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Filosofia Patrística e Escolástica Aula 9 por Olavo de Carvalho coleçáo História Essencial da Filosofia +, filo6oft PÀt ístict e E§aolÁíiaâ DorOlÂvo ale Caxrl}to cob{Ao Hi§t&ià Dr§erclâl & Büoroüq Á.omDan}tÁ esta Púlicqáo !ú DVD, que náo pade ter Endido ú.pât6d!ment!' rmõd$ no trúneil, üÍil de 2007 co;!Íiahl ô 2oo4 hy olavo dc csfltlho IoO Olrv§ ilà Cri?.!üo M{do iaât l}o B!üror EdIe Manoel ilê Oliv€in Fllto Ptoôeio Gráú4ô Mótrü6 §chsüd! e Dlsnff Rizzolo Filosofia Patrística e Escolástica por Olavo de CiuYalho Àula 9 Ih{6rdl*o Álexandd Gi€g Teêrê Mâii. IâÍretllo PEreirâ ôd.dtrsltos ôlltÔral§ d€§tâ ediçáo perteieêo à Ê Re1ürãcôaç EditltÀ, LiÍ&th e Dtstrihri&ra Ltdl' al6iÍa ltutal 45321 cirFr oíolo.97o - §áo Ihülô - §P }leÍrr: 0r) s5?2'5n63 B.niáili é(a€llalil{eoe§é{it1br w{yw.slsâIi?a6s.toú:É náNathc bdos or.!Iqto. d.tts óú Pdltldr tod" q dqs ÉpduÇro dLsit edi'Io por frliüã"iã ii..".."ã-"*.,- @ .,dbrq' Iordódd sÁq§áo ou qu'rqulr io fssencial da (l)lcQáo Hisiória Essencial da Filosofia nilosofia Pahísticâ e Escolásticâ - A[la 9 por Olavo de Carvalho Esse fenômeno da filosolia cÍistá é, desde o inÍcio, mancado por uma série de peculiaridades. A pdmeira peculiaridade é que a lilosofia cristá surge de dentro do cristianismo, o qual evidentemente náo suIge como uma doutrina, mas como üm acontecimento - um acontecimento de escala mâcÍoscópica que de Íepente inaügura as ba§es de uma nova civilizaçáo. É dam que o alcance desse acontecimento foi percebido muito lentamente, à medida que o cdstianismo se expressava sob a folma de doutrina e assim conquistavâ as populações eiÍ tomo. Mas o fato de que hoje tomemos ónhecimento do cristianismo como uma doutrina é al8o que com freqüência distorce a nossa üsão originária porque. sc você examrnar o Evangelho, vai ver que lá úo há propriamente doutrina alguma. o que há é uma narÍativa de âcontecimentos que sáo testemu_ nhos que, evidertemente, trazem uma men§agem doutrinal implícita, mas aí é que está todo o problema. DuraÍte alguns s6culos, haveÍá uú esfoÍço de exterioÍizaçáo dessa semente cristá sob a {orma de doutrina, até tomar â forma que mÍhecê_ úos hoje. Para se ver como ulÍa coisa podc estar distante da outra, não custa lembÉr que, por exemplo, a primeirâ teologia moÍal sistemáticâ aparece no século XVIII. Isso quer dizeÍ que, até esse século, havia, pelo lado morâ1, diferengas de interpretaçáo enormes entle üma mqui- diocese e outra, entre um padrc e outro, entre um teólogo e outro. É só no século XVIII que isto se unifica. Isto é para você lazer uma idéia de até que ponto o cristianismo nâo é uma doutrina, e muito menos uma doutrina filosófica. Tanbém é necessário ver que, para todos âqueles que participaram desses acontecimenlos. o sentido disso era bastante auto-evidente e nâo tinha scquer porque sel formulado cm palavras. Essa formulaçáo em palavras lbi surgindo iustanenieà mcdidâ que pessoas que náo tinham participado dâquilo, ou que pelo menos náo comurrgavam da sensibilida- de cristá, íaziam pcrguntas para as quâis os cristàos náo tinhamrcspostâs prcntas- Entáo ai era ncccssário pcnsar c trânslbnnar a vivênciâ dircta Íruma expressáo douti'inal, porén âinda ÍragnrcntáÍiâ. Duranto todaaíasc iniciál da filosofia cristá, quc óa chanadâ "fase patística", cxistcn cntáo algumas coisâs bâstánte singulares. Primeiro, porque os padres da lgreja não lazem um esforço para explicar nada, a náo scr quando recebcm uma objeçáo. Isso quer dizer que praticamente todos os assuntos dâ literatura pâtrística sáo decididos não pelos padres, mas pelos seus adversários, na medida em que esles suscilavam obje- çóes. Esta é a caracteristica principal dos padres: cles náo defendiam o cristianismo, exceto qüândo âlâcado, e atacado cvidentemenie nos pontos que chamavam â atenção dos advcrsários. Isio significa que a iniciativa de formaçáo da cxprcssáo doutriráriacristá vem dos adversá- rios e náo dos próprios crisiâus. Islo é inteiÍamente natu ral, de vez que, se aquelas primeiras geraçÕes ainda estavam impregnadas do impacto dos acontccimcnto§ (dos milagrcs, da rcssurreiçáo, ctc.), para quc sc vai ter que expor isto em doütrina? É üm negócio que parocia iá oslaÍ suficientementeexplicadoou desnecessitado dc qualqucr cxplicrção. Veja:sede lãto Deus se manifestâ na Terra sob ft)rrrrâ hurrl.rnu, âpâ rcce como seÍ humano. se encama num ser humâno, viv( ullla !,ida de scr humano, morre, ressuscita, fala com os discípulos dcpois dc nrorio e sobe aos céus, se tudo isso âconteceu, então, cvidcltcrtl(.rlc, cstc é o acontecimento central da históÍia, E se é o aoontccilll(xrlo crinlrâl da história, ele é que é a medida de todâs as coisas. lirtflo, ls rrttlictlçõcs hümanas e as doutrinas hümanâs peÍdiam nllrilí irrl)ortlnri , nrio sc ia corrscguir achar uma cxplicâçáo melhor do que aquela que os íalos tr s'rx,{ jx (5ravam nrostrando. \unüa podemos esqueccr quc ãs pli- nrc irâs gcraço€s de cristáos aindâ têm o impacto, comodizem, de quenl viu Dcus. E quandovocê oviu, acho que náo sobmm muitas perguntas qoc vocô queira fâzer, porque o fato mesmo já tem üma força, náo digo cxplicátiva, mas uma forçâ de evidência muito grandc. o próprio sentido da palavra "tevelaçáo" quer dizer que algo foi Drosirado, c aquilo que foi moslrado não prccisâ sel demonstrado. Ilma vez que você viu, náo tcm que explicar que aquilo existe e o que ó, ctc. O próprio Cristo, quando se apresenta, já diz quem é e o que veio fazer Então, toda a órbila dos acontccimentos humanos perde nuita importância em facc disso, e náo podemos esqueccr que, alinal dccontas, as elaboraçôes de doulrinas, teorias, opiniões, etc. sáo apenas fatos humanos- Podemos entáo dizeÍ quc cxistc aí üm certo desinteÍesse doutrinal dessas primeiras geraçôss: a eles pârecia muito mais importânte atcn- der ao apelo de Cristo de maneira mais dircta através dâ mclaní)ia, da conversáo e da âdoçáo dc unr novo rumo dc vidâ, c isto iá os manlinha suficiente entcocupados. Náo observamos cntrc os s('guidorcs dc CrisL(), rro cotrtcço, ncnhu- ma discussáo. A discussáo $urgc juslanrcnte pc[) hdo dc lbra. Sáo os adversários, os descrentes, os âdeDlos dâ rcligirio anliga ou os adeptos dojudaísmo que colocâm objcçoos c obri!ânr aqucles primeiros padres a reflctir e pensar, coisa quc clcs por si náo tcriam rcalmcnte por que lãzer Mâs note que isto - o lato dc a doutrina, a oxpressáo doulÍinal cíistã nascer de uma caüsa, por a$sirrr dizcr, opositiva é natural, por_ quc no fim das contas toda doutrina é assim. A mente humana sempre fun.iona dialeticamentc, funciona poÍoposiçoes. É como aquele caso do Santo Agostinho, qüe quando lhe pcrguntavâm o que é o tempo dizia: "Quando náo peÍguniâm cu seii quando perguntam cu náo sei mâis"- .- Pode hâver um cerlo tipo de saber espontâneo que está impregnado em você pclo simples Iâio de você estar vivo e de ter presenciado certos âcontecimentos, mas cujo sentido doutrinal você não seriâ capâz de expressar em sentenças, em afirmaçóes, e a necessidade de fazêlo só surge em funçáo de um estimulo extemo, Em Ézáo disso também acontece uma outra peculiâridâde, que ocor- re à medida que a cultura toda se crisiiânizâ, quer dizer, todo mundo vai sc convcrtendo ao cristiânismo, e essa cultüra cristá é a pÍimeira na hisiória humanâ que não cda os seus púprios instmmentos de exprcssáo escrita-dito de outro modo, náo c a os seus próprios gêneÍos literários. Se observar o conjunto da literaturâ patrísiica, você vê que todos os gêneros literários que eles praticavilm cram greco-romanos ou iudaicos, eram os gêneros Iiterâios antigos. Podemos classilicá-los basicamente em três tipos- Primeiro, há aquelas obras que teriam unl sentido doutrinal ou científico, aquelas que estáo tratando realmentc de idéias e doutrinas. Destas, uma parte é apoloSctica, seriâ â dc'fesa da lileratura cristá, defesa e elogio da Íeligiáo cristá; üma outra parte é constituída de discussóes polànicas, respostas a obicçóes; e umâ terceira parte é constiiuídade pequenos tntados sobre pontos muito deteminados. Somando tudo isso, náo se forma üm edifício doutrinal de maneiÉ alguma, náo se forma nada, éum caleidoscópio. Um segundo tipo sáo obrâs de tipo históÍico: sáo relatos, diários, confissóes, cârtâs, etc. E o terceiro ó a litcratum propriamerte litúrgica, a litutgia: hinos da Igreia, prcces, etc. Tudo isso sáo gêneros que iá existiam antigamente, cqueoscristãos selimitam a continuar prâticândo com um conteúdo cristao, mas com a estftrtura e com as formas herdadas da tradição antorior Basla cstc fato para se ver que as necessidades expressivas dcsses princiros cr'istáos náo eram táo foÍes. Se tudo âquilo que você tem â dizer pode continuar sendo dito, embora seja totalmente novo, cmborâ no quc diz rcspe;to âo 8 (olllcúd() clc nao caiba dc mancira âlgunra nos nroldes do pcnsânrcnto $cco-ftnnano, sc âpcsar disso você continua cscrcvendo nos mcsmos rn{)ldcs literários... É claro que esses moldes sáo deficientes em relação ir(, conteúdo que você está tentândo exprimir Sevocê tem um contcúdo l(Íâlmonte novo, é fâtal que tente algum arranio formal, cde um novo gônero liieráÍio, uma coisaassim, para poder se expressat E náo fizeram nada disso. Isto mostra quc náo haviâ muitâ iniciativa de expressáo dou- trinal por parte deles. O quehâvia, amaiorparte do que se produzia ali cra cvidentemente a apologética, eram prc8açóes pâra ver se convertiam as pes§oas aocristianismo, i§tosim. Mas, quânto à explicaçáo doutrinal do cístianismo, náo havia reâlmente muito inteÍesse. O que vai criar os pÍimeiros esforços de orgânizaçáo doutrinal é cxâtamente a lenta acumulaÉo dess€ mâteriâl pairísiico. Daqui a pouco eles começam a empilhar Sáo milhâres de cârtas, milhares depequenos tratados, milhares de sermóes, etc. Chega uma hora enl que os suieibs vêem que existe uma imensa literatura cristâ, e a constataçáo da cxis- tência dessa literatura já sugere a necessidâde de se cncontrâr alSuma unidade por trás dela. Ài temos a moiivaçáo filosófica pl()priârncntc d i1â, lâ1v0, nütll ifcstâda da sua maneira mais pura. Quândo dctini â Íihs(Íia co ) unidade do conhccimenro na u nidade da cuns! iincia I vi(,'v( rsir, crn rarüsucâsióes você observa isto, assim, com tanta clârczu quanlo ncssa transiçâo da fase patÍística para a fase cscolásticâ. Porquo ó iustamcnte o acúmulo da massa de escritos e da massa de opi[i(_)cs cm circulaçáo que sügere â algumâs mentes cristãs a neccssidâdc dc unilicâÍ, de encontrar uma coerência por trás de tudo âquilo. E cssâ motivaçao náo cra âpenas de ordem intelectuâ], pois isso se Íeflctiria imediatamcnte na condução da Fópriâ vida cristâ daqueles indivíduos. Thatava-se, novâmente, de coeÍir o conjunto do conhecimento parâ encontrar um modo dc existência pessoal que traduzisse aquilo sob forma de vida humanâ, de biografia __ ] humana, de tal odo que esÍa vida assinr conduzida retroativamente csclarcccssc âquclc mesmo conteúdo que a havia inspjrado. Tenr-seestâ intcrpenetraçâo dâ idéia de unidade do conhccimcnto com a idú;â dc unidadeda consciênciae, portanio, tambóm uDidâde da própriâ conduta, então podcmos considerar essâ uma molivaçao lilosólica genuina. Esie eúbrço de sistenatização, poróor, lambérr náo podc começâr âssim, sem mais nem mctros, mas tcrá quo pcrcorrcr umâ série de ela pas. Por exemplo, o problcna quc sc colocavâ era cxâtamente de uma multiplicidade dedocumentos escritos, sern cortaro pr(tprio Evangelho, sem contar o qüe haviê sobrado dc dcpoimcntos orais transmilidos pela própriâ tradiçáo dâ Igrcia, à qual a Igrcja deu sempÍe quase lanta ;mportância quânio aos Evangelhos. Dianle de iudo isso, o que fazcr? Náo sc podc permitir a sirnples coniinuaçâo da acumulaçáo qudntitativa, porquc dâquia poucojá não se sâbe mais se aquilo que se está pregando ú crisl ian isnro or náo, poiânto é naiural a lentativa de cncontrar algunra ordcn por lrás dc ludu isso. Mas a ordcm qucvoca vaicncoDtrâr, en primeiÍo lugar ela tcm que ser puramente nlaie â1, que é a ordem dos próprios documcntos. Vocô vai terqueiuntaÍ os documcnios, clâssificáios, colocârâ data de cada üm, sabcr dc onde vicram, c isto iá é trabâlho paÍâ muiia gente durante mu ito tcmpo. Tenos âi. na tbÍmÂção do começo da Escolástica, unra làse quc poderíamos dcnominar quase quc a "fase íiiológica", que ó â dc você rcunir c ordenar a documentaçãu e separar os docunronlr)s válidos dos docunenios inválidos, eníin, delimiiarqualó o campo rratcrialcm cima do qual depois você vâi fazer suâ tcntativa de sislcDr tizltç.r,. uma vez reunido e ordenado esse maierial, poriur, o quc j?i nnplica prcblemâs absoluiamente medonhos dc interprctaçáo dc texto porque aí já havia pâssado cinco ou scis sóculos , enl scguida coDreça uma oulrâ lãse: a da comparaçáo dos docurreoios cnlre si parâ ver se sc consegue iirar de dois documcntos uma mcsma alimrâçào, um nesrno l0 juizo l'ormâl, às vezes com diferença de modalidadc de expressão... Esta scgunda tàse é chamada - nào por mim, mâs pelos historiadores de "[asc concordísticâ". Vocó vai tcntar fazeÍ a concordância cntrc todos os documentos, c aquilo que 1(:)Í absolutamcntc discorde de tudo você iira forâ e diz: "lsto aqüi rão vale, isio aqui ibi umê opinião pcssoal enitida, é um clcpoinrcnto duvidoso". Já não se 1ü14 mais só dc coteiar documenbs, Irâs do cxtrairdc dcntro (lclcs alirnra((')cs fi)rmais (lüc podcm n:io cstar nclcs. íssir)r, lil.ralrrcDtc. 'liirla sc (lc lrâdtr/i'1,)s cnr iüí/o! lornlâis dc liDr) d(trrlrinâl (lu( Dr)ssx scr (.lrlno ronIIÍr(l's Ur) s(u errrterido ki- l1i(1' Vlrx* s(lt!Í'rtr., (k unr ltl(lo. v(nc l(.lr Lrl' di§cllr$) âpologólico ,,1',,'rl',,l,hli,. ld,r ul||,,(:,flx,nr "Irr rrrrxlit.r pc\trJJl l-..vrdcnlc rtrx.c[ s ll (' cslir) (liscr, snrdo no nresnn) plâno. então não tclil icito de vocr lirrcr conrDar.rçao dirctai vai pÍecisar puxar dos dois afinnâçales quc pcrlcnçanr à Dresma clave, por assim dizer, parâ daí comparâr o cr)ntcúdo c veÍ se batc ou náo. E isso tem qüe seÍ feilocom docuÍnentos c nrâis documcntos. Notc bcm, esse prcblema não foram os padrcs que buscaram, Eles sinplesmente encontraram o problemâ, assim conro as objcçóes e â resisiência do público também náo tbram elcs quc buscaram. Eles sim- plesmentc cncontrârâm c toraÍn forncccndo cxpli!_açóes à Dledida quc âs pessoas solicitavam. Ora, ó iDrpossívcl que públicos absolutamente desencontrados c diierentes cntre si coli)câsscrl pLrgunlas nâ ordcn) dc modo que simplesmentc colocionando ís resp()slas sc iivcssc um sistcnâ. Náo é assim- os plânos dc âbordagcrn são dcscnconirados, os níveis dc intcresse també não balcnr... ^ litcralura pâtrística é um monte de gente làlando dc um morlc dc assuntos para um monte de gente- No entario, tudo isto icln que ter unra unidadc no fundo. Por quê? PoÍquc tudo isto é o cristianismo. A unidâde ai iá se enconira somente no fundot nâ supcrficic Dâo tem nenhuma. ll O que chamamos de Filosofia Escolástica nasce desse problema. Elâ é umâ cspócie de resíduo, de efeito colâteral, do esforço de reu- nião, interpretaçáo e concordância dos vários documentos. Como isso, evidentemente, Íequer um monte dc tócnicas, não só liieráriâs mas também lógicas, acaba se tornando necessário adestrar as pessoas paÍa essas técnicâs, e é aí que surge o reaproveitamenlo do legâdo filosófico grego. O suieito decisivo era Boócio, que ó tido gemlnrente como o primeiro dos escolásticos, o indivíduo quc rcúnc os mâteriais gregos qüe tinham sobrado sobre lógica e dá àquilo üma Íormulaçáo cscolar para o treinamento dos padrcs. Mas é claÍo que isso é só um âspecto pequeno do trabalho â seÍ feito, seria somente a preparação técnica de um aspecto dâ educaçáo necessária para que depois os camaradas fizessem todo esse serviço. Como isso também e umâ ubra colcliva. c ncccssário se assegurar de geraçáo em gemção, a continuidade da compreonsáo dâquilo tudo. Se estamos trabâlhândo aqui para iuntar a literatüÍa cristá o lhc dar uma formulação coerente, mas o suieito quc cstáfazendo isso morre no meio do caminho, o outÍo que vai continuâr tâmbém tem que ser adestrado para poder trâbâlhâr dentrc de uma linha coerente- A ciü- lizâçáo do Ocidente nasce disso. Praticamentc iodas as nossas hâbi- lidâdes de leiiura, a nossa consciência de tempomlidade histórica, a nossa consciênciâ da importância dos documentos, tudo, ludo nasce disso- E náo é necessário dizer que, passado muito tempo, às vezes basta um pequcno aJastamento do cristianismo para quc tudo isto se perca também iunto. Passada essa fase filológica, e passâda a fase concordísticâ, quando se pode finalmente chegar a um ponto em que â doutriDa crisiâ pode começar a ser expressa sistematicamente, aí surgem Dovos problemas ãinda piores. Sempre que você vâi sintetizar uma nrassa de materiâl heteÍogêneo tem que encontrar, teÍ os princípios cm Íunção dos quais 1Z _..-l'_ 13 você vai fazer a síntese. A síntese náo âpârece sozinha: você tem que rr:r xma Íâzáo de sinteiizar assim e náo assado- O pÍimeiro princípio que é adotado para isto é o pressuposto de quc o conteúdo dos Êvangelhos, dc toda â mensagem c stá e de toda a documentâQáo cristá deve ser râcional de algum modo, ou seja, deve nodcr sercxpresso de maneira râcional e poder serdiscutido e p&vâdo dc NaneiÍa racional. Esteé o primeiro ponio, e esseprincípio ninguém liDhu pcnsado até cntáo. Durantc saculos, isio nem tinha passâdo pela cubiiça dos cristtiosi sccra raci(nrâl ou iffilcional, cssâquestáonáo exis_ tc. Mas, dc fljp{rrlc, dizcrrri "Vu,nos odcn r islo c bolar uma síntcsc (lÍuo ó (lu! vÍrnos luzcr isvi' Sc vnrrx,s liucl sob ft) r dc doutrina, o nrxkú) (u(. (rÍrh('(x rrx)s c o (ltlc hcrd{rrÍ,s íc l'latáo c ^ri§l.Íclcs,(.rlto krlos ([rrr,rp[cssllr issl, nllli! ou ntcnos conx)iilc§ cxprcssariâm. liDtro c cvidcntc (ltlc â doulrinâ lcnr que tor uma oryanizaçáo lógica, partindo dc priDcípios quc ou sejam logicamente su stentáveis ou §ciam documentalmcnte sustentáveis, com base no primeiro testemunho que ó o Evangeiho". Aconteceque este pressuposto implica um outro mâis profundo: se o uonjunto da Revelaçáo cristã é ücional, e a Revelaçáo cri§tá é o que o próprio Cristo trouxe, e Gisto é o próprio loSos criado! é â pÍópria força instituidora da realidade, isto significa que a realidâde como um todo tâmbém tem que ser racional. Então vcja como um simples trâbalho de você pegar a pâpelada e botar em orde acaba lcvando-o a âssumir pÍincípios fi losóficos. Uma vez assumido esse princípio, isto náo qucr dizer que você vai conseguir aplicá-lo facilmente a toda aquclâ mâssa dc alirmações, e nem que esta râcionalidade hipotótica do coniunlo do reâI, Íacionalj- dade hipoiética do coniunto da I{evclâção cristã, vá se mostraÍ a vocô nâ primeim. Quando se Íala de "oÍdcm racionâI", essa ordem vâi das prcmissas para as conseqüências. E câdê as premissas? Entáo ela ne_ cessário, cm primeiro lugâr, explicitâr essas premissas tal como estâvâm no Evangelho. Âgora, leia o Evangelho e vejâ se é lácil tirar alguma prcrni!54 doutrinâl dâli. Quais sãô os primcims prin(ipios mais Bcrais e quais os princípios derivados? Veja o eslorço monstro de passagem de um discurso milopoótico para um discurso iógico estrulurado. Tcnr que se pâssar por todas as fases, retódca c dialética no meio. Nunca houvc um eslbÍQo tão grânde nesse sentido, e por isso mcsmo isto âqüi é a espinha dorsal da civilizaçáo. E não só da civilizaçào ocidcntal, poÍqüe no mundo islâmico se terá exatamente o mesmo problema logo depois. O mundo islâmico náo fârá senáo imitar este mesmo procedimcnto, com algumas diferençâs específicas. Umâ providência que eles iomarâm, e qu€ talvez tenha sido sábia, é resgüardar os aspectos náo racionalizáveis da dout na- Isto é, entreosvárioselementosquecompócnadoutrina,tântocristáquÂnto jslámica, existe em prinreiro lugar a Revelâçáo; cm scgundo, a tradiçâo, aquilo queloi sendo transmitido; o existe â coniinuidadcda Rcvolação, isto ó, Deus pode dizer mais alguma coisa que Ele náo disse ântes. No mundo cristão, o eslorço de unificaçáo é total, e no mundo islâmico é pârciâ|. Existcm várias tentaiivês diferentes, existem esco- las teológicas diferenies que, embora diveÍgindo, são âdmiiidas como igualmcnte ortodoxas. E âinda existc a possibilidade das revelaçõ€s pessoais feitas a santos e místicos, os quâis náo têm a obrigaçáo de dar conta do conteúdo doutrinal daquilo. Isso queÍ dizcr que clcs podem enunciar a revelação que lhes foi feita, mesmo que ninguém entcnda- Quando isto acontece! essâs sentenças sáo coLocadas à mâÍgem da discussáo teológica, e elas podem ser aceitâs poÍ qucm assim deseie. lsso no mundo islâmico. Mas isto íoi assim porque lá nâo cxiste uma inÍituiçâo chamadâ lgreiâ. No mundo islâmico nào se iem clero, todo muçulmano é o saccrdote da sua própria família. Mas como no Ocidente há a o.ganizaçáo centmlizada e hierárquica, tambóm o csforço de sis- t4 lcrratiAçáo tenr quc scr um só, unificado, e a doutrina que se obtiver tcnr quc scr unilbrme para todos. I)ara vocós teÍem idóia da trabalheira, é só leÍem âlgumas atas dc (lnrcítios. À elaboraçáo começa no nivel dos estudiosos, dos filólogos ( dos lcaÍogos. Dcpois, podc-se chegâr em ccrtâs dúvidas que náo se crnrscguc rcsolvet naquelc plano e que requeirâm decisôes doüirinais. lir'sils dccisócs, quem podc tomar? Somcnte â autoridade eclesiástica, urláo vti lá pâra ocârdcâ|. lúâs c sco caÍdeâlnáo souber? Então vai ler (tuc Dcrguntar para {) Grncilio. Il sc o (}nrcili(r náo souhcr? Daí o Con- (ilio (rnrsullí r) l)tp0. I':s( í) I'aprr rrrro $ruhcf' l:nlao o l'trpa pcrgunta p{flr l)r.uri. ^ ftrn(no brlti(r (l(,|)apr c cssa. O l'üpü cxislc sobrctudo para irsot (, o suir,it0 rlrr(l, sc rrirr8Uanr ülliis soubcr, vâi teÍ quo sc ajoelhar e li(.rrr ft.lr r(lo ílú l)cus lirlal alguma coisa para ele. Enquanto não falar, llc DIo podc abrir a boca. Mcsmo sem chegâr ató essaúltima instância, em que é necessário o Pãpa consultar o prôprio Deus, antes disso iá houve muito traba_ lho a ser feito, e, como eu disse, quândo iermina a fase filológica e concordística, a da simples conparaçáo dos documentos dois a dois, vai comsçâr essâ fase da sistematizaçáo. Ai é que o cristianismo pela primeirâ vez cria o scu p meiro góncro litcrário. O gênero literário é o que se chamasumr. O que é a suma? Éum compêndio organizado da doutrina c stá. O fato mesmo de quc cxistam várias sumas mostra como náo ó fácil lâzêlas, porque, se tivessom accrtado na primcirâ, teriaüma só. Mas âté chegar à suma âinda vai corrcr unt pouco mais dc tinta aí. Uma vez âdotâdos esses dois prcssupost(,s i§to ó, de que o conteúdo da Revclaçáo é racional c de que, portanto, o universo é racional ,no momento deseencontr quâis sáo os princípios quecstruturam racio_ nâlmente aÍealidade, vai-se teÍ quc puxar esses principios dedentro do próprio Evangelho, e o fato é que existem inúmeÍâs maneiras de fâzer isso. Aí comeQam a surgir ptoblemas- l5 Um problema é que o suieito tenta uma sintese, mas esta síntese deixa de foÉ eoisas impoÍantes que, üma vez levâdas em consideÍaçáo, derubâm a síntese. O suieito faz uma arma(áo lógica toda arumadinha e diz: "Olha, está aqui â estrutura da doutrina cristá". Daí aparece um outro suieito e diz: "Olha, mas tem uma frase lá no Evangelho que o senhor esqueceu e que desmente isto". Entáo tem que começar tudo A segunda possibilidade de erro é o erro de pcrspectivâ: o indivíduo náo hierarquizou as coisas direito, colocou elementos acidentâis no centlo e o essencial Iorâ. lsto também Pode âcontecer o tempo todo. E pode acontecer o simples erÍo de interpretaçáo: o sujeiio eniendeu errado. Dai é que começa a hâver â pululaçáo das heresias. Heresiâ é o quê? Éuma doutrina cÍistá. Pâra uma doutrina PodeÍ ser considerada herética ela tem quc s€r cristá, em primeirc lugar. A gente náo pode dizer que o budismo é uma hercsia- Nâo, o budismo é outro negócio, é outÍa religiáo. Umâ heresia é uma falsadoutrina cristá, é uma falsaversáo da doutrinâ cristá. Ora, a possibilidadedcaParecimento da heresia é enormemente vasla pelo simples fato de que o material básico que se tem, que é o Evangelho, é um discurso miiopoético que tem por si mesmo várias camadâs de sentido. Estou dizendo isto para vocês terem idéia do monumento de trabalho intelectual que esses camaradas fizeram, e como sem isso náo seríamos absolutâmente nada aié hoje. Na passagem do mitopoéiico para o discurso lógico, a própda plu_ râlidade de sentidos possÍveis tem que seÍ articulada de algum modo que acabe sendo conveÍgente para os principios que sc está qucrendo esiabelecer, e isso também náo âcontece por si, tem que scr enconuado, depuÍâdo um a um. Mâis ainda: dentrc do Evangelho, como discurso mitopoético, existe um monte deexpressóes paradoxais. É só vasculhar um pouco que se enconttâ. A própria doutrina da Tlindade: Deus é um em essência sob â lbrma de três Pessoâs, lrês hipóstases, tÍês per- ló sonificaçóes, que permanecem inteiramente distintâs sendo umâ só- Àí lá se tem um problema diâléiico monstro. Segundo: o problema da Encârnâçáo, O que quer dizeÍ "e o verbo se fez carne"? Podemos en- tendeÍ isso, porexemplo, poeticaments- Podemos eniender que, âqüilo quc num ce o plano de rcalidade é um indiúduo humano, num oütro plâno é üm discurso. se em cima desse nível de vida que ocupamos, que é o nível hu- mano, exisiissc um outro plano constituído inteiramente de discüÍso, cnláo lcsus cquivâlcria a um deierminado discurso, como numa peça dc leÂtro cnr quc, cada uflr dc Dós, :ro nrcsnn) tcDrpo cu sou eu, mâs nâ(luclooll1ro ph ) sr)u o pc$onâ8crr (tuccstoü rcprcscntândo. Então sc prxlcÍinnr dislirguir csscr ü,is plâIr)s. Mfls se há uora divcrsidadc de ll|rÍ,s, crLar) sc col{)cn o pr)ble'na da hicrarquiâ de realidâde, pois, se cxistc urr plano cspiriiual, que é causa e Íündamento deste daqui, do rrrundo scnsível, entáo cm quc scntido o Jesus Cristo camal é táo IÊal quanto o Jcsus Cristo consideÊdo como logos, como verbo divino? Aí já suÍgem mil explicâçóes difercntes- Agora, veia o lado mais dÍamático da históriar todos os indivíduos que conscrvavam dentro de si, através da iradiçâo, o eco do impacto originário da presença de Jesus Cristo, podemos dizer que sintética e compactamente eles sabiam a solução de tudo isso, mas náo sabiam verbalmente. Nesses momentos, csses individuos sáo o único güia possivel- Quer dizeÍ que a interpretaqáo coffeta é dada por uma cspó- cie de afinação entre a alma do indivíduo c a inspiÍaçáo originríria do cristianismo. Sem isso náo adiânta elc ter todas âs técnicas possíveis, polque vai se confundir com as técnicas ou no meio delas. Éjüsiamente aí que as figuras dcsscs grandcs intérpretes da religiáo cristâ, como Sânto Tomás de Aquino, âpârecefi como proüdenciais. Por quê? Porqüe se tem deum lado a Revelaçáo, que é o elemento por assim dizer"fático", é o fato, é o dado; por ouiro lado tem-se o elemento 17 "sistemâtizaÇáo". que é a part€ racional e humana do negócio. Esta aqui tem que ser um cco dâquela) mas acontcce que âquela náo se truduz em sistematização poÍ si mesma: évocê mesmo que tem que fâzer, náo ó Deus que vai fazer para você. Entáo vocô está fâzendo o máximo de esforço racional construlivo e, ao mcsmo tempo, tem que estar ligâdo à fó originária. Náo pode haver maior tensào no espírito do que esta, pois vamos supor qúc o indivíduo num ceÍto momento se concentra, rezâ, lê a Bl blia, reza, e ele tem a resposia de Deus. Ele tem para si, náo sob forma de douÍrina, mas sob formâ de rcsposta fática, respostâ real. Podemos dizer: esse indivíduo coíhece Deus, mas ele náo conhecg Deus dou- t nalmente- O lado douirinal é ele que vai fazer, e pâra esse trabalho doutÍinal o esÍorao é exaiamente o contrário do esforço contemplativo do homem quc cstá rczando. É un csforço oonstrutivo, arquitetônico c 1âmttr:m ânâlítico. Nâ iensáo entrc a 1õ c a inspiraçáo origináriâ e o esforço racionâl construtivo, ali ó que surge iustamcnte todo o drama das heresias, das interpretações paÍciais, dos erros, dos desvios. E precisamos entendeÍ que, quandoum suieito cometiaumerro desses, os que cometiam effos eram participantes do mesmo esforço; nâo era niÍguém que e§tava a fim de sacanear, não. Havia um esforço coletivo de sistcmatizâçâo e expressáo da rcligiáo crisiá, e lá pelas tantas um dos pedrciros come_ qou a construiruma parte do edifÍcio que náo combinâ com o resto. O que vâmos lãzer? Às vezes náo se pode iogar Íora o quc o §ujcito fez. Por quê? Porqüe às vezes o erro delecontém dentro dc si objcçóes que podem ser prcciosas para esclarecer aqui o coniunto, cntáo náo se pode iogar fora. Mâs tâmbém náo se pode dcjxâr como cstá- Isso quer dizer que, com câda novo heresiarca qu€ apareciâ, âs discus§ôe§ podiâm se pÍolongar por anos e anos- Hoje temos a idéia de que, se âparccia um sujeito hercsiâra, meiia-se o cara na fogueirâ- Se tivesse sido assim lcriü sido tácil, mas a doutrina crisiã não existiria. Quando se chcga a construir o tribunal da Inquisiçáo, que foi em 1214, 1218, iá é numâ fâse muitissimo avânçada.lá é séctrlo Xlll, que c a culnrinaçáo dâ EscolásÚca. Eles já têm Sânto Tomás de Aquino, l)uns Scol, etc. A funçáo básica do tribunal da Inquisiçáo é examinar o n 'a tcrial cristáo, cxaninar tudo aquilo que está sendo distribuido como doutrinâ crisiá, e v€r seó. Mâs acontece que, às vezes, você também não síhc sc ú, oú pcÍccbc quc tcm âlgo crrâdo mas nâo sabe o quê- PoÍque, rn)lc hcnr, â intcrprct çiodo Ilvíngclhoóa trânsposiçáodo miiopoético l).lr o ân litiro, clltru, a $crnprc ullr pÍolíon diÍiuil: há vários níveis dc illtcrprclrçnt,, css(§ vr'r, ios tiv0is larl quc scr aÍticulados dc rnuilas Ixrrr.irnscD(x nllill,s hr(l)s dilcrcntcs... Notc que, scvocêdcr u salio dt.rlcz sr,cLrkrs c chcgur ar) súculo XX, vcrá que no dominio do direiio, pol cx(i0rpl(). sonronlo ll() sóculo XX aparcce um sujeito que diz que o cditicio do dircilo tcm que sertodinho rucional ebâseâdo numâ premissâ riDica, como é a norma fundamental do Kelsen. Também a mim parece (ibvioque, se nãotivesse havido todo esse gigantesco esforço, ninguém tcria pensado nisso. lsso quer dizer que toda a Escolástica é üma imensaapostanas pos- sibilidades da expressáo racional hu mana de um conteúdo divinamente revelado. Éaaposta mais dilícil que pode haver. Você também tem que levar em conta que esse edifício da doulrina cristãainda náo está pronto. Ele continua. De Concilio cm Concílio, cssc ncgócio ainda continua e âs discussões teológicâs aindâ continuam. E váo conlinuar até o finl dos tempos, pelo pÍóprio caráter iníiÍito da Revclâçto originituia. Aqu ilo tem possibilidades quevocê não cntcndc, só entendc quando clas se rcvclam nâ históriâ, quândo elâs âparecem dc alguin modo. o {a1o de dizeÍmos que a Revelaqáo cristâvem numa lórmula mito- poética náo querdizerqucela seja "mito" no conceito oposto à "histó- ria". Normalmente o pessoal faz muita distinQào de mito ehistóriâ, mas l9 acontccc quc umacoisaó um mito que foi inventado, umâ história que foi invcntada, e outra coisa é um mito que aconteceu. A vida, paixâo e moíe de Nosso SenhorJesus Cristo aconteceu. Éum con,unto de fatos históÍicos com um sentido mitico. Semprc que isto acontece, tem_se ali compactâdo um coniunto de possihilidades cujo desdobÍamento tcmpoÍal será a Hisiória de uma civilizaçáo. Assim como o ciclo judaico começa com o Gênesis e vai terminâr na Jerusalém Celestc, o ciclo cristâo começa com o nascimento deiesus Cristo evai tcrminar no Jüízo Final. lsso também quer dizeÍ que tinha ali üm outrô elemento que só âos poucos foi sendo expÍesso, que é o fato de qüe esta Revelaqào trazia dentro de si um modelo do desenvol- vimento tcmpoml futuÍo em direçáo âo ruízo Final, continha algo que vamos chamar de " Filosofia da História". Mas também nâo é exato dizer quc é uma filosoíia da históriâ, porque tinha uma§ementc miiopoética de múltiplas filosoÍiâs da hiskíria possíveis, todas iSualmente cri§tàs, das quais a primeira expressáo é a de Santo Agostinhoem scu livro A Cidaile de Deus. PoÍém, esta possibilidade qüe Santo Agostinho é o pdmeiÍoa cxplorar fica mais ou menos entreparênteses dutânte algum tempo, e o problema da filosofia cristá da história só vai voltar a se colocâr müito tempo depois. Isto é para vocês terem idéia de como o edifício doutdnal nâo está pronto. Podemos dizer tâxativamente que náo existe uma filosofiâ cdstá dâ história. Náo existe uma doutrina cristá da históriâ. Existe a possibilidade de umâ, existe a semcnte de umaque está dada no próprio Fvangelhu, afinal de conlas o Etangelho diz que âs (oi§as conrccaram assim e vão acabar assado- Como isso deve ser interyrctado? Se este é o ârcabouço eterno da história humana, como é quc isso se lÍadüz nos termos da história ieal? Por exemplo, veja o problema que isto colocainstantaneamente paÍa a própria Igreia como instituiçáo. Se a Igreia tem que durar no tempo, zo r,,r lrrzr) l,inâlnàoóparaamanhá-asprimeirasgeraçõescristâsacha- vr r (üo iâ scr râpidinho , então a Igreja pas§a a tet um papel que se l)rrll»ga no tempo. Qual é o papel da lgeia? Tirar essas pessoas destc lrund{r c voltá-las para o outro? Sim, podeÍia ser Porém, ató lá, elâs larr quc cstar crcscidinhas, é preciso alimentálas, vestilas, educá-las, Ircparálas e, enquanto isso, darlhes ummeio de subsistência. Entáo a lgreia, enquanio simples pofiadoÉ da Revelaçáo, é uma coisa, e a lgrejâ cnquanto lbrçâ histo câmente atuante é outra. Qual é a ârticulaçáo dclas? Você sabe? Eu não. Nem você sabc nem eü. Mas esse iá ó um oulro problema que a Filosofia Escolástica inteira ncm mcxeu. Ficolr lá com Santo Agostinho e depois, muito mâis tardc, no sa'culo XX, vai É nesse momento que, a pârtir de elementos biblico§, pode surgir uma inierprctaçáo herética, mesmo náo tcndo a interpretaçáo certa. ou seiâ, náo temos a doutdna cristá dâ história, mas o suieito pode propor uma que a gente perceba que náo é a certa. Mas vamos percebê_ la, daro, d€ maneira obscüra. Veja que um teólogo cristão no século xx é colocado de novo na mesma situâçáo dos primeiros padres: ele é obrigado a desenvolver um aspecto da doutdna, no qual ele não tinha pensado aindâ, pâra Íespondcr â uma vcrsáo herética que se adiantou c veio pdmeirc. Sempre que óâssim, quando você cstá trabalhando num domínio em que o lâdo adversário e que tem a ini( iâliva. vo(i (r,nrcçu por râciocinar e por tent& responderlhe na clavc dclc, c cssâ clavc ó cvidcntemente inâdequada àquilo que você mesmo qücr dizcr Ató você achar a mo_ dalidade de expressáo e de articulaçáo corrcta para aquilo, passa-se algum tempo. É fácil perceber que hojc, por exemplo, a Teologiâ dâ Libertaçáo tem muito mais iniciativa do quc a respostaâ elâ. Náo exi§te nenhuma teologia organizada da hislória que responda à Teologia da LibertâÇáo. Tentando Íespondet você vâi responder nos termos dela, 2t aos ponios que ela levantou, do jeiio quc ela levântou, no nível que levantou. 'ILdo isso está inadequâdo: você está tÍâbalhando ainda com os instrumenlos do adversário, e alé encontrar os seus próFios isso é um problema. Veia como seria imporiantc hoje o problema de uma tmlogiâ crisÍá da história. A diferença básica da Revclaçáo crislãpaÍa a Teologia da Liberiâçáo, e iambém da filosolia da história de Sanlo Agostinho para a Têologia da Libertaçào, é que na primeirâ, na tcologia cÍistá, o fim da história náo faz parteda história. O fim da históriaé a etemidade. Nâo sc pode dizer que o Juízo Final seja um acontecimento dcntro da históriâ, ao contrário, ele â âbarca toda. Éum momento em que todos os momentos anteriores estáo contidos, porque todos seráo julgados ali dentro. Náo ó prcciso scr muito esperto para ver que isto náo pode ser um acontecimenLo deniro dahistória. Scria a mesma coisa quedizeÍ: "Olha, o iulgamenlo do crimo náo faz parte do crime". Ao passo quc, para â Teologia da Libcrtaçáo, a culDinaçáo dos tempos ó dcntro da história, quc é exatamente aquele negócio caractcristicamente revolucionárjo, gnóstico. de que a históriâ vai paraÍ, vai chegar num ce o patamar de peÍfeição c dali parâ adiârrte o que vai acontcccr é ouÍo negócio especificamente diferente que iá náo será mais a história. Como KaÍl Mârx dizia: "Passarcmos da pré-história para a verdadcirâ históía". Seria o que se pode châmar de "o fim da história" ou "o começo da história". Pode ser o fim ou o começo, agora, história é que não seÉ. Éntáo haverá dentro do tempo umâ espécie de pamdâ do tcmpo na quat unla ccía socicdàde lemporalmenle e\istcnlc scrá corrro umâ e\pócie de Jcrusâlém Celesie plantada estaticâment€ na suâ perleição por náo se sabe quanto tempo, O simples fato de â idéia da eternidadc scr rcbatidâ para dentro de um certo tempo deteÍminado, por isso você iá vô, esse negócio não pode ser cristáo! Cristo náo disse que â história ia tcrminar deniro da 22 hisi(iria. Falou qüe ia tcrnlinaÍ tüdo, é todo o orbe da manifestaçáo e dâ cxislência que scráabsoÍvido ncssc moDrcnio eierno doJuízo Final. liln teÍmos cristáos, se vocô porguntar "Quandoóo Juizo Final?", o]uízo Finâl foi ontem, é hoie c scrá âmanhã, cstá scnrpre dc certo modo nesse nurrncnto mesmo. É pcrmanente- Apenas dentm dâ nossa escala podr,'mos vcr: â nossâ vidâ temporal ó como sc fosse um certo raio que, partindo do círcuk), vâi rcbalcr nâ superficie da esfera, comparuda a todos os ou tn)s raios quc csláo làzcndo a mesmacoisa naquelemomcnto. Do ponlo dovislâdcssc único raio, a csfeÍa está no fim, poÍque é só láquevocôvâi cncontrara §upcrlicic dela, nras naveÍdadeéo raio que está dentro dâ eslera. Há unl dcsnivcl entrc umâ percepçáo fundada na temporâlidâde humana e umaoutra fundada Da eternidade. Atemporalidade humânâ podc ser compÍeendida desde a etcrnidade, mas o contrário nao pode. Sevocê tentar compleendeÍ â ctemidade dentro da temporalidade humana, o que fârá? lnventará umâ pseudo-etcrnidade, que será a suposta forma final dâ sociedade, nâ qual tudo será etemamente bclo (como é em Cuba, por exemplo). É claro que essa é uma idóia deuma estupidcz monulnentâI, mas âs idéias mais cslúpidas, quando expostas com uma certa complexidade, embora se tornem mais cstúpidas aindâ, poÍ câusa disso mesmo elas criam dificuldades e bloqucios scm lim. l§so quu dizcr quc, mcsmo o teólogo cristáo sabendo que isto ó làlso, conú ó (luc ric vai responder a este negócio? IAlrlilo: O Espínosa tfieshlo üiticaut cssa t isdo de que a etemiihcle é ape aswna so a ale quantidades discrclas de tefipo.l É. entáo os caras conlundiam a ctcrn idâdc com a perenidade. Vâmos supor que você conseguisse criar uma socicdade perene, uma sociedade quenunca maisacâbe. Elanào scria ctcrna;teve um começo numcerto momento e simplesmentc vai paraÍ por ali mesmo- Éclaro que náo vai 23 haver sociedade nenhuma âssim, mas, sc houvesse.,. Também pode acontecer qüe esse caráler estático dâ sociedade perÍeita final, perce- bendo-se que isto é um absurdo, pode-se atenuar a idéia, dizcr: "Náol Hâverá uma outra têmporâlidade, um outro nível de tempo", entâo a idéia se torna aparentemcnte menos absutda. Também nào é necessrírio dizerque, nesse ínterim, nos últimos tre- zentos anos, toda a compreensáo dcsse edifício doutrinâl crisiáo "foi pam a Cucüia". As pessoas náo são mais capazes de uu esforço deste tamanho, nâo há mais rnnguém que seia capaz disto. No entanto, paÍa respondcr a isto, para responder à teologia falsa, seÍia preciso ter a teo- logiâ verdâdeira- E câdê a ieologia verdadeira? Não vejo outramaneira sonáo reconquistá-la toda, rcconquistar os instrumentos intelcctuais todos quc csse pessoal tinhâ e rcfazer dentro de si esta traietória que loi a da Íormação da Escoláslica. Muito bcm, os princípios nos quais a Escoláslicâ se bascou - a ra- cionâlidadc dâ mcnsagcrÍ crisiá e, portanto, a racionalidade do real em geral , isso nào inplicavâdc mâneira alguma a cxclusáode um elemento dc mistório, um clcmenio incxplic.ável, só que esse inexplicável ia ser reduzido ao mínimo e somcnie àquilo que estivesse no Evangelho.Vocô náo vai inventâr [ovos mistéÍios, Se tem ponios ali que Deus reseúa â explicação parâ si, entáo não seria nem um pouco râcional você ientar explicartudo. Para explicar orestojá cstádificil, quanto mais esses pe- dêços. Por oütro lado, esscs doi s pressupostos implicavam, para os que trabalhavam nessa obra, â adoçáo de uma certâ técnicâ, e esta técnica escolástica é iustamente o que vâi criar o modelo das sdmas. As sumas são sempre organizâdâs :tssim: tcm-sc a colocaçâo do problema na forma de uma pergunta; as várias altcrnalivas, as várias respostas possiveis;os aÍgumentos pró e conÚa cada uma;â soluçáo do pmblcma; e aí se tem a cítica final das soluções quc foram abandona- das, que íoÉm impugnadas. Cada capítulo de umâ suma é organizado 74 ,r\siIr, e à conclusâo final entáo servirá depremissa para demonstrâções Iistc proccsso é chamado de clarificação, de esclarecimento, de Irancirâ qucaquilo que esiá embutido seja desdobrado e exteriorizado (lc lgurn modo, sempre pclo método dialético da confrontaçáo de al- tcnrativâs, que ou se sintetiza numa tcrceira, ou se coÍtâumadelas, ou sc invcnta outra, de modo que! aparlirdâs primciras questoes, as qües- locs seguintes vâo se ramificando. Por exemplo. se vocô pegar a § rfl contra os Eentios, que é marâvilhosamcntc organizada, Santo Tornás vai oolocâr ali um prim eiro capítulo sobre os primcims principios, sobre Dcus, a etemidâde, o ser; depojs vai desrendo para qucstôcs câda vez mais dctalhadas e particularizâdâs sobre todos os princípios secundários que estruturam isso, até chegar em questõesdâvidâ prática, moral, etc. Iudo isso linha que estar articulado. Náo é um discurso lineat porquc há diversas questoes iniciais. Essâs questões iniciais se entremesclam, depois âs conclusõcs vâo sendo mescladas, e a única imagem fisica que se pode lâzer disso ó iustamente a imagem do que surgemaistardc como arquitetura gótica. A arquitetura gótica tambóm: sc você partc do topo da catcdral, vê que ela se eslftturu como unr processo dc ramjticâçáo, dc desdobra- mento, como se fosse um quadro sinóptico, ullla c()lunâdc châves;tem uma chave âqui, temoutra ali, c as duâs sc cnlrctnt.sclam no mcio. isto terá conseqüênciâs, mais tardc, tarnbior na inrâginâçâo musical, na concepçáo do espaqo, no§ gênercs lilcrári(,s, clc. Veia, aindâ raciocinamos dcntm dcssc esqucnrâ. Ttrdo isso, todo esse edifício está pressuposlo, por excnrplo, na oryanizaçáo das nossas gÉmá- ticas, está pressuposto na organizaçâo dc q ualq ucr cstrutura empresarial, lsto é realmente a espinha doÍsalda humanidade. Se você quiser sãbcÍ por que a civilizaçáo do Ocidcntc sc impôs a todas as demâis, é só por causadisso. Ela tem unidade or8ânica, as outras náotinham. Isso queÍ 25 dizer que, mesmo depois da Reforma, do Renascimento, mesmo depois de uma ampla descÍistianizaçáo do mundo, ainda estamos dentro dessa oÍganicidad€ escolástica e gótica- Nao sei o que âconteceria se isso fosse perdido ou esquecido de todo, mas na passagem parâ a Filosofia Moderna obseÍamos iá àlgu- mas catástofes cognitivas que suagem da perda de p€rcepção dessa organicidade. Essâ perda, evidentemenle, nâo é vista como tal pelos personagens que a üvenciâm a explicaçâo que eles dâo do que está acontecendo é outra completamente diferents- Só para adiantar o expediente, só pâra dar um exemplo da trânsiçáo do escolástico para o modemo... PaÍa compreender uma certa filosofia, nada é mclhor do que você ter idéia do que veio antes e do que veio depois. Vimos um capítülo antes, e, âgora, se pe.guntarem: 'rE o câpÍtulo seguinte?". No capitulo scguinte se tem o contrastc. A Escolástica, segu indo Aristóteles (adaptândo-o c aperfeiçoando-o cnoÍnremente, porque as cxplicaçóes de Aristóteles também sáo enor- memcntc compactadas e obscuras), nos comentários de Sânto Tomás de Áquino â Aristótcles, que é talvez a melhor obm dele, Aristóteles aparece todo organizado como uma igreia gótica. Você tem mil chaves, as châves váo se entremesclando... Ou seia, aquilo tem uma estrutura poliíônicâ, na verdadc. É cunoso aié o sujeito falár dc polifonia, porque durantc todo o peÍíodo gótico o canto ó o gregoriano, que é monofônico. Mas a arquitetura iá era polifônicâ, entáo a polifonia iá estava dadâ nâ estrutura da igreiâ. IÁluno: (.-.) o senhot chama tafihitfi de poliíonia nesse caso, nào é?l São várias melodias simultáneas que têm que se articular de âlgum modo. No cânto gregoriano, o coral podia teÍ mil c quinhentas pessoas, iam lodos canrar eÀâlâmentc â mesma nelodia. 26 i^luno: Mrs (...) essas üátias melodias üessupôetfi que sejam ot\!fiizadas de ocotclo com essa u ídade? O suieito mais alto parcce que (...).1 Sc náo tiver nenhuma conexáo entre elas não soarácomo polifonia, mâs apenâs como mixóÍdia. O pessoâl âté tcntou no sécülo XX fazet nras náo dá nadâ. [Alrro Mas essa conexao (...) é (...) hie iryuica e...] Veja, se você tem várias mclodias, tem essas váriâs chaves, e elas vão se entremesclando; tem umâ mclodia aqui, outra aqui, outm ali, mas dentro váo se misluÍâr VoLê podc até tocar, por exemplo, uma cm seqüência à outra: toca uma, dcpois toca ouira, dcpois toca outra. Diz: 'Agora vamos misturâr para vcr no que dá'r. É exâtâmente assim, é como você ter as várias torÍes dâ igreja; sáo as várias chaves que váo descendo, mas lá pâÍa baixo clas váo cruzar Antes de dar esse exemplo é preciso dar mais üma explicaçáo: esta unidadc orgânica do pensâmento cristáo ó obtjda também graçâs â um fator sociológico, que é a organização dâ vida intelcctual na época. À câstâ dos intclectuais medievais era constilu ída inteiramente de pessoas dedicâdas a esta funçáo. A coisa era tão complicada, 1áo complicâda, que se tinha que estar continuamcÍlc rcciclando as novas geraqoes para prepamr novo§ individuos para continuâr aq!ilo. [iâ uma cspécic de uma gigântesca polifonia doutrinâl qu(.podifl continuar por muitas geraÇÕes, e que de tato continua ató hoic. Aos poucos, os procedimenlos para o troinanrcnto e a preparaçáo dessa gente acabam adquirindo uma ccrtà unidâde e marcando o estilo de pensamento da época por unl ccrto estilo de vidâ intelectual. O indivíduo que se dedicava à vida intclcctual tinha que ter basicamente duas hâbilidades, duas qualificaçÕes: primeiro, iinha que ser um cristáo, ou seja, tinha qüe ter âlguma vivência diÍeta daquilo que se falava na doutrina cristá; em segundo lugâ4 ele devia ser um técnico de leitura, porque o material todô com que se trâbalhava eram t€xtos. A interpre- taçáo do texto à luz da inspiraçáo crisiá que sc recicla âtravés da prece, da vida cristã, etc., essa é a ocupação desses indivíduos. Eles só fazem isso otempo todo, portânto, havia desde logouma imensa comunidade de obictivos pâra todos eles, o que também significa que todos sabiam do que todos estâvám falando. lsto só aconteceu nessa época, Se você pegaÍ as elites universiririas de outras épocâs, isso não âcontece de mâneim alguma, euer dizerque, seexisle, poÍ exemplo, uma discussáo entre o teólogo eo heresiârca, os dois se entendem peúeitamente. Se entendendo teoricâmcnte é possível a prova. Veja queâ condenaçáo dc um indivíduo porheresia só se faria depois dc esgoiadas lodas as possibilidades da persuasáo racional. euer dizcr que, só sc o indivÍduo náo se rendia à argumentâçáo racional, aí sim eles diziam: "Entáo o cara é obstinado, náo adianta conversar.. Temos quo nos livrar dolc!". Isso também quer dizer que a arie da intcrpretaçáo de tcxtos chegâ aí a requinies que hote as pessoas iá não consegucm imaginâr por excmplo, a interyretaçáo de uma únicâ sentença do Evangelho pode se prolongar por milhares e milhares de páginas, e aquilo náo se esgota. Náo se esgota mesmo. Por outro lado, tudo aquilo vai esiar âÍiculado com outm interpretaçáo dc outra íÉse, e assim por diante. Há um esforço pernanentc de unilicaçáo de todo o conhecimento na alma do própdo teólogo, islo é, do próprio cristáo.Isso é FilosoÍia no seu estado mais puro, é â unidade do conhecimento na unidade dâ consciência e vice-vcrsa.Isto se observa em todos os filósofos (do período), todos, sem exceçáo. O fato de que houvesse uma lÍnguâ internacional c o fato de que as universidades se compusessem de um público que vinha dc vários países, de viírias classes sociais, fâzia também que a âquisição da con- 2A ,ll\ri, dc estudantc, dc intelectual, cortasse os laços do indivíduo com ir suâ r)r'igem social.  partir da hoÉ em que ele vestiu o uniforme de cstudante, ninguém mais peÍguntava de onde ele vinha, qucm era seu p ii quem em sua máe, se em nobre ou mendigo, se em da França ou lla Alemanha. Tinla é que mostrar que era capiu de uma convivênciâ dcntro das normas da vida estudantil e intelectual Quândo tudo isso não se destaz no mundo modemo, mas é aban- donado por uma parte dâ intelectualidadc em favor da vida inleleclual LoÍÍo lrcelancet, é evidente qüe â primeira coisa quc acontcce é que se pcrdc a possibilidade do diálogo internâcionâ|, nào sc tcm mais isto. E isso acontece tustamente quando surye uma nova intelectuâlidadc já náo universitária, mas palaciana, dâ qual fazem partc Dcscartes, Ma- quiavel, Thomas Hobbes, etc, Eram ou âristocrâtas- como Descarte§, ou servidores da classe aristocrática, como Maquiavel e Hobbes.lá üüâm num ambiente completamente diJerente, e, evidentementc, também as suas regras de convivência com as pessoas eram muito diferentc§. veja, por exemplo, que qualquer livro de filosofia medieval que você ler começa, geralmente! com umâ invocaçáo a Nosso SenhorJesus Cristo, à Virgem Maria, alguma coisa assim. A pârtir do século XY XVI, os novos livros de filosofia comcçam com u,n exóÍdio que em gcrâl é ba- jülaçáo de âlgum rei, nobrc ou príncipc, alguórn quc dcu dinhciro paÍa o sujeito escreveÍ aquilo. Basl isso parâ vocó dizcr: "Virou bagunça"- Começou aí a corupgáo. Náo havendo mâis a condiçáo do diílogo irtcrnacional, não se lem mais a íiscalizaçáo sistemática. Náo sc podc csquccer que, dentro da universidade mcdieval, o que quer qüe se disscsse cra dito parâ todâ a congregaçáo, eniáo ia aparecer m uita gcnto discordando e reclamando, e a algum acordo ia ter que se chegar ali. Àté quesechegava... Osu,eito, quando alcançava a culminaçáo de sua carreira de professor, erâ conüdâ- do a fazer uma sessáo do que eles chanravam q,restiones quodLibetalesl 29 o suj{jit() ticâva ali nâ Irente de ioda a congregaçáo - professores e cstu- dânlcs- e tinha que responderbem â qualquer peÍgunta soble quâlqueÍ coisa. Era uma monstruosidade, evidentemente, todo o conjunto dos conhecimentos quehâviaali, o sujeito iinha que demonstrar que domi- nava, É claro que era um universo de conhecimenlos mais limitâdo do quc hoie, mas mesmo assim era um negócio monstruoso, As ptóptias q estio es quoilLibetales mostravam a unidade de prc- ocupâção da universidâde. Univenidadc não qucria dizer outra coisa senão o conjunto dos estudantes e professores. Mais tarde vai-se inter- pÍ:lar como tlioersitas literarum et scíentiatum (universalidade das ciências e dâs letràs), mas isso é un sentido posterior. No começo, uni- vcrsidadc quer dizer apenas "o universo de estudântes e professorcs". Os novos intclcctuais que surgem dentro da casta aÍistocrática náo perlencem â cstc univ.{so, c o público a que eles se dirigem é em geral mcnos qualilicüdo irt(l(.cluülm(nt( do quc cle\. I unr publico quc lcm maisdinhoiro, Inas lcü mcnos quâlilica(ão inÍelcctual. Entào, oconvite ao charlatanismo aí iá ó imediato... Basta isso para se ver que a Filosofia Modernâ não pode sel sériâ eln relâçáo à outiâ, é impossível scr; mas podia pclo mcnos ter salvo as aparências. Para teridéia de como é que â coisa muda repentinamenlc, você pode comparar, por exemplo, a teoria da pelcepção que os escolásticos defenderam a partir de fuistótclcs com qualqucr das teorias da percepçáo que aparecem em seguida. Sobre apercepçáo, os escolásticos c Aristótcles diziam quc todo ob- jeto tem em si, articulâdâs) uma multiplicidade de lbmras sinultâneas. Por exemplo, se você pega um sapo, ele tem a fomra cspacial de sapo, e por isso mesmo ele tem, considerado num outro plano, a forma visível de sâpo. A forma visível não éâ mesmacoisaque a formacspâciâI, mas cstáo juntas, náo sáo separáveis, Ao mesmo tempo, ele eÍrite um som de sâpo, e se você o fritar e comer ele vai tcl gosto dc sapo- Esses vários aspectos -o espacial, visíve], auditivo, tátil, etc. sâo as váriâs formas 30 .Ijr snrtosc inscparávcl compõe o objeto. No quc consiste a perccpçáo? (\)nsistc âpenas na coÍreta leitura dessas várias Iormas, Se você o toca, scntc o lormato cspacial de sapo; se o vê, interpreta aquilo como sâpo. So, no lim, você icm idéia de que é um sapo, isso ocorre por quê? PoÍ_ quc, alóm de teÍ todas as formas sensiveis, ele tem a lbÍma intcligívcl do sâpo, senâovocê náo inieligiria que é üm sapo. Sepcrcebeque éum sapo, se percebe que este se enquadra nun conccito assim, é porque a forma d€le é o coüespondente obietivo do que este conceito afirma. Veiaque, no meio dctodoo prucesso sensitivo, exisic a inteligência- É a inteligênciaque intelige a íorma inteligível. Abaixo dela, há âs várias oulras capâcidades que também são intelectuais, aseu modo, que tam- bém sâo inteleciivas, a seu modo, que sáo capacidades de vocô apreender cssas várias folmas articulâdamente num mesmo obieto sem esquecer que vêm desse mesmo objeto. Aí você tem o desdobmmento dâs suas faculdades nosvános sentidos: a visão pega os aspectos visíveis, o tâto pega os aspectos espaciai§, etc.; ao mesmo tempo, o primciro nível da síntese é simplesmenie â rcuniáo de todos esses scntidos num obicto único, e a isso eles chamam "o scntido comum" «) se s s cofiu is), que iá é um rudimento da intcligência. Á teoria é bastante clegante, e de fato náo há nada que possa der- Íubá-la; qualquer oulrâ coisa que você acresccnte, náo vejo como.,- Náo creio que seja negável, por exemplo, que os seniidos próprios como úsáo, audiçáo, etc. não captam as formas correspondcntes aos outros sentidos. Ou seja, o olho não ouve, o ouvido náo vê, cada um só pega o scu. Então, como é que você sabc que tudo estáno mesmo objeio? Evidentemente, é porqucvocê tem a capacidadede fazcr isso se você pega é porque pode fazer isso, Não sabcmos como funcio- na, mas sâbemos que esta função existc, c a isto eles chamavam o se süs con1ul1is, qu,e é a identificâçáo dâ fonte unitaria dos váÍios 31 Em pdmeiro luga! isso quer dizeÍ que Àristóieles e o§ escolásticos viam o processo de peÍcepçáo como um simples processo de iaÍormaçáo: entrada de infoÍmâção e sintese de infoÍmaçóes. Isto foi muitas vezes irabalhâdo e Íetrabalhado em müitas versôes diferentes, cada vez mâis elegantes. Derepente, apârece Thomas Hobbes e diz: "Istoé tudouma besteiralO queacontece é o seguinte: o objeio da Percepçáo pÍessiona o nosso corpo. e o nosso curPo de dentro reaSe a pressao. E assim que se dá a peÍcepção". Por exemplo, se vocô apertar o seu olho, vê üma luz; se apertâr o ouúdo, ouve um som; quândo ouve um som de fora é porque você está sendo aportado. lsto é o que na fâse modema se chama uma "teoÍia da percepção". Mâis ainda, ele diz: "Os estímulos que vêm do objeto apârecem em você como representaçôes. Se um obieto aper- tou seu ouvido, você ouve um som, mas o som que você ouviu é uma representâção. Esta reprcsentâçáo não está no objeto; o som que você ouve nao é o som quc o objcto cmitiu, porqüe sc fos§e o som do objeto ainda cstariâ nele e náo cm você. Portanto, em Princípio, náo há muita rclaçáo entre o quc você oúve e o som quc foi ouvido fora"- Mas isso nâo é üma coisa sóda. E as pessoas até hoie estudam isso como se lbsse uma coisa digna de atençâo, quando é evidentemente umâ bobagem! Mas é umâ bobagem exprcssa, âssim, com um tom de superioridade: "Náo, aqueles cams vinhâm com aquelateoriâ da forma, chamava espécies, que é da teoria da espécie, isso é tudo uma besteirâ, na verdâde é assim: aperto seu olho, vocêvêumâ luz, puxo sua orelha, você ouve um somi e) mais aindâ, o som que você ouviu náotbi aquele que emitiu! o som que e§tá em você não é o mesmo que está no objeto, porque se estivesse Iá você não teria ouüdo nada". E assim vai. As teorias de Descartes náo sáo melhores do que essa, Isso é paÍâ vocês terem idéia do que é uma catástrofe intelectuâI. Quando se passa de um esforço coletivo orgânizado durante séculos, com milhóes e milhões de discussões enormemente cuidâdosas, para de 32 repente um sujeito que lá no castelo do conde tal inventou um náo-sei- quê, e quando teve dinh€iro para publicâr o livm ele publicou. Só posso entender isso como uma promoção de uma pseudo-intelectualidade, promoçáo pÍoposital feita pela casta aÍistocrática para ver se disputava um poucodo espaço com o clerc. só posso €ntender isto. 'Ah, ele§ tém üm monte de intelectuais, vamos arrumâr uns tamhém. Pega uma grana aí, tem um tâl de Hobbes, dá um dinheiÍo para c|e...". E, evidentemente, sempre apareceráo pessoas talcntosas e ncccssitadas de dinheircque aceitaráo isso, ou entáo algum aristocÍaiâ pode semeter alazersuas própriss especulações depois qüe se aposenta, como, por exemplo, fez Descartes, Tendo este antecedcnte, este conseqüente da Escolistica, vocês iêm reâlmente uma idéia do que foi isto e da força estruturante que isto ainda tem residualmente em todas as nossas discussóes- Isto tem mais forçá do que qualqucr Filosofiâ Moderna, porque nenhuma delâs abarca um universo assim tão grande. Só podemos encontrar um paralelo de esforço coletivo pÍosseguido ao longo de tanto tempo no marxismo. O marxismo tem 150 anos mais ou menos, c cle é umâ colctividade organizada que está [alando mais ou menos das mesmas coisas. Náo deixa de ser uma escolástica, à sua maneira; é um esforço filosófico ao mesmo tempo pessoal e coleiivo, da parte de câda um, e nâ qual c:rda um, pariindo de suâ experiênciâ, de suâs veÍificações pessoais e de sua própria busca de unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa, propóe algo à coletiüdade, que lhe devolve com correçóes. Neste sentido, o mârxismo é evideltemente uma escolásticâ. Uma outra seria a psicanálise, Mas é evidente que nenbuma dessas tem seja a amplitude de assunto scia a clovação dc inspiraçáo, e muito menos tem a perfeiçáo técnica e â honradez intelectual da Escolástica. Isso quer dizer que ainda dependemos da Escolástica, e para toda a humanidade, quer saiba, quer náo, ela amda ó o ponto de referência. 33 Não a Escolástica consid€rada como conteúdo filosófico, mas como forma de organização da atividade intelectuâI arraigada, por um lado' na realidadc, na expeÍiência efeiiva, e, Por oütro lado, elaborada num ediÍicio doutrinâl comum. ÍAluno Efi estudo ila Wrcepção'. captamos os obieÍos a paÍti de al|umas categolias perceptiüas, nào é? E essa...l Essas âfirmâçôcs - por exemplo, "câptamos a parth de certas ca- tegorias cognitivas" , quando Kant diz isto, o que ele está fazendo? Qualquer escolástico concordaria perfeitamente com isto, mas acres_ centaria iflediatamente: "Você captâ de acordo com certas categorias p€rceptivaq porque o obieto emite de acotdo com certas categoriâs emissivas". Quâlquerescolástico mata a isso na primeira. Ou seja, você só podc captar aquilo que está na suâ estrutura de percepçáo, porque o obieto só podc emilir aquilo que está na sua estrutura de emissáo. Se um sapo quisercântarcomo um rouxinol, ele não pode- Esia informaçáo auditiva ele náo passará para você. lAluno: E isre uma lei de incerÍeza--. Pot exefiplo, os cães (...) ttào têh a especulaitlade, eles não cofise*uefi perceber qüe eslõo em Írcnte a üm espelho (.--), então eles aêem alqo parciaL A ge te não Wderia estat (...)?1 Esse é um dos motivos pelos quâis você tem o cachorro, e nâo é o cachorro que tem você- Quando você pcga um animal que tem uma limitação perceptiva que você não tem, e ao mesmo tcmpo vocô pode ter uma limitaçáo que ele náo tem, a qual dos doi§ incumbe saber disso, avocê ou ao animal? IAlDno: Vejo mais, has ôo eteistiiam uisões, oisões mais compLe' Ías, mais complexas, fiao (,..)?\ 34 N4as claro que existcm, ó cvidente que existem! Se aparecer ali um anjo, clevêvocê, vê o cachorÍo, entende tudo que você está percebendo, o que o câchono está percebendo e a articulaçáo dos dois, etc. Mas, note bemr tudo isto pressupõe uma estrutura não somente do sujeito, rnas também do obieto. Ou seia, a idéia de formas a priotí dà percep- çáo, só existem foÍmas, prioli da percepçáo porque existem foÍmas 4 p/íori da emissáo. O objcto para o Kânt nen existe, ele só pcnsa no sujcito. Esie é o problema qüe estudaÍemos quando cntrarmos Da Filosofia Moderna, que é o problema da prio dâdc cognitiva do suieito, que é uma das rnaiores cretinices queâlguém iá pôde terpensado ao longo dahistóriâ - você achar que o sujeito é ceúo para si mesmo e o objeto é apenas um lenômeno que se apresenta a ele- QuâlqüeÍ escolástico de décimo quinto escalão, táo logo você dissesse isso ele iá perguntariar "Mâs como você poderia ser sujeito sem ser obicto tambóm?". Você náo pode conceber o sujeito em si. Vamos definü: sujeiio é aquele que recebe a informaçáo- lsso náo é um raciocínio que se encontra em ncnhum Íilósofo escolástico, mas que faço partindo dc uma inspirâçáo quc scriâ aristotólica - náo ianto escolásticâ quanlo aristotélica. Quc diria Aristótclcs se cstivesse ouvindo uma coisâ dêssas? Ele diria: "Muito sjmplos: o suicito é aquele que re- cebe a intbrmação e o obieto é aquele que a cÍtilc". Você podc conceber algum ente que somente receba informaqocs scm iamais emiti-lâs? Ou outro que só as emita sem jamais reccbô-lâs? I mpossívcl, hein? Portanto, tudo aquilo que é suieito sob ceúo aspccto c obieto sob outro ou sob o mesmo aspecto, se você tem estroturas 4 2/rori do conhecimento cnquanto suieito do conhecimento, vocô também as tem enquanto ob- jeto, e é por isso que posso falar das suas cstru{uras- Nessemomento iá estou transfomando-o em obieto. Estou descrcvcndo as suâs estruturas a pro do conhecimento, entáo, paÍa mim você é objeto. Você dizcr que a coisa-cm-si é inacessível, ela é iâo inace§sível quanto o sujeito-cm-si, o que Santo Agostinho iá tinha percebido. É]e dizia; "Isso é acoisamais simples domundo. Nâo sei tudo a meu rcspeito". E se você não sabe tudo a seu respeito, também náo sabe â lespeito de um sapo. Mas isso faz parte da sua estrutura e faz parte da estrutura do sapo tambóm. você náo pode saber tudo a respeito do sapo por quê? Porque o sâpo lambém não pode marufe§tar tudo o que ele é simultaneamcnte. O coitado dô sapo só pode emitir certas informações a cada momento Ele tem uma forma de existência tempoÉI, náo tem a simultaneidade da mânifestaçAo; portânto, ele náo pode ser conhecido na suâ inteireza Por outÍo sertemporâI, pois ele tâmbém nâo exisie em sua inteieza. Entáo' se você náo sabe tudo a respeito do sapo, issô náo é uma deficiência sua, é uma deficiência do sapol E o conhecimento que você tem dele é limitâdo porquc elc é limitado; portanto, esse conhccimenio é perfeita_ mente adcquado à Iormâ dc existôncia delel Isto aqui qualqueÍ escolástico perceberia no pÍimeiro momento. Mâs acontece que, quando Kânt abre a boca para falar desse negócio, os escolásticos jánáo emm mais escolásticos, eram e§colásticos já con_ taminâdos de racionalismo clássico, como Christian WolÍf, que era um escolástico meio espinosano, meio cartesiano. Náo eram mais escolás- ticos de verdâde. Mas se fosse Santo'Ibmás de Aquino, nem precisariâ pensar, dormindo ele diria isso: "Olha, aüsa esse idiota qüe é assim, assim, assim". Ele náo conhece o sapo_em-si porque o sapo tamÉm náo está lá em-si! Como é que o sapo iâ estar_em_si, que sapo é esse? O sapo teria que estâr presente com a totalidade dos seus momentos num só momento. seria o suPersapol ÍAl!ji.a: (...) exíste sentidos q eo cao tem, de audiçAo, qüe ào Íemos, fi,áo é? Sons que escapaian ile nossos (...) . EnÍão tafibém seia peigoso a Ce te subestimar a capacídaile ile outro ser achanda que ele tü ' t;cupazile alguma caísã, poryüe aí ós é que estatíamos itcolrcndo (t üro. Pode ser que ele seia sen§íztel e não Wcebenos.l Isso, só que sabemos disso e ele náo- A única difercnça éa seguints (islo iá está na Bíblia): todas âs capacidades que os animais iêm sáo lincares, elas váo numa certa diÍeçáo à custâ da perda de outras; o único bicho que sintetiza tudo isso é o ser humano; de caaa, o único bicho que sabe da existênciade todos os demais bichos é o ser humano. Por exemplo, as minhocas jamâis soubeÍam da existência de elefantes, ncm sâberâo; os elefantes náo existcm para elâs. Este é o conceito do von Uexkül|, um biólogo: cada bicho vive num círculo de experiências üuito limitado e determinado que se chama seu urn za,elÍ, o "mundo em tomo", e nesse mündo em torno só tem um certo número de coisas. Enxetgalx,os o umwelt de cada bicho e enxeÍgamos aquilo articulado com o de outro bicho, outro bicho, outro bicho, e tudo isio e§tá em nosso rrraulÍ. Pode haver criaturas superiores  nós, mas de naturcza espiritual que enxerguem mais; dos aninrais viventes, nós é quc cstamos enxergando mais. Enláo. o que estào achando ruim? É cla(, quc unr lobo, por exemplo, pode teÍ muito mais faro... IAhf,nai O senhot e te ile a pelcepção como uma intqraqao dc ptuces\o, q e ilas sefisa@es geÍam-se imogens, das i age s Eeru-se a percepção? Sensaçoes auditiaas Seram imaqens audiliaas; sensaçoes gustaÍioas, íma,ens gttstatiÚas, um co junto ile ímaqen| que os sefi- lidos ptoporciona ?l Logicamente explicado é assim, mas a estrutuÉ lógica de um pro- cesso náo é a sua €strutura reâI, poÍque você vai ter que desmembÉr os vários elementos paÍâ saber dislinguir, No prccesso real ludo isso vem mislurado. Dizemos: "Há lá as sensaçócs. agru pzüTros âs sensaçoes, etc.". Isto sena assim se você pegasse um processo que é instântâneo e o desdobmsse, fizesse uma espécie de câmera lenta. Essâ é ap€nâs a 37 cÍrururâ lógicâ, nào é o proccsso rcal. Essâ é outm conlusáo quc nenhum escolástico lãria o que ú a cstrulura dc um proccsso com o que ó a sua realidade temporal. Tem- poralincntc, tudo isso é quase simultânco. fâz se ludo isso âo Drcsmo tempo Não vou ter primciro a seDsaçao dc mariclâda no dedo pârâ dcpois peÍceber quc dei umâ martelâda no dcdo, pelo amor dc Deusl Voce iem a scnsação no mesmo instantc em quc tem a pcrccpçáo. Mas que são coisas distintas, sáo. O ialo da martclada no dedo é distinio da dor, claro, só que se percebe como síntcsc. Então essc proccsso - vai üâs scn.â(o(. pura i' flndgcnr ctc. .. nLrnca p(n\r qLrc a\ c,,i\a\ ruo reãLncnte assilni elas são csqucmaticamente assim. Todo csse esquema se dá dc fato dc mancira quase siÍruliânca e absolutamenle inscparável, porquc ô isso rrcsmír {lue nos dá a vivênciâ do quc ó 'rcalidadc": é a inscparâbilidàdc dos âcidcnlcs. lAlüna: U ú ouh'a peryunta. ptuíessor, para podet esclarccer uttl pouco mlis. que é unl assu lo mttila Íot'le, nàa é? Thúe uút mo efito en q11e o senhor critícou a ttoçáo de repÍesetúaçAq no settlíào de que o obielo fiAo está rcpÍesentado Íto sujeito, poryue ele lldo podeia eslat defilrc do suieito, poÍque eLe (.. ) entrar no s jeilo aaí causar Vcia, qualquer um dc nós percebe claramentc a dilerença enireoquc é u seÍ e a rcprcscntação dele. Por excmplo, o que cstá prcscntc aqui na minha frentc sáo vocês ou são suas repft:sentaçócs? Posm ltchâr os úllro\ ou pn.\o ir ar. a c,qu.n3 ( con\crvar srras r"pksrnlrcL,r\. trra§ i§su nao os colocará presentes âli em pcssoâ, e âqui vocÔs cslão prcscntes cm pcssoa. Como é que conscguimos perceber csiâ difcrença se tudo que caplamos sáo rcprcscntâções? Você icr u'na reprcsentaQão ó uma coisa, tcr uma percepçào é outra completamenie diÍ'crcn1e. Mâs se você rcduz tudo a represcntaçáo c, pior âinda, se disser: 'A rcpÍeseniação rsrrisónasuamenlc, naolcmnadâavercomunr eslímulolora, cnlao você eslá é úuilo doido, porque sc losse assim náo podcria n(rnl dizer o quc cstá dizcndo. E isto o que clÉmopd,?lare. A parulâxe é o següinle: o sujcito cstá dizendo uma coisa que pelo iato dc clc dizcr para podcr dizer ele tem quc saber quc Dâo é âssini, senâo náo conscguiÍia nenl dizer llntão elc cstá muito doidol Está vivcnciando uniê cl,isa. mas est:i diTcndo outrâ coürplctarnente dilerenlc Vejâ: o suiLrito rcúnc urra plalaia dc pcssoâs rcais cdiz: "Náo hápcrccpçàodo rcal, s(i rrprcscntaçi(i' M s paraqucrlr vocô cstá dizendo issdl Pirrà nirssâs rcprclcnlaçocs r,!r pârâ rxls? Sc a para nossas rcprcscDla(oe§. voca ncnr tÍccisaÍiâ tcr vindo enr pcssoa. Marldassc â sua represcnlaçáo. Você está entcndcndo? Cá enirc nós, vocês podon achâr quc sou (\ug(rdJo. nrcs püra rr,rm toda d Filosôfra \'loJcrna rcrn crü({dr'. r'urrrr palhaçada. Eu. aos 50 ânos de idâde, lui chegando a esta conclüsão. N áo queria âcrediia! lãlava: "Nãoé possivel, istoécômico dcmais parâ ser verdâdeiro. e ao nresmo ienrpo é trágico. Náo podc sci . Mas. olhe, não vejo escapatória. l{lúna: A pessoa pe e a tloçàa de quc a ?.rpeti4n.iarcal, colrcÍela. loneceu-lhe os elzntentos para ela podet lrabalh.ü cofi a ifiaqitúçao c a nenlótiít, e Íiüi só coü a itta\i qaol Lln rai paru unl pLano de ifiaqi fiar o que ntto pode e sai (... ). I ÉissomcsmolFicâ só coln a imaginaçio eâ menróriâ, troca os enles por suâs representaçoes. Vcja. por cxemplo: sc o Kant diz _â coisa-cin-si é inacessível". csculc. o livro do l(ant cm-si é âccssivell' Isso aqui é a lilosoiia de Kant ou é âpenas o seü aspeclo lcnonranico? () sirrpics fâio dc sc cs- crever unr livro já dcsmcDtc isioi A câpâcidâde qu{-'esse pessoâl iinha dc sc transpor a um mundo hipotútico e dcpois, em nome delc, ncgar o próprio mundo no qual sc instalou parâ poder fazer a hipótcse, clâ é âbsolutamcnie fantáslica. Íl\lrno: Titlha, nào tem?l Tenr ainda, porque esse negócio virou um vício. E hoje quâse que lâmcrlo o tempo qüe peÍdi estudândo csse lilósolb. Não precisava mais do qüe qüinze minutos para cada um. ÍAlüra: O senhar acha que Nieízschê aai (...) do reaL, assim?l Ácho que ficaranl maLucos, náo posso chamar isso dc outra coisâ senáo maluquice. Por quepodiam fazeÍ maluquice? Porque eram caras quc filosoiàvam sem iiscalizaçáo, cram amâdores, não linham uma coDlunidadc organizâda dc gcnte habiliiâda para cobrâr. Dcscartcs cscrevia:'Ah, agoravou lá lcr pâra a minha Criíina da Suóciâ". O que a rainha Cristinà cntcDdc dcssc ncgócio? É oulra idiolal Apcnas icm mâis dinheiro. Qucro dizcr: "Vocô fãz succsso com isso no mcio de um nronlc de rico booó e acha que é grande coisa. Você a um trouxa e enganou outro unr pouco mais trouxâ. Agorâ, pega um bando de caras habilitados e explica isio a eles". O fato ó o seguinte: â separaçáo socioló8ica dessas categoÍias de pessoas era táo profunda quc já náo havia mais um escoláslico que se interessêsse cm cxaminâr isto. Nê época ainda haviâ cscolásticos, na época dc Descaíes hâviâ escolásticos muito habilitados, as nâ Espanhâ. Enláo, até Descartes chcgarna Espanha, isso lcvou nrais dois sóculos Mas, imagino, oqucdiriaum FranciscoSoarcs lendo Descartes? Acho quc iâ dar risada. Náo posso conceber outra rcaçáo polsÍvel. potque são erros absolutamente pueris. Tudo isso é o fenômcno da parala-xc. Vai vivendo e aprendendo, náo é? l{lúno: Mas eles conseguiam co tafiinat o rneio utiaercitario. ) 40 Claro. claro I TYôs séculos dessabobagem só podiam icrminar lnesüo r,) malxisn1o, nessacoisatoda. Eu diria assim: é unla câtástrole intelec- tual loÍÂdo comum. Mas isso náo querdizer.. não podemos idcalizaro pe ríodo cscolástico. Por qüê? Porque dentro dele você tinha as sementes (lcssa cojsa todâ já. A idéia mesma dcvocô fazer oma exposição uniiá a r sistemática de aoda a doutrina, poÍ un lâdo. é uma idóiâ rrajcslosa, I)âravilhosa, mas, c se náo der parâ Íâzct isso? I1 sc a paricquc devcsse scr dcixada ao mistério e à expcdôncin dircla dcvcssij ser um pouco nrâior, como lbi ieito na Igrcia OricDtâl'l làlvcz iLrtrciurassc nrcllxn: Você náotem uma suNa nâ lgÍcja Oricntâl A Igrcjâ Oricnlalconli n ua na lâsc patÍsticâalé hojc. sa)escrcvc sobrc aspcctos delemrinados. "Viu, vamos aqui rcsolvcr todos os problenas da origem do mundo, o pÍoblema dacultrrâ, dâ hislóriâ, iudo, tudo baseado na Rcvelaçáo cristã" - clcs nunca tentâram fazer isso. É isto: "Vâmos pcgando os problemas à nledida queeles âpârcccm". Evê-seque, ao longír dos tempos, algrcja Oriental sobrcviveu mclhor do que a Ocidental. Ela sobrcviveu melhor âo comunismo do que a nossa sobrevivcu ao capitalisnn,. Eles sobrc- \ i!11n melhor i porrrdà do quc ao dirh( iru: l'l p rqu. rlrurrrrr li,rçr a mais tsm, talvcz tcnha LrInâ Ilcxibilidadc rnâi(n tnn'quc... NuDr nruseu nâ ltáiiavem iudo mislurâdo: "listá uqui unr quadro do sóculo XV com unrâ eslátüâ do século ll. c dai... '. lir dissc: "Mlls c il5sinr rrcsoro?". E o guia dissc: "Essâs coisas prccisârrr dc (rrr porc(, d. coDfusáo". ^ Igreia O entãl também, essas coisas prccistur dc unr poLrco dc conlusão Por quê? Porqüe é mais fácil pcgâr a roisa às v./cs p( n inspiração poótica do qüe explicar iudo; cxplicar tudo vai lcvlr rnuilo lc po.Aliás.csseéum dos princÍpios do esoterismoi "Não cr pliq uc nada. Você d;sse. Iintendeu, entendeü; não enÍendeu, cntcndcssc'. L oulra via possível. lÀlr]Ji.a: Essa idéia de leprcsenlaçào tantbénl ntto deoin dÍú .t deti- oa, a possibiLídade de Íoàos aqueles suieilos percebercm de nqneia dilerenle a mesma missato?) 4l E conro é que elcs iam pcrccbcr quc perceberam de manejras dilê, rcntcs a mcsma? Qüe "nrestuâ'i é cssâ? Éclaroque clestêm dc pcrceber dc maneiras diierenles pelo sinplcs tàto de que sáo pessoas diíercntcs, c cstão em lugares diferenies, não podcm ocupar o mesmo lugar no cspaço. Também dificilmcntc tcrão a nlesma idade, a mcsma cstrutura física, etc. Iodo muDdo é um pouco diferente, en{áo, entre â lbnnâ do objctoc a lorma do scu coÍpo eslabe- lccc-seum diálogo que é dilerentcdecadaulll para cada um.'Ah, isso é uma limitâção suâ." 4h, ó? Espcra aí, você nào pode vero mesmo objeto exaiamenie da mesma mâneira quc elc vô. Mâs o objcio tem a capacidâde dc sc mostrar para vocé exatamente da mesma mâncirâ quc se mostra para ele? lirmbém náo tcm. Vocô está vendo? Bota aqui um livro. 'Ab, só cstou vcndo csse lado, o oulro iá cstá vcndo csse outro lado. Muito benl, isso é uma limilâção cognilivâ." É o livro? Elc podc tcr a capa e â coDtracâpa do mesnr) lado? Fllc não podc tâmbónr. llÍtào, esta sua limitação cognitiva ó â lilnitação da cstrulrra do mundo rcâll I^lúna lb rna úelha histótia que diz (...) que dàt di heitu é umacoisa, dar Ík»es é oultít, e o natnorudo queüaí dar a rcso paru a túfiofada é ouÍro..- ()s muiÍos seiíidos que a tnesma...l Senr sombÍa de dúvida. Agora, parâ ser todas essas co;sas ela tem que ser a mcsmai porque se lossem duas rosâs já nâo valcria. l:s1a muttiplicidade dcaspectos 1ãz parte da eslrutura do objcto. Tudo já tcm esla capacidâde de lervários aspcctos e dc mosirá-los de âcordo conl ángulos diferentes. O que ele náo tem ó a capacidadc dc trocar. Por exemplo, você chcga cm casa c tcm lá uma mulhcr Você achâ que ela ó a sra mulheÍ e o seu lilho êcha que é a mão dclc. Dá para 1rccar? Conlo ó quc ela podcria? Ela lambém náo pode. Vocô náo podc irocar de posição, nem cla, entáo clsa náo ó umâ limitação cognitivâ. O que os caras cs1ão querendo nos vender como uma limitação cognitiva é a 12 rsirulura do mundo real, Dcus do Céul Que ú fcilo todinho de aiustes, dc perspectivas entre {ormâs, como iá dizianr os escoláíico§. Um mes- nro objeto é umâ sínlese de ibrmas clilercntcs, irlscparávcis nele, e que sc mostram dilêrcntemcnic parâ obscÍvadorcs ditcrcnlcs en sitüaÇoes dil(r(nle.. ma\ quc rambim ni,', sr,' lÍn lfi\ lAlnlno: Pot acaso o lettà,ttu,Io da Nt tluxc, llner lizado (...), o senhot ^tplica cn passant peh íttlla lo esalí iÍ)debdaacamu i rlade?l Náo, náo explico assiln. digo só: cstâ ú umadas coisas que ieria quc scr lcvâda em considcrâçào. Oul.a acho quc ó a corrupção pura c simples. lsso iá ó a corrupçáo pelâ lisonia, em primeiro lugar Já se lrata de um público literátio para o qual se escreve na sua lingua nacional porquc o idiotâ nao sabe latiIn Trata-se de um público que tem outms cxigôncias qucjánào sáode orden intclcclual sáo. poÍcxcnrplo, da oldem da cli_ quctapâlâciana, essaco;sa toda. Querdizcrquca tnensâgem intclcctual é liltradâ por muitas camâdas dc cxiSôn{ias qlrc â distorccm dc âlgum nrodo. No mcio pâlaciano. podia scr que à elcgância sonoru do cscrito fosse considcrada mais inpoíânic do quc o scu conteúdo, ao pâsso que. no mcio cscoláslico. as pcssoas nem se interessavam por isso. Era um mcio de cie tisias intcrcssâdos em ciência, cm conhecimento. Aí é diferente, c o ncgócio literário e.a fora, cra outro departâmcnto. l{lütto: (...) eru uma coisa tdo Íorle, enlào, ne!úlibafircnle (.-.) que fieparece que tem que ler ais aLgutna coisa aí Ou seia, tudo befi, o suieito efi melido porque nào ha ia pessoí\s itltêrcssodas em (..-)-l Náo, espera ai. o porquô dessc ncg(;cio, isto já é um abacaxi do lâmânho de unl bonde. Estou mc dcdicando há algun tempo, e vou dcdicar mais alguns anos, à dcsctiçáo do quc aconteceu. Agora, sabcr por qüe acontcceu, você tem o resto da suâ vida pam invcsiigâr, c não I +l vai dar tempo, Só pâra pegâr aütor por autor e ver como é a estrutura da cxpressáo dele estar deslocada em relâçâo à estrutura do conteúdo do que ele está djzendo cà situaçáo de discurso, isto iá é um problemão. VeÍ como isto aconteceu sistematicamente, a paíir deuma certa época, tcntar mais ou menos ver quando começou, qüem entrou ncssa, quem náo enirou, isto já é um problemâ. É assim: estou cdando um conceito hisiórico, a "era da paralaxc". Você criar o conceito histórico... Vocô tcm uma estrutura que pcrmite a descrição unificada de um grupo de fenômeno§. Só na horâ em que você pegou a unidadc do fenômeno é que Íaz scniido tentar investigar, ialvez, as causas dele. As minhas pretensóes nào chegam a ianto, saber por que isto aconteceu..- Em primeiro lugar, já é suficiente, para que você saia de dentro dcssa órbita, dizer: "Não sei por q ue aconteceu, mas cssc negócio aí náo quero ráo". Sevocê soubcrâs causas, melhorainda. Mai sem dúvida, entrc as inúrnerâs câusas, vocô podc dizcr que a c âçáo da nova classe inlclcctual palacianâ é ccrlamcntc unradelas. Por ouiro lado, isto tambóm nâo aconteceria se náo tivcsse havido antes a opçáo pela exposiçâo global s,stemática. Entáo, antes de iÍvestigar propriamente â causa, a gcnlc lcm quc \ er uma lisla de condiçôt's scm a\ quais a coisa nao aconlcceria. Des\as condiçoes. algumas serao causas ÍAlunot (-..) O suieiÍo cofiseque escleoer uma coísa sem... (...) ele es i substitui do o mufido pot uma outra coisa que ndo exíste, por efietfiplo, ou íantasia... ele esíá sübstihrinílo a realídade por üfia Íahtasia (...)?l Ainda existe uma outlavariável quc eu náo tiDha levado en consi- demçáo até agora, mas queestou corneçando a examinar Tcm um ouilo pÍoblema que é o ncgócio da escrita ciliada, quc foi csiudada pelo Leo Strauss. Leo Slrâuss descobriu que muitas das obras de filosofiaesc tas nesse período têm uma cspéci€ de linguâgem cifrada e que, sem você rncxer com isso, náo consegue entender direiio Às vezes, um âutor parece estar ilizendo uma tremenda burrada, mâs não é üma tremenda burrada, éum eÍro propo§ital que ele está pondo ali Parâ atenuar o quc elc mesmo ilisse antes. Por exemplo, háum estudo do Leo Strâuss sobre Maquiavel onde ele diz: "Olha, Maquiavel parece ruim, mas vamos ver a escrita cifrada". E quando tcrmina dc veÍ iá é muito Pior Estâvontade de ocultar partes do pensamento às vezes ó para driblaÍ uma censurâ, um prctesto público, uma coisa assim, c às vezcs é sacanâgem Pura e simples. ÍAluro: Uma úez peryu tei pafi um proíessot lti da USP pot que detemli ados aulorcs escreoíarfi (Le loú1a tão complicada o prcÍessot rcspo íLeu: "Se fiào Íosse assin, não Íeria graqa" l É, vamos ttizer, por motivo lúdico, entáo. Quc coisâ, hdn? lÀlüno: Mas há ma coisa intercss\fite sobre isso ("') la lo
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