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Lipídeos especializados atuam como pigmentos (retinal, caroteno), cofatores (vitamina K), detergentes (sais biliares), transportadores (dolicóis), hormônios (derivados da vitamina D, hormônios sexuais), mensageiros extracelulares e intracelulares (eicosanoides, derivados do fosfatidilinositol) e âncoras para proteínas de membrana (ácidos graxos covalentemente ligados, grupos prenila e fosfatidilinositol). As vias biossintéticas para alguns dos lipídeos celulares mais comuns, as estratégias utilizadas para sintetizar esses produtos insolúveis em água a partir de precursores hidrossolúveis, como o acetato. Assim como outras vias biossintéticas, essas sequências de reações são endergônicas e redutoras. Utilizam ATP como fonte de energia metabólica e um transportador de elétrons reduzido (geralmente o NADPH) como agente redutor. Após a descoberta de que a oxidação dos ácidos graxos ocorre pela remoção oxidativa e sucessiva de unidades com dois átomos de carbono (acetil- CoA), os bioquímicos pensaram que a biossíntese dos ácidos graxos poderia ocorrer pela simples inversão dos mesmos passos enzimáticos. No entanto, como eles vieram a descobrir, a biossíntese e a degradação dos ácidos graxos ocorrem por meio de diferentes vias, são catalisadas por diferentes grupos de enzimas e localizam-se em compartimentos distintos na célula. Além disso, a biossíntese requer a participação de um intermediário de três carbonos, a malonil-CoA, que não está envolvido na degradação dos ácidos graxos. A formação de malonil-CoA a partir de acetil-CoA é um processo irreversível, catalisado pela acetil- CoA-carboxilase. A enzima contém um grupo prostético, a biotina, covalentemente ligado por uma ligação amida ao grupo «-amino de um resíduo de Lys presente em um dos três polipeptídeos ou domínios da molécula da enzima. A reação em duas etapas catalisada por essa enzima é muito semelhante a outras reações de carboxilação dependente de biotina, como aquelas catalisadas pela piruvato-carboxilase e pela propionil-CoA-carboxilase. Primeiramente, um grupo carboxil derivado do bicarbonato (HCO3 –) é transferido para a biotina em uma reação dependente de ATP. O grupo biotinila age como transportador temporário de CO2, transferindo-o para a acetil-CoA na segunda etapa, gerando malonil-CoA. Em todos os organismos, as longas cadeias de carbono dos ácidos graxos são construídas por uma sequência de reações repetitivas, em quatro etapas, catalisadas por um sistema coletivamente conhecido como ácido graxo-sintase. Um grupamento acila saturado, produzido em cada série de reações em quatro etapas, torna-se o substrato da condensação subsequente com um grupo malonila ativado. Em cada uma das passagens pelo ciclo, a cadeia do grupo acila graxo aumenta em dois carbonos. Na sequência anabólica redutora, tanto o cofator transportador de elétrons quanto os grupos ativadores diferem daqueles do processo catabólico oxidativo. Lembre-se que na b-oxidação, NAD1 e FAD atuam como aceptores de elétrons e o grupo ativador é o grupo tiol (¬SH) da coenzima A. Por outro lado, o agente redutor na via sintética é o NADPH e os grupos ativadores são dois grupos ¬SH diferentes ligados à enzima. Três dos sete sítios ativos necessários são encontrados na subunidade a e quatro na subunidade b. Com os sistemas AGS I, a síntese dos ácidos graxos leva a um único produto, e não são liberados intermediários. Quando o comprimento da cadeia atinge 16 carbonos, esse produto (palmitato) deixa o ciclo. Os carbonos C- 16 e C-15 do palmitato são derivados dos átomos de carbono dos grupos metil e carboxil, respectivamente, de uma acetil-CoA utilizada diretamente para iniciar o sistema; os outros átomos de carbono da cadeia são originados da acetil-CoA via malonil-CoA. A ácido graxo-sintase de mamíferos tem múltiplos sítios ativos Biossíntese de lipídeos Biossíntese de ácidos graxos e eicosanoides A malonil-CoA é formada a partir de acetil-CoA e bicarbonato A síntese dos ácidos graxos ocorre em uma sequência de reações que se repetem Ao longo do processo de síntese dos ácidos graxos, os intermediários permanecem covalentemente ligados como tioésteres a um de dois grupos tiol. Um ponto de ligação é o grupo ¬SH de um resíduo de Cys em um dos domínios da sintase (b-cetoacil- ACP-sintase; KS); o outro ponto é o grupo ¬SH de uma proteína transportadora de grupos acila, domínio distinto do mesmo polipeptídeo. A hidrólise dos tioésteres é altamente exergônica, e a energia liberada ajuda a tornar termodinamicamente favoráveis dois passos distintos da síntese dos ácidos graxos (condensação). A proteína transportadora de grupos acila (ACP) é o transportador que mantém o sistema unido. Imagem: Adição de dois carbonos a uma cadeia acil graxo em crescimento: uma sequência de quatro etapas. Cada grupo malonila e acetila (ou acilas maiores) é ativado por um tioéster que os une à ácido graxo-sintase, um sistema multienzimático. ➊ A condensação de um grupo acila ativado (um grupo acetil da acetil-CoA é o primeiro grupo acila) e dois carbonos derivados da malonil-CoA, com a eliminação de CO2 do grupo malonila, alonga a cadeia acila em dois carbonos. O mecanismo da primeira etapa dessa reação está mostrado para ilustrar o papel da descarboxilação em facilitar a condensação. O produto b-cetônico dessa condensação é, então, reduzido em três etapas seguintes praticamente idênticas às reações de b- oxidação, mas na sequência inversa; ➋ o grupo b- cetônico é reduzido a um álcool, ➌ a eliminação de H2O cria uma ligação dupla, e ➍ a ligação dupla é reduzida, formando o grupo acil graxo saturado correspondente. A ácido graxo-sintase recebe grupos acetila e malonila Antes que as reações de condensação que constroem a cadeia do ácido graxo possam iniciar, os dois grupos tióis do complexo enzimático devem ser carregados com os grupamentos acila corretos. O grupo acetila da acetil-CoA é transferido para a ACP, em uma reação catalisada pelo domínio malonil/acetil-CoA-ACP-transferase (MAT na Figura 21-6) do polipeptídeo multifuncional. O grupo acetila é, então, transferido para o grupo ¬SH da Cys da b-cetoacil-ACP- -sintase (KS). A segunda reação, a transferência do grupo malonila da malonil-CoA para o grupo ¬SH da ACP, também é catalisada pela malonil/acetil-CoA- ACP-transferase. No complexo sintase carregado, os grupos acetila e malonila são ativados para o processo de alongamento da cadeia. Etapa ➊ Condensação A primeira reação na formação da cadeia de um ácido graxo é uma condensação de Claisen clássica envolvendo os grupos acetila e malonila ativados, formando acetoacetil-ACP, grupo acetoacetil ligado à ACP pelo grupo ¬SH da fosfopanteteína; simultaneamente, uma molécula de CO2 é produzida. O átomo de carbono do CO2 formado nessa reação é o mesmo carbono originalmente introduzido na malonil-CoA a partir do HCO3 – pela reação da acetil-CoA-carboxilase. Assim, a ligação covalente do CO2 durante a biossíntese dos ácidos graxos é apenas transitória; ele é removido assim que cada unidade de dois carbonos é adicionada. Por que as células têm o trabalho de adicionar CO2 para formar o grupo malonila a partir do grupo acetila apenas para perder o CO2 durante a formação de acetoacetato? O uso de grupos malonila ativados em vez de grupos acetil é o que torna as reações de condensação termodinamicamente favoráveis. O carbono metileno (C-2) do grupo malonila, situado entre os carbonos da carbonila e da carboxila, forma um bom nucleófilo. Etapa ➋ Redução do grupo carbonila A acetoacetil- ACP formada na etapa de condensação sofre agora redução do grupo carbonil em C-3, formando D-b- hidroxibutiril-ACP. Essa reação é catalisada pela b- cetoacil-ACP-redutase (KR)e o doador de elétrons é o NADPH. Etapa ➌ Desidratação Os elementos da água são agora removidos dos carbonos C-2 e C-3 da D-b- hidroxibutiril-ACP, formando uma ligação dupla no produto, trans-Delta2 -butenoil-ACP. A enzima que catalisa essa desidratação é a b-hidroxiacil- ACP-desidratase (DH). Etapa ➍ Redução da ligação dupla Finalmente, a ligação dupla da trans-Delta2-butenoil-ACP é reduzida (saturada), formando butiril-ACP pela ação da enzima enoil-ACP-redutase (ER); mais uma vez, NADPH é o doador de elétrons. As reações da ácido graxo-sintase são repetidas para formar palmitato A produção de acil-ACP saturada, com quatro carbonos, marca a conclusão de uma rodada por meio do complexo da ácido graxo-sintase. Na etapa ➎, o grupo butirila é transferido do grupo ¬SH da fosfopanteteína da ACP para o grupo ¬SH de uma Cys da b-cetoacil-ACP-sintase, que sustentará inicialmente o grupo acetil. Para dar início ao próximo ciclo de quatro reações que alonga a cadeia em mais dois átomos de carbono (etapa ➏), outro grupo malonila liga-se ao grupo ¬SH da fosfopanteteína da ACP, agora desocupado. A condensação ocorre à medida que o grupo butirila, atuando como o grupo acetil no primeiro ciclo, é ligado aos dois átomos de carbono do grupo malonil-ACP, com a consequente perda de CO2. O produto dessa condensação é um grupo acila com seis carbonos, covalentemente ligado ao grupo ¬SH da fosfopanteteína. Sete ciclos de condensação e redução produzem o grupo palmitoila de 16 carbonos saturados, ainda ligado à ACP. É possível considerar em duas etapas a reação global para a síntese do palmitato a partir de acetil- CoA. Primeiro, a formação de sete moléculas de malonil-CoA: Assim, a biossíntese dos ácidos graxos como o palmitato requer acetil-CoA e o fornecimento de energia química de duas formas: o potencial de transferência de grupos do ATP e o poder redutor do NADPH. O ATP é necessário para ligar o CO2 à acetil-CoA formando malonil-CoA; as moléculas de NADPH são necessárias para reduzir o grupo a-ceto e a ligação dupla. Em geral, o NADPH é o transportador de elétrons para as reações anabólicas e o NAD1 atua nas reações catabólicas. A membrana interna da mitocôndria é impermeável a acetil-CoA, de modo que um transportador indireto transfere os equivalentes do grupo acetila pela membrana interna. A acetil-CoA intramitocondrial reage primeiro com oxaloacetato formando citrato, uma reação do ciclo do ácido cítrico catalisada pela enzima citrato-sintase. O citrato, então, atravessa a membrana interna pelo transportador de citrato. No citosol, a clivagem do citrato pela citrato-liase regenera acetil-CoA e oxaloacetato em uma reação dependente de ATP. O oxaloacetato não pode retornar à matriz mitocondrial diretamente, já que não existe um transportador de oxaloacetato. Em vez disso, a malato-desidrogenase citosólica reduz o oxaloacetato a malato, o qual pode retornar à matriz mitocondrial pelo transportador malato-a- cetoglutarato na troca por citrato. Na matriz, o malato é reoxidado a oxaloacetato, completando o ciclo. O ciclo resultante consome dois ATP (pela citrato- liase e pela piruvato-carboxilase) para cada molécula de acetil-CoA entregue para a síntese de ácidos graxos. Após a clivagem do citrato para gerar acetil-CoA, a conversão dos quatro carbonos remanescentes em piruvato e CO2 pela enzima málica gera aproximadamente a metade do NADPH necessário para a síntese de ácidos graxos. A via das pentoses-fosfato fornece o restante de NADPH necessário. A biossíntese de ácidos graxos é precisamente regulada Quando uma célula ou um organismo tem combustível metabólico mais que suficiente para suprir suas necessidades energéticas, geralmente o excesso é convertido em ácido graxo e estocado como lipídeos, como os triacilgliceróis. A reação catalisada pela acetil-CoA-carboxilase é a etapa limitante na biossíntese de ácidos graxos, e essa enzima é um ponto importante de regulação. Imagem: Lançadeira para a transferência de grupos acetil da mitocôndria para o citosol. A membrana mitocondrial externa é livremente permeável a todos esses compostos. O piruvato derivado do catabolismo dos aminoácidos na matriz mitocondrial ou da glicose por glicólise no citosol é convertido em acetil-CoA na matriz. Os grupos acetil saem da mitocôndria como citrato; no citosol, eles são liberados na forma de acetil-CoA para a síntese dos ácidos graxos. O oxaloacetato é reduzido a malato, que pode retornar à matriz mitocondrial, onde é convertido em oxaloacetato. O principal destino do malato citosólico é a oxidação pela enzima málica, gerando NADPH citosólico; o piruvato produzido retorna à matriz mitocondrial. Os ácidos graxos saturados de cadeia longa são sintetizados a partir do palmitato O palmitato, produto principal do sistema da ácido graxo-sintase nas células animais, é o precursor de outros ácidos graxos de cadeia longa. Ele deve ser alongado formando estearato ou ácidos graxos satura dos ainda maiores pela adição de grupos acetil, pela ação do sistema de alongamento de ácidos graxos presente no retículo endoplasmático (RE) liso e na mitocôndria.
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