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desconsideração da personalidade jurídica no processo de arbitragem

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP 
TAINÁ LIMA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURIDICA NA 
ARBITRAGEM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2020 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP 
TAINÁ LIMA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSOLANIDADE JURIDICA NA 
ARBITRAGEM 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de graduação em Direito, Universidade 
Paulista UNIP, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
Orientadora: Prof.ª. Dr. ª Renata Muller. 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2020 
 
 
 
 
 
 
TAINÁ LIMA SILVA 
 
 
 
MONOGRAFIA 
 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSOLANIDADE JURIDICA NA 
ARBITRAGEM 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de 
graduação em Direito, Universidade Paulista UNIP, como requisito 
parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
Orientadora: Prof.ª. Dr. ª Renata Muller. 
 
Aprovado em: __/__/__ 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Prof.ª. Dr. ª Renata Muller 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CIP - Catalogação na Publicação 
 
Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Universidade Paulista com os dados 
fornecidos pelo(a) autor(a). 
 
 
 
 
silva, Tainá 
desconsideração da personalidade juridica / Tainá silva. - 2020. 39 f. 
 
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao Instituto de 
Ciência Jurídicas da Universidade Paulista, são paulo, 2020. 
Área de Concentração: civil. Orientadora: 
Profª. Dra. Renata muller. 
 
 
1. desconsideração da personalidade juridica . I. muller, Renata 
(orientadora). II.Título. 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente agradeço aos meus pais, Valmilza e juraci, por todo o apoio, 
suporte e amor que me deram e por terem aguentando todos os meus choros de 
desespero durante os últimos anos. À professora Renata, por todo apoio e suporte 
que ofereceu durante a realização deste trabalho. Por fim, agradeço à Deus por ter 
me dado força, coragem e determinação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
O presente trabalho tem o propósito de analisar o instituto da personalidade 
jurídica como um todo analisando suas teorias em nosso ordenamento jurídico e 
abordando a sua aplicabilidade prática e as consequências que recairão sobre sócios, 
tendo em vista que tal procedimento quebra a proteção societária conferida pelo 
código civil de 2002 e obriga que a pessoa jurídica responda solidariamente pela 
dívida com seu patrimônio pessoal. Também iremos abordar a possibilidade da 
desconsideração da personalidade jurídica em processo arbitral, posto que os sócios 
a serem atingidos pela desconsideração não são signatários da cláusula 
compromissória de arbitragem entre a sociedade da qual fazem parte e o terceiro 
atingido. 
 
Palavras Chave: arbitragem; desconsideração da personalidade jurídica, sócios, 
signatários, desconsideração inversa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
The purpose of this paper is to analyze the institute of legal personality as a 
whole, analyzing its theories in our legal system and addressing its practical 
applicability and the consequences that will fall on partners, considering that this 
procedure breaks the corporate protection provided by the code 2002 and requires the 
legal entity to jointly and severally answer for the debt with their personal assets. We 
will also address the possibility of disregarding the legal personality in an arbitration 
proceeding, since the partners to be affected by the disregard are not signatories to 
the arbitration clause between the company of which they are a part and the affected 
third party. 
 
Keywords: arbitration; disregard for legal personality, partners, signatories, reverse 
disregard. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 9 
1. APLICAÇÃO DA ARBITRAGEM NO SISTEMA JURIDICO BRASILEIRO ..................... 10 
1.1. CONCEITO DE ARBITRAGEM, NOÇÕES GERAIS. ................................................... 12 
1.2. NATUREZA JURÍDICA ..................................................................................................... 13 
1.3. CLÁUSULA COMPROMISSORIA ................................................................................... 15 
1.4. ASPECTOS FORMAIS ..................................................................................................... 15 
1.5. COMPROMISSO ARBITRAL ........................................................................................... 16 
1.6. ARBITRAGEM NO DIREITO SOCIETÁRIO .................................................................. 16 
2. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURIDICA ............................................... 18 
2.1. HIPÓTESES DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ........... 19 
2.2. TEORIAS ACERCA DA APLICAÇÃO DA DESCONSIDERAÇÃO DA 
PERSONALIDADE JURÍDICA ..................................................................................................... 21 
2.3. DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ..... 24 
2.4. PRESSUPOSTOS ENCONTRADOS NO DIREITO MATERIAL................................. 26 
3. POSSIBILIDADE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO 
PROCESSO ARBITRAL .................................................................................................................. 28 
3.1. A DESCONSIDERAÇAO DA PESSOA JURIDICA E A POSSIBILIDADE DE 
EXTENSÃO DOS FEITOS DA EXECUÇAO DA SENTENÇA ARBITRAL A TERCEIROS.
 32 
3.2. CLÁUSULA DE ARBITRAGEM POR ESCRITO E ASSINADA: REQUISITOS 
FORMAIS ....................................................................................................................................... 34 
3.3. APLICAÇÃO DA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE 
JURIDICA NA ARBITRAGEM EM AMBITO INTERNACIONAL ............................................. 34 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 37 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 37 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 A desconsideração da personalidade jurídica consiste, em mecanismo 
utilizado para coibir que os sócios utilizem a pessoa jurídica para cometer possíveis 
fraudes, posto que através dela podem os sócios serem responsabilizados 
diretamente. O art. 50 do Código Civil, versa sobre a possibilidade de 
"desconsideração da personalidade jurídica", estabelece que "em caso de abuso da 
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão 
patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público 
quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas 
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores 
ou sócios da pessoa jurídica". 
Por tanto é necessário o cumprimento dos seguintes requisito para que haja a 
desconsideração da personalidade jurídica: "abuso da personalidade jurídica, 
caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial". O objetivo deste 
estudo é trazer elementos sobre o instituto desconsideração da personalidade jurídica 
em procedimentos arbitrais, nesta hipótese é possível que o tribunal arbitral adote a 
teoria da desconsideração da personalidade jurídica para atingir o patrimônio de 
terceiros que não assinaram a clausula compromissória? Vamos abordar a priori o 
instituto da arbitragem como forma de solução de controvérsias no Brasil, apontando 
a teoria acerca da natureza jurídica,Em seguida será analisado as teorias acerca da 
desconsideração da personalidade jurídica, de forma a compreender os objetivos 
deste instituto jurídico. Tais apreciações serão feitas para possibilitar uma análise 
crítica acerca da responsabilização dos sócios, por meio da desconsideração da 
personalidade jurídica, no bojo do processo arbitral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
1. APLICAÇÃO DA ARBITRAGEM NO SISTEMA JURIDICO 
BRASILEIRO 
A doutrina identifica a arbitragem legalmente em nosso sistema jurídico desde 
a época da colonização portuguesa, a arbitragem surgiu na constituição do Império 
de 22 de março de 1824, em seu artigo 160, que estabelecia que as partes poderiam 
nomear juízes arbitrais para solucionar litígios nas causas cíveis e penais civilmente 
intentadas se as partes, assim, convencionassem. 
A Resolução de 26 de julho de 1831 regulava a arbitragem relativa a seguro, e 
a Lei 108, de 11 de outubro de 1837, dos dissídios referentes à locação de serviços, 
sendo as primeiras normas que abordavam a arbitragem compulsória no Brasil. No 
código comercial de 1850, temos o instituto da arbitragem necessária ou forçada que 
era utilizada para questões sociais entre os sócios durante a existência da sociedade. 
 Em 1866 foi editada a Lei n. º 1.350 que revogou a obrigatoriedade arbitragem 
constituída pelo código comercial de 1850, mantendo a possibilidade de utilização 
voluntária do juízo arbitral. No ano seguinte foi promulgado o decreto n. º 3.900/1867, 
que ressaltava a voluntariedade da arbitragem, pois estabelecia que cláusulas as 
arbitrais sobre litígios futuros que teriam valor de promessa. 
A constituição de 1891 faz menção a arbitragem, referindo-se ao instituto como 
meio de resolução de conflitos para evitar guerras entre fronteiras, sendo assim, 
suprimindo a arbitragem entre particulares. A arbitragem entre particulares reaparece 
depois de alguns anos com a promulgação do primeiro código civil brasileiro, Lei nº 
3.071, de 1916, nos artigos 1.037 a 1.048, as pessoas eram capazes de contratar em 
qualquer tempo, mediante compromisso escrito árbitros para a resolução de conflitos 
judiciais e extrajudiciais. 
O Brasil assinou no ano de 1923 o protocolo de Genebra que durante muitos 
anos foi o único ato internacional aderido pelo Brasil, na matéria comercial, com 
previsão da utilização da arbitragem por particulares. A constituição de 1934 resgatou 
a previsão da arbitragem mercantil, ao estabelecer competência de a União legislar 
sobre normas fundamentais da arbitragem, porem tal regulamentação não foi 
realizada. 
 Em abito processual, o código de processo civil estabeleceu normas sobre 
arbitragem. A Constituição de 1946 foi a primeira a inserir no texto constitucional o 
 
 
11 
 
Princípio do Monopólio da Jurisdição, nestes termos: “A lei não poderá excluir da 
apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual. 
As Constituições de 1967 e de 1969 não alteram as normas referentes a 
arbitragem, contidas na Constituição de 1946, sendo assim, a arbitragem somente era 
permitida para questões internacionais na possibilidade de guerras. no ano de 1995 
foi editada a Lei nº 9.099, lei que instituiu os juizados especiais cíveis e criminais, que 
também tratou de disciplinar a arbitragem, no mesmo ano foram expedidos dois 
decretos ratificando convenções internacionais sobre arbitragem, que sancionou a 
Convenção Interamericana sobre Eficácia Extraterritorial das Sentenças e Laudos 
Arbitrais Estrangeiros. 
A arbitragem passou a ter visibilidade no Brasil a partir do ano 1996 com a 
promulgação da LEI Nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, publicada no DOU de 
29/09/96 e entrou em vigor 60 dias depois, a lei dispõe sobre a arbitragem como meio 
alternativo para a resolução de conflitos, o Estado é responsável por manter a ordem 
social, dando aos indivíduos a possibilidade de acionar o poder judiciário para a 
solução de conflitos, porém, atualmente o poder judiciário tem uma demanda muito 
grande de processos, e a arbitragem é o meio de solução mais utilizado para resolver 
litígios, pois se encontra neste instituto fatores que possibilitam a celeridade, baixo 
custo e sigilo. 
A lei de arbitragem é de simples interpretação, vamos abordar alguns pontos 
importantes: 
A priori, o art. 1º da lei de arbitragem dispõe que as partes são capazes de 
escolher livremente o arbitro, aqui é estabelecido o que se chama de arbitrariedade 
subjetiva, isto é, quem são as pessoas que poderão tomar parte, sendo assim, 
pessoas físicas maiores e capazes, e pessoas jurídicas devidamente representadas. 
A arbitragem pode ser de equidade ou de direito, a critério das partes, que 
poderão escolher as regras de direito que serão aplicadas, os árbitros podem julgar 
de acordo com o que consideram justo, as partes podem escolher entre a melhor lei 
aplicável no caso, em sentido amplo, sem violar os bons costumes e a ordem pública, 
leis estrangeiras podem ser aplicadas, desde que as normas do direito brasileiro não 
sejam contrariadas, buscando sempre proteger direitos fundamentais como o 
contraditório e a ampla defesa. 
https://jus.com.br/tudo/juizados-especiais-civeis
 
 
12 
 
Nem todos os litígios poderão ser resolvidos por meio da arbitragem, o art.1º 
da lei estabelece que: ”As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da 
arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis”; Outro 
ponto importante é a confidencialidade, que é regra geral na arbitragem, é 
estabelecido pelas câmaras arbitrais que o procedimento deverá ser confidencial e 
sigiloso, o artigo 13, parágrafo 6º da lei 9.307/1996, dispõe que o árbitro, no 
desempenho de sua função, deverá proceder com imparcialidade, independência, 
competência, diligência e discrição. 
A lei 13.129/2015 acrescentou que a arbitragem é instituída quando a 
nomeação é aceita pelo árbitro, assim como determina o artigo. 19, esta instituição 
interrompe a prescrição retroagindo à data do requerimento de sua instauração, 
ainda que extinta a arbitragem por ausência de jurisdição. 
 Devemos ressaltar que em relação as medidas cautelares e de 
urgência, a lei dispõe que elas serão requeridas diretamente aos árbitros, se 
houver necessidade as partes podem recorrer ao judiciário antes de ser instituída 
a arbitragem, caberá aos árbitros manter, modificar ou revogar a medida cautelar 
ou de urgência concedida por ele. 
O juízo arbitral é independente do Poder Judiciário, a sentença arbitral 
produz os mesmos efeitos que a sentença proferida pelos órgãos do Poder 
Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo”, ou seja, a sentença 
arbitral forma título executivo judicial, mesmo sem a necessidade de homologação 
judicial. 
 
1.1. CONCEITO DE ARBITRAGEM, NOÇÕES GERAIS. 
 De Acordo com o professor Carlos Alberto Carmona, arbitragem é 
“mecanismo privado de solução de litígios; a arbitragem é 'meio alternativo de solução 
de controvérsias através da intervenção de uma ou de mais pessoas que recebem 
seus poderes de uma convenção privada' - decorrente do princípio da autonomia da 
vontade das partes - para exercer sua função, decidindo com base em tal convenção, 
sem intervenção estatal, tendo a decisão idêntica eficácia de sentença proferida pelo 
Poder Judiciário. Tem como objeto do litígio direito patrimonial disponível. 
 Ainda, é um meio de heterocomposição dos litígios, posto a decisão do conflito ser 
proferida por um terceiro necessariamente, trata-se de técnica para 'solução de 
 
 
13 
¹ CARMONA, Carlos Alberto. A Arbitragem e Processo 
² BRASILIO, Ana Tereza Palhares e FONTES, André R.C. Notas introdutórias sobre 
natureza jurídica da arbitragem, 2007Disponível em: 
<https://www.conjur.com.br/2007-jul-
31/notas_introdutorias_natureza_juridica_arbitragem#:~:text=A%20base%20das%20
Teorias%20Privatistas,tomar%20todo%20o%20seu%20conte%C3%BAdo.&text=Em%20resumo%3A%20seria%20a%20arbitragem,o%20enquadramento%20privado%2
0da%20arbitragem >. Acesso em: Acesso em 09 de outubro de 2020. 
 
Controvérsias alternativa à via Judiciária caracterizada por dois aspectos essenciais: 
são as partes da controvérsia que escolhem livremente quem vai decidi-la, os árbitros, 
e são também as partes que conferem a eles o poder e a autoridade para proferir tal 
decisão’. ¹ 
 
1.2. NATUREZA JURÍDICA 
A doutrina se divide basicamente em três teorias, a privatista/contratual, a 
jurisdicional e a mista. 
A corrente privatista ou contratual, acredita que a arbitragem é de natureza 
contratual privada, pois existe a necessidade de um contrato estabelecido entre as 
partes para a sua instituição e o árbitro não é membro do poder judiciário, sendo 
assim, sua função não poderia ser pública. Com base nos ensinamentos de Ana 
Tereza Palhares Basílio e André R. C. Fontes: 
“A base das Teorias Privatistas é a de que os atos volitivos 
impregnam a arbitragem ao ponto de tomar todo o seu conteúdo. A vontade 
de duas partes na prática de um ato traduz-se em uma declaração única de 
vontade, de soberania dos litigantes e de poder de disposição, que dão a 
marca e as feições contratuais à arbitragem. Pois bem, o cumprimento das 
disposições negociadas pelas partes na arbitragem é a vontade desses 
sujeitos e equipara-se ao que se entende no direito contratual por 
cumprimento das manifestações de vontade dos co-contratantes. Se o 
cumprimento de um e outro tem o mesmo perfil e características pode-se 
deduzir que a base da vontade sujeita à execução é a mesma. Cumprimento 
de cunho contratual e vontade de natureza também contratual”.² 
Já a outra corrente, publicista ou jurisdicional, acredita que o arbitro assim 
como o juiz tem a função judicante, ambos possuem direito de aplicar o direito ao 
caso concreto; afirma-se que a jurisdição não se daria apenas no âmbito do Estado, 
o arbitro também tem a prerrogativa de exercer a jurisdição, mesmo que não seja na 
condição de agente público. Os adeptos a essa teoria, entre eles Francisco José 
 
 
 
14 
Cahali e Carlos Alberto Carmona, sustentam que a atividade do árbitro à 
atividade estatal] no exercício de função jurisdicional tem força de título executivo 
judicial. 
A teoria mista por sua vez mistura os conceitos das duas teorias abordadas 
anteriormente, parte do pressuposto que a arbitragem possui característica 
contratual no exercício da autonomia da vontade privada das partes, mas não 
descartava o papel judicante do arbitro. 
Leonardo de Faria Beraldo e Francisco José Cahali tratam ainda de uma 
quarta teoria, denominada autônoma, está teoria aborda a arbitragem como um 
sistema de solução de conflitos desvinculada a qualquer sistema jurídico existente. 
CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM E SEUS EFEITOS 
O art. 3º da Lei nº 9.307/96 preceitua: “As partes interessadas podem 
submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de 
arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral” 
A convenção de arbitragem trata-se de gênero, cuja espécies são clausula 
compromissória e o compromisso arbitral, ambas têm o objetivo de instaurar o 
procedimento arbitral, a clausula compromissória é definida previamente antes do 
surgimento do conflito, por meio do contrato, já o compromisso arbitral é definido 
após o conflito de interesses, assim a convenção abole a necessidade de Juízo 
Estatal, competindo a decisão ao arbitro. 
Via de regra a convenção de arbitragem diz respeito a litígios futuros, isto é, 
não existem no momento da celebração do contrato, a clausula compromissória não 
é facultativa, a partir do momento que surge o conflito as partes são obrigadas a 
submeter-se ao compromisso arbitral. 
A Lei nº 9.307/96 não define a Convenção Arbitral, cabendo então, aos 
doutrinadores, defini-la, José de Albuquerque Rocha (2008, p. 28) a define como: 
“Acordo escrito através do qual as partes se obrigam a submeter seus 
litígios civis, atuais ou futuros, ao juízo arbitral” ³ 
O Código de Processo Civil alemão, no § 1029 determina que: 
“A Convenção de Nova Iorque, que foi ratificada pelo Brasil e 
promulgada pelo Decreto 4311/ 02, revela no art. II, 1 que: Cada Estado 
Contratante reconhece a Convenção escrita pela qual as Partes se 
comprometem a submeter a uma arbitragem todos os litígios ou alguns deles 
que surjam ou possam surgir entre elas relativamente a uma determinada 
relação de direito, contratual ou não contratual, respeitante a uma questão 
susceptível de ser resolvida por via arbitral”. 4 
 
 
 
 
15 
1.3. CLÁUSULA COMPROMISSORIA 
É importante notar que antes da promulgação da Lei de Arbitragem, a Cláusula 
compromissória por versar sobre fato futuro, era vista pelo nosso ordenamento jurídico 
como tratado preliminar, em que a parte se comprometia (obrigação de fazer) a levar 
a controvérsia a juízo arbitral, os contratos que obtinham cláusula havia mero 
comprometimento de uma parte para com a outra, a presença da cláusula não impedia 
que o litigio fosse levado ao poder judiciário, sendo assim, era apenas fator gerador 
de indenização. 
Com a promulgação da lei nº 9.307/96, não existe mais dúvidas quanto a força 
exercida por meio desse ato, a clausula compromissória é apta a instituir o juízo 
arbitral, neste contexto é valido mencionar a súmula 485 do STJ: 
“A Lei de Arbitragem aplica-se aos contratos que contenham cláusula 
arbitral, ainda que celebrados antes da sua edição”. 5 
 
1.4. ASPECTOS FORMAIS 
A Cláusula Compromissória em via de regra deve ser estipulada por escrito 
como dispõe o art. 4º da lei de arbitragem, podendo ser inserida no próprio contrato 
ou apartada, é importante ressaltar que se o contrato for de adesão é necessário 
que a iniciativa da arbitragem surja da parte aderente. Nos contratos de adesão a 
arbitragem é observada com maior rigor, pois, em regra a parte aderente é tida como 
hipossuficiente. 
As alterações propostas pela lei de arbitragem, prevê a necessidade da parte 
vontade de instituir a uma cláusula compromissória fique restrita as relações de 
consumo, sendo assim, os contratos de adesão não consumeristas deverão se 
atentar se a cláusula consta documento em negrito e apartado. 
CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA CHEIA 
Institui todas as condições necessárias para o início da arbitragem, estipula 
como será escolhido o arbitro, as normas que serão aplicadas, local em que ocorrerá 
arbitragem, entre outras previsões, quanto mais disposições a cláusula dispuser, 
maior será a eficácia da arbitragem. 
CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA VAZIA 
É aquela que não possui em seu conteúdo as formas de instituir arbitragem, 
apenas determina que a arbitragem é o método de solução de possíveis conflitos 
 
 
 
16 
oriundo daquele contrato, sem elencar detalhadamente os requisitos, como por 
exemplo, qual câmara arbitral realizará o julgamento e a decisão do árbitro. 
 
1.5. COMPROMISSO ARBITRAL 
Compromisso arbitral é a convenção da qual as partes se submetem ao litígio 
existente a arbitragem, O compromisso arbitral pode ser judicial ou extrajudicial. 
Se judicial ele deve ser assinado por termos no contrato, perante o juiz ou 
tribunal que tramita, se for extrajudicial, deverá ser firmado por escrito, através de 
documento particular e assinado por duas testemunhas ou instrumento público. 
São elementos obrigatórios do compromisso arbitral, juntamente com o nome 
e qualificação das partes: nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou 
se for o caso, a identificação da entidade à qual as partes delegaram a indicação de 
árbitros, a matéria objeto da arbitragem, o local onde a sentença arbitral será proferida. 
E facultativos os seguintes elementos: o local, ou locais, onde se desenvolverá a 
arbitragem, se assim for convencionado pelas partes, a autorização para que o 
árbitro, ou os árbitros julguem por equidade; o prazo paraapresentação da sentença 
arbitral; a indicação da lei nacional ou das regras corporativas aplicáveis à arbitragem, 
quando assim convencionarem as partes; a declaração da responsabilidade pelo 
pagamento dos honorários e das despesas com a arbitragem; e a fixação dos 
honorários do árbitro, ou dos árbitros, que se não previstos, poderão ser fixados por 
sentença judicial, mediante requerimento do(s) árbitro(s). 
 
1.6. ARBITRAGEM NO DIREITO SOCIETÁRIO 
A cláusula arbitral pode ser inserida em contrato social que regulamenta 
regras para o funcionamento das sociedades. A cláusula inserida no contrato social 
desde o momento da constituição da sociedade não pode ser questionada em 
relação aos sócios participantes. Não é necessário a manifestação de concordância 
por meio de documento ou de destaque da cláusula no corpo do contrato pois o 
contrato social não é um contrato de adesão sendo assim as cláusulas são 
estipuladas de acordo com o interesse dos sócios. 
Com relação aos novos sócios não podem existir dúvida quanto à 
aplicabilidade da cláusula arbitral o novo sócio será inserido por meio de alteração 
contratual que deverá constar assinatura do novo integrante no quadro social após 
 
 
 
17 
ler e concordar com todos os termos do contrato estipulado pelos sócios fundadores. 
O problema que mais ocorre no campo das sociedades limitadas é a oponibilidade 
da cláusula arbitral a sócio que tenha restado vencido em deliberação social em que 
se decidiu pela inclusão na cláusula de alteração contratual posteriormente a 
constituição da sociedade 
De acordo com o artigo 1072 parágrafo 5º do código civil de 2002 a cláusula 
será oponível a todos os sócios, ainda que discordantes da deliberação "as 
deliberações tomadas de conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os 
sócios, ainda que ausentes ou dissidentes", havendo a deliberação no contrato 
social, as cláusulas impõem a todos os integrantes da sociedade de forma plena. 
Podemos concluir que o consentimento para vincular uma parte a cláusula 
compromissória ocorre de forma expressa ou tácita, porém no caso da inserção da 
cláusula de arbitragem nos contratos societários, a vinculação vai além da aceitação 
tácita, pois nas regras societárias a regra de que, na ausência de previsão de quórum 
especial estabelecido em lei ou em contrato social, as decisões societárias tomadas 
com base na maioria absoluta dos votos. 
A corrente doutrinária que defende a aplicação do princípio da maioria e a 
vinculação dos acionistas ausentes ou dissidente a cláusula compromissória 
estatutária tem a defesa de Pedro Batista Martins coautor do anteprojeto que deu 
origem à lei de arbitragem. A corrente minoritária defendida por modestos 
Carvalhosa e Nelson Eizirik e "propõe que somente os acionistas que votaram a 
favor a inclusão da cláusula arbitral em assembleia geral extraordinária estão a ela 
vinculados" 6 estes autores entendem que a cláusula compromissória inserida no 
estatuto tem natureza de pacto social, sendo assim não pertencem as normas 
organizativas da sociedade. 6 
Modesto Carvalhosa diz: “A cláusula compromissória constitui matéria 
facultativa e, portanto, potestativa do estatuto social. Não se confunde com as 
matérias que obrigatoriamente deverão constar do estatuto, que são especificas da 
sociedade anônima, ditadas pela lei. Distingue-se, dessa forma, a cláusula estatuária 
potestativa, que consubstancia o pacto compromissório, daquelas cláusulas 
mandatórias. Na primeira, o conteúdo é livre, desde que não seja vedado por lei ou 
que não altere os dispositivos obrigatórios da lei e do próprio estatuto. De qualquer 
forma, o estatuto não pode privar os acionistas do direito que lhes é 
 
 
 
18 
constitucionalmente assegurado com cláusula pétrea (art. 5º, XXXV, §4º, da CF), 
cujo §2º dispõe que os meios, processos ou ações que a lei confere ao acionista 
para assegurar seus direitos não podem ser elididos pelo estatuto ou pela 
assembleia geral”. 7 
Certamente ainda existe que entenda que a permanência do acionista, que 
não exerceu o referido direito de retirada, não vincula aos efeitos da cláusula de 
arbitragem. 
 
2. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURIDICA 
No direito brasileiro não somente as pessoas naturais são sujeitos de direitos 
e deveres, as pessoas jurídicas também tem inúmeros direitos e obrigações, quando 
se forma uma empresa ou sociedade é necessário a criação de uma personalidade 
própria, uma pessoa jurídica, cujo patrimônio é distinto dos sócios em decorrência 
do princípio da autonomia patrimonial, desta forma, se a empresa tiver uma dívida 
a mesma será cobrada do patrimônio da pessoa jurídica e não de seus sócios, essa 
autonomia patrimonial que existe entre pessoa jurídica e pessoa física dos sócios é 
de grande importância para estimular a atividade empresarial e comercial , 
entretanto, não pode servir como meio para cometimento de fraudes. 
O primeiro texto legislativo que tratou deste assunto expressamente foi o 
código de defesa do consumidor, lei n° 8078/90, todavia, o CDC é fortemente criticado 
pela doutrina pátria, uma vez que não diferenciou as hipóteses de desconsideração 
da personalidade jurídica dos casos de imputação direta de responsabilidade, 
derivada da prática de atos ilícitos. 
O Código Civil de 2002 dispõe em seu Artigo 50 que: [...] em caso de abuso da 
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão 
patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público 
quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas 
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores 
ou sócios da pessoa jurídica. 8 
O disposto no art. 50 do Código Civil faz referência ao abuso da personalidade 
jurídica, ao desvio de finalidade e à confusão patrimonial, não abordando de maneira 
explícita a prática do ato fraudulento. A desconsideração da personalidade jurídica é 
um meio de garantir os direitos ou ressarcimentos dos credores, para que os mesmos 
 
 
 
19 
não arquem com os prejuízos de uma empresa onde os sócios tem a finalidade de 
lesar a sociedade. A personalidade jurídica é um instituto que surgiu para incentivar o 
desenvolvimento das atividades econômicas, possibilitando que pessoas naturais 
atuassem diretamente em negócios, assumindo responsabilidades, a criação deste 
instituto possibilitou o desenvolvimento da economia por meio do exercício da 
atividade empresarial. 
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica ocorre quando um dos 
sócios contrai uma série de dividas em nome da pessoa jurídica, sendo assim surge 
a questão, quem vai cobrar a dívida? Sendo que a empresa não tem mais bens, neste 
momento que entra a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, onde será 
afastada a autonomia patrimonial da empresa e as dividas serão cobradas 
diretamente dos sócios. 
 
2.1. HIPÓTESES DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE 
JURÍDICA 
As hipóteses de desconsideração estão previstas em diversos diplomas legais 
de nosso ordenamento jurídico, o código de defesa do consumidor, lei de crimes 
ambientais, e no código civil; como são leis distintas cada uma prevê requisitos 
específicos para que seja aplicada a desconsideração da personalidade jurídica. 
A autonomia patrimonial da pessoa jurídica possibilita a limitação da 
responsabilidade dos sócios, assim como determina o art. 1.024 do Código Civil, o 
qual dispõe que “os bens particulares dos sócios não podem ser executados por 
dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais”. 
De acordo com os ensinamentos do professor Fábio Ulhôa Coelho: 
“ À teoria da desconsideração da personalidade jurídica não é 
contrária à personalização das sociedades empresárias e à sua autonomia 
em relação aos sócios. Ao contrário, seu objetivo é preservar o instituto, 
coibindo práticasfraudulentas e abusivas que dele se utilizam”. 9 
 
Sendo assim, a análise do caso concreto que permitirá o juiz decretar a 
desconsideração da personalidade jurídica, tendo em vista a ilicitude dos atos 
praticados, provando-se que houve fraude, abuso de direito ou confusão patrimonial. 
Os requisitos necessários para a desconsideração da personalidade jurídica, 
sendo dividida em teoria maior e menor variam, a falta de patrimônio ou a inexistência 
 
 
 
20 
de bens penhoráveis é um requisito simples para desconsideração da personalidade 
jurídica. 
 Gilberto Gomes Bruschi (2016, p. 143) elenca a possibilidade de desconsiderar 
a pessoa jurídica caso for caracterizado: 
l) insuficiência patrimonial; II) abuso de direito; III) excesso de poder; IV) 
infração da lei; V) fato ou ato ilícito; VI) violação do estatuto ou contrato social; VII) 
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica 
provocados por má administração; VIII) desvio de finalidade ou IX) confusão 
patrimonial. 
A) ABUSO DE DIREITO 
O abuso de direito é caracterizado no momento que o titular de um direito 
manuseia o que lhe foi atribuído não atendendo os limites impostos. 
De acordo com José Carlos Barbosa: a tese do abuso de direito no 
ordenamento brasileiro, não obstante, é expressa no título dos atos ilícitos sendo este 
ato uma conduta voluntária, comissiva ou omissiva, negligente ou imprudente, que 
viola direitos e causa prejuízos a terceiros. 
B) EXCESSO DE PODER 
Um exemplo de decesso de poder está previsto nos termos do artigo 966 do 
código civil brasileiro que trata a caracterização do abuso de poder na prática do ato 
que extrapola a sua competência. 
C) INFRACAO DA LEI 
A infração da lei é caracterizada como fraude e ato contra o princípio da 
legalidade. 
D) FATO OU ATO ILÍCITO 
Para que seja configurado o ato ilícito é necessário entender a ação ou 
omissão, o resultado, o nexo causal e a culpa 
E) VIOLAÇÃO DO ESTATUTO OU CONTRATO SOCIAL 
Considera-se requisito para desconsideração uma vez que o estatuto é 
essencial para o bom andamento da sociedade empresarial e personalização da 
pessoa jurídica 
F) FALÊNCIA, ESTADO DE INSOLVÊNCIA ENCERRAMENTO OU INATIVIDADE 
DA PESSOA JURÍDICA PROVOCADOS POR MÁ ADMINISTRAÇÃO 
 
 
 
21 
A má administração da pessoa jurídica é a forma mais notável de se considerar 
quando aplicável a desconsideração pois é de extrema importância que a 
administração tenha um cuidado necessário para que não ocorra estado de 
insolvência, inatividade ou falência. 
G) DESVIO DE FINALIDADE 
A finalidade de uma pessoa jurídica é focada no que ela é especializada, caso 
a finalidade seja desviada é caracterizado fraude. 
H) CONFUSÃO PATRIMONIAL 
Ocorre de diversas maneiras no âmbito societário, não há um respaldo legal no 
que tange a confusão, sendo entendimento do magistrado na análise do pedido de 
desconsideração da personalidade jurídica. 
 
2.2. TEORIAS ACERCA DA APLICAÇÃO DA DESCONSIDERAÇÃO DA 
PERSONALIDADE JURÍDICA 
 Existem teorias que norteiam a desconsideração da personalidade jurídica, 
que se diferencia de acordo com a sua aplicação e o momento da aplicação. 
I) Teoria Maior da desconsideração da personalidade jurídica, existe a 
autorização da autonomia patrimonial da pessoa jurídica ser ignorada, com o objetivo 
de coibir possíveis fraudes e abusos praticados através delas. Alguns requisitos legais 
deverão ser atendidos nesta teoria, sendo assim, oferece maior segurança aos sócios, 
está teoria foi adotada em nosso ordenamento jurídico pelo código civil de 2002, no 
artigo 50, sendo assim, obrigatório que se caracterize o abuso da personalidade, 
desvio de finalidade ou ainda a confusão patrimonial. 
II) Teoria Menor da desconsideração da personalidade jurídica, existem 
legislações com situações específicas, em que não há necessidade de atender 
nenhum dos requisitos descritos na Teoria Maior. A falta de bens ou direitos na 
sociedade que sirvam aos credores é o suficiente para atribuir ao sócio a obrigação 
da sociedade. 
A Doutrina considera-a como menos elaborada, pois a desconsideração poderá 
ocorrer em quaisquer hipóteses em que for necessária a execução do patrimônio do 
sócio, uma vez a sociedade não consegue arcar com o débito executado. 
O artigo 50 do código civil, caput do artigo 28 do código de defesa do 
consumidor, artigo 34 da lei de defesa da ordem econômica e o artigo 14 da lei 
 
 
 
22 
anticorrupção são exemplos no ordenamento jurídico brasileiro de aplicação da teoria 
maior. 
Como já estudamos no presente trabalho a desconsideração da personalidade 
jurídica entende-se como a ignorância momentânea da existência da personalidade 
jurídica de um ente, com a finalidade de atingir o patrimônio das pessoas que 
participam de uma sociedade. 
A sua aplicação é excepcional, o juiz apenas aplicar a desconsideração nas 
hipóteses previstas no artigo 50 do código civil. 
Essa aplicação é denominada pela doutrina como teoria maior e sua premissa 
é que seja aprovado os aspectos de desvio de finalidade, fraude ou abuso confusão 
patrimonial. O simples inadimplemento não é motivo/causa para que ocorra a 
desconsideração da personalidade jurídica como ocorre na teoria menor. 
Podemos observar em trecho de julgado do STJ sobre a aplicação da teoria 
maior seja ela subjetiva ou objetiva: 
"(...) A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico 
brasileiro, não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a 
pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações. Exige-se, 
aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de desvio de 
finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a demonstração de 
confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração)". 10 
Ainda sobre essa teoria, quanto o que diz respeito a responsabilidade do 
administrador, o autor Fábio Ulhôa se posiciona da seguinte forma: 
“A responsabilização, por exemplo, do administrador de instituição financeira 
sob intervenção por atos de má administração faz-se independentemente da 
suspensão da eficácia do ato constitutivo da sociedade. Ela independe, por 
assim dizer, da autonomia patrimonial da pessoa jurídica da instituição 
financeira. Tanto faz se a companhia bancária é considerada ou 
desconsiderada, a má administração é ato imputável ao administrador. É ele 
o direto responsável, porque administrou mal a sociedade; a obrigação é 
imputada a ele diretamente, sem o menor entrave, derivado da personalidade 
jurídica desta”. 11 
Em uma ampla definição geral sobre a desconsideração podemos ver que não 
deve ser aplicada somente para sanar práticas prejudiciais a atividade da sociedade, 
com a afetação de bens dos sócios controladores, também poderá ser usada para que 
a sociedade responda com seus bens se beneficiada de alguma forma por ato ilícito. 
A esse tipo dá-se o nome de desconsideração inversa da personalidade jurídica. 
Nesse sentido a, temos o pensamento do autor Fábio Konder comparato: 
"aliás, essa desconsideração da personalidade jurídica não atua apenas no 
sentido da responsabilidade do controlador por dívidas da sociedade 
controlada, mas também em sentido inverso, ou seja, no da responsabilidade 
dessa última por atos do seu controlador. A jurisprudência americana, por 
exemplo, já firmou o princípio de que os contratos celebrados pelos sócios 
único, ou pelo acionista largamente majoritário em benefício da companhia, 
mesmo quando não foi a sociedade formalmente parte do negócio, obrigam 
o patrimônio social uma vez demonstrada a confusão patrimonial de fato. 12 
Um exemplo da teoria menor está tipificado no parágrafo 5º do artigo 28 do 
código de defesa do consumidor e no artigo 4º da lei de defesa do meio ambiente: 
 
 
 
23 
Artigo 4°: "poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua 
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade domeio ambiente".13 
A teoria maior é a regra geral e vigente em nosso ordenamento jurídico, 
exigindo a comprovação do desvio de finalidade, prova de insolvência ou da confusão 
patrimonial para que, só neste momento, seja desconsiderada a personalidade 
jurídica para o caso específico. Após definir a teoria maior, doutrinadores subdividiram 
em paralelo objetivo e paralelo subjetivo. 
No paralelo objetivo pouco importa o elemento da fraude, a confusão 
patrimonial é considerada suficiente para desconsideração. O paralelo subjetivo 
conclui que deve haver uma demonstração de abuso da personalidade jurídica, seja 
por meio da fraude ou pelo desvio da finalidade atribuído a personalidade jurídica. 
Para os adeptos da teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica 
é reconhecido como aplicação objetiva do desvendamento, existindo completo 
desprezo a forma jurídica, sendo suficiente apenas a demonstração da insolvência da 
empresa e não a satisfação do crédito. Por não possuir respaldo legal na consolidação 
de leis trabalhista é aplicado subsidiariamente o artigo 50 do código civil. 
Essas teorias não possuem respaldo legal na consolidação de leis trabalhistas 
sendo assim é aplicado subsidiariamente o artigo 50 do código civil. Marcelo Terra 
Reis (2022, p. 125) diz que alguns magistrados fundamentam que a sociedade, no 
momento de sua constituição, assume os riscos da atividade econômica para adotar 
a teoria menor, porém toda atividade econômica possui risco. Como já foi estudado, 
a regra geral adotada em nosso ordenamento jurídico é a prevista no artigo 50 do 
código civil, ou seja, a teoria maior, salvo e situações excepcionais previstas em leis 
especiais. 
III) outro tipo de aplicação da disregard doctrine no direito brasileiro é a teoria 
expansiva da desconsideração, essa nomenclatura é em virtude de afetar quando 
afastada a autonomia patrimonial os bens dos sócios ocultos, aqueles que não 
participam do controle societário e que não consta no contrato social, porém 
participam sem ser notados das atividades empresariais. 
 Um exemplo prático da aplicação ocorre quando se põe a frente da empresa, 
com intuito de fraude, são chamados "laranjas", para representar aquela pessoa que 
não quer aparecer como sócio controlador. O professor Rafael Mônaco que atribuiu a 
atual definição desta teoria. A jurisprudência já admite o uso da teoria expansiva para 
atingir outras empresas, como ilustra o seguinte caso: 
“Em ação de execução movida em face da empresa A, por empresa B, a 
exequente verifica a dissolução irregular da executada, e tem ciência de que 
 
 
 
24 
a sociedade C, constituída por alguns sócios da sociedade A, exerce suas 
atividades no mesmo domicilio da executada, dissolvida irregularmente. 
Neste caso, admite-se a desconsideração da personalidade jurídica da 
sociedade C, de forma expansiva, para atingir os sócios ocultos, verdadeiros 
‘testas de ferro’ da sociedade executada, a fim de coibir eventual fraude. 14 
 
 
2.3. DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE 
JURÍDICA 
O novo código de processo civil tem um artigo específico, que prevê a 
possibilidade de seguir um incidente de desconsideração da personalidade jurídica, 
diferentemente do antigo código que não prévia este instituto. O pedido de 
desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em 
lei e será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber 
intervir no processo. 
Há duas modalidades de desconsideração da personalidade jurídica, a primeira 
é em sentido estrito, que consiste /em tratar-se como sendo da sociedade o patrimônio 
do sócio, com o objetivo de atingi-lo, fazendo com que o mesmo responda pelo 
deveres e obrigações da sociedade. Por ouro lado temos a desconsideração inversa, 
que atinge o patrimônio da sociedade, utilizando o patrimônio para responder pelas 
dividas dos sócios. 
O incidente da desconsideração inversa apresenta a possibilidade de utilizar a 
desconsideração da personalidade jurídica com a finalidade de alcançar o patrimônio 
da sociedade, em decorrência dos atos praticados pelos sócios, que atuaram de forma 
que ocultasse seus bens nas sociedades, afastando o princípio da autonomia 
patrimonial, responsabilizando de forma inversa à sociedade. 
Assim como ensina Fábio Ulhôa Coelho: Em síntese, a 
desconsideração é utilizada como instrumento para responsabilizar sócio por 
dívida formalmente imputada à sociedade. [...] A fraude que a 
desconsideração invertida coíbe é, basicamente, o desvio de bens. O 
devedor transfere seus bens para a pessoa jurídica sobre a qual detém 
absoluto controle. Desse modo, continua a usufruí-los, apesar de não serem 
de sua propriedade, mas da pessoa jurídica controlada”. 15 
 
A desconsideração inversa da personalidade jurídica ocorre na hipótese que o 
sócio controlador concentro seus bens, recursos, direitos e obrigações a sociedade 
em que ele faz parte, a teoria da desconsideração inversa será aplicada para tornar 
sem efeito a transferência indevida do patrimônio do sócio para a sociedade. 
 
 
 
25 
Mesmo a desconsideração sendo inversa é necessário que haja abuso da 
personalidade jurídica, nesse sentido inverso, conclui Marlon Tomazette que: "com 
efeito, é possível com sócio usa uma pessoa jurídica para esconder o seu patrimônio 
pessoal dos credores, transferindo-o por inteiro a uma pessoa jurídica e evitando com 
isso o acesso dos credores a seus bens”. 16 
 Em muitos destes casos, será possível visualizar fraude ou a confusão 
patrimonial e em razão disso, vem sendo administrada a desconsideração inversa 
para responsabilizar a sociedade por obrigação do sócio. 
A ministra Nancy andrighi conceituou o tema, como se vê na ementa a trecho 
do recurso especial n ° 948.117- MS ( 2007/0045262-5) : “ PROCESSUAL CIVIL E 
CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. ART. 50 DO 
CC/02. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA INVERSA. 
POSSIBILIDADE. I – A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados 
como violados impede o conhecimento do recurso especial. Súmula 211/STJ. II – Os 
embargos declaratórios têm como objetivo sanear eventual obscuridade, contradição 
ou omissão existentes na decisão recorrida. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, 
quando o Tribunal se pronuncia de forma clara e precisa sobre a questão posta nos 
autos, assentando-se em fundamentos suficientes para embasar a decisão, como 
ocorrido na espécie. III – A desconsideração inversa da personalidade jurídica 
caracteriza-se pelo afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para, 
contrariamente do que ocorre na desconsideração da personalidade propriamente 
dita, atingir o ente coletivo e seu patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa 
jurídica por obrigações do sócio controlador. IV – Considerando-se que a finalidade 
da disregard doctrine é combater a utilização indevida do ente societário por seus 
sócios, o que pode ocorrer também nos casos em que o sócio controlador esvazia o 
seu patrimônio pessoal e o integraliza na pessoa jurídica, conclui-se, de uma 
interpretação teleológica do art. 50 do CC/02, ser possível a desconsideração inversa 
da personalidade jurídica, de modo a atingir bens da sociedade em razão de dívidas 
contraídas pelo sócio controlador, conquanto preenchidos os requisitos previstos na 
norma. V – A desconsideração da personalidade jurídica configura-se como medida 
excepcional. Sua adoção somente é recomendada quando forem atendidos os 
pressupostos específicos relacionados com a fraude ou abuso de direito estabelecidos 
no art. 50 do CC/02. Somente se forem verificados os requisitos de sua incidência, 
 
 
 
26 
poderá o juiz, no próprio processo de execução, “levantar o véu” da personalidade 
jurídica para que o ato de expropriação atinja os bens da empresa. VI – À luz das 
provas produzidas, a decisão proferida no primeiro grau de jurisdição,entendeu, 
mediante minuciosa fundamentação, pela ocorrência de confusão patrimonial e abuso 
de direito por parte do recorrente, ao se utilizar indevidamente de sua empresa para 
adquirir bens de uso particular. VII – Em conclusão, a r. decisão atacada, ao manter a 
decisão proferida no primeiro grau de jurisdição, afigurou-se escorreita, merecendo 
assim ser mantida por seus próprios fundamentos. Recurso especial não provido. 17 
A desconsideração da personalidade jurídica tem o objetivo de coibir fraudes e 
abuso da pessoa jurídica, a desconsideração inversa busca proteger a sociedade 
como se fosse pessoa natural. 
 
2.4. PRESSUPOSTOS ENCONTRADOS NO DIREITO MATERIAL 
De acordo com o que determina o artigo 133, § 1º, deve ser observado os 
pressupostos relacionados a desconsideração da personalidade previstos em lei, os 
pressupostos mais importantes são: 
Artigo 50 do código civil: 
“Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo 
desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento 
da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, 
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de 
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de 
sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso”. 18 
 
 Artigo 28 do código de defesa do consumidor: 
“O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade 
quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de 
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato 
social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, 
estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica 
provocados por má administração”. 19 
 
Artigo 34 da lei 12. 529/2011 
“A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem 
econômica poderá ser desconsiderada quando houver da parte deste abuso 
de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos 
estatutos ou contrato social”. 20 
 
 Artigo 116, parágrafo único do código tributário nacional: 
“A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios 
jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato 
gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação 
 
 
 
27 
tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei 
ordinária”. 21 
 
Os requisitos legais para desconsideração da personalidade jurídica estão 
previstos no artigo 50 do código civil, são basicamente dois requisitos, quando ocorrer 
confusão patrimonial ou quando ocorrer desvio de finalidade. A confusão patrimonial 
ocorre quando os sócios usam os bens da empresa para fins particulares, o desvio de 
finalidade ocorre quando a empresa é usada com a finalidade social diversa. 
O novo código de processo civil trouxe em seu artigo 133 e seguintes, alguns 
procedimentos que devem ser respeitados, para que a desconsideração da 
personalidade jurídica ocorra, o caput do artigo 133 dispõe que o incidente de 
desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do 
ministério público, quando lhe couber intervir no processo, Portanto, a 
desconsideração não é mais feita no próprio processo principal, será instaurado 
apenso se tornando o incidente de desconsideração da personalidade jurídica sendo 
processado os fatos que podem ensejar a desconsideração de determinada empresa 
O artigo 134 determina que o incidente de desconsideração é cabível em todas 
as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução 
fundada em título executivo extrajudicial. Sendo assim uma novidade legislativa, pois 
o incidente de desconsideração pode ser instaurado em qualquer momento do 
processo, normalmente ocorre na fase de execução. O credor pode agora em 
qualquer momento requerer a instauração deste incidente processual trazendo os 
fatos para que o juiz análise se é o caso ou não de desconsideração de personalidade 
jurídica. 
O parágrafo 2º do artigo 134 dispensa a instauração do incidente se a 
desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese 
em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. Por força do parágrafo segundo a 
desconsideração pode ser requerida na própria petição inicial, neste caso não haverá 
o incidente processual e o juiz citar a o sócio e a própria pessoa jurídica. O parágrafo 
terceiro dispõe que se instaurado o incidente de desconsideração da personalidade 
jurídica, enquanto não for resolvido o incidente o processo será suspenso, salvo se o 
pedido for feito na inicial. 
Instaurado o incidente de desconsideração o artigo 135 determine que o sócio 
ou a pessoa jurídica deve ser intimada no prazo de 15 dias para que possa responder 
 
 
 
28 
e também requerer as provas que ele entender cabível. Após concluída a instrução o 
incidente será resolvido por decisão interlocutória, da qual, cabe recurso de agravo de 
instrumento. 
 
3. POSSIBILIDADE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE 
JURÍDICA NO PROCESSO ARBITRAL 
Autonomia da vontade é o pilar fundamental da arbitragem, a jurisdição arbitral 
nasce de um acordo de vontade, que partir do consentimento inequívoco das partes 
plenamente capazes se submetem a resolução de conflito de direito patrimonial 
disponível a terceiros imparciais na justiça privada, que são os árbitros. Assim como 
destaca Carmona: 
"A convenção arbitral, que produz efeitos contundentes, tem como 
contrapartida que demonstrar de forma clara e inequívoca vontade dos 
contratantes de entregar a solução de litígio (atual ou futuro, não importa) à 
solução de árbitro. O efeito severo de afastar a jurisdição do Estado não pode 
ser deduzido, imaginado, intuído ou estendido. O consentimento dos 
interessados é essencial. Assim, mesmo que o árbitro perceba a confusão 
patrimonial entre sociedades do mesmo grupo, não creio possível a inclusão 
na arbitragem de sociedade que não tenha celebrado o compromisso arbitral 
(ou que não seja signatário do contrato onde está inserida a cláusula 
compromissória)". 22 
 
A desconsideração da personalidade jurídica na arbitragem é um fundamento 
para se estender a eficácia da cláusula compromissória e da convenção de arbitragem 
a terceiros que não ratificou expressamente a convenção de arbitragem, ou seja, se a 
pessoa não assinou o contrato que contém a cláusula compromissória, mas de 
alguma forma participou da elaboração ou execução do contrato, ele pode no futuro, 
dependendo do caso concreto, ser incluído na arbitragem. Quando for caso de 
desconsiderar a pessoa jurídica, pode o tribunal arbitral aplicar a teoria da 
desconsideração da personalidade jurídica para atingir o patrimônio de terceiros que 
não assinaram a cláusula compromissória? 
O raciocínio formalista responde de forma negativa, pois a cláusula arbitral só 
valeria para quem assinar o contrato onde ela está inserida. Já o raciocínio funcional 
responderá no sentido oposto pois a teoria da desconsideração da personalidade 
jurídica ignora formalidades para imputar obrigação a pessoa que está fora da relação 
jurídica. 
 A doutrina nacional está dividida no que diz respeito a este tema, Carlos 
Alberto Carmona defende que não pode ser aplicada a desconsideração no 
 
 
 
29 
procedimento arbitral, pois atinge terceiro que não concordou em afastar a prestação 
jurisdicional, Arnold Wald acredita que existe a possibilidade de desconsideração nos 
casos em que se verifica o abuso na utilização da pessoa jurídica paralisar direitos 
pleiteados no processo arbitral. 
O artigo 50 do código civil trata a desconsideração da personalidade jurídica. 
Como uma sanção por ato ilícito para responsabilizar sócios de uma pessoa jurídica, 
como fundamento a extensão da cláusula compromissória. 
Algumas teorias reconhecidas nacional e internacionalmenterevelam o 
suposto consentimento Tácito de determinado sujeito com a cláusula compromissória, 
ainda que não seja manifestado expressamente a escolha da arbitragem, esta 
hipótese de ampliação nos limites subjetivos da arbitragem é uma exceção à regra 
pois costuma ser referida pela doutrina como extensão subjetiva dos efeitos da 
cláusula arbitral a terceiros não signatários. 23 
Nas cortes brasileiras teve um caso de grande relevância o caso 
CONTINENTAL Vs. SERPAL, o debate foi sobre a ampliação subjetiva do polo 
passivo da arbitragem tendo como objetivo a aplicação da teoria da desconsideração 
da personalidade jurídica. A empresa continental do Brasil produtos automotivos Ltda. 
e SERPAL Engenharia e construtora Ltda. firmaram um contrato de construção civil, 
cujo objetivo seria realizar obras de expansão na fábrica de pneus da continental 
localizada na Bahia. O contrato que continha a cláusula compromissória, teria sido 
descumprido pela SERPAL, que ensejou a instauração de um processo arbitral. 
Antes mesmo da instauração da arbitragem, a continental propôs uma medida 
cautelar de arresto contra a SERPAL no poder judiciário, pleiteando uma liminar para 
desconsiderar a personalidade jurídica da SERPAL, com a finalidade de atingir bens 
de seu sócio controlador, dos filhos e das empresas interpostas, que teriam recebido 
bens fraudulentos do controlador. Esta medida segundo a CONTINENTAL teve o 
intuito de resguardar a eficácia da futura sentença arbitral. 
O pedido de arresto foi concedido liminarmente em primeiro grau, o tribunal 
arbitral declinou da competência para analisar e decidir sobre os bens de terceiros 
atingidos pela desconsideração da personalidade jurídica da SERPAL, entre outros 
trechos desta decisão, destaca-se o seguinte: "A questão do abuso da personalidade 
jurídica da requerida por terceiros não há da jurisdição dos árbitros, mas, sim, do juiz 
togado, pois se refere ao momento da execução da sentença arbitral". 
 
 
 
30 
O juiz estatal proferiu a sentença julgando procedente o pedido cautelar de 
arresto, julgando procedente a liminar em favor da CONTINENTAL, a disputa chegou 
ao Superior Tribunal de Justiça, por meio do recurso especial interposto pela SERPAL, 
que foi distribuído ao ministro Marco Aurélio Bellizze, na Terceira Turma (REsp n.º 
1.698.730-SP). 
O Relator identificou dois pontos a serem enfrentados no julgamento do recurso 
especial no que diz respeito ao mérito. O primeiro relativo a necessidade de 
ajuizamento, no prazo legal de 30 dias, de ação principal perante o juízo arbitral contra 
todos os demandados sob pena de perda de eficácia da tutela a ela concedida. O 
segundo, Acerca da necessidade de apreciação pelo juízo arbitral do pedido de 
desconsideração da personalidade jurídica da SERPAL. 
O voto do ministro reconhece que as instâncias ordinárias não deveriam ter 
prosseguido com julgamento da medida cautelar dado que a atuação do poder 
judiciário em ações arbitrárias tem a natureza precária e provisória, segundo o relator 
cabe ao juiz estatal remeter os autos ao juízo arbitral. 
O relator também enfatiza que o bloqueio de bens não teria apenas a finalidade 
de antecipar os efeitos de futura decisão arbitral, pois não tem natureza satisfativa e 
definitiva. 
O principal fundamento da decisão do relator foi: "por recair sobre bem de 
terceiros, o que só se viabilizaria pela pretendida desconsideração da personalidade 
jurídica da empresa SERPAL, a correlata matéria deveria, necessariamente, ser 
produzida na ação principal, em tramitação perante o juízo arbitral, pois, do contrário, 
os efeitos subjetivos da vindoura sentença arbitral não os alcançaria". 
A CONTINENTAL não se insurgiu contra a decisão do tribunal arbitral que 
declinou da competência para analisar decisão judicial liminar, que poderia ter sido 
feita via ação anulatória, diante da não propositura da ação, houve decadência. O 
relator iniciou a fundamentação do seu voto pontuando que a cautelar de arresto seria 
indissociável independente de uma pretensão principal, sendo assim a 
desconsideração da personalidade jurídica deveria ser submetida ao juízo arbitral. 
O relator ainda observou que: 
 “a qualidade de contratante e de signatário do compromisso arbitral 
resulta, não dá simples denominação que as partes a ele atribuído o 
documento mas também da substância das relações que o emergem do 
contrato, reconhecendo o consentimento Tácito arbitragem em situações 
que, um terceiro, utilizando-se do seu poder de controle para a realização do 
 
 
 
31 
contrato, no qual a estipulação de compromisso arbitral, e, em abuso de 
personalidade da pessoa jurídica, é determinado que este ajuste, figura e 
formalmente, com manifesto propósito de prejudicar outro contratante 
evidenciado por exemplo, por atos de dissipação patrimonial em favor 
daquele”. 
Tal entendimento seria de rigor pois, prevaleceria a ideia que as partes que 
formalmente a subscrevem. "O processo arbitral servirá de escudo para evitar a 
responsabilização de terceiro que laborou em fraude verdadeiro responsável pelas 
obrigações ajustadas inadimplidas, notando-se o instituto da desconsideração da 
personalidade jurídica-remédio jurídico idôneo para contornar esse tipo de proceder 
fraudulento- não puder ser submetido ao juízo arbitral". 
O voto do ministro Bellizze foi no sentido de ser possível ao juízo arbitral decidir 
pela existência do consentimento implícito a cláusula compromissória por terceiro 
quando a parte formalmente contratante agir em abuso da personalidade jurídica, 
quando houver fraude ou má-fé, quando ocorrer alguma dessas hipóteses seria 
factível ao terceiro sofrer os efeitos da sentença arbitral. 
O recurso especial da SERPAL foi provido para diante do exaurimento da 
jurisdição estatal e da decadência da medida cautelar extinguir, sem resolução do 
mérito. A ministra Nancy apresentou um voto divergente, defendendo que não caberia 
ao tribunal arbitral apreciar a decisão do juiz estatal sobre a desconsideração da 
personalidade jurídica, alegando pena de violação à lei de arbitragem brasileira." Pois 
tal incidente tem a finalidade precípua de preservar íntegro o patrimônio da empresa, 
ou seja, trata-se de uma medida conservativa-para posterior cumprimento de eventual 
sentença arbitral condenatória" 
Tal divergência foi ratificada pelo ministro Paulo de Tarso Sanseverino, mas 
prevaleceu o voto do relator. A desconsideração da personalidade jurídica na 
arbitragem teve grande repercussão na fase de cumprimento da sentença, inaugurada 
pela continental, vencedora da arbitragem contra SERPAL. 
A CONTINENTAL não incluiu a ser pau no polo passivo de cumprimento de 
sentença, apenas o sócio controlador, os filhos e as sociedades a ele relacionada 
direta ou indiretamente. Os executados impugnaram o cumprimento de sentença 
alegando que contra eles inexistia título executivo e que a sentença arbitral seria nula 
por falta de intimação do administrador judicial. 
O juiz de primeiro grau acolheu as impugnações, extinguiu cumprimento da 
sentença sem resolução de mérito, reconheceu a ilegitimidade passiva dos 
 
 
 
32 
executados, ausência de título executivo contra eles e a nulidade do título, por ser 
inexigível. 
Ademais, a CONTINENTAL deveria habilitar o seu crédito nos autos da falência 
da SERPAL e lá postular a desconsideração da personalidade jurídica da massa falida 
a fim de arrecadar o patrimônio particular dos sócios. O tribunal de justiça do Estado 
de São Paulo teve a sentença confirmada por votação unânime. 
 
3.1. A DESCONSIDERAÇAO DA PESSOA JURIDICA E A POSSIBILIDADE 
DE EXTENSÃO DOS FEITOS DA EXECUÇAO DA SENTENÇA ARBITRAL A 
TERCEIROS. 
Como já visto anteriormente a desconsideração da personalidade jurídica 
ocorrer a requerida pelos interessados, se comprovados os requisitos basilares, se for 
comprovada a ocorrência de uma dessas condições, será afastadaa autonomia 
patrimonial para que os bens particulares dos sócios sejam afetados pelos efeitos da 
execução. 
Na legislação processual vigente a desconsideração ocorre geralmente em fase 
executória, decretada por meio de uma decisão judicial, exemplo disto é a aplicação 
da desconsideração da personalidade jurídica desta forma pelo STJ em REsp 
1266666, permitindo que os bens fossem alienados, sem previa participação no 
processo: 
PROCESSO CIVIL. FALÊNCIA. EXTENSAO DE EFEITOS. 
POSSIBILIDADE. PESSOAS FÍSICAS. ADMINISTRADORES NAO-
SÓCIOS. GRUPO ECONÔMICO. DEMONSTRAÇAO. 
DESCONSIDERAÇAO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. CITAÇAO 
PRÉVIA. DESNECESSIDADE. AÇAO REVOCATÓRIA. 
DESNECESSIDADE. 1. Em situação na qual dois grupos econômicos, unidos 
em torno de um propósito comum, promovem uma cadeia de negócios 
formalmente lícitos, mas com intuito substancial de desviar patrimônio de 
empresa em situação pré-falimentar, é necessário que o Poder Judiciário 
também inove sua atuação, no intuito de encontrar meios eficazes de reverter 
as manobras lesivas, punindo e responsabilizando os envolvidos. 2. É 
possível ao juízo antecipar a decisão de estender os efeitos de sociedade 
falida a empresas coligadas na hipótese em que, verificando claro conluio 
para prejudicar credores, há transferência de bens para desvio patrimonial. 
Inexiste nulidade no exercício diferido do direito de defesa nessas hipóteses. 
3. A extensão da falência a sociedades coligadas pode ser feita 
independentemente da instauração de processo autônomo. A verificação da 
existência de coligação entre sociedades pode ser feita com base em 
elementos fáticos que demonstrem a efetiva influência de um grupo societário 
nas decisões do outro, independentemente de se constatar a existência de 
participação no capital social. 4. O contador que presta serviços de 
administração à sociedade falida, assumindo a condição pessoal de 
administrador, pode ser submetido ao decreto de extensão da quebra, 
independentemente de ostentar a qualidade de sócio, notadamente nas 
hipóteses em que, estabelecido profissionalmente, presta tais serviços a 
diversas empresas, desenvolvendo atividade intelectual com elemento da 
empresa. 5. Recurso especial reconhecido, mas não provido.24 
 
 
 
33 
O principal requisito da cláusula compromissória está previsto no artigo 4º da 
lei de arbitragem e diz que a clausula deve estar prevista de forma expressa no 
contrato. Sendo assim sem a estipulação de cláusula por escrito ou sem aderência 
dos demais sócios a execução da sentença arbitral não terá efeito e não atingirá os 
demais sócios que não aceitaram a arbitragem como meio para dirimir possíveis 
conflitos. Alguns sócios podem alegar que pelo fato de não terem pactuado com este 
modo de solução de conflitos, não poderá sofrer os efeitos oriundos de uma eventual 
execução do título judicial (sentença arbitral), porém nosso ordenamento jurídico 
entende que a execução poderá alcançar os casos citados acima, estendendo os 
efeitos da execução. 
Em um julgado a segunda Câmara cível, do tribunal de justiça do Estado do Rio 
de janeiro entendeu estarem presentes, motivos que levaram a agravante pedir a 
aplicação da desconsideração da personalidade jurídica da sociedade em questão, 
para que os sócios que não faziam mais parte do quadro social da empresa tivessem 
seus bens afetados pelos efeitos da execução. 
“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA 
ARBITRAL INSTAURADA HÁ APROXIMADAMENTE DEZ ANOS, NÃO SE 
CONSEGUINDO CITAR A EXECUTADA. PESSOA JURÍDICA DEMANDADA 
QUE PROMOVEU DIVERSAS ALTERAÇÕES DE DENOMINAÇÃO, DE 
COMPOSIÇÃO SOCIETÁRIA E DE ENDEREÇO, NÃO SENDO 
ENCONTRADA, ASSIM COMO NÃO SÃO ENCONTRADOS SEUS SÓCIOS, 
NEM SE CONSEGUINDO LOCALIZAR BENS QUE POSSAM SER 
APREENDIDOS. DESVIO DE FINALIDADE DA PESSOA JURÍDICA, A 
CONFIGURAR ABUSO DESSA PERSONALIDADE. PRESENÇA DOS 
REQUISITOS PARA A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE 
JURÍDICA, A QUAL É DEFERIDA. PROVIMENTO DO RECURSO. (...) Além 
disso, o exame dos autos mostra que não foram encontrados, até hoje, os 
sócios da executada, sendo certo que a composição societária já foi por 
diversas vezes alterada, havendo entre os sócios e ex-sócios até mesmo 
pessoas jurídicas sediadas em país estrangeiro. O art. 50 do Código Civil é 
expresso em afirmar que a desconsideração da personalidade jurídica deverá 
ocorrer sempre que houver abuso de tal personalidade, caracterizado pelo 
desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. Pois como leciona o 
eminente Desembargador e Professor Nagib Slaibi Filho (A desconsideração 
da pessoa jurídica no novo Código Civil, artigo publicado em 
http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/Nagib%20Slaibi%20Filh o%20-
formatado.pdftt://...//ti/iliiilft.f, acesso em 15 de abril de 2014), pode-se 
“considerar o desvio de finalidade como a utilização de meios ou a busca de 
fins que não vão a favor da pessoa jurídica, mas a favor de outrem, sócio ou 
qualquer beneficiário. (...) Diante de tais considerações, DÁ-SE 
PROVIMENTO AO RECURSO para, deferida a desconsideração da 
personalidade jurídica da executada, determinar- se a inclusão no processo, 
devendo ser citados, todos os sócios atuais, assim como os sócios anteriores, 
desde a data da constituição do título executivo, prosseguindo o processo 
como de direito. ” 
Diante da decisão acima transcrita, é possível constatar que o poder judiciário 
já vem se posicionando a este tema, no sentido de ser viável a aplicação da 
desconsideração ainda que a execução seja oriunda de um julgamento proferido pelo 
tribunal arbitral. 
 
 
 
 
34 
3.2. CLÁUSULA DE ARBITRAGEM POR ESCRITO E ASSINADA: 
REQUISITOS FORMAIS 
O artigo 4º parágrafo 1º da lei de arbitragem estabelece que "a cláusula 
compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo ser inserida no próprio 
contrato ou em documento apartado. Em âmbito internacional o artigo segundo, da 
convenção de Nova Iorque (1958), determina que os estados signatários deverão 
reconhecer para efeito de convenção, “acordo escrito", consistente em cláusula 
compromissória. 
A doutrina e a jurisprudência discutem se a exigência de documento escrito 
seria da natureza do ato- ad substantiam -, ou requisito meramente probatório. 
J.E. Carreira Alvim entende que a cláusula compromissória não precisa ser 
revista de determinada forma, deve apenas demonstrar situação inequívoca da 
arbitragem para ambas as partes. Em contrapartida Nelson Nery Junior e Rosa Maria 
de Andrade Nery (NERY,2007, p. 1395) sustentam que: "A cláusula compromissória 
deve ser pactuada dentro de outro contrato, sendo da essência do ato a forma escrita". 
Nos autos da sentença estrangeira contestada n° 6753-7, o supremo tribunal 
federal julgou procedente a validade da cláusula de arbitragem inserida em um 
contrato de compra e venda não assinado pela parte compradora. Após o advento da 
Emenda Constitucional nº 45/2004, transferindo a competência para homologar as 
sentenças estrangeiras para o Superior Tribunal de Justiça, este Tribunal, no 
julgamento da Sentença Estrangeira Contestada nº 856-GB, manifestou-se no sentido 
de que a apresentação da cláusula compromissória devidamente assinada não seria 
requisito para a validade da arbitragem. 
 
3.3. APLICAÇÃO DA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA 
PERSONALIDADE JURIDICA NA ARBITRAGEM EM AMBITO 
INTERNACIONAL 
A doutrina e a jurisprudência internacional vêm admitindo a utilização da teoria 
da desconsideração da personalidade jurídica no âmbito da arbitragem, estendendo 
o efeito da cláusula compromissória para as partes que não são signatários em casos 
excepcionais. 
 A doutrina majoritária entende que os ordenamentos jurídicos mais 
desenvolvidos, requer os efeitos da cláusula de arbitragem para uma parte não 
 
 
 
35 
signatária com fundamento na teoria da desconsideração da personalidade jurídica, 
promovendo evidências de que uma empresa exerça ações rotineiras de outra ou 
exercia esse poder para fraudar terceiro. 
Paratítulo de exemplo temos o caso Dallah Real Estate Co. v. The Ministry of 
Religious Affairs, Gov. of Pakistan, uma empresa Saudita negociou com o ministério 
dos assuntos religiosos do governo paquistanês um contrato de aquisição de 
residência para abrigar peregrinos, após assinar o memorando de entendimento entre 
as partes o presidente do Paquistão insistiu para dar seguimento ao negócio que 
deixou de existir pois não houve promulgação do decreto presidencial pelo 
parlamento. 
Antes da extinção havia sido celebrado com a Dallah um contrato para 
cumprimento ao memorando de entendimento, e nesse contrato continha uma 
cláusula de arbitragem o tribunal arbitral decidiu que, apesar de não ser parte do 
contrato, o governo paquistanês se encontrava vinculado pela cláusula de arbitragem. 
A Dallah promoveu a execução da decisão arbitral na Inglaterra e na França, 
chegando a resultados distintos quanto à questão do reconhecimento da sentença. 
De um lado, a UK Supreme Court, Concluiu que a convenção de arbitragem não 
vincular o governo paquistanês, sendo que o mesmo não era parte no contrato, de 
outro lado, a Cour d' Apppel , que considerou que o governo paquistanês, através do 
ministério dos assuntos religiosos "se comportou como se o contrato fosse seu [...] e 
como a verdadeira parte paquistanesa". De acordo com o tribunal francês, o governo 
paquistanês deveria ser atingido pelos efeitos da cláusula compromissória, a corte 
francesa entendeu, portanto, a possibilidade de extensão dos efeitos da cláusula de 
arbitragem a terceiro não signatário do contrato. 
Também temos o caso Dow Chemical v. Isolver Saint-Gobain, em que a 
controladora americana - Dow USA - de uma subsidiária francesa - Dow France – que 
procurou beneficiar-se de uma cláusula de arbitragem inserida em contrato celebrado 
pelas suas afiliadas - Dow AG e Dow Europe - com terceiros. 
Tendo em vista a rejeição da contraparte em aceitar o ingresso da controladora 
no procedimento arbitral, o tribunal foi chamado a responder à questão da vinculação 
da controladora não signatária ao contrato. Ao decidir pela possibilidade de ingresso 
da controladora ao procedimento, o tribunal arbitral citou vários indícios de que havia 
uma intenção comum entre todas as partes na conclusão do contrato, de modo que 
 
 
 
36 
seria possível a extensão dos efeitos da cláusula de arbitragem no caso específico. 
Os árbitros, no referido caso, preocuparam-se mais com a realidade econômica dos 
contratos do que com meros formalismos jurídicos. 
Ainda há várias decisões que invocam a teoria da desconsideração da pessoa 
jurídica no âmbito da arbitragem, principalmente para reagir a ocorrência de abusos e 
fraudes em casos em que a parte não tem patrimônio suficiente para honrar seus 
compromissos e a operação foi realizada em virtude da credibilidade da sua 
controladora. 
A jurisprudência internacional admite a aplicação da teoria da desconsideração 
da personalidade jurídica, no âmbito da arbitragem, desde que, esteja presente todos 
os pressupostos, A teoria da desconsideração visa coibir o mau uso da pessoa jurídica 
caracterizada pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial, de modo que a parte, 
tendo abusado da pessoa jurídica, ainda venha a dela poder se aproveitar para 
esquivar-se do cumprimento da obrigação de resolver seu conflito pela via arbitral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
CONCLUSÃO 
 
 
A arbitragem é um método utilizado para a resolução de controvérsias 
existentes, tendo como fundamento a autonomia da vontade das partes, que optam 
por se submeter ao processo arbitral. O crescimento da arbitragem se dá em razão 
das características e vantagens do instituto. 
A Lei de Arbitragem confere ao instituto natureza jurídica jurisdicional, assim, a 
sentença proferida pelo juízo arbitral forma título executivo judicial. Este mesmo 
diploma legal também estabelece limites à solução dos conflitos por meio do processo 
arbitral. Assim, somente pessoas capazes de contratar poderão submeter conflitos 
patrimoniais e disponíveis ao juízo arbitral. 
Com a criação da pessoa jurídica, surgiram fraudes se utilizando da autonomia 
patrimonial. A desconsideração da personalidade jurídica é a forma por meio da qual 
se supera os limites do patrimônio da pessoa jurídica a fim de atingir o patrimônio dos 
sócios, 
Por fim, podemos observar que a questão da desconsideração da 
personalidade jurídica em procedimentos arbitrais no Brasil envolve temas que são 
abordados sob respectivas distintas, a teoria da desconsideração é discutida desde a 
década de 60, sendo utilizada como mecanismo funcional sobre o instituto da pessoa 
jurídica para afastar o formalismo e as hipóteses em que houver abuso de direito ou 
fraude, na arbitragem a questão é mais recente no Brasil, pois o problema da extensão 
da cláusula arbitral a terceiro suscita grandes dúvidas e controvérsias. 
 A teoria da desconsideração da pessoa jurídica em relações civis e 
empresariais já é positivada em nosso sistema jurídico e a jurisprudência aplica 
sempre que for necessário. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Palhares e FONTES, André R.C. Notas introdutórias sobre natureza jurídica da 
arbitragem, 2007Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2007-jul-
 
 
 
38 
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%20resumo%3A%20seria%20a%20arbitragem,o%20enquadramento%20privado%2
0da%20arbitragem >. Acesso em: Acesso em 09 de outubro de 2020. 
³ ROCHA, José de Albuquerque. Lei de Arbitragem: uma avaliação crítica. 1ª Ed.. São 
Paulo: Atlas, 2008. 
4 Legislação Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4311.htm>. Acesso em: 09 de 
outubro de 2020. 
5 Súmula 485/STJ - 01/08/2012. Disponível em: < 
https://www.legjur.com/sumula/busca?tri=stj&num=485>. Acesso em: 09 de outubro 
de 2020. 
 6 TELLECHEA, Rodrigo. Arbitragem nas Sociedades Anônimas: Direitos 
Fundamentais e Princípio Majoritário. São Paulo: Quartier Latin, 2016, p. 377. 
 7 CARVALHOSA, Modesto de Souza Barros. Comentários à lei das Sociedades 
Anônimas. Vol. 2. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 357 
8 Legislação. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 
09 de outubro de 2020. 
9 BUSHATSKY, Daniel. Desconsideração da personalidade jurídica. Enciclopédia 
jurídica da PUC. 2018 disponível em: < 
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/229/edicao-1/desconsideracao-da-
personalidade-juridica> Acesso em: 09 de outubro de 2020. 
10 ARAUJO, Paula Tadeu de Faria Assis. Dos requisitos para o deferimento do 
incidente de desconsideração da personalidade jurídica conforme do entendimento do 
STJ: da adoção da teoria maior. Migalhas.2019. Disponível em: 
<https://migalhas.uol.com.br/depeso/302492/dos-requisitos-para-o-deferimento-do-
incidente-de-desconsideracao-da-personalidade-juridica-conforme-do-entendimento-
do-stj--da-adocao-da-teoria-maior> Acesso em: 11 de outubro de 2020. 
11 MORAIS, Mítia Cândido. A norma antielisiva e os limites da desconsideração da 
personalidade jurídica no direito tributário brasileiro. Jus. Disponível em: < 
https://jus.com.br/artigos/51359/a-norma-antielisiva-e-os-limites-da-desconsideracao-
da-personalidade-juridica-no-direito-tributario-
https://www.legjur.com/sumula/busca?tri=stj&num=485
file:///C:/Users/Usuário/Desktop/direito%2010-10/tcc/BUSHATSKY,%20Daniel.%20Desconsideração%20da%20personalidade%20jurídica.%20Enciclopédia%20jurídica%20da%20PUC.%202018%20disponível%20em:%20%3c%20https:/enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/229/edicao-1/desconsideracao-da-personalidade-juridica%3e%20Acesso%20em:%2009%20de%20outubro%20de%202020.%0d
file:///C:/Users/Usuário/Desktop/direito%2010-10/tcc/BUSHATSKY,%20Daniel.%20Desconsideração%20da%20personalidade%20jurídica.%20Enciclopédia%20jurídica%20da%20PUC.%202018%20disponível%20em:%20%3c%20https:/enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/229/edicao-1/desconsideracao-da-personalidade-juridica%3e%20Acesso%20em:%2009%20de%20outubro%20de%202020.%0d

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