária. Seu maior objetivo profissional é o de tornar-se professora de História e, por isso, decidiu criar um canal em uma plataforma on-line, na qual publica vídeos com aulas por ela própria elaboradas sobre conteúdos históricos. O canal tornou-se um sucesso, atraindo multidões de jovens seguidores e despertando o interesse de vários patrocinadores, que começaram a procurar a jovem, propondo contratos de publicidade. Embora ainda não tenha obtido nenhum lucro com o canal, Márcia está animada com a perspectiva de conseguir custear seus estudos na Faculdade de História se conseguir firmar alguns desses contratos. Para facilitar as atividades da jovem, seus pais decidiram emancipá-la, o que permitirá que celebre negócios com futuros patrocinadores com mais agilidade. Sobre o ato de emancipação de Márcia por seus pais, assinale a afirmativa correta. A) Depende de homologação judicial, tendo em vista o alto grau de exposição que a adolescente tem na internet. B) Não tem requisitos formais específicos, podendo ser concedida por instrumento particular. C)Deve, necessariamente, ser levado a registro no cartório competente do Registro Civil de Pessoas Naturais. D) É nulo, pois ela apenas poderia ser emancipada caso já contasse com economia própria, o que ainda não aconteceu. Gabarito: C 02. Ano: 2020 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado Alberto, adolescente, obteve autorização de seus pais para casar-se aos dezesseis anos de idade com sua namorada Gabriela. O casal viveu feliz nos primeiros meses de casamento, mas, após certo tempo de convivência, começaram a ter constantes desavenças. Assim, a despeito dos esforços de ambos para que o relacionamento progredisse, os dois se divorciaram pouco mais de um ano após o casamento. Muito frustrado, Alberto decidiu reunir algumas economias e adquiriu um pacote turístico para viajar pelo mundo e tentar esquecer o ocorrido. Considerando que Alberto tinha dezessete anos quando celebrou o contrato com a agência de turismo e que o fez sem qualquer participação de seus pais, o contrato é A) válido, pois Alberto é plenamente capaz. B) nulo, pois Alberto é absolutamente incapaz. C) anulável, pois Alberto é relativamente incapaz. D) ineficaz, pois Alberto não pediu a anuência de Gabriela. Gabarito: A 03. Ano: 2020 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado Gumercindo, 77 anos de idade, vinha sofrendo os efeitos do Mal de Alzheimer, que, embora não atingissem sua saúde física, perturbavam sua memória. Durante uma distração de seu enfermeiro, conseguiu evadir-se da casa em que residia. A despeito dos esforços de seus familiares, ele nunca foi encontrado, e já se passaram nove anos do seu desaparecimento. Agora, seus parentes lidam com as dificuldades relativas à administração e disposição do seu patrimônio. Assinale a opção que indica o que os parentes devem fazer para receberem a propriedade dos bens de Gumercindo. A) Somente com a localização do corpo de Gumercindo será possível a decretação de sua morte e a transferência da propriedade dos bens para os herdeiros. B) Eles devem requerer a declaração de ausência, com nomeação de curador dos bens, e, após um ano, a sucessão provisória; a sucessão definitiva, com transferência da propriedade dos bens, só poderá ocorrer depois de dez anos de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória. C) Eles devem requerer a sucessão definitiva do ausente, pois ele já teria mais de oitenta anos de idade, e as últimas notícias dele datam de mais de cinco anos. D) Eles devem requerer que seja declarada a morte presumida, sem decretação de ausência, por ele se encontrar desaparecido há mais de dois anos, abrindo-se, assim, a sucessão. Gabarito: C DIREITOS DA PERSONALIDADE 1) CONCEITO: Os direitos da personalidade são os direitos não patrimoniais inerentes à pessoa, compreendidos no núcleo essencial da sua dignidade. Os direitos da personalidade concretizam a dignidade da pessoa humana no âmbito civil. 2) NATUREZA Os direitos da personalidade têm natureza, segundo a tese dominante, de poderes que o homem exerce sobre a sua própria pessoa. 3) TITULARIDADE: Pessoa natural, inclusive o nascituro. A pessoa jurídica não é titular de direitos da personalidade, já que estes são ínsitos à pessoa humana. No entanto, a pessoa jurídica, em casos excepcionais, é equiparada à pessoa natural para, no que for cabível, receber a proteção legal, tanto que pode sofrer dano moral. 4) CLASSIFICAÇÃO: Podem ser divididos em 5 grupos: honra, imagem, corpo, nome e privacidade. 5) TIPICIDADE ABERTA Estão elencados no CC de forma exemplificativa, ou seja, possuem tipicidade aberta, tendo em vista a impossibilidade de previsão de todas as hipóteses de direitos inerentes. 6) FORMAS DE TUTELA PREVENTIVA: Pelo ajuizamento de ação cautelar ou ordinária com multa cominatória, para evitar a concretização da ameaça de lesão ao direito da personalidade. REPRESSIVA: Pela imposição de sanção civil (pagamento de indenização) ou penal em lesão consumada. 7) CARACTERÍSTICAS INATOS: no sentido de surgirem com a própria existência da pessoa humana. GERAIS: A noção de generalidade significa que os direitos da personalidade são outorgados a todas as pessoas simplesmente pelo fato de existirem. EXTRAPATRIMONIAIS: Ou seja, são insuscetíveis de apreciação econômica, embora sua lesão possa gerar efeitos patrimoniais. Da extrapatrimonialidade decorre sua impenhorabilidade. ABSOLUTOS: são oponíveis erga omnes. Impondo a coletividade o dever de respeita-los, sendo um dever geral de abstenção dirigido a todos. INDISPONÍVEIS: já que são impenhoráveis e irrenunciáveis. Todavia, a compreensão dos direitos da personalidade deve se dar na perspectiva de sua relativa indisponibilidade, impedindo que seu titular possa dispor em caráter permanente ou total, preservando sua estrutura psicofísica e intelectual. Admite-se, eventualmente, a cessão do seu exercício (e não da sua titularidade) em determinadas situações e dentro de certos limites. Exemplo: direito de imagem, que pode ser cedido, onerosa ou gratuitamente, durante determinado lapso temporal. Enunciado 4, I Jornada Direito Civil - CJF – O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. Ou seja, o ato precisa ser específico e transitório. IMPRESCRITÍVEIS – inexiste um prazo extintivo para que seja exercido um direito da personalidade. Atenção, pois não se confunde com a prescritibilidade da pretensão indenizatória decorrente de um eventual dano à personalidade. Nesse caso, prescreve normalmente em três anos a pretensão de obter a indenização, conforme art. 206, §3º, V, CC. INTRANSMISSÍVEIS – extinguem-se com a morte do titular, havendo a extinção das relações jurídicas personalíssimas. Vale lembrar que o art. 12, § único atribui legitimidade aos chamados legitimados indiretos para reclamar em nome próprio seus direitos da personalidade. São o cônjuge ou companheiro e parentes em linha reta colateral até o quarto grau. Apesar de os direitos da personalidade serem intransmissíveis, vale lembrar que os seus reflexos patrimoniaisadmitem transmissão. Perpetrado um dano contra a personalidade de alguém, surge uma pretensão reparatória por dano moral que se transmite aos herdeiros juntamente com a herança. COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM: 01. Ano: 2016 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado Pedro, em dezembro de 2011, aos 16 anos, se formou no ensino médio. Em agosto de 2012, ainda com 16 anos, começou estágio voluntário em uma companhia local. Em janeiro de 2013, já com 17 anos, foi morar com sua namorada. Em julho de 2013, ainda com 17 anos, após ter sido aprovado e nomeado em um concurso público, Pedro entrou em exercício no respectivo emprego público. Tendo por base o disposto no Código Civil, assinale a opção que indica a data em que cessou a incapacidade de Pedro. A) Dezembro de 2011. B) Agosto de 2012. C) Janeiro de 2013. D) Julho de 2013. 02. Ano: 2013 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado João Marcos, renomado escritor, adota, em suas publicações literárias, o pseudônimo Hilton Carrillo, pelo qual é nacionalmente conhecido. Vítor, editor da Revista “Z”, empregou o pseudônimo Hilton Carrillo em vários artigos publicados nesse periódico, de sorte a expô-lo ao ridículo e ao desprezo público. Em face dessas considerações, assinale a afirmativa correta. A) A legislação civil, com o intuito de evitar o anonimato, não protege o pseudônimo e, em razão disso, não há de se cogitar em ofensa a direito da personalidade, no caso em exame. B) A Revista “Z”pode utilizar o referido pseudônimo em uma propaganda comercial, associado a um pequeno trecho da obra do referido escritor sem expô-lo ao ridículo ou ao desprezo público, independente da sua autorização. C) O uso indevido do pseudônimo sujeita quem comete o abuso às sanções legais pertinentes, como interrupção de sua utilização e perdas e danos. D) O pseudônimo da pessoa pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, quando não há intenção difamatória. GABARITO: 01- D / 02- C PESSOA JURÍDICA 1) CONCEITO Tendo em vista a necessidade de emprestar personalidade jurídica a agrupamentos humanos, o ordenamento jurídico empresta autonomia e independência a determinadas entidades, dotando-as de estrutura própria e personalidade jurídica distinta daqueles que a instituíram. 2) CLASSIFICAÇÃO PJ Direito Público Interno Externo Direito Privado Pessoa Jurídica Pessoa Jurídica de Direito Público Interno Entes Federativos Autarquias Associações Públicas Entidades de caráter público criadas por lei Externo Estados estrangeiros Pessoas regidas pelo direito internacional público Pessoa Jurídica de Direito Privado Associações Sociedades Fundações Organizações religiosas Partidos Políticos EIRELI 3) DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA A regra é de que a responsabilidade dos sócios em relação às dívidas sociais seja sempre subsidiária, ou seja, primeiro exaure-se o patrimônio da pessoa jurídica para depois, e desde que o tipo societário adotado permita, os bens particulares dos sócios ou componentes da pessoa jurídica serem executados. Devido a essa possibilidade de exclusão da responsabilidade dos sócios ou administradores, a pessoa jurídica, por vezes, desviou-se de seus princípios e fins, cometendo fraudes e lesando sociedade ou terceiros, provocando reações na doutrina e na jurisprudência. Visando a coibir tais abusos, surgiu a figura da teoria da desconsideração da personalidade jurídica ou teoria da penetração na pessoa física. Tal instituto permite ao juiz não mais considerar os efeitos da personificação da sociedade para atingir e vincular responsabilidades dos sócios, com intuito de impedir a consumação de fraudes e abusos por eles cometidos, desde que causem prejuízos e danos a terceiros, principalmente a credores da empresa. Dessa forma, os bens particulares dos sócios podem responder pelos danos causados a terceiros. Em suma, o escudo, no caso da pessoa jurídica, é retirado para atingir quem está atrás dele, o sócio ou administrador. Bens da empresa também poderão responder por dívidas dos sócios, por meio do que se denomina como desconsideração inversa ou invertida. NA LETRA DO CC! Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Medida Provisória nº 881, de 2019) §1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização dolosa da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. §2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de valor proporcionalmente insignificante; e III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. a) TEORIAS SOBRE A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE Teoria maior – a desconsideração, para ser deferida, exige a presença de dois requisitos: o abuso da personalidade jurídica + o prejuízo ao credor. Essa teoria foi adotada pelo art. 50 do CC/2002. Teoria menor – a desconsideração da personalidade jurídica exige um único elemento, qual seja o prejuízo ao credor. Essa teoria foi adotada pela Lei 9.605/1998 – para os danos ambientais – e pelo art. 28 do Código de Defesa do Consumidor. OBSERVAÇÃO Enunciado 283 do CJF: É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada ‘inversa’ para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros. 4) ASSOCIAÇÕES CONCEITO: As associações são pessoas jurídicas de direito privado formada pela união de pessoas organizadas para fins não econômicos. Ressalta-se que a o fato de as associações terem finalidade não econômica não obsta a obtenção de lucro, desde que este seja revertido para a manutenção das atividades da associação. O que distingue a associação da sociedade é que na associação não há affectio societatis (art. 53, § único) em razão de não haver qualquer relação recíproca entre os associados. Já as sociedades têm como ponto central o desempenho de atividades econômicas em proveito dos sócios. NA LETRA DO CC! Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. Enunciado 534, da VI JDC, CJF: As associações podem desenvolver atividade econômica, desde que não haja finalidade lucrativa. Não há, entre associados, direitos e obrigações recíprocos, uma vez que não há intuito de lucro (art. 53, parágrafo único, do CC). Por outro lado, podem existir direitos e deveres entre associados e associação, como o dever do associado de pagar a contribuição mensal. 5) FUNDAÇÕES CONCEITO: As fundações não são grupos humanos personificados; resultam da afetação de um patrimônio, por testamento ou escritura pública, que faz o seu instituidor com o objetivo de realizar uma finalidade específica. NA LETRA DO CC! Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. SÚMULAS RELACIONADAS: - Súmula 227, STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM: 01. Ano: 2014 / Banca: FGV /Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado Paulo foi casado, por muitos anos,no regime da comunhão parcial com Luana, até que um desentendimento deu início a um divórcio litigioso. Temendo que Luana exigisse judicialmente metade do seu vasto patrimônio, Paulo começou a comprar bens com capital próprio em nome de sociedade da qual é sócio e passou os demais também para o nome da sociedade, restando, em seu nome, apenas a casa em que morava com ela. Acerca do assunto, marque a opção correta A) A atitude de Paulo encontra respaldo na legislação, pois a lei faculta a todo cidadão defender sua propriedade, em especial de terceiros de má-fé B) É permitido ao juiz afastar os efeitos da personificação da sociedade nos casos de desvio de finalidade ou confusão patrimonial, mas não o contrário, de modo que não há nada que Luana possa fazer para retomar os bens comunicáveis. C) Sabendo-se que a “teoria da desconsideração da personalidade jurídica” encontra aplicação em outros ramos do direito e da legislação, é correto afirmar que os parâmetros adotados pelo Código Civil constituem a Teoria Menor, que exige menos requisitos D) No caso de confusão patrimonial, gerado pela compra de bens com patrimônio particular em nome da sociedade, é possível atingir o patrimônio da sociedade, ao que se dá o nome de “desconsideração inversa ou invertida'',de modo como matrimoniais e comunicáveis GABARITO: 01- D http://www.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%27599%27).sub.#TIT1TEMA0 BENS 1) CONCEITO: Bens são espécies de coisas com conteúdo econômico e suscetíveis de apropriação. O patrimônio representa um complexo de relações jurídicas apreciáveis economicamente (ativas ou passivas) de uma determinada pessoa. Importante lembrar a teoria do patrimônio mínimo de Luiz Edson Fachin, segundo a qual há o reconhecimento da necessidade de se garantir o mínimo existencial para a subsistência da pessoa e garantia de sua dignidade, visando à despatrimonialização das relações. 2) CLASSIFICAÇÃO DOS BENS Os bens podem ser classificados da seguinte forma: CLASSIFICAÇÃO DOS BENS BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Imóveis Móveis Bens imóveis por natureza (acessões naturais e artificiais), bens imóveis por imposição legal. Bens móveis por natureza, bens móveis por imposição legal, bens móveis por antecipação, semoventes. Fungíveis Infungíveis São os móveis que podem substituir- se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. São os móveis que não podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Consumíveis Inconsumíveis São bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação. São aqueles que admitem uso constante como, por exemplo, um livro. Divisíveis Indivisíveis São os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. Não é possível fracionar sem a perda da essência do bem. Singulares Coletivos São os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais. São representados pelas universalidades de fato e de direito. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS Principais Acessórios São aqueles que têm existência própria. Não possuem existência própria. Pelo princípio da gravitação jurídica, o acessório segue o principal. BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AO SUJEITO Bens públicos Bens privados São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno. São os bens de uso comum do povo, bens dominicais e bens de uso especial. Seu conceito é dado por exclusão. São todos os demais são bens privados. - Não persiste no novo sistema legislativo a categoria dos bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a expressão “tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”, constante da parte final do art. 79 do Código Civil. - Pertenças são as coisas destinadas a conservar ou facilitar o uso das coisas principais, sem que destas sejam parte integrante. As pertenças substituíram os antigos bens por acessão intelectual que não estão no CC/02, sendo estes bens que a vontade humana imobiliza. - Partes integrantes são bens que se unem ao principal, formando um todo desprovido de existência própria. - De acordo com o art. 3º, Lei 9.610/98, os direitos autorais são bens móveis. - Seguem algumas distinções importantes entre bens imóveis e bens móveis: BENS IMÓVEIS BENS MÓVEIS Só podem ser adquiridos por escritura pública registrada no Cartório de Imóveis. Só podem ser adquiridos pela tradição. Os prazos para aquisição dos bens imóveis pela usucapião são mais dilatados (15, 10 ou 5 anos) Já os prazos para os móveis (5 ou 3 anos) Podem ser objeto de comodato Podem ser objeto de mútuo A hipoteca é a garantia real que, em regra, é destinada aos bens imóveis. O penhor é a garantia real dos bens móveis. BENS IMÓVEIS POR DETERMINAÇÃO LEGAL – ART. 80, CC I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; II - o direito à sucessão aberta. No primeiro caso, a natureza do bem atrai a qualidade do direito real e da ação. Por fim, o direito à sucessão aberta será sempre imóvel, independente dos tipos de bens que o componham. BENS IMÓVEIS Bens imóveis por natureza Bens imóveis por acessão física Bens imóveis por disposição legal BENS MÓVEIS POR DETERMINAÇÃO LEGAL – ART. 83, CC I - as energias que tenham valor econômico; ex: energia elétrica II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. O intuito do legislador foi conferir maior segurança jurídica a determinados bens incorpóreos. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS Bens principais Bens acessórios Frutos Produtos Pertenças Partes integrantes Benfeitorias Bens principais São os bens que existem de maneira autônoma e independente, art. 92, CC. Bens acessórios São bens cuja existência e finalidade dependem de um outro bem, o principal. Pelo princípio da gravitação jurídica, o acessório segue o principal, salvo disposição em contrário. BENS MÓVEIS Bens móveis por natureza Bens móveis por antecipação Bens móveis por disposição legal Frutos são aqueles que mantém a integridade do bem principal, sem a diminuição da sua substância ou quantidade. Ex: frutas de uma árvore Produtos são aqueles que saem do bem principal, diminuindo sua substância e quantidade. Ex: pepita de ouro retirada de uma mina Pertenças são as coisas destinadas a conservar ou facilitar o uso das coisas principais, sem que destas sejam parte integrante, conservando sua individualidade e autonomia. art. 93, CC. Ex: máquinas da fábrica. Partes integrantes são bens acessórios que estão unidos ao bem principal, formando com ele um todo independente. As partes integrantes são desprovidas de existência material própria. Ex: lâmpada de um lustre. Benfeitorias são bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou a melhora da sua utilidade. Enquanto os frutos decorrem de um bem principal, as benfeitorias são neles introduzidas. Art. 96, CC Benfeitorias necessárias: são as que tem como objetivo conservar ou evitar que o bem se deteriore. São essenciais ao bem principal. Ex: reforma do telhado da casa Benfeitorias úteis: são as que aumentam ou facilitam o uso da coisa, tornando-a mais útil. Ex: instalar uma grade na janela Benfeitorias voluptuárias: são as de mero deleite, que não facilitam a utilidade da coisa, apenas as tornando mais agradáveis. Ex: construção de uma piscina na casa BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AO SUJEITO (TITULAR DO DOMÍNIO) Bens privados – são bens privados, por exclusão, os que não são públicos.Art. 98, CC. Bens públicos Bens de uso comum do povo Bens de uso especial Bens dominicais Bens de uso comum do povo art. 99, I, CC. São os bens destinados a utilização do publico em geral, sem necessidade de permissão especial. Ex: praças, jardins, ruas, estradas, mares, rios, praias etc. Bens de uso especial art. 99, II, CC. São os edifícios e terrenos utilizados pelo próprio Estado para a execução de serviço público especial, havendo uma destinação especial denominada afetação. Ex: prédios e repartições públicas. Bens dominicais Art. 99, III, CC. São os bens públicos que constituem o patrimônio disponível e alienável da pessoa jurídica de direito público, abrangendo tanto móveis quanto imóveis. Ex: terrenos de marinha, terras devolutas, estradas de ferro, sítios arqueológicos, mar territorial, etc. Os bens públicos de uso comum do povo e de uso especial tem como característica a inalienabilidade. A inalienabilidade não é absoluta, podendo perder essa característica pela desafetação. NA LETRA DO CC! Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. NA LETRA DO CC! Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei. Os bens públicos móveis ou imóveis não estão sujeitos à usucapião, eis que há a imprescritibilidade das pretensões a eles referentes, confirmando o art. 183, §3ª e art. 191, § único, CRFB/88, quanto aos bens imóveis. NA LETRA DO CC! Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. A expressão contida no dispositivo legal engloba tanto os bens de uso comum do povo como os de uso especial e dominicais. OBSERVAÇÕES - Os bens dominicais podem ser afetados para ficarem livres de alienação, se tornando bens de uso especial. Da mesma forma, em sentido contrário, os bens de uso especial precisam ser desafetados para serem alienados. - O critério da classificação de bens indicado no art. 98 do Código Civil não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser classificado como tal o bem pertencente a pessoa jurídica de direito privado que esteja afetado à prestação de serviços públicos, conforme Enunciado 287, IV Jornada de Direito Civil, CJF. - Os bens públicos são impenhoráveis, imprescritíveis e inalienáveis (salvo se for desafetado). SÚMULAS RELACIONADAS: - Súmula 228, STJ: É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral. http://www.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%27599%27).sub.#TIT1TEMA0 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM: 01. Ano: 2017 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado Ricardo realizou diversas obras no imóvel que Cláudia lhe emprestou: reparou um vazamento existente na cozinha; levantou uma divisória na área de serviço para formar um novo cômodo, destinado a servir de despensa; ampliou o número de tomadas disponíveis; e trocou o portão manual da garagem por um eletrônico. Quando Cláudia pediu o imóvel de volta, Ricardo exigiu o ressarcimento por todas as benfeitorias realizadas, embora sequer a tenha consultado previamente sobre as obras. Somente pode-se considerar benfeitoria necessária, a justificar o direito ao ressarcimento, A) o reparo do vazamento na cozinha. B) a formação de novo cômodo, destinado a servir de despensa, pelo levantamento de divisória na área de serviço. C) a ampliação do número de tomadas. D) a troca do portão manual da garagem por um eletrônico. 02. Ano: 2013 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado Os vitrais do Mercado Municipal de São de Paulo, durante a reforma feita em 2004, foram retirados para limpeza e restauração da pintura. Considerando a hipótese e as regras sobre bens jurídicos, assinale a afirmativa correta. A) Os vitrais, enquanto separados do prédio do Mercado Municipal durante as obras, são classificados como bens móveis. B) Os vitrais retirados na qualidade de material de demolição, considerando que o Mercado Municipal resolva descartar- se deles, serão considerados bens móveis. C) Os vitrais do Mercado Municipal, considerando que foram feitos por grandes artistas europeus, são classificados como bens fungíveis. D) Os vitrais retirados para restauração, por sua natureza, são classificados como bens móveis. GABARITO: 01- A / 02-B NEGÓCIO JURÍDICO 1) DOS FATOS JURÍDICOS AO NEGÓCIO JURÍDICO Os fatos jurídicos são aqueles que apresentam relevância na órbita jurídica, dividindo-se em fatos naturais e fatos humanos, sendo estes últimos divididos em ilícitos e lícitos, estes últimos representados pelos atos jurídicos em sentido estrito, pelos atos-fatos jurídicos e pelo negócio jurídico. Nos atos jurídicos os efeitos estão previstos na lei, sem margem para o exercício da autonomia privada. No negócio jurídico as partes determinam os efeitos que desejam ver incidir na relação, dentre os efeitos possíveis previstos na norma. 2) ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO O negócio jurídico é composto por ELEMENTOS ESTRUTURAIS (obrigatórios) e ELEMENTOS ACIDENTAIS (facultativos). Esses elementos serão estudados por meio da “Escada Ponteana” (Pontes de Miranda), segundo a qual o negócio jurídico possui três planos: a) ESCADA PONTEANA FATOS JURÍDICOS FATOS NATURAIS FATOS HUMANOS ATOS LÍCITOS ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO ATOS-FATOS JURÍDICOS NEGÓCIO JURÍDICO ATOS ILÍCITOS PLANO DA EXISTÊNCIA PLANO DA VALIDADE PLANO DA EFICÁCIA Agente Capacidade Condição Vontade Liberdade Termo Objeto Licitude, possibilidade ou determinabilidade Encargo A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. No que tange à vontade, a reserva mental a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. Em relação à interpretação dos negócios jurídicos nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Além disso, os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. Os elementos acidentais são introduzidos nos negócios jurídicos por vontade das partes, sendo facultativos, enquanto que os essenciais são obrigatórios. b) ELEMENTOS ACIDENTAIS ELEMENTOS ACIDENTAIS CONDIÇÃO Conceito Subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Condição suspensiva É aquela que enquanto não ocorrer, impede a produção de efeitos do negócio jurídico. Condição resolutiva É aquela que quando ocorre tem o condão de cessar os efeitos que estavam ocorrendo normalmente no negócio jurídico. TERMO Conceito Subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e certo. Termo inicial Diz respeito ao início dos efeitos do negócio. Termo final Diz respeito ao momento em que cessam os efeitos do negócio. ENCARGO É um ônus que vem atrelado a um ato de liberalidade. Caso não seja cumprido o encargo, a liberalidade pode ser revogada. Note que aqui não se fala em suspensão ou resolução dos efeitos do negócio jurídico. Forma Adequação Outros elementos É importante traçar a diferença entre condição suspensiva e o termo inicial, para além da questão do evento ser incerto no primeiro caso e certo no último. Enquanto a condição suspensiva suspende o exercício e a aquisição do direito, o termo inicial, enquanto não ocorrido, suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. CONDIÇÃO TERMO ENCARGO OU MODO Negócio dependente de evento futuro + incerto Negócio dependente de evento futuro + certo Liberalidade + ônus Identificado pelas conjunções "se" ou "enquanto" Identificado pela conjunção "quando" Identificado pelasconjunções "para que" e "com o fim de" Suspende (condição suspensiva) ou resolve (condição resolutiva) os efeitos do negócio jurídico Suspende (termo inicial) ou resolve (termo final) os efeitos do negócio jurídico Não suspende nem resolve a eficácia do negócio. Não cumprido o encargo, cabe revogação da liberalidade 3) VÍCIOS OU DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Esses vícios atingem a vontade ou geram uma repercussão social, tornando o negócio passível de ação anulatória ou declaratória de nulidade pelo prejudicado ou interessado. São vícios da vontade ou do consentimento: o erro, o dolo, a coação, o estado de perigo e a lesão. A fraude contra credores e a simulação, como vício social, são condenadas pela repercussão social, atentatórios que são à boa-fé e à socialidade. a) ERRO OU IGNORÂNCIA O erro é um engano fático, uma falsa noção, em relação a uma pessoa, ao objeto do negócio ou a um direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico. De acordo com o art. 138, CC, os negócios jurídicos celebrados com erro são anuláveis, desde que o erro seja substancial, podendo ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias em que o negócio foi celebrado. Em síntese, mesmo percebendo a pessoa que está agindo sob o vício do erro, do engano, a anulabilidade do negócio continua sendo perfeitamente possível. É irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança. O erro merece o mesmo tratamento legal da ignorância, que é um desconhecimento total quanto ao objeto do negócio. As hipóteses correlatas são tratadas pela lei como sinônimas, equiparadas. Nos dois casos, a pessoa engana-se sozinha, parcial ou totalmente, sendo anulável o negócio toda vez que o erro ou a ignorância for substancial ou essencial, nos termos do art. 139 do CC, a saber: a) Interessar à natureza do negócio (error in negotia), ao objeto principal da declaração (error in corpore), ou a alguma das qualidades a ele essenciais (error in substantia). Exemplo: comprar bijuteria pensando tratar-se de ouro NEGÓCIO JURÍDICO VÍCIOS SOCIAIS SIMULAÇÃO FRAUDE CONTRA CREDORES VÍCIOS DO CONSENTIMENTO ERRO DOLO COAÇÃO ESTADO DE PERIGO LESÃO b) Disser respeito à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante (erro quanto à pessoa ou error in persona). Exemplo: ignorar um vício comportamental de alguém e celebrar o casamento com essa pessoa. O art. 1.557 do CC traz as hipóteses que podem motivar a anulação do casamento por erro. c) Constituir erro de direito e não implicar em recusa à aplicação da lei, sendo o motivo único ou causa principal do negócio jurídico (erro de direito ou error iuris). b) DOLO O dolo pode ser conceituado como sendo o artifício ardiloso empregado para enganar alguém, com intuito de benefício próprio. De acordo com o art. 145 do CC, o negócio praticado com dolo é anulável, no caso de ser este a sua causa. Esse dolo, causa do negócio jurídico, é conceituado como dolo essencial, substancial ou principal (dolus causam). Em casos tais, uma das partes do negócio utiliza artifícios maliciosos, para levar a outra a praticar um ato que não praticaria normalmente, visando a obter vantagem, geralmente com vistas ao enriquecimento sem causa. O dolo acidental, que não é causa para o negócio, não pode gerar a sua anulabilidade, mas somente a satisfação das perdas e danos a favor do prejudicado. De acordo com o art. 146 do CC, haverá dolo acidental quando o negócio seria praticado pela parte de qualquer forma, presente ou não o artifício malicioso. Não só o dolo do próprio negociante gera a anulabilidade do negócio, mas também o dolo de terceiro. No dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele: - tinha ciência o negócio é anulável. - não tinha ciência o negócio não é anulável, mas o lesado pode pedir perdas e danos ao autor do dolo. c) COAÇÃO A coação pode ser conceituada como sendo uma pressão física ou moral exercida sobre o negociante, visando obrigá-lo a assumir uma obrigação que não lhe interessa. Aquele que exerce a coação é denominado coator e o que a sofre, coato, coagido ou paciente. Nos termos do art. 151 do CC, a coação, para viciar o negócio jurídico, há de ser relevante, baseada em fundado temor de dano iminente e considerável à pessoa envolvida, à sua família ou aos seus bens. Eventualmente, dizendo respeito o temor à pessoa não pertencente à família do coato, o juiz, com base nas circunstâncias do caso concreto, decidirá se houve coação (art. 151, parágrafo único, do CC). A coação pode ser assim classificada: a) Coação física (vis absoluta) – constrangimento corporal que venha a retirar toda a capacidade de querer de uma das partes, implicando ausência total de consentimento, o que acarretará nulidade absoluta do negócio. b) Coação moral ou psicológica (vis compulsiva) – coação efetiva e presente, causa fundado temor de dano iminente e considerável à pessoa do negociante, à sua família, à pessoa próxima ou aos seus bens, gerando a anulabilidade do ato (art. 151 do CC). Por fim, pelo art. 153 do CC não constituem coação: a) A ameaça relacionada com o exercício regular de um direito reconhecido, como no caso de informação de prévio protesto de um título em Cartório, sendo existente e devida a dívida. b) O mero temor reverencial ou o receio de desagradar pessoa querida ou a quem se deve obediência. Exemplo: casar-se com alguém com medo de desapontar seu irmão, grande amigo. O casamento é válido. d) ESTADO DE PERIGO De acordo com o art. 156 do CC, haverá estado de perigo toda vez que o próprio negociante, pessoa de sua família ou pessoa próxima estiver em perigo, conhecido da outra parte, sendo este a única causa para a celebração do negócio. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do contratante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias fáticas e regras da razão (art. 156, parágrafo único, do CC). ESTADO DE PERIGO = Situação de perigo conhecido da outra parte (elemento subjetivo) + onerosidade excessiva (elemento objetivo). A sanção a ser aplicada ao ato eivado de estado de perigo é a sua anulação – arts. 171, II, e 178, II, do CC. O último dispositivo consagra prazo decadencial de quatro anos, a contar da data da celebração do ato, para o ingresso da ação anulatória. Para afastar a anulação do negócio e a correspondente extinção, poderá o juiz utilizar-se da revisão do negócio. Com a revisão, busca-se a manutenção do negócio, o princípio da conservação contratual, que mantém íntima relação com a função social dos contratos. e) LESÃO Dispõe o art. 157, caput, CC que “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta”. O § 1.º, do art. 157, do CC, recomenda que a desproporção seja apreciada de acordo com os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. Desse modo, evidencia- se que a lesão é um vício de formação. Anote-se que em havendo desequilíbrio negocial por fato posterior, será aplicada a revisão contratual por imprevisibilidade e onerosidade excessiva, retirada dos arts. 317 e 478 do CC. Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2.º, CC. LESÃO = Premente necessidade ou inexperiência (elemento subjetivo) + onerosidade excessiva (elemento objetivo). LESÃO ESTADO DE PERIGO Elemento subjetivo: premente necessidade ou inexperiência. Elemento Subjetivo: perigo que acomete o próprio negociante, pessoa de sua família ou amigo íntimo, sendo esse perigode conhecimento do outro negociante. Elemento objetivo: prestação manifestamente desproporcional (lesão objetiva). Elemento objetivo: obrigação excessivamente onerosa (lesão objetiva). Aplica-se a revisão negocial pela regra expressa do art. 157, § 2.°, do CC, hipótese de subsunção. Há entendimento doutrinário de aplicação analógica do art. 157, § 2.° , do CC, visando a conservação negocial. Adotada essa tese, há hipótese de integração, não de subsunção. f) FRAUDE CONTRA CREDORES Constitui fraude contra credores a atuação maliciosa do devedor, em estado de insolvência ou na iminência de assim tornar-se, que dispõe de maneira gratuita ou onerosa o seu patrimônio, para afastar a possibilidade de responderem os seus bens por obrigações assumidas em momento anterior à transmissão. FRAUDE CONTRA CREDORES = Intenção de prejudicar credores (elemento subjetivo) + atuação em prejuízo aos credores (elemento objetivo). Exemplificando, se A tem conhecimento da iminência do vencimento de dívidas em data próxima, em relação a vários credores, e vende a B imóvel de seu patrimônio, havendo conhecimento deste do estado de insolvência, estará configurado o vício social a acometer esse negócio jurídico. De acordo com o art. 158 do CC, estão incluídas as hipóteses de remissão ou perdão de dívida, estando caracterizado o ato fraudulento toda vez que o devedor estiver insolvente ou beirando à insolvência. Em situações tais, caberá ação anulatória por parte de credores quirografários eventualmente prejudicados, desde que proposta no prazo decadencial de quatro anos, contados da celebração do negócio fraudulento (art. 178, II, do CC). Essa ação anulatória é denominada pela doutrina ação pauliana ou ação revocatória, seguindo rito ordinário, no sistema processual anterior, equivalente ao atual procedimento comum. É pertinente traçar algumas diferenças entre a fraude contra credores e a fraude contra a execução. FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE CONTRA A EXECUÇÃO Trata-se de vício social disciplinado pelo CC, sem que haja nenhuma ação ou execução em andamento contra o devedor. Trata-se de questão processual (art. 593, CPC) e a oneração do patrimônio ocorre no curso do processo, com o intuito de frustrar a execução. Gera a anulação do negócio jurídico, desde haja a propositura da ação pauliana, aproveitando a todos os credores. Faz-se necessário provar a má-fé do terceiro. Gera a ineficácia da alienação em face do credor, podendo requerida por petição nos autos e ser reconhecida de forma incidental no processo, aproveitando apenas o exequente. g) SIMULAÇÃO Na simulação há um desacordo entre a vontade declarada ou manifestada e a vontade interna. Em suma, há uma discrepância entre a vontade e a declaração; entre a essência e a aparência. A simulação pode ser alegada por terceiros que não fazem parte do negócio, mas também por uma parte contra a outra, pois a simulação, em qualquer modalidade, passou a gerar a nulidade do negócio jurídico, sendo questão de ordem pública. a)Simulação absoluta – situação em que na aparência se tem determinado negócio, mas na essência a parte não deseja negócio algum. b) Simulação relativa – situação em que o negociante celebra um negócio na aparência, mas na essência almeja um outro ato jurídico Como foi destacado, o art. 167, CC reconhece a nulidade absoluta do negócio jurídico simulado, mas prevê que subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. O dispositivo trata da simulação relativa, aquela em que, na aparência, há um negócio; e na essência, outro. Dessa maneira, percebe-se na simulação relativa dois negócios: um aparente (simulado) e um escondido (dissimulado). Eventualmente, esse negócio camuflado pode ser tido como válido, no caso de simulação relativa. O aproveitamento do negócio jurídico dissimulado não decorre tão somente do afastamento do negócio jurídico simulado. Faz-se necessário o preenchimento de todos os requisitos substanciais e formais de validade daquele. O art. 167, § 1.º, do CC consagra casos em que ocorre a simulação, a saber: a) De negócios jurídicos que visam a conferir ou a transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem ou transmitem (simulação subjetiva). b) De negócios que contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira (modalidade de simulação objetiva). c) De negócios cujos instrumentos particulares forem antedatados ou pós-datados (outra forma de simulação objetiva). 4) DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO A nulidade é a sanção imposta pela lei que determina a privação de efeitos jurídicos do ato negocial, praticado em desobediência ao que a norma jurídica prescreve. A nulidade é a consequência prevista em lei, nas hipóteses em que não estão preenchidos os requisitos básicos para a existência válida do ato negocial. NULIDADES NULIDADE ABSOLUTA NULIDADE RELATIVA É fundamental saber as hipóteses em que um negócio jurídico será considerado nulo e as em que será anulável. NEGÓCIO JURÍDICO NULO Hipóteses NEGÓCIO JURÍDICO ANULÁVEL Hipóteses Negócio celebrado por absolutamente incapaz, sem representação. Art. 3º Negócio celebrado por relativamente incapaz, sem assistência. Art. 4º Objeto ilícito, impossível, indeterminado ou indeterminável. Quando houver vício acometendo o negócio jurídico: erro, dolo, coação moral/psicológica, estado de perigo, lesão e fraude contra credores. Motivo a ambas as partes for ilícito Lei prevê anulabilidade. Desrespeito à forma ou preterida alguma solenidade Objetivo do negócio de fraude à lei imperativa Lei prevê nulidade absoluta (nulidade textual) ou proíbe o ato sem cominar sanção (nulidade virtual) Negócio simulado, incluída reserva mental Presença de coação física (vis absoluta) NA LETRA DO CC! Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. NA LETRA DO CC! Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. É fundamental saber as quais serão os efeitos de uma nulidade ou anulabilidade, bem como o procedimento de decretação em cada caso. NEGÓCIO JURÍDICO NULO NEGÓCIO JURÍDICO ANULÁVEL Nulidade absoluta (nulidade) Nulidade relativa (anulabilidade) Ação declaratória de nulidade, imprescritível Ação anulatória, com previsão de prazos decadenciais Não pode ser suprida nem sanada, inclusive pelo juiz. Exceção: art. 170, CC Pode ser suprida ou sanada, inclusive pelas partes (convalidação livre) O MP pode intervir na ação de nulidade absoluta, inclusive promovendo a demanda. O MP não pode intervir ou propor ação anulatória, somente os interessados. Cabe decretação de ofício pelo juiz. Não cabe decretação de ofício pelo juiz Sentença da ação declaratória tem efeitos erga omnes (contra todos) e ex tunc (retroativos) Sentença de ação anulatória tem efeitos inter partes (entre as partes) e ex nunc (não retroativos), segundo a maioria da doutrina. NA LETRA DO CC! Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. Agora é possível a conversão do negócio nulo em outro negócio jurídico, aproveitando-o em certo sentido. Para tanto, a lei exige umelemento subjetivo, eis que é necessário que os contratantes queiram o outro negócio ou contrato para o qual o negócio nulo será convertido. Implicitamente, devem ter conhecimento da nulidade que acomete o pacto celebrado. Nesse sentido, a conversão do negócio jurídico constitui o meio jurídico pelo qual o negócio nulo, respeitados certos requisitos, transforma-se em outro negócio, totalmente válido, visando à conservação contratual e à manutenção da vontade, da autonomia privada. NA LETRA DO CC! Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. NA LETRA DO CC! Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato. SÚMULAS RELACIONADAS: Súmula 195, STJ: Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores. COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM: 01. Ano: 2018 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado Arnaldo foi procurado por sua irmã Zulmira, que lhe ofereceu R$ 1 milhão para adquirir o apartamento que ele possui na orla da praia. Receoso, no entanto, que João, o locatário que atualmente ocupa o imóvel e por quem Arnaldo nutre profunda antipatia, viesse a cobrir a oferta, exercendo seu direito de preferência, propôs a Zulmira que constasse da escritura o valor de R$ 2 milhões, ainda que a totalidade do preço não fosse totalmente paga. Realizado nesses termos, o negócio A) pode ser anulado no prazo decadencial de dois anos, em virtude de dolo. B) é viciado por erro, que somente pode ser alegado por João. C) é nulo em virtude de simulação, o que pode ser suscitado por qualquer interessado. D) é ineficaz, em razão de fraude contra credores, inoponíveis seus efeitos perante João. 02. Ano: 2018 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado A cidade de Asa Branca foi atingida por uma tempestade de grandes proporções. As ruas ficaram alagadas e a população sofreu com a inundação de suas casas e seus locais de trabalho. Antônio, que tinha uma pequena barcaça, aproveitou a ocasião para realizar o transporte dos moradores pelo triplo do preço que normalmente seria cobrado, tendo em vista a premente necessidade dos moradores de recorrer a esse tipo de transporte. Nesse caso, em relação ao citado negócio jurídico, ocorreu A) estado de perigo. B) dolo. C) lesão. D) erro. 03. Ano: 2018 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado Bernardo, nascido e criado no interior da Bahia, decide mudar-se para o Rio de Janeiro. Ao chegar ao Rio, procurou um local para morar. José, percebendo o desconhecimento de Bernardo sobre o valor dos aluguéis no Rio de Janeiro, lhe oferece um quarto por R$ 500,00 (quinhentos reais). Pagando com dificuldade o aluguel do quarto, ao conversar com vizinhos, Bernardo descobre que ninguém paga mais do que R$ 200,00 (duzentos reais) por um quarto naquela região. Sentindo-se injustiçado, procura um advogado. Sobre o caso narrado, com base no Código Civil, assinale a afirmativa correta. A) O negócio jurídico poderá ser anulado por lesão, se José não concordar com a redução do proveito ou com a oferta de suplemento suficiente. B) O negócio jurídico será nulo em virtude da ilicitude do objeto. C) O negócio jurídico poderá ser anulado por coação em razão da indução de Bernardo a erro. D) O negócio jurídico poderá ser anulado por erro, eis que este foi causa determinante do negócio. Ano: 2020 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado João, único herdeiro de seu avô Leonardo, recebeu, por ocasião da abertura da sucessão deste último, todos os seus bens, inclusive uma casa repleta de antiguidades. Necessitando de dinheiro para quitar suas dívidas, uma das primeiras providências de João foi alienar uma pintura antiga que sempre estivera exposta na sala da casa, por um valor módico, ao primeiro comprador que encontrou. João, semanas depois, leu nos jornais a notícia de que reaparecera no mercado de arte uma pintura valiosíssima de um célebre artista plástico. Sua surpresa foi enorme ao descobrir que se tratava da pintura que ele alienara, com valor milhares de vezes maior do que o por ela cobrado. Por isso, pretende pleitear a invalidação da alienação. A respeito do caso narrado, assinale a afirmativa correta. A) O negócio jurídico de alienação da pintura celebrado por João está viciado por lesão e chegou a produzir seus efeitos regulares, no momento de sua celebração. B) O direito de João a obter a invalidação do negócio jurídico, por erro, de alienação da pintura, não se sujeita a nenhum prazo prescricional C) A validade do negócio jurídico de alienação da pintura subordina-se necessariamente à prova de que o comprador desejava se aproveitar de sua necessidade de obter dinheiro rapidamente. D) Se o comprador da pintura oferecer suplemento do preço pago de acordo com o valor de mercado da obra, João poderá optar entre aceitar a oferta ou invalidar o negócio. Ano: 2019 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado Eva celebrou com sua neta Adriana um negócio jurídico, por meio do qual doava sua casa de praia para a neta caso esta viesse a se casar antes da morte da doadora. O ato foi levado a registro no cartório do Registro de Imóveis da circunscrição do bem. Pouco tempo depois, Adriana tem notícia de que Eva não utilizava a casa de praia há muitos anos e que o imóvel estava completamente abandonado, deteriorando-se a cada dia. Adriana fica preocupada com o risco de ruína completa da casa, mas não tem, por enquanto, nenhuma perspectiva de casar-se. De acordo com o caso narrado, assinale a afirmativa correta. A) Adriana pode exigir que Eva autorize a realização de obras urgentes no imóvel, de modo a evitar a ruína da casa. B) Adriana nada pode fazer para evitar a ruína da casa, pois, nos termos do contrato, é titular de mera expectativa de fato. C) Adriana pode exigir que Eva lhe transfira desde logo a propriedade da casa, mas perderá esse direito se Eva vier a falecer sem que Adriana tenha se casado. D) Adriana pode apressar-se para casar antes da morte de Eva, mas, se esta já tiver vendido a casa de praia para uma terceira pessoa ao tempo do casamento, a doação feita para Adriana não produzirá efeito. GABARITO: 01- C / 02-C / 03- A / 04- A / 05- A DIREITO CIVIL PROF. ADROALDO SOUTO PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prescrição NA LETRA DO CC! Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. A preclusão é de natureza estritamente processual, podendo ser: A) Consumativa; B) Temporal; C) Lógica; Direito continua íntegro. OBS: Prescrição aquisitiva. OBS: Enunciado 106 STJ: Proposta a ação no prazo ficado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência. 1) Renúncia da prescrição - Expressa ou tácita - Depois de consumada 2) Vedação da modificação do prazo de prescrição 3) Matéria de ordem pública - De oficio - Qualquer grau de jurisdição NA LETRA DO CC! Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente. OBS: Absolutamente incapazes. NA LETRA DO CC! Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor. 4) Causas impeditivas e/ou suspensivas do curso do prazo prescricional.Não ocorre prescrição - Entre cônjuges - Na constância da sociedade conjugal - Entre ascendentes e descendentes - Durante o poder familiar - Entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores - Durante a tutela ou cautela - Contra absolutamente incapazes - Contra os ausentes do Pais - Serviço público da União, dos Estados ou dos Munícipios. - Contra os que estiverem servindo nas Forças Armadas - Em tempo de guerra - Pendendo condição suspensiva - Não estando vencido o prazo - Pendendo ação de evicção. - Fato que deve ser apurado no juízo criminal - Antes da respectiva sentença definitiva. Enunciado 296: Art. 197. Não corre a prescrição entres os companheiros, na constância da união estável. Enunciado 156 – Art. 198: Desde o termo inicial do desaparecimento, declaro em sentença, não ocorre a prescrição contra o ausente. OBS: se a obrigação foi indivisível a suspensão da prescrição contra um devedor aproveita os demais. 5) Causas interruptivas da prescrição NA LETRA DO CC! Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; III - por protesto cambial; IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais obrigados. A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros. A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador. 6) Prazos prescricionais Decadência A decadência atinge o direito. Decadência pode ser legal ou convencional. A legal não pode ser renunciada, enquanto a convencional sim. O juiz deve conhecer de oficio a decadência legal. Porém não a convencional. Não é possível suspender ou interromper a decadência, salvo a exceção dos absolutamente incapazes, contra os quais não corre decadência. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 1) CONCEITO Obrigação é relação jurídica pessoal por meio da qual uma parte (devedor) fica obrigada a cumprir, espontânea ou coativamente, uma prestação patrimonial em proveito da outra (credor) A obrigação, em sua visão dinâmica e não estática, deve ser tida como um processo – uma série de atos relacionados entre si – que desde o início se encaminha para uma finalidade: a satisfação do interesse na prestação, da forma mais satisfatória para o credor e menos onerosa para o devedor. A obrigação deve ser encarada como um processo de colaboração contínua e efetiva entre as partes. 2) ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO a) Elementos subjetivos: o credor (sujeito ativo) e o devedor (sujeito passivo) b) Elemento objetivo imediato: a prestação c) Elemento imaterial, virtual: o vínculo existente entre as partes. 3) MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Obrigação de dar Coisa certa Abrange seus acessórios embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou de circunstâncias do caso. Coisa incerta A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. A escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito. Obrigação de fazer O devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível arcará com perdas e danos. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. Obrigação de não fazer Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. Entretanto, será extinta a obrigação, desde que, sem culpa do devedor, se torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar. Classificação quanto ao objeto Obrigações de Dar Obrigações de Fazer Obrigações de Não fazer Ponto de destaque no estudo das obrigações de dar e de restituir é a consequência quando ocorrida a perda ou deterioração do objeto, a depender se para o fato o devedor concorreu ou não com culpa, conforme se verifica abaixo. OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA Perda Com culpa Responderá pelo equivalente + perdas e danos Sem culpa Fica resolvida a obrigação para ambas as partes Deterioração Com culpa O credor poderá exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, podendo exigir em ambos os casos indenização das perdas e danos. Sem culpa O credor poderá resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR Perda Com culpa Responderá pelo equivalente + perdas e danos Sem culpa O credor terá a perda e a obrigação será resolvida, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Deterioração Com culpa Responderá pelo equivalente + perdas e danos Sem culpa O credor receberá como se encontrar, sem direito a indenização. Obrigações alternativas São aquelas em que, embora exista uma multiplicidade de prestações de possível realização naquela obrigação, apenas uma delas deverá ser satisfeita. A escolha, em regra, cabe ao devedor e é chamada de concentração. Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexequível, subsistirá o débito quanto à outra. Por fim, se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação. Obrigações facultativas Nestas é facultado ao devedor trocar o objeto da prestação por outro que já estava especificado no pacto, sendo um direito potestativo do devedor. A diferença fundamental é que há apenas uma prestação simples e, portanto, não existe o ato de escolha. Por conta disso, a prestação substituta jamais pode ser exigida pelo credor. Obrigações cumulativas São aquelas em que há duas ou mais prestações exigíveis conjuntamente, de modo que o descumprimento de uma delas importa no inadimplemento total da obrigação. Classificação quanto à execução Obrigações Cumulativas Obrigações Alternativas Obrigações Facultativas Obrigações divisíveis e indivisíveis Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação for indivisível, cada um será obrigado pela dívida toda, sendo certo que o devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados. Obrigações solidárias Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. A solidariedade pode ser ativa ou passiva. As obrigações solidárias possuem alta incidênciaem provas com este foco, motivo pelo qual importante se faz reforçar alguns aspectos das solidariedades ativa e passiva. Solidariedade ativa - Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. - O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago. - Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito Classificação quanto aos sujeitos Obrigações Divisíveis Obrigações Indivisíveis Obrigações Solidárias que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. Solidariedade passiva - O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. - O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada. - Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores. Obrigações civis São as obrigações que possuem exigibilidade. Obrigações naturais São aquelas cujo cumprimento não é exigível e se for feito não é cabível a repetição do que foi pago. É o que ocorre, por exemplo, nas obrigações fundadas em pretensões prescritas e nas dívidas oriundas de jogo ou aposta. Classificação quanto à exigibilidade Obrigações civis Obrigações naturais Obrigações de meio O devedor não se obriga a atingir um resultado. Sua obrigação consiste em utilizar todos os meios necessários, adequados e eficientes para que o resultado seja atingido. Obrigações de resultado O devedor se obriga pela ocorrência do resultado, sem o qual será considerado inadimplente. 4) TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES a) CESSÃO DE CRÉDITO A cessão de crédito pode ser conceituada como um negócio jurídico bilateral ou sinalagmático, gratuito ou oneroso, pelo qual o credor, sujeito ativo de uma obrigação, transfere a outrem, no todo ou em parte, a sua posição na relação obrigacional. Aquele que realiza a cessão a outrem é denominado cedente. A pessoa que recebe o direito de credor é o cessionário, enquanto o devedor é denominado cedido. Com a cessão são transferidos todos os elementos da obrigação, como os acessórios e as garantias da dívida, salvo disposição em contrário. A cessão independe da anuência do devedor (cedido), que não precisa consentir com a transmissão. Não é possível ceder o crédito em alguns casos, em decorrência de vedação legal como, por exemplo, na obrigação de alimentos (art. 1.707 do CC). Essa impossibilidade de cessão pode constar de instrumento obrigacional, o que também gera a obrigação incessível. De qualquer forma, deve-se concluir que se a cláusula de Classificação quanto ao fim ou conteúdo Obrigações de Meio Obrigações de Resultado Transmissão das Obrigações Cessão de Crédito Assunção de Dívida impossibilidade de cessão contrariar preceito de ordem pública não poderá prevalecer em virtude da aplicação do princípio da função social dos contratos e das obrigações, que limita a autonomia privada, em sua eficácia interna, entre as partes contratantes (art. 421 do CC). Essa cláusula proibitiva não pode ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação a.1) Classificações da cessão de crédito I) Quanto à origem: a) Cessão legal – é aquela que decorre da lei, tendo origem na norma jurídica. É a que ocorre em relação aos acessórios da obrigação, no caso da cessão de crédito (art. 287 do CC). b) Cessão judicial – é aquela oriunda de decisão judicial após processo civil regular, como é o caso de decisão que atribui ao herdeiro um crédito do falecido. c) Cessão convencional – é a mais comum de ocorrer na prática, constituindo a cessão decorrente de acordo firmado entre cedente e cessionário por instrumento negocial (v.g., factoring). II) Quanto às obrigações geradas: a) Cessão a título oneroso – assemelha-se ao contrato de compra e venda, diante da presença de uma remuneração. Pelo fato de poder ser onerosa, a cessão de crédito difere-se da sub-rogação. b) Cessão a título gratuito – assemelha-se ao contrato de doação, pela ausência de caráter oneroso. Nesse ponto até pode se confundir com o pagamento com sub- rogação. Entretanto, no plano conceitual, a cessão de crédito é forma de transmissão da obrigação, enquanto a sub-rogação é uma regra especial de pagamento ou forma de pagamento indireto. III) Quanto à extensão: a) Cessão total – é aquela em que o cedente transfere todo o crédito objeto da relação obrigacional. b) Cessão parcial – é aquela em que o cedente retém parte do crédito consigo. IV) Quanto à responsabilidade do cedente: a) Cessão pro soluto – é aquela que confere quitação plena e imediata do débito do cedente para com o cessionário, exonerando o cedente. Constitui a regra geral, não havendo responsabilidade do cedente pela solvência do cedido (art. 296 do CC). b) Cessão pro solvendo – é aquela em que a transferência do crédito é feita com intuito de extinguir a obrigação apenas quando o crédito for efetivamente cobrado. Deve estar prevista pelas partes, situação em que o cedente responde perante o cessionário pela solvência do cedido (art. 297 do CC). b) ASSUNÇÃO DE DÍVIDA A cessão de débito ou assunção de dívida é um negócio jurídico bilateral, pelo qual o devedor, com a anuência do credor e de forma expressa ou tácita, transfere a um terceiro a posição de sujeito passivo da relação obrigacional. Seu conceito pode ser retirado também do art. 299 do CC, pelo qual “é facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava”. Prevê o parágrafo único desse dispositivo que “qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa”. Na assunção de dívida, portanto, quem cala, não consente. Como partes da assunção de dívida, têm-se o antigo devedor (cedente), o novo devedor (cessionário) e o credor (cedido). Esse novo devedor, que assume a dívida, também é denominado terceiro assuntor. Desse modo, na assunção de dívida, ocorre a substituição do devedor, sem alteração na substância do vínculo obrigacional. a) Assunção por expromissão – é a situação em que terceira pessoa assume espontaneamente o débito da outra, sendo que o devedor originário não toma parte nessa operação. Essa forma de assunção pode ser: liberatória, quando o devedor primitivo se exonera da obrigação; e cumulativa, quando o expromitente entra na relação como novo devedor, ao lado do devedor primitivo. b) Assunção por delegação – é a situação em que o devedor originário, denominado delegante, transfere o débito a terceiro (delegatário), com anuência do credor (delegado). Dispõe o art. 300, CC que, como regra geral, devem ser consideradas extintas todas as garantias especiais dadas ao credor, salvo consentimento expresso do devedor primitivo. A expressão ‘garantias especiais’ constantes do artigo 300, CC refere-se a todas as garantias, quaisquer delas, reais ou fidejussórias, que tenham sido prestadas voluntária e originariamente pelo devedor primitivo ou por terceiro, vale dizer, aquelas que dependeram da vontade do garantidor, devedor ou terceiro, para se constituírem De acordo com o art. 301 do CC, se anulada a assunção de dívida, restaura-se o débito com relação ao devedor primitivo, com todas
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