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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO FACULDADE DE ENFERMAGEM, FARMÁCIA E FISIOTERAPIA Camila Garcia Belini Julia Nascimento da Silva Larissa Scalabrin E. Ifran Práticas alternativas para o grupo de hipertensos na UBS Jardim Seminário Campo Grande - MS 2022 1. Metodologia O presente estudo foi realizado por meio da metodologia de problematização do Arco de Maguerez, apresentando caráter descritivo, e ocorreu na cidade de Campo Grande-MS entre os meses de abril a maio de 2022. A população de estudo constou de 14 pacientes hipertensos, usuários do Sistema Único de Saúde, atendidos na Unidade de Saúde da Família Jardim Seminário. Os critérios de inclusão foram: ter hipertensão arterial e serem cadastrados na Unidade de Saúde da Família (entre os anos de 2020 e 2022) e possuir capacidade de responder o instrumento de pesquisa. Foram excluídas pessoas com diagnóstico exclusivo de diabetes. Para a identificação dos pacientes, foi realizado um levantamento dos dados dos usuários cadastrados no antigo programa HiperDia, em conjunto com entrevistas, empregando o uso de um roteiro semi estruturado, que continha informações sociodemográficas, conhecimentos básicos do que é Hipertensão Arterial (HA), uso ou não de métodos para a prevenção da HA, plantas medicinais utilizada e modelos que habitualmente pratica para a prevenção da HA. Na prática, o trabalho foi realizado por demanda espontânea de pessoas que portavam a hipertensão arterial e compareciam à UBS, não sendo possível a realização de grupo fechado devido ao difícil acesso a essas pessoas semanalmente, se comprometendo a ir a todos os encontros programados. Pelo mesmo motivo, foram efetuados 3 encontros ao invés de 4, como programado inicialmente. Neste caso, a pauta do encontro do dia faltante (dia 03) foi adiada para a próxima reunião (realização de resumo das pautas do dia 03 e 04). 2. Observação da realidade A Hipertensão Arterial faz parte de um grupo de doenças cardiovasculares (DCV) e que, possui maior relevância nas últimas décadas pelo fato de estar relacionada ao estilo de vida do mundo capitalista: comidas industrializadas, fast foods, mercado de trabalho cada vez mais competitivo (acarretando no aumento do estresse), uso de automóveis e a indústria tecnológica que favorecem a inatividade física, e por aí vai. Essa grande mudança na forma como conduzimos a nossa vida reflete inclusive nas estatísticas sobre o assunto, tanto nacionais quanto globais. No cenário internacional, em 2017, ocorreram quase 18 milhões de mortes por causas de doenças cardiovasculares (31,8% do total de mortes), sendo que, no mesmo ano, no Brasil, foram registrados 1.312.663 óbitos no total, com um percentual de 27,3% para as DCV, sendo a HA associada a 45% destas mortes - de modo direto ou por lesões aos órgãos alvo. (BARROSO et al., 2021). A HA é uma doença multifatorial, de início assintomático, acomete as camadas mais vulneráveis da sociedade, é bastante onerosa tanto para o indivíduo portador da doença quanto para o sistema de saúde (em termos de hospitalizações, medicamentos e procedimentos ambulatoriais) e, por ser crônica, o tratamento possui baixa adesão por parte do paciente - sendo, portanto, de extrema relevância seu diagnóstico precoce, acompanhamento e investimento em pesquisas, recursos humanos e infraestrutura adequada à demanda. (BARROSO et al., 2021). 3. Pontos chaves - Fatores inerentes ao indivíduo (predisposição genética, idade, sexo, condições socioeconômicas, nível de escolaridade entre outros). - Fatores de risco modificáveis (sedentarismo, alimentação inadequada, consumo nocivo de bebidas alcoólicas e tabagismo, sobrepeso/obesidade, estresse excessivo, entre outros); -Tratamento (medicamentoso X mudança no estilo de vida - ex. exercício físico, controle de estresse, aromaterapia e fitoterapia). 4. Objetivo Elaborar estratégias para prevenção do agravamento da HA, englobando políticas públicas de saúde combinadas com ações das sociedades médicas e dos meios de comunicação. O objetivo é estimular, por meio da educação em saúde, o controle dos níveis pressóricos, a prevenção de agravos (ex. lesões em órgãos alvo), o tratamento contínuo, com a modificação do estilo de vida (MEV) e a adesão à terapia medicamentosa. 5. Teorização A Hipertensão Arterial (HA) é considerada uma Doença Crônica Não Transmissível (DCNT) de origem multifatorial, ou seja, derivada de fatores endógenos e exógenos e que predispõe o indivíduo a desenvolver outras patologias correlacionadas de apresentação precoce ou tardia como, por exemplo, acidente vascular encefálico, cardiopatia hipertensiva e/ou insuficiência cardíaca, diabetes melito, síndromes aórticas e doença renal crônica. O diagnóstico da HA é feito quando o nível pressórico apresenta uma elevação persistente, sendo a PA sistólica maior ou igual a 140 mmHg, e a PA diastólica maior ou igual a 90 mmHg. É importante lembrar que as aferições precisam resultar em valores alterados em ao menos duas ocasiões diferentes e sem o uso de medicamentos anti-hipertensivos, sendo relevante a utilização de recursos de monitorização fora do consultório, como o MAPA e o AMPA, para fornecer medidas mais fidedignas e atenuar casos de HA do Avental Branco. 5.1 Fatores de risco inerentes ao indivíduo (endógenos) A predisposição genética é um fator crucial (mais de 900 genes com mutações são relacionados à pressão arterial), e que podemos facilmente observar, já que é notório a maior ocorrência do diagnóstico de hipertensão entre vários membros (parentes biológicos) de uma família. (BARROSO et al., 2021). Segundo Spritzer (1996), as condições socioeconômicas são formadas por um conjunto abrangente de características como acesso aos recursos materiais, detenção de poder, controle sobre as mudanças de vida dentro de um ambiente (nível social e físico), entre outros. Em países capitalistas, há também a associação deste com a possibilidade de ascensão dentro de uma classe social e o nível de escolaridade. Infelizmente, a questão racial está inclusa dentro destes fatores sociais, já que as pessoas de pele mais escura, historicamente, eram pertencentes às camadas mais pobres, com restrição de acesso à educação, e que hoje se encontram em situações igualmente vulneráveis. Em relação a idade há uma associação direta e linear entre envelhecimento e prevalência de HA, relacionada ao: aumento da expectativa de vida da população brasileira, atualmente 74,9 anos; aumento na população de idosos ≥ 60 anos na última década (2000 a 2010), de 6,7% para 10,8%. A meta-análise de estudos realizados no Brasil incluindo 13.978 indivíduos idosos mostrou 68% de prevalência de HA. (BARROSO et al., 2021). Na PNS de 2013, a prevalência de HA autorreferida foi estatisticamente diferente entre os sexos, sendo maior entre mulheres (24,2%) e pessoas de raça negra/cor preta (24,2%) comparada a adultos pardos (20,0%), mas não nos brancos (22,1%). O estudo Corações do Brasil observou a seguinte distribuição: 11,1% na população indígena; 10% na amarela; 26,3% na parda/mulata; 29,4% na branca e 34,8% na negra.21 O estudo ELSA-Brasil mostrou prevalências de 30,3% em brancos, 38,2% em pardos e 49,3% em negros. (BARROSO et al., 2021). 5.2 Fatores de risco modificáveis (exógenos) O consumo do álcool e do tabaco possuem uma porcentagem grande de morbimortalidade associada às doenças cardiovasculares, sendo considerada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia os principais fatores de risco evitáveis pela população. Associado a isso, estão a baixa adesão aos tratamentos medicamentosos e a não aceitação da condição de saúde que dificulta o trabalho na prevenção de agravos e surgimento de outras doenças. A alimentação inadequada é outro fator modificável que com o uso de muitos alimentos processados e ricos em sódio acarreta elevados níveis pressóricos. No Brasil, dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), obtidos em 55.970 domicílios, mostraram disponibilidade domiciliarde 4,7 g de sódio/pessoa/dia (ajustado para consumo de 2.000 Kcal), excedendo em mais de duas vezes o consumo máximo recomendado (2 g/dia), menor na área urbana da região Sudeste, e maior nos domicílios rurais da região Norte. O impacto da dieta rica em sódio estimada na pesquisa do VIGITEL de 2014 indica que apenas 15,5% das pessoas entrevistadas reconhecem conteúdo alto ou muito alto de sal nos alimentos. O aumento de peso está diretamente relacionado ao aumento da PA tanto em adultos quanto em crianças. A relação entre sobrepeso e alteração da PA já pode ser observada a partir dos 8 anos. O aumento da gordura visceral também é considerado um fator de risco para HA. Reduções de peso e de CA correlacionam-se com reduções da PA e melhora metabólica. No Brasil, dados do VIGITEL de 2014 revelaram, entre 2006 e 2014, aumento da prevalência de excesso de peso (IMC ≥ 25 kg/m2 ), 52,5% vs 43%. No mesmo período, obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2 ) aumentou de 11,9% para 17,9%, com predomínio em indivíduos de 35 a 64 anos e mulheres (18,2% vs 17,9%), mas estável entre 2012 e 2014. Um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia na capital de MT, Cuiabá revelou prevalência geral de sedentarismo de 75,8% (33,6% no lazer; 19,9% no trabalho; 22,3% em ambos). Observou-se associação significativa entre HA sobrepeso, adiposidade central e sedentarismo. 26 Dados da PNS apontam que indivíduos insuficientemente ativos (adultos que não atingiram pelo menos 150 minutos semanais de atividade física considerando o lazer, o trabalho e o deslocamento) representaram 46,0% dos adultos, sendo o percentual significativamente maior entre as mulheres (51,5%). É possível observar que indivíduos que são mais propensos ao estresse, estão diretamente ligados a maiores níveis de PA; isso ocorre devido ao funcionamento do SNA, que se liga a receptores beta 1 adrenérgicos das células cardíacas e receptores alfa 1 das paredes dos vasos. Nas situações de emergência, o SNS prepara o organismo para a ação por meio da elevação da pressão arterial, frequência cardíaca e respiração; que é responsável pela resposta de luta ou fuga. É possível também verificar em estudos que emoções como a ansiedade, quando bloqueadas, podem, por meio da influência que exercem no sistema nervoso autônomo, favorecer a crise hipertensiva em determinados pacientes com predisposição genética. O estresse repetitivo ou uma resposta exacerbada de estresse é um sinal da ativação desse sistema. A atividade simpática na hipertensão está envolvida no índice de morbidade e mortalidade cardiovascular. (FONSECA et al., 2009) 5.3 Tratamento medicamentoso x mudança no estilo de vida O controle da pressão arterial nos hipertensos tem ligação muito estreita com a adesão ao tratamento prescrito. A não adesão à medicação é uma preocupação importante para os profissionais de saúde e para os gestores, sendo necessário uma mudança que ajude a melhorar a adesão aos tratamentos anti-hipertensivos, principalmente em pacientes com hipertensão com alto risco cardiovascular (SOUZA et al., 2014). O tratamento da HA consiste basicamente na terapia medicamentosa e tratamento não-farmacológico anti-hipertensivo, também chamado de não medicamentoso ou mudança no estilo de vida. O tratamento não-medicamentoso da hipertensão arterial é bem visto pela sociedade pois leva à diminuição dos usos de medicamentos ou até mesmo à sua dispensa, que estão regularmente associados a efeitos adversos, incluindo efeitos anticolinérgicos e aumento dos riscos de quedas e fraturas de quadril em idosos. Para isso é preciso um tratamento mais seguro e eficaz afim de evitar o excesso de medicamentos que podem causar tais reações adversas (KNOW et al., 2018). A promoção de saúde adequada para os pacientes hipertensos como uma intervenção para a prevenção e o tratamento da hipertensão arterial apresenta implicações clínicas importantes, uma vez que pode reduzir ou mesmo abolir a necessidade do uso de medicamentos anti-hipertensivos, evitando, assim, os efeitos adversos do tratamento farmacológico e reduzindo o custo do tratamento para o paciente e para as instituições de saúde. Fitoterapia As plantas medicinais são uma das mais antigas “armas” utilizadas pelo homem no tratamento de enfermidades de todos os tipos. A utilização de plantas na prevenção e/ou na cura de doenças é um hábito que sempre existiu na história da humanidade. Neste contexto, a fitoterapia é encarada como opção na busca de soluções terapêuticas, utilizada principalmente pela população de baixa renda, pois se trata de uma alternativa eficiente, barata e culturalmente difundida. Os efeitos negativos que a terapia medicamentosa convencional causa nos usuários gera uma busca por tratamentos alternativos. A fitoterapia que está entre as opções de tratamentos alternativos mais usados hoje define-se como o uso de plantas medicinais usadas na prevenção, tratamento ou cura de algumas doenças, sendo que esse uso ocorre normalmente de forma caseira, sem manipulação laboratorial (FIGUEIREDO et al., 2014). O uso da fitoterapia como item complementar e alternativo à medicina alopática, tem aumentado com o tempo. A ponto de ser indicada pelo Ministério da Saúde brasileiro prioritariamente na atenção básica, a fim de prevenir doenças ou solucionar possíveis casos com esse tipo de tratamento (Bento et al., 2020). Alguns estudos sugerem a ação anti-hipertensivas de algumas plantas medicinais; como: O capim santo (Cymbopogon citratus), do chuchu (Sechium edule), Gengibre concha (Alpinia zerumbet), Lippia alba (erva cidreira) e Hibiscus sabdariffa (Hibiscus). Aromaterapia A aromaterapia é um tratamento alternativo para pessoas que sofrem com transtornos de ansiedade e com problemas de pressão arterial alterada. Faz-se uso de aromas dos óleos essenciais como método principal. Além de prazerosa, mostra-se eficaz no tratamento, onde, na maioria das vezes apresenta resultado positivo. Apesar de a técnica ser pouco conhecida, aqueles que aderem a esse método conseguem superar suas expectativas. Em 2006 foi implantada no Brasil a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), que visa estimular mecanismos naturais de prevenção de agravos de saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras. A aromaterapia faz parte da PNPIC; ela utiliza o aroma e as partículas liberadas pelos óleos essenciais para estimular diferentes partes do cérebro, agindo no sistema Límbico; responsável pelas emoções humanas; atuando de forma fisiológica em nosso corpo. Ao tratar a pressão arterial elevada, também é importante abordar qualquer estresse ou tensão que esteja sendo experimentado. Camomila Romana, Bergamota, Neroli e o Líbano são óleos essenciais muito eficazes no tratamento de estresse e tensão emocional. Todos os óleos essenciais mencionados podem ser facilmente incorporados ao cotidiano através da aplicação tópica, de inalação, ou de massagem. São maneiras muito eficazes de usufruirmos das propriedades curativas dos óleos essenciais no tratamento da hipertensão. É importante, no entanto, verificar com o médico antes de usar óleos essenciais. Pois existem algumas condições médicas, tais como medicamentos prescritos e gravidez; não indicam o uso de alguns óleos essenciais. Embora a dieta e estilo de vida sejam fatores importantes no tratamento de pressão alta, os remédios naturais e terapias de relaxamento, como os óleos essenciais e a aromaterapia podem ser muito eficazes. Certos óleos essenciais podem ajudar a reduzir e estabilizar a pressão arterial elevada. Alguns óleos essenciais conhecidos pelo seu efeito hipotensor: Lavanda, Ylang-Ylang e Manjerona. ( REIS., 2022) Exercícios físicos No tratamento da HA, benefícios adicionais podem ser obtidos com exercícios físicos estruturados, caracterizando um treinamento individualizado. O treinamento aeróbico reduz a PA casual de pré hipertensos e hipertensos. Ele também reduz a PAde vigília de hipertensos e diminui a PA em situações de estresse físico, mental e psicológico. O treinamento aeróbico é recomendado como forma preferencial de exercício para a prevenção e o tratamento da HA. O treinamento resistido dinâmico ou isotônico (contração de segmentos corporais localizados com movimento articular) reduz a PA de pré-hipertensos, mas não tem efeito em hipertensos. Existem, porém, apenas quatro estudos randomizados e controlados com esse tipo de exercício na HA. O treinamento resistido estático ou isométrico (contração de segmentos corporais localizados sem movimento articular) reduz a PA de hipertensos, mas os estudos utilizam massas musculares pequenas, havendo necessidade de mais informação antes de sua recomendação. Fonte: BARROSO et al., 2021. Stress e o Treino de Controle de Stress Segundo o modelo proposto por Lipp (2010), há quatro fases que o indivíduo passa durante o manejo do estresse sendo elas a fase de alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão, respectivamente. Essa teoria explica o modo como o ser humano reage em situações de estresse em variados graus e como é a transição entre a quebra da homeostase e o surgimento de certos distúrbios. No caso de pessoas com diagnóstico de Hipertensão Arterial, a homeostase já se encontra perturbada e é possível notar oscilações pressóricas relacionadas ao estado mental do indivíduo, como nas crises hipertensivas. Um estado emocional negativo, predominado pela raiva, hostilidade e estresse possui ação direta sobre o Sistema Nervoso Autônomo, especificamente no Sistema Simpático, que induz ejeções de hormônios e substâncias químicas que afetam o organismo como um todo, em especial, a modulação do sistema cardiovascular. Uma alta reatividade a certos eventos ou estímulos estressores, a longo prazo, pode influenciar no surgimento e/ou agravamento de diversas patologias como dermatites, gastrites e transtornos de ansiedade (Lipp et al. 2009). Além disso, o estresse crônico tende a reforçar comportamentos negativos (estratégia de coping desadequada) em busca de compensação e alívio momentâneo como uso de drogas lícitas e ilícitas, abuso de álcool, compulsão alimentar (RODRIGUES et al, 2014), que em sua maioria, são fatores determinantes para o agravo de doenças, principalmente das DCNT. Como descrito por Rosa (2008) em uma revisão bibliográfica, o perfil geral dos pacientes hipertensos beira a hostilidade, dificuldade em expressar sentimentos, forte desejo de controle sobre a própria vida e sobre outros fatores externos, além da dificuldade nas relações sociais. Outros estudos de Lipp comprovam essa relação íntima entre a variação dos níveis pressóricos em pacientes hipertensos em situações em que os mesmos deveriam expressar seus sentimentos ou defender opiniões, contudo, com elevações isoladas ou da pressão sistólica (PAS ≥ 140 mmHg e PAD < 90 mmHg) ou da diastólica (PAS < 140 mmHg e PAD ≥ 90 mmHg). Quando se fala em estresse, tanto a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) quanto o Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-5) trazem três classificações principais, sendo elas o transtorno de estresse agudo, o transtorno de estresse pós-traumático e os transtornos de adaptação. Os dois primeiros se referem ao processo de estresse derivado de um trauma ou acontecimento repentino. O último possui maior relevância por estar infiltrado no cotidiano da maioria das pessoas e servir como um amplificador de sintomas para doenças de base como a HÁ. Embora seja difícil de identificar os estressores (internos e externos) e em qual fase cada pessoa se encontra (já que os sintomas de esgotamento aparecem nas esferas física e psicológica, em graus variados), é de suma importância fazê-los pois o estresse é o acúmulo de eventos estressores pequenos e grandes, que quando eliminados, mesmo que parcialmente, fazem a carga total diminuir. Mesmo se identificado um estressor que seja impossível de evitar, há a possibilidade de elaborar, a partir de uma reestruturação cognitiva, uma estratégia de enfrentamento eficiente para minimizar seus impactos negativos na qualidade de vida da pessoa. (LIPP, 2017, p.301-303) O Treino de Controle do Stress (TCS) foi desenvolvido a partir de muitos estudos na área da terapia cognitiva-comportamental e foi comprovada sua eficácia em diversos grupos populacionais, com ou sem comorbidades. Em sua adaptação para o grupo de hipertensos (TCS-H), os quatro pilares principais combinam fatores já preconizados pelas instituições de saúde, como atividade física e alimentação adequada, além da reestruturação cognitiva e técnicas de relaxamento. Os objetivos do TCS para hipertensos são: 1. Reduzir a excitabilidade física e mental do hipertenso ante confrontos estressantes que ocorrem no decorrer de sua vida; 2. Eliminar/reduzir fontes internas de estresse na forma das características psicológicas identificadas, como pressa excessiva, perfeccionismo, inassertividade e raiva; 3. Adquirir estratégias de enfrentamento (coping) das fontes externas de estresse da vida diária, especialmente aquelas que não podem ser evitadas; 4. Promover a noção de que a responsabilidade pela própria vida é indelegável, e, portanto, compete a cada um cuidar de sua saúde; 5. Promover adesão ao tratamento farmacológico; 6. Promover melhora do nível de qualidade de vida por meio de uma mudança de hábitos de vida. 6. Hipóteses de solução As hipóteses de solução levantadas foram embasadas nos fatores de risco exógenos da HA, já que estes se resumem no estilo de vida da pessoa e, portanto, podem ser modificados conforme a vontade e esforço do indivíduo. A ideia principal foi apresentar didaticamente (utilizando apresentações em slide, com imagens e explicações) cada um dos fatores, relacionando-os com o aumento dos níveis pressóricos e sua interferência na qualidade de vida, fazendo-os refletir sobre a importância da adesão às práticas alternativas em conjunto com o tratamento medicamentoso. Em conjunto, mostramos práticas simples que poderiam ser realizadas no cotidiano sem muitos gastos de tempo e dinheiro e que ajudariam na regularização da PA, como por exemplo a utilização de fitoterápicos (ex. chá de hibisco), aromaterapia, tipos de exercícios físicos e meditação com respiração profunda para controle do estresse. 7. Aplicação à realidade De acordo com o cronograma estabelecido, as intervenções ocorreram em quatro dias (todas quartas-feiras), sendo que o conteúdo dos dois últimos dias foram fundidos por motivos já supracitados. Em todas as reuniões, foi aferida a PA de todos os participantes (com o consentimento verbal deles) em duas ocasiões: no início e ao término das reuniões, após serem realizadas as práticas. Os dados obtidos foram anotados para posterior comparação de resultados. DIA 01 - Introdução e Fitoterapia Num primeiro momento, foi realizada a aferição das pressões arteriais de todos os participantes e feito o auxílio no preenchimento do questionário. Iniciou-se então a apresentação com o tema “Práticas anti-hipertensivas: maneiras de cuidar do seu bem-estar”, no qual foi subdividido em dois temas principais: a introdução ao assunto com a explicação sobre o conceito de pressão arterial, os valores de normalidade, a Hipertensão Arterial e seus fatores endógenos e exógenos, e o tratamento baseado em medicamentos em conjunto com a mudança no estilo de vida. Na segunda parte, foram apresentados os fitoterápicos anti-hipertensivos, especificamente os chás. Foi explicada como é feita a preparação do chá de hibisco enquanto os participantes degustavam da amostra do chá que preparamos para a reunião. Após um momento para esclarecimento de dúvidas, os participantes foram liberados levando para casa uma pequena porção de hibisco (equivalente a duas xícaras de chá). DIA 02 - Exercício físico e Aromaterapia No segundo encontro foi explicado sobre os benefícios da aromaterapia, uma prática pouco conhecida pela população, falamos sobre sua origem e quais os seus efeitosem nosso corpo, enquanto isso foi passado para o grupo um óleo essencial de lavanda, como também foi utilizado esse mesmo aroma em difusor para maior espalhabilidade. Após esse momento foi realizado uma breve explicação sobre a prática do exercício físico na promoção da saúde populacional, o tema foi subdividido em; exercícios aeróbicos e exercícios resistidos. Após a explicação fomos até a academia da faculdade para praticar alguns tipos de exercícios mostrados na reunião. A aplicação na prática foi realizada com o intuito de mostrar a forma e exemplos de exercícios que eles possam realizar em suas casas. DIA 03 - Treino de Controle de Stress (TCS) e adesão à terapia medicamentosa No terceiro dia de encontro foi realizado uma breve discussão com apresentação de slides sobre o estresse dentro dos transtornos de adaptação, sendo subdividida a apresentação em dois tópicos principais. O primeiro tópico abrange temas como: conceito de estresse; classificação dos estressores (externos/internos e negativos/positivos) e os eventos causadores de estresse; o segundo tópico é focado no Treino de Controle de Stress (TCS) de Lipp. O TCS, dentro da psicologia, tem uma abordagem terapêutica no campo da Terapia Cognitiva-Comportamental, logo é estruturado em várias sessões (8 a 12), individuais ou em grupo, conforme a necessidade do paciente. Devido ao curto prazo proposto para essa prática e o fato do trabalho não estar focado na terapia mas sim na psicoeducação em saúde, foi retirada a essência do TCS e apresentada aos participantes a partir de técnicas de relaxamento e respiração profunda e a reestruturação cognitiva (ponto principal). Mostramos também como é diagnosticado o estresse e seus níveis a partir de prints do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL). O objetivo dessa prática em particular é fazer o participante ter consciência das mensagens que seu corpo envia em estados de sobrecarga emocional, fazê-los reconhecer quais são seus principais estressores e poder classificá-los de acordo com a importância para a manutenção do stress – se podem ser eliminados ou se precisam elaborar uma estratégia de enfrentamento adequada. RESULTADOS: Com o intuito de verificar as afirmações de cada tema, no aspecto de observar a regularização e/ou diminuição dos valores pressóricos após a aplicação das práticas anti-hipertensivas realizadas no final das reuniões - ingestão de chá de hibisco, aromaterapia com óleo essencial de lavanda e meditação com técnica de respiração profunda, respectivamente -, foram elaborados os seguintes gráficos para ajudar na visualização dos resultados obtidos: Gráfico 01: Gráfico 02: Gráfico 03: Gráficos de 01 a 03: Eixo X= participantes da reunião do dia; Eixo Y= valores para comparação da pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD), em mmHg. No primeiro gráfico é possível notar um leve aumento da pressão sistólica e diastólica de dois participantes, fato que pode ser explicado por meio de muitas hipóteses como ansiedade e ingestão de bebidas cafeinadas antes da reunião. Nos demais gráficos, assim como o restante dos participantes no primeiro gráfico, pode-se observar que houve uma leve diminuição dos valores de PA finais em comparação com as iniciais, comprovando que as práticas apresentadas possuem de fato efeitos anti-hipertensivos. Vale ressaltar que as práticas supracitadas foram realizadas para motivar e elucidar aos participantes que existem sim alternativas não medicamentosas capazes de ajudar no controle da hipertensão arterial, já que os verdadeiros resultados do trabalho só podem ser obtidos com um acompanhamento a longo prazo, já que tratam-se de pequenas mudanças contínuas no estilo de vida do indivíduo. 8. Referências BARROSO, Weimar Kunz Sebba et al. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial–2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 116, p. 516-658, 2021. SPRITZER, Nelson. Epidemiologia da hipertensão arterial sistêmica. Medicina (Ribeirão Preto), v. 29, n. 2/3, p. 199-213, 1996. LIPP, Marilda Emmanuel Novaes. Controle do estresse e hipertensão arterial sistêmica. Rev Bras Hipertens, v. 14, n. 2, p. 89-93, 2007. RODRIGUES, Pedro FS et al. Padrões de consumo de álcool em estudantes da Universidade de Aveiro: Relação com comportamentos de risco e stress. Análise Psicológica, v. 32, n. 4, p. 453-466, 2014. DE OLIVEIRA FIGUEIREDO, Juliana; CASTRO, Emma Elisa Carneiro. Ajustamento criativo e estresse na hipertensão arterial sistêmica. Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies, v. 21, n. 1, p. 37-46, 2015. LIPP, Marilda Emmanuel Novaes. O treino de controle do estresse em grupo: um modelo da TCC. In: NEUFELD, Carmem Beatriz; RANGÉ, Bernard P. Terapia cognitivo-comportamental em grupos: Das evidências à prática. Artmed Editora, 2017. KWON, Chan-Young et al. Oriental herbal medicine for insomnia in the elderly with hypertension: A systematic review protocol. Medicine, v. 97, n. 36, 2018. SOUZA, Clarita Silva de et al. Controle da pressão arterial em hipertensos do Programa Hiperdia: estudo de base territorial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 102, p. 571-578, 2014. DE CARVALHO BENTO, Raíla et al. POTENCIAL DA FITOTERAPIA COMO TRATAMENTO ALTERNATIVO PARA HIPERTENSÃO EM IDOSOS. Fonseca, Fabiana de Cássia Almeida, et al. “A influência de fatores emocionais sobre a hipertensão arterial”. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, vol. 58, no 2, 2009, p. 128–34. DOI.org (Crossref), https://doi.org/10.1590/S0047-20852009000200011. https://doi.org/10.1590/S0047-20852009000200011 “Aromaterapia: para que serve e como usar óleos essenciais” Tua Saúde, https://www.tuasaude.com/aromaterapia/. Acessado 12 de junho de 2022.
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