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Bioquímica Aplicada à Enfermagem Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Fabrício Ribeiro de Campos Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Metabolismo dos Carboidratos Metabolismo dos Carboidratos • Conhecer o metabolismo dos carboidratos, sua digestão e ciclo metabólico; • Conhecer o Ciclo de Krebs. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Metabolismo de Carboidratos; • Metabolismo do Glicogênio; • Gliconeogênese. UNIDADE Metabolismo dos Carboidratos Introdução Você já ouvir dizer que comer é considerado um dos melhores prazeres da vida? Provavel- mente sim. Mas já parou para pensar qual a necessidade do nosso organismo com relação à nossa alimentação? Por que comemos? A alimentação é necessária para mantermos vivos! Isso mesmo. Para exercer todas as funções o nosso organismo necessita de energia. Mas de onde vem essa energia? Existem organismos que são adaptados a obter energia que precisam pela luz solar, são chamados de fototróficos. Outros obtêm a energia oxidando compostos do meio ambiente, os quimiotróficos. Aqueles quimiotróficos que utilizam com- postos inorgânicos são os quimiolitotróficos e os que oxidam compostos orgâni- cos são os quimiorganotróficos. Nós, seres humanos, somos considerados quimiorganotróficos. A nossa energia vem de um processo de oxidação de moléculas presentes nos alimentos sob a forma das moléculas que já estudamos: carboidratos, lipídios e proteínas. Também oxidamos nos intervalos das refeições nossas reservas sobre a forma de carboidratos e lipídios. Esses nutrientes que serão oxidados perderão elétrons e prótons e seus átomos de carbono são convertidos em gás carbônico (CO2) (Figura 1). As coenzimas oxida- das recebem os prótons e elétrons, passando para a forma reduzida. O processo de reoxidação dessas coenzimas transfere prótons e elétrons para o oxigênio molecular, convertido então à água. A energia que será produzida nesta oxidação é utilizada para sintetizar uma molé- cula conhecida como ATP (adenosina trifosfato) produzida a partir do ADP (adenosina difosfato) e Pi (fosfato inorgânico). Figura 1 – Esquema simplificado do processo de obtenção de energia pelos organismos organotróficos Fonte: Wikimedia Commons 8 9 O organismo realiza processos para obter, armazenar e utilizar energia através de mi- lhares de reações que constitui o metabolismo e suas vias metabólicas. Três macronu- tientes presentes nos alimentos são utilizados pelo nosso metabolismo, porém, antes, no processo de digestão são degradados até as suas menores unidades da seguinte forma: • Carboidratos → glicose; • Lipídios → ácidos graxos; • Proteínas → aminoácidos. Iremos agora estudar o metabolismo desses compostos e descobriremos que, em vários momentos do metabolismo, seus produtos se interconvertem (Figura 1) e, a partir de suas unidades constituintes, é possível sintetizar outras, como é o caso de: glicose a partir de ácido graxo e proteína, ácido graxo a partir de proteína e glicose e proteína a partir de glicose e ácido graxo. Discutiremos, a seguir, a primeira via metabólica denominada glicólise ou via glicolítica. Metabolismo de Carboidratos A glicose é, em quantidade, o principal substrato oxidável utilizado como fonte de energia para a maioria dos organismos. Na nossa dieta, ingerimos pouca glicose livre, porém, a maior proporção desse açúcar está presente sob a forma de amido, sacarose e lactose. Amido é a principal fonte de carboidratos da dieta e deve ser hidrolisado até glicose. Suas ligações glicosídicas são quebradas em presença de enzimas especiais: • Na saliva: amilase salivar ou ptialina; • No suco pancreático: amilase pancreática; • No tubo digestório e no suco entérico: maltase. A sacarose (açúcar da cana) e lactose (açúcar do leite) são digeridas pelas enzimas sacarase e lactase presentes no suco entérico e ao final desta digestão liberam glicose, frutose e galactose. Nas células, a glicose é degradada ou armazenada por diferentes vias: a. Glicólise: transforma a glicose em duas moléculas de piruvato; b. Glicogênio: forma de armazenamento da glicose nos mamíferos (é sintetizado pela glicogênese); c. Glicogenólise: desdobram o glicogênio em glicose; d. Gliconeogênese: síntese de glicose a partir de precursores não carboidratos; e. Via das pentoses-fosfato: converte a glicose em ribose-5-fosfato. 9 UNIDADE Metabolismo dos Carboidratos Antes de seguirmos, é importante relembrarmos a estrutura da glicose. A glicose é uma aldohexose de fórmula C6H12O6, conforme a Figura 2 nos mostra: Figura 2 – Estrutura da glicose Fonte: Wikimedia Commons A glicose proveniente da dieta ou da produção endógena é degradada pelos orga- nismos vivos com o propósito de liberar energia. Uma molécula de glicose é degradada e libera duas moléculas de piruvato. Essa via citoplasmática pode funcionar na presen- ça de oxigênio (aerobiose) ou ausência (anaerobiose). A respiração anaeróbica ou fermentação é a degradação da glicose sem a presença de oxigênio e seu produto é o lactato (ácido láctico). A glicólise anaeróbica é denominada fermentação láctica. A respiração aeróbica trata da metabolização da glicose, em presença de oxi- gênio, recebe a denominação de respiração oxidativa ou respiração aeróbica e pode ser dividida em três etapas: 1. Glicólise; 2. Ciclo de Krebs ou Ciclo do Ácido Cítrico; 3. Cadeia Respiratória ou Cadeia Transportadora de Elétrons. O produto da glicólise é o piruvato (ácido pirúvico) e este, por sua vez, para completar a sua oxidação até CO2 e H2O, deve ser transportado para dentro da mitocôndria onde acionará o Ciclo de Krebs e as Cadeias Respiratórias. Glicósile Na glicólise (glykys, significa “doce” e lyses “quebra”), a glicose será oxidada com- pletamente até dióxido de carbono, em uma sequência de 10 reações enzimáticas, que ocorrem no citoplasma onde a glicose (6C) será convertida em 2 moléculas de piruvato (3C) com produção de energia sob a forma de ATP, dividida em fase prepa- ratória e fase de pagamento (ganho energético). 10 11 A fase preparatória requer o investimento de duas moléculas de ATP e resulta na clivagem da cadeia da hexose em duas trioses fosfato e, na fase de pagamento, a conversão das duas trioses formadas em duas moléculas de piruvato é acompanhada pela formação de quatro moléculas de ATP. Vamos agora entender o que acontece em cada uma das dez reações: • Fosforilação da glicose: uma vez nas células, a glicose entra na via glicolítica através da sua fosforilação para glicose-6-fosfato (G-6-P). Essa reação se dá atra- vés da enzima hexoquinase. Essas enzimas catalisam a transferência de um radi- cal fosfato do ATP para o carbono 6 da glicose formando a G-6-P; • Conversão da G-6-P em frutose-6-P: a via glicolítica propriamente se inicia pela conversão da G-6-P em frutose-6-fosfato. Essa reação é catalisada reversi- velmente pela enzima fosfohexose isomerase. Essa enzima catalisa a isomeriza- ção de uma aldose em uma cetose; • Fosforilação da F-6-P em F-1,6-DP: a próxima etapa da via glicolítica é uma nova ativação, catalisada pela enzima fosfofrutoquinase-1, que transfere um radical fosfato do ATP para o carbono 1 da F-6-P, formando a frutose 1,6 difosfato (F-1,6-DP); • Clivagem da F-1,6-DP: a F-1,6-DP sofre uma cisão catalítica formando duas trioses que são: gliceraldeído-3-fosfato, uma aldose e fosfodiidroxiacetona, uma cetona. Essa reação é catalisada pela enzima aldalase; • A interconversão das trioses fosfato: apenas o gliceraldeído-3-fosfato pode ser degradado nos passos seguintes. A diidroxiacetona fosfato é convertida em gliceraldeído-3-fosfato pela enzina triose fosfato isomerase. Dessa reação em diante, a via terá todos os seus intermediários duplicados; • Oxidação do gliceraldeído-3-fosfato em 1,3-bifosfoglicerato: por ação da enzima gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase, NAD+ dependente, a forma aldeí- dica converte-se em 1,3-bifosfoglicerato; • Transferência do fosfato do 1,3-bifosfatogliceratopara o ADP: a enzi- ma fosfogliceratoquinase transfere o grupo fosfato de alta energia do grupo carboxila do 1,3-bifosfoglicerato (1,3-DPG) para o ADP, formando-se ATP e 3-fosfoglicerato (3PG); • Conversão do 3-fosfoglicerato em 2-fosfoglicerato: o composto 3-fosfoglice- rato possui um baixo potencial de transferência de fosfato. Para aumentar o seu potencial, o radical fosfato da posição de nº 3 é transferido, enzimaticamente, para a posição de nº 2, formando 2-fosfoglicerato. A enzima, nesse caso, é a fosfogli- cerato mutase; • Desidratação do 2-fosfoglicerato para fosfoenolpiruvato: a enzima enolase promove a remoção de uma molécula de água do 2-fosfoglicerato liberando o fosfoenolpiruvato (PEP); 11 UNIDADE Metabolismo dos Carboidratos • Transferência do grupo fosfato do fosfoenolpiruvato para o ADP: o fosfoenolpi- ruvato transfere, enzimaticamente, seu radical fosfato para o ADP, produzindo ATP, por ação da enzima piruvato quinase (PK), formando então o piruvato. Ficou difícil entender essa primeira fase da respiração celular? Neste vídeo, você poderá enten- der este processo. Disponível em: https://youtu.be/1jMu142iAzw Figura 3 – As duas fases da glicólise FONTE: NELSON; COX, 2019 12 13 Rendimento energético da Glicólise: • ATP consumido = –2 (na fase preparatória); • ATP produzido = +4 (2 por triose); • Saldo ou rendimento energético = 2 ATP. A via glicolítica também é via de consumo de frutose e da galactose. A sacarose e a lactose são dissacarídeos encontrados na dieta e sob ação das enzimas são digeri- das no intestino, gerando os monossacarídeos correspondentes: • Sacarose (enzima sacarase) origina glicose + frutose; • Lactose (enzima lactase) origina glicose + galactose. A frutose e a galactose são isômeros da glicose e após serem absorvidas e transportadas para as células, são convertidas em componentes da via glicolítica e assim metabolizadas: frutose é convertida a frutose-6-P e a galactose é convertida a glicose-6-P. Destinos do Piruvato O piruvato formado na glicólise pode seguir três rotas alternativas: • 1ª rota: para completar a sua oxidação até CO2 e H2O, deve ser transportado para dentro da mitocôndria onde acionará o Ciclo de Krebs e as Cadeias Respiratórias; • 2ª rota: via da fermentação do ácido láctico, quando um tecido precisa funcio- nar anaerobicamente. O piruvato é reduzido a lactato; • 3ª rota: fermentação alcoólica, em alguns tecidos vegetais e em certos invertebra- dos e microrganismos, o piruvato é convertido anaerobicamente em etanol e CO2. Nas células eucarióticas, o piruvato é convertido à Acetil-CoA. O piruvato do cito- plasma entra na mitocôndria através de uma translocase específica e é transformado em Acetil-CoA, conectando a glicólise ao Ciclo de Krebs. A formação do Acetil-CoA ocorre em etapas através de um sistema enzimático denominado Complexo Piruvato Desidrogenase (Figura 4). Trata-se de uma des- carboxilação oxidativa (irreversível) onde o grupo carboxila é removido do piruvato na forma de CO2 e os dois carbonos remanescentes tornam-se o grupo acetila do acetil-CoA. São necessárias três enzimas (piruvato desidrogenase, diidrolipoil tran- sacetilase e diidrolipoil desidrogenase) e cinco coenzimas (tiamina pirofosfato (TPP), coenzima A (CoA), nicotinamida adenina dinucleotídio (NAD+), flavina adenina di- nucliotídio (FAD) e ácido lipóico). 13 UNIDADE Metabolismo dos Carboidratos Figura 4 – Conversão do piruvato à Acetil-CoA pelo complexo piruvato desidrogenase Fonte: Wikimedia Commons É sob a forma de Acetil-CoA que os dois carbonos restantes do ácido pirúvico, entram no Ciclo de Krebs. O Acetil-CoA constitui o ponto de união do metabolis- mo dos carboidratos, lipídios e proteínas isso porque aminoácidos e ácidos graxos também produzem Acetil-CoA, que será oxidado a CO2 pelo Ciclo de Krebs com a produção de coenzimas reduzidas. Trocando Ideias... Devemos nos lembrar de uma organela muito importante nos processos metabólicos: a mitocôndria. No seu interior, ocorrem as operações finais de combustão dos carboi- dratos, aminoácidos e lipídios. As vias de degradação dessas substâncias, no nível cito- plasmático levam à produção de piruvato, e o acetil-CoA ingressará nas mitocôndrias e sofrerá sua “combustão final”, gerando CO2 e água, com liberação de grandes quantidades de energia usadas para a síntese de ATP. Ciclo de Krebs Discutiremos agora mais um estágio da respiração celular, o Ciclo de Krebs (de Hans Krebs, nome do pesquisador que mais contribuiu para seu entendimento) ou Ciclo do Ácido cítrico. O Ciclo de Krebs consiste em uma sequência cíclica de reações onde moléculas de acetil-CoA (provenientes do metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas) são oxidadas até CO2, com a liberação de átomos de hidrogênio para a produção de energia nas cadeias respiratórias. Esse ciclo ocorre na matriz mitocondrial, é consi- derado o mais eficiente mecanismo de produção de energia nos animais. Vamos agora entender o que acontece em cada uma dessas reações conforme ilustrado na Figura 5: • Formação do citrato: ocorre a condensação do acetil-CoA com o oxaloacetato para formar citrato. Essa reação é catalisada pela enzima citrato sintetase; 14 15 • Formação do isocitrato: a enzima aconitase catalisa a transformação reversível do citrato em isocitrato, através da formação intermediária do cis-aconitato. A enzima aconitato promove, em seguida, a adição de água levando a formação do isocitrato; • Transformação de isocitrato a α-cetoglutarato e CO2: a isocitrato desidrogenase catalisa a descarboxilação oxidativa do isocitrato para formar o α–cetoglutarato; • Oxidação do α–cetoglutarato à succinil-CoA e CO2: é uma descarboxilação oxi- dativa onde α–cetoglutarato é convertido em succinil-CoA e CO2. A enzima é a alfa-cetoglutarato desidrogenase e o NAD+ serve como receptor de elétrons; • Conversão do succinil-CoA em succinato: a enzima que catalisa esta reação é a succinil-CoA sintetase. Ocorre nesta reação a formação de um GTP (guanosina fosfato) que é equivalente a um ATP. É liberado também uma molécula de CoA livre (HS-CoA); • Oxidação do succinato a fumarato: o succinato formado a partir do succinil-CoA é oxidado a fumarato pela enzima succinato desidrogenase. Os elétrons retirados do succinato passam através do FAD; • Hidratação do fumarato para produzir malato: o fumarato é hidratado (adição de água) a malato pela enzima fumarase; • Oxidação do malato a oxaloacetato: a malato desidrogenase, ligada ao NAD, cata- lisa a oxidação do malato em oxaloacetato. Regenerou-se uma molécula de oxalo- acetato que poderá dar início a nova volta no Ciclo de Krebs. O oxaloacetato será sempre regenerado ao final de cada volta do ciclo e desta forma, o Ciclo de Krebs oxida Acetil-CoA sem gasto de oxaloacetato efetivo. Os processos de oxidação da glicólise levam à produção de Acetil-CoA que, no Ciclo de Krebs, é oxidado a CO2. O Ciclo de Krebs é o estágio final e máximo de oxidação dos átomos de carbono que compõem os carboidratos, lipídios e proteínas. A oxidação desses compostos é acompanhada da redução das coenzimas NAD+ e FAD. Como saldo energético ao final desse ciclo, temos a síntese de quatro ATP (dois da glicólise e dois no ciclo de Krebs). A maior parte de energia disponível é ar- mazenada em coenzimas reduzidas. Vamos continuar entendendo respiração celular? Agora, neste vídeo, vamos ver o Ciclo de Krebs. Disponível em: https://youtu.be/yy219pUo8vo A estratégia adotada pelas células consiste em transformar a energia contida nas coenzimas reduzidas em um gradiente de prótons e utilizar esse gradiente para pro- mover a síntese de ATP. A primeira parte desse processo é conseguida pela transfe- rência dos elétrons das coenzimas para o oxigênio através de passagens intermediá- rias por vários compostos – cadeia de transporte de elétrons. 15 UNIDADE Metabolismo dos Carboidratos Figura 5 – Ciclo de Krebs Fonte: Wikimedia Commons Cadeia de Transporte de Elétrons e FosforilaçãoOxidativa A cadeia de transporte de elétrons é o processo no qual as coenzimas NADH e FADH2 irão transferir seus elétrons para uma série de proteínas bombeadoras de íons H+ dispostas ao longo da membrana interna da mitocôndria. Ao transferir os elétrons, o NADH e o FADH2 transferem energia necessária para que haja o bom- beamento de íons H+.O transporte de H+ gera um gradiente de concentração entre a matriz e o espaço intermembranar, sendo que este irá apresentar a maior concentra- ção de H+. Essas proteínas transportadoras irão transportar os elétrons recebidos até o O2, o aceptor final de elétrons da cadeia havendo a formação de água. Essas coenzimas são reoxidadas, pois, quando voltam à forma oxidada, participam novamente das vias de degradação dos nutrientes e a partir da oxidação dessas coenzimas que a energia por elas armazenada será utilizada para a síntese de ATP. A maior parte do ATP nas células aeróbias é produzida por oxidação das coenzimas pelo oxigênio (respiração celular) que acontece por uma cadeia de transporte de elétrons, que está associada à síntese de ATP pela fosforilação de ADP + Pi através da fosforilação oxidativa. 16 17 Vimos, então, que as coenzimas NAD e FAD serão importantes no processo da respiração celular. Mas como isto acontece? Já vimos que se trata de um transporte. Vamos então conhecê-lo! O processo de oxidação das coenzimas acontece na membrana interna da mito- côndria, onde estão presentes os seus componentes conforme ilustrados na Figura 6. Figura 6 – Complexos da cadeia transportadora de elétrons Fonte: Wikimedia Commons Os transportadores de elétrons estão agrupados em quatro complexos nomeados como: I, II, III e IV e dois componentes móveis: coenzima Q, que conecta os Complexos I e II ao Complexo III, citocromo c, que conecta o Complexo III ao IV. • O Complexo I oxida o NADH, transferindo seus elétrons para a coenzima Q; • O Complexo II oxida o succinato, transferindo seus elétrons também para a coenzima Q; • O Complexo III transfere elétrons da coenzima Q para o citocromo c; • O Complexo IV transfere elétrons para o oxigênio. A fosforilação oxidativa refere-se à fosforilação do ADP a ATP, utilizando a ener- gia liberada pelas reações de óxido-redução. A energia derivada do transporte de elétrons é convertida em uma força próton-motriz e o retorno desses prótons para o interior da mitocôndria a favor do gradiente de concentração libera energia ne- cessária para a síntese de ATP. Porém, a membrana interna da mitocôndria é im- permeável a esses prótons com exceção de sítios específicos constituído pela ATP sintetase: é por esse canal que os prótons atravessam a membrana de volta à matriz mitocondrial. À medida que eles passam a membrana através desse canal, ocorre um movimento de rotação com posterior liberação de ATP (Figura 7). 17 UNIDADE Metabolismo dos Carboidratos Figura 7 – Cadeia de transporte de elétrons Fonte: Wikimedia Commons No final da respiração celular, há um saldo total de32 moléculas de ATP: 2 ATP da glicólise, 2 ATP do ciclo de Krebs e 28 da fosforilação oxidativa, conforme sinte- tizamos na Tabela 1: Tabela 1 GLICÓLISE CICLO DE KREBS SOMA CADEIA RESPIRATÓRIA NADH 2 8 10 X 2,5 = 25 ATP FADH2 0 2 2 X 1,5 = 3 ATP ATP 2 2 4 4 + 28 = 32 ATP Metabolismo do Glicogênio O glicogênio é um polímero de glicose (Figura 8) considerado a forma de reserva desse açúcar nas células animais. É sintetizado pelo fígado e músculos quando a ofer- ta de glicose supera as necessidades energéticas. Após as refeições, o fígado remove dois terços dos monossacarídeos absorvidos formando o glicogênio. 18 19 Figura 8 – Estrutura do glicogênio Fonte: Wikimedia Commons Só para relembrar, o glicogênio é um polímero de unidades de glicose unidas através de ligações (α1-4), com ligações (α1-6) e ramificações a cada 8 a 12 resíduos. O glicogênio hepático é degradado produzindo glicose para manter a glicemia nos períodos entre as refeições e no jejum noturno, e o glicogênio muscular é degradado para gerar energia para a fibra muscular em contração intensa. A síntese de glicogê- nio é denominada glicogênese e a sua degradação glicogenólise. 19 UNIDADE Metabolismo dos Carboidratos Glicogênese A glicogênese indica o processo de síntese de glicogênio que ocorre no fígado e músculos, onde moléculas de glicose são adicionadas à cadeia do glicogênio. O nosso organismo não consegue sintetizar o glicogênio a partir de unidades livres de glicose. A síntese de glicogênio, ou glicogênese, faz-se com a incorporação de unida- des de glicose sobre resíduos pré-existentes na célula. Esses resíduos de glicogênio são conhecidos como “glicogênio de partida” ou “primer”. A glicogênese tem início quando a glicose é fosforilada a glicose 6-fosfato. Em se- guida, pela enzima fosfoglicomutase, a glicose 6-fosfato é transformada em glicose 1-fosfato. A glicose 1-fosfato deve receber uma carga adicional de energia, a Uridima- -Trifosfato (UTP) – equivalente a um ATP – dando como produto a Uridima-difosfato glicose (UDPG). Essa molécula está apta a ligar-se ao glicogênio de partidaliberando a Uridina difosfato -UDP. O glicogênio sintase, no entanto, apenas estende a cadeia, sem ramificá-la, pois sua ação se restringe à formação de ligações alfa1-4. A enzima ramificadora, capaz de formar as ligações alfa 1-6 necessárias, é a glicosil-(4-6)-transferase. Essa, no en- tanto, utiliza resíduos (de 6 a 7 carbonos) da própria cadeia, previamente formados pela glicogênio-sintase, apenas transferindo-os aos pontos de ramificação. Esse processo é desencadeado pela insulina em resposta aos altos níveis de glico- se sanguínea. Glicólise Quando o excedente da glicose é convertido em glicogênio, este é armazenado no citoplasma das células (hepáticas e musculares) sob a forma de grânulos insolúveis. À me- dida que a célula precise, a partir de seus depósitos de glicogênio, moléculas de glicose são liberadas através de sequências de reações denominadas glicogenólise. A glicogenólise se processa graças à ação de três sistemas enzimáticos: • Glicogênio-fosforílase; • Transferase; • Enzima desramificadora. Vamos entender como cada uma dessas enzimas participa do processo de libera- ção da glicose a partir do glicogênio: • Enzima glicogênio fosforilase: cliva uma ligação α(1-4) com adição de fosfato inorgânico (Pi). Essa enzima só cliva resíduos de glicose que estejam a mais de 4 resíduos de distância de uma ramificação; • Enzima tranferase: transfere os três resíduos extremos para a cadeia vizinha, onde a fosforilase pode continuar agindo; • Enzima desramificadora: remove a molécula restante no ponto de ramificação da ligação α(1-6), dando como resultado glicose livre e glicogênio desramificado. 20 21 Gliconeogênese Quando iniciamos, discutimos que era possível sintetizar glicose a partir de outros substra- tos. Agora, ao final da unidade, você já consegue imaginar como isso acontecerá? A gliconeogênese é o processo através do qual precursores não carboidratos, como lactato, piruvato, glicerol e aminoácidos são convertidos em glicose. Quando a concen- tração da glicose adquirida através da alimentação reduz, a degradação de glicogênio tem a capacidade de manter a concentração de glicose sanguínea. Mas o acontece quando estamos em um período de jejum prolongado, a partir de 8 horas, por exemplo? Após esse período, é acionada outra via metabólica de síntese de glicose: a glico- neogênese, que ocorre nos rins e no fígado. Os precursores são: • Aminoácidos: todos os aminoácidos com exceção da lisina e leucina; • Lactato: proveniente dos músculos em contração intensa; • Glicerol: derivado da degradação de triacilgliceróis do tecido adiposo durante o jejum. Trocando Ideias... A gliconeogênese utiliza as reações reversíveis da glicólise e substitui por outras rea- ções irreversíveis. Na gliconeogênese, ocorre a transformação de piruvato a glicose por uma via inversa à glicólise. Essa via utiliza quase todas as enzimas,com exceção daquelas reações irreversíveis (Figura 9). As três etapas da gliconeogênese que diferem da glicólise são: 1. Conversão de piruvato a fosfoenolpiruvato; 2. Conversão de frutose 1,6-bifosfato a frutose 6-fosfato; 3. Conversão da glicose 6-fosfato a glicose. A gliconeogênese é considerada uma síntese, que utiliza um composto de três carbonos para formar como produto final um composto de seis carbonos, a glicose. É considerada, dessa forma, um processo no qual se tem gasto de energia: para cada molécula de glicose formada a partir de duas moléculas de piruvato, são gastos 6 ATP. Alguns tecidos e células utilizam exclusivamente a glicose como fonte de energia, como o cérebro e das hemácias, e para que esse suprimento não tenha interrupção, o nosso corpo tem mecanismos para manter a glicose circulante: a gliconeogênese. 21 UNIDADE Metabolismo dos Carboidratos Figura 9 – Esquema da gliconeogênese associado a glicólise Fonte: Wikimedia Commons Discutimos nesta unidade o funcionamento normal do metabolismo dos carboidratos em nosso organismo. Mas e se esse metabolismo falhar? Existe uma patologia muito comum associada a um defeito nesse metabolismo: o Diabetes. Para saber mais sobre essa doença leia: Diagnóstico e classificação do Diabetes mellitus e tratamento do Diabetes mellitus tipo 2. Disponível em: https://bit.ly/3khx6cV 22 23 Material Complementar Livros Bioquímica BERG, J. M. et al. Bioquímica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. (e-book) Vídeos Respiração Celular (Parte 1) – Glicólise | Biologia com Samuel Cunha https://youtu.be/1jMu142iAzw Respiração Celular (Parte 2) – Ciclo de Krebs | Biologia com Samuel Cunha https://youtu.be/yy219pUo8vo Leitura Diagnóstico e classificação de diabetes mellitus e tratamento do diabetes mellitus tipo 2 https://bit.ly/3khx6cV 23 Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: UNIDADE Metabolismo dos Carboidratos Referências MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica básica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. NELSON, D. L; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. São Paulo: Artmed, 2014. 24
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