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1 Louyse Jerônimo de Morais Doenças tropicais causadas por protozoários Referência: aula da prof. Clarissa Madruga Leishmaniose É uma antropozonose de evolução crônica característica de países tropicais, cuja notificação é compulsória. O agente etiológico pertence à família Trypanosomatidae e ao gênero Leishmania, sendo capaz de provocar três síndromes clínicas: leishmaniose visceral, cutânea e cutâneo-mucosa. • Leishmaniose cutânea: úlceras de crescimento centrífugo, bordos elevados e fundo limpo. Podem adquirir caráter destrutivo, porque elas se expandem – a depender da região, podem causar deformidades. • Leishmaniose cutaneomucosa: além de acometer pele, também acomete mucosas, principalmente de septo nasal e palato. • Leishmaniose visceral ou calazar: decorre da invasão da Leishmania nos órgãos do sistema reticuloendotelial – medula óssea, baço e fígado. Daí a presença de pancitopenia, hepatomegalia e esplenomegalia. Epidemiologia O Brasil, sozinho, é responsável por 96% dos casos na América Latina. Então, é um número bastante expressivo. No país, a maior concentração é no Nordeste, embora tenham alguns focos na região Norte e Centro- Oeste. Ecologia O ciclo urbano da leishmaniose é composto, principalmente, pelos canídios [Canis familiaris]. Nas matas, as principais responsáveis são as raposas [Dusicyon vetulus]. O vetor do parasita é o mosquito palha [Lutzomyia longipalpis], que consegue se adaptar bem a regiões próximas às casas humanas. Originalmente, ele fica nas regiões de mata, então observa-se muitos casos em regiões recém-desmatadas. Mosquito palha e cachorro com calazar, respectivamente Os cães são importantes fontes de manutenção no ciclo urbano, principalmente pela falta de controle desses animais e pela indisponibilidade de tratamento. Tais animais ficam bastante adoecidos e os principais sintomas são perda de peso, linfonodomegalia e queda de pelos com úlceras na pele. Outra característica é o crescimento exacerbado das unhas. O tratamento dos cães é complicado, porque eles permanecem como portadores sãos mesmo depois de tratados e curados. Por conta isso, é importante usar coleira repelente antes de se adquirir a doença, bem como realizar vacinação desses animais. Além disso, a terapêutica dos animais é bastante cara – mais até do que vacina e coleira. Assim, realmente há indicação de se sacrificar os cachorros. Etiologia Observa-se as duas formas de importância médica da Leishmania: promastigota – forma que vai infectar o mosquito, e amastigota – forma sem flagelo, responsável pela infecção dos macrófagos dentro da medula óssea. 2 Louyse Jerônimo de Morais Forma promastigota Forma amastigota: seta preta aponta para o cinetoplasto e seta vermelha aponta para o núcleo. Reconhece-se as formas amastigotas como pertencentes à leishmania pela característica de formato de T [núcleo e cinetoplasto]. Essa é a forma que infecta células humanas. A fêmea do mosquito palha faz seu repasto, pica um mamífero, seja canídeo ou humano, e esses parasitas entram na derme e vão ser reconhecidos pelas células de Langherans. A partir daí, iniciam diversas transformações e são levados aos linfonodos, onde infectam macrófagos e adquirem forma amastigota, multiplicando-se dentro dessas células e causando apoptose. Após essa destruição, vários amastigotos são liberados na corrente sanguínea, aptos para infectar novas células. Quando vamos coletar o mielograma, é esse aspecto da foto acima que vamos ver. Se o material coletado for levado para a cultura, o amastigoto vai concluir seu ciclo de transformação e iremos encontrar o promastigoto. Patogenia Os amastigotos se multiplicam de forma exacerbada até levar à ruptura dos macrófagos. Isso vai fazer com que eles se disseminem para órgãos do sistema reticuloendotelial [SRE]. É válido ressaltar que esses protozoários têm mecanismos próprios de tolerância, para não serem destruídos dentro do macrófago – são capazes de tolerar mecanismos oxidativos de defesa. Além disso, eles diminuem a resposta mediada por linfócitos T e macrófagos, como também ativam a proliferação policlonal dos linfócitos B. Isso vai levar a uma característica importante da leishmaniose visceral, que é a hipergamaglobulinemia. Vamos entender como isso ocorre: Primeiramente, temos que lembrar que os linfócitos B ativados são um componente importante da imunidade humoral. Como a leishmania é um parasita intracelular, tais células vão produzir imunoglobulinas para sensibilizar os macrófagos, no entanto, a imunidade celular vai estar diminuída. Então, a proliferação exacerbada de linfócitos B é mantida, bem como a de imunoglobulinas, mas a resposta não é eficiente. Portanto, ocorre hipergamaglobulinemia. Outra característica importante associada a isso é a hipoalbuminemia. O maquinário hepático é limitado, então, se ocorre aumento da produção de globulina, algo vai ter que deixar de ser produzido, ou seja, a albumina. No início da doença, ocorre isoladamente aumento de globulina, mas com o avançar da clínica, ocorre aumento de globulina com redução de albumina. Isso é muito importante e foi perguntado na prova prática. Diagnóstico clínico • Incubação: 2 a 8 meses. • Reativação por imunossupressão Quanto mais precoce se iniciar os sintomas, mais grave vai ser a manifestação clínica dos pacientes. O tempo de vida, se nada for feito, é de 2 anos. A morte com a evolução natural da doença ocorre principalmente por infecções secundárias e hemorragias. Depois que o indivíduo adquire, mesmo tratado e curado, não se consegue eliminar completamente o parasita do organismo, então ele fica como um portador são, podendo ser reativado por imunossupressão. É importante em lugares com muitos casos de HIV, pois esses indivíduos podem reativar calazar. • Infecção intracelular: caráter polar, amplo espectro clínico. o 85%: oligo ou assintomático; cura espontânea. o 15%: calazar clássico. Aquele processo que ocorre de imunotolerância dentro do macrófago, com aumento da proliferação de linfócitos B, intensificação de resposta humoral e redução 3 Louyse Jerônimo de Morais de resposta celular não ocorre em todo mundo, apenas em 15% dos pacientes. No restante dos casos, ocorre resposta imune total, com resposta celular adequada antes de desenvolver a doença. Sintomas A leishmania infecta primariamente linfonodos e depois parte para demais órgãos do SRE. Então, os principais sintomas são constitutivos. • Febre: geralmente vespertina, de caráter diário. • Astenia progressiva: relacionada com a anemia. • Mal-estar • Prostração • Apatia • Diarreia • Anorexia • Tosse seca: por conta da pneumonite. • Palidez progressiva • Perda de peso • Aumento do volume abdominal: por aumento do baço e do fígado. • Edema • Micropoliadenopatia: múltiplos linfonodos perceptíveis em todas as cadeias. • Sangramentos • Óbito em 1 a 2 anos São sintomas bastante inespecíficos, então o diagnóstico só é feito com alto grau de suspeição. Com o progredir da invasão da medula óssea, o indivíduo vai tendo redução dos elementos celulares desse órgão. O primeiro a reduzir são as plaquetas [plaquetopenia isolada]. Na fase inicial, há uma esplenomegalia discreta, mas ainda sem hepatomegalia. Se o indivíduo for de área endêmica, isso já é suficiente para motivar exames diagnósticos, principalmente os não invasivos, como a RK39 e a imunofluorescência indireta. Se o indivíduo não for diagnosticado, a invasão medular vai prosseguir, evoluindo com leucopenia e anemia. Enquanto isso, o baço aumentado sequestra plaquetas. A astenia também vai ser relacionada com a anemia. A tosse seca é por conta da pneumonite. O indivíduo vai começar a perder peso, sendo que o baço continua crescendo deforma progressiva. Nesse momento, já há pancitopenia e aumento do fígado. Então, o paciente mantém aumento do volume abdominal. Quando chega na situação de já ter pancitopenia e visceromegalia, já se começa a perceber outras alterações laboratoriais, como aumento de transaminases, fosfatase alcalina e gamaglobulina, com redução da albumina. Como consequência da hipoalbuminemia, ocorre edema. Além disso, o paciente também vai ter alterações da produção de fatores de coagulação, manifestando-se com pequenos sangramentos – gengival, vômitos com sangue, petéquias, equimoses etc. Outro achado comum é a micropoliadenopatia. Com a imunidade celular já bastante suprimida, vai ocorrer infecções bacterianas graves, como pneumonias, sinusites, otites, infecções de pele e intestinais - morre sangrando ou de infecção/sepse. Não necessariamente precisa ter contato com cachorros, pois quem transmite o calazar é o mosquito palha. Estando em região endêmica e apresentando febre, plaquetopenia e esplenomegalia, já indica pesquisa de calazar. Síndrome completa: febre, panticopenia e hepatoesplenomegalia. Diagnóstico laboratorial 1. Exames inespecíficos • Hemograma: nas primeiras semanas, apenas plaquetopenia, mas evolui com pancitopenia. • Transaminases: elevadas. • GGT/FAL: elevadas. • BT e frações: em casos graves e doenças mais avançadas, tanto aumenta síntese como depuração de bilirrubina, ocasionando aumento de bilirrubina direta e indireta. • Albumina ↓/globulina ↑ • EAS: leucocitúria e proteinúria. A leishmania pode ter toxicidade direta para o rim, então os pacientes podem evoluir com insuficiência renal. • Raio X de tórax: infiltrado pulmonar. Se também tiver pneumonia bacteriana associada, não é raro. • USG de abdome: hepatoesplenomegalia, linfonodos intrabdominais aumentados. É importante lembrar que as regiões endêmicas de calazar também são de HIV. Dessa forma, sempre que houver diagnóstico de calazar, deve-se oferecer exame de HIV, porque isso vai ter impacto no tratamento e no seguimento dos pacientes. A imunossupressão pode reativar a doença, então precisa fazer profilaxia secundária após tratamento completo. 2. Exames específicos 2.1 Isolamento da Leishmania – padrão ouro 4 Louyse Jerônimo de Morais • Mielograma [positivo em 70 a 85% dos casos] / aspirado esplênico [positivo em 96 a 98% dos casos]: Giemsa ou Wright • Mielocultura: meios de cultivo NNN – ágar sangue modificado. Faz principalmente mielograma, podendo ser feito aspirado esplênico, que vai ser muito mais sensível, sendo que é muito invasivo e o paciente já tem distúrbio da coagulação. Esfregaço de medula óssea corado pelo método Giemsa, evidenciando macrófagos parasitados por formas amastigotas de Leishmania e amastigotas no meio extracelular. Aumento 450x. Esfregaço de medula óssea corado pelo método Giemsa, evidenciando formas amastigotas de Leishmania no citoplasma de macrófagos e no meio extracelular. Aumento 1000x Em algumas situações, principalmente de pesquisa, pode fazer mielocultura, mas é um exame demorado, porque precisa esperar desenvolvimento das leishmanias [demora 30 dias para liberar resultado negativo confirmado]. Além disso, não ajuda muito no diagnóstico. O mielograma, no entanto, é um exame direto e, no mesmo dia, o resultado é liberado. Os flagelos estão na parte anterior da leishmania. A partir daí, pode-se fazer estudos para identificar a espécie do protozoário. 2.2 Outros exames menos invasivos • Teste de sensibilidade tardia: teste de Montenegro - não é utilizado, mas tem importância histórica. Ele vai avaliar resposta celular, basicamente, mas devemos lembrar que, nos pacientes com calazar, essa resposta imune celular está diminuída, então, durante a vigência da doença, não se espera que esse teste seja positivo. Ele é positivo semanas após a cura. Poderia ser utilizado para inquérito epidemiológico de contato prévio com leishmania. • Imunofluorescência indireta [RIFI]: 85% dos pacientes são infectados, mas não desenvolvem a doença, então vai ser positivo nessas pessoas. Considera positivo se > 1:80. • Testes imunoenzimáticos [ELISA]: anti-RK39 • Teste rápido: rk39. Feito com a proteína recombinante do flagelo das espécies que causam leishmaniose visceral. Não serve para a forma cutânea, ou seja, não se faz teste rápido se a suspeita for de leishmaniose tegumentar. Para diagnóstico: mielograma, teste rápido e RIFI. O teste rápido é o mais fácil de ser feito, a beira leito. Diagnóstico diferencial Pancitopenia febril com esplenomegalia • Malária: a malária tem característica de ser doença bastante aguda, que em poucos dias leva à queda de estado geral, com febre cíclica elevada. Nas regiões endêmicas, se o paciente tiver febre, já faz gota espessa, que é o exame diagnóstico de malária. Por ser uma doença mais aguda, não há tempo de ter perda de peso importante nem visceromegalia exuberante. 5 Louyse Jerônimo de Morais • Esquistossomose hepatoesplênica: doença mais arrastada, contudo, vai ter componente de hipertensão portal mais importante, sem acometimento significativo medular, então não se espera encontrar pancitopenia. • Doença de Chagas – forma aguda: rápida evolução de febre e comprometimento sistêmico, sem componente medular. • Febre tifoide: infecção bacteriana grave por Salmonella tifi, sendo uma doença bifásica bacteriana. Diferentemente do calazar, vai apresentar leucocitose. • Endocardite infecciosa: principalmente em câmara direita, por conta de quadro mais arrastado e visceromegalia, mas também tem sopro cardíaco e leucocitose. • CMV: quadro viral, com menos componente sistêmico, sem componente medular de anemia importante. Provavelmente vai ter imunossupressão secundária também. • Brucelose: associa-se com consumo de leite cru, causando um quadro febril com hepatoesplenomegalia, mas tem leucocitose, já que é bacteriana. Além disso, existem os antecedentes do paciente - é um indivíduo que vai lidar com gado. • Histoplasmose disseminada: o diagnóstico clínico diferencial é impossível, a menos que seja forma aguda e pulmonar da Histoplasmose, porque evolui com quadro de insuficiência respiratória aguda. Se disseminada, só diferencia com mielograma, porque o fungo histoplasma também invade medula, causa febre, pancitopenia e hepatoesplenomegalia. Ela tem grande importância nos pacientes com HIV, porque a imunossupressão vai levar à predisposição de Histoplasmose e leishmaniose visceral, podendo haver reativação inclusive. • Doenças linfoproliferativas: mielograma também é responsável pela elucidação do diagnóstico. É uma doença arrastada, com semanas de evolução. Tratamento 1. Antimoniato de meglumina ou glucantime 2. Fungizon [anfotericina B convencional]: a principal característica é a nefrotoxicidade por ação direta da molécula, que é extremamente lesiva para os rins. Devido a isso e por não haver muitas opções terapêuticas, foi desenvolvida uma maneira dessa substância causar menos lesão renal. Cada laboratório pegou a molécula de anfotericina e envolveu em uma membrana lipídica diferente. Essa molécula envolvida em lipídio consegue entrar no macrófago de forma muito mais rápida e eficiente. Com isso, a exposição da molécula às células do túbulo renal vai ser bem menor e, consequentemente, menos tóxica, mas a toxicidade em outros sistemas permanece. 3. AmBisome [anfotericina lipossomal] 4. Abelcet [complexo lipídico] 5. Amphotec [dispersão coloidal]: não dispomos no Brasil. Antimoniato de meglumina ou glucantime • 1,5g/5ml – 300 mg [sal] = 405 mg/5ml [princípio ativo] Essa medicação foi uma das primeiras a ser utilizada para o tratamento do calazar. Vem caindo em desuso por conta da sua toxicidade, além de ter suas limitaçõesnos pacientes com maior gravidade. Nesse contexto, há várias contraindicações e, atualmente, seu uso terapêutico vai ser destinado principalmente a pacientes com diagnóstico precoce e sem contraindicações. Ele é contraindicado para gestantes e lactantes, e também não deve ser utilizado em menores de 1 ano e maiores de 65 anos, bem como em pessoas com alguma disfunção orgânica [insuficiência renal, hepática, cardíaca etc.], pacientes com quadro grave de leishmaniose ou com leucócitos < 1000. Nesta última situação, é porque se considera forma mais grave, então privilegia anfotericina. Basicamente, está indicado em casos leves, pancitopenia leve com esplenomegalia e bom estado geral. A apresentação dele é toda confusa. Quando vai calcular dose para realizar o tratamento, não usa a concentração do sal completa, mas a do princípio ativo. Apesar de o sal completo ter concentração de 1,5 gramas por 5 ml, o que vamos usar para indicar tratamento e calcular dose é a concentração do princípio ativo. Na apresentação 405 mg/ 5 ml, cada ampola vai ter 405 mg do princípio ativo nos 5 ml de sal completo. A dose calculada é de 21 mg/kg/dia por 20 dias. Faz o cálculo total [das ampolas] e se utiliza no máximo 3 ampolas por dia. 6 Louyse Jerônimo de Morais Efeitos colaterais • Alargamento de ST: leva a arritmias cardíacas, com risco elevado de morte súbita. Antes de iniciar tratamento, faz ECG e repete a cada 3 dias. Fazer medição do QT corrigido para a frequência, se houver aumento, suspende. • Pancreatite: monitora amilase, se elevar, suspende. • Função hepática: se elevar 5x o valor de normalidade das transaminases, suspende medicação. • Hemograma: avaliar resposta terapêutica • Reação anafilática: mais raro. Tosse aguda pode ser edema de glote. Anfotericinas • Anfotericina convencional: é extremamente nefrotóxica, então a dose dela é de 1 mg/kg, mas faz no máximo 50 mg. Se pesar mais que 50 kg, mantém número de ampola por dia, mas aumenta o número de dias. A anfotericina também pode causar arritmias cardíacas e, além disso, deve-se monitorar função renal, pois o paciente pode evoluir com insuficiência renal com hipocalemia [é raro, as principais causas são em síndrome de Fanconi, leptospirose e uso de anfotericina B]. Precisa fazer reposição de potássio basal para o paciente em uso de anfotericina, assim como mantê-lo bem hidratado. Se o paciente já tem insuficiência renal estabelecida ou comorbidade, solicita fórmulas lipídicas. Paciente com HIV já usa direto o AmBisome – dose de 3 mg/kg/dia, no máximo 3 ampolas [cada ampola tem 50 mg]. Faz por 7 dias. O Abelcet pode ser feito 5 mg/kg em 5 dias. • Efeitos sistêmicos: febre, calafrio, flebite. Por conta disso, precisamos ter cuidado na infusão da anfotericina, independentemente da forma de apresentação. Durante infusão, hidratar bem o paciente com 500 ml de soro fisiológico [só suprime se cardiopata], associado a antitérmico e anti-histamínico. Dilui anfotericina em 200 ml de soro glicosado. O tempo de infusão da convencional é de 4 a 6h, nas outras é de 2 a 3h. Prevenção e controle Os pacientes vão apresentar muitas infecções bacterianas associadas e vão se caracterizar como neutropênicos febris, o que leva à indicação formal de ATB de amplo espectro. Além disso, vão estar desnutridos, com facilidade de úlcera por pressão. A indicação de transfusão plaquetária é a mesma das outras patologias [< 10 mil ou < 20 mil com sangramento]. Não há indicação de fazer albumina, só mata o parasita e nutre o paciente. É importante lembrar que no ciclo silvestre não tem o que fazer, porque o mosquito pertence à floresta. No ciclo urbano, protege os cães. Idealmente, cães de rua devem receber coleira repelente. Para um cão doméstico, isso é o básico, mas também tem que vacinar – só que é meio carinha e precisa repetir anualmente. Nas residências nas periferias e próximas a sítios, faz dedetização para eliminar o vetor. Doença de chagas Trata-se de uma doença potencialmente fatal, mas que pode haver cura clínica se diagnóstico precoce. É causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida por um triatomínio. Ademais, também é conhecida como tripanossomíase americana, sendo importante diferenciar da tripanossomíase africana, que é a doença do sono. A transmissão com relação a encontros com o triatomínio diminuiu, mas ela passou a ser um importante problema em transplantes, hemotransfusões e gestantes [transmissão vertical]. A doença de Chagas está presente especificamente nas Américas Central e do Sul. No Brasil, predomina em estados do Nordeste brasileiro – BA, RN, PI, PE, MA; em áreas do sertão. A forma amastigota do protozoário vai infectar os tecidos, enquanto que a epimastigota vai ser encontrada nos triatomínios e vai entrar na corrente sanguínea. Forma amastigota 7 Louyse Jerônimo de Morais Forma epimastigota Ao contrário do Calazar, a forma epimastigota apresenta núcleo entre cinetoplasto [seta preta] e flagelo [seta verde]. A seta azul aponta para a membrana utilizada para locomoção. Transmissão • Vetorial: relaciona-se com pobreza e falta de cuidados de higiene. O barbeiro habita em paredes de casas de pau a pique. Tanto fêmeas quanto machos são hematófagos, fazendo repasto durante a noite, infectando humanos. “Vocês conhecem o barbeiro?” • Transfusional: sangue não testado adequadamente. • Congênita: mulheres não diagnosticas e tratadas que engravidam. • Outras formas de contágio o Transmissão domiciliar: < 5 anos. o Agricultura, peça e caça o Via oral: por falta de cuidado no preparo dos alimentos, como açaí e caldo de cana. Pode ocorrer em surtos. Ao coletar o material, se não preparar de forma adequada, pode macerar barbeiro dentro da produção do alimento e vai haver contaminação. A pasteurização é eficaz para eliminar o T. cruzi. Vetores Gêneros • Triatoma sp • Panstrongylus sp Todos os estágios e ambos os sexos são hematófagos Respectivamente, Panstrongylus e Triatoma. História natural Quando a infecção é por via oral, a doença é mais grave. A forma aguda tem início de sintomas de acordo com a forma que foi feita a transmissão. Se vetorial, 10 a 15 dias, se por transfusão de sangue, 20 a 40 dias, se via oral, 20 dias, já a vertical é em qualquer momento após o parto. 8 Louyse Jerônimo de Morais Se não tratar adequadamente, alguns casos de forma aguda podem evoluir para forma crônica. Metade deles faz a forma crônica sintomática, seja cardíaca ou digestiva. Os outros 50% fazem forma indeterminada, permanecendo assintomáticos. Manifestações clínicas Na forma vetorial de transmissão, a picada ocorre em locais expostos, como o rosto. Ocorre, assim, o sinal de Romaña ou chagoma de inoculação. Trata-se de um edema bipalpebral unilateral associado com adenomegalia satélite, mas que só ocorre em 1 a 2% dos pacientes. Sinal de Romaña Quando ocorre em outro lugar fora o rosto, encontra-se o chagoma de inoculação, que é uma região endurecida e hiperemiada, com adenomegalia satélite. 1. Fase aguda • Período de incubação: 5 a 60 dias • Alta parasitemia: o diagnóstico, nesse momento, idealmente, deve ser feito pela pesquisa direta do parasita na corrente sanguínea. A forma ideal de diagnóstico é pela gota espessa, semelhante à malária. • Infecção disseminada: células de kupffer, macrófagos do baço e células do miocárdio. É comum, na fase aguda sintomática, haver hepatoesplenomegalia, mas raramente ocorre cardite, se ocorrer, muitas vezes é letal. Disseminação no hospedeiro vertebrado A partir da infecção local, o parasita dissemina para os nódulos linfáticos. Deste último, migra para SNC, coração e aparelho digestivo. Sintomas iniciais • Gerais: febre, adenomegalia, hepatoespleno-megalia. • Tubo digestivo: na forma oral de infecção, é muito marcante, principalmente, diarreia e dor abdominal. Pode haver miosite e lesões dos plexos nervosos intramurais das vísceras ocas. • Lesão cardíaca: pancardite e lesões do SNA. • Sistema nervoso: meningoencefalite. Na forma aguda, as lesões cardíacas estão associadas com lesões neurológicas. Nesse contexto, os pacientes que desenvolvem meningoencefalite, muitas vezes, vão evoluir com cardite, o que causa uma alta morbimortalidade. 9 Louyse Jerônimo de Morais A suspeita clínica é feita a partir de um vínculo epidemiológico, pois os sintomas são pouco específicos inicialmente. Por exemplo, se for um indivíduo de região endêmica, com consumo de açaí em locais de higiene duvidosa, residências com contato com barbeiro ou consumo de caldo de cana, apresentando quadro clínico compatível. Na fase aguda, faz exames parasitológicos e coleta material para sorologia. Havendo resultado positivo em exame de gota espessa, já confirma o caso. Se negativo com grande suspeição, faz nova coleta. Se negativo, faz sorologia. Se IgM positivo, confirma, se negativo, pode descartar o caso. Mesmo que seja IgG positivo, pode ser doença de chagas crônica. No caso do IgG, se for reagente, precisa refazer sorologia com 15 dias, porque se houver aumento da concentração de IgG, indica infecção aguda – se for recente, o IgG está em fase de ascensão, se crônica, fica em um platô. Se negativo, descarta quadro e pensa em outra coisa. 2. Forma indeterminada • Positividade de exames sorológicos e/ou parasitológicos • Ausência de sintomas e/ou sinais da doença • ECG normal • Raio x normais: coração, esôfago e cólons Ocorre nos pacientes que tiveram forma aguda não diagnosticada e tratada em tempo adequado. Nesse contexto, eles evoluem sem sequelas aparentes em relação ao funcionamento, mas a nível de células, há alteração. Vive-se dessa maneira por vários anos. Os sintomas só aparecem quando há destruição muito grande de plexos nervosos, enquanto isso não ocorrer, as alterações são iniciais e não há sintomas aparentes. Apesar de o paciente não ter queixas, há positividade de exames sorológicos e/ou parasitológicos [este último é mais raro, porque é mais comum na fase aguda da doença]. 3. Fase crônica • Baixa parasitemia: provavelmente o exame direto vai ser negativo. • Cura espontânea é possível em cada estágio: é mais raro • Incapacidade laboral: acalasia, constipação crônica, arritmias cardíacas. 3.1 Forma cardíaca [cardiopatia crônica chagásica] Manifesta-se como uma cardiopatia fibrosante, focal, contínua e de baixa intensidade. Está presente em 30% dos infectados, 5 a 10 anos após a fase aguda. • Arritmias: BAV e taquicardia ventricular. Inclusive, é uma causa de morte súbita. • Síncopes, lipotimias, tonturas e palpitações • Dispneia de esforço, edema de MMII – evolução para IC por conta da cardiomegalia • Fenômenos tromboembólicos A morte geralmente se dá por arritmia cardíaca, IC ou eventos tromboembólicos. Além disso, é comum ter aneurisma de ponta na doença de Chagas 3.2 Forma digestiva • Megaesôfago • Megacólon Os sintomas dependem do órgão atingido: disfagia, regurgitação, tosse [acúmulo do alimento no esôfago], pneumonia aspirativa, constipação. O tratamento muitas vezes é cirúrgico. Diagnóstico laboratorial 1. Fase aguda Como existe alta parasitemia, o diagnóstico pode ser feito com parasitológico – exame de sangue a fresco e em gota espessa, esfregaço sanguíneo [Giemsa], cultura de sangue ou material de biópsia [NNN, LIT], inoculação em camundongo. Os testes sorológicos são o RIFI, ELISA [IgM] e hemaglutinação indireta. 2. Fase crônica É mais voltado para sorologias, por conta da baixa parasitemia. • Parasitológico: xenodiagnóstico, hemocultura, inoculação em camundongos. • Imunológico o Fixação de complemento o ELISA [IgG], RIFI [IgG], hemaglutinação indireta Fluxograma Se paciente de zona endêmica e quadro clínico sugestivo, faz coleta do soro do plasma por dois métodos diferentes. Se ambos negativos, libera negativo, se ambos positivos, libera positivo. Se discordantes, coleta nova amostra e, se mantiver inconclusivo, encaminha amostras para centro de referência. 10 Louyse Jerônimo de Morais Tratamento específico Pode ser feito em qualquer etapa, mas idealmente na fase aguda, porque garante índice de cura muito maior [80%]. 1. Benzonidazol [efeito apenas contra as formas sanguíneas] • Adultos: 5 mg/kg/dia, durante 60 dias • Crianças: 7 a 10 mg/kg/dia, durante 60 dias. A partir de dois anos de idade, tem forma líquida. A dose deve ser dividida em duas ou três tomadas. • Efeitos colaterais: cefaleias, tonturas, anorexia, perda de peso, dermatites, depleção das células da série vermelha. 2. Nifurtimox [age contra as formas sanguíneas e parcialmente formas teciduais até 90 dias] • Adultos: 8 a 10 mg/kg/dia durante 60 a 90 dias. • Crianças: 15 mg/kg/dia, durante 60 a 90 dias. • Efeitos colaterais: anorexia, emagrecimento, depressão medular. Além dos tratamentos medicamentosos, também faz sintomáticos ou cirurgias, a depender da situação clínica do paciente. Avaliação de cura • Negatividade sorológica • Tempo é variável e depende da fase da doença o 3-5 anos para a fase aguda o Um ano para a infecção congênita o 5-10 anos para a fase crônica recente Prevenção • Aplicação de inseticidas com efeito residual o DDT: ineficiente. o Outros organoclorados, dieldrina e HCH [Lindan]: eficientes. São todos muito cancerígenos, então o ideal é construir moradias adequadas para as pessoas. • Melhoria das residências • Uso de mosquiteiros • Boas práticas de higiene na preparação, transporte, armazenamento e consumo de alimentos • Rastreamento nos doadores de sangue • Testagem de receptores e doadores de órgãos • Rastreamento de RN e crianças que nasceram de mães infectadas. Malária É a doença tropical mais importante do mundo e a que mata mais atualmente. Está bem distribuída na faixa tropical. No Brasil, a grande importância está na Amazônia Legal [99% dos casos], incluindo AC, AP, AM, MT, PA, RO, RR, TO. Trata-se de uma doença febril aguda, cujo vetor é a fêmea infectada do Anopheles. O tempo de evolução dela é bastante rápido. 11 Louyse Jerônimo de Morais • Espécies importantes na Paraíba: An. darlingi e aquasalis. • Região que o mosquito vive: leitos de água doce parada em área sombreada. Quando se desmata e entra cada vez mais em regiões de mata fechada, o homem passa a ter contato com o mosquito. Espécies de importância para os humanos • Plasmodium vivax: 90% dos casos. • Plasmodium falciparum: comportamento bem mais agressivo, com casos mais graves e maior mortalidade. • Plasmodium malariae: causa malária um pouco mais branda. • Plasmodium ovale: não encontrada nas Américas, mas na África. Uma importância dele é que tal protozoário, assim como o P. vivax, também pode gerar hipnozoítos, que são formas de resistência que ficam no fígado. Elas podem permanecer de forma assintomática por até 6 meses, ou seja, é passível de ser levado de uma região para outra. Pode vir da África para o brasil, por exemplo. Trofozoítos tem forma de anel. Na figura acima, do lado direito, temos um gametócito – é mais cumprido, característico da espécie P. falciparum. A diferença entre as espécies é vista através dos gametócitos. Trofozoítos ocupando hemácia Ciclo da malária • Esquizogonia hepática o Uma semana: P. falciparum e P. vivax. o Duas semanas: P. malariae • Estágio de latência o P. vivax e P. ovale: hipnozoítos • Esquizogônia eritrocitária o 48h: P. falciparum e P. vivax – febre terçã o 72h: P. malariae – febre quartã É interessante entender o ciclo da malária, porqueele está diretamente relacionado com as alterações clínicas do paciente. Há duas fases dentro do homem – extraeritrocitária ou hepática e eritrocitária. Inicialmente, a fêmea do Anopheles faz seu repasto. No momento da picada, injeta esporozoítos, que são as formas infectantes para o homem. Ao se alimentar, o mosquito libera esses esporozoítos contidos nas suas glândulas salivares. A partir disso, eles atravessam a pele e chegam na corrente sanguínea. A partir daí, são levados 12 Louyse Jerônimo de Morais até os hepatócitos, onde dão seguimento a sua fase evolutiva, formando esquizontes hepáticos. Essa fase coincide com o período de incubação. O indivíduo até aí está assintomático. Após a primeira etapa concluída, vai haver ruptura dos hepatócitos, assim, os esquizontes tomam a corrente sanguínea e vão ter afinidade pelas hemácias. Conseguem penetrar nas hemácias e se transformam em trofozoítos, que é a forma que se diagnostica através da gota espessa. O trofozoíto imaturo pode gerar duas formas – trofozoíto maduro, com formação de esquizonte eritrocitário [multiplica-se até romper hemácias] ou gametócitos [vão circular pelo sangue periférico e, quando o mosquito fizer um novo repasto, ele acaba se reinfectando; a partir disso, vai cumprir seu ciclo dentro do mosquito e se tornar apto para transmitir a doença para outras pessoas]. Na fase hepática que envolve o P. vivax e o P. ovale, alguns esporozoítos geram hipnozoítos, que são formas de resistência latentes no fígado. É importante para o tratamento, pois exige medicação específica para destruir. Já o ciclo eritrocitário é o que vai levar aos sintomas da malária – febre súbita repentina, cefaleia intensa, mialgia, calafrios. Isso ocorre no momento de ruptura das hemácias. Então, nos primeiros 5 dias de doença, a febre não se desenhou na forma esperada da malária, ainda é desordenada. Depois disso, começa a se desenhar em relação aos sintomas, adquirindo características de febre terçã ou quartã, dependendo da espécie. A febre terçã vem a cada 48h. Pode ser benigna [P. vivax], com característica bem peculiar de ser repetitiva. Ocorre 6 horas de febre, calafrio, sudorese e prostração. Logo depois, o paciente melhora, fica bem, mas o quadro clínico volta em 48h. No caso do P. falciparum, o ciclo não é tão preciso, sendo um pouco mais irregular. Ao contrário do P. vivax, em que o paciente apresenta bem-estar depois que a febre desaparece, nesse caso, o indivíduo vai decaindo cronicamente, mesmo nos primeiros dias de sintomas. O P. Malarie, por sua vez, tem tempo mais demorado de incubação e causa febre quartã. São febres mais baixas e o quadro clínico é menos grave. Quais alterações laboratoriais estão presentes? Anemia aguda, aumento do DHL, aumento da BI e transaminases elevadas, porque está tendo lesão hepática durante o ciclo inicial. Além disso, PCR e VHS ficam aumentados, porque é um quadro esperado na infecção. Quadro clínico • Incubação: 10 a 15 dias, a depender da espécie. Os sintomas mais importantes são: febre, cefaleia, mialgia • População com tendência a apresentar quadros mais graves: o Menores de 5 anos: sistema imunológico ainda não totalmente preparado. Muitas vezes é na primeira infância que ocorre o primeiro contato com o Plasmodium. o Gestantes o HIV/aids o Não-imunes: nunca tiveram contato com malária. o Viajantes: indivíduos que nunca tiveram malária previamente, residentes de regiões fora da Amazônia legal. Malária grave • Sintomas e sinais: prostração [comum durante o período febril, espera-se que fique bem fora da febre, se grave, continua prostrado], alteração da consciência, dispneia ou hiperventilação, edema pulmonar, convulsões, hipotensão arterial, hemorragias, icterícia, hiperpirexia [>41°C], oligúria. Quadros mais graves costumam ocorrer em indivíduos com parasitemia mais elevada. Isso é mais comum no P. falciparum, porque ele consegue se multiplicar quatro vezes mais rápido do que o P. vivax, então a parasitemia é muito maior. Outra característica interessante é que o P. vivax só consegue infectar hemácias mais maduras, não infecta as mais jovens. Já o P. falciparum consegue infectar todas as hemácias periféricas em qualquer idade. • Laboratório: hemoglobinúria, anemia grave, hipoglicemia, acidose metabólica, insuficiência renal, hiperlactatemia, hiperparasitemia – gota espessa. Diagnóstico • Critério epidemiológico é fundamental – perguntar por viagens pelo menos dos últimos 6 meses. • Gota espessa: identifica formas trofozoítas e gametócitos. Através destes últimos, diferencia espécie. Além disso, serve para quantificar a parasitemia, que vai ter valor prognóstico. 13 Louyse Jerônimo de Morais • Teste rápido diagnóstico: feito através de teste imunocromatográfico O controle sempre tem que ficar colorido. Tratamento Precisa visar: esquizogonia, hipnozoítos, gametócitos. Informação para iniciar o tratamento • Espécie de plasmódio infectante: pela especificidade dos esquemas terapêuticos a serem utilizados. • Idade do paciente: pela maior toxicidade para crianças e idosos. • História de exposição anterior à infecção: indivíduos primoinfectados tendem a apresentar formas mais graves da doença • Condições associadas: gravidez e outros problemas de saúde • Gravidade da doença: necessidade de hospitalização e de tratamento com esquemas especiais de antimaláricos. Pacientes que indicam possível gravidade da doença e necessidade de acompanhamento médico • Crianças < 1 ano • Idosos > 70 anos • Todas as gestantes • Pacientes imunodeprimidos • Infecção primária Sinais de perigo para malária grave • Hiperpirexia, convulsão, hiperparasitemia [mais de 4 cruzes na gota espessa], vômitos repetidos, oligúria, dispneia, anemia intensa, icterícia, hemorragias, hipotensão arterial e prostração. • Hemoglobinúria, trombocitopenia, hipoglicemia • Acidose metabólica, insuficiência renal • Hiperlactatemia, leucocitose por polimorfonucleares • Transtornos eletrolíticos Medicamentos disponíveis 1. Cloroquina 150 mg Grande importância no tratamento do P. vivax. A resistência está cada vez maior. Ela é esquizonticida e gametocida. Não pode ser usada com magnésio e não atua contra Plasmodium falciparum. A ingestão de 1500 mg é letal [30 mg/kg]. • Contraindicação: epilepsia, miastenia gravis, psoríase. Diminui limiar para convulsão e pode desencadear crises de miastenia gravis. • Adultos: 10 comprimidos de dose total, 4 cp – 3 cp – 3 cp no primeiro, segundo e terceiro dia, respectivamente. Também é usada em gestantes que tem malária por P. vivax. 2. Primaquina 5 mg / Primaquina 15 mg A primaquina é gametocida e hipnozoiticida. • Contraindicação: artrite reumatoide, LES, deficiência de G6PD, gestante, puérpera até um mês pós-parto, crianças < 6 meses. • 0,75 mg/kg/dose semanal por 8 semanas A gestante fica tomando cloroquina como profilaxia secundária até passar esse período e poder usar 14 Louyse Jerônimo de Morais a primaquina, que vai realmente eliminar o hipnozoito – infecção por P. vivax. Devido a ação gametocida, pode ser usado contra o P. falciparum. A profilaxia secundária é feita com primaquina na dose de 0,75 mg/kg/dose semanal por 8 semanas. Não é indicação se ficar só dentro da cidade, mas se trilhas, parques etc. aí usa. 3. Artemeter + lumefantrina [coartem] 20 mg + 120 mg Essa combinação é indicada se houver infecção por Plasmodium falciparum ou mista. Se tiver P. vivax junto, trata com primaquina também. Não é usada para profilaxia, apenas tratamento. • Contraindicação: primeiro trimestre de gestação, malária cerebral, doença cardíaca, morte súbita na família, amamentação [até 4 semanas], amitriptilina, rifampicina, macrolídeos, quinolonas, imidazólicos,carbamazepina, hidantal, erva de são joão. 4. Artesunato + mefloquina 25 mg + 50 mg / Artesunato + mefloquina 100 mg + 200 mg / Artesunato 60 mg [pó liofilizado] Usa em casos mais graves. A dose vai depender do peso. Sempre vai ser diluído, com preferência por via EV. Controle de cura Lâmina de verificação de cura [LVC] • P. falciparum: em 3, 7, 14, 21, 28 e 42 dias após o início do tratamento. • P. vivax ou mista: em 3, 7, 14, 21, 28, 42, 63 dias após o início do tratamento. Observação: o dia em que o diagnóstico é realizado e que se inicia o tratamento é considerado como dia zero [D0]. Por exemplo, se o tratamento se iniciou no dia 6 de abril, este dia é considerado D0, 3 dias após o início do tratamento será o dia 9 de abril [D3]. Prevenção • Mosquiteiro impregnado com inseticida • Borrifação residual intradomiciliar • Vacinas Vacina RTS,S/AS01 [RTS,S] – Mosquirix Injetável, proteção parcial contra a doença em crianças, avaliada na África Subsaariana como instrumento de controle complementar, recebeu um parecer positivo em julho de 2015 da Agência Europeia de Medicamentos. Controle da malária • Assegurar o acesso universal a serviços de prevenção, diagnóstico e tratamento da malária. • Agilizar as atividades destinadas à eliminação e conseguir a certificação de ausência de malária • Transforma a vigilância da malária em uma intervenção básica
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