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51 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL Unidade II 3 AMBIÊNCIA E AMBIENTE DE TRABALHO Segundo Grisi (apud MULATINHO, 2001, p. 23), a expressão ambiência, ou meio ambiente, é considerada, por alguns autores, como “dúbia e pleonástica e, como tal, inclui dimensões muito amplas, com conotações econômicas, socioculturais e de segurança, inerentes ao ambiente humano”. O impacto dos problemas ambientais sobre a humanidade e sobre os recursos naturais nos mostra que a mudança ambiental global pode ameaçar a própria existência da humanidade e, consequentemente, gerar danos graves e irreversíveis para o ecossistema mundial. Segundo Mulatinho (2001), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) apresentou algumas das principais questões globais que ocorrem e que podem interferir no ambiente de uma empresa: o aquecimento da temperatura da Terra; a utilização desordenada dos recursos naturais; a destruição da camada de ozônio; a perda da diversidade biológica da Terra; a contaminação ou a exploração excessiva dos recursos dos oceanos; a gravidade do aumento das doenças ambientais produzidas pelo desequilíbrio da estabilidade planetária; a superpopulação mundial; a ocupação inadequada dos solos agricultáveis; a escassez, o mau uso e a poluição das águas; e a busca de novos paradigmas de produção e consumo. Considerando que o Brasil abriga 60% da Floresta Amazônica, encontramos uma grande reserva da biodiversidade do planeta por meio de um mosaico de classes de solo, relevo diversificado, clima variando de úmido a semiárido, além de grandes ecossistemas distintos e um sem-número de formas de uso e ocupação do espaço. Tudo isso, vinculado à heterogeneidade cultural do seu povo, faz o Brasil apresentar características próprias. Outras questões ainda devem preocupar no que diz respeito ao nosso ambiente: [...] saneamento básico inadequado ou inexistente; crescimento da população; pobreza; urbanização descontrolada; consumo e desperdício de energia; perda de solo agricultável e desertificação; práticas agrícolas inadequadas; substâncias tóxicas e perigosas; ineficiente gestão dos recursos hídricos; mineração e garimpos predatórios; processos industriais poluentes; poluição do ar em áreas metropolitanas; destruição da Mata Atlântica; devastação do cerrado e da caatinga; queimadas na Amazônia; ocupação e destruição de mangues e outros ecossistemas importantes (SEBRAE, 1998, p. 39-40 apud MULATINHO, 2001, p. 24). 52 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II Segundo Mulatinho (2001), é importante entender que há um vínculo profundo entre o trabalho e o meio ambiente. Assim, adotar uma visão a partir do local de trabalho é uma maneira fácil e inteligente de observar o meio ambiente. Através do trabalho, o homem se apropria da natureza, transformando-a segundo seus interesses e necessidades e identifica nos processos produtivos as situações de risco e de alteração ambiental que afetam coletivos de trabalhadores e coletividades vizinhas. A exigência de um meio saudável transcendeu as fronteiras nacionais e constitui hoje requisito de peso ao comércio internacional (MULATINHO, 2001, p. 25). Por diferentes caminhos, busca-se a melhor qualidade de vida. A história do Homem, nos primórdios, é marcada pela perfeita inter-relação com a natureza, da qual suas ações faziam parte diretamente. Pode-se afirmar que essa interação não degradava o meio ambiente, mas dele tirava alimentos (os seres humanos caçavam, pescavam e colhiam frutos). Nesse processo, o Homem praticava o nomadismo. A partir daí, deu um grande salto com a construção das cidades e saiu do seu ambiente natural para um ambiente construído. Segundo Heimstra (1978, p. 3 apud MULATINHO, 2001), o ambiente físico compreende tudo o que nos rodeia. O autor ainda divide o ambiente físico em dois tipos: o construído, ou modificado pelo homem, e o natural. Existe um grande interesse no relacionamento existente entre o comportamento do homem e as características do ambiente físico, tais como: os espaços das construções nos quais ocorre o comportamento, o projeto de instituições e a maneira pela qual as características de um projeto podem afetar o comportamento e os efeitos da vida urbana. A diferença entre o ambiente construído, ou modificado pelo homem, e seu ambiente natural é de primordial importância, uma vez que existe muito pouco do ambiente natural que, até certo ponto, não tenha sido modificado pelo homem. Para o entendimento e a vigilância da incidência e da prevalência de uma determinada doença ou de um agravo, é essencial o conhecimento do padrão estabelecido em cada área geográfica previamente delimitada. Essa área geográfica pode ser já estabelecida como um território administrativo (no caso de bairros, cidades e estados), ou pode ser identificada em um território de características próprias (áreas industrializadas, rurais ou de desmatamento, por exemplo). Mapear adequadamente esse padrão geográfico permite localizar a ocorrência de uma doença, bem como seu prognóstico, além de possibilitar a identificação das áreas de maior risco ou de necessidade de intervenção (CARNEIRO, 2003; RIBEIRO, 2000 apud JAKOBI, 2008). Reis (2008 apud JAKOBI, 2008, p. 16) define Saúde do Trabalhador da seguinte maneira: [...] é uma subárea da Saúde Pública que tem como objeto de estudo as relações entre o trabalho e a saúde. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem como objetivos, para essa subárea, a promoção e a proteção da saúde do trabalhador. Procura atingi-los por meio do desenvolvimento de 53 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes, condições de trabalho e dos agravos à saúde, além da organização e prestação da assistência, o que compreende procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada. Como dito anteriormente, agravos e doenças relacionados à saúde do trabalhador são considerados como um dos maiores desafios da saúde pública, em especial, pela complexidade da diversidade de atividades laborais, associada às características regionais geográficas e culturais. Em todas as atividades laborais já são conhecidos os mais diversos riscos aos quais os trabalhadores são expostos, que levam ao agravo, à doença ou à morte e que poderiam ser evitados por medidas de prevenção e proteção. Segundo Porto e Mattos (2003 apud JAKOBI, 2008), a produção de acidentes e das doenças, a destruição ambiental, assim como o esforço e a estratégia de combater esses problemas, expressa o valor político e econômico da vida das pessoas e do meio ambiente em sua totalidade num dado contexto social. No Brasil, a prevenção de agravos e doenças nunca foi uma política efetiva, visto que nossa legislação trabalhista teve início apenas na década de 1940. A formulação da CLT, associada ao avanço econômico do País, levou a um aumento das atividades ligadas à indústria e, consequentemente, a um aumento considerável de acidentes e doenças ocupacionais. Em meados da década de 1970, o Brasil chegou a ter 10% dosseus trabalhadores acidentados. Houve, então, a necessidade de criação de normas obrigatórias para que as empresas enfrentassem essa situação, com a incorporação de profissionais especializados na área de segurança e medicina do trabalho, como médicos, engenheiros e técnicos, formando uma nova área dentro da empresa com a denominação de SESMT. Foi nessa situação de persistência de elevados índices de acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho, com grandes perdas humanas e econômicas, que se desenhou a política denominada Saúde do Trabalhador. A Lei nº 8.080/90, Lei Orgânica da Saúde, criou o Sistema Único de Saúde (SUS) e estabeleceu suas competências e atribuições, dentre elas a de executar as ações de vigilância em Saúde do Trabalhador (BRASIL, 1990). Com as ações sobre a saúde do trabalhador especificadas na legislação do SUS, há a busca de uma concretização de práticas mais humanizadas na gestão das políticas e estratégias formuladas para a busca da redução de riscos, em especial, dos relacionados ao ambiente de trabalho. 3.1 Atividade industrial e agentes peculiares às atividades Caracterizado pelo espaço físico ou abstrato, o local usado para interação do trabalhador e que pode influenciar positiva ou negativamente por alterar seu estado físico, mental e social pode ser denominado ambiente de trabalho. Wada (1990) define ambiente de trabalho como um conjunto de fatores interdependentes: 54 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II Quando um desses fatores, ou um conjunto deles, foge ao controle, seja pelos níveis permitidos ou pelos processos que se desencadeiam, o ambiente de trabalho torna-se suscetível a desenvolver as patologias do trabalho, que podem ser citadas como acidentes de trabalho, doenças profissionais ou doenças do trabalho (WADA, 1990, p. 36). É no local de trabalho que a maioria das pessoas passa a maior parte do seu tempo, podendo chegar a quase dois terços do dia, quando somamos o tempo que gastamos para chegar ao trabalho e voltar para casa. Dessa forma, o ambiente de trabalho deve ser valorizado e ter atenção especial de todos os gestores e trabalhadores, e também de profissionais especializados em segurança e saúde do trabalhador. Os fatores que influenciam esse ambiente são os meteorológicos, os topográficos e os emocionais. 3.1.1 Fatores meteorológicos e topográficos A atmosfera atua em todos os ambientes como meio de propagação da poluição do ar, mas também como agente de difusão dos poluentes. Dessa forma, a atmosfera é alterada por fatores meteorológicos, em especial pelos ventos, pela temperatura e pela umidade do ar. Essas alterações influenciam tanto o ambiente externo quanto o interno, quando associadas a outros fatores, por exemplo, a presença ou não de aparelhos que possam melhorar ou piorar essa atmosfera, como ventiladores e umidificadores de ar. Esses fatores podem, não raro, desencadear doenças que poderiam estar latentes no trabalhador. É o caso, por exemplo, de algumas doenças respiratórias, como a rinite alérgica, que tem seu surgimento acentuado por influências meteorológicas, presença de poeira ou de um ar muito seco no ambiente de trabalho, podendo torná-lo mais insalubre. Segundo Barsano e Barbosa (2014, p. 64), os poluentes atuam diretamente na qualidade do ambiente e podem ser classificados conforme segue. • Primários: são aqueles emitidos diretamente de fontes identificáveis e que estão na atmosfera na forma em que são emitidos. Exemplos: poeiras em geral, compostos de enxofre, monóxido de carbono, compostos orgânicos, compostos de hidrogênio e compostos radioativos. • Secundários: são produzidos no ar pela reação entre dois ou mais poluentes. Exemplos: dióxido de enxofre, proveniente das atividades industriais (combustão de óleos, operações de fusão, usinas de natureza tipicamente química) e neblina de ácido sulfúrico. • Fontes naturais de poluentes: vegetação, polens, solo, gotículas do mar e poeira. A atmosfera é influenciada na sua composição diretamente pela presença da poluição, que pode ter suas origens nas seguintes atividades: • industrial: pelos poluentes emitidos em suas ações; 55 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL • metalúrgica: por meio da liberação, principalmente, de monóxido de carbono, fumos, dióxido metálico, gás sulfuroso, fumos de chumbo e cinzas; • manufatura e acabamentos de metais: fumos metálicos, poeiras da fundição e vapores solventes; • mineração: gases explosivos, poeiras em geral, monóxido de carbono; • produtos alimentícios: substâncias cloríferas; • indústrias mecânicas: poeiras e névoas do departamento de acabamento, fumaças e fumos no tratamento térmico; • indústrias de papel e papelão: sulfeto de hidrogênio; • indústria de madeiras: poeira, solventes, fumaça das queimas de resíduos da madeira; • química e farmacêutica: todas as formas de poluição do ar. De acordo com a Norma Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e Emprego, que trata especificamente da Ergonomia, as condições de trabalho devem estar adequadas às características psicológicas e fisiológicas e ligadas à natureza do trabalho a ser executado. Dessa forma, nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam esforço intelectual e atenção de maneira constante, como salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre outros, são recomendadas as seguintes condições de conforto: • níveis de ruído de acordo com o estabelecido na NBR 10152, norma brasileira registrada no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro); • índice de temperatura efetiva entre 20 ºC e 23 ºC; • velocidade do ar não superior a 0,75 m/s; • umidade relativa do ar não inferior a 40%. 3.1.2 Espaço confinado Algumas atividades profissionais são exercidas em ambientes confinados e, pelas suas características e pelos fatores mencionados das condições meteorológicas, podem chegar a patamares extremamente desfavoráveis aos trabalhadores. Portanto, medidas de prevenção devem ser adotadas para oferecer condições de segurança, higiene e conforto no ambiente laboral. De acordo com a NR 33, que tem como objetivo estabelecer os requisitos mínimos para a identificação de espaços confinados e o reconhecimento, a avaliação, o monitoramento e o controle dos riscos existentes, esse ambiente de trabalho é definido da seguinte forma: 56 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II Espaço confinado é qualquer área ou ambiente não projetado para ocupação humana contínua, que possua meios limitados de entrada e saída, cuja ventilação existente é insuficiente para remover contaminantes ou onde possa existir a deficiência ou enriquecimento de oxigênio (BRASIL, 2012b). Nesses ambientes, os riscos de acidentes por explosão, incêndio ou asfixia são as maiores preocupações. As condições de ventilação, concentração de oxigênio e de substâncias tóxicas e perigosas devem ser avaliadas antes do início das atividades e monitoradas continuamente para a garantia da segurança dos trabalhadores. Tambémé importante lembrar que, nesses ambientes, a ausência de luz solar direta pode afetar o trabalhador psicologicamente e fisiologicamente, por este perder a noção do tempo de trabalho naquela mesma atividade. 3.2 Ambientes insalubres A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu artigo 189, traz a definição de insalubridade: [...] Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos (BRASIL, 1943). O Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978, criou a NR 15, que trata das atividades e das operações insalubres. Esta norma diz que o exercício de trabalho em condições de insalubridade assegura ao trabalhador a percepção de adicional, incidente sobre o salário mínimo da região, equivalente a: • 40% para insalubridade de grau máximo; • 20% para insalubridade de grau médio; • 10% para insalubridade de grau mínimo. A NR 15 apresenta, em seus anexos, os limites de tolerância para cada atividade considerada insalubre: • Anexo 1 – Limites de Tolerância para Ruído Contínuo ou Intermitente. • Anexo 2 – Limites de Tolerância para Ruídos de Impacto. • Anexo 3 – Limites de Tolerância para Exposição ao Calor. 57 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL • Anexo 5 – Limites de Tolerância para Radiações Ionizantes. • Anexo 11 – Agentes Químicos cuja Insalubridade é Caracterizada por Limite de Tolerância e Inspeção no Local de Trabalho. • Anexo 12 – Limites de Tolerância para Poeiras Minerais. Além dos anexos que descrevem os limites de tolerância, a NR ainda determina atividades que, por si só, já são insalubres: • Anexo 6 – Trabalho sob Condições Hiperbáricas. • Anexo 13 – Agentes Químicos. • Anexo 14 – Agentes Biológicos. Outras atividades, para serem consideradas insalubres, precisam ser avaliadas e necessitam de laudos de inspeção no local de trabalho: • Anexo 7 – Radiações Não Ionizantes. • Anexo 8 – Vibrações. • Anexo 9 – Frio. • Anexo 10 – Umidade. Caso haja incidência de mais de um fator de insalubridade, será considerado o grau mais elevado para efeito de acréscimo salarial, não sendo permitida a percepção acumulativa. A NR 15 define em seus Anexos 11, 12 e 13: Anexo 11 – [...] o método e os parâmetros para se calcular o grau de insalubridade em função da exposição a agentes químicos para os quais há limite de tolerância para absorção por via respiratória ou cutânea. Anexo 12 – [...] os procedimentos de medição e limites de tolerância para a exposição dos trabalhadores a poeiras minerais (asbesto, manganês e seus compostos, e sílica livre cristalizada). Anexo 13 – [...] apresenta os diferentes graus de insalubridade relativos a atividades e operações envolvendo agentes químicos, tais como arsênico, chumbo, cromo e benzeno (BRASIL, 1978). 58 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II 3.2.1 Atividades periculosas O artigo 193 da CLT define periculosidade da seguinte maneira: [...] São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a: I – inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; II – roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial (BRASIL, 1943). Já a NR 16 acrescentou ao rol das atividades periculosas as atividades e operações perigosas com radiações ionizantes ou substâncias radioativas. O trabalho em condições de periculosidade assegura ao empregado um adicional de 30% sobre o salário-base, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros das empresas. De acordo com o artigo 194 da CLT, o empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade ou de periculosidade que porventura lhe seja devido, cujo direito cessará tão logo haja a eliminação do risco à sua saúde ou à sua integridade física (BRASIL, 1943). Observação A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, serão feitas por meio de perícia, que fica a cargo de médico ou engenheiro do trabalho registrado no Ministério do Trabalho. 3.2.2 Atividades penosas O conceito de atividade penosa e sua aplicação prática no cotidiano ainda hoje confundem os estudiosos da área de segurança e saúde do trabalho. A falta de regulamentação específica dessa atividade é a principal razão da polêmica gerada em torno desse importante adicional, que faz falta no salário de muitos trabalhadores. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 7º, inciso XXIII, inclui como direitos inerentes aos trabalhadores urbanos e rurais o “adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei” (BRASIL, 1988). Porém, atualmente, estão regulamentados apenas os adicionais relativos à insalubridade e à periculosidade, conforme visto anteriormente. 59 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL O vocábulo penoso é descrito como aquele “que é causa de dor, sofrimento ou incômodo; [...]. Que requer grande esforço ou grande sacrifício” (AULETE, 2015). Desta forma, podemos definir como atividades penosas as que, a princípio, não sejam consideradas insalubres ou periculosas, bem como as atividades sujas e degradantes, que causam dor e sofrimento ao trabalhador, assim como o trabalho azedo, fedido, ácido, áspero, rude e cruel, ou quando o profissional exercer o trabalho de forma árdua, amarga, difícil e trabalhosa, causando-lhe incômodos. Cretella Junior (apud OLIVEIRA, 2002, p. 186) nos apresenta a seguinte definição: Penoso é o trabalho acerbo, árduo, amargo, difícil, molesto, trabalhoso, incômodo, laborioso, doloroso, rude. [...] Penosas são, entre outras, as atividades de ajuste e reajuste de aparelhos de alta precisão (microscópios, rádios, relógios, televisores, computadores, vídeos, fornos de micro-ondas, refrigeradores), pinturas artesanais de tecidos e vasos, em indústria, bordados microscópicos, restauração de quadros, de esculturas danificadas pelo tempo, por pessoas ou pelo meio ambiente, lapidação, tipografia fina, gravações, revisão de jornais, revistas, tecidos, impressos. Todo esse tipo de atividade não é perigoso, nem insalubre, mas sim penoso; exigindo atenção constante e vigilância acima do comum. Portanto, podemos citar como exemplos de atividades penosas: • os trabalhos de corte realizados pelos boias-frias nos canaviais; • os trabalhos exercidos na extração do minério de carvão, bem como nas carvoarias; • o trabalho a céu aberto, sob sol escaldante ou outras fortes intempéries naturais; • o trabalho exercido na limpeza subterrânea das tubulações de esgoto público. 3.3 Acidente do trabalho 3.3.1 Conceitode acidente do trabalho Acidente do trabalho é conceituado como o evento indesejado e inesperado, que tem como característica principal provocar lesão corporal ou perturbação funcional que causa morte, perda ou redução permanente ou temporária da capacidade do trabalhador. Quando esse evento não gera dano, estamos diante de um incidente ou quase incidente. Acidente é toda ocorrência não desejada que modifica o andamento normal de qualquer tipo de atividade ou põe fim a este. O conceito pode ser aplicado a diferentes situações, como um equipamento danificado (perdas materiais) ou quando alguém sofre algum tipo de lesão que provoque danos ao indivíduo que foi vitimado. 60 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II A segurança do trabalho aborda o tema Acidente do Trabalho em dois enfoques: • conceito legal; • conceito prevencionista. De acordo com o artigo 2º da Lei nº 6.367, de 19 de outubro de 1976, acidente de trabalho é definido como “aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou perda, ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho” (BRASIL, 1976). A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, define: Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991). Também são consideradas como acidente do trabalho: • doença profissional: originada ou provocada pelo exercício do trabalho característico de determinada atividade; • doença do trabalho: contraída ou desencadeada em razão de condições especiais em que o trabalho é realizado e que apresente relação direta com ele. Dessa forma, podemos afirmar que qualquer situação que cause algum dano, mesmo que este não seja material ou físico, deve ser investigada como acidente. Segundo a NR 3 (BRASIL, 2000), “considera-se grave e iminente risco toda condição ou situação de trabalho que possa causar acidente ou doença relacionada ao trabalho com lesão grave à integridade física do trabalhador”. A Lei nº 8.213/91, em seu artigo 21, também versa sobre o acidente de trabalho: [...] I – o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II – o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de: 61 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III – a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV – o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo, quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado (BRASIL, 1991). Observação Quando o funcionário se acidenta utilizando veículo particular, mas está recebendo vale-transporte da empresa para uso de transporte coletivo (ônibus, metrô etc.), também é um acidente do trabalho. O que caracteriza o acidente de trajeto não é o meio de locomoção utilizado, mas a causalidade do evento. No entanto, nada impede que o funcionário sofra alguma penalidade por parte da empresa por cometer uma falta grave. 62 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II Considera-se acidente do trabalho, também, a situação em que o empregado, durante os períodos destinados à refeição ou ao descanso, ou, por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas realizadas no local de trabalho ou durante este, venha a se acidentar. Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do acidente anterior. Por exemplo: um trabalhador que sofreu um acidente anos atrás jogando bola, tendo rompido o tendão da perna, ao subir as escadas da empresa, acaba rompendo esse mesmo tendão. De acordo com o conceito prevencionista, o acidente de trabalho é abordado não somente como uma causa de dano real ao trabalhador ou ao patrimônio. É, principalmente, uma previsão, uma antecipação de algum evento que, sob o olhar prevencionista dos profissionais envolvidos com a segurança do trabalho na empresa (SESMT e Cipa), possa desencadear, por meio de diversos incidentes (quase acidentes), uma lesão pequena ou grave, ou até mesmo um acidente fatal (morte do trabalhador). A partir de um piso escorregadio, por exemplo, é possível prever diversos acidentes: um trabalhador escorrega e não sofre nenhuma escoriação, nenhum dano (houve um incidente); outro funcionário, por sua vez, pode escorregar no mesmo piso e sofrer graves lesões. De acordo com Vianna (apud MULATINHO, 2001), consideramos como circunstâncias dos acidentes de trabalho lesões ocorridas no local de trabalho e no trajeto de ida e volta do trabalho; bem como acidentes que tenham ocorrido fora dos limites da empresa e fora do local de trabalho, mas em razão dele. Os tipos de acidentes de trabalho podem ser classificados como: 1) Acidentes sem afastamento, quando o empregado é acidentado e continua a trabalhar normalmente após ter ocorrido o acidente; 2) Acidentes com afastamento, quando o empregado acidentado deixa de trabalhar durante algum tempo, devido às consequências do acidente, que podem resultar em: a) Incapacidade temporária, que significa a perda total da capacidade de trabalho durante o dia do acidente, podendo se prolongar por mais dias. Porém, ao retornar ao trabalho, o empregado assume o cargo que ocupava sem redução de sua capacidade de trabalhar; b) Incapacidade permanente parcial, que é a redução permanente e parcial da capacidade de trabalhar motivada por redução da função ou perda de qualquer membro ou parte dele devido ao acidente;c) Incapacidade total permanente, que é a perda total, em caráter permanente, da capacidade de trabalho; d) Morte (VIANNA, 1976, p. 53 apud MULATINHO, 2001, p. 32). 63 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL Consideramos como dia do acidente, no caso de doença profissional ou do trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade habitual, o dia da segregação compulsória ou o dia em que for realizado o diagnóstico, valendo o que ocorrer primeiro. 3.3.2 Causas dos acidentes e doenças do trabalho As causas de um acidente de trabalho são, na maioria das vezes, complexas. Porém, há três fatores que, direta ou indiretamente, atuam no desencadeamento de qualquer acidente: atos inseguros, condições inseguras e fator pessoal de insegurança. Estudar as causas que podem levar ao acontecimento do acidente ou da doença do trabalho é constituir uma maneira de conhecer de forma metodológica como e por que surgem os acidentes de trabalho. Isso facilita o estudo das medidas preventivas, reduzindo a ocorrência de novos acidentes. Como principais fatores de contribuição para a ocorrência do acidente de trabalho, podemos citar: • condição ambiente de insegurança: a condição ambiental existente na empresa e que predispõe ao acidente; • ato inseguro: qualquer comportamento inadequado que predisponha ao acidente. Os atos inseguros são atos voluntários ou involuntários do trabalhador que, por negligência, imprudência ou imperícia deste, acabam desencadeando determinado acidente. Por exemplo: • o empregado recusar-se a usar o EPI para trabalhar em um lugar em que haja risco de queda de objetos, como na construção civil; • correr dentro da empresa; • deixar de observar as normas de segurança da empresa. Observação Negligência é quando deixamos de fazer algo por desleixo, ou seja, é um ato voluntário de não querer fazer algo mesmo sabendo que aquilo é de extrema importância. Decorre da omissão. Imprudência é quando fazemos algo sem a cautela necessária, mesmo sabendo que a falta desta implicará uma consequência negativa. Imperícia é quando praticamos um ato para o qual não somos treinados e/ou capacitados. 64 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II Lembrete Conforme prescreve o artigo 158, inciso II da CLT, a recusa, sem justificativa, do empregado a usar EPIs fornecidos pela empresa é considerada como ato faltoso, podendo ser aplicada até a penalidade máxima de justa causa, nos casos de reincidência. As condições inseguras são os fatores ambientais de risco aos quais o trabalhador está exposto, mas cuja ocorrência não depende de sua influência, como: • local de trabalho muito próximo a máquinas e equipamentos; • iluminação inadequada; • fornecimento de ferramentas e maquinários defeituosos para o trabalhador. Também se deve levar em consideração quando o trabalhador executa suas tarefas laborais com má vontade, más condições físicas ou com pouca ou nenhuma experiência, por exemplo: trabalhador embriagado ou doente, com alguma deficiência física ou com uma doença psíquica. 3.3.3 Repercussão social dos acidentes A repercussão social dos acidentes é de extensão gravíssima. Vianna (1976, p. 12-3 apud MULATINHO, 2001) destaca as seguintes, dentre outras: • limitação das atividades sociais do acidentado, que, em razão da gravidade do acidente, pode até se marginalizar da sociedade; • reflexos familiares, caracterizados pelos cuidados especiais que terão de ser dispensados ao trabalhador, ocasionando, inclusive, o afastamento de outras pessoas do trabalho; • necessário aumento de despesas médicas e consequente redução da renda familiar; • alteração de projetos, que, diante da natureza do acidente, podem até ser cancelados; • diminuição da força de trabalho e aumento do preço dos produtos: mesmo quando é considerado um fato isolado, os reflexos do acidente podem ser trágicos, influindo, inclusive, no preço final do produto, que fica onerado pela diminuição da produção em escala e pelos encargos adicionais relativos ao amparo do acidentado e à substituição do trabalhador; • maior número de dependentes da coletividade: consequência lógica dos acidentes ocorridos. A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, regulamenta de forma simples e objetiva os principais direitos dos profissionais, bem como a 65 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL obrigação das empresas e do Poder Público de disponibilizar vagas de emprego com condições dignas de trabalho, locomoção e qualidade de vida. A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar, ao beneficiário incapacitado, preparação parcial ou total para o trabalho, e, às pessoas portadoras de deficiência, os meios para a reeducação e a readaptação profissional e social indicados para a participação no mercado de trabalho e no contexto em que vivem. A reabilitação profissional compreende o fornecimento de aparelho de prótese, órtese e instrumentos de auxílio para locomoção, quando a perda ou a redução da capacidade funcional puder ser atenuada por seu uso, bem como o fornecimento dos equipamentos necessários à habilitação e à reabilitação social e profissional. A reparação ou a substituição dos aparelhos desgastados pelo uso normal ou por ocorrência estranha à vontade do beneficiário também fazem parte dos benefícios do acidentado, bem como o transporte ao trabalho, quando necessário. 3.3.4 Repercussão econômica dos acidentes O tempo de trabalho perdido, decorrente do afastamento do acidentado, é a primeira consequência econômica do acidente de trabalho. No entanto, não é a única. Veja no texto a seguir uma interessante visão a respeito do impacto econômico dos acidentes de trabalho. Podemos destacar [dentre as consequências econômicas] ainda: • Queda de produção pela interrupção do trabalho. Até que o trabalhador retorne ou seja substituído, há um lapso de tempo em que suas tarefas deixam de ser executadas, influindo [na] redução da produção. • Diminuição da produtividade causada pelos impactos emocionais: o acidente, por si só, é um fato chocante. As pessoas presentes ou envolvidas sentem-se traumatizadas com o evento, fator que repercute negativamente na produtividade. • Custos de máquinas ou equipamentos danificados e matéria-prima ou materiais perdidos: a empresa, às vezes, vê-se obrigada a paralisar seus trabalhos por se tratar de equipamento vital. • Gastos com primeiros socorros e transporte de acidentados. • Atraso na entrega de produtos e imagem negativa da empresa, como consequência da paralisação de seus serviços. • Desvio de grandes somas para atender às consequências, em prejuízo de aplicações mais necessárias. 66 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 UnidadeII [...] Os acidentes com trabalhadores causam inúmeros prejuízos, não só para o empregador como também para a pessoa atingida, para a sua família e para toda a sociedade. O trabalhador acidentado, além das consequências físicas que sofre, quase sempre não está capacitado a suportar o ônus financeiro que ocorre nessas ocasiões. Para a família do trabalhador, o acidente traz inúmeras dificuldades, tais como: cuidado com o acidentado; aumento de despesas; renda diminuída; alteração de projetos familiares. Para a empresa, causará: tempo de trabalho perdido pelo acidentado; queda da produção pela interrupção do trabalho; gastos com os primeiros socorros e [o] transporte do acidentado; má fama para a empresa etc. Um programa de segurança eficiente pode parecer difícil e oneroso para a empresa, mas as análises de causas e consequências, bem como os prejuízos causados à própria empresa, à sociedade e à nação indicam que “é mais caro ter acidentes do que preveni-los”. Sem essa atuação, tornar-se-á cada vez mais difícil atingir a meta de proporcionar aos trabalhadores brasileiros condições seguras de trabalho para garantia de sua prevenção. A redução dos acidentes do trabalho, comprovadamente, leva aos seguintes benefícios, [dentre outros]: • Benefícios sociais com: redução de preço final de produtos; redução de encargos pela Previdência Social, em decorrência de acidentes; maior força de trabalho; equilíbrio de ânimos (entre trabalhadores) pela ausência do mal-estar causado pelos acidentes. • Maior equilíbrio entre a renda e as despesas do trabalhador; tranquilidade no meio familiar. • Benefícios para a empresa com: — redução de prejuízos com desperdício de materiais; — diminuição de prejuízos em decorrência de paralisação e consertos de máquinas e equipamentos; — aumento na produção; — maior produtividade dos trabalhadores; — menor despesa com treinamento de substitutos de acidentados; — redução de salários adicionais pagos por trabalhos em hora extra em virtude de acidentes; — redução de despesas médicas e salários não cobertos pelo seguro. Fonte: Mulatinho (2001, p. 33-4). 67 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL 3.3.5 Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) A Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) é feita pela empresa à Previdência Social dentro do prazo legal, independentemente de ter havido afastamento do trabalhador. Além de ser uma obrigação legal do empregador, a CAT serve para fins estatísticos. A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, afirma, em seus artigos 22 e 23: Art. 22. A empresa deverá comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o 1º (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência Social. [...] Art. 23. Considera-se como dia do acidente, no caso de doença profissional ou do trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade habitual, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia em que for realizado o diagnóstico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro (BRASIL, 1991). Observação Na falta da emissão da CAT por parte da empresa, podem formalizá-la: o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública. A comunicação será feita ao INSS por intermédio do formulário CAT, preenchido em seis vias, com a seguinte destinação: • 1ª via – INSS; • 2ª via – à empresa; • 3ª via – ao segurando ou dependente; • 4ª via – ao sindicato de classe do trabalhador; • 5ª via – ao Sistema Único de Saúde (SUS); • 6ª via – à Delegacia Regional do Trabalho. 68 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II Saiba mais Veja o impresso da CAT diretamente no site da Previdência: BRASIL. Previdência Social. Comunicação de acidente de trabalho. [s.d.]. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/forms/formularios/ form001.html>. Acesso em: 9 fev. 2015. 4 CONTROLE DOS AGENTES AMBIENTAIS 4.1 Adoção de medidas de segurança Já discutimos que, para a Segurança e Saúde no Trabalho, ou objetivo maior é o de prever a possibilidade de ocorrência de situações potencialmente perigosas à integridade física do trabalhador, procurando ao máximo eliminá-las na sua origem. Para que esta meta seja alcançada, é necessário que o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança do Trabalho (SESMT), conjuntamente com a Cipa, conheçam os riscos provenientes das atividades profissionais, em seus diversos aspectos, como insalubridade do ambiente de trabalho, das máquinas e de equipamentos inadequados, de procedimentos operacionais ineficientes e das condições inseguras do local de trabalho, bem como outros fatores que exponham os colaboradores a risco em suas atividades. Após a análise desses fatores, devem ser adotadas medidas de proteção no trabalho que visem à prevenção de acidentes e doenças profissionais, que podem ser alcançadas por meio de medidas administrativas, de proteção coletiva e de proteção individual. 4.1.1 Medidas de proteção administrativa Garantir as condições ideais de trabalho deve ser uma preocupação a se iniciar com a adoção de medidas administrativas tomadas pelos profissionais da segurança do trabalho como forma de eliminar os riscos que colocam em perigo a integridade física e psíquica do trabalhador. Dentre as medidas de proteção administrativa que devem ser adotadas, podemos citar: • ordens de serviço, pareceres e instruções implantadas pelo SESMT; • restrições impostas pelo empregador na entrada e na saída de locais de risco; • procedimentos de trabalho e execução de serviços; • proibição de entrada em espaços confinados; • preceitos de segurança e saúde no trabalho. 69 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL 4.1.2 Medidas de proteção coletiva Equipamentos de Proteção Coletiva (EPCs) são procedimentos ou equipamentos utilizados ou projetados para a proteção de um grupo de pessoas, na realização de determinada tarefa ou qualquer atividade. Essas medidas são para que a segurança coletiva seja alcançada, ou seja, para que se atinja a segurança de diversos trabalhadores envolvidos em uma mesma atividade e/ou um mesmo procedimento de trabalho. Alguns exemplos de EPC: • exaustores em uma cozinha industrial; • redes de proteção; • projeto de enclausuramento acústico de um compressor, para evitar escape de ruídos; • proteção de partes móveis de máquinas e equipamentos; • grades de proteção contra queda de materiais. 4.1.3 Medidas de proteção individual A utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) deve ocorrer em qualquer situação de trabalho, sendo um complemento da utilização dos EPCs. Para a determinação de qual deve ser o EPI adequado para o trabalhador, o primeiro passo é identificar dequais riscos deve ser protegido. Essa avaliação deve ser qualitativa e quantitativa do risco e definirá qual a potencialidade do dano ao organismo do colaborador. O uso de EPIs como capacetes, calçados de segurança, óculos de proteção contra partículas volantes e luvas deverá ser adotado sempre que todas as medidas de proteção forem utilizadas e mesmo assim permanecer o risco acima dos limites toleráveis de segurança, colocando em perigo a integridade física e psíquica do trabalhador. Após a avaliação e a caracterização do risco, ele deve ser enfrentado em sua origem para que possa ser neutralizado ou eliminado. Caso a situação de risco se mantenha, os membros do SESMT devem realizar uma ação de proteção coletiva entre a zona de risco e os trabalhadores. A adoção de medidas de proteção individual relativas ao trabalhador deve ter início com a seleção de EPIs apropriados aos agentes de risco e à natureza antropométrica do trabalhador, como o tamanho adequado de calçados e luvas de segurança, que deve ser adequado ao perfil do funcionário. 70 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II 4.2 Definição de EPI A NR 6, criada pela Portaria GM nº 3.214, de 8 de junho de 1978, e alterada pela Portaria SIT nº 292, de 8 de dezembro de 2011, trata das medidas de proteção individual e define EPI como: “[...] todo dispositivo ou produto, de uso individual, utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho” (BRASIL, 2011c). De acordo com essa NR, os EPIs, de fabricação nacional ou estrangeira, só podem ser postos à venda ou utilizados com a indicação do Certificado de Aprovação, expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego. A utilização de EPI também deve ser avaliada como medida de redução de custos, já que a sua não utilização poderá causar mais danos aos trabalhadores e aumentar despesas tanto para o empregador quanto para o funcionário. É de responsabilidade do SESMT, em conjunto com a avaliação da Cipa e dos próprios trabalhadores, a recomendação ao empregador do uso adequado de EPI para cada risco existente de determinada atividade, sendo obrigatório o fornecimento dos equipamentos de maneira gratuita aos empregados, adequados a cada risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento, nas seguintes condições: • sempre que as medidas de ordem geral não oferecerem completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho; • enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; • para atender a situações de emergência. O empregador ainda tem as seguintes obrigações com relação ao uso e ao fornecimento do EPI: • exigir seu uso; • fornecer somente EPI aprovado pelo órgão nacional competente em matéria de SST; • orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, a guarda e a conservação; • substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado; • responsabilizar-se pela higienização e pela manutenção periódica; • comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada; • registrar o seu fornecimento ao trabalhador, por meio de livros, fichas ou sistema eletrônico. 71 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL Ao empregado, a NR 6 determina as seguintes responsabilidades, dentre outras: • utilizar apenas para a finalidade a que se destina; • responsabilizar-se pela guarda e pela conservação; • comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso; • cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado. Sobre os fabricantes também incidem algumas obrigações: • cadastrar-se no órgão nacional competente em segurança e saúde no trabalho; • solicitar emissão do Certificado de Aprovação (CA) ao órgão nacional competente em segurança e saúde no trabalho; • solicitar a renovação do CA quando vencido o prazo de validade estipulado; • requerer novo CA quando houver alteração das especificações do equipamento aprovado; • responsabilizar-se pela manutenção da qualidade do EPI que deu origem ao CA; • comercializar ou colocar à venda somente o EPI portador de CA; • comunicar ao órgão nacional de SST as alterações dos dados cadastrais fornecidos; • comercializar o EPI com instruções técnicas no idioma nacional, orientando a respeito de sua utilização, sua manutenção, sua restrição etc.; • fazer constar no EPI o número do lote de fabricação; • providenciar a avaliação da conformidade do EPI no âmbito do Sinmetro, quando for o caso; • fornecer as informações referentes aos processos de limpeza e higienização de seus EPIs. Ao Ministério do Trabalho e Emprego também cabem algumas obrigações: • cadastrar o fabricante ou importador de EPI; • receber e examinar a documentação para emitir ou renovar o CA de EPI; • estabelecer, quando necessário, os regulamentos técnicos para ensaios de EPI; 72 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II • emitir ou renovar o CA e o cadastro de fabricante ou importador; • fiscalizar a qualidade do EPI; • suspender o cadastramento da empresa fabricante ou importadora; • cancelar o CA. Sempre que julgar necessário, o órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho poderá requisitar amostras de EPI, identificadas com o nome do fabricante e o número de referência, além de qualquer outro requisito. O MTE também deverá, por meio de seus órgãos regionais, fiscalizar e orientar quanto ao uso adequado e à qualidade do EPI, além de recolher amostras e aplicar as penalidades que forem cabíveis, caso haja o descumprimento da NR 6. Observação Nas empresas desobrigadas a constituir SESMT, cabe ao empregador selecionar o EPI adequado ao risco, mediante orientação de profissional tecnicamente habilitado, a Cipa ou, na falta desta, o designado e os trabalhadores usuários. 4.2.1 Classificação dos EPIs Pela diversidade dos EPIs, os profissionais de segurança do trabalho ou responsáveis devem atentar ao fornecimento adequado do equipamento para os trabalhadores. Portanto, é importante que seja observado, de maneira criteriosa, como a atividade é exercida e qual o tipo de risco que ela oferece. Esta é uma forma de fazer o EPI alcançar o seu objetivo principal, que é o de proteger o trabalhador de acidentes físicos, além de possibilitar conforto em atividades insalubres. A seguir, vamos destacar alguns tipos de EPI, de acordo com sua finalidade. • EPI para proteção da cabeça: — capacete de segurança para proteção contra impactos de objetos sobre o crânio; — capacete de segurança para proteção contra choques elétricos; — capuz de segurança para proteção do crânio e do pescoço contra riscos de origem térmica; — capuz de segurança para proteção do crânio e do pescoço contra respingos de produtos químicos. 73 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na- C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL • EPI para proteção dos olhos e da face: — óculos de segurança para proteção dos olhos contra impactos de partículas volantes; — óculos de segurança para proteção dos olhos contra luminosidade intensa; — protetor facial de segurança contra respingos de produtos químicos; — protetor facial de segurança contra radiação infravermelha; — máscara de solda de segurança para proteção dos olhos e da face contra radiação ultravioleta; — máscara de solda de segurança para proteção dos olhos e da face contra radiação infravermelha. • EPI para proteção auditiva: — protetor auditivo circum-auricular contra níveis de pressão sonora superiores ao estabelecido na NR 15; — protetor auditivo de inserção contra níveis de pressão sonora superiores ao estabelecido na NR 15; — protetor auditivo semiauricular contra níveis de pressão sonora superiores ao estabelecido na NR 15. • EPI para proteção respiratória: — respirador purificador de ar contra poeiras e névoas; — respirador purificador de ar contra gases de produtos químicos; — respirador de adução de ar tipo linha de ar comprimido para proteção em atmosferas com concentração imediatamente perigosa à vida e à saúde e em ambientes confinados. • EPI para proteção do tronco: — vestimentas de segurança que ofereçam proteção contra riscos de origem térmica, mecânica, química, radioativa e meteorológica, bem como umidade proveniente de operações com uso de água; — colete à prova de balas de uso permitido para vigilantes que trabalhem portando armas de fogo, para proteção contra riscos de origem mecânica. • EPI para proteção dos membros superiores: — luva de segurança para proteção das mãos contra choques elétricos; 74 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II — luva de segurança para proteção das mãos contra agentes térmicos; — luva de segurança para proteção das mãos contra agentes biológicos; — manga de segurança para proteção do braço e do antebraço contra umidade; — manga de segurança para proteção do braço e do antebraço contra agentes térmicos; — braçadeira de segurança para proteção do antebraço contra agentes cortantes; — dedeira de segurança para proteção dos dedos contra agentes abrasivos e escoriantes. • EPI para proteção de membros inferiores: — calçado de segurança para proteção contra impactos de quedas de objetos; — calçado de segurança para proteção dos pés contra choques elétricos; — perneira de segurança para proteção da perna contra respingos de produtos químicos; — perneira de segurança para proteção da perna contra agentes cortantes e perfurantes; — calça de segurança para proteção das pernas contra agentes abrasivos e escoriantes; — calça de segurança para proteção das pernas contra respingos de produtos químicos. • EPI para proteção do corpo inteiro: — macacão de segurança para proteção do tronco e dos membros superiores e inferiores contra chamas; — conjunto de segurança formado por calça e blusão, jaqueta ou paletó para proteção do tronco e dos membros superiores e inferiores contra agentes térmicos; — vestimenta condutiva de segurança para proteção do tronco e dos membros superiores e inferiores contra choques elétricos. • EPI para proteção contra quedas com diferença de nível: — dispositivo trava-queda de segurança para proteção do usuário contra quedas em operações com movimentação vertical ou horizontal, quando utilizado com cinturão de segurança para proteção contra quedas; — cinturão de segurança para proteção do usuário contra riscos de queda em trabalhos em altura. 75 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL Saiba mais Para saber sobre outros tipos de EPI e suas alterações, instruções e pareceres técnicos a respeito, assim como outras normas regulamentadoras, acesse o site do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e fique atento às atualizações disponíveis: <http://portal.mte.gov.br/legislacao/normas-regulamentadoras-1.htm>. 4.3 MAPA DE RISCOS Dentro das Diretrizes do Plano de Ação de Saúde do Trabalhador da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast), a Vigilância da Saúde dos Trabalhadores (Visat) compreende: [...] conjunto de ações que visa conhecer a magnitude dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho, identificar os fatores de riscos ocupacionais, estabelecer medidas de controle e prevenção e avaliar os serviços de saúde de forma permanente, visando à transformação das condições de trabalho e à garantia da qualidade da assistência à saúde do trabalhador (AYRES, 2002 apud JAKOBI, 2001, p. 19). No que diz respeito ao reconhecimento dos riscos presentes em todos os locais de trabalho, bem como às atividades laborativas que podem comprometer a segurança e a saúde das pessoas, a vigilância deve acompanhar todas as variáveis e tendências de cada fator identificado, de maneira que realize a descrição, a distribuição, a análise, a avaliação, a interpretação dos eventos e, por fim, defina quais as recomendações para a prevenção e para a resolução dos problemas já acontecidos. Esse acompanhamento será então representado graficamente num Mapa de Riscos, no qual os fatores e riscos prejudiciais serão identificados e relacionados ao conjunto de variáveis originadas em cada ambiente, de acordo com cada processo da organização do trabalho, e que podem interferir no processo saúde-doença do trabalhador. De acordo com Rodrigues (1991 apud JAKOBI, 2001, p. 20), o mapeamento de riscos pode ser feito a partir da utilização de algumas técnicas, cuja complexidade pode ser gradativamente crescente nas etapas sequenciais do trabalho de vigilância, como as de geoprocessamento, sendo entendido como “um conjunto de técnicas de coleta, exibição e tratamento de informações especializadas” que permite a análise conjunta de uma gama de variáveis socioambientais. Com o auxílio de ferramentas de análise espacial, aumenta a compreensão da dinâmica dos dados, pois contribui para a identificação de agrupamentos contínuos e áreas de transição, determinando áreas de risco para além dos limites político-administrativos ao detectar situações de riscos diferenciados. 76 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II Dentro do amplo espectro do que é denominado Mapa de Risco, encontram-se mapas que têm como conteúdo desde a presença de agentes ambientais de risco até suas consequências, previstas ou medidas, sobre a população. Os possíveis danos à saúde humana causados por atividades poluidoras são precedidos por processos de uso de substâncias químicas, sua emissão para o ambiente, a exposição de uma população e a dose a que será submetida esta população (BARCELOS, 1996 apud JAKOBI, 2001). Por meio da união entre os processos desencadeadores de riscos ambientais, pode-se estabelecer uma sequência de passos metodológicos que permitem a análise globalizada de riscos à saúde. Esta metodologia foi recentemente utilizada na avaliação de riscos à saúde dos trabalhadores de uma indústria que utilizamercúrio em seu processo produtivo (MELO; BARCELLOS, 1993 apud JAKOBI, 2001). Com a evolução industrial e tecnológica, o ambiente sofre constantes ataques que levam ao aumento de agressões e lesões à população, em especial pela falta de tratamento adequado dos dejetos industriais, que são liberados na atmosfera, nos leitos de rios e, muitas vezes, diretamente no solo. Também devemos considerar o descuido com o armazenamento, transporte e destino final de resíduos, que podem sofrer outras alterações físico-químicas dos seus compostos, aumentando o risco de exposição das pessoas e do ambiente. Como discutimos anteriormente, o Mapa de Riscos é a representação gráfica de como os trabalhadores percebem o seu ambiente de trabalho e deve ser simples e objetivo, a fim de que os trabalhadores leigos consigam interpretá-lo sem auxílio técnico. O Mapa de Riscos tem como principais objetivos: • reunir informações necessárias para estabelecer o diagnóstico da situação de segurança e saúde no trabalho das empresas; • possibilitar a troca e a divulgação de informações entre os trabalhadores, além de estimular sua participação nas atividades de prevenção. Dentro da empresa, quem é responsável pela elaboração do Mapa de Riscos é a Cipa. Os integrantes devem ouvir os trabalhadores envolvidos quanto aos agentes que causam desconforto, mal-estar, irritação e todo fator que influencie de forma negativa a relação do trabalhador com o seu ambiente laboral. Os critérios que devem ser observados para a elaboração do mapa são descritos a seguir. • Conhecer o processo de trabalho no local analisado: — quanto aos trabalhadores: número, sexo, jornada, horas de treinamentos profissionais e indicadores de saúde; 77 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL — quanto aos instrumentos e materiais de trabalho; — quanto às atividades exercidas; — quanto às características do ambiente. • Identificar os agentes de risco existentes no local analisado. • Identificar as medidas preventivas existentes e sua eficácia: — quais as medidas de proteção coletiva; — quais as medidas de organização do trabalho; — quais as medidas de proteção individual; — quais as medidas de higiene e conforto: banheiro, lavatórios, vestiário, armários, bebedouros, refeitórios, área de lazer. • Identificar os indicadores de saúde: — quais as queixas mais frequentes e comuns entre os trabalhadores expostos aos mesmos riscos; — número de acidentes de trabalho ocorridos; — quais as doenças profissionais já diagnosticadas; — quais as causas mais frequentes de ausência ao trabalho. • Conhecer os levantamentos ambientais já realizados no local. • Elaborar o mapa de riscos, sobre o layout da empresa, indicando por meio do círculo: — o grupo a que pertence o risco; — o número de trabalhadores expostos ao risco, dentro do círculo; — a especificação do agente (químico, ergonômico), também anotado dentro do círculo; — a intensidade do risco de acordo com a percepção dos trabalhadores, que deve ser representada por tamanhos proporcionalmente diferentes dos círculos. O Mapa de Riscos deve ser feito de forma setorial e completa, e, depois, afixado no local de trabalho, de maneira visível e de fácil acesso a todos os trabalhadores. Foi criado para que as empresas representem 78 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II graficamente os riscos existentes nos diversos ambientes de trabalho, o que faz dele um dos métodos mais simples para a avaliação qualitativa dos riscos existentes nesses locais. O mapa deve ser elaborado pelos próprios trabalhadores, sendo um recurso participativo que deve ser adequado conforme suas sensibilidades. Serve como instrumento preliminar de levantamento de riscos, como meio de informação para os demais empregados e visitantes, e também auxilia no planejamento de ações preventivas que serão adotadas pela Cipa. A representação gráfica dos riscos por meio de círculos de diferentes cores e tamanhos permite a fácil visualização da situação. O objetivo do mapa é reunir conhecimento básico para estabelecer a análise da situação de informações entre os trabalhadores, bem como estimular sua participação nas atividades de prevenção. Os principais benefícios da obtenção do Mapa de Riscos são: • identificação antecipada dos riscos existentes nos locais de trabalho aos quais os trabalhadores podem estar expostos; • conscientização quanto ao uso apropriado das medidas e dos equipamentos de proteção coletiva e individual; • redução de gastos com acidentes e doenças, medicamentos, indenização, substituição de funcionários e danos patrimoniais; • facilitação da gestão de saúde e segurança no trabalho com aumento da segurança interna e externa; • melhoria do clima organizacional, com maior produtividade, competitividade e lucratividade. Para identificar o tipo de risco, são utilizadas cores conforme a Tabela de Classificação dos Riscos Ambientais. Já a gravidade é representada pelo tamanho dos círculos: • círculo pequeno: risco pequeno, por sua essência ou por ser risco médio já protegido; • círculo médio: risco que gera relativo incômodo, mas que pode ser controlado; • círculo grande: risco que pode matar, mutilar ou gerar doenças e que não dispõe de mecanismos para redução, neutralização ou controle. 79 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL Quanto ao significado das cores: Marrom = risco biológico Vermelho = risco químico Amarelo = risco ergonômico Azul = risco mecânico Verde = risco físico Figura 5 – Significado das cores na classificação dos riscos Quanto ao tamanho dos círculos, deve-se descrever da seguinte forma: • círculo pequeno: risco leve; • círculo médio: risco médio; • círculo grande: risco elevado. Deve-se conhecer o processo de trabalho do local avaliado, conforme a Tabela de Classificação dos Riscos Ambientais, bem como identificar as medidas preventivas existentes e sua eficácia referente a: • proteção coletiva; • organização do trabalho; • proteção individual; • higiene e conforto: banheiro, lavatórios, vestiários, armários, bebedouros, refeitórios, área de lazer. Identificar os indicadores de saúde também é de extrema importância. Dentre estes, podemos citar: • queixas mais frequentes e comuns entre os trabalhadores expostos aos mesmos riscos; • acidentes de trabalho ocorridos; • doenças profissionais diagnosticadas; • causas mais frequentes de ausência ao trabalho. 80 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II Quanto à elaboração do Mapa de Riscos, sobre uma planta ou desenho do local de trabalho, é importante identificar por meio do círculo: • o grupo a que pertence o risco, conforme as cores classificadas; • o número de trabalhadores expostos ao risco, o qual deve ser anotado dentrodo círculo; • a especificação do agente químico ou ergonômico, também dentro do círculo; • a intensidade do risco, de acordo com a percepção dos trabalhadores, que deve ser representada por tamanhos proporcionalmente diferentes dos círculos. Dentre os riscos físicos, podemos citar: • presença de ruídos, que podem provocar cansaço, dores de cabeça, irritação, redução da audição, distúrbios no aparelho digestivo, taquicardia e até mesmo perigo de infarto; • presença de vibrações, que podem causar cansaço, irritação, dores nos membros e/ou na coluna, doença do movimento, artrite, distúrbios digestivos e lesões nos ossos ou nos tecidos moles; • presença de calor excessivo, podendo provocar taquicardia, cansaço, internação, prostração térmica, choque térmico, fadiga térmica, perturbação das funções digestivas, hipertensão e hipotensão; • presença de radiação não ionizante, que pode provocar queimaduras, lesões nos olhos, na pele e em outros órgãos; • presença de radiação ionizante, que pode causar alterações nas células, câncer, fadiga e problemas visuais; • presença de umidade em excesso, podendo causar distúrbios respiratórios, quedas, doenças de pele e doenças circulatórias. Dentre os riscos químicos, podemos citar: • Poeiras: — minerais: silicose, asbestose; — vegetais: bissinose, bagaçose; — alcalinas: enfisema pulmonar. • Fumos metálicos: ocorre intoxicação específica de acordo com o metal; febre dos fumos metálicos, doença pulmonar obstrutiva. 81 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL • Névoas, neblinas, gases e vapores: — irritantes: causam irritação das vias aéreas superiores (exemplo: ácido clorídrico); — asfixiantes: dores de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte (exemplos: hidrogênio, oxigênio, hélio, acetileno, metano, dióxido de carbono, monóxido de carbono); — anestésicos: ação depressiva sobre o sistema nervoso, danos aos diversos órgãos e ao sistema formador do sangue (exemplos: butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono, tricloroetileno, benzeno, tolueno, álcoois, xileno. • Substâncias, compostos ou produtos químicos em geral. Dentre os riscos biológicos estão: • vírus: podem causar doenças como hepatite, poliomielite, herpes, varíola, febre amarela, raiva, aids, rubéola, dengue, meningites; • bactérias/bacilos: podem causar hanseníase, tuberculose, tétano, pneumonia, difteria, cólera, leptospirose; • protozoários: malária, mal de Chagas, toxoplasmose; • fungos: alergias e micoses. Os riscos ergonômicos podem ser por esforço físico, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, jornada prolongada de trabalho, monotonia e repetitividade, dentre outras situações causadoras de estresse físico e psíquico. Riscos ergonômicos podem causar: cansaço, dores musculares, fraqueza, hipertensão arterial, úlceras, doenças nervosas, agravamento do diabetes, alterações do sono, da libido e da vida social, com reflexos na saúde e no comportamento, acidentes, problemas na coluna vertebral, taquicardia, cardiopatia (angina, infarto), agravamento da asma, tensão, ansiedade, comportamentos estereotipados, medo. Dentre os fatores que podem causar riscos de acidente, podemos citar: • o arranjo físico inadequado, podendo provocar acidentes, desgastes físicos; • a existência de máquinas e equipamentos sem proteção, podendo levar à ocorrência de acidentes graves; • o uso de ferramentas inadequadas ou defeituosas, em sua maioria, provoca acidentes com repercussão nos membros superiores; • trabalhar em locais com iluminação inadequada implica risco de acidentes; 82 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 Unidade II • a eletricidade, quando mal-empregada; • a probabilidade de incêndio ou explosão; • o armazenamento inadequado; • a existência e a manipulação de animais peçonhentos. Classificação dos riscos De acordo com a Portaria nº 25, de 29 de dezembro de 1994, o Mapa de Riscos deve obedecer à seguinte classificação: Tabela 5 – Classificação de riscos Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 Riscos físicos Riscos químicos Riscos biológicos Riscos ergonômicos Riscos de acidentes Verde Vermelho Marrom Amarelo Azul Ruídos Vibrações Radiações ionizantes Radiações não ionizantes Frio Calor Pressões anormais Umidade Poeira Fumos Névoas Neblina Gases Vapores Substâncias Compostos ou produtos químicos em geral Bactérias Vírus Protozoários Fungos Parasitas Bacilos Esforço físico intenso Levantamento e transporte de peso Exigência de postura inadequada Controle rígido de produtividade Imposição de ritmos excessivos Trabalho em turno e noturno Jornadas de trabalho prolongadas Monotonia e repetitividade Outras situações causadoras de estresse físico e/ou psíquico Esforço físico inadequado Máquinas e equipamentos sem proteção Ferramentas inadequadas ou defeituosas Iluminação inadequada Probabilidade de incêndio ou explosão Armazenamento inadequado Animais peçonhentos Outras situações de risco que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes Fonte: Barsano; Barbosa (2014. p. 71). Lembrete O conceito de risco deve ser observado sob duas vertentes: o risco quantitativo, que é o risco matemático, ou seja, qual é a probabilidade de acontecer, numerando quantos acidentes podemos ter em uma determinada situação; e o risco qualitativo, que será indicado pela condição do processo de trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011). 83 GS T - Re vi sã o: R os e/ Ju lia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 4/ 02 /2 01 5 // 2 ª R ev isã o: Ju lia na - C or re çã o: M ár ci o - 11 /0 3/ 20 15 HIGIENE OCUPACIONAL 4.4 Sinalização de segurança As cores exercem papel muito importante no nosso dia a dia. São a forma mais simples e objetiva de comunicação, a maneira mais prática de se demonstrar algo, criar um objetivo, ilustrar o procedimento em determinada situação. Por sua simplicidade, a cor consegue atingir praticamente todos aqueles que possuem o sentido da visão. Por sua característica de padronização universal, as cores são utilizadas com muita frequência na segurança do trabalho, por exemplo: faixa branca para sinalizar a passagem de pedestres, extintores de incêndio na cor vermelha etc. As cores em segurança no trabalho são padronizadas e regulamentadas pela NR 26, uma norma muito rica em questão de conhecimento e de fácil entendimento. 4.4.1 Cor na segurança do trabalho Conforme determina a NR 26, as cores devem ser adotadas para a segurança em estabelecimentos ou locais de trabalho, com o objetivo de indicar e advertir a respeito dos riscos existentes. As cores aplicadas nos locais de trabalho – para identificar os equipamentos de segurança, delimitar áreas, identificar tubulações utilizadas para a condução de líquidos e gases, bem como advertir contra riscos – devem atender ao disposto nas normas técnicas oficiais. A utilização de cores, no entanto, não dispensa o emprego de outras formas de
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