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Políticas Públicas, Epidemiologia e Indicadores em Saúde II Saúde da População em Situação de Rua - A população em situação de rua na contemporaneidade tem origem na Revolução Industrial. - As indústrias não abraçavam todos os camponeses. - O novo ritmo de trabalho também se somavam nas problemáticas sociais. · MOTIVOS: - Alcoolismo e outras drogas: 35%. - Desemprego: 30%. - Conflitos familiares: 29%. - O termo “mendigo” além de pejorativo, reflete o senso comum de que o ESTAR NA RUA é a mesma coisa em todas as situações. “Não são contribuintes”, “dependem do Estado”. - Os direitos sociais são destinados a todes. Por isso são direitos. - Segundo o IPEA, em 2020, o Brasil tinha 221.869 pessoas em situação de rua. - São expostos a constantes situações de risco, violências diversas, seja física ou psíquica. - Quem não contribui se torna invisível. · POLÍTICAS: - A Política Nacional para a população em situação de rua, de 2009, estabelece: Garantir acesso as políticas sociais por meio de serviços, benefícios, programas e projetos realizados de forma intersetorial, transversal e interdisciplinar e envolve as três esferas de poder. - Prevê ainda: Instituir a contagem oficial dessa população. Atendimento humanizado e universalizado. O respeito as condições sociais e as diferenças das mais diversas categoria. - Com a pandemia, cerca de 116,8 milhões de pessoas convivem com algum grau de insegurança alimentar. · RELATÓRIO DA ONU – 2015: - “A situação de rua é uma crise global de direitos humanos que requer uma resposta global urgente. Vem afetando todos os contextos socioeconômicos – as economias desenvolvidas, emergentes e em desenvolvimento, na prosperidade e austeridade. Trata-se de um fenômeno diverso, que afeta diferentes grupos de pessoas de diferentes maneiras, mas com características comuns. É um sintoma da incapacidade dos governos de reagir às crescentes desigualdades entre as rendas, a riqueza e o acesso à terra e à propriedade, bem como incapacidade de dar uma resposta efetiva aos problemas da migração e da urbanização. A situação de rua se produz quando a moradia é tratada como uma mercadoria e não como um direito humano.” - Conceito: O termo “homelessness” em inglês nem sempre encontra equivalência em outros idiomas. “Homelessness” sugere tanto a falta de habitação física quanto a perda do sentido de pertencimento no meio social. Em outros idiomas, a expressão mais próxima seria “sem teto”, falta de abrigo ou transitoriedade. - 2 subgrupos: população de rua absoluta e população de rua relativa. · PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA: - População em Situação de Rua (PSR): é uma condição não como uma situação pessoal e passageira, mas como “consequência de uma situação a que muitos trabalhadores são conduzidos, em decorrência das desigualdades sociais e da elevação dos níveis de pobreza produzidos pelo sistema capitalista” (Silva, 2009, p. 137). - Investigações da época indicavam que o motivo do crime seria para silenciar possíveis testemunhas que teriam observado policiais em esquemas de tráfico de drogas da região. - Na época, foi preso um segurança particular, denunciados seis policiais militares, três soldados foram presos, porém foram soltos por falta de provas. - A partir de então ninguém mais foi acusado de ter cometido o crime. - O Decreto Nº 7.053, de 23 dezembro de 2009 que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua – PNPR, observamos seguinte definição de População em Situação de Rua: “O grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória. ” - “A população em situação de rua é alvo de um comportamento discriminador e arbitrário. Ela é duplamente vítima: porque incomoda e porque não produz. Incomoda ver pessoas que passam fome, que não têm lugar para dormir, que, por vezes, estão sujos e deprimidos; a sociedade muitas vezes é assim, enxerga apenas o imediato, sem considerar as causas que determinam o estar na situação de rua.” (BRASIL, 2015). · POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA – CARACTERIZAÇÃO: - Imigrantes recentes que vem em busca de emprego ou tratamento. - Vítimas de desastres (inundações, incêndios, desabamentos). - Vítimas de violência e perseguição extrema. - Mulheres vítimas de violência doméstica. - Conviventes de acomodações temporárias. - Egressos de instituições de longa permanência. - Egressos do sistema penitenciário. - Pessoas que dormem nas ruas sob viadutos, pontes etc. - Pessoas com transtornos mentais graves em abandonos. - Pessoas com dependência química com perdas de vinculo familiar. - Trecheiros. - O Brasil não conta com dados oficiais sobre a população em situação de rua. Esta ausência prejudica a implementação de políticas públicas voltadas para este contingente e reproduz a invisibilidade social da população de rua no âmbito das políticas sociais. Censo do Sistema Único de Assistência Social (Censo Suas). Cadastro Único (CadÚnico – gov. federal). IPEA. IBGE - CENSO 2020. - Estimativa: 101.854 pessoas em situação de rua – 77,02% em municípios de grande porte. - 48,89 na região sudeste. Cidade de São Paulo – censo de 2019: 23.344. 70% negros e 27% brancos (FIPE 2015). - Caracteristicas majoritárias: sexo masculino, adultos jovens (25 a 44 anos), com atividade remunerada, a maior parte do tempo nas áreas comerciais das cidades. “As pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas não são maioria entre as pessoas em situação de rua, e reconhece-se seu uso muito mais como estratégia de sobrevivência à vida nas ruas. Muitos deles passaram a fazer uso de substâncias psicoativas como suporte para a dor e o sofrimento em que se encontram.” - Conflito familiar (50%). - Uso de drogas ou álcool (33%), desemprego (23%). - Perda de moradia (13%). OBS: cada entrevistado podia selecionar mais de um motivo. Fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo – 2019. “O motivo mais comum para esse fato acontecer é o desemprego. Muitas pessoas não gostam de ir para albergues e preferem ficar nas ruas, por causa das regras para horários de entrada, banho e pela separação dos gêneros masculino e feminino por dormitório. Do mesmo modo, por terem que conviver com pessoas desconhecidas e pela possibilidade de sofrerem agressões, escolhem pela liberdade das ruas, ainda que precária.” (WESTPHAL, 2018). Fonte: IPEA - 2020 “As políticas sociais e econômicas são paliativas, necessitando readequação e modificação. É necessário, além do acolhimento, a integração social dos indivíduos; o que inclui a oportunização de educação, trabalho e renda.” (WESTPHAL, 2018). · CENTRO POP – CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: - Decreto Nº 7.053/2009. - Acompanhamento técnico e especializado. - Atendimento regional. - Intersetorialidade junto com o CRAS e CREAS. - Necessidade de cuidados especiais. - Espaço de referência para o convívio grupal, social e desenvolvimento de relações de afetividade, respeito e solidariedade. - Objetivos: Contribuir para a construção de novos projetos de vida, respeitando as escolhas dos usuários e as especificidades do atendimento. Contribuir para resgatar e preservar a integridade e a autonomia da população em situação de rua. Possibilitar condições de acolhida na rede socioassistencial. Promover ações para a reinserção familiar e/ou comunitária. Redução das violações dos direitos socioassistenciais, seus agravamentos ou reincidência. Redução de danos provocados por situações violadoras de direitos. · QUAL INSTRUMENTO, NO BRASIL, QUE TRATA DA POLÍTICA URBANA E DO PLANEJAMENTO URBANO? - A Constituição Federal do Brasil, nos Art. 182 e 183, trata da questão da política urbana: “Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo PoderPúblico municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. - 1° O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana; - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. · POLÍTICA DE HABITAÇÃO NO BRASIL: - De acordo com o Art. 182 da Constituição do Brasil, fica claro que a responsabilidade pela política urbana no Brasil é do poder municipal, ou seja, cabe ao município prover meios que tornem a cidade um espaço de convivência melhor. Vale salientar que tal situação é alcançada quando a cidade atende a requisitos básicos que envolvem a sua função social. Dentre esses requisitos, podemos destacar: Habitação (moradia digna para todos, envolvendo água, luz e saneamento); Circulação (questão relacionada ao transporte público de qualidade); Lazer (praças, parques. Afinal, uma pessoa sem lazer é uma pessoa estressada, fato que poderá gerar violência); Trabalho (a cidade que não oferece trabalho formal aos seus habitantes sofrerá com problemas de mendicância, aumento do consumo do álcool e das drogas e, por fim, o aumento da violência). - Periferias... No plural. Isto porque são milhares de Vilas e Jardins. Também porque são muito desiguais. Algumas mais consolidadas o ponto de vista urbanístico; outros verdadeiros acampamentos destituídos de benfeitorias básicas. - Mas, no geral, com graves problemas de saneamento, transportes, serviços médicos e escolares, em zona onde predominam casas autoconstruídas, favelas ou o aluguel de um cubículo situado no fundo de um terreno em que se dividem as instalações sanitárias com outros moradores: a ‘vila’ é o cortiço da periferia.” (KOWARICK, Lúcio. Escritos Urbanos. São Paulo: Editora 34, pg. 43.) · BRASIL URBANO: - Quase 85% dos brasileiros vivem em cidades (5.570 Munic.) - 57,6% dos brasileiros moram em 326 Municípios (5,8%) com mais de 100 mil hab. - 99,7% dos domicílios com iluminação (2015). - 84,4% dos domicílios com lixo coletado elétrica diretamente (2019). - 85,5 com rede geral de abastecimento de água (2019). - 68,3% dos domicílios com esgotamento sanitário (rede geral ou fossa séptica ligada à rede (2019). - 24,89 milhões de domicílios urbanos inadequados (39,84% do total de domicílios duráveis urbanos). - 20,7 milhões de domicílios com renda per capita de até 2 SM (21,1%). · SAÚDE DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: CONSULTÓRIO NA RUA (PNAB-2017): - Os Consultórios na Rua são formados por equipes multiprofissionais e prestam atenção integral à saúde de uma referida população em situação de rua in loco. - As atividade são realizadas de forma itinerante desenvolvendo ações compartilhadas e integradas às Unidades Básicas de Saúde. - Os Consultórios na Rua lidam com diferentes problemas e necessidades de saúde da população em situação de rua, desenvolvendo ações compartilhadas e integradas também com as equipes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), dos serviços de Urgência e Emergência e de outros pontos de atenção, de acordo com a necessidade do usuário. · ESPECIFICIDADE DO ATENDIMENTO À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: - Violências. - Alimentação incerta e em baixas condições de higiene. - Água de baixa qualidade e pouco disponível. - Privação de sono. - Privação de afeição. - Variações climáticas. - Cobertura limitada pelas ESFs. - Falta de tempo para buscar atendimento. - Vergonha. - Anamnese e semiologia. - Autocuidado. - Internação e alta em serviços de saúde. - Adesão ao tratamento e acompanhamento. FATORES DIFICULTADORES: - Baixa autoestima. - Alimentação inadequada. - Sintomas imperceptíveis. - Uso de álcool e outras drogas. - Transtornos mentais. - Dinâmica da rua, que não contribui para que os remédios sejam tomados com regularidade. - Roubo dos pertences individuais e/ou seu recolhimento pelos órgãos públicos – entre eles, os medicamentos sobre o cuidado do doente. - Regras rígidas estabelecidas pelos serviços de saúde. - Fixação de dias e horários de atendimento. - Não disponibilidade de atendimento quando apresentam efeitos colaterais. · SAÚDE DOS PÉS: · INFESTAÇÕES: · TUBERCULOSE: OBSTÁCULOS AO TRATAMENTO CONTINUADO: - Baixa autoestima. - Alimentação inadequada e sintomas imperceptíveis. - Uso de álcool e outras drogas e outros transtornos mentais. - Dinâmica da rua, que não contribui para que os remédios sejam tomados com regularidade. - Roubo dos pertences individuais ou de seu recolhimento pelos órgãos públicos – entre eles, os medicamentos sobre o cuidado do doente. - Regras rígidas dos serviços de saúde, fixação de horários de atendimento. - Não disponibilidade de atendimento quando apresentam efeitos colaterais. · HIV E OUTRAS IST: - Abordar a questão da sexualidade. - Oferecer exames de HIV, hepatites virais e sífilis. · GRAVIDEZ DE ALTO RISCO: - Fatores de cuidado à saúde: gravidez na adolescência, ausência de pré-natal adequado, HIV + e com abandono de tratamento, uso prévio de drogas, idade gestacional incorreta, contrações em idade gestacional desconhecida, provável infecção urinaria, anemia, descoberta de sífilis gestacional. - Fatores emocionais: resistencia inicial em aceitar abordagem da equipe e orientações prestadas a respeito do risco dessa gravidez sem acompanhamento. - O acolhimento e o vínculo com a equipe, e a construção da linha de cuidado em rede são primordiais para o bom desenvolvimento do caso. · DOENÇAS CRÔNICAS: - Agravos mais comuns: hipertensão, DM e DPOC. - Elevadas prevalências em idades precoces: hábitos de vida (tabagismo, alimentação inadequada etc.) - Difícil controle: ausência de abrigamento estável, dieta e medicamentos em horários certos. - Ações que podem ser realizadas: A lista de usuários estratificada por risco é chave na condução daqueles com doenças crônicas. Em geral, a população em situação de rua acumula diversas patologias a condições crônicas. Necessidade de projeto terapêutico com participação de vários pontos da rede. · ALCOÓL E OUTRAS DROGAS: - Comum na população em situação de rua. - Dificuldade no tratamento: extrema vulnerabilidade. - Vinculo terapêutico: pessoa e o profissional ou a equipe. Esse laço se desenvolve lentamente e não tem um padrão linear. - Facilita o surgimento de confiança e o engajamento da pessoa ao tratamento. · SAÚDE BUCAL: - Dificuldades vivenciadas pelo profissional: Dificuldade em comparecer à consulta no dia e horário agendado; falta de hábitos de higiene bucal; poucos equipamentos para a atenção às necessidades básicas, como locais para higiene e guarda-volumes (perda sistemática de escova, dentifrício, medicamentos. - O trabalho da saúde bucal extrapola o sentido somente de assistência. - Estudos mostram que contribui para a construção de vínculo, possibilita o resgate de autoestima, podendo contribuir para a reinserção social e resgate da cidadania. Vulnerabilidade programática: pessoa que mora em área de deslizamento, perde a casa e precisa morar na rua. Vulnerabilidade social: englobar todos os moradores de rua dentro de “mendigo” sem considerar suas características individuais. Vulnerabilidade individual: a pessoa não se sente confortável de procurar uma UBS/UPA pois tem vergonha da sua condição. Injustiça ambiental: essas áreas com populações vulnerabilizadas são tratadas como lixões e aterros; além de não oferecer nada a essa população pois eles devem “aceitar qualquer coisa”.
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